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1 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 MODIFICAÇÕES NO ORGANISMO MATERNO DURANTE A GESTAÇÃO As modificações no organismo é tudo o que acontece no corpo durante a gestação: ─ Devido à existência do feto que que acarreta mudanças no corpo da mãe. ─ Sobrecarga hormonal: aumenta a progesterona e estrogênio, que acarretam alterações no corpo. A progesterona faz com que haja retenção de líquido, causando edema e inchaço. ─ Ação mecânica pelo útero gravídico: durante a gravidez, com o passar das semanas, o útero aumenta, acarretando um aumento de peso que traz consequências para a paciente. Além disso, o eixo gravitacional muda (se a barriga aumenta e a mãe não muda o equilíbrio, acaba caindo pra frente). Modificações cutâneas São modificações na pele. Alterações atróficas (estrias gravídicas) – as estrias vermelhas são iniciais; as velhas, são brancas. As estrias ocorrem devido a uma ruptura do colágeno da pele. Quando a pele da paciente estica demais, terá o desenvolvimento de estrias. O tratamento durante a gestação não é aconselhado, mas enquanto as estrias estão vermelhas, é mais fácil de tratar. Durante a gravidez pode usar creme para prevenir; Alterações vasculares cutâneas – são vasodilatações na pele causadas pelo estrogênio. As mãos ficam mais vermelhas; Eritema palmar; Telangectasias/angiomas/aranhasvasculares; Alterações pigmentares; Linha Nigrans: É uma linha vertical na barriga da mãe com coloração mais escura que a pele normal. Depois do parto, a tendência da linha é diminuir, haja vista que diminui a quantidade de estrogênio. Cloasma ou melasma gravídico: Também pode ser causado pelo uso de anticoncepcional, devido ao aumento hormonal no corpo. Depois do parto, devido à queda de hormônios, essas manchas vão desaparecendo. O pilling, nesse caso, não é efetivo, pois a pele poderá descamar e, depois, ainda poderá voltar, devido à alta quantidade de hormônios. Hipersecreção das glândulas sebáceas: resulta de um aumento da ação da progesterona. A pele da gestante torna-se mais oleosa, o que predispõe ao aparecimento de acne e queda capilar. O uso de creme e ácido não acarreta grandes mudanças. Depois do parto, a quantidade de hormônios diminui e a pele volta ao original. Modificações osteoarticulares A postura da paciente muda durante a gravidez. Postura e marcha: o peso do útero, feto e anexos coloca o centro de gravidade da gestante para frente. Para corrigir o eixo corporal, a gestante assume a atitude involuntária de lordose lombar. “Marcha anserina” ou “marcha de ganso” – a grávida sustenta o peso, afastando os pés e se inclinando para trás. Quando o útero aumenta, ela vai ficando em uma posição involuntária de lordose, pois é como se puxasse o corpo para trás para conseguir sustentar. 2 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Essas alterações posturais resultam em espasmos dos músculos intervertebrais e diminui os espaços entre as vértebras. Consequentemente ocorre compressões radiculares e lombalgia. A queixa básica da mãe é dor nas costas, devido à essa posição de lordose – acarreta espasmo nos músculos intervertebrais e, assim, gera a dor. Modificações nas mamas e aparelho genital Mastalgia – congestão das mamas a partir de 5 semanas de gestação. Este aumento decorre de hiperplasia de elementos glandulares com proliferação dos canais galactotrófos e ramificação dos ductos mamários. Quando a mulher engravida, o aumento de progesterona e estrogênio faz com que haja uma congestão mamária e, assim, os canais que produzem leite também começam a aumentar de tamanho, oferecendo uma sensibilidade. Por isso, pacientes grávidas geralmente não conseguem dormir de bruços. Tubérculos de Montgomery Glândulas mamárias acessórias e glândulas sebáceas hipertrofiadas. Na aréola, começam a sobressair micropontinhos, que são glândulas sebáceas e mamárias acessórias. Muitas vezes, a paciente tem essa glândula na axila e nunca percebeu, mas, durante a gestação, a glândula aumenta de tamanho e, então, começa a ter uma mama embaixo da axila (glândula acessória). Depois do parto, a tendência é voltar ao normal. Rede de Haller – aumento da vascularização venosa a partir de 16 semanas de gestação. Sinal de Hunter – o normal é termos a divisão nítida entre aréola, bico do peito e mama, bem visível. Nesse sinal, perde-se a precisão do que é aréola e do que é o resto da mama, a partir de 20 semanas de gestação. Preparo da mama para lactação – ocorre aumento no número de ductos intralobulares, lóbulos e alvéolos, sob efeito de estrogênio, progesterona, hormônio placentário, prolactina, cortisol, insulina. A ação destes hormônios contribui para a conversão das células alveolares terminais inativas em secretoras de leite. No decorrer da gestação, há um aumento progressivo da produção de prolactina, mas com receptores sendo bloqueados pela progesterona. No final da gestação, ocorre predomínio dos efeitos da prolactina. Como há uma grande produção de estrogênio e progesterona, aumentam-se os galactotrófos e aumentam os alvéolos da mama. Por que algumas mães possuem dificuldade na amamentação? Devido ao cortisol (hormônio do estresse): uma mãe muito ansiosa, estressada, com ambiente ruim para a amamentação terá muito mais dificuldades em amamentar do que uma mãe calma e em um ambiente propício. A prolactina produz leite e a ocitocina faz com que haja a ejeção melhor do leite (apesar de ser normal sair um pouco de leite durante a gestação). Aproximadamente 3 dias após o parto, há depuração de estrogênio e progesterona, possibilitando a secreção láctea (apojadura). Durante a sucção do mamilo há incremento agudo da prolactina. Ocorre também ação da ocitocina nas células mioepiteliais, fazendo a contração e ejeção de leite. A prolactina produz o leite mas quem libera o leite, auxiliando no sucesso da amamentação, é a ocitocina (injeta-se ocitocina na paciente para contrair o útero e não sangrar pós-parto). Quanto mais o bebê faz sucção no mamilo, maior a facilidade de produzir ocitocina e ejetar o leite. Quanto mais cortisol a paciente produzir, pior vai ser a amamentação. Útero – órgão muscular que sofre hipertrofia e hiperplasia. Ao final da gravidez, sua capacidade volumétrica pode aumentar 1.000 vezes. A parede uterina sofre afinamento progressivo, podendo chegar a 1,5cm. Na ausência de gestação, o útero é um órgão pélvico. O aumento do diâmetro 3 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 antero-posterior na gestação começa nas primeiras semanas e, inicialmente, tem formato piriforme. Após, assume uma forma globosa. Cesárea de 39-40 semanas: o útero está muito fino. Corta-se finamente o útero, pois há risco de cortar o bebê. Cesárea de 30 semanas: o útero está grosso. Corta-se várias vezes com o bisturi pois a parede do útero está mais espessa. Através da medida da altura uterina, é possível observar de se o feto está nascendo adequadamente: 12 semanas – útero torna-se palpável logo após a sínfise púbica; 16 semanas – encontra-se no meio do caminho entre sínfise púbica e cicatriz umbilical; 20 semanas – cicatriz umbilical; - Depois de 20 até 32-33 semanas, cada semana que vai passando, a altura uterina vai aumentando 1cm. Depois muda, pois depende da altura dos pais, de doenças crônicas da mãe.. por isso, posso ter, por exemplo, 36 semanas com altura de 32. 40 semanas – apêndice xifoide. Colo uterino – a consistência e a coloração da cérvice se alteram pelo edema e aumento da vascularização. A cérvice torna-se amolecida e roxa. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das glândulas cervicais e eversão do epitélio colunar. O muco cervical torna-se viscoso, mais espesso e não se cristaliza quando desidratado. O colo uterino é protegido pelo tampão mucoso, que é eliminado nos dias que antecedem o parto, devido ao afinamento e encurtamento da cérvice. A grande produção de estrogênio e progesterona faz com que o colo fique amolecido durante a gravidez. Ao coletar o pré-câncerde uma gestante, é possível observar a diferença diante de uma não gestante. Ao decorrer da gestação, principalmente, do 2º para o 3º trimestre, o útero vai amolecendo. Vagina – apresenta-se violácea. As células musculares e as papilas da mucosa hipertrofiam. A vagina aumenta de comprimento e largura. Ocorre afrouxamento do tecido conjuntivo. O aumento da vascularização e da atividade glandular resulta em aumento da secreção vaginal, que assume aspecto leitoso por conter células epiteliais descamadas. A vagina de uma mulher não gravida é fina, rosada e pequena. Na gestação, o tamanho da vagina aumenta, os grandes lábios aumentam e ficam com coloração mais escura, devido à ação da progesterona. A vagina vai aumentando e ficando mais “fina”. O PH vaginal torna-se ácido pela ação dos lactobacilos sobre o glicogênio das paredes vaginais. Vulva – violácea. Hipertrofia de grandes e pequenos lábios. Modificações respiratórias As alterações são mais pronunciadas após 37 semanas, mais no final da gestação. Retornam ao normal após o nascimento. A caixa torácica apresenta aumento de 2cm em seu diâmetro transverso. Os ângulos subcostais se alargam com elevação do diafragma em 4cm e a circunferência torácica 4 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 aumenta 6cm. Há maior movimentação do diafragma e do tórax que leva a um aumento de volume corrente. A expiração torna-se mais demorada. O volume minuto aumenta de 7,5L para 10,5L. A dispneia fisiológica decorre dos efeitos da progesterona no centro respiratório e SNC e da percepção da paciente à hiperventilação, que culmina com aumento do volume corrente e diminuição da paCO2, resultando em uma alcalose respiratória compensada. Nas vias aéreas superiores ocorre vasodilatação, edema de mucosa, congestão nasal e aumento das secreções. Como o feto vai crescendo, o diafragma sobe um pouco e a caixa torácica diminui, anteroposteriormente. Assim, a paciente começa a ficar com dispneia e não consegue fazer a troca normal dos gases. Há um aumento do volume corrente (sensação de dispneia). Nariz congestionado – há uma congestão no nariz devido ao aumento da progesterona que dá uma vasodilatação. Modificações hemodinâmicas A síndrome hipercinética define o sistema cardiovascular da gestante. A frequência cardíaca aumenta em 10/15bpm. A frequência cardíaca aumenta para aumentar a circulação do sangue e, assim, chegar até a placenta para nutrir o feto. Se não houver um fluxo adequado, haverá uma diminuição de fluxo para a placenta e, consequentemente, uma restrição do crescimento do feto. Há desvio do eixo cardíaco para a esquerda em virtude da mudança de posicionamento do coração pela elevação do diafragma. Débito cardíaco: aumenta e atinge seu pico entre 20-24 semanas. Resistência vascular periférica: diminui mais acentuadamente no início da gestação. A resistência periférica diminui e há uma redução da pressão arterial mais acentuada no 2º trimestre. Pressão Arterial (PA): a redução da PA é mais acentuada no segundo trimestre. A queda da pressão arterial diastólica é mais acentuada que a queda da sistólica. Pressão baixa não é problema na gestação. Pressão alta é problema, deve-se ter cuidado para evitar uma pré-eclampsia. Pressão Venosa: o útero em crescimento comprime as veias pélvicas e a veia cava inferior, o que dificulta o retorno venoso e aumenta a pressão venosa nos membros inferiores. O útero vai aumentando de tamanho, comprimindo veia cava inferior, pélvica, trazendo dificuldade ao retorno venoso. Por isso, a paciente tem edema, inchaço, desenvolve varizes, hemorroidas, pois o útero comprime as veias pélvicas e dificulta voltar o sangue venoso. Orientar para as pacientes colocarem meia de compressão logo quando acorda, tirando no final do dia. Hipotensão supina: queda significativa do débito cardíaco, pela compressão da veia cava inferior pelo útero, quando a grávida permanece em decúbito dorsal por 5 minutos. Essa compressão desencadeia o reflexo vaso-vagal (bradicardia, hipotensão e lipotímia). Por isso, orientamos a paciente à fica de decúbito lateral esquerdo para não comprimir muito a veia cava. Modificações hematológicas Volume plasmático – aumenta cerca de 50% em relação aos níveis pré-gestacionais, alcançando seu pico com 30/34 semanas. Aumenta, pois tem que mandar sangue para a placenta e, ao mesmo tempo, precisa continuar nutrindo a mãe. O aumento do volume plasmático acarreta hipervolemia, com diminuição da viscosidade sanguínea, que leva a um quadro de hemodiluição. Eritrócitos – aumento de 20/30% no número de hemácias, o que reflete o aumento da demanda de oxigênio. Devido ao aumento mais pronunciado do volume plasmático em comparação com a massa eritrocitária, o hematócrito cai 2/3 pontos (30%) e a concentração total de hemoglobina diminui progressivamente. Esse fenômeno é a anemia fisiológica da gestação, fruto de hemodiluição. o aumento de eritrócitos (20-30%) não acompanha o aumento do volume plasmático (50%) – não 5 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 acompanha para não ter anemia. Mas precisa reconhecer que é fisiológica. Utiliza-se sulfato ferroso para evitar que a anemia fisiológica vire clínica. Leucócitos – leucocitose relativa no 2º e 3º trimestre de gestação. Mas, não pode vir acompanhada do aumento de bastonetes (infecção). Se tenho leucocitose, não adianta pedir hemograma, pois vou encontrar leucócitos aumentado e não tem o que fazer pois é fisiológico. Ter cuidado ao pedir leucograma no final da gestação (exame confundidor). Plaquetas – inalteradas. 150-200.000. Pode ocorrer trombocitopenia gestacional. Fatores de coagulação – aumentados, pois se tiver descolamento de placenta, coagula para não dar hemorragia. Função de estancar o sangue. Tudo que é pro-coagulação está ativado. Isso faz com que o útero pare de sangrar. Os níveis de fibrinogênio estão aumentados em até 50%; os agentes pró- coagulantes estão aumentados; os fatores de coagulação VII, VIII e IX e o fator de Von Willebrand apresentam atividade aumentada. Redução dos fatores fibrinolíticos e nos fatores XI e XIII (estabilizador de fibrina) que contribuem para um estado de hipercoagulabilidade. Essas alterações ajudam a combater os riscos de hemorragia na dequitação placentária. Produzem um estado de vulnerabilidade à trombose venosa profunda (TVP), tromboembolismo pulmonar (TEP) e coagulação intravascular disseminada. Ocorre aumento na incidência de TEP e TVP de até 5 vezes durante a gestação. ▪ Os riscos de trombose pelos riscos de anticoncepcionais são mínimos. A gestação tem um risco 5x aumentado. Modificações endócrinas Prolactina – aumenta 10 vezes o seu valor normal, tendo seu ápice no início do trabalho de parto. Os níveis declinam após o parto. A prolactina é fundamental para a lactação, mas não para a gravidez. Modificações gastrointestinais O útero durante o seu crescimento na gestação desloca o estômago e intestinos. O esvaziamento gástrico e o trânsito intestinal ficam mais lentos, devido ação da progesterona. O resultado final é constipação intestinal e hemorróidas. A pirose ou refluxo das secreções ácidas decorre da diminuição do tônus e relaxamento do esfíncter esofagiano inferior, ao deslocamento do estômago e aumento da pressão abdominal. Há comprometimento da contração da vesícula biliar e maior predisposição a formação de cálculos biliares pela ação da progesterona. A progesterona faz com que ocorra uma estase do trânsito intestinal. Maior chance de constipação. Não tem a mesma pressão no EEI, o ácido gástrico do estômago acaba subindo, sensação de pirose, acidez. Além de que o útero aumenta de tamanho e a alça intestinal lentificada fica mais lentificada ainda pois o feto pressiona. O EEI que já estava lento, fica mais ainda com o útero pressionando. Modificações urinárias Ocorre aumento do peso do rim e do seu tamanho, resultando em hipertrofia e aumento do fluxo plasmático renal. Há aumento da vascularização renal, com diminuiçãoda resistência vascular, que resulta em aumento de 50% na taxa de filtração glomerular e incremento de 80% no fluxo plasmático renal. Em consequência desse processo, ocorre perda de alguns nutrientes (aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis), além da redução das concentrações de ureia e creatinina. A glicosúria se faz presente em decorrência da diminuição da capacidade de reabsorção tubular de glicose e do incremento da filtração glomerular. 6 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 O volume plasmático aumenta, ocorrendo um aumento no tamanho do rim para conseguir filtrar mais o sangue. Ao aumentar a resistência, o fluido tem mais dificuldade de passar pois, ao diminuir a resistência, passa mais liquido, taxa de filtração e fluxo plasmático. Ao perder esses elementos, acaba indo na urina (ex: glicosúria) – significa que passa tanto sangue no rim que não consegue fazer toda a filtração glomerular igual devia, perdendo na urina esses nutrientes. 80% das gestantes têm dilatação do sistema coletor a partir da segunda metade da gestação, com dilatação ureteral e pielocalicial mais à direita. Os ureteres sofrem obstrução ou compressão pelo crescimento uterino e pela congestão do plexo venoso ovariano. Isto ocorre mais frequentemente à direita devido a dextrorrotação do útero gravídico e à veia ovariana direita que cruza o ureter.
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