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PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Luciane Weber Baia Hees 1ª Edição, 2021 Administração da Entidade Mantenedora (IAE) Diretor-presidente: Maurício Lima Diretor administrativo: Edson Medeiros Diretor-secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães Diretor depto. de educação: Ivan Góes Divisão Sul-Americana da IASD Presidente: Stanley Arco Secretário: Edward Heidinger Tesoureiro: Marlon Lopes Centro Universitário Adventista de São Paulo Reitor: Martin Kuhn Vice-reitores executivos / diretores de campus: Afonso Cardoso Ligório, Antônio Marcos Alves, Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de pós-graduação (lato sensu): Antônio Marcos Alves Pró-reitor de desenvolvimento espiritual: Henrique Gonçalves Diretores administrativos: Claudio Valdir Knoener, Flavio Knoner, Murilo Marques Bezerra Diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia : Reinaldo Wenceslau Siqueira Diretor-geral de educação básica: Douglas Jefferson Menslin Secretário-geral e procurador institucional : Marcelo Franca Alves Diretora de recursos humanos : Karla Cristina de Freitas Souza Diretor de produções artísticas: Tuiu Costa Advogado-geral : Misael Lima Barreto Junior Chefe de gabinete: Anna Cristina Pascual Ramos Editora Universitária Adventista Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Alysson Huf Supervisor administrativo: Werter Gouveia 1ª Edição, 2021 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Luciane Weber Baia Hees Doutora em Psicologia da Educação e Pós-Doutora em Educação e Psicologia pela Universidade de Aveiro Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Pedagogia em espaços sociais múltiplos 1ª edição – 2021 e-book (pdf) OP 00123_107 Coordenação editorial: Kerilyn Oliveira Preparação: Willian Bernardes Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Felipe Rocha Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Marcia Coutinho de Robertis Azevedo Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piraci- caba, SP, com ênfase no ensino da Contabilidade Conselho editorial e artístico: Martin Kuhn, Telson Vargas, Rodrigo Follis, Adolfo Suárez, Afonso Cardoso, Allan Novaes, Antônio Marcos Alves, Diogo Cavalcanti, Douglas Menslin, Eber Liesse, Edilson Valiante, Fabiano Leichsenring, Fabio Alfieri, Gilberto Damasceno, Gildene Silva, Henrique Gonçalves, José Prudêncio Júnior, Luis Strumiello, Reinaldo Siqueira Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS ............................... 13 Introdução ........................................................................................14 Espaços sociais múltiplos ...............................................................16 Modalidades de educação formal, informal e não formal..............20 Os quatro pilares da educação ................................................33 O papel do pedagogo em espaços não formais .....................40 Considerações finais.........................................................................59 Referências .......................................................................................63 VO CÊ ES TÁ A QU I OB JE TI VO S ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS - analisar a complexidade da ação docente em ambientes não escolares visando a regulação da aprendizagem diante das diferentes abordagens metodológicas; - compreender os pilares da educação e seus impactos na ação do pedagogo, inteirando-se da dimensão desses conceitos em espaços não escolares; - valorizar o papel do pedagogo nos diferentes campos de atuação como processo para viabilizar a aprendizagem significativa nos múltiplos espaços sociais de atuação. UNIDADE 1 14 LUCIANE WEBER BAIA HEES INTRODUÇÃO Bem-vindo(a)! Vamos dar partida em nossa jornada de conhecimentos? Se perguntarmos para qualquer pessoa onde o pedagogo trabalha, a resposta imediata será: “na escola, claro!”. Certamente, essa afirmativa está correta, mas será que posso encontrar pedagogos atuando em outros espaços? Se sim, quais são esses espaços? Quais as funções que ele desenvolve além do muro da escola? Essas e muitas outras questões que alcançam o espaço de atuação do pedagogo são discutidas aqui. Para isso, descreveremos o que são espaços sociais múltiplos, a fim de contextualizar os locais onde o pedagogo pode atuar e identificar quais as modalidades dessa atuação, que pode ser formal, informal e não formal, e como os pilares da educação, estabelecidos pela UNESCO, se relacionam com esses ambientes também. Ao longo dessa jornada, serão apresentados os espaços múltiplos de atuação do pedagogo e seu papel nesses contextos, entre outros aspectos. Os espaços interferem no aprendizado e, consequentemente, na mudança de comportamento das pessoas. Esses espaços podem se materializar em um determinado ambiente físico, como a escola, a igreja, uma empresa, um hospital e outros. 15 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Segundo a Constituição Federal do Brasil de 1988, a educação é responsabilidade da família e do Estado e esse processo ocorre sistematicamente dentro do espaço escolar. Entretanto, mais recentemente, outros espaços educacionais considerados não formais se abrem para atuação do pedagogo. Dessa forma, as ações educativas intencionais ultrapassam os muros da escola alcançando outros espaços sociais, como ONGs, hospitais, empresas, museus, brinquedotecas etc. Ao final desta unidade, esperamos que você tenha aprendido: • quais são os espaços sociais múltiplos de atuação do pedagogo; • como são caracterizadas as modalidades de educação: formal, informal e não formal; • os objetivos dos 4 Pilares da Educação; • qual o papel do pedagogo em espaços não formais. Vamos começar? Bom estudo! 16 LUCIANE WEBER BAIA HEES ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTI- PLOS O que são espaços sociais? Você já ouviu alguém falar sobre isso? Certamente, podemos imaginar o que são, pois, quando falamos em “espaços”, imaginamos um ambiente, e quando nos referimos a “sociais”, logo nos lembramos de pessoas. Contudo, para dar partida aos nossos estudos, vamos buscar ajuda na área da sociologia para entender o que significa quando falamos em pedagogia em espaços sociais múltiplos. Segundo estudos na área sociológica, essa expressão é utilizada para mencionar as inter- relações entre os indivíduos e envolvem as interações que se estabelecem entre lugar + relações sociais + cultura. E pedagogia? Quando falamos dessa ciência, logo nos lembramos de professores, escola, ensino e educação. E é isso mesmo! Pedagogia é a ciência que estuda a educação e os processos ESPAÇOS SOCIAIS Segundo o site Toda Matéria, o espaço socialé um conceito que está associado ao espaço multi- dimensional em que as relações sociais são efetivadas por meio da interação entre os atores so- ciais (seres humanos). Fonte: https://www.todamateria. com.br/espaco-social/. Acesso em: 10 de abr. 2021. 17 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS de ensino e aprendizagem. O termo pedagogia vem do grego antigo “paidos”, que significa “da criança” e “agein”, que é “conduzir”. Então, retomando nossa discussão inicial sobre o que queremos dizer quando falamos sobre pedagogia em espaços sociais múltiplos, estamos articulando os seguintes conceitos: lugares + interações sociais + cultura + aprendizagem + ensino. Vamos formar uma definição? A pedagogia em espaços sociais múltiplos, em sua essência, refere-se ao processo educacional em que ensinar e aprender acontecem por meio das relações entre diferentes sujeitos, articulando conhecimentos e cultura. Os espaços interferem no aprendizado, assim como as diversas interações que eles proporcionam, e, consequentemente, causam diferentes mudanças no comportamento das pessoas. Esses espaços podem se materializar PEDAGOGIA Pedagogia, de acordo com o di- cionário on-line Dicio, é a “ciên- cia cujo objeto de análise é a educação, seus métodos e prin- cípios; reunião das teorias sobre educação e sobre o ensino”. Fonte: https://www.dicio.com. br/pedagogia/. Acesso em: 15 de abr. de 2021. 18 LUCIANE WEBER BAIA HEES em um determinado ambiente físico, como a escola, a igreja, uma empresa, um hospital, museu, oficinas, fábricas, entre outros. Segundo Trilla (2008, p. 21), a “proliferação de novos espaços educacionais deslocados do estritamente escolar e, paralelamente, as referências reais de certa mudança de orientação no discurso pedagógico, a fim de torná-lo capaz de integrar e legitimar tais espaços”. Isso significa que aprendemos nos mais variados espaços e não apenas na escola. O pedagogo é o profissional que estuda, conhece e se ocupa da educação. Precisa estar em constante aperfeiçoamento e estudo, pois cabe a ele organizar e sistematizar os conhecimentos necessários para formação de outros seres humanos. Como vivemos num mundo globalizado e dinâmico, esses conhecimentos estão em intenso movimento, exigindo do pedagogo habilidades, competências e saberes diversos para articular informações e O pedagogo é o profissional que estuda, conhece e se ocupa da educação. 19 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS conhecimentos que estão em todas as partes (LIMA et al., 2018). Quando nos referimos ao pedagogo, imediatamente nos reportarmos aos ambientes escolares, onde acontece o processo de ensino-aprendizagem sistemático e regular. Segundo a Constituição Federal do Brasil de 1988, a educação é responsabilidade da família e do Estado e esse processo ocorre sistematicamente dentro do espaço escolar. Entretanto, com o passar do tempo, outros espaços educacionais considerados não formais se abriram, e, com isso, “o campo de atuação do pedagogo é tão vasto quanto as práticas educativas na sociedade.” (PRADO; SILVA; CARDOSO, 2013, p. 68). Dessa forma, as ações educativas intencionais ultrapassam os muros da escola alcançando diversos espaços sociais, como: ONGs, hospitais, empresas, museus, brinquedotecas etc. Nesses espaços diversos, quer sejam Escola, espaço onde acontece o processo de ensino-aprendizagem sistemático e regular. Fonte: Shutterstock 20 LUCIANE WEBER BAIA HEES escolares ou não escolares, acontecem diferentes modalidades de educação, vamos ver sobre isso no próximo tópico. MODALIDADES DE EDUCAÇÃO FORMAL, IN- FORMAL E NÃO FORMAL As terminologias formal, não formal e informal têm origem anglo-saxônica, sendo reportadas para década de 1960. Segundo Fávero (2007), com a crise educacional causada pela Segunda Guerra Mundial, os sistemas escolares não estavam conseguindo suprir as necessidades sociais e as demandas escolares. Isso começou a refletir na falta de formação dos indivíduos para atenderem os novos contextos da revolução industrial, exigindo a flexibilização e reconhecimento de vivências e experiências não escolares como meios de formação educacional do indivíduo, preparando-o para o novo cenário mundial que surgia. Essa educação chamada não formal surgiu no Brasil na década de 1970, com objetivo de organizar movimentos sociais para combater a ditatura militar, e, depois, com a intenção de assegurar emancipação das minorias, como mulheres e negros, que eram excluídos da sociedade. A educação não formal “decorre da intencionalidade de dados sujeitos em criar ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos” (GOHN, 2011, p. 107). 21 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Desde então, podemos identificar três modalidades de educação com características e objetivos específicos. Essas modalidades oferecem diferentes contribuições para o processo formativo, ocorrem em espaços educativos diversificados e são chamadas de: educação formal, educação informal e educação não formal. Podemos explicar a educação formal como aquela que acontece nas escolas, onde os conteúdos são previamente organizados e sistematicamente transmitidos. A educação informal é aquela na qual os indivíduos aprendem com a família, no bairro, no clube, com os amigos. Essa modalidade é carregada de valores e culturas que são herdadas por meio das socializações nesses espaços. E, por fim, mas não mesmo importante, a educação não formal, que se aprende no “mundo de vida”, por meio dos processos de partilha de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas (GOHN, 2006). Aprendizagens em diferentes espaços educativos: educação formal, educação informal e educação não formal. Fonte: Shutterstock 22 LUCIANE WEBER BAIA HEES Vamos entender um pouquinho mais como isso acontece? Educação formal é essa que identificamos de imediato, aquela que acontece nas escolas, sistematizada, com objetivos, conteúdos previamente estabelecidos e diretrizes estabelecidas pelo sistema de educação do país. Esse espaço chamado escola tem como objetivo transmitir o conhecimento e promover aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados, por meio de uma estrutura e de sistemas que são normatizados por leis certificadoras e organizados mediante diretrizes nacionais. E, você, sabe a origem do termo escola? Segundo o Dicionário Etimológico, a palavra escola tem sua origem na Grécia, com “skholê”, que quer dizer “descanso, repouso, lazer, tempo livre.” (Na Grécia, quando as pessoas de condições socioeconômicas tinham tempo livre, reuniam-se na escola para refletir). Depois, passou para língua latina como “schòla”, “scholae”, significando “lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez; ocupação literária, assunto, matéria; escola, colégio, aula; divertimento, recreio”. Historicamente organizada, a escola, em um contexto mundial, traz o mesmo perfil: espaço organizado e institucionalizado, com organograma definido e instituído de poder para outorgar títulos, atuando como meio de transmissão de conhecimentos e cultura. 23 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Já a educação não formal, podemos dizer que acontece a partir das necessidades ou experiências ao longo da vida do indivíduo. Isso quer dizer que pode ocorrer em diversos espaços onde se pode aprender algo, sendo de forma mais sistematizada ou não. Aqui, podemos citar como exemplo o que se aprende nas igrejas, em clubes e, até mesmo, nas redes sociais (BES; TOLEDO, 2020). A educação não-formal designa um processo com várias dimensões tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem deconteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem A escola promove a aprendizagem dos conteúdos historicamente sistematizados. Fonte: Shutterstock 24 LUCIANE WEBER BAIA HEES uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao seu redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica etc (GOHN, 2016, p. 1). Entre as características da educação não formal, Gadotti (2005, p. 2) destaca o tempo da aprendizagem e os espaço múltiplos, explicando que o tempo nesses contextos são flexíveis e respeitam as diferenças e habilidades de cada indivíduo, e que os espaços múltiplos podem ser recriados constantemente. Portanto, a educação não formal não é estática, é uma atividade aberta que sempre está em construção. Trata-se de um espaço muito aberto, de natureza ampla e diversa. Essa característica possibilita diversos procedimentos e promove diferentes contextos culturais. Sendo assim, o aspecto da diversidade pode ser apontado como uma característica muito forte dessa modalidade de educação. E a educação informal? Como podemos caracterizá-la? O principal palco dessa modalidade de educação acontece no contexto familiar. Apesar de não ter uma organização sistemática, com conteúdos pré-estabelecidos, tem uma característica permanente e constante. Bruno (2014, p. 14) descreve as características da construção da educação informal, afirmando que o agente dessa modalidade faz parte das redes familiares e pessoais, e nos meios de comunicação. 25 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Outra característica é que os espaços onde acontecem a educação informal são espontâneos e não estão delimitados. Além de serem carregados de referências de localidade, idade, gênero, religião, etnia. Nos espaços informais, as relações sociais se organizam de acordo com gostos e preferências. A educação informal está relacionada aos processos de socialização dos indivíduos, por isso desenvolvem hábitos, atitudes, comportamentos, maneiras de pensar e de se expressar conforme os valores e crenças do grupo que o indivíduo pertence e frequenta. A educação informal inicia na família e tem sua continuidade em demais grupos sociais ao longo da vida. Sayão (2013) aponta alguns aspectos relacionados aos conteúdos que se aprendem nessa modalidade: convivência com os outros, transmissão da história, valores, tradições e costumes, virtudes, princípios morais e outros. O processo educacional se inicia desde os primeiros momentos de vida, cabe à família conduzir essa educação da melhor forma possível. Fonte: Shutterstock 26 LUCIANE WEBER BAIA HEES E como identificar cada uma das modalidades? Gohn (2006) descreve uma sequência de perguntas que podem servir de base para estudarmos esses diferentes tipos de modalidades de educação. Veja a figura 1 que organizamos para que você possa visualizar as características de cada uma delas. Figura 1 – Educação não formal, formal e informal MODALIDADE FORMAL NÃO FORMAL INFORMAL Quem é o educador principal? Professor, tutor. Diferentes sujeitos que desempenham papel educacional. Família. Onde se educa? Lugar Na escola. Ao longo da vida, em vários locais onde se venha a aprender algo. Em casa, no trabalho, no lazer. Como se educa? Práticas curriculares propostas pelo sistema educacional. Práticas flexíveis que se ajustam às necessidades e vivências do indivíduo. Foco na subjetividade do grupo e contribui para a formação da identidade. Experiência cotidiana e influências educativas do meio. Processo permanente e não organizado. 27 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS MODALIDADE FORMAL NÃO FORMAL INFORMAL Por que se educa? Objetivos considerados constitucionais: preparação para a cidadania, o desenvolvimento pleno e a qualificação para o trabalho. Construção e reconstrução de concepções e princípios. Formação da identidade pessoal, através do desenvolvimento de hábitos e atitudes. Características Características físicas, estruturas, processos, pessoas e recursos claros e específicos. Flexível em relação ao tempo e aos espaços de aprendizagem. Atitudes, valores, procedimentos e conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Resultados Viver de forma produtiva na sociedade. Títulos e produtividade. Proporcionar conhecimento sobre o mundo, promover a formação cultural e social. Ajustamento social adequado e equilibrado. Fonte: adaptado de Gohn (2006) Costumeiramente, as características da aprendizagem na modalidade formal são bem conhecidas por todos: sala de aula, laboratórios, professores, horários de aulas, avaliações, atividades, calendário escolares etc. Agora, como a aprendizagem acontece 28 LUCIANE WEBER BAIA HEES na educação não formal? Já vimos as características, objetivos e finalidade, mas quais seriam esses espaços? Alguns exemplos de ambientes não formais de aprendizagem são empresas, ONGs, museus, ateliês de arte, fábricas, zoológicos e igrejas. AGORA É COM VOCÊ Depois de ler atentamente as características de cada uma das modalidades de educação, procure identificar e refletir quais são e/ou quais foram esses espaços na sua própria formação. E o ambiente virtual de aprendizagem? Como você classificaria? Leia um pouco mais sobre isso em: RIGO, Rosa Maria. Mediação pedagógica em ambientes virtuais de aprendizagem. Porto Alegre: EdiPUC-RS, 2015. E-book Pearson. (126 p.). ISBN 9788539707744. Disponível em: https://biblioteca.sophia.com. br/9198/index.asp?codigo_sophia=58297. Acesso em: 05 jul. 2021. Resumindo, podemos apontar a família como responsável pela educação informal, na qual o sujeito aprende os processos sociais desde o início de sua vida. A escola como responsável pela educação formal, com currículo sistematizado e organizado. E a educação não formal proporciona a aprendizagem em espaços não escolares, onde as atividades são intencionais e bem direcionadas. Todas as modalidades de educação visam oferecer conhecimentos e proporcionar aprendizagens. É fundamental 29 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS lembrar que essas atividades precisam ser significativas para realmente promover mudanças e transformações no ser humano. Ou seja, as novas experiências do indivíduo precisam ampliar e/ ou reconfigurar conhecimentos que já existem na estrutura mental, fazendo conexões e, assim, provocando novos conhecimentos. O pesquisador norte-americano David Paul Ausubel (1918-2008), especialista em psicologia educacional, estudou e defendeu a concepção de ensino-aprendizagem afirmando que o conhecimento prévio da pessoa é a chave para a aprendizagem significativa. Dessa forma, aprender significativamente consiste em ampliar e reconfigurar ideias já existentes na mente e relacionar e acessar novos conteúdos a partir do que já é conhecido. Ou seja, é fundamental que o ensino-aprendizagem, independente dos métodos e técnicas, comece pelo conhecimento que se relacione com a vida do aluno, que tenha sentido e significado, para partir de “fatos imediatos para os mais remotos, do concreto para o abstrato, do conhecido para o desconhecido” (RANGEL, 2005, p. 29). Muito aplicada para ensinar ciências, a “Teoria da Aprendizagem Significativa” de Ausubel (2003) em espaços não formais no processo ensino-aprendizagem facilita a aprendizagem, aproximando a teoria da prática. Planejar e promover aulas em espaços não formais favorecem a 30 LUCIANE WEBER BAIA HEES observação e a compreensão dos fatos, proporcionando uma aprendizagem mais significativa. Lorenzetti e Delizoicov (2001) podem nos ajudar a entender um pouco mais sobre os espaços não formais e a relação deles com a educação formal quando eles explicam que os espaços não formais (museus, zoológicos, parques, fábricas, [...]) assim como os formais (escolas, bibliotecas escolares e públicas,) constituem fontes que promovem a ampliação dos conhecimento dos indivíduos. Todas as atividades pedagógicasdesenvolvidas nesses ambientes propiciam uma aprendizagem mais significativa. Como exemplo, podemos citar as aulas práticas, saídas à campo, feiras de ciências, entre outros. Estamos tentando destacar que as três modalidades de educação se complementam, apesar de distintas em suas características e procedimentos. A educação não formal e informal, que acontecem fora dos muros da escola, promovem e criam situações que podem facilitar e favorecer a aprendizagem de conteúdos relacionados com a educação formal. E as pessoas envolvidas nas práticas formais e sistemáticas da educação formal podem criar elos e trazer para os espaços escolares as vivências externas dos alunos, aproximando e significando conhecimentos adquiridos fora da escola. 31 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Com uma ou com várias: educação! Educações (BRANDÃO, 1993, p. 7 e 9). Por isso, fique atento! Muitas atividades práticas promovidas pela escola consideradas como educação formal podem ser desenvolvidas em espaços não formais, e recebem diferentes denominações, são as excursões, as visitas guiadas, as viagens de estudos, as visitas externas, as saídas escolares e de campo, viagens e passeios escolares. São atividades que acontecem fora do ambiente escolar, mas vinculadas e organizadas pela escola. Temos, então, uma educação formal se relacionando com a educação não formal. Temos uma educação formal acontecendo em espaços não formais. Vamos ver alguns exemplos simples? Um determinado professor está dando aula sobre história antiga e leva seus alunos em uma visita guiada ao museu da cidade para identificar objetos e práticas de determinados períodos da história. Posteriormente, essa experiência é compartilhada e sistematizada em sala de aula. Outro exemplo rotineiro que podemos citar para compreender essa relação: o professor 32 LUCIANE WEBER BAIA HEES de ciências organiza com seus alunos um fim de semana na praia, onde que, além da vivência social, poderão identificar animais invertebrados e aquáticos para aprenderem sobre recursos naturais, ambiente terrestre, aquático e aéreo. Também podemos descrever como forma de relacionar e vincular educação formal com a educação não formal quando um professor utiliza os esportes praticados por seus alunos, como skate ou ciclismo, para ensinar sobre velocidade, movimento etc., relacionando os conhecimentos e fazendo vínculos que possam promover uma aprendizagem significativa. AGORA É COM VOCÊ Imagine situações nas quais a educação formal contribua com a educação não formal e informal. Imagine, também, ideias que a educação não formal possa contribuir com a educação formal. Lembre-se que a educação não formal pode ocorrer em museus, brinquedotecas, igrejas e outros mais, desde que seja fora do ambiente escolar e tenha intencionalidade de transmitir conhecimentos. Para refletir: Cantar no coro da igreja pode contribuir com a educação formal? Como? E tocar um instrumento na orquestra? Concluímos, então, relacionando o resultado pretendido pelas três modalidades, educação formal, não formal e informal, pois todas objetivam que a educação prepare o ser humano para viver de forma produtiva na sociedade, 33 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS proporcionando conhecimento sobre o mundo, promovendo ajustamento social adequado e equilibrado no decorrer de toda vida. Nesse sentido, faz-se necessário uma educação ao longo da vida. E esse conceito serviu de referência ao relatório da comissão internacional sobre educação para o século XXI, para a UNESCO, que propôs que “a educação deve organizar- se em torno de quatro aprendizagens: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser”. Vamos estudar um pouco mais sobre isso? OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO Segundo o relatório para a UNESCO da co- missão internacional sobre educação para o século XXI, os conceitos fundamentais da educação estão amparados em quatro pilares sobre os quais a prática pedagógi- ca deve prever suas ações. Essa comissão, presidida por Jacques Delors, era composta Os Pilares da Educação de Philippe Perrenoud. Fonte: Shutterstock 34 LUCIANE WEBER BAIA HEES por 14 representantes de diversas partes do mundo e foi organizada durante o perío- do de três anos, de 1993 até o ano de 1996. Quando concluíram, foi publicado um li- vro que apresenta a educação que deve es- tar vinculada às necessidades históricas e sociais do mundo. De acordo com o livro, a prática pedagógica deveria se preocupar em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais que serão para cada indivíduo os pilares do conhecimento. Os quatro pilares são: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser. Esses conceitos são fundamentais em qualquer espaço, formal ou não formal, onde se pretenda ensinar e aprender. Superar os desafios que o processo de ensinar impõe não é uma tarefa assim tão fácil. Então, para tornar esse percurso mais seguro, o professor pode organizar suas ações permeando as quatro Aprender a conhecer é a busca pelo conhecimento, é querer aprender. Aprender a fazer é a prática. Aprender a conviver se refere ao próximo, à cooperação. Aprender a ser é ser aquilo que somos. 35 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS aprendizagens que compõem os pilares da educação. Vamos ver um pouco mais sobre esses pilares? O primeiro pilar: Aprender a conhecer. Entender como se aprende. Levar o indivíduo a descobrir como ele adquire competências para compreender as coisas. Aprender a conhecer é a busca pelo conhecimento, é querer aprender. Existem diversas formas pessoais de aprender, de exercitar nossa mente e nossa memória. Identificar as informações novas e a relação com o que já sabemos é o caminho desse percurso. Delors et al (2010, p. 16) defendem que “...os conteúdos devem desenvolver o gosto por aprender, a vontade e a alegria de conhecer: portanto, o desejo e as possibilidades de ter acesso, mais tarde, à educação ao longo da vida”. A tendência para prolongar a escolaridade e o tempo livre deveria levar os adultos a apreciar, cada vez mais, as alegrias do conhecimento e da pesquisa individual. O aumento dos saberes, que permitem compreender melhor o ambiente sob os seus diversos aspectos, favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimula o sentido crítico e permite compreender o real, mediante a aquisição de autonomia da capacidade de discernir (DELORS et al, 2010, p. 74). 36 LUCIANE WEBER BAIA HEES Pensando na prática escolar e no papel de professor, como você colocaria esse pilar em prática? Propor desafios, despertar a motivação a autoavaliação dos alunos e criar situações que estimulem o desejo de aprender mais são formas simples de promover a aprendizagem cada vez mais. O segundo pilar: Aprender a fazer. Aqui, estamos falando não só de colocar em prática um ou outro conhecimento, mas do exercício de aplicar todos os conhecimentos ao longo da nossa vida. Quer seja para o trabalho rotineiro ou para atividades profissionais mais específicas. Ressalta-se o aplicar aquilo que aprendemos para melhorar, transformar o mundo e as relações ao nosso redor. Tornar os conhecimentos reais na nossa vida. E isso pode ser feito tanto na rotina escolar, como em espaços não formais de educação. Esses espaços possibilitam a descoberta e a prática de atividades que aplicam os conhecimentos adquiridos. Vamos falar um pouquinho mais sobre isso depois. O terceiro pilar: Aprender a viver juntos. Base para a vida de qualquer pessoa. Aqui, estamos colocando no foco as relações sociais. A vida que temos acontece em sociedade, e, para isso, aprender a convivercom os outros é fundamental no processo de ensino-aprendizagem, que acontece por meio de trocas e interações com os outros. Cabe à escola “...fornecer sua contribuição para a promoção e integração dos grupos 37 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS minoritários, mobilizando os próprios interessados em relação ao respeito por sua personalidade” (DELORS et al., 2010, p. 28). É de se louvar a ideia de ensinar a não violência na escola, mesmo que apenas constitua um instrumento, entre outros, para se combater os preconceitos geradores de conflitos. A tarefa é árdua porque, naturalmente, os seres humanos têm a tendência de supervalorizar as suas qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos em relação aos outros. Por outro lado, o clima geral de concorrência que atualmente caracteriza a atividade econômica no interior de cada país e, sobretudo no nível internacional, tende a dar prioridade ao espírito de composição e ao sucesso individual. De fato, essa competição resulta, na atualidade, em uma guerra econômica implacável e em uma tensão entre os mais e os menos favorecidos, que divide os países do mundo e exacerba as rivalidades históricas. É de se lamentar que a educação contribua, por vezes, para alimentar esse clima, devido a uma má interpretação da ideia de emulação (DELORS et al, 2010, p. 79). O quarto pilar: Aprender a ser. Desenvolver quem a pessoa realmente é, pois, assim, vai “...estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, de discernimento e de responsabilidade pessoal”. (DELORS et al., 2010, p. 10). Precisamos ser indivíduos autônomos e críticos. Responsáveis por tomar decisões, avaliar as situações da vida e contribuir na sociedade que faz parte. 38 LUCIANE WEBER BAIA HEES Ao permitir que todos tenham acesso ao conhecimento, a educação desempenha um papel bem concreto na plena realização desta tarefa universal: ajudar a compreender o mundo e o outro, a fim de que cada um adquira maior compreensão de si mesmo (DELORS et al., 2010, p. 27). (...) Esse desenvolvimento do ser humano, que se realiza desde o nascimento até a morte, é um processo dialético que começa pelo conhecimento de si mesmo para se abrir, em seguida, à relação com o outro. Nesse sentido, a educação é, antes de mais nada, uma viagem interior, cujas etapas correspondem à da maturação contínua da personalidade (DELORS et al., 2010, p. 82). Se você observar, podemos separar os quatro pilares em dois grupos. O primeiro grupo, teríamos os dois primeiros pilares, aprender a conhecer e aprender a fazer, pois ambos estão relacionados a questões mais específicas sobre processo de produção de conhecimento. E o outro grupo está relacionado com uma questão mais atitudinal, que envolve aspectos da vida e do papel social que desempenhamos: aprender a viver com os outros e aprender a ser. E qual a relação desses pilares com as três modalidades de educação, formal, não formal e informal? Essas três modalidades de educação podem contribuir para o desenvolvimento dos quatro pilares propostos no relatório 39 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS para a UNESCO sobre educação para o século XXI da seguinte forma: aprender a conhecer refere-se a compreender como se adquire o conhecimento. Aprender a fazer refere-se a forma da aplicabilidade desse conhecimento, diz respeito ao agir humano, é quando se coloca em prática o conhecimento. A educação não formal e informal favorecem a apreensão dos conceitos, assim como incentivam a problematização de situações que possam surgir, promovendo a habilidade de saber como lidar nos mais diversos contextos. Aprender a viver juntos é o terceiro pilar, e nenhum espaço incentiva e favorece tanto as relações e atividades em grupo como os ambientes não formais. E, por fim, aprender a ser, o quarto pilar, refere-se ao preparar do ser humano para ser autônomo e crítico para interagir no mundo e ter condições de transformar e influenciar o ambiente ao redor. A educação não formal e informal também podem contribuir para isso, pois a medida que o indivíduo interage com os mais diversos ambientes e com os outros, está adquirindo autonomia e aprendendo a ser crítico e independente. A educação formal, informal e não formal se relacionam com os quatro pilares da educação no sentido de promover e favorecer a aprendizagem ao longo da vida (CASCAIS; TERÁN, 2014). Vimos até aqui sobre as modalidades de educação e o papel dos quatro pilares da educação. Comece a refletir: quem educa para as necessidades do século atual? Como 40 LUCIANE WEBER BAIA HEES esses pilares podem ser implantados nas práticas docentes? Em quais espaços esses processos educacionais acontecem? Qual o papel do pedagogo nos espaços formais e não formais? Aproveite bem, organize-se e vamos continuar nossos estudos! O PAPEL DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO FORMAIS Já estudamos que a educação não formal acontece em vários espaços fora do ambiente escolar. Podemos explicar essa modalidade de educação como aquela que proporciona a aprendizagem em espaços como museus, brinquedotecas ou qualquer outro no qual as atividades sejam desenvolvidas de forma a promover intencionalmente a aquisição de conhecimentos. Num contexto mundial globalizado, com informações acontecendo a cada minuto, faz-se necessário repensar e A atuação do pedagogo envolve muito mais que dar aulas. Fonte: Shutterstock 41 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS reconstruir os espaços de aprendizagem, promovendo um processo dinâmico e contínuo que atenda às diferentes realidades e necessidades. Pensando dessa forma, entendemos que existe e, consequentemente, que se repense a atuação do pedagogo em outros espaços, já que cabe a ele estudar os processos educacionais. Reduzir a atuação do pedagogo apenas à prática docente demonstra falta de conhecimento e fragmentação sobre o conceito de pedagogia. Leia, a seguir, um conceito de pedagogia: Pedagogia é uma reflexão teórica a partir e sobre as práticas educativas. Ela investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizativos e metodológicos de viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. Portanto, reduzir a ação pedagógica à docência é produzir um reducionismo conceitual, um estreitamento do conceito da pedagogia (LIBÂNEO, 2002, p. 14). Estamos falando de uma atuação ampla, complexa e que se depara com desafios impostos pelas limitações do próprio contexto de atuação. Para entender um pouco mais sobre isso, vamos identificar a finalidade do curso de pedagogia. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia (DCNPs)/Resolução CNE/ CP n. 1, de 15 de maio de 2006: 42 LUCIANE WEBER BAIA HEES Art. 4° O curso de Licenciatura em Pedagogia destina- se à formação de professores para exercer funções de magistério na educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da educação; II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; (grifo nosso). Segundo as diretrizes curriculares nacionais do curso de pedagogia (DCNPs), tanto a de 2006 como a de 2015, apontam que o egresso (aluno quando conclui o curso) do curso de pedagogia deverá estar apto para lidar com os conhecimentos, métodos e técnicas, que precisam ser articuladas tanto em espaços escolares como não escolares, pois o pedagogo estará atuando onde existir práticas educativas que promovam o desenvolvimento social e cultural, além do educacional. Caberessaltar que o pedagogo deve realizar constantemente reflexões sobre sua prática, observando e analisando os processos e 43 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS resultados para nortear seus planejamentos, quer sejam escolares ou não escolares, vinculados ao ensino público ou privado. Bes e Toledo (2020), ao explicarem sobre os espaços de atuação do pedagogo, separam em práticas nos espaços escolares e não escolares. Nos espaços escolares, ocorrem as ações do “magistério da educação básica”, nomenclatura instituída pela Resolução n. 2, de 1° de julho de 2015, do Ministério da Educação. Nesse espaço, o pedagogo desenvolve suas ações em sala de aula, na educação conhecida como formal. Todos os demais locais onde o pedagogo possa utilizar seus conhecimentos adquiridos na formação específica são chamados de espaços de educação não formal. As diretrizes curriculares nacionais do curso de pedagogia (DCNPs), definidas pela Resolução CNE/ CP Resolução N. 2, De 1 de julho de 2015, explicam sobre isso. Veja o que fala o artigo: Art. 13. Os cursos de formação inicial de professores para a educação básica em nível superior, em cursos de licenciatura, organizados em áreas especializadas, por componente curricular ou por campo de conhecimento e/ou interdisciplinar, considerando-se a complexidade e multirreferencialidade dos estudos que os englobam, bem como a formação para o exercício integrado e indissociável da docência na educação 44 LUCIANE WEBER BAIA HEES básica, incluindo o ensino e a gestão educacional, e dos processos educativos escolares e não escolares, da produção e difusão do conhecimento científico, tecnológico e educacional, estruturam-se por meio da garantia de base comum nacional das orientações curriculares (BRASIL, 2015, p. 11, grifo nosso). Essa resolução descreve as possibilidades de exercício da docência ao pedagogo na educação básica e nos serviços de apoio à gestão escolar (cargos de coordenação pedagógica, secretarias de educação, supervisão escolar, dentre outros). No ensino superior, o pedagogo também pode atuar na formação de professores, coordenação de curso e assessorias pedagógicas (BES; TOLEDO, 2020). Entretanto, pretende-se destacar a ampliação do campo do pedagogo, quando a Resolução CNE/ CP n. 1, de 15 de maio de 2006, estabelece que ele poderia atuar tanto na educação formal, quanto nos contextos não escolares. Esses contextos não escolares, considerados como espaços de educação não formal, são múltiplos. Destacamos como exemplos as Organizações Não Governamentais, igrejas, sindicatos e partidos, comunicação da mídia, as associações de bairro etc. Lembrando que na própria escola, considerada educação formal, podemos encontrar momentos e espaços onde são oferecidas educação não formal (GADOTTI, 2005), o que veremos mais à frente. 45 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Para favorecer a sua compreensão, observe a figura 2. Ela organiza e descreve os espaços de atuação do pedagogo, explicando o campo de atuação específico. Figura 2 – Campos de atuação do pedagogo ESPAÇOS ESCOLARES ESPAÇOS NÃO ESCOLARES • Na docência: escolas de educação infantil, escolas de ensino fundamental, curso normal. • Na gestão escolar: instituições da educação básica e do ensino superior. • Na docência: escolas de educação infantil, escolas de ensino fundamental, curso normal. • Na gestão escolar: instituições da educação básica e do ensino superior. • Empresas; • Organizações sociais: ONGs, igrejas, centros de assistência social, fundações, associações comunitárias etc.; • Órgãos públicos relacionados ou não com a educação; • Estabelecimentos prisionais; • Hospitais; • Centros de pesquisa. Fonte: Bes e Toledo (2020, p. 56) Os autores Bes e Toledo (2020) descrevem essa figura explicando que o pedagogo pode atuar desde organizações empresariais até organizações típicas do terceiro setor (associações, fundações, cooperativas e outras instituições que visem o bem- estar social). Também pode atuar em órgãos públicos relacionados com a educação e demais esferas da administração pública. 46 LUCIANE WEBER BAIA HEES Podemos encontrar pedagogos atuando em penitenciárias, presídios e fundações de assistência social educativa para menores. Outros espaços não formais de atuação do pedagogo são em hospitais, onde podem atuar em classes hospitalares favorecendo a humanização nesse ambiente frio e triste quando a criança precisa ficar por longos períodos internada. Libâneo (2001) também reforça que o trabalho do pedagogo não fica restrito ao espaço escolar, apontando que esse profissional pode atuar em diversos espaços como: hospitais, ONGs, empresas, museus, meios de comunicação, projetos sociais e outros nos quais sejam necessários conhecimentos da prática pedagógica. Nesse contexto, afirmamos que se a educação acontece em espaços sociais múltiplos e alcança além dos muros da escola, a atuação do pedagogo é necessária. “(...) Em todo lugar onde houver uma prática educativa com caráter de intencionalidade, há aí uma Não importa o lugar, se houver prática educativa intencional, existe uma pedagogia. 47 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS pedagogia” (LIBÂNEO, 2001, p. 116). Você concorda com essa afirmação? Não importa o lugar, se houver prática educativa intencional, existe uma pedagogia. COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA ATUAÇÃO DO PEDAGOGO Quando falamos em competências necessárias para atuação do pedagogo, não podemos deixar de citar os estudos de Perrenoud (2000) que propõe dez classes de competências necessárias para ensinar. Apesar de citar que não existe uma lista definitiva, Perrenoud (2000) define competência como habilidade de mobilizar os mais diferentes recursos cognitivos para enfrentar as diferentes situações com as quais o indivíduo se depara. Neste estudo, sempre que nos referirmos a competências, nos apropriaremos desse sentido. E quais são essas competências que Perrenoud (2000) dividiu as habilidades docentes necessárias para ensinar? São elas: • organizar e dirigir situações de aprendizagem; • administrar a progressão das aprendizagens; • conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 48 LUCIANE WEBER BAIA HEES • envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; • trabalhar em equipe; • participar da administração da escola; • informar e envolver os pais; • utilizar novas tecnologias; • enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; • administrar sua própria formação contínua. Vamos nos aprofundar um pouquinho em cada uma delas? Organizar e dirigir situações de aprendizagem: cabe ao professor preparar e articular situações eficazes para que os alunos possam aprender. Essas situações devem ser amplas, abertas, significativas e reguláveis. Para isso, o professor precisa conhecer os conteúdos que ensinará, ter clareza dos objetivos que pretende alcançar, trabalhar a partir do que os alunos conhecem e têm de bagagem das experiências de sua vida, trazer conhecimentos também a partir dos erros e obstáculos que possam 49 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS surgir no processo de aprendizagem, organizar recursos, fazer planejamentos e envolver os alunos nas atividades de pesquisa e em projetos de conhecimento (Perrenoud, 2000). Fazendo uma relação dessas competências com espaços não formais de educação, podemos identificar semelhanças? Quando falamos que a educação não formal tem como característica a intencionalidade de ensinar fora do ambiente escolar, faz- se necessário criar essas situações com planejamento menos sistemático e com significativa flexibilidade. Além disso, é necessário considerar os conhecimentos prévios dos alunos e ter objetivos claros, visto existir a intenção de ensinar alguma coisa. Administrar a progressão das aprendizagens: quando se propõe situações de aprendizagens, o professor deve regular a progressão com um olhar formativo, questionando “O que meu aluno aprendeu? O que não aprendeu?Onde pretendo chegar e o que devo fazer para que o aluno alcance o objetivo?” Será que podemos citar essa competência como também necessária e aplicável numa educação não formal? Claro, certamente que sim, pois regular a aprendizagem e saber se o que se pretende ensinar está cumprindo sua função ou não é fundamental para direcionar o trabalho docente. É como uma balança que equilibra o que se ensina com o que se aprende. 50 LUCIANE WEBER BAIA HEES Outra classe de competências descritas por Perrenoud (2000) é conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação, dividida nas seguintes capacidades: • administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma; • abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto; • fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de dificuldades. Aqui, identificamos a diversidade, as diferenças culturais e os aspectos sociais também presentes de forma marcante em espaços sociais não formais de ensino. Descrevendo a quarta categoria, que consiste em envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho, nos deparamos com conceitos de natureza didática, epistemológica e relacional. Destaca-se, aqui, a relevância e a relação com o primeiro pilar de Delors (2010) “aprender a aprender”. Estamos falando da motivação e do incentivo ao aluno para que ele tenha desejo de aprender sempre mais. Esses aspectos acontecem de maneira mais natural nos ambientes não formais, pois o próprio espaço já atua 51 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS como motivador e mola impulsionadora para despertar o interesse do aluno. Como isso acontece? Se um indivíduo está num planetário, assistindo uma sessão altamente tecnológica e realística, sentirá muito mais envolvido e motivado para aprender sobre os planetas, sol e estrelas, do que numa aula em que o professor está transmitindo de forma oral as mesmas informações dentro de uma sala de aula convencional. O trabalhar em equipe pode ser dividido em três grandes competências: “Saber trabalhar eficazmente; saber discernir os problemas que requerem cooperação; saber perceber, analisar e combater resistências e impasses ligados à cooperação...” (PERRENOUD, 2000, p. 82). Falamos no início deste estudo que os espaços sociais múltiplos referem-se a lugar, cultura e relações sociais. Ou seja, é fundamental o trabalho em equipe quando falamos de aprendizagens em espaços sociais múltiplos, inclusive em espaços de educação não formais. Trabalho em equipe é fundamental em espaços formais e não formais de educação. Fonte: Shutterstock 52 LUCIANE WEBER BAIA HEES Participar da administração da escola pode ser dividida em: elaborar e negociar um projeto da instituição; administrar os recursos da escola; coordenar e dirigir uma escola com todos os seus parceiros; organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos. E o sétimo grupo de competências que é “informar e envolver os pais”. Essas duas classes de competências são mais específicas nos procedimentos regulares e sistemáticos da educação formal, mas não impedem que possam ser identificadas em algumas circunstâncias de educação não formal (PERRENOUD, 2000). Utilizar novas tecnologias é o oitavo grupo de competências docentes. Em qualquer espaço de educação, quer seja formal ou não formal, as tecnologias podem contribuir, influenciar e favorecer, pois já fazem parte da vida das pessoas. Ignorar ou não utilizar para ampliar e promover o conhecimento, é fugir ou negar o mundo globalizado do qual todos fazemos parte (PERRENOUD, 2000). Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão: preconceitos, violência, discriminações, falta de solidariedade e justiça são alguns dos desafios que existem não só nas escolas, mas também em espaços não formais de educação. Os espaços não formais são ambientes perfeitos para desenvolver projetos e ações sociais para combater esses problemas presentes em nossa 53 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS sociedade. Um exemplo disso são as ONGs, onde os pedagogos podem atuar desenvolvendo diversos projetos para amenizar os impactos desses desafios sociais. Administrar sua própria formação contínua é o último grupo de competências descritas por Philippe Perrenoud. Segundo o autor, a formação contínua é o que condiciona o desenvolvimento de todas as outras formações. Ou seja, precisamos, como pedagogos, estar sempre nos atualizando, estudando e buscando novos conhecimentos. Essa formação contínua envolve cinco componentes: refletir sobre os desafios da prática, analisar o programa pessoal de formação continuamente, desenvolver um projeto de formação comum com os colegas (equipe, escola), envolver-se em tarefas mais amplas para adquirir uma visão mais globalizada e, por fim, contribuir para a formação de outros. Claro que outras competências podem ser acrescentadas com a visão de outros Tecnologias podem contri- buir em qualquer modali- dade de educação. Fonte: Shutterstock 54 LUCIANE WEBER BAIA HEES autores, e mesmo com diferentes necessidades emergentes da própria prática. Mas Perrenoud (2000), em sua classificação, amplia significativamente nossas discussões quando buscamos descrever o papel do pedagogo em espaços não formais de educação. Ressalta- se que a atuação do pedagogo adquiriu maior relevância nesses espaços não formais, pois, segundo Saviani (1985, p. 27), ele “[...] possibilita o acesso à cultura, organizando o processo de formação cultural”. Nesse contexto, passou a se exigir novas competências para organizar diferentes processos de educação em ambientes não escolares, valorizando a formação cultural. E as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia (DCNPs)? O que estabelecem como perfil para o pedagogo que vai atuar em espaços escolares e não escolares? O documento aprovado em julho de 2015, em art. 8°, descreve o perfil traçado para o egresso do curso de pedagogia. No inciso I das DCNPs (2015), descreve que o pedagogo deve atuar com ética, contribuindo para a construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária. No inciso II, o egresso deve compreender o seu papel e contribuir para seu desenvolvimento integral dos alunos da educação básica, inclusive de crianças que estão com idade diferente por não terem tido oportunidades de escolarização na idade regular. No inciso III, encontramos que o pedagogo deve trabalhar na 55 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo. Aqui, podemos entender que inclui a educação formal e não formal. Os incisos IV e V abordam as questões relacionadas às práticas no ensino das diferentes disciplinas. Alertando sobre a necessidade de ensinar de forma coerente com as fases do desenvolvimento e a importância do uso da tecnologia no processo de ensino. Ter uma postura investigativa diante de problemas socioculturais e educacionais é o que afirma o inciso VII. Isso nos lembra a classe de competência descrita por Perrenoud, “enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão” que são alguns dos desafios que o docente deve estar apto para enfrentar. E nas DCNPs (2015), esses desafios são descritos como realidades complexas que o pedagogo deve contribuir Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia descreve o perfil do egresso. Fonte: Shutterstock 56 LUCIANE WEBER BAIA HEES para superar as “exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras” (inciso VII). E no inciso VIII já cita o respeito à diversidade “ambiental-ecológica, étnico- racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras”. Outras competências necessárias para o egresso do curso de pedagogia são: participar da gestão da escola e nos processos de elaboração, implantação e execuçãodo projeto político pedagógico descritas nos incisos IX e X. E nos incisos XI e XII: XI - realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre os estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental- ecológicos, sobre propostas curriculares e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas, entre outros; XII - utilizar instrumentos de pesquisa adequados para a construção de conhecimentos pedagógicos e científicos, objetivando a reflexão sobre a própria prática e a discussão e disseminação desses conhecimentos (BRASIL, DCNPs, 2015, p. 8) 57 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Essa realidade sociocultural alcança os espaços sociais múltiplos. Nesse caso, o ambiente não escolar é incluído como campo de pesquisa e estudo. E isso é importante para formação continuada e compreensão da prática. No inciso XII, são apontadas as competências para fazer uso de instrumentos para construção de conhecimentos pedagógicos e científicos. O último inciso do art. 8°, das DCNPs (2015), aponta a necessidade do pedagogo ter domínio e conhecimento das diretrizes curriculares e outras determinações legais para seu exercício profissional. Podemos ressaltar, ainda no art. 7° das DCNPs (2015), o seguinte: Art. 7° O(A) egresso(a) da formação inicial e continuada deverá possuir um repertório de informações e habilidades composto pela pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, resultado do projeto pedagógico e do percurso formativo vivenciado cuja consolidação virá do seu exercício profissional, fundamentado em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética, de modo a lhe permitir: 58 LUCIANE WEBER BAIA HEES (...) Parágrafo único. O PPC, em articulação com o PPI e o PDI, deve abranger diferentes características e dimensões da iniciação à docência, entre as quais: (...) III - planejamento e execução de atividades nos espaços formativos (instituições de educação básica e de educação superior, agregando outros ambientes culturais, científicos e tecnológicos, físicos e virtuais que ampliem as oportunidades de construção de conhecimento), desenvolvidas em níveis crescentes de complexidade em direção à autonomia do estudante em formação; (grifo nosso). Nesta descrição do perfil do pedagogo, observamos a inserção do termo “outros ambientes culturais” que contempla espaços não formais onde o egresso deve estar habilitado e preparado para atuar. Vimos, também, que o pedagogo deve estar apto para trabalhar com sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, assim como em diversos níveis e modalidades. Isso implica em conhecer e saber lidar com diferentes necessidades e processos de aprendizagens nas mais diversas etapas do desenvolvimento humano em espaços escolares e não escolares. Podemos concluir afirmando que o pedagogo é um profissional multifacetado e qualificado para atuar em espaços escolares e não escolares, atuando de forma diversificada. Transpondo o ambiente escolar, inserido em empresas, hospitais, ONGs, associações, museus, brinquedotecas, o 59 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS pedagogo deve estar preparado para mobilizar diferentes áreas do conhecimento, em diferentes espaços e desenvolvendo uma educação com qualidade social. AGORA É COM VOCÊ Compare as dez grandes classes de competências de Perrenoud (2000) com o perfil do egresso estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de pedagogia aprovado em Resolução N. 2, de 1 de julho DE 2015, no art. 8o, e identifique se existem relações. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos sobre os espaços sociais múltiplos e como as inter-relações entre os indivíduos nesses espaços envolvem encontros com a cultura, provocando transformações na aprendizagem. Nesse contexto, deparamo-nos com as modalidades de educação que podem ocorrer em diversos espaços múltiplos sociais e que são classificados em espaços formais, informais e não formais da educação, promovendo oportunidades para o indivíduo ter experiências que irão favorecer sua formação e a construção da sua identidade. A modalidade de educação informal acontece junto à família e amigos, em que os processos de ensino e 60 LUCIANE WEBER BAIA HEES aprendizagem são relacionados com a cultura e valores dos grupos que o indivíduo frequenta e pertence. A educação formal é a sistemática e tem seus conteúdos organizados e transmitidos nos ambientes escolares. A modalidade não formal acontece em todos os demais espaços onde ocorrem práticas educativas com intencionalidade, mas com flexibilidade de tempo e espaços. Esses ambientes são inclusivos, pois atendem os diferentes ritmos e interesses individuais. Concluímos que os quatro pilares da educação, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, são fundamentais para uma aprendizagem significativa e podem ser praticados tanto no espaço formal, como em espaço não formal de educação. O papel e atuação do pedagogo sofreram significativa ampliação, alcançando espaços não formais de educação, podendo atuar além de escolas, em organizações empresariais, associações, fundações, cooperativas, órgãos públicos, penitenciárias, presídios, fundações de assistência social educativa para menores e hospitais. Nossos objetivos são que, ao terminar a leitura desses itens, você seja capaz de analisar quão complexa é a ação docente em ambientes não escolares visando a regulação da 61 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS aprendizagem diante das diferentes abordagens metodológicas, compreenda os pilares da educação e seus impactos na ação do pedagogo, inteirando-se da dimensão desse conceito em espaços não escolares, e possa valorizar o papel do pedagogo nos diferentes campos de atuação como processo para viabilizar a aprendizagem significativa nos múltiplos espaços sociais de atuação. RESUMO Nesta unidade, aprendemos que: • a atuação do pedagogo ganhou espaço com o passar dos anos, expandindo do ambiente da escola para espaços sociais múltiplos; • a educação do ser humano perpassa por três modalidades: a formal, que acontece na escola, onde os conteúdos são previamente selecionados e organizados, o ensino é sistemático e obrigatório; a não formal, que ocorre com mais flexibilidade de tempo, ritmo e acontece em diversos espaços sociais; e a informal, que emerge ao longo da vida do indivíduo, a família exerce papel central e que tem fortes características culturais e de valores do 62 LUCIANE WEBER BAIA HEES grupo que o indivíduo pertence e frequenta. Essas três modalidades de educação, apesar de distintas em suas características e procedimentos, complementam-se; • os quatro pilares da educação da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI são fundamentais para promover uma educação com qualidade social, e podem ser aplicados tanto na educação formal como na educação não formal. Esses quatro pilares são: aprender a conhecer (que se refere ao desejo de descobrir, de saber), aprender a fazer (colocar em prática os conhecimentos adquiridos), aprender a conviver com os outros (respeitar a diversidade e colocar-se no lugar do outro) e o aprender a ser (desenvolvimento da totalidade de quem a pessoa é); • o pedagogo deve ser um profissional multifacetado e qualificado para atuar em espaços escolares e não escolares. Para isso, ele deve desenvolver diferentes habilidades e competências que são escritas nas diretrizes curriculares para o curso de pedagogia. Entre essas características, destaca- se que o pedagogo deve atuar com ética e compromisso para a construção de uma sociedade justa, equânime e igualitária. Ele deve também trabalhar em espaços escolares e não-escolares, promovendo a aprendizagem em diferentes fases do desenvolvimento humano, em 63 ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS diversos níveise modalidades, além de participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais. REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P. Aquisição e retenção de conhecimentos. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 2003. BES, P.; TOLEDO, M. E. R. de O. Gestão de processos educacionais não escolares. Porto Alegre: SAGAH, 2020. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/ books/9786581492656. Acesso em: 10 abr. 2021. BRANDÃO, C. R. O que é educação? São Paulo: Brasiliense, 1993. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 1° de julho de 2015. 2015. 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