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PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Luciane Weber Baia Hees 1ª Edição, 2021 Administração da Entidade Mantenedora (IAE) Diretor-presidente: Maurício Lima Diretor administrativo: Edson Medeiros Diretor-secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães Diretor depto. de educação: Ivan Góes Divisão Sul-Americana da IASD Presidente: Stanley Arco Secretário: Edward Heidinger Tesoureiro: Marlon Lopes Centro Universitário Adventista de São Paulo Reitor: Martin Kuhn Vice-reitores executivos / diretores de campus: Afonso Cardoso Ligório, Antônio Marcos Alves, Douglas Jefferson Menslin Vice-reitor administrativo: Telson Bombassaro Vargas Pró-reitor de graduação: Afonso Cardoso Ligório Pró-reitor de pesquisa e desenvolvimento institucional: Allan Macedo de Novaes Pró-reitor de educação à distância: Fabiano Leichsenring Silva Pró-reitor de pós-graduação (lato sensu): Antônio Marcos Alves Pró-reitor de desenvolvimento espiritual: Henrique Gonçalves Diretores administrativos: Claudio Valdir Knoener, Flavio Knoner, Murilo Marques Bezerra Diretor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia : Reinaldo Wenceslau Siqueira Diretor-geral de educação básica: Douglas Jefferson Menslin Secretário-geral e procurador institucional : Marcelo Franca Alves Diretora de recursos humanos : Karla Cristina de Freitas Souza Diretor de produções artísticas: Tuiu Costa Advogado-geral : Misael Lima Barreto Junior Chefe de gabinete: Anna Cristina Pascual Ramos Editora Universitária Adventista Editor-chefe: Rodrigo Follis Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira Editor associado: Alysson Huf Supervisor administrativo: Werter Gouveia 1ª Edição, 2021 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Editora Universitária Adventista Engenheiro Coelho, SP Luciane Weber Baia Hees Doutora em Psicologia da Educação e Pós-Doutora em Educação e Psicologia pela Universidade de Aveiro Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1. ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020. 1 Mb ; PDF ISBN 978-85-8463-172-8 1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título. 20-33026 CDD-370.113 Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP) (Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370) Pedagogia em espaços sociais múltiplos 1ª edição – 2021 e-book (pdf) OP 00123_107 Coordenação editorial: Kerilyn Oliveira Preparação: Willian Bernardes Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Capa: Jonathas Sant’Ana Diagramação: Felipe Rocha Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900 Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172 www.unaspress.com.br Editora Universitária Adventista Validação editorial científica ad hoc: Marcia Coutinho de Robertis Azevedo Doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piraci- caba, SP, com ênfase no ensino da Contabilidade Conselho editorial e artístico: Martin Kuhn, Telson Vargas, Rodrigo Follis, Adolfo Suárez, Afonso Cardoso, Allan Novaes, Antônio Marcos Alves, Diogo Cavalcanti, Douglas Menslin, Eber Liesse, Edilson Valiante, Fabiano Leichsenring, Fabio Alfieri, Gilberto Damasceno, Gildene Silva, Henrique Gonçalves, José Prudêncio Júnior, Luis Strumiello, Reinaldo Siqueira Editora associada: Todos os direitos reservados à Unaspress - Editora Universitária Adventista. Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo em breves citações, com indicação da fonte. SUMÁRIO ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS ............................... 11 Introdução ........................................................................................12 Espaços sociais múltiplos ...............................................................14 Modalidades de educação formal, informal e não formal ................................................18 Os quatro pilares da educação ................................................31 O papel do pedagogo em espaços não formais .........................................................38 Considerações finais.........................................................................57 Referências .......................................................................................61 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES ............................... 67 Introdução ........................................................................................68 Diferentes espaços de atuação do pedagogo ..................................70 Pedagogo empresarial .....................................................................72 Pedagogo hospitalar ........................................................................80 ONGs, museus, brinquedotecas e outros espaços de atuação do pedagogo ...................................................98 As atividades educativas nos museus ....................................98 A atuação do pedagogo nas brinquedotecas ...............................................................103 As organizações não governamentais e outros espaços .........................................109 Considerações finais........................................................................111 Referências ......................................................................................115 PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL .................................... 121 Introdução .......................................................................................122 Práticas na educação não formal ....................................................123 Planejamento e avaliação ..............................................................130 Pedagogia Social ............................................................................134 O que é pedagogia social? ....................................................134 VO CÊ ES TÁ A QU I VO CÊ ES TÁ A QU I Como podemos encontrar a pedagogia social no mundo? ..............................................139 Paulo Reglus Neves Freire ......................................................143 Onde o pedagogo social pode atuar? ...................................154 Considerações finais........................................................................159 Referências ......................................................................................162 PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA. Planejamento e avaliação da práxis social educativa em espaços não formais de educação, tais como: ongs, classes hospitalares, brinquedotecas, museus, entre outros;, articulados com as questões da cidadania e a pluralidade cultural. EMENTA OB JE TI VO S PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL - Avaliar a pedagogia social e seu papel para a construção e o desenvolvimento das propostas de educação social em seus diferentes âmbitos de ação e de intervenção socioeducativa; - Compreender a importância do planejamento e o papel da avaliação em espaços não escolares; - Construir uma prática docente integrada em espaços de atuação não formal. UNIDADE 3 122 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS INTRODUÇÃO Bem-vindo, querido estudante! Os conhecimentos pedagógicos são ferramentas que favorecem as intervenções educativas em diversas situações. As práticas pedagógicas são necessárias não somente na escola, mas em outros ambientes considerados não formais, que também são campos de atuação dos pedagogos. Essas práticas acontecem no mesmo formato que nos ambientes escolares? Não, elas são adequadas as necessidades desses espaços, às realidades e às necessidades sociais dos sujeitos que fazem parte desse contexto. Nestaunidade, vamos estudar sobre a intervenção do pedagogo nos processos educativos não formais, sendo ele o responsável por dar significado e sentido a esses processos, organizando-os e ajustando-os ao contexto histórico, cultural e social. Veremos também como as práticas acontecem em espaços sociais múltiplos, a atuação do pedagogo e suas ações, o papel dos procedimentos, o planejamento e organização dessas ações e a importância dos processos de avaliação, mesmo não sendo em um ambiente escolar. Estudaremos ainda sobre como a pedagogia social se relaciona com a educação não formal. Portanto, ao final desta unidade, esperamos que você tenha aprendido: 123 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl • As ações desenvolvidas pelos pedagogos em ambientes não formais de aprendizagem; • O papel do planejamento e da avaliação em ambientes não formais; • A relação da Pedagogia Social com os espaços não formais de educação. Bom estudo! PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO NÃO FORMAL Os conhecimentos pedagógicos são ferramentas que favorecem as intervenções educativas em diversas situações, e isso não é diferente nos processos educativos não formais. Nesses espaços, cabe a intervenção de um pedagogo para dar significado e sentido para esses processos, e ele atua regulando práticas educativas ao contexto histórico, cultural e social. Antes de falarmos sobre essas práticas, vamos relembrar o que são esses espaços não formais. Na educação informal, o papel e responsabilidade principal cabe à família. Entretanto, o desenvolvimento da criança é feito dentro das escolas 124 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS na educação formal, numa sequência organizada e sistemática, socialmente e politicamente validada. Segundo Gohn (2011), a educação não formal surge para ampliar o conceito de educação, não se limitando apenas aos espaços escolares formais, mas transpondo os muros da escola, alcançando os ambientes de lazer, de trabalho, de museus, de hospitais entre outros lugares. Nesses locais, os processos educativos acontecem de maneira mais flexível, menos rígida e mais inclusiva. A educação não formal complementa a educação formal. Essa relação costuma produzir projetos socioeducativos que contribuem para a formação integral do indivíduo. Podemos encontrar essa dinâmica educativa em diversas organizações sociais não governamentais (ONGs), museus, brinquedotecas, entre outros. As práticas educativas acontecem nesses espaços em diversos formatos O pedagogo atua regulando práticas educativas ao contexto histórico, cultural e social para tornar a apren- dizagem significativa. Fonte: Shutterstock 125 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl e com objetivos diferentes (GOHN, 2011). Na educação não formal, aprendizagem ocorre por meio de experiências, o conteúdo emerge do cotidiano e as metodologias são escolhidas pela vida. De fato, vem se acentuando o poder pedagógico de vários agentes educativos formais e não formais. Ocorrem ações pedagógicas não apenas na família, na escola, mas também nos meios de comunicação, nos movimentos sociais e outros grupos humanos organizados, em instituições não escolares. Há intervenção pedagógica na televisão, no rádio, nos jornais, nas revistas, nos quadrinhos, na produção de material informativo, tais como livros didáticos e paradidáticos, enciclopédias, guias de turismo, mapas, vídeos e, também, na criação e elaboração de jogos, brinquedos (LIBÂNEO, 2005, p. 27). Mas como essas práticas acontecem? Quais são os objetivos e quais as ações desenvolvidas pelo pedagogo nesses espaços considerados não formais? Aquino (2011) identifica esses espaços não escolares citando a instituição hospitalar, as empresas, os sindicatos, espaços de turismo, os museus e os meios de comunicação. A autora elaborou uma síntese sobre esses espaços de atuação do pedagogo, a partir de estudos realizados por Castanho et al., 2004; Fireman, 2006; Jacobucci, 2008; Libâneo, 1999; Matos, 2007 e Sá, 2000, destacando 126 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS as principais práticas desenvolvidas e os objetivos da atuação em cada espaço. Vamos entender um pouquinho mais sobre isso. Na Figura 4, você poderá visualizar as ações do pedagogo nos diferentes espaços educativos e os seus objetivos. Figura 4 – Espaços de formação e atuação do pedagogo Espaços Ações desenvolvidas Objetivos Escola Participação na organização e gestão da escola, através de atividades que englobam a seleção e organização dos conteúdos, das formas de estimulação e motivação, do espaço físico e ambiental, dos instrumentos de avaliação da aprendizagem, reduzindo as dificuldades de aprendizagem. Favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos em seu aspecto social e cognitivo. Coordenar, implantar e implementar no estabelecimento de ensino as diretrizes definidas no Projeto Político-Pedagógico e no Regimento Escolar; auxiliar o corpo docente e gerenciar e supervisionar o sistema de ensino favorecendo a melhoria da aprendizagem dentro da escola de forma integral. Instituição hospitalar Através de uma triagem sobre a situação do paciente, o pedagogo por meio de ações e intervenções busca desenvolver atividades lúdicas e recreativas que ajudem a criança hospitalizada a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação com a vida familiar e a realidade no hospital. Favorecer o processo de socialização da criança; dar continuidade aos estudos daquelas que se encontram afastadas da escola; oferecer atendimento emocional e humanístico para a criança e para o familiar que o acompanha, a fim de qualificá-los no processo de adaptação ao ambiente hospitalar e motivá-los no processo de recuperação do paciente. 127 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl Empresas Planejar, desenvolver e administrar atividades relacionadas à educação na empresa; elaborar e desenvolver projetos; coordenar a atualização em serviço dos profissionais da empresa; planejar e ajudar no desempenho profissional dos funcionários da empresa. Preparar os profissionais que atuam na empresa e qualificá-los para lidar com várias demandas, com incertezas, com várias culturas ao mesmo tempo, motivando-os a crescer e a produzir mais dentro da própria empresa. Meios de comunicação Assessorar na difusão cultural e na comunicação de massa. Elaborar estratégias, atividades e instrumentos que permitam o aprendizado através dos meios de comunicação. Sindicatos Atuar fazendo o planejamento, coordenação e execução de projetos de educação formal de qualificação e requalificação. Qualificar e requalificar o trabalho, habilidades e competências dos seus associados no mercado de trabalho. Turismo Desenvolver atividades educativas que visem ao conhecimento de uma localidade, acompanhada de sua história e cultura. Contribuir no aprendizado sobre o multiculturalismo, valorizando as diversidades culturais e favorecendo a construção de uma consciência de preservação ecológica. Museus Desenvolver atividades educativas dentro desse espaço, juntamente com uma equipe interdisciplinar. Proporcionar aos visitantes a compreensão da importância da memória cultural e da sua relação com a atualidade. Fonte: Aquino (2011, p. 54-55). Podemos ainda acrescentar a essa síntese a atuação do pedagogo em brinquedotecas e em organizações não 128 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS governamentais (ONGs). Vamos ampliar a lista? Confira a Figura 5: Figura 5 – Espaços de atuação do pedagogo em brinquedotecas e organizações não governamentais. Espaços Ações desenvolvidas Objetivos Brinquetodeca Desenvolver e organizar as brincadeiras e atividades lúdicas de acordo com as necessidades e idade da criança. Acompanhar e mediar a execução das atividades, identificando o que foi e o que não foi assimilado pela criança. Avaliar os resultados e recriar novas situações. Oferecer condições através de jogose brincadeiras para que a criança construa relações cognitivas com pessoas, símbolos e coisas. Organizações não governa- mentais Elaboração e desenvolvimento de projetos educacionais, organização das ações da instituição, além de prestar atendimento pedagógico em ONGs que oferecem escolas ou reforço escolar, além de atuar como educador social. Desenvolver ações através de projetos sociais em lugares onde o governo não consegue atender adequadamente todas as demandas básicas da comunidade. Fonte: elaborado pela autora. Certamente você entendeu o porquê de afirmarmos que o pedagogo é um profissional multifacetado. O pedagogo desenvolve práticas multidisciplinares para atuar em diferentes espaços sociais e alcançar objetivos bem definidos e específicos, em diversas realidades. 129 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl SAIBA MAIS O educador social que pode atuar em organizações não governamentais é um profissional essencial para pro- mover a integração social de indivíduos em situação de vulnerabilidade, em condições de deficiência ou exclu- são social em diversos espaços e ambientes. Ele desen- volve suas ações coordenando atividades pedagógicas e lúdicas como: atividades educativas de lazer, esporti- vas, artesanato entre várias outras. Quer saber mais so- bre essa função? Acesso o link e entenda mais quem é o educador social. Disponível em: https://www.catho.com.br/carreira-sucesso/carreira/o-que-faz-um- educador-social/. Acesso em: 28 ago. 2021. Para desenvolver o perfil adequado de atuação em espaços sociais múltiplos, o pedagogo precisa estar atento a diversos aspectos que vão muito além das práticas pedagógicas, como: habilidade de lidar com pessoas, ser um profissional reflexivo sobre sua prática, buscar constantemente estar atualizado e conhecer as especificidades da área onde escolheu atuar. Os espaços não formais de atuação do pedagogo exigem práticas que requerem diferentes processos de transmissão de conhecimentos. Também demandama criação de situações de aprendizagem, mas principalmente de planejamento e avaliação. 130 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO A educação não formal também carece de formalização social, tanto para legitimar os projetos como para organizar a implementação, cabendo nesse contexto o planejamento da proposta. Cabe também aos processos avaliativos orientar a aprendizagem e fornecer feedbacks dos resultados. Vamos imaginar que você vai construir uma casa, reformar um quarto, fazer uma viagem, oferecer uma festa. Para cada uma dessas atividades, você precisa de um planejamento. Isso é necessário para que as coisas realmente aconteçam de maneira adequada. Quanto mais cuidado e atenção ao planejar um projeto ou uma viagem, melhores os resultados. Da mesma forma, ao elaborar ou preparar qualquer proposta educativa, mesmo em ambientes não formais, o planejamento é fundamental para que os resultados sejam os melhores. E a avalição? Como assim? Avaliações em ambientes não formais? Não estamos falando de provas, testes e notas, estamos nos referindo à avaliação como processo constante para indicar se os resultados estão sendo alcançados. Por exemplo, se tenho um projeto educativo em um determinado museu, é fundamental ter elementos que apontem se as estratégias adotadas para transmitir determinado 131 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl conhecimento estão sendo eficientes e apresentam resultados positivos. Isso irá permitir um reajuste, se necessário, ou atualizações, adaptações e até mesmo mudanças mais profundas na proposta. Isso é aplicável em qualquer área de atuação: planejar e avaliar os resultados. Entretanto, não existem modelos prontos para planejamentos e avaliações, pois esses procedimentos devem ser criados de acordo com a realidade do lugar onde estão sendo promovidos os processos educativos e de acordo com os objetivos que se pretende alcançar. Entendemos que o processo avaliativo é importante, porém queremos destacar duas características necessárias para que a avaliação realmente cumpra seu papel nos espaços não formais. Primeiro, a avaliação num ambiente não formal de educação não possui o objetivo de avaliar o sujeito e atribuir uma nota ou uma O pedagogo precisa ter habilidade de lidar com pessoas e entender o contexto cultural. Fonte: Shutterstock 132 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS classificação como no ensino formal. Estamos nos referindo à avaliação do processo, do projeto, da eficiência das experiências proporcionadas naquele espaço. Cabe questionar: Estão atendendo sua função social? Estão oferecendo transformação de comportamento? Conhecimentos novos? Promovendo aprendizagens significativas? Ou seja, é um processo reflexivo, e não classificatório e seletivo. Assim, esse processo vai revisar as falhas e definir novas metas promovendo mudanças. AGORA É COM VOCÊ Imagine que você trabalha como pedagogo em um hospital e precisa favorecer o processo de socialização da criança durante o longo período que ela irá permanecer hospitalizada. Não estou falando aqui das classes hospitalares, estou me detendo apenas na questão da socialização que contribui para favorecer a recuperação clínica da criança e no processo de adaptação ao ambiente hospitalar. Quais seriam seus procedimentos para alcançar essas metas? Teria que fazer planejamento e avaliação? Reflita sobre isso e tente ampliar essa discussão para os outros ambientes considerados não formais de educação. Outro ponto, referente a um olhar mais amplo, é repensar a avaliação num contexto de validação das práticas não formais. Aqui envolvemos aspectos políticos e sociais, é avaliar os projetos sociais enquanto mecanismos e instrumentos de 133 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl transformação social e de inclusão e igualdade de acesso à educação e cultura por parte de todos. Buscando fundamentos nas diretrizes curriculares do curso de pedagogia para entender essas questões sobre planejamento e avaliação, encontramos no artigo 4º da Resolução CNE/CP n. 01/2006, dois aspectos que definem a finalidade do curso de pedagogia: Art. 4º - O curso de Licenciatura em pedagogia destina- se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Parágrafo único. As atividades docentes também compreendem participação na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação; II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de projetos e experiências educativas não-escolares; (grifo nosso) III - produção e difusão do conhecimento científico- tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e não-escolares.(BRASIL, CNE/CP n. 01/2006). 134 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Observa-se que o planejamento e a avaliação fazem parte das atividades docentes, inclusive em espaços não formais de educação. PEDAGOGIA SOCIAL A educação não formal consolida a pedagogia social, mas não são a mesma coisa. Algumas práticas socioeducativas aplicadas na pedagogia social fazem parte da educação não formal. Vamos começar explicando o que é pedagogia social e sua origem. O QUE É PEDAGOGIA SOCIAL? A origem do conceito, está relacionada ao trabalho social, principalmente na Europa. Segundo Pérez Serrano (2003) o termo têm origem na Alemanha e a partir das experiências vividas no país o conceito foi evoluindo e alcançando força e outros espaços . Vamos estudar um pouquinho dessa história? Na Europa, durante a primeira metade do século XX, os problemas do pós-guerra, a industrialização e a rápida urbanização, diversos e profundosproblemas sociais foram evidenciados. Nesse contexto, a educação foi considerada 135 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl como um instrumento para enfrentar esses problemas. A crise econômica industrial da Alemanha, acentuada no final do século XIX, leva a pedagogia a atender à necessidade de intervenção socioeducacional. A partir desse período, pressionados pela realidade, educadores avançam na conceituação da Pedagogia Social ao mesmo tempo em que ampliam as ações práticas. (MACHADO, 2008, p.3). O quadro se agrava e com o aumento da imigração acarretando desemprego, a pobreza, fortes crises econômicas e sociais, a educação surge como uma forma de amenizar esses impactos. Assim começa a se delinear a pedagogia social. Pérez Serrano (2003), explica a evolução histórica da pedagogia social na Alemanha em quatro fases, veja a figura 5 abaixo para entender todo o processo de surgimento e evolução: Pedagogia social teve sua origem marcada pelas necessidades sociais decorrentes do período pós-guerra. Fonte: Shutterstock 136 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Figura 5 – Evolução da Pedagogia Social Pr im eir a e ta pa (1 85 0- 19 20 ) Acredita-se que a expressão “pedagogia social” foi usada pela primeira vez em um livro publicado por Diesterweg, chamado de “Bibliografia para a Formação dos Professores Alemães” datado do ano de 1850. Porém, o nome mais importante nessa primeira etapa é de Paul Natorp (1854-1920) o qual defende a ideia de que o homem individual é uma abstração, já que em toda a pessoa subsiste a totalidade da comunidade em que se desenvolve. A comunidade é, para ele, a condição que possibilita todo o progresso e o ideal a que deverá referir-se qualquer ação educativa. Parte da relação indivíduo- comunidade e põe uma ênfase especial na ideia de que o ser humano é, sobretudo, um ser social, de tal maneira que só poderá chegar a ser homem mediante a comunidade: toda a atividade educadora se realiza sobre a base da comunidade. Entende que toda a pedagogia é social, ou deixa de ser autêntica pedagogia. Portanto, a pedagogia social não é, para Natorp, uma parte da pedagogia geral, como sustentam outros autores da época, mas “a pedagogia”. É a pedagogia contemplada a partir de uma determinada perspectiva, precisamente a da comunidade social. Devemos assinalar que, ainda que Natorp seja conhecido como o fundador da pedagogia social, na realidade, segundo Quintana (1984), o que ele criou foi a pedagogia sociológica, que é algo muito diferente: enquanto a pedagogia social é um ramo da pedagogia, a pedagogia sociológica é uma tendência, uma escola. Natorp, portanto, é o inventor da denominação pedagogia social, mas não o desta ciência pedagógica. Se gu nd a e ta pa No início do século XX os problemas sociais intensificados pela Primeira Guerra Mundial apresentam um cenário no qual observa-se o aumento do desemprego, da delinquência, da falta de proteção social, entre outros problemas. Tudo isto contribuiu para o início do “movimento pedagógico social”, associado à figura de Nohl (1879-1960). Esse movimento, fortaleceu a articulação dessa prática da Pedagogia Social com os aspectos teóricos e atribuiu o título de ciências da educação dos mais necessitados e como a ciência da socialização terciária. 137 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl Se gu nd a e ta pa (1 92 0- 19 33 ) Em seus primeiros enfoques, a Pedagogia Social já defende uma pedagogia social relacionada fundamentalmente com a política e Nohl busca delinear seus fundamentos com uma natureza preventiva, que é um diferencial em relação aos conceitos anteriores. Ou seja, promover ações para evitar que os problemas sociais se intensifiquem e não desenvolver projetos socioeducativos para remediá-los. As principais contribuições desta etapa são: A pedagogia social passa a ser entendida como um conceito ordenado, integração de esforços para a abertura de novos caminhos educativos e formas de ajuda à integração social da juventude; • A pedagogia social apresenta-se como uma área da pedagogia geral, com a finalidade específica de atender a população mais carente; • Além de ajudar a recuperar as crianças e os jovens, a Pedagogia Social passa a ter um caráter preventivo; • Desenvolve suas teorias a partir da realidade concreta; • O objetivo da sua orientação pedagógica é buscar o bem do sujeito, promovendo o desenvolvimento de suas capacidades, e a sua vontade; • Intensifica a necessidade de modificar as condições ambientais e contextuais, com o fim de assegurar a eficácia da ação pedagógica social; • Destaca a tarefa de formação e investigação inerente à pedagogia social; • Reforça a necessidade de realizar ações científicas que contribuam para conferir um status científico à pedagogia social, até então considerada apenas no quadro conceitual.; Te rce ira et ap a ( 19 33 -1 94 9) Nesta terceira etapa, destacamos como marco inicial o nacional socialismo que Hitler instalou na Alemanha. Esse contexto político social revestiu a aplicação da pedagogia social de propaganda política, carregando um forte idealismo e limitou o desenvolvimento de todas as instituições e tendências de educação social. Os representantes teóricos que podemos destacar nesta etapa são: E. Krieck e A. Bäumler, que não trouxeram nenhum contributo à pedagogia social e se limitaram a aplicar a sua teoria da educação aos problemas pedagógicos. 138 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS Te rce ira et ap a ( 19 33 -1 94 9) Para Krieck, a comunidade era um organismo com vida própria, independente dos indivíduos e anterior a eles. Segundo seus conceitos, a educação teria que se basear na comunidade e, especialmente, na raça e no povo. A pedagogia nacional social desenvolve-se nesse período, no sentido da formação nacional popular de caráter racial e com uma única visão do mundo. No seu entender, a educação é uma função originária do espírito e da comunidade. Propõe o comunitarismo nacional, isto é, o entrosamento e o serviço ao próprio povo como um todo, numa unidade de valores, sentimentos e atitudes. Qu ar ta et ap a ( de sd e 1 95 0) A teoria crítica estabelecerá, com caráter reflexivo crítico, a ligação existente entre a educação e a estrutura social. Procura, também, aprofundar os valores subjacentes às instituições educativas e ao modo tradicional de pensar a realidade educativa. Os traços que caracterizam a pedagogia crítica, como assinalam Cambi e Orefite (1996) são os seguintes: • Deve partir da situação concreta. Esta dá importância às diferenças culturais e tem em conta a memória histórica; • É autocrítica e usa a reflexão do coletivo como critério de valorização da prática; • É dialética. Utiliza o modelo ecológico, pelo facto de ser relacional, inter contextual e intersistêmico; • Parte de pressupostos emancipatórios. Usa a investigação como estratégia metodológica. Analisa e reflete sobre a observação para transformar a realidade; • Deve superar os aspectos sociais que impedem a evolução, de igual forma, deve descobrir, descrever criticamente e transformar os conflitos irracionais que impedem uma interação solidária no microssistema e naqueles que o circundam e condicionam; • Une a teoria à prática ao ponto de as transformar dialeticamente, como consequência da influência recíproca; • A pedagogia crítica é comunicativa e consensual. Comunicação e consenso podem existir num modelo ecológico através da negociação e da conexão com os diversos sistemas 139 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl Qu ar ta et ap a ( de sd e 1 95 0) Mollenhauer, máximo representante da pedagogia social crítica, tem em conta nas suas análises os fatores econômicos, sociais e políticos, considera a problemática juvenil cada vez mais como resultado da situação educativa do homem e não como exigência de uma qualidade negativa da pessoa a reeducar para a sociedade, por incapacidade desta ou da família. Em suma,a tarefa socio pedagógica consiste, em todos os casos, na satisfação de uma necessidade educativa aguda (pedagogia da urgência), provocada pela estrutura da sociedade moderna. A pedagogia social crítica pretende a emancipação humana, analisa as estruturas sociais e procura o seu aperfeiçoamento e transformação Fonte: adaptado de Diáz (2006, p. 93-96). Observando esse breve percurso histórico é fácil de notar que a pedagogia social nasceu para atender as necessidades dos problemas sociais, como um instrumento para amenizar os impactos causados por circunstâncias políticas e sociais. Porém, como campo de estudo, ela também carrega em suas bases teóricas uma crítica a educação focada exclusivamente no desenvolvimento do indivíduo sem levar em consideração os aspectos sociais que o contextualizam. COMO PODEMOS ENCONTRAR A PEDAGOGIA SOCIAL NO MUNDO? Desde sua nomenclatura, até a forma de organização e estrutura de atuação, existem muitas diferenças. A forma mais utilizada para identificar esse profissional é como 140 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS educador social, função que pode ser exercida pelo pedagogo. Na Alemanha, na Espanha, em Portugal e na Dinamarca, a denominação de educador social associa-se à de pedagogo social. Normalmente, o pedagogo atua na escola regular e na recuperação de indivíduos com dificuldades sociais. Porém, na Bélgica, Holanda, Suíça, e França, o profissional que atua como educador social é um educador especializado, que precisa ter uma formação específica para lidar com essas pessoas consideradas marginalizadas e com sérios problemas emocionais, psicológicos, sociais entre outros. No Reino Unido e na Irlanda do Norte, é chamado de trabalhador da juventude e comunidade, ele aproxima-se do educador especializado, a principal diferença é que não atua em instituições fechadas (MACHADO, 1998). Como citamos, a organização e a forma de entender a pedagogia social, também se mostram distintas entre os diferentes países. Começando com a Itália, onde a pedagogia social está mais relacionada a modalidade de educação não formal, encontra-se associada à ciência da educação social desenvolvida através dos meios de comunicação e extraescolares. Segundo os estudiosos italianos a pedagogia social é a “defesa da teoria da sociedade educadora, ou seja, de que a educação ocorre a partir da sociedade, no sentido de 141 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl fora para dentro, da comunidade para o indivíduo” (Machado, 2008, on-line) Na França, a pedagogia social tem um conceito muito semelhante ao da Alemanha: atender as necessidades sociais intensificadas após a Segunda Guerra Mundial. Sua preocupação se detém em promover educação de adultos e formação nas empresas, situações de inadaptação social, e promoções culturais. Na Inglaterra, o modelo também está relacionado com o atendimento social às necessidades, e atua “para eliminar os problemas da pobreza, das drogas, dos conflitos raciais, da deficiência de escolarização, de saúde, da terceira idade”. (Machado, 2008, on-line) Na Espanha, a pedagogia social acompanhou os pensamentos de Natorp (figura 05, primeiro período), ou seja, inicialmente o foco e a preocupação era a educação coletiva. Posteriormente, a Na Europa, os conflitos raciais, as desigualdades, a inadaptação social, entre outros problemas despertaram a necessi- dade de uma intervenção comunitária. Fonte: Shutterstock 142 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS “Pedagogia Social passou a ser compreendida como ciência da educação social desenvolvida tanto na família como na comunidade”. (Machado, 2008, on-line). No Brasil, o início dos conceitos de pedagogia social, se confundem com os estudos e teoria de Paulo Freire (1921- 1997) na década de 1960, quando a proposta de promover a educação de jovens e adultos, ganhou destaque com a experiência de Angicos. Paulo Freire tornou sua teoria motivo de sua luta por esses oprimidos, buscando garantir os direitos fragmentados pelo poder político através da educação para todos. SAIBA MAIS Quer conhecer mais sobre essa teoria de Paulo Freire (1921-1997) que sensibilizou o mundo inteiro? Ele pro- pôs uma educação igualitária e que parte da leitura do mundo do aluno. Saiba um pouquinho mais sobre isso no link abaixo. Disponível em: https://youtu.be/4M69rga5ENo. Acesso em: 25 ago. 2021. E caso queira conhecer sobre a experiência de Angicos é só acessar o link seguinte. Diponível em: https://youtu.be/ENks3CJeJ5E. Acesso em: 25 ago. 2021. 143 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl PAULO REGLUS NEVES FREIRE Mais conhecido como Paulo Freire, ele foi um educador e filósofo brasileiro, ganhou destaque internacional como um dos principais pensadores da área de pedagogia. Nasceu em Recife no dia 19 de setembro de 1921, cresceu com seus três irmãos, seu pai era policial militar e sua mãe dona de casa. Cursou direito na Universidade de Recife, mas não seguiu careira e tornou-se professor de língua portuguesa. Em 1947, foi nomeado diretor do Departamento de Educação e Cultura, do Serviço Social da Indústria e desenvolveu um projeto de alfabetização de jovens e adultos que eram carentes e trabalhadores da indústria. Como diretor do Departamento de Extensões Culturais, da Universidade de Recife, coordenou diversos projetos de alfabetização de adultos, que culminou na experiência de Angicos. Paulo Freire inspirou o Plano Nacional de Alfabetização, que foi desenvolvido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) no governo de João Goulart. Os trabalhadores agora alfabetizados passaram a fazer greves e reivindicar seus direitos. Por questões políticas o plano foi cancelado, Paulo Freire passou 70 dias preso e foi exilado no Chile, onde também coordenou projetos de alfabetização de adultos. Foi professor na Universidade de Harvard, consultor e coordenador emérito 144 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) na Suíça e implantou importantes projetos educativos pelo mundo. Retornou ao Brasil em 1980, quando a Lei da Anistia permitiu o retorno dos exilados políticos. Foi professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade de Campinas (Unicamp). Foi secretário de educação do município de São Paulo. Paulo Freire morreu em 1997, devido a problemas no sistema circulatório. Recebeu 48 títulos honoríficos, além disso, existem mais ou menos 350 escolas e instituições que levam o seu nome como homenagem. Foi nomeado Patrono da Educação Brasileira por meio da Lei 12.612/12. Ele defendeu a educação como ferramenta de transformação social e como forma de reconhecer e reivindicar direitos. Além disso, acreditava que a educação deveria ser vinculada ao cotidiano e às experiências de vida dos estudantes. Paulo Freire acreditava num processo de ensino aprendizagem fundamentado no diálogo entre professor e aluno, conferindo aos estudantes um papel mais ativo. Criticava os procedimentos nos quais o professor era detentor de todo o conhecimento, e o aluno apenas um depósito deste, chamou essa técnica de: educação bancária. 145 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl Mas afinal, o que é a pedagogia do oprimido e qual a relação com a pedagogia social? No livro Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire defende a educação como um ato político, que liberta por meio da consciência crítica capaz de transformar a realidade. Apesar de dividir opiniões, de que existe um caráter político e partidário nas ideias freirianas, por outro lado, se defende a igualdade e o olhar emancipatório da educação que o filósofo agrega aos processos educacionais, não podemos deixar de citar seu significativo papel no início da pedagogia social no Brasil. A forte relação com a pedagogia social e as ideias de Paulo Freire, se concretizam quando o professor e filósofo brasileiro evidencia a importância de existir uma aproximação entre os conteúdos ensinados na escolae vida real. Em uma entrevista com Ira Shor, analisa- se as concepções de Paulo Freire em Transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo (Paulo Freire). 146 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS relação à educação nos Estados Unidos, o que não se diferencia do que observamos aqui no Brasil. Refiro-me à dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo. (...)O que é que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo? Minha impressão é que (...) a escola está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Nessa dicotomia, o mundo da leitura é só o mundo do processo de escolarização, um mundo fechado, isolado do mundo onde vivemos experiências sobre as quais não lemos. Esse mundo escolar, onde lemos palavras que cada vez menos se relacionam com nossa experiência concreta exterior, tem-se tornado cada vez mais especializado, no mau sentido da palavra. Ao ler palavras, a escola se torna, um lugar especial que nos ensina a ler apenas as “palavras da escola”, e não as “palavras da realidade”. O outro mundo, o mundo dos fatos, o mundo da vida, o mundo no qual os eventos estão muito vivos, o mundo das lutas, o mundo da discriminação e da crise econômica (todas essas coisas estão aí.), não tem contato algum com os alunos na escola através das palavras que a escola exige que eles leiam. Você pode pensar nessa dicotomia como uma espécie de “cultura do silêncio” imposta aos estudantes. A leitura da escola mantém silêncio a respeito do mundo da experiência, e o mundo da experiência é silenciado, sem seus textos críticos próprios, circunscrevendo a primeira a uma “educação bancária” e a segunda a uma educação pobre para pessoas pobres (FREIRE e SHOR, 1986, p. 85). 147 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl Freire aponta que existe uma necessidade evidente da aproximação dos conteúdos escolares com a realidade prática dos alunos. Nessa fala de Paulo Freire, percebe-se que não se deveria esperar sair das instituições formais de educação para só então se confrontarem com os desafios da prática cotidiana em que os conhecimentos são aplicados. “Daí a sugestão de se buscar na Pedagogia Social, ciência por natureza voltada para a compreensão social em todos os seus domínios, algumas respostas que a escola não tem conseguido processar de maneira autônoma e isolada”. (Borges, 2010, on-line) Agora que já entendemos a origem da pedagogia social, vamos discutir um pouquinho sobre seu conceito atual. Você já percebeu que essa ciência se refere à educação voltada para os contextos sociais e que sua prática acontece através de processos de socialização. Seu objetivo é a intervenção na realidade e esse processo parte da observação dessa realidade e Para promover uma inter- venção eficaz, o pedagogo social precisa conhecer e compreender as necessida- des da comunidade. Fonte: Shutterstock 148 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS suas necessidades, promovendo ações educativas através de projetos, práticas, atividades, que possam melhorar o contexto específico onde essas ações forem aplicadas. Trilla (2003) define a pedagogia social como “um conjunto de processos, meios e instituições próprias, organizadas em função de objetivos específicos, de formação ou instrução, não diretamente vinculados à obtenção de graus e/ou titulação, oriundos do sistema educativo formal”. Com essa conceituação de Trilla (2003) podemos perceber que o autor se preocupa em explicar que a pedagogia social não tem intenção de conferir graus e ou titulação. Essa ressalva é importante para deixar evidente que essa “pedagogia” vai além do enfoque tradicional da pedagogia dentro da escola e alcança um espaço social múltiplo, onde passa a ser uma pedagogia de intervenção social, uma concepção pedagógica que busca atender as necessidades sociais de determinado local, com cultura e costumes específicos. Outro conceito, um pouco mais amplo explica que: A Pedagogia Social é entendida como ciência pedagógica da inadaptação social, da luta por uma escola europeísta, da educação para a paz, da educação cívica e política, sobre a ação educativa nos serviços sociais, da marginalização social e dos meios de comunicação social. Defende-se uma educação 149 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl para a democracia, a liberdade e a igualdade. Envolve-se família, escola, igreja, estado, governo, magistratura, exército, associações culturais e profissionais, sindicatos, rádios, televisão e demais meios de comunicação, como partes da realidade social, responsáveis pela educação social de seus participantes, o que permite que seja interpretada como uma interação entre Sociologia e Pedagogia. (MACHADO, 2008, on-line). Bom, você certamente já percebeu que a pedagogia social acontece fora da escola, e tem um viés social. Entretanto, concordamos que essa formação não formal, pode e deve complementar a formação oferecida na escola. Montevechi (2005), explica que um dos objetivos da educação não formal é permitir que indivíduos menos favorecidos, tenham a oportunidade de ter uma aprendizagem mais flexível e não contrariar a educação regular, e segundo o autor, essa educação fora do formato sistemático da escola pode se adaptar ao ritmo de cada um para aprender e as suas necessidades individuais. Devido à natureza da pedagogia social estar vinculada ao atendimento de grupos específicos, normalmente marginalizados, devemos tomar muito cuidado para entender a relação dessa ciência com a educação não-formal. Como explicamos, a pedagogia social acontece em espaços sociais múltiplos e ocorre fora dos ambientes escolares. Mas não quer dizer que a educação não-formal ocupa-se apenas com 150 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS grupos específicos, em situação de vulnerabilidade social. Por isso, fique atento, a educação não-formal envolve práticas da pedagogia social, mas ambos possuem propósitos específicos, contextos políticos e sociais e exigem metodologias diferentes. Além disso, talvez por ser chamada de “não-formal” podemos achar que não é importante, que faz parte de um segundo plano de educação, por isso reforçamos que todas as modalidades se complementam e se relacionam. Portanto, as diferentes modalidades de educação, ou seja, a educação informal, formal e não formal interagem entre si. Essas relações precisam ser discutidas, validadas e valorizadas no âmbito acadêmico, social e político para que possam ser compreendidas como um sistema fundamental para alcançarmos a educação integral do ser humano que A pedagogia social e a edu- cação não-for- mal, apesar de diferentes, se complementam e se relacionam. 151 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl tanto buscamos. E como educadores, qual é essa educação que devemos buscar? A verdadeira educação significa mais do que avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro. (WHITE, 1996, p. 13.) A pedagogia em espaços sociais múltiplos, em sua essência, refere-se ao processo educacional onde o ensinar e o aprender acontecem através das relações entre diferentes sujeitos, articulando conhecimentos e cultura. Lembrando que os espaços interferem no aprendizado, assim como as diversas interações que eles proporcionam, causam diferentes mudanças no comportamento das pessoas e consequentemente podem transformar a sociedade. Na modalidade de educação não formal, os espaços sociais e a comunidade constituem o referente aos procedimentos de ação educativa. Assim, podemosrelacionar a educação, a sociedade e a pedagogia. Demo (1998, p. 28) explica isso apontando a importância do contexto social: 152 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS [...] reforça a aprendizagem como processo de formação da competência humana política, mais do que apenas o substrato técnico- instrumental. Ao contrário do ensino, que se esforça por perpassar certezas, e que são reconfirmadas na prova, a educação social busca a necessária flexibilidade diante de uma realidade apenas relativamente formalizável, valorizando o contexto social que o aprendiz está inserido. (Demo, 1998, p. 28. Grifo nosso). Portanto, o foco da pedagogia social no âmbito educacional ultrapassa a questão tradicional de ensino e a educação individualizada. O olhar está voltado para a comunidade que o indivíduo está inserido, onde ele vive, onde ele precisa participar como cidadão e se sentir parte do contexto. Uma sociedade não é construída e muito menos consegue se sustentar de forma equilibrada sem educação e, apesar de não ser ainda valorizada e difundida Uma sociedade não é construída, e muito menos consegue se sustentar de forma equilibrada, sem a educação. 153 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl no Brasil, a pedagogia social têm um papel fundamental na construção da identidade de muitos grupos sociais, que são marginalizados e até mesmo passam como invisíveis na sociedade. Enfim, destacamos o papel do educador social, que é um profissional identificado por uma perspectiva social devido ao trabalho que ele desenvolve e por sua atuação de intervenção, que articula conhecimentos filosóficos, antropológicos e as ideologias (Petrus,1998). Acrescentamos a esses conhecimentos citados pelo autor, os conhecimentos pedagógicos, (inclusive na área de gestão), psicológicos e sociológicos. Mas, é importante você entender a diferença entre o educador social e o assistente social. O que fundamenta a atuação do educador social é a pedagogia social, através da qual ele vai interferir com projetos e ações socioeducativas num determinado contexto. O assistente social também atua no planejamento, gestão de programas sociais, mas com um olhar mais político, no sentido de ampliar o acesso aos direitos sociais e não com uma intenção pedagógica e educativa. É evidente o aspecto interdisciplinar complementar do trabalho do Educador Social. Além da graduação em pedagogia, a formação do pedagogo social acontece em cursos de especialização em pedagogia social, focados em formar profissionais para a 154 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS construção e implementação de propostas, projetos, planos, programas de educação social para intervenção socioeducativa. Sendo necessário, além do planejamento, a execução, o acompanhamento e avaliação dessas ações. ONDE O PEDAGOGO SOCIAL PODE ATUAR? O pedagogo social pode desenvolver suas práticas em instituições privadas, igrejas, centros comunitários, presídios entre outros. Como exemplo de suas ações podemos citar: a alfabetização de adultos em organizações não governamentais (ONGs), presídios e igrejas, a capacitação profissional e reforço de conteúdos escolares em centros comunitários etc. Neste trabalho, não existe um método específico, nem um projeto ou roteiro previamente estabelecido. A Educação Social age na formação política dos cidadãos, como fator de prevenção, controle e mudanças, promovendo o trabalho socioeducativo gerador de novos e melhores resultados sociais. O processo de Educação Social não segue uma metodologia específica; não há receita pronta, ou seja, cada novo encontro é diferente. Diante disso, o profissional que trabalha nessa modalidade de Educação 155 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl precisa estar sempre preparado para atuar com sabedoria, transparência e com espírito humano, pois é do educador que precisa partir o resgate da reconstrução da cidadania. Ele é peça fundamental no auxílio dos sujeitos a entenderem e transformarem suas vidas. (COFFERRI; NOGARO, 2010, p.18) O trabalho é planejado de acordo com a demanda da situação, daquele determinado momento, dos indivíduos e da necessidade emergente da realidade. A importância da educação social reside na percepção de valorização dos elementos que permitem questionar a realidade como um todo, bem como o desenvolvimento de aspectos que possam solucionar num determinado prazo esses problemas sociais sérios, que afetam a população como um todo, proporcionado pelo fato do indivíduo assumir sua posição de ator social ativo, conseguindo mobilizar o grupo social em que está inserido. (CARO E GUZZO, 2004, apud ROCHA, 2008, p. 7) As práticas educativas possibilitam que indivíduos socialmente excluídos tenham chances de serem integrados na comunidade ou no seu contexto social, e isso acontece através do conhecimento e da construção de algumas habilidades. Sobre o perfil do pedagogo social, Severino (1996, p. 11) explica que: 156 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS o educador que está se preparando para atuar profissionalmente no terceiro milênio deve ter um compromisso fundamental: o de investir radicalmente na construção da cidadania. É esse compromisso que deve então direcionar não só suas mediações formativas como também os rumos de sua intervenção social. Estou entendendo também que não cabe falar do pedagogo como se fosse um simples técnico, mera peça de uma engrenagem em funcionamento burocrático-administrativo do sistema de ensino. [...] Trata- se aqui de uma concepção de um profissional, sim, atuando num universo de mediações concretas, mas profundamente sensibilizado às significações mais profundas de sua prática de intervenção social (SEVERINO, 1996, p. 11). As Diretrizes Curriculares Nacionais (2005) descreve o perfil do pedagogo e logo no início da descrição aponta a responsabilidade profissional de atuar no desenvolvimento de uma sociedade onde todos tenham os mesmos direitos, e essa atuação deve acontecer tanto em espaços escolares como não escolares. atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária; trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo; identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e prepositiva em face de 157 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl realidades complexas, com vista a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras (BRASIL, 2005, p.131). Pelo breve histórico que vimos, a origem da pedagogia social evidencia que seu percurso sempre teve o foco de atender as classes sociais excluídas e marginalizadas. Isso exige do perfil do pedagogo social uma sensibilidade e percepção das necessidades específicas de cada grupo onde for atuar. O educador social de rua precisa de algumas características essenciais, muito mais de personalidade que técnico- profissionais, embora as duas sejam fundamentais. [...] É no corpo a corpo, no olho a olho cotidiano com esses meninos (as) que se pode revelam o acolhimento, o compromisso, a paciência, a competência, assim como os preconceitos, impaciências, rejeições ou rigidez comportamental ou perspectiva que o inabilitam para participar de uma Pedagogia Social de Rua desse tipo (GRACIANI, 1997, p.131) Agindo dessa forma, o profissional terá condições de desenvolver um projeto e um planejamento de ações que realmente sejam significativas e façam diferença para o grupo e espaço que for intervir. Esses espaços podem ser movimentos sociais, hospitais, empresas, instituições carentes, museus, casas comunitárias para crianças, adolescentes, adultos e 158 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS idosos, organizações não governamentais, entre outros, onde ocorrem relações interpessoaiscom características educativas. A pedagogia social, com seus princípios e ações, apesar de não ser tão reconhecida e valorizada no Brasil exerce um significativo papel social e acredita-se que o pedagogo “possua as competências necessárias para que sua atuação seja enriquecedora e objetiva para os educandos, para a instituição e para si mesmo” (COFFERRI; NOGARO, 2010, p. 19). Gohn (2011), apresenta um conceito amplo para educação não-formal, para a autora, a educação não-formal se subdivide em diversas áreas: a conscientização acerca dos direitos individuais e sociais, a formação e preparo para o trabalho, resolver e discutir os problemas da comunidade, os conteúdos curriculares propostos pela escola, a educação midiática e a educação para qualidade de vida. Ou seja, vai além do papel da pedagogia social cujo foco é o atendimento social a classes mais vulneráveis e marginalizadas. Importante destacar que, segundo a autora, uma das caraterísticas da educação não- formal é que os processos de aprendizagem nestes espaços acontecem através de interação entre as pessoas, pois assim se tornam capazes de gerar e acumular aprendizados, pois são construídos coletivamente (p. 104). Ou seja, a educação não-formal alia-se a pedagogia social ao destacar o vínculo 159 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl entre a educação e as práticas sociais no sentido de promover aprendizagens fora do ambiente escolar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudamos nessa etapa que os conhecimentos pedagógicos são ferramentas que favorecem e facilitam as intervenções educativas em diversas situações. Inclusive nos processos educativos não formais, nos quais, cabe a intervenção do pedagogo para dar significado e sentido aos processos, organizando-os de acordo com a necessidade do contexto histórico, cultural e social. A educação não-formal precisa de validação social, tanto para legitimar o processo como para organizar a implementação. Por isso, é necessário nesse contexto o planejamento das propostas e das ações. Cabe também os processos avaliativos para reorientar a aprendizagem e fornecer feedbacks, ou seja, se os objetivos estão sendo realmente alcançados. Também aprendemos que a educação não formal consolida a pedagogia social, pois práticas socioeducativas aplicadas na pedagogia social fazem parte da educação não formal. A origem da pedagogia social está relacionada com as necessidades 160 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS sociais que emergiram do período pós-guerra na Europa. E no Brasil, apesar de não ser tão disseminada ainda, tomou forças com a teoria de Paulo Freire na década de 1960 e na sua luta por uma educação democrática e transformadora. Em sua prática, cabe ao pedagogo planejar e coordenar os programas e projetos, através de ações intencionais, nas áreas de: saúde, meio ambiente, trânsito, recreação, qualificação para o trabalho, relações sociais, prevenções entre outras. Também deve acompanhar a execução dos projetos e criar estratégias para avaliar os resultados. Teve sua origem a partir das necessidades da sociedade para suprir o que o governo e nem a educação formal estava alcançando, tem em suas características uma abordagem educativa, informal, mas que objetiva promover a formação do indivíduo para viver e contribuir na sociedade que está inserido. RESUMO Nesta unidade aprendemos: • Sobre as práticas educativas desenvolvidas pelos pedagogos em ambientes não formais de aprendizagem. Estudamos como cada ambiente carrega características específicas e com isso 161 PRáTICAS NA EDUCAçãO NãO FORMAl exige diferentes papéis do pedagogo, acarretando mudanças em suas ações para atender os objetivos propostos de cada contexto. Dessa forma, o perfil do pedagogo se reveste de diferentes caraterísticas tornando-se um profissional que chamamos de “multifacetado”. O profissional utiliza seus conhecimentos pedagógicos como instrumentos que promovem intervenções educativas em diversas situações na modalidade da educação formal, e isso não é diferente nos processos educativos que acontecem nas modalidades não formais. Nesses espaços, aprendemos que o pedagogo atua conferindo significados e sentido para as experiências e regulando todas as práticas educativas numa construção constante e integrada ao contexto histórico, cultural e social. • O planejamento e os procedimentos de avaliação são fundamentais também em ambientes não formais. Na modalidade formal, ou seja, na escola, o planejamento e avaliação são instrumentos que direcionam a aprendizagem e na educação não formal também possuem esse papel. A educação não formal carece de formalização social, tanto para legitimar os projetos como para organizar a implementação deles, cabendo nesse contexto o planejamento das propostas e processos avaliativos, para orientar a aprendizagem e fornecer feedbacks dos resultados. 162 PEDAGOGIA EM ESPAÇOS SOCIAIS MÚLTIPLOS • Origem, papel, importância da pedagogia social, e sua relação com os espaços não formais de educação. Algumas práticas socioeducativas aplicadas na pedagogia social fazem parte da educação não formal. A educação não- formal consolida a pedagogia social, mas não são a mesma coisa, pois possuem objetivos e características específicas. REFERÊNCIAS AQUINO, S. L. de. O Pedagogo e seus espaços de atuação nas representações sociais de egressos do curso de Pedagogia. Minas Gerais, 2011, 189p. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Viçosa. Disponível em: https://locus.ufv.br// handle/123456789/3425. Acesso em: 12 mai. 2021. 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