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Ferro • Metal vital para a homeostase celular. • Habilidade em aceitar e doar elétrons. Característica peculiar, então ficou responsável por se ligar ao oxigênio e ao CO2, então todas as trocas gasosas do corpo ocorrem graças a ele. o Pode ter a hemoglobina montada, mas se não tiver o ferro não terá trocas gasosas. Níveis de ferro estão altamente relacionados com a capacidade/suficiência de transportar gases em nossas células. • Componente essencial para a formação da molécula heme. o Na forma de hemoproteína, é fundamental para o transporte de oxigênio, geração de energia celular e detoxificação. • Participa da formação de diversas proteínas, mas a função principal no organismo corresponde às trocas gasosas. Obtenção do ferro e níveis de ferro no organismo Principalmente por meio da alimentação. Beterraba, feijão, fígado (porque lá é que hemácias podem ser recicladas), espinafre... Carnes vermelhas têm muito, pois possui hemoglobinas. Quem se alimenta só com vegetais consome o ferro apenas em sua forma inorgânica, apenas o íon ferro. Não absorve o ferro conjugado com a hemoglobina. Absorve-se o ferro consumido e também aquele que é advindo das hemácias, uma vez que o ferro delas pode ser reutilizado (“reciclado”). A forma de eliminar o ferro no organismo não é por uma forma direta: acumulamos ferro, não o eliminamos. As formas de controle e absorção são reguladas a nível de absorção, não de excreção. Se tiver uma quantidade muito alta de ferro, o que acontece é a diminuição da capacidade de absorção do ferro, não de eliminá-lo. • Uma quantidade alta de ferro causa toxicidade celular, uma vez que ele recebe e doa íons, sendo muito reativos, o que gera radicais livres, que são tóxicos às células. Causado pelo excesso de absorção de ferro. • Uma quantidade baixa de ferro causa anemia ferropriva e compromete o metabolismo das hemoglobinas e como elas carregam o oxigênio no organismo. Grupo heme Formado por um anel tetrapirrólico com um íon central de ferro. É montado em nosso organismo. Todas as hemácias possuem essa estrutura: em cada hemoglobina, há quatro proteínas (duas alfas e duas beta), e cada uma delas tem a capacidade de se ligar a um grupo heme. Por isso, uma hemoglobina tem a capacidade de carregar quatro moléculas de oxigênio ligadas a ela. Essa configuração é a que consumimos ao comer carne vermelha, ovo e até leite. No entanto, nesse consumo não se reaproveita o grupo heme, só o ferro, então tudo será desmontado e será obtido o íon ferro. A mesma coisa acontece no reaproveitamento das hemácias do organismo: tudo é desmontado, o ferro é reaproveitado e o resto vira bilirrubina. Absorção do ferro • Diariamente, consome-se 13 a 18 mg de ferro por dia. Desses, 1 mg a 2 mg de ferro são absorvidos por dia pelo epitélio duodenal: ou seja, consome-se muito mais do que absorve, tem o potencial de absorver muito mais. Por isso, se tiver algum problema, pode facilmente absorver para ter mais ferro no organismo. • Consegue-se absorver o ferro em sua forma férrica (íon) ou em sua forma de heme. o A forma heme corresponde a 1/3 do total absorvido e é proveniente da quebra da hemoglobina e mioglobina contidas nas carnes vermelhas. ▪ Mais fácil de ser absorvida porque é absorvida diretamente; existe um canal específico para o heme ser absorvida pelo organismo. • O íon ferro é consumido na forma de Fe3+, mas não conseguimos absorver nessa forma; assim, precisa converter para Fe2+. Por isso é pior absorvido. Distribuição do ferro no organismo • Maior parte está em circulação nos eritrócitos. • Outra grande quantidade é no fígado, onde são absorvidas e quebradas hemácias velhas. • Na medula óssea também, pois é nela que acontece a maior parte da formação dos grupos hemes (onde acontece a hematopoese). Absorção do ferro Pode ser dividida em 3 principais características. Alimenta-se de elementos que contém ferro, e então o primeiro passo é que o ferro entre na célula. Depois, precisa ser transportado para outra extremidade da célula (pois precisa passar para a corrente sanguínea a fim de ser transportado pelo organismo, já que todas as células o utilizam), ou seja, vai haver uma translocação do ferro dentro do citoplasma das células. Uma vez dentro, precisa depois entrar no plasma, então será transportado para fora da célula. O mecanismo aqui descrito é o dos enterócitos, mas o ferro é absorvido por outras células, então é possível que tenha o mesmo mecanismo de absorção. 1. Captação e internalização na membrana apical do enterócito: na alimentação, o ferro está na forma férrica (Fe3+), que não consegue ser absorvido pelas células intestinais, pois elas não têm canais que a reconhecem. A DMT1 (Transportadora de Metal Divalente 1 – também transporta outros íons para dentro da célula) é a proteína transmembrana que consegue reconhecer o Fe2+. Assim, o Fe3+ precisa antes ser convertido em Fe2+ para passar pela DMT1, o que é feito pela redutase citocromo B duodenal. Na forma Fe2+, será transportado pela DMT1 e passará do meio extracelular para o intracelular. Outra forma de captar o ferro é quando ele está em sua forma heme. Para isso, existem canais específicos e diretos que fazem a absorção desse grupo heme para dentro da célula. O canal de membrana nesse caso é a HCP1 (proteína transportadora do heme- 1), que fará o transporte do grupo heme da alimentação diretamente para o citoplasma. Assim, não precisa de um mecanismo intermediário no intestino para remover o ferro do grupo heme; o grupo heme é absorvido como um todo. O HCP1 não é específico para o grupo heme. Pode haver outros canais que transportem de forma mais eficiente, inclusive. (O grupo heme será quebrado só dentro do citoplasma!). A regulação desses canais se dá por hipóxia: caso haja uma falta de oxigenação no organismo, os canais serão mais ativos. Caso tenha muito oxigênio/muito ferro no organismo, não precisa absorver tanto, então os canais serão fechados. 2. Deslocamento intracelular (transporte intracelular do ferro): o ferro na forma heme não está isolado, precisa se dissociar dos grupos cíclicos. Em cada grupo heme, há quatro porfirinas ligadas ao ferro; a heme oxidase remove esse ferro e deixa ele livre dentro do citoplasma na forma Fe2+. Assim, dentro do citoplasma existirá o Fe2+ proveniente do grupo heme e também o que fora convertido do Fe3+. O ferro agora faz parte do mesmo pool de ferro 2+ (“se misturam”). 3. Transporte para o plasma: o ferro dentro do citoplasma agora deve ser direcionado para a corrente sangüínea. O Fe2+ passa por pela ferroportina (outra proteína transmembrana), que o reconhece e o transporta para fora do citoplasma. Já no plasma, existe uma forma de transporte dos íons Fe2+. Uma vez na corrente sangüínea, a hefaestina o converte novamente em Fe3+. A forma Fe2+ não é transportada porque não tem proteínas que façam isso com ela. Isso é vantajoso porque possibilita existir mais um mecanismo de regulação para o controle do ferro; se não tivesse que converter, seria mais difícil controlar, pois toda regulação do ferro relaciona-se ao seu processo de absorção. Estocagem do ferro O Fe3+ liga-se a uma proteína (apoferritina) e forma a ferritina, e assim é transportado. Transportá-lo em proteína é vantajoso porque consegue mantê-lo concentrado em um único ponto e, absorvendo uma ferritina inteira, consegue aumentar os níveis da célula mais rapidamente. Se estiver o ferro sozinho na célula, a chance de ele causar a formação de EROS é maior, então é melhor que esteja associado (se tiver muito Fe livre, aumentaas EROS). A apoferritina é uma glicoproteína sintetizada e secretada pelo fígado, que possui dois sítios homólogos com alta afinidade pelo Fe3+. A ferritina tem capacidade de transportar até 12 mg de ferro, mas em geral 3 mg circulam dentro dela. O Fe3+ na ferritina não serve para formação do grupo heme; desse modo, deve ser novamente convertido para a forma Fe2+, o que é feito pela vitamina C. Regulação do ferro Como não existe a eliminação do ferro no organismo, a melhor forma de regular seus níveis é pela sua absorção. Para indicar se há muito ou pouco Fe dentro da célula, o próprio Fe regula a expressão de proteínas relacionadas à sua absorção. Se tiver muito ferro, isso quer dizer que precisa diminuir a quantidade dele absorvido; se tiver pouco, precisa absorver mais. Uma das formas de transporte e estocagem do ferro é a ferritina: do mesmo modo, precisa ter uma quantidade similar a seus níveis de ferro. Assim, o Fe tem a capacidade de regular a expressão da ferritina. ➔ Dogma central da biologia molecular: o DNA é a informação da célula, a proteína é a ação e o RNA é um intermediário. Assim, para modificar a ação, precisa ou causar modificação no DNA ou no RNA mensageiro; se diminuir ou bloquear o RNAm de alguma forma, não terá a proteína, e então não haverá a ação. ➔ Todo RNAm possui um CAP (sua “identidade”), uma região chamada 5’ UTR (onde não tem tradução), uma região ORF (onde há a tradução), uma região chamada 3’ UTR (não acontece a tradução) e a cauda poli-A (várias repetições de adenina). Ferritina As regiões 5’ UTR e 3’ UTR do RNAm da ferritina são reguladoras. A tradução sempre vai do sentido 5’ para o 3’. O ribossomo reconhece a região do CAP e começa a andar até achar um AA que indica a tradução. Para parar a tradução, vai bloquear a passagem do ribossomo, e então ele não vai chegar até o ponto em que começaria a produzir a proteína da ferritina. Quem faz esse mecanismo é a proteína reguladora do ferro, que tem uma conformação específica que reconhece uma região do RNAm da ferritina na porção 5’, e então o ribossomo vai parar quando estiver passando por ali, e então pára a tradução. São os níveis de ferro no organismo que vão regular a quantidade de ferritina. Por isso, o sítio da proteína reguladora do ferro reconhece não só o RNAm da ferritina, mas também se liga ao ferro no mesmo sítio. Quando isto ocorre, se ele estiver ocupado com o ferro, ele não vai conseguir se ligar ao RNAm (sempre! Se a proteína reguladora estiver ligada ao Fe, não consegue se ligar ao RNAm), e, como não se liga, ocorrerá a tradução da ferritina. Se tiver muito ferro dentro da célula, precisa de muita estocagem, então precisa produzir ferritina. Como tem Fe livre, ele se liga à proteína reguladora do ferro, e então o sítio não reconhece mais o RNAm da ferritina. Chega um momento em que a quantidade de ferro cai, então não vai se ligar à proteína reguladora e ela poderá se ligar ao RNAm da ferritina e bloquear a tradução, diminuindo a quantidade de ferritina da célula. Ou seja: • ↑ ferro, mais necessidade de ferritina, proteína com Fe não bloqueia a tradução, ↑ o estoque. • ↓ ferro, menos necessidade de ferritina, proteína sem Fe bloqueia a tradução, ↓ o estoque. Receptor de transferrina (TfR) O ferro chega às células na forma de ferritina e precisa ser absorvido por elas. Para ser absorvida, não funciona ter simplesmente a proteína que faz o transporte do Fe livre, pois ele está associado à ferritina. Assim, existe uma proteína que faz o reconhecimento da apoferritina e a engloba por inteiro: o transportador de ferritina. Quando a proteína passa, o transportador a puxa para dentro por endocitose. Uma vez internalizada, fica numa vesícula, então precisa de uma maneira para colocar o Fe para fora, o que acontece por meio de proteínas transmembranas que estavam na própria membrana celular. O Fe3+ dentro da ferritina é convertido em Fe 2+ pela vitamina C que tem nela. O receptor de transferrina também pode ser regulado, mas de forma um pouco diferente do que acontece na ferritina. Nesse caso, os grupos localizados na região 3’ UTR reconhecem a mesma proteína reguladora do ferro, mas, se a célula tiver muito ferro (ou seja, precisa não absorver mais ferro), vai produzir menos transportadores, porque já tem muito ferro. Se tiver pouco ferro, permite a tradução para aumentar a captação de ferritina. O ribossomo reconhece e faz a tradução do TfR. Depois, ao chegar na região 3’, o ribossomo vai se dissociar. A proteína reguladora, nesse caso, não interfere no ribossomo: ela dá estabilidade ao RNAm. Se tiver muito Fe, ele se liga à proteína reguladora do ferro, então ela não tem a capacidade de se ligar a RNAm. Como o RNAm da TfR é instável sem a proteína reguladora ligada a ele, se degrada, e aí não tem a tradução, reduzindo a captação de ferritina. Se tiver pouco Fe, ele se desliga da proteína reguladora, e então ela consegue se ligar ao RNAm, que fica estável, permitindo o prosseguimento da tradução, a maior produção de TfR e a maior captação de ferritina. Ou seja: • ↑ ferro, menos necessidade que entre mais, proteína com Fe não se liga, RNAm fica instável, ↓ produção de TfR, ↓ captação. • ↓ ferro, mais necessidade que entre mais, proteína sem Fe se liga, RNAm fica estável, ↑ produção de TfR, ↑ captação. ➔ Hemossiderina: o Fe, quando estocado nas ferritinas dentro das células, forma grânulos visíveis por microscopia, que correspondem a várias ferritinas aglomeradas. Esse complexo maior é chamado de hemossiderina, que é a forma insolúvel da ferritina (várias juntas!), pois existe uma maior proporção de ferro/proteína. Ferro no organismo Fe entra pela dieta, vai para as células, que o absorvem e, como íon, pode reagir e formar EROS (o que pode ser até bom, a depender da situação) e também pode se ligar a outras proteínas. A sua maior função é formar o grupo heme. Apesar de consumirmos o grupo heme, ele não vai para a corrente sanguínea, então as células precisam produzir seu próprio grupo heme. Síntese do Heme A síntese do grupo heme ocorre parte na mitocôndria e parte no citoplasma. No ciclo do ácido cítrico, ocorre a produção do succinato (succinil-CoA), que, junto com a glicina, e catalisado pela aminolevunílico sintase, começa a formar o grupo heme. Para formar o grupo heme, ocorre uma cadeia de sucessivas reações enzimáticas. O produto da glicina + succinato é o ácido-5- aminolevunílico (ALA), que vai para o citosol sofrer uma série de reações. Depois dessas reações, entra na mitocôndria o protoporfirinogênio IX, que forma protoporfirina IX, a qual, ligada ao Fe, forma o grupo heme. Ou seja, processo inicia na mitocôndria, vai para o citosol e depois é finalizado na mitocôndria. Regulação da aminolevunílico sintase É como na ferritina. Se tiver muito Fe, vai precisar produzir mais grupo heme. Assim, a proteína reguladora, se ligada ao ferro, não consegue se ligar ao 5’ UTR do RNAm da ALA sintase, e então ocorre a tradução e mais grupos hemes são produzidos. Se tiver pouco Fe, a proteína reguladora vai se ligar ao 5’ UTR e bloquear a tradução do RNAm, impedindo a síntese de mais heme. Ou seja: • ↑ ferro, mais necessidade de heme, proteína com Fe não bloqueia a tradução, ↑ o estoque. • ↓ ferro, menos necessidade de heme, proteína sem Fe bloqueia a tradução, ↓ o estoque. Reações Quando ocorre a ação da ALA, forma-se o porfobilinogênio, que é uma única molécula. A partir desse ponto, precisa de 4 porfobilinogênios para continuar, pois no grupo heme existem 4 grupamentos. Precisa de 4 porfobilinogênios para formar o grupo heme! Depois de uma série de reações,a protoporfirina, por meio de uma enzima ferroquelatase, forma o grupo heme, que está pronto para se associar às hemoglobinas. Regulação sistêmica do ferro As regulações vistas acima, relativas ao RNAm, são relativos às células individualmente. A regulação sistêmica funciona de forma diferente. O hormônio hepcidina regula sistemicamente a absorção do ferro. Se tiver muito ferro, precisa diminuir a quantidade de ferro que vem sendo absorvida como um todo. O fígado é quem tem a maior sensibilidade para isso (por ele que passa a maior parte do Fe e é lá em que a maior parte é estocada). O fígado produz a hepcidina, que diminui a ferroportina (que está nos enterócitos e permite sua passagem para o plasma), e, bloqueando sua ação, deixa de absorver sistemicamente o ferro. Além disso, os macrófagos fazem a captação das hemoglobinas velhas e quebram o grupo heme para reabsorver o ferro; durante esse processo, existe um canal como a ferroportina que transporta o ferro para fora dos macrófagos. A hepcidina também bloqueia essa saída, e assim diminui a quantidade sistêmica de ferro. Ver figura na próxima página. Reciclagem do ferro As hemácias têm vida útil de 120 dias e, quando começam a ficar senescentes, a enorme quantidade de ferro que existe nelas pode ser reaproveitada pelo organismo. Os macrófagos capturam a hemoglobina e desassociam o ferro das outras estruturas, liberando Fe2+ e porfirinas (que formarão a bilirrubina). A quebra do ferro forma as porfirinas, que formam a bilirrubina. A bilirrubina se associa a proteínas para ficar solúvel: associa-se à albumina, e então o complexo é eliminado pelas fezes após passar pelos ductos biliares rumo ao duodeno. Quando quebra o grupo heme nos macrófagos, está eliminando apenas as porfirinas, não está eliminando o Fe, que vai voltar para a corrente sanguínea! A maioria das doenças relacionadas ao metabolismo do ferro não tem cura, apenas tratamento, que são paliativos e objetivam diminuir os sintomas.