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Síndrome� Neurológica� LEMBRETE DE FISIOLOGIA: VIA MOTORA:___________________________ Quem dá a “ordem” para que a musculatura contraia e execute o movimento são os primeiros neurônios motores, cujos núcleos (também chamados de corpos celulares ou substância cinzenta) estão localizados no córtex motor frontal. Esses neurônios possuem longos axônios que, juntos, formam a via piramidal, descendo pela coroa radiada, cápsula interna, tronco cerebral e medula espinhal - é importante lembrar que a grande maioria cruza para o lado oposto no bulbo. Já na medula, seguem pelo trato corticoespinhal lateral e, no corno anterior da medula, ocorre a sinapse com o núcleo do segundo neurônio motor, que também possui um longo axônio e dá origem ao nervo periférico. É o segundo neurônio motor o encarregado e transmitir a “ordem” de contrair o músculo. VIAS SENSITIVAS:________________________ Existem diversos receptores sensitivos, cada um responsável por um determinado tipo de sensação. Os axônios que saem desses receptores se juntam em nervos sensitivos, que posteriormente se juntam aos nervos motores (feixes de 2ºs neurônios motores), formando nervos periféricos. Pouco antes de chegar à medula, os nervos sensitivo e motor se separam novamente e o nervo sensitivo penetra na medula por sua porção posterior. Logo, formam-se as seguintes vias sensitivas: Via espinotalâmica lateral: Formada por neurônios responsáveis pela sensibilidade térmica e dolorosa que fazem sinapse com outros neurônios, cruzam para o lado oposto na medula e sobem em direção ao tálamo. Lá ocorre outra sinapse, saindo daí o axônio que levará o estímulo ao córtex sensorial. Ou seja, a via da sensibilidade termoálgica CRUZA NA MEDULA! Via espinotalâmica anterior: É formada pelos neurônios responsáveis pela sensibilidade tátil grosseira (protopático) e barestésica (pressão) que também cruzam ao chegar na medula e, a partir daí, o caminho é o mesmo da sensibilidade termoálgica. Ou seja, as vias da sensibilidade barestésica (pressão) e do tato protopático (grosseiro) também CRUZAM NA MEDULA! Via da coluna dorsal: Formada pelos neurônios responsáveis pela sensibilidade tátil discriminativa (tato epicrítico), pela noção de posição segmentar (propriocepção) e pela sensibilidade vibratória (palestesia), que se unem formando os fascículos grácil e cuneiforme e sobem sem cruzar na medula, fazendo sinapses com neurônios do bulbo, onde cruzam para o lado oposto e se dirigem ao tálamo, de onde sai o axônio que leva o estímulo ao córtex sensorial. Ou seja, diferente das outras duas, as vias da sensibilidade vibratória, propriocepção e do tato discriminativo sobem pela medula sem cruzar. SÓ CRUZAM NO BULBO! Logo, o córtex sempre recebe a sensibilidade cruzada (do outro lado do corpo), a diferença é o ponto onde ocorre o cruzamento. Nas lesões cerebrais, esse ponto não faz tanta diferença, mas nas lesões medulares sim, pois o paciente pode perder a sensibilidade termoálgica de um lado e a vibratória do outro lado, por exemplo. Em resumo… 1º neurônio motor→ formam a via piramidal e cruzam para o outro lado oposto no bulbo, levando a “ordem” motora à medula, onde faz sinapse com o 2º neurônio motor. 2º neurônio motor→ recebe a ordem do 1º neurônio motor e a leva até a musculatura efetora. Formam os nervos periféricos. Quanto à sensibilidade, o córtex sensorial recebe sempre o estímulo do lado oposto do corpo. A diferença é que: - As vias da sensibilidade termoálgica, tato grosseiro e pressão cruzam assim que chegam à medula. - A via do tátil discriminativo,propriocepção e vibratória só cruzam no bulbo. Semiologia - Uncisal - MED 52 → Beatriz Gonçalves Luciano SÍNDROME PIRAMIDAL (Síndrome do 1º neurônio motor) Características: - Fraqueza; - Hipotrofia muscular; - Hiper-reflexia; - Reflexo cutâneo plantar em extensão (Sinal de Babinski); - Espasticidade; - Clônus; - Marcha hemiplégica/ceifante. . A grande maioria das fibras dos primeiros neurônios motores cruza para o lado oposto no bulbo (local da decussação das pirâmides), descendo pelo cordão lateral da medula. Assim: - Qualquer lesão piramidal acima da decussação das pirâmides (córtex cerebral, cápsula interna, tronco encefálico) causará hemiplegia/ hemiparesia CONTRALATERAL à lesão; - Por outro lado, lesões unilaterais da medula (hemissecção) provocam hemiplegia/ hemiparesia IPSILATERAL à lesão. Obs: Uma possível pergunta a respeito das características da Síndrome Piramidal é: por que ocorre hipertonia e hiper-reflexia se a musculatura está sendo menos estimulada? As alterações de tônus e reflexos decorrem da lesão concomitante da via extrapiramidal, que acompanha a via piramidal em quase toda a sua extensão. A via extrapiramidal possui função inibitória sobre a via piramidal , razão pela qual sua lesão causa hipertonia espástica e exacerbação dos reflexos. Principais causas: São muitas. Em tese, qualquer patologia que destrua ou comprima a via piramidal. - AVE e trauma são as causas mais comuns; - Esclerose múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) causam síndrome piramidal subaguda ou crônica; - Processos expansivos como tumores, abscessos bacterianos, tuberculomas e neurotoxoplasmose têm efeito de massa e comprimem a via piramidal, causando sintomatologia subaguda ou crônica. SÍNDROME DO 2º NEURÔNIO MOTOR Características: - Hipotrofia ou atrofia muscular; - Fraqueza; - Hiporreflexia; - Miofasciculações; - Cãibras; - Marcha parética/ escarvante. O paciente com síndrome do 2º neurônio motor não terá como mandar ordem ao músculo, pois o neurônio que efetua essa ordem (2º) está morto, portanto não chega a ordem do 1º neurônio motor ao músculo e os arcos reflexos também não funcionam. A musculatura fica parética ou plégica, perdendo o tônus e os reflexos tendinosos. O músculo perde também o estímulo trófico da inervação, fazendo que o membro atrofie acentuadamente (mais que na síndrome piramidal). A tentativa frustrada do músculo de contrair leva a miofasciculações. Principais causas: - Neuropatia Motora Multifocal (NMM) é uma doença rara que leva à fraqueza lentamente progressiva e atrofia muscular, particularmente nos mmss. Associada à desmielinização. - Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença degenerativa dos 1º e 2º neurônios motores. NEUROPATIAS PERIFÉRICAS (Lesão direta do nervo periférico) Características: - Hipotrofia ou atrofia; - Fraqueza; - Hiporreflexia; - Miofasciculações; - Cãibras; - Hipoestesia, anestesia ou até hiperestesia. Ou seja: 2º neurônio motor lesado + perda sensitiva. Neste caso, a parte sensitiva é afetada pois, com o nervo periférico lesado, não há como levar corretamente a informação à medula e, consequentemente, ao cérebro. O paciente pode referir essa perda em graus variáveis: ➔ Disestesia: descrita como qualquer tipo de sensação anormal, incluindo dor, que tenha ou não estímulo evidente; ➔ Parestesia: sensações espontâneas anormais, descritas como “formigamento”, “agulhada”, choque, mas não dor; ➔ Hipoestesia: redução da sensibilidade; ➔ Anestesia: perda total da sensibilidade; ➔ Hiperestesia: dor ou aumento da sensibilidade em resposta ao toque. Semiologia - Uncisal - MED 52 → Beatriz Gonçalves Luciano Classificação e Principais causas: As NP podem ser mononeuropatia, mononeuropatia múltipla ou polineuropatia. Mononeuropatia É a lesão focal de um único nervo periférico. Sua causa clássica é a hanseníase. A neuropatia hansênica causa sequelas como “mão em garra” (lesão do n. ulnar), “mão caída” (lesão do n. radial), “mão em bênção” (lesão do n. mediano) e “pé caído” (lesão do n. fibular comum). O diabetes mellitus também pode causar mononeuropatia. Mononeuropatia Múltipla Quando há múltiplos nervos acometidos assimetricamente. Toda mononeuropatia múltipla deve ter como hipótese diagnóstica uma vasculite sistêmica, que pode obstruir arteríolas que vascularizam os nervos, causando a neuropatia. Outras causas comuns são o diabetes e a hanseníase. Polineuropatia É o acometimento bilateral, simétrico e simultâneo dos nervosperiféricos, geralmente de início distal. *Atenção para a simultaneidade: a neuropatia não pode começar em uma perna e evoluir para outra, pois já passaria a ser mononeuropatia múltipla. Na evolução comum às polineuropatias, os sintomas começam na região plantar dos pés, podendo evoluir até a panturrilha (acometimento “em bota”) e posteriormente para as mãos (acometimento em “luva”). Polineuropatias clássicas: ● Síndrome de Guillain-Barré (SGB): é aguda, desmielinizante, autoimune, desencadeada por infecções respiratórias e gastrointestinais. O comprometimento muscular é ascendente (inicia pelos membros inferiores) e, ao exame físico, encontramos paraparesia (ou paraplegia) flácida arreflexa. ● Neuropatia pelo HIV: manifesta-se com parestesias e perda da sensibilidade termoálgica em “meia” e “luva”, além da hiporreflexia do aquileo. ● Álcool: acomete 5-15% dos etilistas crônicos, devido à neurotoxicidade direta do álcool e à deficiência de vitaminas, principalmente B1. Tais paciente apresentam comprometimento motor secundário à desmielinização, manifestando comumente dormência e parestesia dos membros em padrão “meia” e “luva”. A diminuição dos reflexos profundos (o primeiro afetado é o aquileo) e da sensibilidade ocorre antes das alterações motoras. ● Neuropatia Diabética: afeta 60% dos diabéticos e sua gênese depende do acúmulo de AGE (produtos de glicosilação avançados que causam lesão do endotélio microvascular). O nervo periférico é o alvo da doença, que possui diversos tipos, dentre os quais a polineuropatia periférica é o mais comum. SÍNDROME EXTRAPIRAMIDAL: Características: - Exacerbação dos movimentos - distúrbios hipercinéticos (coreia, atetose, distonia, hemibalismo) - ou - Lentificação dos movimentos - distúrbio hipocinético (parkinsonismo). O sistema extrapiramidal é constituído pelo córtex pré-motor frontal, gânglios da base e alguns núcleos do tronco cerebral e possui a função de modulação dos movimentos e automatismo (quando alguns movimentos passam a ficar automáticos, ex.: dirigir, tocar instrumentos). Quando o sistema extrapiramidal é lesado, o paciente pode ter exacerbação dos movimentos ou lentificação dos movimentos. Essa lentificação é a chamada Síndrome Parkinsoniana. Síndrome Parkinsoniana É caracterizada por bradicinesia, hipertonia plástica, tremores e instabilidade postural. Dentre as suas principais causas estão: Doença de Parkinson, drogas e Doença Cerebrovascular. SÍNDROME CEREBELAR Características: - Ataxia (sinal + importante da doença cerebelar); - Tremor de intenção; - Dismetria; - Vertigem, náuseas e vômitos; - Nistagmo vertical ou horizontal; - Fala escandida. O cerebelo é responsável pelo controle do tônus muscular, coordenação, equilíbrio e aprendizagem motora. É formado por dois hemisférios cerebelares e uma parte central chamada de vermis. Cada hemisfério é responsável pelo tônus, coordenação, equilíbrio e aprendizagem motora do mesmo lado do corpo, enquanto o vermis controla o tronco e a marcha. Ou seja, ao contrário da lesão das vias piramidal Semiologia - Uncisal - MED 52 → Beatriz Gonçalves Luciano e sensitivas, a lesão cerebelar acarreta sintomatologia IPSILATERAL. Obs: Por que fala escandida? A fala escandida é a sílaba mal articulada. O ato de articular as palavras é determinado pela articulação muscular. Se o músculo está incoordenado, o paciente não consegue falar direito e tem dificuldade de articular as palavras. Principais causas: - AVE cerebelar (isquêmico ou hemorrágico); - Neoplasias e abscessos cerebelares; - 1% dos etilistas crônicos desenvolve degeneração cerebelar progressiva. *Os exames de imagem evidenciam atrofia do vermis nesses casos (afeta o tronco e a marcha). Síndrome� Medulare� SÍNDROME DA SECÇÃO MEDULAR Características: - Tetraplegia (lesão da coluna cervical) ou paraplegia (lesão da coluna torácica/ lombar). - Anestesia; - Arreflexia; - Ausência da função autonômica (causando perda da função esfincteriana). Seus achados são compatíveis com a perda total da motricidade e sensibilidade do dermátomo afetado para baixo. Sua principal causa é o trauma, mas também pode ser consequência da Mielite Transversa Aguda (MTA), uma doença rara de processo inflamatório agudo da medula espinhal. SÍNDROME DE BROWN-SÉQUARD (Síndrome de hemissecção medular) Características: - Síndrome piramidal ipsilateral; - Perda do tato discriminativo, propriocepção e sensibilidade vibratória ipsilateral (só cruzam no bulbo); - Perda da sensibilidade termoálgica, tato grosseiro e sensibilidade barestésica contralateral (cruzam assim que chegam à medula). Acomete uma metade (direita ou esquerda) da medula, interrompendo as vias motoras e sensitivas do lado acometido. A síndrome clássica é rara, sendo mais comumente encontradas síndromes parciais, por hemissecção incompleta. Obs: A perda da sensibilidade pe sempre abaixo da lesão, causando o chamado nível sensitivo. SÍNDROME CORDONAL POSTERIOR Características: - Comprometimento da propriocepção (ataxia com Sinal de Romberg positivo) e diminuição da sensibilidade vibratória; - Parestesias em membros inferiores; - Disfunção esfincteriana; - Episódios de dor espontânea (particularmente nas pernas e no abdome); - Pupilas de Argyll-Robertson bilaterais (pupilas que perdem reflexo fotomotor e mantêm reflexo de acomodação). O tabes dorsalis, característico da sífilis terciária, é o grande representante das síndromes cordonais posteriores, ocorrendo tardiamente - geralmente mais de 20 anos após a infecção sifilítica não tratada. É caracterizada pela marcha tabética, na qual o paciente bate o pé firmemente no chão ao andar. SÍNDROME DE DEGENERAÇÃO COMBINADA DE MEDULA Características: - Parestesia em extremidades (polineuropatia - manifestação mais precoce); - Diminuição das sensibilidades vibratória e proprioceptiva (acometimento da coluna dorsal); - Fraqueza e espasticidade dos MMII (acometimento dos cordões laterais da medula - via piramidal). Sua causa clássica definida é a deficiência de vitamina B12 (cianocobalamina). SÍNDROME DE ADAMKIEWICZ (Síndrome da artéria espinhal anterior) O infarto da medula espinhal anterior é uma rara condição decorrente da oclusão ou hipofluxo dessa artéria. O resultado é a perda de todas as funções medulares, exceto as funções as sensibilidades vibratória e proprioceptiva e o tato discriminativo, que seguem pela coluna dorsal. Semiologia - Uncisal - MED 52 → Beatriz Gonçalves Luciano
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