Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fabiana Dantas Turino Lesões físicas e químicas da mucosa oral - Cap. 8 - Parte 1 Aula 11 – Bloco 1 – Patologia 1 Nessa aula iremos falar sobre: • Linha Alba • Morsicatio Buccarum • Ulcerações traumáticas • Queimaduras elétricas e térmicas • Lesões químicas à mucosa oral • Necrose anestésica • Queilite exfoliativa • Trauma por práticas sexuais É uma alteração muito comum que surge por pressão, irritação ou trauma de sucção na superfície vestibular. • É uma linha branca bilateral • Que se estende por toda mucosa jugal na linha de oclusão • A linha alba pode ser festonada ou proeminente. Além disso, pode apresentar áreas dentadas • Geralmente detectada em mulheres • Não necessita de biópsia • Tratamento: Somente acompanhamento clínico. Caso haja ulcerações deve-se identificar os dentes mal- posicionados. Figura 1 - Linha Alba - Linha branca leucoplásica na mucosa jugal em área de oclusão Figura 2 - Microscopia - Observa-se o epitélio pavimentoso estratificado paraqueratinizada apresentando uma maior espessura (aumento da camada espinhosa – acantose), aumento da camada de paraqueratina (deixando a lesão esbranquiçada), além de células com volume aumentado e citoplasma esbranquiçado, que representa a entrada de edema/liquido intracelular, causado pelo trauma da mastigação. Refere-se a mastigação crônica da bochecha, onde veremos: • Lesão da mucosa jugal anterior bilateral • São lesões induzidas por estresse ou quadros psicológicos • Comum em mulheres acima dos 35 anos • As lesões são caracterizadas clinicamente como áreas brancas, espessadas e fragmentadas, entremeadas a zonas eritematosas, com erosão ou ulceração. Essa superfície acometida fica dilacerada, e o paciente relata que consegue realizar a remoção de fragmentos. • Tratamento: Eliminação da causa = acompanhamento psicológico para eliminar o hábito da mastigação crônica • Quando a mastigação crônica ocorre na mucosa labial a denominação correta é morsicatio labiorum; E quando a mastigação crônica ocorre na borda lateral da língua a denominação correta é morsicatio linguarum. Figura 3 – Morsicatio buccarum – Áreas esbranquiçadas e espessadas, com alguns pontos de hemorragia pelo trauma Figura 4 – Morsicatio buccarum – Em região de mucosa jugal anterior Figura 5 - A) Morsicatio labiorum; B) Morsicatio linguarum Fabiana Dantas Turino Figura 6 - Microscopia de Morsicatio buccarum - Observa-se a mucosa revestida por epitélio pavimentoso estratificado paraqueratinizado, com grande formação de queratina chamada de hiperparaqueratose. Além de colônias bacterianas associadas e superfície dilacerada por causa do trauma da mastigação crônica. Figura 7 - Camada extensa de paraqueratina (hiperparaqueratose), colônia de bactérias, e as células com edema intracelular e aspecto balonizante em decorrência ao trauma. É importante que diferenciamos as ulcerações traumáticas das ulceras que popularmente conhecemos como afta, que tem etiologia imunológica. As ulcerações traumáticas, como o nome já diz, são causadas por um trauma. Dividimos as ulcerações traumáticas em: • Úlcera traumática simples: Geralmente associada a um dente fragmentado/remanescente radicular que irá causar uma ulcera na mucosa. • Úlcera eosinofílica (granuloma traumático): Úlcera mais profunda que pode assumir aspectos semelhantes a neoplasias que também acontecem na mucosa oral. São variantes da úlcera eosinofílica: Doença de Riga-Fede Úlceração eosinofílica atípica • São lesões comuns que podem ser agudas ou crônicas • Fonte de irritação adjacente, que geralmente é um dente • Localizações mais comuns são língua, lábios e mucosa jugal Podem ocorrer de forma secundária em lesões pré- existentes, ou seja, o paciente apresenta uma exostose óssea que está sendo traumatizada pela alimentação, resultando em úlcera traumática simples secundária. • Tratamento: Remoção da causa Figura 8 - Dente fraturado com borda bem pronunciada, causando a úlcera traumática na mucosa labial inferior. Na úlcera vemos uma área de eritema circundando uma área central recoberta por membrana fibrinopurulenta amarelada e destacável. Figura 9 – Casos de úlceras traumáticas simples, em todas vemos um halo esbranquiçado ao redor e um centro necrótico com membrana fibrinopurulenta recobrindo a lesão - A) Lesão na superfície da língua associada a dente; B) Lesão de úlcera traumática simples secundária em região de exostose óssea solitária palatina; C) Lesão de úlcera traumática simples na mucosa jugal associada a mordida; D) Lesão de úlcera traumática simples em região de fundo de vestíbulo associada ao uso de uma prótese total removível mal adaptada. Figura 10 – Microscopia da lesão de úlcera traumática simples - Podemos observar uma área de descontinuação do epitélio, onde ele é perdido, que é a área de úlcera. Logo, temos um epitélio pavimentoso estratificado paraqueratinizado, que quando chega na área central de úlcera observamos perda do revestimento epitelial. Na área de tecido de granulação (área de inflamação) vemos a formação de necrose com rede de fibrina originando a membrana fibrinopurulenta e muito infiltrado inflamatório rico em neutrófilos (também observamos linfócitos e histiócitos) e debris celulares. • É uma úlcera crônica traumática, a qual podemos chamar de processo inflamatório crônico com ulceração e eosinofilia. • Apresenta uma reação inflamatória profunda e regressão lenta (1 semana a 8 meses). • Geralmente ocorre em homens sem predileção de idade Fabiana Dantas Turino • Ocorre com maior frequência na língua, e também em gengiva, mucosa jugal, assoalho de boca, palato e lábio menos frequentes. • O aspecto clinico é muito semelhante a uma ulceração traumática simples, mas pode ocorrer formação de lesão elevada ulcerada, devido a formação exuberante de tecido de granulação. • Geralmente regride após a biópsia incisional Figura 11 - Úlceras eosinofílicas – A) Úlcera crateriforme na borda lateral da língua; B) Úlcera na mucosa jugal; C e D) Lesões facilmente confundidas com carcinoma de células escamosas. A imagem C é uma lesão grande na borda lateral de língua recoberta por membrana fibrinopurulenta, e imagem D é uma lesão exuberante com proliferação exofilica (para fora) da mucosa, com presença de tecido de granulação ulcerado com áreas mais esbranquiçadas Quando ela ocorre em bebês é chamada de doença de Riga-Fede: • Variação da úlcera eosinofílica • Entre 1 semana e 1 ano de idade • Ocorre no ventre de língua ou anterior • Surge devido a presença de dentes natais ou neonatais, que resultam em úlceras na língua (A língua movimenta durante a amamentação) • As lesões são dolorosas e atrapalham a amamentação do bebê Figura 12 - Doença de Riga-fede Figura 13 - Microscopicamente vemos acantose (aumento da camada espinhosa), hiperparaqueratose bem proeminente, e área de descontinuidade do tecido epitelial representando a úlcera. Há logo abaixo um infiltrado inflamatório bem profundo, chegando até os feixes de fibras musculares, nesse infiltrado inflamatório na região de tecido de granulação observamos a presença de linfócitos, histiócitos e eosinófilos (núcleo binucleado, com citoplasma bastante rosado - eosinofilico) Figura 14 - Úlcera eosinofilíca – Lesão bem amarelada coberta por membrana fibrinopurulenta que apresentou regressão após a biopsia incisional • As queimaduras elétricas são menos comuns do que as térmicas • Tipos de transmissão do impulso elétrico: contato e arco • Na cavidade oral o impulso elétrico é em arco, ele precisa de um meio de condição, então a saliva será esse meio de condução elétrica. • A principal causa é a mastigação de fio elétrico • Relatada em crianças de 2 a 4 anos de idade • Geralmente observamos essas queimaduras elétricas em lábios e comissura • Observamos clinicamenteárea indolor, carbonizada e amarelada seguido por edema (pode ser persistente por até 2° semanas) • Após a 4° dia ocorre a necrose. Figura 15 - Queimadura elétrica Figura 16 - Queimadura elétrica em região de comissura e lábios. Foi necessário desbridamento cirúrgico, onde podemos ver na segunda imagem a cicatrização de pele e mucosa • São mais comuns e se formam a partir da ingestão de alimentos e bebidas quentes Fabiana Dantas Turino • Ocorrem na maioria das vezes no palato ou mucosa jugal posterior • Observamos clinicamente áreas de eritema e ulceração central recoberta por membrana fibrinopurulenta • Na anamnese devemos perguntar ao paciente se houve ingestão de bebida quente, para assim associar a ocorrência da lesão a causa • Tratamento: Identificação da causa, e as vezes se faz necessário o uso de algum corticoide tópico. Figura 17 - A) Queimadura térmica no palato B) Queimadura térmica no palato com membrana fibrinopurulenta mais espessa; C) Queimadura térmica no lábio causada por ingestão de líquido através de um canudo metálico Elas lesões também são queimaduras, mas são causadas por substancias químicas e drogas cáusticas. • Muitas dessas lesões químicas são causadas por automedicação para resolução de problemas orais. Medicamentos tópicos para dor de dente e úlceras orais Produtos para clareamento dentário (peróxido de hidrogênio ou peróxido de carbamida) Aspirina, bisfosfonatos, clopromazina e promazina • Pacientes com problemas psiquiátricos que fingem que deglutiram os comprimidos podem ter essas lesões químicas • Comum com os medicamentos utilizados por profissionais de saúde Nitrato de prata, formocresol, hipoclorito de sódio (irrigação do canal radicular), paraformaldeído, ácido crômico, ácido tricloracético, vernizes cavitários e materiais para ataque ácido. • Caracterizada clinicamente por uma lesão branca de fácil destacamento do epitélio Exposição de tecido conjuntivo e com uma membrana fibrinopurulenta recobrindo a lesão. Figura 18 - Lesão química causada por Aspirina (AAS) o comprimido/pó mantido na boca, levando a necrose da mucosa. Observamos uma extensa queimadura de aspirina, com epitélio se destacando da mucosa facilmente quando manipulado. Figura 19 – Lesão química causada por peróxido de hidrogênio, era utilizado para prevenção de periodontite (década de 70) em diluição, porém seu uso indiscriminado em doses não recomendadas (concentração superior a 3%) levou a necrose epitelial. A partir de concentrações de 1% já são possíveis observar necrose epitelial. Clinicamente observamos lesões brancas (epitélio necrosado), com áreas eritematosas e fragmentos de epitélio solto. Figura 20 - Lesão química causada por clareamento dental. A) Observamos mucosa com áreas esbranquiçadas de necrose e epitélio solto; B) Área de edema extensa e membrana fibrinopurulenta, e necrose na gengiva associada ao incisivo centrais superiores e papila interdental. Figura 21 - Lesão química causada por fenol, que é usado comum esterilizador de cavidades e cauterizador, e também como medicamentos para tratamento de úlceras orais. Se o fenol for utilizado de forma indiscriminada ocorre a necrose extensa da mucosa (raramente afeta o osso alveolar). Observamos áreas avermelhadas eritematosa com epitélio descamando da mucosa jugal, fundo de vestíbulo e rebordo alveolar. Fabiana Dantas Turino Figura 22 - Lesão química causada por substâncias endodônticas. Paraformaldeido (medicação intracanal) leva a necrose da gengiva e osso alveolar, ocasionada pelo extravasamento pela câmara pulpar. Formocresol e hipoclorito de sódio (irrigantes) leva a necrose gengival e osso alveolar, ocasionada pelo extravasamento para tecidos adjacentes e ápice. A) Necrose do tecido mucoso e osso alveolar devido extravasamento de hipoclorito de sódio pelo canal radicular; B) Necrose da gengiva devido extravasamento de formocresol (dentro do curativo deve ter uma bolinha de algodão embebida em formocresol) Figura 23 - Lesão química de queimadura por uso de cocaína, esfregaço da droga na mucosa para ter absorção mais rápida. Observamos necrose superficial do epitélio e áreas eritematosas na gengiva. Figura 24 - Lesão química de queimadura por rolo de algodão. Pode ocorrer de duas formas: Rolinhos de algodão seco aderido a mucosa; ou escoamento de substâncias caústicas para o rolo de algodão. Observamos em ambos os casos o epitélio descamativo necrosado e uma área eritematosa na gengiva. Figura 25 – Histologia: Lesão química de queimadura por rolo de algodão. Histopatologia • Necrose de coagulação do epitélio Inicio na superficie Extensão depende do tempo de contato e da concentração do irritante • Tecido conjuntivo com infiltrato inflamatório misto agudo e crônico • São ulcerações e necrose na área de injeção do anestésico • Causa desconhecida x isquemia localizada • Geralmente ocorre no palato duro, pois a mucosa do palato duro é muito fina e é muito próxima ao osso, então a anestesia rápida e de grande quantidade nesse local pode necrosar a região. • Caracterizada como uma ulceração bem circunscrita no local da injeção • Tratamento: Tratamento de suporte e aguardar a regeneração da mucosa Figura 26 - Necrose anestésica É uma fissura e descamação persistente do lábio. Ocorre devido a produção excessiva e descamação da queratina superficial, induzida pelo trauma crônico dos lábios. • É comum em pacientes que tem algum distúrbio psiquiátrico, crise de ansiedade, depressão devido a mordedura dos lábios de forma inconsciente. Ou seja, surge por causa de trauma crônico secundário e hábitos Queilitite facticial – trauma crônico Distúrbios psiquiátricos • Quando não há evidência de trauma crônico nós devemos excluir as lesões: candidíase, queilite actínica, queilite angular, Hipervitaminose A e fotossensibiidade. • Observada em mulheres abaixo dos 30 anos • O lábio tem esse aspecto de secura crônica, descamação e fissura da borda do vermelhão do lábio Progressão: crosta hiperqueratótica amarelada e espessa • Tratamento: Eliminação da causa e psicoterapia Fabiana Dantas Turino Figura 27 - Queilite exfoliativa • Práticas sexuais orogenitais – 90% da população jovem (menos de 25 anos) • Incidência baixa de lesões, porém pode ocorrer em virtude da frequência dessas práticas e repetição. • Nós observamos duas lesões basicamente: 1. Lesão no palato: Observamos a formação de petéquias avermelhadas/hemorragia submucosa do palato secundárias à felação. A pressão negativa leva ao rompimento de pequenos vasos acarretando a hemorragia submucosa. Essas lesões são muitos semelhantes as que podem ser induzidas pela tosse, vômito ou por sucção vigorosa de canudos ou copos. Não requer tratamento (regressão em 1 a 10 dias) e as recidivas podem ocorrer 2. Lesão no freio lingual: Observamos ulcerações (ou até mesmo hiperplasia) horizontais do freio lingual secundária à cunilíngua Ocorre porque o freio lingual bate na borda dos incisivos, e leva a formação dessa área de ulceração. Com o trauma repetido vemos a formação de uma área de hiperplasia fibrosa. Há regressão em 7 a 10 dias Figura 28 - Lesão clássica por felação - Observamos eritema, petéquias, púrpura ou equimoses no palato mole. São assintomáticas. Não requer tratamento (regressão em 1 a 10 dias) e as recidivas podem ocorrer. Figura 29 - Trauma da língua na borda dos incisivos. Ulceração coincide com a borda dos incisivos. Há regressão em 7 a 10 dias. O ato repetido leva a formação da área de hiperplasia fibrosa
Compartilhar