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NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 1 PROBLEMA 2 – RETRATO DE FAMÍLIA Após 2 anos usando anticoncepcional oral, Luiza, de 15 anos, filha de Joana, resolveu tentar engravidar, como era muito nova, sua ginecologista orientou que poderia suspender a medicação e aguardar. Infelizmente, Luiza já tinha 17 anos, e após 2 anos tendo relações regulares, nada aconteceu. Retornou à sua médica, pois não conseguiu engravidar, a médica que solicitou vários exames, como dosagens hormonais, ultrassonografia, além de um exame muito dolorido chamado de histerossalpingografia bilateral, que mostrou uma obstrução nas suas trompas e, por isso, indicou a realização de um procedimento de fertilização. Seu esposo, também precisou fazer um espermograma, mas no caso dele não foi encontrada nenhuma alteração. O casal ficou muito preocupado e quis saber como isso aconteceu. Dra Cristina, explicou que a obstrução tubária pode acontecer por várias causas, sendo que na idade de Luiza , uma das causas mais comuns era um quadro chamado de DIPA (doença inflamatório pélvica). Luiza então, lembrou-se que apresentou quadro de corrimento vaginal e dispareunia há uns 4 anos. Na época , fez uso de antibióticos para ela e seu parceiro, e ficou internada durante um período. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA IACONELLI CAR. .Doença inflamatória pélvica na adolescência: prevenção, diagnóstico e tratamento (disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5419) CABRAL ZAF. FEBRASGO. Manual de Ginecologia Infanto Juvenil, São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2014 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. 2006. (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_das_dst.pdf ) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Bolso das Doenças Sexualmente Transmissíveis. 2006.(disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/controle_doencas_sexualmente_transmissivei s.pdf ) HALBE HW, CUNHA DC. Doença Inflamatória Pélvica.Diagn Tratamento. 2010;15(3):106-9. (disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2010/v15n3/a1530.pdf ) FEBRASGO. Manual de Orientação em Reprodução Humana, São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2011 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA: DIPA e infertilidade OBJETIVOS: 1. DEFINIR DIPA, FATORES EPIDEMIOLÓGICOS, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DEFINIÇÃO - A doença inflamatória pélvica (DIP) é uma infecção do trato genital feminino superior (acima do orifício interno do colo do útero), envolvendo útero, tubas e ovários - Pode afetar também peritônio e órgãos abdominais adjacentes. A DIP pode incluir quadros de endometrite, miometrite, salpingite, ooforite, abscesso tubo-ovariano e peritonite pélvica - Para fins de prova, geralmente vai ser considerada uma IST (infecção sexualmente transmissível). Entretanto, alguns estudos mostraram que 85% são decorrentes de ISTs. http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=5419 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_das_dst.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/controle_doencas_sexualmente_transmissiveis.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/controle_doencas_sexualmente_transmissiveis.pdf http://files.bvs.br/upload/S/1413-9979/2010/v15n3/a1530.pdf NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 2 PATOGÊNESE DA DIPA AGENTES ETIOLÓGICOS: - A DIP é uma infecção polimicrobiana causada por agentes que ascenderam pelo colo do útero - Os principais agentes classicamente são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis (isso que a prova vai cobrar) - A incidência deles tem sido decrescente, sendo encontradas, em alguns estudos, em 1/3 dos casos - Outras bactérias anaeróbias facultativas que fazem parte da flora vaginal normal, como Gardnerella vaginalis, Haemophilus influenzae e Streptococcus agalactiae, também podem ser encontradas. Outros microrganismos encontrados são: Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma genitalium e cytomegalovirus (CMV) - Menos de 15% dos casos agudos de DIP não são transmitidos sexualmente, mas associados a germes entéricos (ex.: Peptococcus, Peptoestreptococcus, Bacteroides Escherichia coli, Streptococcus agalactiae e Campylobacter spp.), patógenos respiratórios (ex.: Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, streptococos do Grupo A e Staphylococcus aureus) ou Mycoplasma e Ureaplasma que colonizam o trato genital inferior - Um organismo que pode ser encontrado em DIP em pacientes com DIU é o Actinomyces israelli FISIOPATOGENIA: - A DIP vai aparecer após a ascensão de microrganismos pelo orifício interno do colo do útero - A ascensão dos microrganismos é favorecida por variações hormonais do ciclo menstrual. O muco cervical durante o fluxo menstrual tem menor efeito bacteriostático, e a menstruação retrógrada pode favorecer a ascensão dos agentes. Características imunológicas de cada indivíduo também podem contribuir para a disseminação da infecção - Procedimentos que envolvam a manipulação no trato genital superior, como Curetagem, Histeroscopia e Inserção de DIU, podem propiciar essa ascensão de microrganismos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 3 - A endometrite é frequentemente a 1ª manifestação clínica da DIP. O processo infeccioso progride em direção às tubas, à cavidade peritoneal pélvica e, quando atinge o líquido peritoneal, o agente infeccioso pode progredir até o espaço infradiafragmático direito e promover a peri-hepatite ou a síndrome de Fitz- Hugh-Curtis FATORES EPIDEMIOLÓGICOS - É frequentemente encontrada em mulheres jovens com atividade sexual desprotegida (sem uso de métodos de barreira) - Infelizmente, os dados brasileiros são escassos e incompletos para termos uma amostra real da prevalência dessa doença em nosso território. Ainda é subdiagnosticada. - Uma questão muito importante é com relação às sequelas que a DIP pode deixar, como a gestação ectópica e quadros de infertilidade, além de dor pélvica crônica - Mulheres que já tiveram um episódio de DIP têm chance de 12% a 15% de ter gravidez ectópica no futuro - A taxa de infertilidade é de 12% a 50%, aumentando com o número de episódios FATORES DE RISCO - Por ser uma IST (para a maior parte dos casos), ter atividade sexual sem proteção (métodos de barreira) é um dos principais fatores de risco - Alguns estudos mostram uma prevalência maior em adolescentes, pacientes com baixo nível socioeconômico, multiplicidade de parceiros sexuais, antecedentes de outras ISTs, parceiro atual com uretrite e quadros imunossupressores - Vale reforçar que qualquer paciente com atividade sexual presente tem chance de ter DIP - Considerando os casos Não IST, procedimentos que envolvam qualquer manipulação na cavidade uterina, como Histeroscopia e a Curetagem Uterina, constituem fatores de risco DIP E DIU: - Pelo Ministério da Saúde: “usuárias de dispositivo intrauterino (DIU) apresentam risco ligeiramente aumentado de DIP em comparação com mulheres que não usam contraceptivos ou que utilizam outros métodos” - Esse risco tem relação inversa com o tempo desde a inserção do DIU, sendo mais alto nos primeiros 20 dias da inserção - A exposição à IST é responsável pela ocorrência de DIP no 1º mês de uso, e não o uso do DIU. No entanto, esse risco é reduzido nas mulheres tratadas para IST antes da inserção do DIU QUADRO CLÍNICO E COMPLICAÇÕES - Os sintomas mais comuns são dor pélvica aguda (lembrar que é um quadro infeccioso agudo), que pode ser acompanhada de corrimento vaginal purulento. A depender da gravidade, pode surgir febre e queda do estado geral da paciente - Além da dor pélvica, a paciente pode referir também queixas de dispareunia (deprofundidade) - Alguns quadros de endometrite também podem evoluir com sangramento uterino anormal NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 4 - Quadros mais graves também podem evoluir com uma peri-hepatite, formando pequenos abscessos na superfície do fígado. Esse quadro recebe o nome de síndrome de Fitz-Hugh-Curtis - Na fase aguda, pode aparecer um exsudato purulento na superfície hepática - Na fase crônica, aparecem as aderências de “corda de violino” entre o fígado e a parede abdominal anterior - Em resumo, os sintomas mais frequentes são: • Dor pélvica: aguda ou insidiosa • Corrimento vaginal: purulento, com ou sem odor fétido • Disúria e dispareunia: presentes principalmente em casos insidiosos e crônicos • Náuseas e vômitos: surgem quase sempre quando há acometimento peritonial (abscessos tubo- -ovarianos) • Febre e calafrios: é um sintoma inespecífico, relacionado à presença de abscesso • Metrorragia: presente particularmente em 1/3 das pacientes, sendo as mais acometidas as jovens e com envolvimento endometrial • Astenia • Dor à mobilização uterina e palpação dos anexos • Tensão abdominal nos quadrantes inferiores do abdome, distensão abdominal e ausência ou diminuição dos ruídos hidroaéreos. COMPLICAÇÕES: AGUDAS: Abscesso tubo-ovariano: é uma coleção de pus nos anexos que se desenvolve a partir de uma tentativa do organismo de conter uma salpingite. Pode surgir acompanhando uma infecção aguda ou crônica e há maior probabilidade de sua ocorrência se o quadro for tratado tardiamente ou de maneira incompleta. A pior complicação do abcesso é o seu rompimento e a ocorrência de um possível choque séptico Síndrome Fitz-Hugh-Curtis (fase aguda): corresponde a uma peri-hepatite que causa dor no hipocôndrio direito e pode resultar de salpingites agudas pelo gonococo ou clamídia A infecção pode se tornar crônica, caracterizada por exacerbações e remissões intermitentes TARDIAS: Infertilidade As tubas uterinas podem ter comprometimento anatômico e funcional após episódios de DIP. Uma das possíveis evoluções, além das aderências locais, seria a obstrução tubária bilateral Gestação ectópica Também justificada pelo comprometimento tubário. DIP prévia é o principal fator de risco para um primeiro episódio de gestação ectópica Dor pélvica crônica Surge em decorrência de aderências determinadas pelo processo infeccioso e inflamatório da DIP. Pode ser acompanhada de dispareunia de profundidade Síndrome de fitz-hugh-curtis (fase crônica) Aderências em “corda de violino” entre a superfície hepática e a parede abdominal anterior Hidrossalpinge Geralmente assintomática, corresponde à obstrução das fímbrias e distensão tubária com líquido não purulento, podendo causar pressão pélvica, dor pélvica crônica, dispareunia e/ou infertilidade NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 5 DIAGNÓSTICO - Infelizmente, não temos nenhum teste definitivo e conclusivo para o diagnóstico da DIP - Nenhum achado isolado de história, exame físico ou exame laboratorial é sensível e específico o suficiente para fechar o diagnóstico de DIP - O diagnóstico não é tão simples devido à variedade de sinais e sintomas associados a essa condição. Muitas pacientes com DIP têm sintomas sutis, não específicos ou são até mesmo assintomáticas - Vale ressaltar que o atraso no diagnóstico e tratamento contribui com sequelas no trato reprodutivo feminino. Mesmo pacientes assintomáticas estão em risco para infertilidade - Muitos episódios de DIP podem passar despercebidos. Apesar de alguns casos serem assintomáticos, outros não são diagnosticados porque o paciente ou o sistema de saúde falhou em reconhecer sintomas ou sinais de DIP (corrimento vaginal, sangramento anormal, dispareunia) - Para piorar, temos uma grande divergência entre critérios do Ministério da Saúde (BR) e do CDC (EUA). A diferença PRINCIPAL entre os dois é que, no americano, o limiar para o diagnóstico e para o tratamento é mais BAIXO! Vão diagnosticar mais e tratar mais! Devido às dificuldades no diagnóstico e o potencial dano à saúde reprodutiva da mulher, temos que manter um limiar baixo para o diagnóstico da DIP EXAME CLÍNICO: - O profissional de saúde deverá realizar a aferição dos sinais vitais, o exame abdominal completo, o exame especular vaginal e o exame bimanual - O exame especular vaginal deve incluir a inspeção do colo do útero para verificar se ele está friável e se existe a presença de corrimento mucopurulento cervical - Além disso, no exame bimanual, não pode faltar a mobilização do colo e palpação dos anexos - Sangramento vaginal anormal em pouca quantidade (spotting), dispareunia, corrimento vaginal, dor pélvica, dor no abdome inferior e dor à mobilização do colo do útero ao toque podem estar presentes na DIP. Deve-se ficar atento para a existência de spotting em pacientes que utilizam anticoncepcional de baixa dosagem. Esse sinal é comum e pode ser indicativo de DIP MINISTÉRIO DA SAÚDE: - O diagnóstico clínico de DIP é baseado em critérios maiores, menores e elaborados - Para a confirmação clínica de DIP, é necessária a presença de: • 3 critérios maiores MAIS um critério menor OU • 1 critério elaborado CRITÉRIOS MAIORES: • Doe no hipogástrio • Dor à palpação dos anexos • Dor à mobilização de colo uterino CRITÉRIOS MENORES: • Temperatura axilar > 37,5°C ou > 38,3°C • Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal • Massa pélvica NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 6 • Mais de 5 leucócitos por campo de imersão em material de endocérvice • Leucocitose em sangue periférico • Proteína C reativa ou velocidade de hemossedimentação (VHS) elevada • Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasmas CRITÉRIOS ELABORADOS: • Evidência histopatológica de endometrite • Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em estudo de imagem • Laparoscopia com evidência de DIP CDC (EUA): - O diagnóstico de DIP será confirmado nas pacientes com dor pélvica e se nenhuma outra causa para a dor tenha sido encontrada - Deve ter pelo menos um desses critérios mínimos presentes no exame físico: CRITÉRIOS MÍNIMOS: • Dor à mobilização cervical ou • Dor à palpação uterina ou • Dor à palpação anexial - A presença de todos os 3 critérios mínimos para se iniciar o tratamento pode resultar em baixa sensibilidade para o diagnóstico da DIP - Alguns critérios adicionais podem ser pesquisados para aumentar a especificidade do diagnóstico CRITÉRIOS ADICIONAIS: • Presença de clamídia ou gonococo cervical • Corrimento mucopurulento cervical ou colo friável • Febre (temperatura oral > 38,3°C) • PCR aumentado • VHS aumentado • Aumento de leucócitos em secreção vaginal - Há também os critérios mais específicos para o diagnóstico de DIP CRITÉRIOS ESPECÍFICOS: • Biópsia endometrial com evidência histológica de endometrite • Laparoscopia: achados consistentes com DIP, como hiperemia e edema de tubas, fímbrias alteradas e aderências pélvicas • Imagem (USGTV/TC/RM): espessamento das tubas, líquido nas tubas, abscesso tubo-ovariano ou doppler sugerindo infecção pélvica (hiperemia de tubas) EXAMES COMPLEMENTARES: - Para muitos casos, os achados de anamnese e exame físico podem fazer o diagnóstico de DIP. Sempre que possível, deve-se realizar os exames complementares, principalmente em casos duvidosos - Os exames laboratoriais e de imagens citados abaixo são de auxílio no diagnóstico da DIP: • Hemograma completo • VHS NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 7 • Proteína C reativa • Exame bacterioscópico para vaginose bacteriana • Cultura de material de endocérvice com antibiograma ou NAAT para N. gonorrhoeae • Pesquisa de clamídia no material de endocérvice, uretra, laparoscopia ou punção do fundo de saco posterior • Exame qualitativo de urina e urocultura (paraafastar hipótese de infecção do trato urinário) • Hemocultura • BHCG (para afastar gravidez ectópica) • Exames de imagem: ultrassonografia pélvica transvaginal é um método acessível e não invasivo no diagnóstico de complicações relacionadas à DIP, como abscesso tubo-ovariano, além de avaliar outros diagnósticos diferenciais, como cistos ovarianos e torção de ovário. O principal achado ultrassonográfico na DIP é a presença de uma fina camada líquida preenchendo a trompa, com ou sem a presença de líquido livre na pelve. USG de abdômen total pode ser utilizada para avaliar a possibilidade de outros diagnósticos diferenciais, como apendicite. TC (tomografia computadorizada) ou RM (ressonância magnética) de abdômen e pelve são outros exames de imagem utilizados • Biópsia de endométrio: para avaliar presença de endometrite (lembrar que esse resultado não é imediato) • Sorologias para sífilis, HIV, hepatite B e C. Outras ISTs podem ser pesquisadas (não necessariamente em pronto-socorro) DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS: - Podem ser ginecológicos ou não: gestação ectópica, apendicite aguda, infecção do trato urinário, litíase ureteral, torção anexial, rotura de cisto ovariano, endometriose, mioma degenerado ou torcido, diverticulite etc ESTADIAMENTO: - Pouco usado na prática - Existe a classificação de Monif para quadros de DIP • Estágio 1 – Endometrite e salpingite aguda sem peritonite • Estágio 2 – Salpingite aguda com peritonite • Estágio 3 – Salpingite aguda com oclusão tubária ou comprometimento tubo-ovariano (abscesso tubo-ovariano) • Estágio 4 – Abscesso tubo-ovariano roto com secreção purulenta na cavidade ou abscesso maior que 10 cm. TRATAMENTO: - A antibioticoterapia deve ser iniciada o mais rápido possível, tão logo o diagnóstico presuntivo tenha sido feito, já que a prevenção de sequelas depende da administração precoce dos ATB apropriados - O tratamento deve incluir regime de ATB de amplo espectro (lembrar da flora POLIMICROBIANA) e deve obrigatoriamente ser efetivo contra o gonococo e a clamídia. A necessidade de erradicar os anaeróbios ainda é discutível na literatura - A monoterapia não é recomendada na DIP devido à diversidade de agentes etiológicos implicados nessa condição. Com isso, a melhor conduta é a associação de antibióticos, visando cobrir Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, anaeróbios (em especial, o Bacteroides fragilis), vaginose bacteriana, bactérias Gram-negativas, bactérias facultativas e estreptococos, mesmo que esses agentes não tenham sido confirmados nos exames laboratoriais NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 8 - É importante saber avaliar se a paciente deve ser tratada em regime ambulatorial ou se deve ser internada • O tratamento ambulatorial aplica-se a mulheres que apresentam quadro clínico leve e exame abdominal e ginecológico sem sinais de pelviperitonite • A necessidade de hospitalização deve ser baseada em alguns critérios, como os da Ministério da Saúde: a) Abscesso tubo-ovariano b) Gestação c) Estado geral grave, com náuseas, vômitos e febre d) Paciente que não conseguiu tolerar medicação por via oral em casa e) Ausência de resposta clínica após 72 horas do início do tratamento com ATB oral f) Dificuldade em exclusão de emergência cirúrgica (apendicite, gravidez ectópica) MINISTÉRIO DA SAÚDE: - Mnemônico do Prof. Kitamura para tratamento: DIP é Coisa Do Mal! C de Ceftriaxona, D de Doxiciclina e M de Metronidazol. Para lembrar pra vida! - A melhora clínica das pacientes com DIP deverá acontecer após 72 horas do início do ATB. Se houver piora do quadro, considerar outros exames de imagem, como ressonância nuclear magnética ou tomografia computadorizada axial, para diagnósticos diferenciais ou complicações de DIP - A cura é baseada no desaparecimento dos sinais e sintomas - Se a avaliação for feita com critérios bacteriológicos após 30 dias, 40% das mulheres ainda persistem com a presença de um ou mais agentes bacterianos, de acordo com o estudo PEACH (Pelvic Inflammatory Disease Evaluation Clinical Health Trial) - A paciente deverá retornar ao ambulatório para seguimento na primeira semana após a alta hospitalar, observando abstinência sexual até a cura clínica NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 9 TRATAMENTO CIRÚRGICO: - Mesmo com abscesso, a cirurgia não será a primeira opção! - Deve ser indicado em: • Falha do tratamento clínico • Presença de massa pélvica (abscesso) que aumenta, apesar do tratamento clínico • Suspeita de rotura de abscesso tubo-ovariano • Abscesso tubo-ovariano volumoso (alguns estudos mostram valores > 7 cm, mas não é a conduta do Ministério da Saúde) - Nos casos de abscesso sem melhora clínica, a drenagem pode ser realizada por laparoscopia, laparotomia ou pela radiologia intervencionista (guiada por USG ou TC) TRATAMENTO EM PACIENTES COM DIU: MINISTÉRIO DA SAÚDE: Não há necessidade de remoção do dispositivo, porém, caso exista indicação, a remoção não deve ser anterior à instituição da antibioticoterapia, devendo ser realizada somente após duas doses do esquema terapêutico Nesses casos, orientar a paciente sobre ouso de métodos de barreira (preservativo masculino e feminino, diafragma etc.) Não recomendar duchas vaginais CDC (EUA): Não precisa ser removido. Isso só deverá acontecer caso a paciente não apresente melhora entre 48 e 72 horas de tratamento TRATAMENTO EM PACIENTES IMUNOCOMPROMETIDAS: - Comportamento similar às pacientes com imunidade normal, apenas com a ressalva de que desenvolvem mais facilmente abscesso tubo-ovariano, merecendo, portanto, maior cuidado, sem necessidade de internação SEGUIMENTO: As pacientes tratadas ambulatorialmente, idealmente, deveriam ser reavaliadas em 72 horas Deve manter abstinência sexual até o fim do tratamento Devem ser colhidas sorologias para IST (com consentimento) Parceiros sexuais dos últimos 60 dias devem ser avaliados e preferencialmente tratados para clamídia e gonococo, sendo sintomáticos ou não. Recomenda-se ceftriaxona 500 mg IM associada à azitromicina 1 g VO, ambas em dose única (Ministério da Saúde) Ministério da Saúde: Enfatizar o uso de métodos contraceptivos de barreira 2. DISCUTIR SOBRE INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA DE INFERTILIDADE NO CASAL DEFINIÇÃO: FERTILIDADE - Aptidão para a reprodução, conceito que só existe quando aplicado para um casal NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 10 INFERTILIDADE - A infertilidade é definida como a ausência de concepção após 1 ano de relações sexuais desprotegidas - Esse distúrbio pode ainda ser classificado como infertilidade primária, na qual não houve gestações prévias, e infertilidade secundária, na qual houve uma gestação prévia, embora não necessariamente com um nascido vivo - Cerca de 90% dos casais devem conceber após 12 meses de relações sexuais desprotegidas - A subfertilidade refere-se a casais que concebem após 12 meses de tentativa de engravidar - A fecundabilidade é a probabilidade de gravidez por ciclo, que é considerada de 20% em casais férteis - A fecundidade é a probabilidade de um nascido vivo em um único ciclo e, por definição, tem valor menor que a fecundabilidade. Propôs-se o diagnóstico de redução da fecundidade para incluir casais que tentam conceber há 36 meses ou mais ou que têm incapacidade física ou dificuldade de ter um filho; no entanto, atualmente, não há consenso claro acerca de nenhum desses termos. EPIDEMIOLOGIA DA INFERTILIDADE - A expectativa é de que 21% dos casais nos EUA tenham infertilidade ao longo da vida, com uma prevalência atual de 7,4% - Em 2002, mais de 7 milhões de mulheres norte-americanas de 22 a 44 anos relataram ter, em algum momento, procurado atendimento em serviços de infertilidade - Uma vez diagnosticada a infertilidade, 13% dos casais não procuram tratamento - O diagnóstico de redução da fecundidade vemaumentando, tendo alcançado 15% em 2002, sobretudo em consequência da tendência à concepção tardia em países desenvolvidos - Em todo o mundo, o fator masculino é responsável por 51,2% e a obstrução tubária por 25 a 35% dos casos de infertilidade e subfertilidade (concepção após tentativa durante 1 ano) - Na Europa, a disfunção ovulatória é responsável por 21 a 32%, o fator masculino por 19 a 57%, o fator tubário por 14 a 26%, sem causa aparente por 8 a 30%, a endometriose por 4 a 6%, e os fatores masculino e feminino combinados representam 34,4% dos casos de infertilidade - As chances de infertilidade aumentam com a idade da mulher e, em geral, em pacientes que não concluíram a formação universitária - O alto custo do tratamento da infertilidade é uma barreira para muitos nos EUA, onde as seguradoras não costumam oferecer cobertura para esses serviços - As mulheres mais propensas a buscar tratamento especializado têm 30 anos de idade ou mais, são brancas, casadas e têm posição socioeconômica relativamente alta CAUSAS DA INFERTILIDADE - As principais causas de infertilidade incluem: • Fator masculino • Diminuição da reserva ovariana • Distúrbios ovulatórios (fator ovulatório) • Lesão tubária, obstrução ou aderências paratubárias (incluindo endometriose com evidência de aderências tubárias ou peritoneais) • Fatores uterinos NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 11 • Distúrbios sistêmicos (dentre eles, infecções ou doenças crônicas como distúrbios autoimunes ou insuficiência renal crônica) • Fatores cervicais e imunológicos • Fatores inexplicados (incluindo endometriose sem evidência de aderências tubárias ou peritoneais) - O fator masculino é causa isolada de infertilidade em 20% dos casais inférteis, mas pode contribuir em até 40% dos casos - Há relatos de homens que foram pais após os 90 anos de idade, mas as taxas de gravidez são menores depois dos 40 a 45 anos e principalmente depois dos 50. A idade paterna avançada está associada a uma maior frequência de cromossomos sexuais dissômicos e anormalidades cromossômicas estruturais nos espermatozoides. Com relação à prole, a idade paterna está associada a maiores taxas de doenças autossômicas dominantes, como acondroplasia e craniossinostose, e a taxas um pouco maiores de trissomia do 21 - A associação entre a idade da mulher e a redução da fertilidade é bem documentada. O declínio da fecundabilidade começa logo após os 30 anos e acelera-se por volta dos 40 - Os distúrbios da ovulação são responsáveis por 20 a 40% dos casos de infertilidade feminina; em geral, estão entre as causas de infertilidade diagnosticadas e tratadas com mais facilidade - A causa mais comum de oligovulação e de anovulação – tanto na população em geral quanto em mulheres inférteis – é a síndrome do ovário policístico (SOP) - Os fatores tubários e peritoneais são responsáveis por 30 a 40% dos casos de infertilidade feminina - Estima-se que o fator cervical não cause infertilidade em mais que 5% dos casais inférteis - As doenças uterinas provocam infertilidade em até 15% dos casais que procuram tratamento e são diagnosticadas em até 50% das pacientes inférteis - Os leiomiomas não foram demonstrados como uma causa direta de infertilidade - Endometriose: • É caracterizada pela presença de tecido endometrial ectópico, usualmente na pelve (principalmente no ovário), mas também pode estar presente no intestino, diafragma e até na cavidade pleural • É encontrado em mulheres na menacme, já que é uma doença estrogênio-dependente • O quadro clínico se apresenta, normalmente, de 3 formas: 1. De forma assintomática 2. Um quadro de dor (dismenorreia, dor pélvica crônica e/ou dispareunia) 3. Através da infertilidade • Até metade das mulheres com infertilidade podem ter endometriose • Com relação à infertilidade, há uma grande dúvida sobre o que deve ser feito primeiramente: a cirurgia ou a fertilização in-vitro. Não há um consenso sobre essa questão, devendo-se analisar caso a caso, incluindo a sintomatologia da paciente. Sabe-se que a cirurgia pode aumentar as taxas de gestação em pacientes com endometriose, mas também há o risco de diminuir a reserva ovariana caso ocorram abordagens ovarianas IDADE DA MULHER E DIMINUIÇÃO DA RESERVA OVARIANA: FECUNDABILIDADE DIMINUÍDA: • À medida que envelhece, a maioria das mulheres tem um declínio da fecundabilidade que é fisiológico, não patológico • O declínio começa logo após os 30 anos de idade e acelera-se pouco depois dos 40, refletindo a redução da quantidade e da qualidade dos oócitos • Nas mulheres que não fazem uso de contracepção, a fertilidade alcança o auge aos 20 anos, diminui um pouco aos 32, reduz consideravelmente depois dos 37 e é rara depois dos 45 NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 12 • O envelhecimento cronológico do endométrio não parece ter papel importante na diminuição da fertilidade, considerando-se as excelentes taxas de gravidez e nascidos vivos quando se usaram oócitos de doador • As taxas de sucesso de FIV diminuem de modo semelhante com a idade • O envelhecimento reprodutivo está relacionado com o estoque de folículos primordiais que são estabelecidos no início da vida fetal e caem a quase zero na menopausa ABORTO ESPONTÂNEO: • O envelhecimento reprodutivo está associado a anormalidades nos fusos meióticos do oócito que provocam erros do alinhamento cromossômico e aumentam as taxas de aneuploidia do concepto, sobretudo de trissomias. Isso serve para aumentar o risco de aborto espontâneo e, portanto, diminui as taxas de nascidos vivos em mulheres mais velhas - Fatores de um ou de ambos os parceiros podem dificultar a concepção; portanto, é importante cogitar todos os diagnósticos possíveis antes de buscar tratamentos invasivos - A prevalência relativa das diferentes causas de infertilidade varia muito entre as populações de pacientes - Em muitos casos, não é detectada causa específica apesar de uma avaliação completa, e a infertilidade do casal é classificada como não tendo causa aparente - Pouquíssimos casais têm infertilidade absoluta, que pode ser causada pela perda irreversível, congênita ou adquirida de gametas funcionais ou pela ausência de estruturas reprodutivas em um dos parceiros. Nesses casos específicos, os casais devem ser aconselhados a respeito das opções de adoção, uso de gametas de doador ou gestação de substituição (barriga de aluguel) IMPACTO DO ESTILO DE VIDA SOBRE A FERTILIDADE: - Em comparação com as mulheres de peso normal, as mulheres com sobrepeso e obesidade apresentam maiores taxas de disfunção ovulatória e infertilidade, juntamente com taxas de gravidez 30% menores na fertilização in vitro (FIV) - Homens obesos têm maiores taxas de hipogonadismo hipogonadotrópico e lesão do DNA dos espermatozoides que os homens de peso normal - As fumantes necessitam do dobro de ciclos de FIV para conceber, mas o efeito do álcool sobre a fertilidade é menos claro - Infertilidade sem causa aparente: • A infertilidade sem causa aparente é diagnosticada em 30% dos casais, nos quais a avaliação básica de infertilidade mostra parâmetros normais do sêmen, sinais de ovulação, permeabilidade das tubas uterinas e ausência de outras causas óbvias de infertilidade • Pode-se garantir às pacientes com infertilidade sem causa aparente que mesmo depois de 12 meses de tentativas fracassadas, 20% conceberão nos 12 meses subsequentes e mais de 50% nos 36 meses seguintes • Isso sugere que em casais com fatores de bom prognóstico (mulher com menos de 30 anos, menos de 24 meses de infertilidade e uma gravidez prévia do mesmo casal), a infertilidade sem causa aparente pode refletir apenas o extremo inferior da fertilidade normal NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 13 INVESTIGAÇÃO DA INFERTILIDADE EM HOMENS E MULHERES - A investigação deve ser iniciada após 12 meses de tentativa sem sucesso - A avaliaçãopode ser iniciada mais cedo, em mulheres com 35 anos ou mais, mulheres com ciclos menstruais irregulares ou fatores de risco conhecidos para infertilidade, como histórico de DIP ou malformações do trato reprodutivo - A exceção que possibilita a investigação ser iniciada precocemente são mulheres com 35 anos ou mais, iniciando-se nesse caso a investigação após 6 meses de tentativas sem sucesso. Essa investigação precoce se justifica pela perda de quantidade e qualidade dos óvulos. Devemos sempre lembrar que tempo é quantidade e qualidade de óvulos - Em se tratando de infertilidade, a investigação é sempre conjugal! Mesmo que o homem já tenha filhos de outras relações, tanto ele como a mulher devem sempre ser investigados PROPEDÊUTICA BÁSICA DO CASAL - Chama-se de infertilidade conjugal quando não ocorre gravidez em casal que mantem relações sexuais frequentes sem proteção contraceptiva, pelo período de 1 ano - A investigação do casal infértil se inicia após pelo menos 1 ano de exposição sexual sem gravidez - A investigação antes de um ano se justifica em mulheres com mais de 35 anos, ciclos menstruais irregulares, história de doença inflamatória pélvica, diagnóstico ou suspeita de endometriose, cirurgias abdominais anteriores e problemas masculinos conhecidos. - A primeira consulta do casal infértil é muito importante, porque define o tom para a avaliação inicial e o tratamento subsequente. Considerando que fatores de um ou de ambos os parceiros podem dificultar a concepção, é necessário cogitar todos os diagnósticos possíveis antes de buscar um tratamento invasivo - A propedêutica básica do casal envolve anamnese, exame físico e alguns exames complementares específicos ANAMNESE: - Na anamnese voltada para a mulher, os pontos mais importantes são: Duração da infertilidade Tratamentos anteriores e os resultados, se realizados História menstrual, com duração e características do ciclo para avaliar o status ovulatório Patologias prévias História cirúrgica e ginecológica, buscando condições, procedimentos ou uso de medicamentos que sejam associados à infertilidade História obstétrica História sexual, se há disfunções sexuais e frequência de coito História familiar para infertilidade, defeitos congênitos e mutações genéticas Hábitos de vida História social, incluindo a ocupação, nível de estresse, dieta, atividade física, abuso de substâncias ou qualquer outro fator que afete a fertilidade - A anamnese do homem deve ser direcionada para: Desenvolvimento sexual e puberal, incluindo a presença de pelos no copo e a descida testicular Histórico médico, avaliando ocorrência de doença sistêmica grave crônica, história de traumatismo pélvico, infecções do trato genito-urinário, e IST’s, varicocele NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 14 História cirúrgica, principalmente envolvendo áreas inguinal e escrotal, como vasectomia ou oequiectomia História de vida e social, abordando abuso de substâncias, exposições ocupacionais ou radioterapia e quimioterapia prévia História sexual, questionando sobre libido, frequência das relações e histórico de fertilidade anterior FATOR OVARIANO: - Dentre os fatores ovarianos, pode-se citar como causas de infertilidade: SOP é a principal causa de anovulação crônica, correspondendo a cerca de 80% dos casos de infertilidade por fator ovariano. É uma síndrome caracterizada por ciclos anovulatórios ou oligo- ovulação, hiperandrogenismo e múltiplos pequenos cistos ovarianos Tireoidopatias (principalmente o hipotireoidismo) As patologias da tireoide, principalmente o hipotireoidismo, estão associadas a alterações no ciclo menstrual, em sua duração e no volume de fluxo. Oligomenorreia e amenorreia são achados frequentes Mesmo que mulheres com hipotireoidismo leve possam ovular e engravidar, o tratamento com tiroxina é importante, auxiliando no retorno para o padrão menstrual normal, aumentado a fertilidade Hiperprolactinemia devem ser pesquisadas causas fisiológicas, farmacológicas ou secundárias ao aumento da secreção de prolactina Seu não houver hipotireoidismo ou causas farmacológicas, os estudos de imagem auxiliam no diagnóstico de tumores hiperprodutores de prolactina, como os adenomas hipofisários Baixa reserva funcional ovariana a reserva ovariana é o tamanho da população de folículos primordiais que não crescem, ou estão em repouso nos ovários. Isso provavelmente determina o número de folículos que crescem e a “qualidade” ou potencial reprodutivo de seus oócitos Os testes da reserva ovariana são usados com frequência, mas seus valores preditivos para o potencial de fertilidade são limitados Os testes parecem ser mais adequados para avaliar como os ovários responderão a doses farmacológicas de gonadotrofinas exógenas em termos de contagem de folículos, número de oócitos produzidos, níveis séricos de estradiol durante a estimulação, duração da estimulação e quantidade de gonadotrofinas exógenas necessárias em determinado ciclo os resultados dos testes das reservas ovarianas são pouco preditivos dos desfechos de gravidez Esses testes indicam mais a quantidade que a qualidade de oócitos. Pode-se usar como diagnóstico: 1. Nível sérico de FSH no 3º dia À medida que as mulheres envelhecem, há elevação fisiológica do FSH no início da fase folicular (3o dia do ciclo), com níveis de 5,74 UI/l na idade de 35 a 39 anos e 14,34 UI/l na idade de 45 a 59 anos Em mulheres na faixa de 40 anos, níveis acima de 20 UI/l são preditivos de climatério Como a incidência de níveis anormais é menor em mulheres mais jovens, os exames costumam ser realizados a partir dos 35 anos de idade Nas mulheres subférteis com um FSH de 8 UI/l ou maior, as taxas de gravidez espontânea diminuem de 7% por unidade de aumento de FSH, com uma redução de 40% com 15 UI/l e de 58% com 20 UI/l Em virtude da baixa sensibilidade de altos níveis basais de FSH na determinação da fecundabilidade, eles não devem ser usados como a única base para descartar a TRA A pouca especificidade dos baixos níveis basais de FSH na determinação da fecundabilidade torna-os duvidosos para tranquilizar as pacientes, sobretudo aquelas de mais idade NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 15 2. Nível basal de estradiol Muitas vezes, o nível basal de FSH no 3o dia é combinado ao teste de estradiol (E2). Os níveis de estradiol no 3º dia do ciclo menstrual refletem o crescimento folicular em vez do número de folículos antrais Elevações do FSH e diminuições da inibina B associadas ao envelhecimento ocasionam crescimento folicular avançado no fim da fase lútea precedente. Em resposta, os níveis de estradiol no início da fase folicular costumam ser maiores em mulheres idosas e em mulheres com envelhecimento reprodutivo avançado 3. Teste de estimulação com citrato de clomifeno Acredita-se que o citrato de clomifeno tenha efeitos antiestrogênicos no eixo hipotalâmico-hipofisário, o que diminui a inibição da produção hipofisária de FSH mediada por E2 O teste de estimulação com citrato de clomifeno (TECC) faz a dosagem dos níveis séricos de FSH e estradiol no 3o dia do ciclo menstrual, repetida no 10o dia após administração de citrato de clomifeno (100 mg por via oral a cada dia) do 5o ao 9o dia O TECC é mais sensível que o FSH basal isolado na identificação de resposta insatisfatória a gonadotrofinas exógenas 4. Nível sérico de inibina B A inibina B sérica é secretada por células da camada granulosa do ovário a partir do estágio de folículo pré-antral e reflete o tamanho da coorte folicular em crescimento Observam-se níveis reduzidos de inibina B com o envelhecimento, mesmo em mulheres férteis normais A inibina B isolada tem baixo valor preditivo para resposta ovariana, mas há melhora desse valor quando associada ao TECC 5. Nível sérico de hormônioantimulleriano (HMA) O hormônio antimülleriano (HMA) é produzido pelas células da camada granulosa dos folículos pré-antrais e dos pequenos folículos antrais O nível sérico de AMH em mulheres com ciclos normais diminui com a idade e torna-se indetectável após a menopausa O HMA parece ser um bom preditor tanto da resposta excessiva (> 3,5 ng/ml) quanto insatisfatória (< 1 ng/ml) à estimulação para FIV e está fortemente relacionado com o número de folículos antrais O HMA pode ser dosado a qualquer momento do ciclo menstrual 6. Número de folículos pré-antrais Por meio de ultrassonografia transvaginal no início da fase folicular, contam-se todos os folículos ovarianos de 2 a 10 mm, denominando-se o total nos 2 ovários de número basal de folículos antrais (NFA) O NFA correlaciona-se bem com a idade cronológica em mulheres férteis normais e parece refletir o que resta do pool de folículos primordiais;104 a diminuição do NFA com a idade é gradual, não súbita Um NFA total inferior a quatro é preditivo de baixa resposta e de maiores taxas de cancelamento na FIV - Tratamento da diminuição da reserva ovariana Os tratamentos da diminuição da reserva ovariana incluem FIV autóloga, uso de oócito ou embriões de doadora e adoção. O pré-tratamento de mulheres com diminuição da reserva ovariana com o acetato de desidroepiandrosterona (DHEA; 25 mg, 3 vezes/dia) durante 4 a 5 meses melhorou a produção de oócitos e as taxas de gravidez com FIV https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/978-85-277-2398-5/epub/OEBPS/Text/chapter32a.html#ref104ch32 NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 16 - Como investigar e confirmar a ocorrência de ovulação? Dosagem do pico de LH no meio do ciclo, o que culmina em ovulação Dosagem de progesterona na 2ª fase do ciclo menstrual, pois depois da ovulação, o corpo lúteo vai gerar a produção de progesterona na 2ª fase do ciclo USG seriado durante o ciclo menstrual, podendo observar o desenvolvimento de folículos antrais e produção da dominância folicular pré-ovulatória Biópsia de endométrio na 2ª fase do ciclo menstrual, observando um endométrio de padrão secretor após a ovulação (pouco usado na prática, pois é invasivo e caro) FATOR TUBO PERITONEAL: - São fatores que envolvem patologias que modificam a tuba uterina, podendo cursar com alterações anatômicas e aderências peritoneais, impedindo o movimento normal da tuba, a captura dos óvulos e o transporte deles para o útero, levando à infertilidade - Causas mais comuns: DIP Endometriose Cirurgias prévias algumas cirurgias, principalmente cirurgias abdominopélvicas, como a apendicectomia, possuem como possível complicação a manipulação inadequada de estruturas reprodutivas femininas, podendo gerar infertilidade Tuberculose prévia a tuberculose genital é uma forma rara de tuberculose, afetando principalmente as tubas uterinas e em seguida o endométrio. O quadro clínico se apresenta através de infertilidade - As cirurgias e a tuberculose genital são causas raras de infertilidade tuboperitoneal - Como realizar a avaliação da permeabilidade tubária? Histerossalpingografia é o exame mais comum. Através da injeção intrauterina de corante iodado, o qual é captado através de imagens radiográficas sucessivas, observa-se se há dissipação desse corante na cavidade. A Laparoscopia com cromotubagem é outra opção para avaliação da permeabilidade tubária. A cromotubagem é a injeção de corante com azul de metileno por via uterina, observando a saída do mesmo pela tuba uterina para a cavidade pélvica através da videolaparoscopia, denotando a permeabilidade das tubas uterinas. É um exame menos utilizado, normalmente realizado quando a laparoscopia é indicada por outro motivo FATOR UTERINO: - Não é uma das causas mais comuns de infertilidade - Dentre as causas que geram distorção da cavidade uterina e menor fertilidade, podemos citar: Síndrome de Asherman ocorrem sinéquias intrauterinas, ou seja, aderências ou cicatrizes usualmente resultantes de manipulação intrauterina, principalmente na curetagem Gera amenorreia secundária e infertilidade Leiomiomas uterinos tumores de músculo liso benignos, que podem impedir a implantação do zigoto, a depender da sua localização e tamanho, principalmente o mioma submucoso, que gera distorção da cavidade uterina Pólipos endometriais e lesões polipoides tumores presentes na cavidade intrauterina Anomalias congênitas principalmente as alterações mullerianas, como útero septado, útero bicorno, útero unicorno, útero didelfo e afenesia uterina NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 17 - Deve-se avaliar a cavidade uterina em si - Exames para fazer a avaliação: Histeroscopia avaliação endoscópica intrauterina, sendo o principal método para definir anormalidades no interior do útero É o exame padrão ouro para tal avaliação e além de diagnóstico pode ser terapêutico, através da excisão de lesões É um exame simples, apesar de minimamente invasivo, que pode ser realizado até em regime ambulatorial Utiliza-se algum meio para distensão do orifício interno do colo uterino, permitindo a passagem de uma fibra ótica por ele, possibilitando a visualização da cavidade uterina Histerossalpingografia é menos usada Histerossonografia um USG com o auxílio da injeção de soro fisiológico na cavidade uterina, permitindo delinear melhor lesões na cavidade uterina, caso existam. Em alguns poucos casos podem-se utilizar também a ressonância magnética FATOR MASCULINO: - As causas da infertilidade masculina pode ser dividida em 4 grupos principais: Distúrbios endócrinos e sistêmicos relacionados ao hipogonadismo secundário – hipogonadotrófico Defeitos testiculares na espermatogênese 65-80% dos casos de infertilidade masculina, sendo a maioria relacionados à dispermatogênese idiopática) Distúrbios no transporte do espermatozoide Infertilidade masculina idiopática (corresponde a um homem infértil com análise normal do esperma e sem causa aparente de infertilidade) - A infertilidade masculina pode estar relacionada com diversas doenças, como a Fibrose Cística, em que há agenesia dos canais deferentes ou epidídimo e a Síndrome de Kallman, em que o indivíduo possui anosmia associada a hipogonadismo hipogonadotrófico - Pode relacionar-se também com síndromes genéticas, como a de Klinefelter, que pode levar a hipogonadismo hipergonadotrófico, azoospermia e hipodesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários - É importante lembrar que fertilidade prévia não exclui a necessidade de investigação do fator masculino - O exame complementar inicial utilizado na investigação masculina é o espermograma A coleta do esperma deve ser realizada em ambiente laboratorial, pois o estudo da amostra deve ser realizado, no máximo, após uma hora de coletada O homem deve respeitar um período de abstinência sexual de 2 a 3 dias antes da análise, visto que períodos menores podem prejudicar a contagem de espermatozoides e maiores podem prejudicar à qualidade (motilidade e morfologia dos espermatozoides) Nesse exame, devem ser avaliados 5 itens, sendo eles: 1. Volume de ejaculação (2-5ml) 2. Concentração de espermatozoides (≥15 milhões/ml) 3. Motilidade – espermatozoides móveis e progressivos (≥32%) 4. Morfologia normal dos espermatozoides (≥4% – Critérios de Kruger e ≥30% - Critérios da OMS) 5. Concentração de leucócitos (<1milhão/ml) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 18 - É importante saber a terminologia relacionada às alterações do espermograma para poder avaliar o seu resultado, lembrando que podem existir combinações desses fatores em um mesmo exame: • Baixa motilidade = Astenozoospermia • Ausência de espermatozoide = Azoospermia • Diminuição da concentração de espermatozoides = Oligozoospermia • Morfologia alterada = Teratozoospermia TRATAMENTO:- Para o tratamento da infertilidade conjugal podem ser empregadas técnicas de baixa complexidade ou técnicas de alta complexidade, que diferem com relação ao nível de tecnologia utilizado TÉCNICAS DE BAIXA COMPLEXIDADE: - Existem basicamente 2 técnicas de baixa complexidade - O coito programado nada mais é que a programação de quando o coito deve ser realizado pelo casal, durante a janela fértil da paciente. Para utilizar essa técnica, a paciente deve ter tubas normais e seu parceiro deve possuir um espermograma normal - A Inseminação intrauterina corresponde, por sua vez, a injeção do sêmen na cavidade uterina, após a seleção dos espermatozoides móveis e morfologicamente normais, ocorrendo a fertilização no próprio organismo da mulher. Deve-se utilizar esse método quando as tubas uterinas forem normais, podendo haver fator masculino e/ou ovulatório leve - Nos métodos de baixa complexidade, administra-se o HCG 34-36 horas antes do método, fármaco que mimetiza o pico de LH, gerando a ovulação e possibilitando a fertilização. Além disso, pode-se utilizar fármacos Indutores de Ovulação, sendo o mais comumente utilizado o Clomifeno, administrado do 5º ao 10º dia do ciclo menstrual, principalmente no contexto da SOP. Outros medicamentos que podem ser utilizados são o Letrozol e o FSH - O clomifeno é um fármaco que age antagonizando o estrogênio, gerando um feedback positivo ao hipotálamo, que por sua vez secreta o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), estimulando a hipófise, culminando com a secreção e elevação do nível de FSH, estimulando por fim o desenvolvimento folicular ovariano. Esse desenvolvimento deve ser acompanhado por USG seriados, visto que pode levar a gestações múltiplas caso haja um desenvolvimento excessivo NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 19 TÉCNICAS DE ALTA COMPLEXIDADE: - A principal técnica de alta complexidade é a Fertilização In-Vitro (FIV) - Nesse caso, o embrião é formado fora do organismo da paciente e implantado na cavidade uterina - Tem como principais indicações doenças tubárias graves, espermograma ruim, doenças genéticas (pois é uma técnica que possibilita a seleção genética embrionária) e falhas com técnicas de baixa complexidade - A paciente submetida à FIV utiliza alguns medicamentos para o procedimento, como o FSH (para estimular os folículos ovarianos), análogo ou antagonista de GnRH (evitando o pico endógeno de LH precocemente) e HCG, gerando a ovulação - Esse procedimento segue alguns passos: 1. Estímulo para a formação de mais folículos que o comum 2. Realiza-se a captação dos óvulos antes do rompimento desses 3. Fertilização ou Injeção intra-citoplasmática: junção do óvulo com o espermatozoide. A segunda técnica é utilizada quando há fatores masculinos proeminentes 4. Transferência do embrião: implante do embrião na cavidade uterina. Pode ser realizado no mesmo ciclo ou em outro, quando se usa o método de congelamento - Em quadros de Hidrossalpinge bilateral há uma dilatação das tubas uterinas, com acúmulo de líquido que contém diversas substâncias inflamatórias, prejudicando a nidação do embrião. Portanto, o resultado da FIV em uma paciente com hidrossalpinge é muito ruim, devendo-se realizar a salpingectomia antes do procedimento - Além do tratamento geral da infertilidade, algumas patologias específicas podem demandar tratamentos específicos • Tanto os pólipos endometriais, bem como o mioma submucoso e a síndrome de Asherman podem ser tratados através da histeroscopia cirúrgica, que como dito anteriormente, além de ser um procedimento diagnóstico pode ser também um procedimento terapêutico • Com relação à Endometriose não existe um consenso em literatura, porém admite-se que a FIV poderia ser realizada antes do procedimento cirúrgico, em alguns casos. Deve-se analisar caso a caso, incluindo a sintomatologia da paciente. Devemos lembrar que a cirurgia pode tanto melhorar a fertilidade como piorar, caso sejam necessárias abordagens ovarianas durante o procedimento 3. IDENTIFICAR E DIFERENCIAR AS PATOLOGIAS GINECOLÓGICAS MAIS PREVALENTES (VULVOVAGINITES, VAGINOSES, CERVICITES, URETRITES, ULCERAS GENITAIS VULVOVAGINITES - Considera-se como vulvovaginite toda manifestação inflamatória e/ou infecciosa do trato genital feminino inferior, ou seja, vulva, vagina e epitélio escamoso do colo uterino (ectocérvice) NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 20 - As vulvovaginites se manifestam por meio de corrimento vaginal, associado a um ou mais dos seguintes sintomas inespecíficos: prurido vulvovaginal, dor ou ardor ao urinar e sensação de desconforto pélvico, porém muitas infecções genitais podem ser completamente assintomáticas - O profissional de saúde deve diferenciar o conteúdo vaginal fisiológico do patológico O conteúdo vaginal fisiológico resulta de: muco cervical, descamação do epitélio vaginal (ação estrogênica); transudação vaginal; secreção das glândulas vestibulares (de Bartholin e de Skene) - As vulvovaginites podem ser causadas por agentes infecciosos endógenos (ex: vaginose bacteriana e candidíase), por agentes sexualmente trasmitidos (tricomoníase), ou com fatores físicos (traumas), químicos (uso de lubrificantes e de absorventes internos e externos), hormonais (hiper e hipoestrogenismo), anatômicos e orgânicos (imunodepressão secundária à doença sistêmica, ou outras imunodepressões) - A prática de coito vaginal imediatamente após o coito anal e o uso de DIU, podem favorecer as vulvovaginites modificando a flora vaginal VAGINOSES - A vaginose bacteriana é caracterizada por um desequilíbrio da flora vaginal normal, devido ao aumento exagerado de bactérias, em especial as anaeróbias (Gardnerella vaginalis, Bacteroides sp, Mobiluncus sp, micoplasmas, peptoestreptococos), associado a uma ausência ou diminuição acentuada dos lactobacilos acidófilos (que são os agentes predominantes na vagina normal) - Não se trata de infecção de transmissão sexual, apenas pode ser desencadeada pela relação sexual em mulheres predispostas, ao terem contato com sêmen de pH elevado - Suas características clínicas incluem: corrimento vaginal com odor fétido, mais acentuado após o coito e durante o período menstrual corrimento vaginal branco-acinzentado, de aspecto fluido ou cremoso, algumas vezes bolhoso; dor às relações sexuais (pouco freqüente) - Embora o corrimento seja o sintoma mais frequente, quase a metade das mulheres com vaginose bacteriana são completamente assintomáticas DIAGNÓSTICO: Exame a fresco ou esfregaço corado do conteúdo vaginal, que mostra a presença de “células- chave” ou “clue-cells” pH da secreção vaginal em papel indicador colocado em contato com a parede vaginal, durante um minuto, sem tocar o colo. Na vaginose bacteriana é sempre maior que 4,5 teste das aminas: particularmente na presença de vaginose bacteriana, ocorre a liberação de aminas produzidos por germes anaeróbios exalando odor fétido, semelhante ao odor de peixe podre quando o conteúdo vaginal é misturado com 1 ou 2 gotas de KOH a 10% - O diagnóstico da vaginose bacteriana se confirma quando estiverem presentes 3 dos seguintes critérios (critérios de Amsel): corrimento vaginal homogêneo, geralmente acinzentado e de quantidade variável; pH vaginal maior que 4,5, teste das aminas positivo, presença de “clue cells” no exame bacterioscópico NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 21 - O esperma, por seu pH elevado, contribui para desequilibrar a flora vaginal em algumas mulheres suscetíveis. O uso de preservativo pode ter algum benefício nos casos recidivantes - Há suficiente evidência na literatura para recomendar triagem e tratamento da vaginose bacteriana em gestantes de alto risco para parto pré-termo (ex: prétermo prévio), para redução dos efeitos adversos perinatais. O mesmo não se pode afirmar em gestação de baixo risco. O tratamento deve ser prolongadoe por via oral, não em dose única CERVICITES - Refere-se à inflamação do colo uterino, a qual afeta principalmente as células epiteliais colunares das glândulas endocervicais, embora também possa afetar o epitélio escamoso do ectocérvix - Pode ser devido a uma etiologia infecciosa ou não infecciosa e pode ser aguda (normalmente decorre de uma infecção – clamídia, gonorreia) ou crônica (geralmente tem uma fonte não infecciosa) - As mulheres com cervite podem ser assintomáticas ou sintomáticas - Em relação aos sintomas, muitas vezes inespecíficos, temos: leucorreia purulenta ou mucopurulenta (amarelada) ou sangramento intermenstrual (metrorragia) ou pós-coito, disúria, polaciúria, dispareunia ou irritação vulvovaginal. - Dentre os fatores etiológicos temos: • Infecções: os microrganismos mais comuns são: Chlamydia trachomatis (mais frequente) e Neisseria gonorrhoeae. Os menos prevalentes são: herpes simples vírus, Trichomonas vaginalis, Mycoplasma genitalium e outros. • Fatores físicos: trauma por instrumentos cirúrgicos ou outros objetos (ex.: tampão, preservativo). • Fatores químicos: exposição ao látex, duchas vaginais, espermicidas, cremes ou contraceptivos. • Outras causas: radioterapia local e doenças inflamatórias sistêmicas (síndrome de Behçet). URETRITES - São processos inflamatórios da uretra, de natureza bacterina, fúngica, viral ou traumática. Podem ser divididas em: • Uretrites gonocócicas: é um processo infeccioso e inflamatório da uretra causada pelo “gonococo” Neisseria gonorrhoeae (diplococo Gram- intracelular) É essencialmente transmitida pelo contato sexual, sendo um dos tipos mais frequentes de uretrites masculina Sua incidência é maior em jovens entre 15 e 30 anos, sexualmente ativos e sem parceria fixa Dentre os seus sintomas temos: sensação de prurido (sintoma mais precoce) na navicular que se estende, gradativamente, para toda a uretra; ardência miccional (após 1 a 3 dias); corrimento (inicialmente mucoide, depois mais abundante e purulento). Raramente ocorre hematúria no final da micção Alguns pacientes podem apresentar febre e outras manifestações de infecção aguda. Cerca de 70% dos casos femininos são assintomáticos, porém a transmissão aos parceiros é mantida. • Uretrites não gonocócicas: são as uretrites sintomáticas, cujas bacterioscopias pelo Gram e/ou cultura são negativas para o gonococo Os agentes causadores podem ser vários, mas os principais são: Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis, Trichomonas vaginalis, Candida albicans, Staphylococcus sp e Herpes simplex vírus. Seus sintomas irão depender do agente causador: Ex.: a uretrite por Chlamydia trachomatis causa: corrimentos mucoides, discretos e ralos, podendo estar associado à estranguria (eliminação lenta e dolorosa da urina em consequência de espasmo uretral ou vesical). Cerca de 40% das mulheres não tratadas podem evoluir para DIP NAYSA GABRIELLY ALVES DE ANDRADE 22 ULCERAS GENITAIS - Trata-se de síndrome clínica produzida por agentes infecciosos sexualmente transmissíveis e que se manifestam como lesões ulcerativas erosivas, precedidas ou não por vesículas, que podem ser acompanhadas de dor, ardor, prurido, material mucopurulento ou sangramento - O aparecimento da úlcera genital não é exclusividade das IST e pode estar associadas com infecções inespecíficas por fungos, vírus ou bactérias (ex.: dermatoses bolhosas, como o pênfigo, o eritema multiforme e a dermatite de contato; aftas; lesões traumáticas; erupção fixa por drogas e até mesmo lesões malignas). - Os principais causadores das úlceras genitais são: o Sífilis: causada pela bactéria espiroqueta Treponema pallidum. A principal via de transmissão é por contato sexual. Quadro clínico: após o contágio por via sexual ocorre um período de incubação de cerca de 3 semanas, com o posterior surgimento da lesão primária, o cancro duro. É uma lesão ulcerada indolor, geralmente única, de bordas endurecidas, fundo liso, com saída de pequena quantidade de secreção serosa. A lesão é altamente infectante, rica em espiroquetas. O cancro duro costuma ter cicatrização espontânea em 6 a 8 semanas do seu aparecimento. o Herpes genital: causada pelo herpes simplex vírus (HSV), tipos 1 e 2. Embora ambos os tipos possam provocar lesões em qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais e do tipo 1 nas lesões periorais. Quadro clínico: após a infecção o organismo pode ficar por longos períodos sem desenvolver sintomatologias. No homem pode ocorrer o surgimento de pródromos, como aumento da sensibilidade, ardência ou prurido local, antecedendo o aparecimento das lesões. As lesões iniciam como pápulas eritematosas, evoluindo para vesículas agrupadas, que se rompem, originando as ulcerações. o Cancro mole: causada pela bactéria Gram- Haemophilus ducreyi. A transmissão é exclusiva pela via sexual. Quadro clínico: há um período de incubação de 3 a 5 dias, em alguns casos pode se estender por até 2 semanas. É caracterizada por lesões ulcerosas únicas ou múltiplas (devido à autoinculação), geralmente dolorosas, de bordas irregulares, fundo necrótico, com saída de um exsudato amarelado de odor fétido. o Linfogranuloma venéreo: causada pela bactéria Gram- Chlamydia trachomattis, sorotipos L1, L2 e L3. É transmitida exclusivamente por via sexual. Quadro clínico: período de incubação de 3 a 10 dias. Geralmente, a doença apresenta 3 fases: Lesão de inoculação: formulação inicial de uma pápula, que evolui para pústula ou exulceração indolor. Acometimento linfático regional: após 1 a 6 semanas da inoculação ocorre a linfadenopatia inguinal, que constitui o principal motivo da procura pelo atendimento médico. O acometimento linfonodal é unilateral na maioria dos casos e costuma evoluir com fistulização e drenagem de secreção purulenta por múltiplos orifícios (fístula em regador). Pode vir acompanhado de sintomas sistêmicos como febre, artralgia, mal-estar geral, anorexia e sudorese noturna. Sequelas: a obstrução linfática crônica pode levar ao linfedema genital, as lesões proctológicas podem acarretar fístulas e estenose de reto, dentre outros. o Donovanose: doença crônica progressiva, pouco frequente, que acomete de maneira preferencial pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais. O agente etiológico é o Calymmatobacterium granulomatis (Donovania granulomatis). Frequentemente está associada a transmissão sexual. Quadro clínico: a incubação pode variar de 2 semanas até 6 meses. De início há uma lesão ulcerada, bem delimitada, de bordas planas ou hipertróficas, com fundo granuloso, de aspecto vermelho vivo e que sangra facilmente. As lesões são geralmente múltiplas, sendo comum a disposição em “espelho”. A ulceração pode evoluir, de forma lenta e progressiva, para a forma vegetante ou úlcero-vegetante. Uma característica da donovanose é a presença da úlcera genital, com ausência de linfadenopatia regional
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