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Alice Pontes Nogueira Vasconcelos APG 8- MENTE DE MENINA EM CORPO DE MULHER OBJETIVOS: • COMPREENDER A FISIOLOGIA DA PUBERDADE • ENTENDER A ETIOLOGIA DA PUBERDADE PRECOCE • ESTUDAR FISIOPATOLOGIA DA PUBERDADE PRECOCE • VER AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA PUBERDADE PRECOCE PUBERDADE ➢ Processo biológico de transformação (corporal, física e biológica) da criança em adulto ➢ Transição é marcada por: 1. Aceleração do crescimento 2. Desenvolvimento de caracteres sexuais secundários 3. Início das funções reprodutivas ➢ Início ocorre entre 8 3 13 anos em meninas e 9 e 14 anos nos meninos FISIOLOGIA ➢ Na infância, dosagens de esteroides sexuais é baixa e hipófise tem alta sensibilidade ao feedback negativo (apresentando taxa pequena de hormônios sexuais no corpo, hipófise já inibe produção) e assim síntese de FSH e LH é mínima ➢ Na puberdade, corpo passa por transformações hormonais que acarreta em mudanças nessa fase de desenvolvimento ➢ A maturação hormonal do organismo irá envolver adrenarca, ativação do eixo hipotálamo- hipofisário e gonadarca ADRENARCA ➢ Início da produção dos andrógenos pela adrenal ➢ Ocorre entre 6 a 8 anos e é independente do eixo hipotálamo- hipófise-gonadal ➢ Marcada pelo aumento de secreção dos andrógenos desidroepiandrosterona (DHEA) e sulfato de desidroepiandrosterona (DHEAS), produzido pela zona reticular adrenal responsável pelo odor nas axilas, pelos pubianos e axilares, e pelo aumento da atividade de glândulas sebáceas no rosto, provocando acne ATIVAÇÃO DO EIXO HIPOTÁLAMO- HIPOFISÁRIO ➢ A ativação do eixo resulta do aumento da sensibilidade da hipófise ao GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas), produzido pelo hipotálamo ➢ Pulsos noturnos de GnRH agem na adeno-hipófise, que quando sensibilizada libera FSH e LH ➢ Controle da secreção feito por feedback negativo Alice Pontes Nogueira Vasconcelos ➢ FSH e LH agem nas gônadas, dando início à gonadarca GONADARCA ➢ FSH e LH irão promover a produção de gametas maduros e síntese dos esteroides sexuais pelas gônadas sendo responsável pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários ➢ Homens: Testículos passam a produzir testosterona (pelas células de Leydig), responsável pela virilização (pelos faciais e pubianos, engrossamento da voz) Mulheres: Folículos ovarianos produzem estrógenos, que levam ao desenvolvimento das mamas e do útero, mudança do epitélio vaginal e menstruação SEQUÊNCIA PUBERDADE ➢ Dependem do sexo da criança, de fatores genéticos e ambientais MENINAS ➢ Início de 8 a 13 anos 1. Telarca (aparecimento do broto mamário em resposta aos estrógenos) coincide com marco inicial 2. Estirão puberal, que ocorre entre 11 e 12 anos sendo a fase de maior velocidade de crescimento, seguindo direção distal-proximal (primeiro pés e mãos, seguido de pernas e membros superiores), conferindo aspecto desproporcional ao corpo do adolescente, o qual se corrige com crescimento do tronco 3. Pubarca (aparecimento de pelos pubianos nos grandes lábios) 4. Axilarca (aparecimento de pelos axilares) ocorre de 1 a 2 anos após pubarca 5. Menarca (primeira menstruação), comum entre 12 e 13 anos (geralmente ocorre de 2 a 2,5 anos após telarca) 6. Desaceleração do crescimento: geralmente após menarca o estirão puberal das meninas chega ao fim MENINOS ➢ Início entre 9 e 14 anos 1. Gonadarca, que representa aumento do volume testicular > ou igual 4 ml por ação do FSH (marco inicial) 2. Pubarca (aparecimento dos pelos pubianos, também ocorrendo aparição dos faciais no mesmo período) 3. Axilarca 4. Desenvolvimento genital 5. Mudança na voz, devido crescimento rápido da laringe, que modifica sua forma e cordas vocais ficam mais longas e espessa Estirão puberal, geralmente entre 13 e 14 anos ❖ Vale destacar que durante a puberdade ocorre ainda alteração da forma e composição corporal, onde diferencia-se o corpo feminino do masculino com o desenvolvimento diferente do tecido esquelético, muscular, do adiposo etc (meninas com tecido adiposo em mamas e quadris e meninos com desenvolvimento muscular na região da cintura escapular) ❖ Pode ocorrer polução nos meninos (eliminação involuntária de esperma) e ginecomastia (mamas) Alice Pontes Nogueira Vasconcelos ESTÁGIOS DE TANNER ➢ Forma de avaliar desenvolvimento dos caracteres sexuais, sendo recomendando realizá-la a partir dos 5 anos (para evitar puberdade precoce) MAMAS (♀) ➢ M1→ mama pré-púbere (infantis, com elevação apenas da papila- “bico”) ➢ M2→ broto mamário (pequena elevação da mama e da papila e aumento do diâmetro da aréola) ➢ M3→ Aumento da mama e da aréola, parecendo pequena mama adulta, mas sem separação das bordas da mama e da aréola ➢ M4→ Projeção da aréola e da papila sobre a mama, formando uma segunda elevação acima do nível da mama. Normalmente nesse estágio ocorre a menarca ➢ M5→ Estágio adulto, onde ocorre elevação da papila, mama e aréola são aumentadas uniformemente, com contorno areolar novamente incorporado ao contorno da mama PELOS PUBIANOS (♀ ♂) ➢ P1→ Pré-púbere (sem pelos) ➢ P2→ Pelos longos, finos, levemente pigmentados (presentes apenas nas bordas dos grandes lábios ou na base do pênis) ➢ P3→ Maior quantidade de pelos, mais grossos, escuros e encaracolados, que atingem região pubiana ➢ P4→ Pelos do tipo adulto, cobrindo mais densamente região púbica, porém sem atingir face média da coxa ➢ P5→ Pelos do tipo adulto que atingem região medial da coxa Por que homens ficam mais altos? Homens normalmente possuem altura de cerca de 13 cm a mais que mulheres Isso ocorre porque a fase do estirão puberal em meninas dura entre 2 anos e 2 anos e meio (entre telarca e menarca), enquanto a dos homens é o último evento da sequência da puberdade, a qual começa entre 13 e 14 anos e pode durar até 17 ou 18 anos. Alice Pontes Nogueira Vasconcelos GENITÁLIA MASCULINA (♂) ➢ G1→ Pré-púbere (escroto e pênis aproximadamente do mesmo tamanho, sendo os testículos com tamanho inferior a 3 ml) ➢ G2→ Volume testicular > ou igual 4 ml com pele escrotal mudando de textura e assumindo coloração avermelhada. Aumento peniano nessa fase é mínimo ou ausente ➢ G3→ Crescimento peniano, principalmente em comprimento, com crescimento de testículos e escroto ➢ G4→ Aumento em largura do pênis e desenvolvimento da glande. Pele do escroto escurece e testículo cresce, chegando a cerca de 12 ml ➢ G5→ Genitália adulta (testículo com tamanho > ou igual a 15 ml Orquidômetro, que mensura volume testicular PUBERDADE PRECOCE PATOGÊNESE ➢ Definida como o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 em meninos. Menarca antes dos 9 em meninas pode ser considerado um critério adicional ➢ Pode ocorrer como resultado da secreção de esteroides sexuais independentemente da ativação do eixo gonadotrófico (puberdade precoce periférica) ou, mais comumente, por ativação prematura do eixo hipotálamo- hipófise-gonadal (puberdade precoce central) ➢ A periférica pode ocorrer por tumores ou cistos ovarianos, tumores testiculares, hiperplasia Alice Pontes Nogueira Vasconcelos adrenal congênita, tumores adrenais, Síndrome de McCune Albright- com tríade de -displasia fibrosa poliostótica, manchas cutâneas café com leite e endocrinopatias hiperfuncionantes hipotireoidismo grave, entre outras doenças ➢ Na central os caracteres sexuais secundários são concordantes com o sexo do paciente (isossexual), enquanto a periférica pode se isossexual ou heterossexual (virilização de meninas e feminizaçãode meninos) ➢ Em ambas formas de puberdade precoce, os esteroides sexuais determinam aceleração da velocidade de crescimento e maturação esquelética, culminando com fusão prematura das epífises ósseas e comprometimento da estatura final (individuo cresce antes do esperado, porém isso antecipa o final do crescimento e a pessoa acaba ficando mais baixa que o percentil) ETIOLOGIA (PPC) ➢ Condição rara, com incidência estimada de 1:5.000 a 1:10.000 ➢ Mais frequentemente no sexo feminino, com proporção de 3-23 meninas: 1 menino SEM ANORMALIDADES NO SNC ➢ Forma idiopática representa maioria dos casos de PPC em meninas (90%) ➢ Evidências apontam para influência genética no início da puberdade (idade semelhante de menarca entre mães e filhas, entre membros de um mesmo grupo étnico e concordância entre gêmeos monozigóticos) ➢ Genes envolvidos na modulação da secreção de GnRH (KISS1 e KISS1R) com mutações ativadoras (p.R386P) podem ser identificados em pacientes com PPC (causas raras) ➢ Mutações inativadoras no gene MKRN3 (makorin ring finger 3), que participa da degradação de proteínas por processo de ubiquitinação, podem causar PPC. Não se sabe ao certo o mecanismo exato que leva a isso ➢ Exposição a desreguladores endócrinos que são substâncias exógenas com ação estrogênica ou antiandrogênica, presentes em plásticos, solventes, pesticidas (DDT), cosméticos, poluentes industriais... que interagem com a sinalização de hormônios esteroides ➢ Secundária à exposição crônica a esteroides sexuais (que ocorre por exemplo no tratamento tardio da hiperplasia adrenal congênita, testotoxicose, síndrome de McCune Albright) COM ANORMALIDADE NO SNC ➢ Hamartoma hipotalâmico (malformações congênitas não neoplásicas, compostas por massa heterotópica (em algum lugar anômalo) de tecido hipotalâmico localizada na base do crânio, no assoalho do III ventrículo. Mecanismo não totalmente conhecido (hipótese de presença Alice Pontes Nogueira Vasconcelos de neurônios secretores de GnRH no tecido do HH ➢ Tumores (astrocitoma, craniofaringeoma, ependimoma, glioma óptico ou hipotalâmico, adenoma secretor de LH, pinealoma, neurofibroma, disgermioma) ➢ Malformações congênitas (cisto suprasselar, cisto aracnoide, displasia septo-óptica, hidrocefalia, espinha bífida, malformação vascular, meningomioecele, neuro- hipófise ectópica, duplicação hipofisária) ➢ Doenças adquiridas (infecções e processos inflamatórios no SNC- como abcesso, meningite, encefalite, sarcaidose, tuberculose- radiação no SNC, quimioterapia, asfixia perinatal, trauma craniencefálico MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ Basicamente, são as manifestações da puberdade, porém em épocas ânomalas para seu aparecimento ➢ Portanto, em meninas, os seios se desenvolvem (primeiro marco) e aparecem pelos pubianos e/ou pelos axilares ➢ Meninas podem começar a menstruar e ter aumento do volume ovariano e uterino ➢ Meninos são marcados pelo aparecimento de pelos faciais, axilares e pubianos, desenvolvimento muscular, voz mais grave e aumento peniano, com ou sem aumento do volume testicular, a depender da etiologia ➢ Odor corporal, acne e alterações de comportamento podem se desenvolver em ambos os sexos ➢ Estirão puberal (fase acelerada de crescimento) que é identificado por uma idade óssea mais avançada e pode causar baixa estatura na idade adulta devido fechamento prematuro das epífises ➢ Podem ainda haver manifestações devido etiologia (exemplo: por tumor hipotalâmico pode-se ter cefaleia, fraqueza, sensação de frio...) DIAGNÓSTICO ➢ Feito pela clínica, onde são vistas as manifestações típicas no exame físico e a história clínica e familiar do paciente são analisados ➢ Classificação por critérios de Tanner ➢ Uso de Orquidômetro para avaliação do volume testicular (> 4 ml na puberdade) ➢ Raio X de punho e mãonão dominantes usados pra determinação da idade óssea ➢ Ultrassonografia pélvica em meninas auxilia na avaliação dos volumes uterino e ovarianos (considerado púbere com volume ovariano > 1,5 mL e comprimento uterino > 3,4 cm), também possibilitando análise de cistos e processos neoplásicos ➢ Ressonância magnética do SNC, visando detecção de tumores ou malformações, com ênfase na região hipotálamo- hipofisária Alice Pontes Nogueira Vasconcelos ➢ Avaliação laboratorial das gonadotrofinas (principalmente LH) em condição basal e/ou após estímulo com GnRH (utilizado para determinar ativação do eixo gonadotrófico, sendo útil no diagnostico diferencial das formas de puberdade precoce) ➢ Valores de testosterona em meninos auxiliam diagnostico da PPC (estradiol apresenta baixa sensibilidade, portanto não é utilizado) TRATAMENTO ➢ Baseado no bloqueio da secreção de gonadotrofinas ➢ a-GnRH, análogo agonistas de GnRH atuam na hipófise anterior, ligam-se a receptores de GnRH de forma competitiva e promovem a dessensibilização e redução no número de receptores de GnRH ➢ Antagonistas de andrógenos e estrógenos são utilizados na puberdade precoce independente do GnRH ➢ Deve-se também sempre ser identificado se existe uma etiologia patológica e essa doença de base deve ser tratada (exemplo: cirurgia de remoção de tumor)
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