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Beatriz G. Luciano → Med 52 Uncisal Varicela – Herpes Zoster A varicela e o herpes zoster são entidades clínicas diferentes, causadas pelo mesmo vírus, que é o varicella- Zoster. Num primeiro contato, a pessoa desenvolve a varicela, fica curado, embora o vírus permaneça latente. Quando há alguma situação de estresse/imunodepressão, pode-se desenvolver AGENTE ETIOLÓGICO Trata-se do vírus varicella- zoster, que faz parte da família dos Herpesvirus, é exclusivamente humano, além de ter seu genoma composto por DNA. Os vírus herpes compartilham algumas características, como a latência, a recorrência e a cronicidade. Varicela: Os seres humanos são a única fonte de infecção, acarretando ambos os sexos, principalmente no inverno e na primavera, tendo característica endêmica, com surtos epidêmicos. TRANSMISSÃO • Contato com o conteúdo das vesículas, por trato respiratório ou via transplacentária. • Período de transmissibilidade: 2 dias antes do exantema até crostas. Possui uma alta taxa de contagiosidade, além de taxa de ataque secundário em contatos domiciliares de 90%. PATOGENIA O vírus varicela-zoster sofre uma replicação primária nas vias respiratórias e conjuntiva ocular (portas de entrada), nas amigdalas e nos linfonodos regionais (4 a 5 dias), até atingir os linfócitos, que, por sua vez, caem na corrente sanguínea, determinando a viremia. A partir dessa viremia, os vírus saem das portas de entras e se alojam em órgão ricos em células do sistema reticuloendotelial (SER) e sofrem uma replicação secundária/viremia secundária (mais demorada), até atingir pele e outras vísceras (fígado, baço, intestino, mucosas, etc). RESPOSTA IMUNE No caso da varicela, a resposta imune inicia-se de 2 a 5 dias após o aparecimento do exantema, com a aparecimento de anticorpos das classes IgM, IgG e IgA, os quais alcançam níveis mais elevados na faixa da 2ª à 3ª semana do início da doença. Observações: ▪ Um conceito imunológico importante é que a imunidade celular do indivíduo cai após a quarta década de vida (imunossenescência), o que pode conferir um reaparecimento da doença, em forma de herpes zoster em indivíduos mais velhos. ▪ Com relação ao feto, os anticorpos IgG específicos maternos de mães que já tiveram varicela protegem o feto. Por outro lado, se a mulher não teve varicela, os anticorpos IgG inespecíficos, embora não sejam capazes de evitar a infecção, podem modificar a doença, de modo a gerar uma forma mais leve. QUADRO CLÍNICO De uma maneira geral, a varicela é uma doença benigna. Suas manifestações clínicas, que aparecem após um período de incubação de 12 a 15 dias, são: ▪ Período prodrômico: é caracterizado por febre moderada, cefaleia e anorexia, possuindo uma duração variável de horas até 3 dias. ▪ Período exantemático: há o aparecimento da erupção da pele e mucosa. EXANTEMA Evolução: as erupções evoluem da forma macular para a papular, transformando-se em vesícula no dia seguinte. Em seguida, após 2 a 4 duas, transformam-se em crostas, as quais, de 4 a 6 dias depois, desprendem-se sem deixar cicatrizes. Distribuição: centrípeta, com início em face e couro cabeludo. Além disso, é pruriginoso e possui polimorfismo regional (explicado pelas diferentes viremias). * Podem acometer as mucosas. FEBRE Geralmente, a febre persiste enquanto houver novas lesões, e é proporcional à intensidade das erupções. Entretanto, se houver reaparecimento da febre após um período apirético, ou se ela for mantida mesmo após terem cessado as lesões, deve- se investigar a possibilidade de infecção bacteriana secundária. Obs: No caso do varicella-zoster, a recorrência não é tão presente. Especificamente, no caso da varicela, uma vez tida a doença, o indivíduo fica imune à forma de varicela, entretanto, na forma de herpes-zoster, o indivíduo pode ter algumas recorrências, principalmente em casos de imunodepressão severa. Beatriz G. Luciano → Med 52 Uncisal COMPLICAÇÕES Embora a varicela seja uma doença benigna, existem alguns fatores de risco para complicações e/ou aparecimento de um quadro grave. São eles: • Idade: neonatal ou adultos >40 anos. • Uso de drogas imunossupressoras. • Corticoterapia prolongada (>2 semanas) e em altas doses. • Gravidez. • Imunodeficientes, principalmente por deficiência de imunidade celular. COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS: a) Infecção cutânea: é a complicação mais comum, justamente pela característica clínica de prurido da varicela. Geralmente ocorre por Streptococcus ou S. aureus. Podem gerar abscessos, linfadenite, celulite, eripsela e até gangrena. b) Forma Hemorrágica: quando o conteúdo das lesões possui sangue, devido a alterações de coagulação. Mais comum em imunocomprometidos. c) Complicações pulmonares: são frequentes e graves, podendo ser causada pelo próprio vírus da varicela – produzindo um quadro de pneumonite intersticial, ocorrendo em 16 50% dos adultos com varicela – ou por infecção bacteriana associada. d) Complicações no SNC: o vírus da varicela pode invadir o SNC, causando encefalite, meningite asséptica, ataxia cerebelar aguda ou, mais raramente, mielite transversa aguda. e) Síndrome de Reye: é uma encefalopatia com degeneração gordurosa do fígado, devido a uma lesão mitocondrial de hepatócitos que leva a uma disfunção metabólica com dano cerebral. Está relacionada ao uso de AAS em indivíduos com varicela, sendo a essa medicação contraindicada também até 6 semanas após a vacinação. É uma doença fatal. f) Varicela neonatal: trata-se de uma forma grave da varicela, que ocorre devido a não-vacinação da mãe. *Se a infecção materna ocorrer no período de 5 dias antes até 2 dias após o parto, o prognóstico é pior. g) Varicela congênita: ocorre quando a infecção materna se dá no 1º ou 2º trimestre da gestação, evoluindo com microcefalia, atrofia cortical, atrofia de membros, micro- oftalmia, catarata, coriorretinite e a criança nasce com cicatrizes cutâneas. TRATAMENTO De maneira geral, é feito à base de sintomáticos, evitando-se o ácido acetilsalicílico (risco de Síndrome de Reye), podendo ser associado a um tratamento específico, dependendo de fatores específicos do hospedeiro e da extensão da infecção. USO DO ANTIVIRAL: É indicado para pacientes com risco de desenvolver a forma complicada (doenças crônicas/imunodepressão; uso de corticosteroides e uso crônico de saliciatos) e que tenham mais de 12 anos. Sendo efetivo quando instituído nas primeiras 24- 48h do aparecimento do rash. Dentre os antivirais que podem ser usados: aciclovir, valaciclovir, fanciclovir e foscarnet. Doses: - VO: 80mg/Kg/dia – 4 a 5x/dia (800mg) - EV: 10mg/Kg – 8/8h – infusão lenta. Herpes Zoster Enquanto a varicela representa a doença aguda, o zoster, também chamado de cobreiro, constitui a resposta do hospedeiro parcialmente imune a reativação do vírus da varicela presente e, gânglios sensoriais. Trata-se de uma doença esporádica de adultos, que possui incidência maior em imunodeprimidos. EPIDEMIOLOGIA Ocorre de modo esporádico, principalmente em adultos, sem prevalência sazonal. Sabe-se que sua incidência aumenta com a idade, no entanto, pode acontecer em crianças sadias, durante o 1º ano de vida, em casos que a primo-infecção pelo vírus ocorreu intraútero. PATOGENIA E PATOLOGIA Do ponto de vista histopatológico, aas lesões cutâneas do zoster são idênticas às da varicela, verificando-se a ocorrência de inflamação aguda nos gânglios e nervos sensoriais. Nesse sentido, o vírus segue o trajeto do nervo até a pele, onde induz a formação de vesículas. Observações: ▪ Acredita-se que o declínio da imunidade possa permitir a ocorrência da replicaçãodo vírus no gânglio. ▪ A imunidade celular constitui a mais importante defesa do hospedeiro para conter o vírus da varicella-zoster. ▪ As reativações são esporádicas e raramente ocorrem reincidias. Beatriz G. Luciano → Med 52 Uncisal MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A primeira manifestação é a dor na área correspondente ao trajeto do nervo afetado (o que pode confundir o diagnóstico, já que precede às lesões). De 3 a 5 dias depois, aparecem as lesões cutâneas, acompanhadas de febre discreta (em imunocomprometidos pode não estar presente), cefaleia e mal-estar. EXANTEMA: As lesões são inicialmente eritematopapulosas, evoluindo rapidamente para papulovesiculosas e papulopustulosas, começando então a regredir. São reunidas em pequenos grupos situados em um ou mais dermátomos, com apresentação unilateral. Sabe-se que as regiões mais acometidas são: torácica (53%), cervical (20%), trigêmeo (15%), lombossacra (11%). Obs.: O fato de a região torácica ser mais acometida está relacionado às lesões da varicela começarem na região torácica, fazendo com que as terminações nervosas dessa região armazenem o vírus. EM IMUNODEPRIMIDOS: - Normalmente, as lesões surgem em localizações atípicas e, geralmente, disseminadas (em pacientes com HIV). - Tende a disseminar-se e a ser mais grave quando existe alguma doença subjacente, principalmente em pacientes com câncer. COMPLICAÇÕES a) Nevralgia: é a mais comum. Consiste em dor persistente por mais de 4 a 6 semanas após erupção cutânea, tendo sua incidência relacionada a idade (>50 anos), acometendo mais mulheres e, principalmente, o nervo trigêmeo. b) Complicações na pele: são mais frequentes em crianças, causadas, principalmente por Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus, podendo cursar com linfadenite e abscessos. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL VARICELLA-ZOSTER Embora, na maior parte das vezes o diagnóstico seja clínico, pode-se perceber em esfregaços corados de raspados ou de swaps da base das vesículas a presença de células gigantes multinucleares. Além disso, também pode-se detectar uma elevação dos títulos de Ac específicos no soro do paciente por meio de vários testes (FC, IF e imunoensaio enzimático). TRATAMENTO HERPES-ZOSTER Além do tratamento sintomático, são usados antivirais (aciclovir, fanciclovir e valaciclovir), corticoides e antidepressivos tricíclicos. Antivirais: Aciclovir ambulatorial – é indicado para adultos saudáveis na dose de 800 mg VO 5x/dia durante 7 a 10 dias. No geral não é recomendado o uso de aciclovir para herpes-zoster não complicada em crianças, mas caso necessário, o esquema deve ser na dose de 250-600 mg VO 4-5x/dia durante 7 a 10 dias. Aciclovir hospitalar – é indicado para adultos imunocomprometidos na dose de 10 mg/kg/dose via IV de 8/8h. A dose pediátrica, caso necessária, é a mesma. Obs: Também pode ser indicado para adultos o uso de fanciclovir (1000 mg VO 8/8h durante 7 dias) ou valaciclovir (1000 mg VO 8/8h durante 7 dias). Corticoterapia: Usada para reduzir a dor associada à neurite, podendo ser feita a associação com a terapia antiviral. *O uso em imunocomprometidos é controverso. Antidepressivos tricíclicos: Atuam bloqueando a recaptação de serotonina e adrenalina, agindo sobre o sistema inibitório descendente da dor, sendo utilizados para o manejo da neuralgia pós-herpética – ex: amitriptilina (AMT) = dose de 10- 150 mg/dia. PROFILAXIA ▪ Isolamento respiratório → pacientes internados (enfermaria separada) ▪ Cuidados domiciliares → como lavar as mãos após tocar nas lesões e desinfectar objetos com secreções nasofaríngeas. ▪ Afastamento das atividades escolares/acadêmicas até as lesões se tornarem crostosas ▪ Em pessoas suscetíveis que nunca tiveram varicela e foram expostas ao vírus, pode-se fazer profilaxia com uso de imunoglobulina anti-VZ (VZIG) ou vacinação imediata. GESTANTES: Faz-se uso da imunoglobulina, já que a vacina é de vírus vivo atenuado, sendo contraindicada. - VZIG: 125 U/10kg via IM (máximo de 625 U) até 4 dias após a exposição, se houver indicação. - Vacina: 1 dose preferencialmente até 72h após a exposição, podendo ser aplicada até 120h. Indicações para uso de Ig Anti-VZ: Grávidas, particularmente no 1º trimestre da gestação. Crianças imunodeprimidas. RN pré-termo com IG ≥ 28 semanas, hospitalizados, cujas mães não tenham tido varicela. RN pré-termo com menos de 28 semanas de gestação (ou com menos de 1000g ao nascimento), hospitalizados, independentemente de haver ou não antecedente materno de varicela. RN de mães em que a varicela tenha se manifestado nos 5 dias anteriores ao parto ou até 48h depois. Pacientes imunodeprimidos. Contato significativo com o VVZ: contato domiciliar contínuo) por pelo menos 1 h em ambiente fechado) ou contato hospitalar (internados no mesmo quarto ou contato direto por pelo menos 1h Beatriz G. Luciano → Med 52 Uncisal VACINAS VARICELA A vacina contra a varicela é de vírus vivo atenuado. O esquema de vacinação atual prevê a 1ª dose aos 12 meses (tríplice viral) e a 2ª dose aos 15 meses (tetraviral). Em caso de adultos e crianças ≥ 4 anos não vacinadas, a recomendação é de 2 doses com intervalo de 3 meses. Contraindicações da vacina: crianças < 1 ano, imunodepressão congênita ou adquirida, quimioterapia em altas doses (> 2 mg/kg/dia) há mais de 1 mês, gestantes e pessoas com reação alérgica anafilática à neomicina. *No caso da quimioterapia em altas doses, deve-se aguardar 3 meses após o término para a vacina; no entanto, se ela estiver sendo realizada em doses mais baixas ou durante um período menor, pode-se aguardar de 1-2 semanas. HERPES- ZOSTER A vacina contra o herpes-zoster é de vírus vivo atenuado, diferenciando-se da vacina contra a varicela pela quantidade de vírions (+/- mais). Essa vacina não está disponível na rede pública. É indicada para indivíduos > 60 anos, sendo eficiente em diminuir a incidência da doença em cerca de 51% e o risco de neurite pós- herpética (NPH) em 66%. Varicela em vacinados: A vacina da varicela confere proteção superior a 95% contra as formas graves e de >80% contra todas as formas. Assim, é possível que após contato íntimo com indivíduos infectados, uma pessoa vacinada possa apresentar varicela (isso acontece em cerca de 1 a cada 5 pessoas vacinadas). Entretanto, o quadro clínico da doença nesses indivíduos é mais brando, com menos de 50 lesões, sem febre associada e com menor contagiosidade (mas ainda assim o isolamento está indicado até que as lesões evoluam para crostas).
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