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RESUMÃO DA APROVAÇÃO - DOENÇA RENAL CRÔNICA e IRA Marcus Felipe O. B. Alencar – Medicina Unifaminas V DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) • DEFINIÇÃO: lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins. • DEFINIÇÃO LABORATORIAL: diminuição da TFG <60ml/min + albuminúria >30mg/dia, por um período superior a 3 meses. • Diferença entre DRC e IRA: a DRC é lentamente progressiva (>3 meses), enquanto a IRA evolui rapidamente. Na DRC não há regeneração do parênquima renal (irreversível). • CLASSIFICAÇÃO DA DRC (KDIGO – 2012): subdivide a DRC em estágios com base na: o TFG: 1, 2, 3, 4, 5. o Albuminúria: A1, A2, A3. • Principais etiologias da DRC: Diabetes mellitus e HAS. • Pacientes estágio 4-5/A3 devem ser referenciados para a nefrologia. • EPIDEMIOLOGIA: predominância no sexo masculino; raça negra. • ETIOLOGIA: as principais causas de DRC no Brasil são Nefropatia hipertensiva, Diabetes e Glomerulonefrite crônica. • GRUPOS DE RISCO PARA DRC: o Hipertensos o Diabéticos o Idosos o Doenças cardiovasculares o História familiar de DRC o Uso de medicações nefrotóxicas o Tabagistas e obesos EXCEÇÃO A REGRA: Existem dois casos em que a DRC pode se instalar de forma aguda: Necrose cortical aguda e Glomerulonefrite rapidamente progressiva. Exemplos de classificação final KDIGO: G1A2 (TFG normal + dano renal); G3aA1 (DRC moderada); G5A3 (Falência renal + proteinúria) Pacientes na faixa verde dificilmente tem complicações graves, pacientes na faixa vermelha geralmente estão em diálise. • FISIOPATOLOGIA: Um estímulo inicial (glomerulonefrites, toxinas, diabetes, HAS) causam danos em parte do néfron, promovendo sobrecarga nos néfrons remanescentes. O sistema renina-angiotensina-aldosterona promove uma vasoconstrição da arteríola eferente e vasodilatação da arteríola aferente, aumentando assim o fluxo glomerular afim de elevar a TFG. Esse processo causa hiperfiltração e hipertrofia dos glomérulos, que promove uma distorção na arquitetura dos glomérulos e função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, com perda de proteínas, levando a esclerose segmentar focal e destruição dos néfrons remanescentes. • A esclerose evolui a tal ponto que gera atrofia tubular e fibrose intersticial e glomerular. • TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR (TFG): pode ser estimada por dosagem de creatinina urinária em 24h e sérica. Usa-se os cálculos de CKD-EPI, MDRD (melhores) e Crock-Croft-Gault. • Os melhores marcadores de função renal são Creatinina, Uréia, Insulina. A creatina é o mais utilizado na prática. • O gráfico apresenta os sintomas conforme a TFG: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: • A partir de TFG=50 pode surgir hipercalemia (acúmulo de K+) devido ao Hipoaldosteronismo Hiporreninêmico: o dano renal causa diminuição da produção de Renina pelas células justaglomerulares renais, que ocasionará na diminuição da aldosterona (responsável por reabsorver Na+ e secretar K+). Com isso o K+ se acumula (hipercalemia). • A deficiência de produção da Eritropoetina pelos rins é o grande fator que causa Anemia em pacientes DRC. Há uma deficiência de Ferro, por conta da incapacidade de retirar o ferro da ferritina, devido a inflamação. Pode haver déficit de vit. B12 e ácido fólico. • Doença Mineral Óssea: o Ca+2 e o P são fisiologicamente eliminados no rim. No paciente com DRC, o P vai ser menos eliminado e se acumula no sangue (hiperfosfatemia). O P sérico se liga ao Ca+2 no sangue, diminuindo a quantidade de Ca+2 livre (Hipocalcemia). Hiperfosfatemia + Hipocalcemia estimulam a produção do Paratormônio (PTH), que retira o Ca+2 dos ossos e jogam na corrente sanguínea, deixando os ossos mais frágeis. Além disso, o PTH diminui a perda de Ca+2 nos rins e estimula a produção de Vit.D. Essa vit.D ativa (calcitriol) aumenta a absorção intestinal de Ca+2. Como há um dano renal, o rim não consegue produzir Vit.D e absorve menos Ca+2, piorando a doença mineral óssea. o Osteíte Fibrose Cística: aumento do turnover ósseo. A excessiva produção do PTH leva a proliferação dos osteoclastos, que são células do tecido ósseo responsáveis pelo remodelamento ósseo. Desta forma, ocorrerá a substituição do tecido ósseo por fibroso. Tratamento: quelantes de fósforo – acetato ou carbonato de cálcio, sevelamer (não tem cálcio); redução da ingesta de fósforo; calcitriol ou paricalcitol (aumenta níveis de cálcio e diminui fósforo); calcimiméticos (cinacalcete) o Doença Óssea Adinâmica: redução do turnover ósseo. Nesse caso o PTH está baixo. O paciente produz matriz óssea com pouco Ca+2 e pouco mineral, tornando-a frágil. (ex: osteomalácia) • Fator de crescimento fibroblástico 23 (FGF 23) é um hormônio produzido pelas células do tecido ósseo chamadas osteoblastos e osteócitos. Tem como funções aumentar a excreção de fósforo pelos rins e inibir a forma ativa da vitamina D (calcitriol), protegendo contra o excesso de vitamina D e evitando a retenção de fósforo no organismo. Paciente com alto nível de FGF 23 tem associação com mortalidade, diálise não resolve. Clínica: fragilidade e dor óssea, formação de cistos ósseos, pruridos, alteração mental (devido ao hiperparatireoidismo), HVE, fibrose miocárdica, • Calcifilaxia: condição rara em que o cálcio se acumula dentro dos vasos sanguíneos da gordura e da pele. É também chamada arteriolopatia urêmica cálcica. Clínica: lesões de pele nos MMII ou áreas com maior teor de gordura, como mamas, nádegas e abdome. As lesões eventualmente evoluem para úlceras ou nódulos extremamente dolorosos. Ocorre especialmente quando associado ao uso de Varfarina. • Distúrbios do Sódio: pode haver acúmulo de água e Na+ com lesão renal a partir do estágio 3. Clínica: edema periférico a EAP. Conduta: restrição da ingesta de água, sal; uso de diuréticos de alça. • Distúrbios do Potássio: a perda da função renal causa diminuição da aldosterona e com isso gera hipercalemia. Alguns medicamentos (iECA, BRA, Espironolactona. Eplerrenona, Amilorida, BB) causam hipercalemia. Diabetes também causa hipercalemia. Conduta: diuréticos caliuréticos, dieta e suspensão dos medicamentos. • Acidose Metabólica: o Estágios iniciais (~estágio 3): ▪ Perda de HCO³-; diminuição da produção de amônia; Acúmulo de Cl-; Acidose metabólica de ânion Gap normal (<12). o Estágios avançados: Incapacidade de excretar demais ácidos; Acidose metabólica de ânion Gap elevado; Raramente < 7,35; deve ser tratado com suplementação de bicarbonato, atenção à sobrecarga de sódio/volume. Ânion Gap: [(Na + K) – (HCO3 + Cl)] • Síndrome Urêmica: o Hemostasia: disfunção plaquetária o TGI: Gastrite, úlcera péptica, gastroparesia, íleo urêmico, diarreia. o SN: disautonomia, parestesias ascendentes sensi/motora, “bota”. o Pericardite o Pleurite e derrame pleural o Ascite o Alteração mental → Hiperparatireoidismo, toxinas urêmicas o Endócrino → redução da metabolização de insulina (ela vai ficar mais tempo no organismo) MANEJO CLÍNICO: • Estatinas: indicado em todos com TFG<60 ou risco cardiovascular >7,5%. o Atorvastatina ou Sinvastatina + Ezetimiba • Controlar a proteinúria (principalmente nos diabéticos). Objetivo: <500-1000mg/24h o dieta sem proteínas e sem sal. • Controle glicêmico: o Metformina só pode ser usada até o estágio 3. o Inibidores SGLT-2: pode usar até estágio 4. o Agonista GLP-1: pode usar até estágio 5. o Inibidores da DPP-4: estágio 4 e 5 não dialítico. o Biguanidas: pode ser utilizada, com ajuste de dose, até TFG 45ml. o Sulfoniluréias: até estágio 5 não dialítico. o Insulina: especialmente para pacientes em diálise (usar doses menores) • Controle pressórico: o Deve ser tratado de forma vigorosa (objetivo: <130/80mmHg) o Em paciente com proteinúria >500: iECA ou BRA (somente até estágio 3 ou diálise) o Em paciente não proteinúrico, com edema: diurético. (Não usartiazídico se TFG<30). o Não usar espironolactona: risco aumentado de hiperK MANEJO AMBULATORIAL: • Estágio 1, 2 e 3: na atenção primária • Estágio 4: na atenção primária ou nefrologista • Estágio 5: nefrologista o Grandes cuidados: • Controle da patologia de base • Controle Pressão arterial sistêmica e proteinúria (<130/80mmhg, <1g/dia) • Averiguar lesão de órgãos-alvos: Coração, retina, pulmão. • Controle de distúrbios hidroeletrolíticos • Controle de anemia e doença óssea • Orientação sobre a doença e agudizações: confusão mental, “fraqueza forte na perna”, diarreia, dispneia etc. → procurar atendimento precoce para avaliar hemodiálise de urgência. TERAPIA SUBSTITUTIVA RENAL (TRS) Pacientes DRC estágio 4 ou 5, TFG<20ml, (4 se diabético) devem ser preparados para iniciar diálise em pouco tempo. A preparação consiste em fazer uma fístula arteriovenosa. Demora 6 meses para maturar (boa para puncionar) Recomendações para controle glicêmico em não-dialíticos: • CKD estágio 4: agonista do GLP-1 (dulaglutide, semaglutide e liraglutida). • CKD estágio 5 sem diálise: sulfoniuréia com metabólito inativo (glipizida, glimepirida, glicazida) Tipos: • Hemodiálise: o Fístula arteriovenosa (FAV): ideal para DRC. o Cateter Duplo Lumen de Diálise (CDL): dura 30 dias. (utilizado caso a FAV não tenha maturado ainda. o Cateter de Longa Permanência: pode ficar 6 meses; o Esquema: 3x/ semana com sessões de 3h no máximo ou diário com duração prolongada. • Diálise Peritoneal: o Recomendado para o paciente DRC que ainda tem diurese. o Usa-se um Cateter de Tenckhoff para drenar líquido do peritônio. o Esquema: diário intermitente / diário contínuo ESQUEMA SIMPLIFICADO DA CLASSIFICAÇÃO DE KDIGO 120 90 15 30 45 60 G5 G4 G4 G3b G4 G3a G4 G2 G4 G1 G4 Valores de Referência: TFG normal: 90-120ml/min ou 180L/dia Creatinina normal: 0,7-1,5mg/dL Diurese normal: 1,5-2L/24h Uréia normal: 20-40mg/dL Indicações para diálise (TRS): • Risco iminente de vida, sepse ou criticamente doente. (pedir gasometria sempre). • Acidose metabólica com Anion gap aumentado. • Hipercalemia refratária a medidas clínicas. • Intoxicações por drogas dialisáveis. • Paciente não urina • Uremia: encefalopatia urêmica, sangramentos urêmicos G1 – Normal G2 – Diminuição leve G3a – Diminuição moderada G3b – Diminuição pouco severa G4 – Diminuição grave G5 – Falência renal INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA Definição: Caracteriza-se por redução rápida (em horas ou dias) da TFG, resultando na incapacidade do rim de exercer suas funções básicas de excreção de escórias nitrogenadas e manutenção da homeostase hidreletrolítica do organismo. Frequentemente é reversível, podendo se manter por tempo variável. Epidemiologia A maioria dos episódios de LRA ocorrem em hospitais. Ela tem mortalidade acentuada (36-86%), que varia a depender do local em que o paciente adquiriu a LRA, idade do paciente e da intensidade da doença. As maiores taxas de mortalidade são em idosos. Classificação Etiologias Vai depender do nível de acometimento. Pode ser de origem: • Pré-renal: resulta da redução da perfusão renal, isto é, de eventos que culminam em diminuição do volume circulante, como no caso de desidratação (p. ex., diarreia, vômitos, febre), sangramentos, uso de diuréticos e insuficiência cardíaca. Caracteriza-se por redução da excreção urinária de sódio e de água, com elevação da osmolaridade urinária. A LRA pré-renal é facilmente reversível, desde que os fatores precipitantes sejam rapidamente corrigidos. • Renal (intrínseca): é causada por fatores intrínsecos ao rim, sendo classificada de acordo com o principal local afetado: glomérulo; túbulos; interstício; e vasos. Sua etiologia mais comum é a lesão tubular, principalmente de origem isquêmica ou tóxica. No entanto, a principal e mais frequente causa de necrose tubular aguda (NTA) é isquêmica e o seu principal fator causal tem origem pré-renal, como consequência da redução do fluxo sanguíneo, especialmente se houver comprometimento suficiente para provocar a morte das células tubulares. Eventos isquêmicos mais graves podem resultar em necrose cortical irreversível. Agentes nefrotóxicos incluem principalmente antibióticos aminoglicosídios, contrastes radiológicos e quimioterápicos, além de pigmentos (p. ex., mioglobina) e venenos ofídicos • Pós-renal: ocorre obstrução das vias urinárias, que pode ser observada em qualquer nível do trato urinário, porém, no acometimento de ureteres, depende da presença de obstrução bilateral. A obstrução pode ser causada por hiperplasia prostática benigna, neoplasia de próstata ou bexiga, distúrbios retroperitoneais, bexiga neurogênica, cálculos renais bilaterais, fibrose retroperitoneal, entre outros. Na NTA o paciente pode se recuperar num período de 2 a 8 semanas, passando pela fase oligúrica e depois pela fase não oligúrica ou até mesmo poliúrica. Diagnóstico e manifestação clínica Critérios diagnósticos: • Aumento >0,3 na creatinina em 48h • Aumento >50% a creatina basal nos últimos 7 dias. • Débito urinário <0,5 mL/kg/h em 6h. Manifestação clínica: a LRA subdivide-se em 4 fases: • Fase inicial: volume urinário normal ou diminuído • Fase oligúrica: débito urinário <500ml/dia • Fase poliúrica: rápida elevação da diurese • Recuperação funcional: após vários dias de diurese normal, com redução gradativa de ureia e creatinina. A LRA também pode ser assintomática! Sintomas mais comuns: náuseas, vômitos, soluços, anorexia, prurido, sangramento no trato GI, pericardite, alterações hematológicas e neurológicas, dispnéia, edema periférico, ascite, distenção das veias jugulares, arritmias, hipercalemia, hiponatremia, hipermagnesemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia, acidose metabólica. Diagnosticando LRA pré-renal: • Sinais e sintomas de hipovolemia: hipotensão/hipot. Postural; taquicardia; sede; mucosas e pele seca; redução da diurese; olhos fundos. • Conduta: infusão de cristalóide, observando diurese antes e depois da infusão. Diagnosticando LRA pós-renal: • Anúria e hematúria; massa abdominal (bexigoma); dor lombar/suprapúbica. • Comum em pacientes: homem idoso com Hiperplasia Prostática Benigna, ureterolitíase, oncológicos. • Conduta: sonda vesical de alívio ou de demora, cateter duplo J. Diagnosticando a LRA renal (intrínseca): • Necrose Tubular Aguda: causada por nefrotoxicidade ou isquemia. Também por LRA pré-renal prolongada. • Nefrite Intersticial Aguda: causada principalmente por medicamentos (antibióticos). • Glomerulonefrite Rapidamente Progressiva: há proteinúria maciça. • Compartimento vascular: oclusão de art. Renal, vasculites, HAS maligna, necrose cortical aguda. • Microangiopatia trombótica: presença de plaquetopenia. Rabdomiólise: síndrome que decorre da lise de células musculares esqueléticas, com a liberação de mioglobina no sangue, que vai parar nos rins obstruindo os túbulos renais, reduzindo a TFG e levando a LRA oligúrica. Etiologias: Traumáticas (acidentes com lesão muscular) ou não traumáticas (drogas, patologias). Clínica: fadiga, dor muscular, náuseas, vômitos e febre, urina avermelhada/marrom, uremia, hipocalcemia e hipercalemia. Dx: CPK >20.000 para LRA. Conduta: 1º - Tirar o fator causal (se houver); 2º - Hidratação vigorosa (DU: 200-30ml/h); 3º - Hemodiálise de urgência. Diferenças entre DRC e LRA: 1. USG renal: perda da diferenciação cortiço-medular no DRC; aumento do tamanho renal em LRA e atrofia no DRC. 2. Sinais de Cronicidade: anemia por deficiência de eritropoetina e hiperparatireoidismo em DRC. 3. Nível de tolerância de uréia: paciente LRA não tolera níveis de ureia >100 (já apresenta síndrome urêmica), enquanto o DRC está assintomático. Manejo básico Tratamento: *TRS: Terapia Renal Substitutiva= Hemodiálise *Evitar acesso em subclávia para não gerar estenose e prejudicar uma futura fístula arteriovenosa. TODO PACIENTE COM IRA TEM DE FAZER ESSA TRÍADE: Exame de urina + Creatinina + USG de vias urinárias.
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