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PÂNCREAS e PANCREATITES O pâncreas possui um parênquima exócrino e um parênquima endócrino. O parênquima exócrino consiste em 99% do peso da glândula e é formado por ácinos serosos e seus ductos associados. As células acinosas produzem o suco pancreático, em torno de 1,5 L/dia, o qual contém enzimas digestivas que acessam o lúmen duodenal através do sistema de ductos excretores pancreáticos. O parênquima endócrino do pâncreas consiste nas ilhotas de Langerhans, as quais produzem vários hormônios que afetam o metabolismo de carboidratos. Ductos: Ductos intercalares → ductos intralobulares maiores → ductos interlobulares ( se anastomosam extensamente, tornando-se maiores e desembocando em dois ductos excretores pancreáticos que desembocam no duodeno. O ducto pancreático principal, de maior extensão, atravessa toda a glândula, da cauda à cabeça, abrindo-se no duodeno juntamente com o ducto colédoco na ampola duodenal maior. O ducto pancreático acessório, de menor extensão, recebe tributários da cabeça do pâncreas; ele se comunica com o ducto pancreático principal). Pâncreas endócrino: Histologia normal do pâncreas: PANCREATITES: Dor irradia para as costas - “dor em faixa”; Fatores etiológicos: Alcoolismo - 80% dos casos; Cálculos biliares - 35 a 60% dos casos; Outras causas são obstrução dos ductos por outros agentes, hipercalcemia, hiperlipoproteinemia, traumatismos e fármacos. Porcentagem significativa (10%) dos casos é idiopática. A pancreatite aguda compromete preferencialmente adultos, da terceira à sexta décadas de vida, de ambos os gêneros. Se associada à doença biliar calculosa, é mais comum em mulheres; quando associada a alcoolismo, acomete mais homens. Etiopatogênese: As causas mais importantes de pancreatite aguda são cálculos biliares e ingestão de álcool. Os mecanismos patogenéticos principais são obstrução ductal e lesão das células acinares. IP - ilhota pancreática; CA - células acinares; Mecanismos de proteção do pâncreas: • A maioria das enzimas digestivas são sintetizadas como pró enzimas inativas (zimogênios), que são contidas dentro de grânulos de secreção. • A maioria das proenzimas são ativadas pela tripsina, que é ativada por enteropeptidase duodenal (enterocinase) no intestino delgado; assim, a ativação de pró enzimas intra pancreáticas é normalmente mínima. • Células acinares e ductais secretam inibidores de tripsina, incluindo inibidor de serina protease tipo 1 de Kazal (SPINK1), o que limita ainda mais a atividade de tripsina intrapancreática. A pancreatite ocorre quando esses mecanismos de proteção são desordenados ou sobrecarregados. A pancreatite aguda é caracterizada por lesão reversível do parênquima pancreático associada à inflamação e tem diversas etiologias, incluindo agressões tóxicas (p. ex., álcool), obstrução do ducto pancreático (p. ex., cálculos biliares), defeitos genéticos herdados, lesão vascular e infecções. Patogenia: Obstrução do ducto (colelitíase/obstrução ampolar/alcoolismo crônico) → edema intersticial → fluxo sanguíneo insuficiente → isquemia → lesões de células acinares; Lesão direta de células acinares (álcool/ fármacos/ trauma/ isquemia/ vírus/ hipercalcemia) → Liberação e ativação inadequadas de enzimas pancreáticas que destroem o tecido pancreático e estimulam a inflamação aguda. Transporte intracelular deficiente (lesão metabólica/ álcool/ obstrução ductal) → liberação de proenzimas em comportamento lisossômico → ativação intracelular de enzimas → lesão de células acinares. OBS: ENZIMAS - a tripsina, além de promover a autodigestão do parênquima, ativa outras pró-enzimas, como elastase e fosfolipase, que resultam, respectivamente, em lesão vascular (e, em consequência, hemorragia) e esteatonecrose. A tripsina também converte a pré-calicreína em calicreína, a qual promove liberação de bradicinina e substâncias vasoativas que produzem vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e edema. As enzimas ativadas levam a inflamação intersticial e edema + proteólise + necrose gordurosa + lesão à parede dos vasos → resultando na pancreatite aguda. Pancreatite por Álcool: O álcool exerce ação tóxica direta nas células acinares e também contribui para uma obstrução do ducto já que aumenta transitoriamente a contração do esfíncter de Oddi. Aspectos principais da pancreatite aguda: Morfologia: Amplo espectro morfológico Lesões Básicas: 1. Edema 2. Necrose gordurosa (esteatonecrose) 3. Necrose parenquimatosa 4. Destruição da parede vascular 5. Infiltrado inflamatório A morfologia da pancreatite aguda varia desde triviais inflamação e edema a uma grave e extensa necrose com hemorragia. As alterações básicas são (1) extravasamentos microvasculares e edema, (2) necrose gordurosa, (3) inflamação aguda, (4) destruição do parênquima pancreático, e (5) destruição dos vasos sanguíneos e hemorragia intersticial. A extensão de cada uma dessas alterações depende da duração e severidade do processo. O aspecto macroscópico da forma discreta é de intumescimento do órgão (pancreatite edematosa ou intersticial), com esteatonecrose focal, que se evidencia por pontilhado amarelo-gema, constituindo as chamadas “manchas em pingo de vela”. Necrose do parênquima pancreático ou hemorragia estão ausentes. Nos quadros graves, extensas áreas de esteatonecrose estendem-se por todo o órgão, acompanhadas de necrose do parênquima pancreático (pancreatite necrosante) e hemorragia (pancreatite necro-hemorrágica). Histologia: Leucocitose + Coagulação intravascular disseminada + Edema + Necrose gordurosa difusa. Aspectos clínicos: OBS: Classificação da Pancreatite Aguda: RESUMINDO: A pancreatite aguda é uma doença inflamatória do pâncreas exócrino, frequentemente associada ao alcoolismo ou à ingesta excessiva de álcool. Suas manifestações clínicas variam de leves a fatais. As células acinosas pancreáticas são normalmente protegidas dos efeitos nocivos das enzimas digestivas que elas secretam. Entretanto, a injúria às células acinosas ou a obstrução dos ductos pancreáticos pode levar a extravasamento extracelular inapropriado de enzimas digestivas ativadas e autodigestão dos ácinos pancreáticos. Edema e uma progressiva fibrose do estroma podem ocorrer e causar hemorragia e, finalmente, insuficiência pancreática. Níveis séricos elevados de amilase e lípase são diagnósticos para esta doença. PANCREATITE CRÔNICA e NEOPLASIAS Pancreatite Crônica O pâncreas é composto predominantemente de células exócrinas, localizadas predominantemente na cabeça do pâncreas, próximas aos ductos e lóbulos. Já as células endócrinas se localizam preferencialmente no final do corpo e no começo da cauda do pâncreas. A pancreatite crônica pode ser decorrente de processos repetidos de pancreatite aguda mais brandas → hipótese “necrose-fibrose”, em que episódios repetidos de destruição parenquimatosa são seguidos de fibrose progressiva. A pancreatite crônica é definida como uma inflamação prolongada do pâncreas associada com uma destruição irreversível do parênquima exócrino (células acinares), fibrose e, nos estágios mais avançados, destruição do parênquima endócrino (ilhotas de Langerhans). A perda das ilhotas de langerhans na progressão da pancreatite crônica leva ao desenvolvimento de DM (diabetes mellitus). Inflamação crônica - reparo → depósito de colágeno e componentes da matriz extracelular → fibrose. A causa mais comum de pancreatite crônica é, de longe, o abuso de álcool em longo prazo (principalmente nos homens). Além do álcool, a pancreatite crônica é associada às seguintes condições: • Obstrução prolongada do ducto pancreático por cálculos (principalmente nas mulheres) ou neoplasias. • Lesão auto imune da glândula. • Pancreatite hereditária. • Alterações anatômicas do pâncreas - pâncreas divisium → modifica a estrutura do ducto e o ducto de santorini, que é o principal, fica muito sobrecarregado. OBS: A porção perdida não se recupera mais, a intervenção farmacológica possibilita a administração exógena das enzimas, para tentar manter a absorção dos nutrientes.Manifestações clínicas: edema de membros, diarreia (fezes brancas e amolecidas), perda de peso. Patogênese: A exposição ao álcool modifica a consistência do suco pancreático, fazendo com que ele fique mais viscoso, rico em proteínas. Além de aumentar a concentração de proteínas no suco pancreático, há diminuição da litostatina (substância que previne a deposição de cálcio). Assim sendo, começa a ocorrer uma solidificação, o pâncreas vai calcificando. Há formação de rolhas proteicas e deposição de cálcio, que precipita, formando cálculos, os quais obstruem os ductos. A obstrução do ducto leva a um aumento da pressão intraductal, surgindo pequenos focos de isquemia. Isquemia → necrose; A obstrução também possibilita o surgimento de inflamação, em que há aumento de radicais livres. TGFB - mediador químico do processo inflamatório crônico. PDGF - fator de crescimento relacionado às plaquetas. Na pancreatite crônica, episódios repetidos de lesões de células acinares levam à produção de citocinas pró-fibrogênicas, como fator transformante do crescimento-β (TGF-β) e o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), o que resulta na proliferação dos miofibroblastos, secreção de colágeno e remodelação da matriz extracelular (MEC). Lesões repetidas produzem perda irreversível da massa de células acinares, fibrose e insuficiência pancreática. A pancreatite crônica é caracterizada por fibrose, atrofia e destruição de ácinos e dilatação variável de ductos pancreáticos. Morfologia: Ductos apresentam dilatações, distorções e alterações no seu epitélio- atrofia, hiperplasia e metaplasia escamosa. Ductos - epitélio simples que pode variar de cuboide a colunar. Conforme a doença vai progredindo, o epitélio ductal pode ser atrofiado ou hiperplásico, ou pode mostrar metaplasia escamosa. Aspectos clínicos: CISTOS Cisto não neoplásico: Cisto - cavidade revestida por epitélio; Pseudocisto - cavidade não revestida por epitélio; Pseudocistos - formados no processo de pancreatite aguda sobreposta a pancreatite crônica. Contém material necrótico hemorrágico em seu interior e ausência de revestimento epitelial. Como não há revestimento epitelial é impossível evoluir para carcinoma. Pode obstruir os ductos (colédoco), e perfurar (infecções com perfuração) mas são situações incomuns. Geralmente, eles se resolvem, tem reversão espontânea. Cistos verdadeiros - neoplasias císticas: Neoplasia cística mucinosa; Neoplasia intraductal papilar; Neoplasia cística serosa - exclusivamente benigna, são cistos múltiplos formados por epitélio cúbico, ricos em muco. Acomete principalmente mulheres nas sexta e sétima década de vida. Produz algumas dores abdominais, mas não apresentam risco, são cavidades. A neoplasia cística mucinosa e a intraductal papilar apresentam risco elevado de evoluir para carcinoma, um câncer de altíssima mortalidade. NCM - Neoplasia Cística Mucinosa É uma neoplasia com potencial de malignidade. Podem ser únicos ou múltiplos, com maior tamanho em cauda e corpo do pâncreas. Revestidos por epitélio colunar contendo mucina, sendo sustentados por estroma denso. Estimula-se a produção de tecido conjuntivo (desmoplasia), parecendo um estroma do tipo ovariano. Mutação em TP53 e KRAS - lesões pré-malignas. Marcadores - aumento de CEA (antígeno carcinoide epidermal - típico de neoplasias epiteliais especialmente viscerais). Não é um marcador específico para neoplasias pancreáticas, mas na NCM encontra-se aumentado, e pode ser utilizado para acompanhar o tratamento. Verifica-se no exame de sangue. A amilase encontra-se normal. Progressão: Displasia de baixo grau → displasia de alto grau (carcinoma in situ). Neoplasia Intraductal Papilar Mucinosa (NIPMs): É uma neoplasia benigna com potencial de malignidade. Tem aparência/fenótipo de células gástricas (produzem muito muco); É mais comum na cabeça do pâncreas. Não apresenta estroma denso (tipo ovariano), não há reação desmoplásica tão intensa. Mutações em GNAS, KRAS, TP53 e SMAD4. Marcadores - CEA aumentado e AMILASE aumentada (devido a lesão neoplásica na cabeça do órgão que obstrui a secreção, liberando as substâncias no parênquima). O ducto pancreático principal está afetado. ⟡ Próximo à cabeça, na região ductal, o cisto produz um componente fibrovascular, formando papilas, e bloqueia a secreção ductal e causa um quadro de pancreatite; ⟡ Não se sabe se a pancreatite causa o NIMPS ou o NIMPS causa a pancreatite; ⟡ A obstrução do lúmen ductal faz com que os zimogênios, como a amilase, se acumulem no parênquima do órgão; ⟡ O acúmulo da amilase causa também um processo inflamatório associado. Adenocarcinoma Ductal Pancreático: Carcinoma de pâncreas ou câncer de pâncreas; NCM e NIPMs são consideradas lesões precursoras, mas a mais importante é a NEOPLASIA INTRAEPITELIAL PANCREÁTICA (NIpan). NCM E NIPMs - cistos viraram neoplasias; NIPAN - o epitélio do ducto se transforma, não há formação de cistos. Transformação maligna de epitélio de ductos entre os ácinos. 65% ocorre na cabeça do pâncreas, 15% no corpo, 5% na cauda e 20% de distribuição difusa. Quanto mais próximo da região do ducto colédoco, pior. Tem alto potencial invasivo. Diagnóstico tardio - destruição local avançada e metástases. A taxa de sobrevida em 5 anos é menor que 5%, é muito grave. Progressão: Estágio 1 - lesão precursora, mutações em KRAS e ERBB2. Displasia de baixo grau, o epitélio vai ficando colunar, e tem aumento proliferativo. Estágio 2 - Aumento proliferativo, mutação em CDKN2A (gene que descontrola ciclina no ciclo celular). Os núcleos aumentam de tamanho. Estágio 3 - Carcinoma in situ, mutação em TP53, SMAD 4 e BRCA2 (famoso no câncer de mama). Displasia de alto grau. A partir do estágio 3 tem-se carcinoma invasivo. O tumor se apresenta como uma massa neoplásica pálida. Observa-se obstrução do ducto. A neoplasia emerge do epitélio ductal. Formações de aspecto glandular invadindo o estroma, alta reação desmoplásica, atipia nuclear, mitoses frequentes. Fatores de risco: Tabagismo, obesidade, alta digestão de lipídios saturados. Homens (60-80 anos) → negros e judeus Ashkenazi; Síndromes hereditárias - pancreatite hereditária, câncer de mama hereditário, síndrome de Peutz-Jeghers ( aula de intestino - pólipos adenomatosos intestinais, alterações melanocíticas). Pancreatite crônica -----> Qual das duas vem primeiro? Diabetes mellitus pergunta sem resposta ainda. Aspectos Clínicos: Síndrome de Trousseau - pequenas áreas de trombose na pequena circulação. Há alteração isquêmica, edema, vermelhidão, porém o trombo se dissolve, reverte espontaneamente. Estadiamento:
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