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LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA APLICADA Maíra Laurença Geia Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer os conceitos de consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística. � Verificar as possibilidades de aplicação desses recursos na gestão dos espaços urbanos. � Analisar a eficiência desses recursos no controle do uso do solo urbano. Introdução As normas das políticas urbanas são criadas e aplicadas a fim de garantir a função social da propriedade urbana, aumentando a disponibilidade de imóveis em áreas centrais. A administração pública municipal tem o dever de promover as políticas de desenvolvimento urbano, entre elas, a destinação das propriedades urbanas ao atendimento das funções sociais da cidade, prevista no art. 182 da Constituição Federal de 1988, e ao bem-estar dos habitantes. O Plano Diretor determina os parâmetros quanto à edificação, par- celamento e outros instrumentos. Contudo, houve a necessidade de estipular algumas sanções pelo desatendimento da função social da propriedade urbana. Neste capítulo, vamos abordar os instrumentos de política urbana denominados consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística. Veremos seus conceitos, exemplos e aplicações. Os instrumentos de política urbana O conceito de propriedade passou por muitos ajustes durante a história da humanidade. No Brasil, as transformações sociais, econômicas e urbanas refletiram diretamente nesse conceito e nas políticas que surgiram para sua salvaguarda. As Constituições de 1824 e 1891 se limitavam a garantir o direito de propriedade pleno, sem referência ao interesse social ou coletivo no seu uso. Em 2001, o Estatuto da Cidade regulamentou um capítulo de política urbana, compreendendo os arts. 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, e se tornou uma das bases do direito urbanístico, fundamentando o princípio da função social da propriedade e atribuindo aos municípios o poder de resolver assuntos urbanísticos que se referem à sociedade local por meio dos instrumentos de política urbana (SILVA, 2012). Conforme o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante a: [...] garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2001, documento on-line). Isso é feito por meio da gestão democrática, da cooperação entre governos, da iniciativa privada e demais setores da sociedade no processo urbanizador, buscando o: [...] planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do cresci- mento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (BRASIL, 2001, documento on-line). Os instrumentos de política urbana são vários. Você vai ver agora o con- sórcio imobiliário urbano, o IPTU progressivo no tempo e as desapropriações- -sanção urbanísticas. Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística2 Consórcio imobiliário urbanístico O Estatuto da Cidade estabelece normas de ordenamento público e de inte- resse social que regulam o uso da propriedade urbana em interesse do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos. Ele prevê a viabilização do parcelamento ou edificação compulsórios pelo emprego do consórcio imobiliário urbanístico, buscando um melhor aproveitamento do espaço urbano já consolidado e dos vazios urbanos resilientes. A concessão urbanística permite construir constituir em um modelo domi- nante de atuação, que poderá gradualmente substituir o tradicional sistema de loteamento privado, que é muito mais difundido nacionalmente como forma de parcelamento do solo. O consórcio imobiliário urbanístico é a técnica de intervenção urbana alternativa à desapropriação, mostrando-se mais adequada em determinadas situações, pois propõe a produção de unidades imobiliárias de acordo com o planejamento urbano de cada município, viabilizando os planos de urbanização ou edificação (PINTO, 2013). A aplicação desse instrumento de política pública ocorre quando o proprie- tário transfere seu imóvel para o poder público municipal, que o incorpora. A partir desse ato, a prefeitura realiza as obras e projetos de melhorias. Como forma de pagamento, o município cede ao proprietário unidades imobiliárias devidamente urbanizadas ou edificadas. No caso da terra a ser consorciada ser de propriedade pública, cabe ao titular da mesma, seja o Estado ou a União, ou ao município elaborar o projeto urbanístico, realizar as obras de urbanização e transferir de forma gratuita ou onerosa os lotes regularizados aos ocupantes. Por fim, se os lotes forem terrenos privados, a atuação do consórcio torna-se mais complexa, devendo ocorrer por meio da titulação dos moradores, pela elaboração do projeto e execução das obras. De acordo com Pinto (2017): O consórcio pode ser considerado uma modalidade de land readjustment, ou reparcelamento do solo, técnica de urbanização amplamente empregada na Europa e na Ásia, e que na América Latina foi adotada pela Colômbia. Entre outras situações objeto de reparcelamento, destaca-se a reurbanização do en- torno de estações de transporte coletivo, a reconstrução de áreas atingidas por desastres e a renovação de áreas degradadas (PINTO, 2017, documento on-line). O consórcio imobiliário pode ser empregado em conjunto com outros ins- trumentos de caráter negocial, como a transferência do direito de construir, ou pode ser impositivo, como a requisição civil e a intervenção do poder público em parcelamento clandestino ou irregular, de acordo com a Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017. 3Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística Quando o consórcio imobiliário é utilizado concomitantemente com a transferência do direito de construir, sugere-se ao proprietário que faça a transferência para outro imóvel de sua propriedade ou que aliene a terceiros o direito de construir do imóvel a ser regularizado. Se associado ao uso da requisição civil e/ou da intervenção, é realizada a execução da regularização à revelia do proprietário, buscando eliminar perigo público iminente ou assegurar os padrões de desenvolvimento urbano do município e defender os direitos dos adquirentes de lotes. Embora a requisição não se confunda com o consórcio imobiliário, visto que não exige acordo de vontades, é recomendável que o consórcio seja oferecido aos proprietários de imóveis requisitados, mesmo que posteriormente, sempre que a remoção dos riscos (sanitários, ambientais e de defesa civil) exigir a substituição das unidades imobiliárias existentes. Veja na Figura 1 um exemplo de aplicação do consórcio imobiliário urbano. Figura 1. Exemplo de consórcio imobiliário urbano. Fonte: São Paulo (2014). CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO O proprietário do imóvel ocioso poderá propor à Prefeitura uma parceria: o CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE A Prefeitura pode parcelar o imóvel A Prefeitura pode edi�car o imóvel O proprietário receberá parcelas do terreno com valor correspondente ao valor do imóvel antes das obras realizadas O proprietário receberá unidades imobiliárias com valor correspondente ao valor do imóvel antes das obras realizadas PROPRIETÁRO DO IMÓVEL OCIOSO PREFEITURA TRANSFERÊNCIA DO IMÓVEL Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística4Na Figura 1, você pode verificar as formas de intervenção desse instru- mento, em lote urbano não edificado e em edificações subutilizadas, a fim de solucionar o não cumprimento da função social da propriedade do solo urbano. O projeto Nova Luz, na cidade de São Paulo, foi um dos pioneiros da experiência nacional de aplicação de con- sórcio imobiliário urbanístico. Ele foi desenvolvido pela prefeitura e um consórcio entre quatro empresas. Veja mais sobre esse projeto no link ou no código a seguir. https://goo.gl/XxPn47 IPTU progressivo no tempo O IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) progressivo no tempo é um instrumento de política urbana visto como uma consequência do instrumento chamado parcelamento, edificação e utilização compulsória (PEUC), pre- visto no Estatuto da Cidade (art. 7º, da Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001), que permite ao município aumentar progressivamente o valor da alíquota do IPTU de um imóvel. Trata-se basicamente de um instrumento que busca coibir a ociosidade de imóveis nas regiões centrais da cidade e em vazios urbanos. A medida serve para impor aos proprietários dar uso aos imóveis, não os mantendo abandonados, vazios, sem edificação ou sem parcelamento. Para que haja a implementação do IPTU progressivo, ele deve estar previsto no Plano Diretor em vigor, com o estabelecimento de critérios de utilização da propriedade nas diferentes áreas da cidade e da forma de aplicação, expondo os prazos e alíquotas a serem estabelecidos ao proprietário. É recomendado aos municípios realizar a atualização da planta genérica de valores, que serve para que o IPTU seja cobrado sobre uma base justa. Também é recomendada a revisão do cadastro imobiliário municipal, que deve ser informatizado, organizando as informações e integrando os setores de tributação e desen- volvimento urbano. As áreas passíveis de aplicação desse instrumento devem estar especificadas no Plano Diretor, que também deve definir quais as formas de enquadramento de um imóvel em subutilização para cada área da cidade. 5Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística https://goo.gl/XxPn47 Considera-se subutilizado o imóvel cujos índices urbanísticos de aproveitamento sejam inferiores ao mínimo estabelecido no Plano Diretor ou em legislação dele decorrente, para a região da cidade onde esteja situado o imóvel em análise. Por meio desses critérios, há a possibilidade de identificar o cumprimento ou não da função social de cada propriedade. Os artigos 156 e 182 da Constituição Federal de 1988 autorizam os municípios a aplicarem alíquotas progressivas de IPTU em duas situações: em relação ao valor venal do imóvel, sua localização e uso; e em relação à “progressividade no tempo”, que penaliza o proprietário do imóvel sem uso devido de sua propriedade de acordo com o cumprimento da função social da propriedade. O descumprimento das condições e dos prazos previstos no Plano Diretor ou o não cumprimento das etapas autoriza o município a aplicar o IPTU pro- gressivo no tempo. O valor da alíquota a ser aplicado a cada ano será fixado no Plano Diretor e não poderá exceder o dobro do valor referente ao ano de exercício anterior, conforme §1º do artigo 7º do Estatuto da Cidade. Passado o prazo de cinco anos, se não for atendida a obrigação de parcelar, edificar ou utilizar, o município poderá manter a cobrança da alíquota máxima até que se cumpra a obrigação por parte do proprietário, podendo o município ainda aplicar a desapropriação do imóvel com pagamento da indenização por meio de título da dívida pública. As aplicações das alíquotas progressivas no tempo têm por objetivo garantir que esse instrumento de política urbana estimule os proprietários a colocar no mercado os seus imóveis e que se cumpra a função de social da propriedade urbana. Veja na Figura 2 um exemplo de aplicação do IPTU progressivo no tempo. Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística6 Fi gu ra 2 . E xe m pl o de a pl ic aç ão d o IP TU p ro gr es siv o no te m po . Fo nt e: S ão P au lo (2 01 4) . IP TU P RO G RE SS IV O N O T EM PO En qu an to o p ro pr ie tá tio d o im óv el o ci os o nã o se a de qu ar à s o br ig aç õe s p ar a qu e se u im óv el c um pr a a fu nç ão s oc ia l d a pr op rie da de , o se u IP TU ir á au m en ta r a nu al m en te : Ca so o im óv el p er m an eç a oc io so p as sa do s 5 a no s d a co br an ça d o IP TU P ro gr es si vo n o Te m po , A P RE FE IT U RA P O D ER Á D ES A PR O PR IA R O IM Ó VE L M ED IA N TE P AG A M EN TO E M T ÍT U LO S D E D ÍV ID A P Ú BL IC A so br e o va lo r do im óv el x2 x2 x2 so br e o va lo r do im óv el so br e o va lo r do im óv el so br e o va lo r do im óv el * V al or es d e po rc en ta ge ns ex em pl i� ca tiv os so br e o va lo r do im óv el PA G A M EN TO : IP TU + 2 % * PA G A M EN TO : IP TU + 4 % * PA G A M EN TO : IP TU + 8 % * PA G A M EN TO : IP TU + 1 5% PA G A M EN TO : IP TU + 1 5% LI M IT E M ÁX IM O = 1 5% 7Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística A aplicação desses instrumentos urbanísticos deve ocorrer através do poder público municipal. Porém, não havendo a aplicação por parte dos municípios, o Ministério Público Estadual ou Federal pode notificar as prefeituras, como ocorreu na cidade de São Paulo, em 2016, gerando inú- meras discussões acerca da sua aplicabilidade. Veja mais sobre o assunto acessando o link ou o código a seguir. https://goo.gl/bFdNqY Quanto à incidência do IPTU progressivo, segundo Silva (2012), embora se refira ao imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana, o instru- mento se aplica unicamente ao solo. Em outras palavras, ele se aplica apenas à propriedade territorial, e não à propriedade predial, uma vez que se trata da obrigação de haver aproveitamento adequado do solo. Um material bastante interessante sobre o IPTU progres- sivo no tempo está disponível no link e no código a seguir. Nele você poderá conferir a definição, a aplicação, as análises e ver exemplos desse instrumento de política urbana. https://goo.gl/38PKqr Desapropriação-sanção urbanística Instrumento presente na legislação brasileira desde o século XIX, quando foi promulgada a Lei da Desapropriação, em 9 de setembro de 1826, a desa- propriação tinha, inicialmente, o caráter de “[...] utilidade pública para obras de comodidade geral e decoração pública” (SILVA, 2012, p. 54). Em 1936 a Constituição Federal é revisada, gerando a Lei nº 57, com o objetivo de: Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística8 https://goo.gl/bFdNqY https://goo.gl/38PKqr [...] utilidade municipal ou provincial para a abertura ou melhoramento de estradas, canais, portos, aguadas, construção de pontes, ranchos ou servidões e comodidades necessárias ao uso destes objetos, bem como abertura ou melhoramento de ruas, praças decorações, monumentos, aquedutos, fontes e logradouros públicos (SILVA, 2012, p. 54). Em 1937, a desapropriação foi inserida no Decreto-Lei nº 25/37, sendo direcionada como uma das soluções para a preservação do bem tombado, caso o proprietário não tenha recursos financeiros para obras necessárias. Porém, antes da desapropriação, e tendo ciência da condição do proprietário, o IPHAN (na época do decreto, SPHAN) deveria prover projetos e obras nesse bem, a expensas da União. A Constituição de 1988 expande a atuação desse instrumento ao inserir os contextos de necessidade pública e interesse social. O art. 22 traz como competência privativa da União a função de legislar sobre a desapropriação. No CapítuloII, sobre política urbana, a desapropriação é citada como forma de promover o adequado aproveitamento do solo urbano não edificado, su- butilizado ou não utilizado. Com a promulgação do Estatuto da Cidade, em 2001, a desapropriação é considerada um instituto jurídico e político para auxiliar na ordenação, na elaboração e na execução da política municipal, afetando diretamente o direito de propriedade privada. Pode ser utilizada para diversas formas de interven- ções sociais e, dentro do estatuto, é disciplinada como sanção nos casos de má utilização ou não utilização do solo urbano, o que exige a indenização em dinheiro. Seu uso deve ser efetuado quando os demais recursos não demonstrem efetividade, sendo comumente vinculado ao IPTU progressivo no tempo. As desapropriações destinam-se à viabilização de reformas urbanas, de acordo com o Estatuto da Cidade. É um processo lento e formal, que inicia pela notificação do proprietário, que deve dar uma destinação social ao seu imóvel. Caso essa notificação não seja atendida, o município pode aplicar o aumento anual do valor do IPTU, por um período de cinco anos. Somente após esse tempo, e caso o proprietário não garanta o uso adequado do imóvel, a desapropriação é passível de aplicação. No Estatuto da Cidade, a desapropriação é pensada em forma de sanção, e deve ser utilizada para propiciar a reforma urbana. A administração local deve desenvolver legislação específica sobre sua finalidade, meios e justificativas de sua aplicação, em áreas ou imóveis isolados, garantindo a sua eficácia. O Decreto-lei nº 3365, de 21 de junho de 1941, tornou possível a desapropriação quando a área é declarada de utilidade pública, desde que ela se enquadre em uma das situações dispostas no art. 5º dessa legislação. Áreas inteiras podem 9Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística ser desapropriadas, inclusive a vizinhança de imóvel, ou imóveis. Nesse caso, a indenização é direcionada pelo princípio da justa distribuição de benefícios e ônus da atividade urbanística. Você pode ler o Decreto-lei nº 3365/1841, sobre Desa- propriações por utilidade pública, acessando o link ou código a seguir: https://goo.gl/9oZtE7 Percebe-se, portanto, que a desapropriação está mais bem pensada dentro do direito urbanístico, ainda que não tenha sido desenvolvida de maneira mais atuante no Estatuto da Cidade. Seu conceito retoma a desapropriação tradicional, diferindo-se na forma de pagamento: a transferência compulsória da propriedade do proprietário ao poder público é ação decorrente do domí- nio do interesse público, portanto, é uma forma de expressão de poder do público sobre o proprietário a fim de atender necessidades coletivas. Após a desapropriação, o município tem cinco anos para promover a adequação do bem desapropriado, a fim de devolver sua função social. Caso essa exigência não seja cumprida por parte do município, o administrador pode responder por improbidade administrativa, nos termos da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, podendo retroceder a posse do imóvel ao antigo dono. A desapropriação é o mais drástico instrumento utilizado pelos municípios, pois nesse caso acontece a transferência compulsória de um bem do proprietário (particular) para o patrimônio público municipal ou para outro proprietário, mediante reposição financeira. A desapropriação, por ser medida extrema- mente invasiva, só poderá ser utilizada em casos previamente definidos pelo legislador municipal, que objetiva, por meio desse instrumento, combater a especulação imobiliária e induzir a utilização de áreas da cidade já dotadas de infraestrutura urbana. Os instrumentos de política urbana aqui apresentados demonstram os meios pelos quais os municípios podem gerir o espaço urbano, com parcerias, chamadas de consórcios, penalizações financeiras, como o IPTU progressivo Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística10 https://goo.gl/9oZtE7 1. O déficit habitacional é um dos principais problemas enfrentados pelos cidadãos das grandes cidades no Brasil. Estima-se uma deficiência de 6,2 milhões de moradias em todo o país, dados do IBGE em 2015. Em uma das maiores capitais no Brasil, São Paulo, o número de invasões e ocupações em prédios abandonados nas áreas centrais da cidade é considerável. A Constituição Federal de 1988, que garante o acesso universal à habitação, visa a garantir o acesso à moradia e aos serviços básicos a todos os cidadãos; sendo assim, qual o instrumento apresentado para induzir a utilização de imóveis que não cumprem sua função social com medidas administrativas? a) Estudo de impacto de vizinhança. b) Aprovação de projeto habitacional de interesse social. c) Transferência do direito de construir. d) Imposto predial urbano progressivo no tempo. e) Outorga onerosa do direito de construir. 2. Os vazios urbanos são fenômenos recorrentes nas médias e grandes cidades brasileiras. Segundo o Manual de Reabilitação de Áreas Urbanas Centrais, o vazio urbano pode ser definido como o espaço localizado dentro da malha urbana consolidada, em uma área caracterizada por grande diversidade de espaços edificados, que podem ser zonas industriais, armazéns e depósitos industriais desocupados ou subutilizados, edifícios centrais abandonados ou corredores e pátios ferroviários desativados. Fonte: Brasil (2008). A respeito dos vazios urbanos e seu impacto nas cidades brasileiras, podemos afirmar que: a) Os vazios urbanos podem dificultar a estruturação do tecido urbano, impossibilitando a adequada distribuição de infraestrutura, equipamentos e serviços públicos. b) A existência de vazios urbanos permite maior flexibilidade na transformação do solo, garantindo a expansão ordenada da cidade e a adequada distribuição de densidades demográficas no espaço urbano. c) Os vazios urbanos em zonas centrais são desejáveis, pois possibilitam a reserva fundiária para que o mercado imobiliário e o setor da construção no tempo, e, em último caso, desapropriação de imóveis que não estejam adequados ao meio urbano local. Esses, entre outros instrumentos, buscam tornar nossas cidades locais que promovam o bem-estar social da população. Se esses são os meios que para se alcançar tal objetivo, então devem ser aplicados, mas sempre de maneira cautelosa. 11Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística civil possam atuar para promover o desenvolvimento da economia do lugar. d) A compreensão dos vazios urbanos é necessária, porém esses vazios nada influenciam nas relações sociais e no desenvolvimento da malha urbana. e) Os vazios urbanos podem dificultar o desenvolvimento da malha urbana, sendo assim, o mercado imobiliário deve ter livre acesso a esses espaços para poder alavancar o setor econômico e a construção civil nesses locais. 3. O paradigma de cidades dispersas retrata uma nova realidade que não se restringe ao contexto brasileiro ou latino americano — ela é global. Isso gera muitos gastos para a sociedade, pelas maiores distâncias a serem percorridas e pela necessidade de mais quilômetros de infraestrutura. Sobre as cidades dispersas: I. Garante muitos benefícios para mercado —aumento dos valores dos terrenos e direcionamento de gastos com o desenvolvimento de infraestrutura. II. Garante muitos benefícios para a população — aumento dos valores dos terrenos e o direcionamento de gastos com desenvolvimento de infraestrutura; III. As cidades com presença de vazios urbanos obrigam a população a percorrer caminhos mais longos para chegar aos destinos. A respeito disso, assinale a opção correta. a) I e II estão corretas. b) II e III estão corretas. c) I está incorreta. d) III está incorreta. e) I e III estão corretas. 4. A operação urbana permite a atuação da iniciativa privada em conjunto com o poder públicoe está disposta no Estatuto da Cidade. Para que a operação urbana tenha sucesso, é necessário despertar o interesse do investidor privado com a flexibilização da lei de zoneamento, permitindo que se possa construir além do estabelecido, como a implantação das chamadas obras âncoras. Assim a lógica dessas operações está baseada sempre em movimentar grandes quantidades de recursos, realizando primeiro as transformações estruturais com avenidas, túneis, pontes entre outras. Qual a primeira atitude a ser explorada no planejamento de uma operação urbana? a) Desapropriação, todas as intervenções devem ocorrer depois da desapropriação. b) Obras, as obras chamadas âncoras devem ser o primeiro passo para a definição da operação urbana. c) A definição do perímetro da operação, e todas as intervenções devem acontecer dentro do perímetro. É como se fosse um plano a parte dentro do Plano Diretor da cidade. d) A definição de orçamento da obra, é notório o conhecimento que, para o início de qualquer grande projeto, é necessário o orçamento. Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística12 e) Geração de lucros, a principal motivação da operação urbana para a cidade e a população é a geração de lucros; 5. O Estatuto da Cidade prevê a possibilidade de cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo como sanção à não utilização ou subutilização de imóvel urbano. O que é correto dizer quanto ao prazo da cobrança do IPTU e ao padrão de alíquotas? a) O IPTU progressivo pode ter alíquotas diferentes em cada município, ou seja, não há um padrão adorado. b) O IPTU progressivo pode ser cobrado por até dez anos e ter alíquota máxima de 15%. c) O IPTU progressivo pode ser cobrado por até cinco anos e ter alíquotas máxima de 15%. d) O IPTU progressivo pode ser cobrado por até cinco anos e ter alíquota máxima de 10%. e) O IPTU progressivo pode ser cobrado por até dez anos e ter alíquota máxima de 20%. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 30 maio 2018. BRASIL. Ministérios das Cidades. Manual de reabilitação de áreas urbanas centrais. Brasília, DF: Ministério das Cidades, 2008. BRASIL. Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Consti- tuição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providên- cias. Brasília, DF, 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 30 maio 2018. PINTO, V. C. O reparcelamento do solo: um modelo consorciado de renovação urbana. Brasília, DF: Senado Federal, 2013. (Textos para discussão, 130). Disponível em: <https:// www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos- -para-discussao/td130/view>. Acesso em 31 de maio de 2018. PINTO, V. C. Regularização fundiária por consórcio imobiliário. 2017. Disponível em: <ht- tps://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/regularizacao-fundiaria-por-consorcio- -imobiliario-29092017#_ftn2>. Acesso em: 07 jun. 2018. SÃO PAULO. Texto da lei ilustrado. 2014. Disponível em: <http://gestaourbana.pre- feitura.sp.gov.br/marco-regulatorio/plano-diretor/texto-da-lei-ilustrado/>. Acesso em: 07 jun. 2018. SILVA, J. A. da. Direito urbanístico brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. 13Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ http://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos- tps://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/regularizacao-fundiaria-por-consorcio- http://gestaourbana.pre/ http://feitura.sp.gov.br/marco-regulatorio/plano-diretor/texto-da-lei-ilustrado/ Leitura recomendadas BRASIL. Lei nº. 13.465, de 11 de julho de 2017. Dispõe sobre a regularização fundiária rural e urbana, sobre a liquidação de créditos concedidos aos assentados da reforma agrária e sobre a regularização fundiária no âmbito da Amazônia Legal; institui me- canismos para aprimorar a eficiência dos procedimentos de alienação de imóveis da União; altera as Leis nos 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, 13.001, de 20 de junho de 2014, 11.952, de 25 de junho de 2009, 13.340, de 28 de setembro de 2016, 8.666, de 21 de junho de 1993, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 12.512, de 14 de outubro de 2011, 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), 11.977, de 7 de julho de 2009, 9.514, de 20 de novembro de 1997, 11.124, de 16 de junho de 2005, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 10.257, de 10 de julho de 2001, 12.651, de 25 de maio de 2012, 13.240, de 30 de dezembro de 2015, 9.636, de 15 de maio de 1998, 8.036, de 11 de maio de 1990, 13.139, de 26 de junho de 2015, 11.483, de 31 de maio de 2007, e a 12.712, de 30 de agosto de 2012, a Medida Provisória no 2.220, de 4 de setembro de 2001, e os Decretos-Leis nos 2.398, de 21 de dezembro de 1987, 1.876, de 15 de julho de 1981, 9.760, de 5 de setembro de 1946, e 3.365, de 21 de junho de 1941; revoga dispositivos da Lei Complementar no 76, de 6 de julho de 1993, e da Lei no 13.347, de 10 de outubro de 2016; e dá outras providências. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13465.htm>. Acesso em: 30 maio 2018. Consórcio imobiliário urbanístico, IPTU progressivo no tempo e desapropriação-sanção urbanística14 http://www.planalto.gov.br/ Conteúdo:
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