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SUMÁRIO 1. Definição e classificação ......................................... 3 2. Etiologia ......................................................................... 5 3. Investigação e diagnóstico ...................................16 4. Tratamento .................................................................21 Referências Bibliográficas ........................................26 3AMENORREIA 1. DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO O termo amenorreia, por si só, signifi- ca ausência de menstruação. Porém, para sermos mais específicos e não divagarmos em questões subjetivas, a amenorreia é definida como ausên- cia de menstruação em uma mulher em período de menacme, decorren- te de diversas alterações do eixo hi- potálamo-hipófise-ovariano-uterino. Diante disso, tem-se que os quadros de amenorreia podem ser classifica- dos em dois grupos: primária e se- cundária. As definições de cada tipo seguem abaixo. Amenorreia primária: consiste na ausência de menstruação, sem ne- nhum quadro ou evidência de fluxo menstrual prévio, em pacientes de 14 anos sem o aparecimento de ca- racteres sexuais secundários, ou em pacientes a partir de 16 anos, mesmo com a presença de sinais de desen- volvimento puberal. Nesses casos, é importante reforçar que não há san- gramento menstrual prévio; ou seja, consiste na ausência de menarca acompanhada dos requisitos listados acima, uma vez que é evidentemente normal que não haja menstruação em períodos pré-puberais. Deve-se res- saltar que esses quadros possuem baixa prevalência, cerca de 0,4% das mulheres púberes. Amenorreia secundária: consis- te na ausência de menstruação por um período equivalente a três ciclos menstruais prévios, caso esses se- jam regulares, ou por um período to- tal de seis meses, nos casos em que a paciente relata um ciclo mais irre- gular, representando cerca de 5% das mulheres em menacme. Ou seja, mais uma vez para deixar bem claro, a amenorreia secundária consiste em um quadro de ausência de sangra- mento menstrual em mulheres que já tiveram a sua menarca. É importan- te lembrar que a principal causa de amenorreia secundária é a gravidez (guardar para a vida!), sendo que du- rante a lactação e após a menopausa, a amenorreia também é normal. SE LIGA! Aproveitando que estamos falando de um distúrbio menstrual, se- gue uma tabelinha para vocês revisarem a nomenclatura dos principais desvios menstruais: Hipomenorreia Diminuição da duração (menor do que dois dias) Hipermenorreia Aumento da duração (maior do que oito dias) Polimenorreia Intervalo muito diminuídos (menor do que quinze dias) Proiomenorreia Intervalos diminuídos (de quinze a vinte e cinco dias) Opsomenorreia Intervalos aumentados (de trinta e cinco a quarenta e cinco dias) Espaniomenorreia Intervalos muito aumentados (qua- renta e cinco a noventa dias) Oligomenorreia Diminuição da quantidade (quanto ao volume) menstrual Menorragia Aumento da quantidade (quanto ao volume menstrual) Hipermenorragia Aumento da duração e da quantida- de menstrual Metrorragia Sangramento fora do ciclo menstrual Menostase Suspensão brusca do ciclo (mais raro) Tabela 1. Nomenclatura dos desvios menstruais 4AMENORREIA MAPA MENTAL: CONCEITO AMENORREIA Ausência de menarca Ausência de menstruação Primária Secundária Paciente de 14 anos Paciente a partir de 16 anos Sem caracteres sexuais secundários Mesmo com caracteres sexuais secundários Após a menarca Ciclos irregulares Ciclos regulares 6 meses ou mais Equivalente a três ciclos 5AMENORREIA 2. ETIOLOGIA Para falarmos da origem dos distúr- bios que causam o quadro de ame- norreia, vamos antes fazer uma bre- ve revisão da parte hormonal do ciclo menstrual, uma vez que a produção de um padrão de sangramento ute- rino cíclico e controlado requer uma correta regulação temporal e quan- titativa de vários hormônios envol- vidos na reprodução. Diante disso, o diagnóstico diferencial de amenorreia pode se dar diante da análise das ne- cessidades do corpo para a geração de um período menstrual normal. Inicialmente, deve-se ter em mente que o ciclo menstrual tem o seu iní- cio no dia em que começa o sangra- mento menstrual, de modo que esse passa a ser o dia 1, terminando no dia imediatamente anterior ao sangra- mento subsequente, possuindo uma duração média de 21 a 35 dias. Cabe lembrar que o ciclo é dividido em duas partes: a folicular e a lútea. A primeira fase é a folicular, que se inicia, desse modo, no primeiro dia do ciclo, sen- do caracterizada pelo recrutamento e amadurecimento folicular por meio da ação do hormônio folículo estimulan- te (FSH), que dura cerca de 14 dias, até o pico do LH. A fase lútea se inicia após esse pico hormonal de hormô- nio luteinizante (LH), quando ocorre a ovulação e tem o seu fim evidente- mente na menstruação. Essa fase se caracteriza pelo aumento dos níveis séricos de progesterona, bem como pelo fato de possuir uma duração fixa a de 14 dias. SE LIGA! o folículo dominante aparece cerca de 5 dias após o início do ciclo, sendo caracterizado pelo folículo que mais possui receptores para o FSH. SE LIGA! A produção hipofisária de gonadotrofinas (FSH e LH) ocorre por meio do estímulo hipofisário por meio do GnRH. A diferenciação do estímulo para a produção de determinado hormônio se encontra nas características da liberação desse hormônio, uma vez que pulsos de GnRH com alta frequência e baixa am- plitude estimulam a produção de FSH (primeira fase do ciclo), enquanto que pulsos com baixa frequência e amplitu- de mais elevada estimulam a produção de LH, caracterizando a segunda fase do ciclo. Pensando na produção hormonal a partir do final do ciclo, no caso de não haver fecundação, ocorrerá a morte das células do corpo lúteo, cursan- do com a atrofia desse. Com isso, os hormônios produzidos por ele, como progesterona, estradiol e inibina A, têm uma queda na sua concentração séria, deixando de realizar o feedba- ck negativo no hipotálamo, de modo que esse passa a estimular a hipófise a produzir o FSH. Com esse início da produção de FSH, tem-se o início de um novo ciclo, com o recrutamento folicular, mobilizando 6AMENORREIA cerca de 8 a 10 folículos, os quais, com o seu desenvolvimento, passa- rão a produzir quantidades cada vez maiores de estradiol. O folículo domi- nante então, por meio da secreção de inibina, promove a inibição do cres- cimento dos demais folículos recru- tados junto a ele e, conforme cresce, secreta cada vez mais estradiol. Figura 1. Desenvolvimento folicular (Williams, ginecologia, 2014) Esse estradiol secretado pelo folículo dominante e pelos demais, até serem inibidos, leva a um aumento dos ní- veis séricos de FSH até determinado ponto que pode ser considerado críti- co. Esse pico ocorre justamente com o pico do estradiol, o qual ocorre cerca de 24 a 36 horas antes da ovulação. Esse pico hormonal confere o sinal necessário para que ocorra o pico de LH, que é fundamental para que haja a ovulação, ocorrendo cerca de 12 horas antes desse evento. 7AMENORREIA Figura 2. Pico hormonal primeira fase do ciclo (Williams, ginecologia, 2014) Com a liberação do ovócito primário, o que restou do folículo dominante no ovário se transforma em corpo lúteo, que passa a produzir estrogênio e progesterona, sendo esse último em maior quantidade. Uma vez liberado o ovócito, tem-se o início da segunda fase do ciclo, que é a fase lútea ou secretora. Nessa fase, o estrogênio liberado pelo corpo lúteo inibe o eixo hipotálamo-hipofisário para a produção de FSH e LH, levan- do a uma queda das gonadotrofinas, o que contribuirá para a posterior de- generação do corpo lúteo. O corpo lúteo possui duração de 14 dias, daí o fato de a segunda fase do ciclo durar exatamente 14 dias. Após esse período, as suas células entram em apoptose, o que faz com que os hormônios por elas secretados so- fram uma queda acentuada, princi- palmente a progesterona. Com isso, tem-se a descamaçãoendometrial na forma de menstruarão. 8AMENORREIA Figura 3. Ciclo menstrual (Williams, ginecologia, 2014) SE LIGA! É importante ter em mente os parâmetros de normalidade do ciclo menstrual para que se possa notar fato- res de anormalidade! CONCEITOS Duração do ciclo Média de 28 dias, variando de 21 a 35 dias Duração do sangra- mento (fluxo) De 2 a 8 dias Volume de perda de sangue De 20 a 80 mL por ciclo Tabela 2: Conceitos de menstruação. A partir disso, podemos inferir que distúrbios da menstruação ocor- rem por meio de acometimentos nos eixos envolvidos no processo de san- gramento uterino. A fim de organizar o raciocínio da etiologia do quadro, bem como para pensar quanto ao tratamento, as causas de amenorreia são agrupadas em quatro compar- timentos, cada um deles referente a um grupo de estruturas comuns en- volvidas no ciclo menstrual. Para ra- ciocinar a ordem de cada um, pense sempre de baixo para cima; ou seja: da vagina para o encéfalo. Compartimento I: está relaciona- do ao útero e à vagina, envolvendo alterações em tais estruturas que 9AMENORREIA comprometem a formação da mens- truação, ou que impedem o extra- vasamento da descamação uterina. Vamos elucidar agora cada uma das causas de amenorreia (primária ou secundária) relacionadas ao compar- timento I. Hímen imperfurado: consiste em uma causa de amenorreia primária, de modo que essa alteração estru- tural que bloqueia a saída do fluxo menstrual. Esse caso naturalmente só pode ocorrer antes da menarca, de modo que a paciente portadora dessa alteração não possui tal evento. Po- rém, ela possui fluxo menstrual, sen- do que esse somente não é liberado, de modo que mulheres nesse quadro apresentam dor pélvica mensal e cí- clica, que corresponde à menstrua- ção, a qual não será liberada. A esse quadro, dá-se o nome de criptome- norreia. A longo prazo, esse acúmu- lo de fluido pode aumentar o volume abdominal, cursando com distensão uterina em decorrência do acúmulo de líquido. É importante ressaltar que essas pacientes apresentam carióti- po 46, XX, caracteres sexuais secun- dários femininos, bem como função ovariana normal. SE LIGA! esse acúmulo retrógrado de menstruação pode resultar no desen- volvimento de endometriose, bem como de suas complicações associadas, como dor crônica e infertilidade. SE LIGA! sintomas semelhantes ocor- rem nos casos de septo vaginal trans- verso ou de atresia isolada de vagina. Síndrome de Rokitansky: também é conhecido por agenesia mülleria- na, na qual a paciente possui uma anomalia congênita na qual ela nasce sem útero, colo uterino, tubas uteri- nas e terço superior da vagina. Ocor- re no período embrionário, no qual os ductos müllerianos (que dão origem ao terço superior da vagina, ao colo e corpo uterinos e às tubas uterinas) so- frem um processo de agenesia, a qual pode ser total ou parcial. Os casos to- tais resultam na Síndrome de Mayer- -Rokitansky-Kuster-Hauser (ou sim- plesmente Síndrome de Rokitansky), na qual as pacientes não desenvol- vem nenhuma das estruturas asso- ciadas aos ductos de Müller. Apesar disso, a paciente apresenta ovários, de modo que em tais pessoas, os ca- racteres sexuais femininos secundá- rios estão presentes. Logo, conclui-se que a ausência de menstruação não decorre da falta de estímulo hormo- nal, mas sim pela a ausência da es- trutura funcional responsável pelo sangramento (útero). 10AMENORREIA SE LIGA! Os ductos de Müller estão as- sociados também à formação dos rins, de modo que a Síndrome de Rokitansky é associada à malformação renal, de- vendo ser investigada nos casos de pa- cientes com essa condição. Síndrome de Morris: consiste em uma causa de amenorreia primária, na qual a paciente possui cariótipo 46, XY. Muito provavelmente o leitor deve estar se perguntando como isso é possível, uma vez que os cromos- somos sexuais são relativos ao sexo masculino. Para responder a essa dú- vida, devemos entender o mecanismo pelo qual essa síndrome ocorre. Em pacientes com a síndrome de Mor- ris, ocorre um fenômeno chamado de insensibilidade androgênica, no qual o corpo do feto possui ausência completa de resposta aos hormônios masculinizantes produzidos durante o desenvolvimento intrauterino, em decorrência de mutações nos genes dos receptores de androgênios, le- vando a um quadro de impedimento da ligação normal dos hormônios vi- rilizantes. Nesse caso, a testosterona não gera o seu efeito de converter a genitália primitiva para pênis e es- croto, resultando no aparecimento de uma vulva externamente. Associado a isso, como a paciente não possui um estímulo para a produção dos órgãos genitais femininos, a cavidade perine- al não possui útero, ovários e os dois terços inferiores da vagina. Sendo assim, esse quadro nos ajuda a inferir que, nesse caso, a paciente não apre- senta caracteres sexuais secundários (algumas podem apresentar mamas pela alta conversão dos andrógenos em estrogênio), possuindo testículos, os quais geralmente se encontram aprisionados na região inguinal. SE LIGA! Não é incomum que haja cer- ta confusão entre o quadro da agenesia mülleriana e o da síndrome da insensi- bilidade completa aos androgênios (Sín- drome de Morris). Por isso, é importante que sejam fixadas as diferenças entre os quadros. Para ajudar nessa tarefa, observe a tabela a seguir que compara certas características das pacientes com cada uma dessas patologias: APRESENTAÇÃO SÍNDROME DE ROKITANSKY SÍNDROME DE MORRIS Padrão de herança Esporádica Recessiva, liga- da ao X Cariótipo 46, XX 46, XY Desenvolvimento dos seios Sim Sim Pelos axilares e pubianos Sim Não Útero Não Não Gônadas Ovários Testículos Testosterona Níveis femininos Níveis masculinos Anomalias associadas Sim Não Tabela 2. Tabela comparativa entre Rokitansky e Morris. Síndrome de Asherman: consiste em uma causa de amenorreia secun- dária, caracterizada por um quadro de sinéquia (aderências na cavidade uterina) sintomática em decorrência de curetagem uterina ou puerperal, 11AMENORREIA na qual as aderências formadas pre- judicam o funcionamento correto do útero, levando ao impedimento da menstruação, bem como geran- do infertilidade. Pode cursar com fi- nas aderências, bandas densas e até obstrução total da cavidade uterina, sendo que esse processo patológico acaba por destruir a camada uterina basal, a qual gera o espessamento endometrial a cada ciclo, em respos- ta aos hormônios ovarianos. Desse modo, não há produção do tecido e nem o seu descolamento decorrente da queda de progesterona ao final do ciclo. Diante da suspeita de sinéquias in- trauterinas, deve-se realizar uma his- terossalpingografia, a qual eviden- ciará as sinéquias como falhas de enchimento irregulares e anguladas no interior da cavidade uterina, sendo esse exame suficiente para o diag- nóstico definitivo, ainda que a ultras- sonografia transvaginal possa auxiliar a esclarecer casos mais difíceis. Figura 4. Fotografia histeroscópica revelando sinéquias intrauterinas (setas). Fonte: Williams, ginecologia, 2014. Compartimento II: alterações nesse compartimento acometem os ovários, resultando em um quadro de impedi- mento da menstruação, seja ela pri- mária ou secundária. Como fizemos no compartimento anterior, elucida- remos as patologias que podem advir desse compartimento resultando em quadros de amenorreia, seja ela pri- mária ou secundária. Síndrome de Turner: a síndrome de Turner consiste em uma anomalia ge- nética na qual a paciente possui cari- ótipo do tipo 45, X0. Diante da falta de um cromossomo X, essa síndrome traz consigo anomalias congênitas que resultam em disgenesia gonadal ou falência ovariana prematura, dada a atrésia acelerada dos ovócitos, de modo que as gônadas femininas se- jam substituídas por uma estria fibro- sa, sendo uma causa de amenorreia 12AMENORREIA primária. Junto a esse quadro, existe a apresentação de defeitos somáti- cos, como baixa estatura, pescoçoalado, linha capilar baixa, tórax em forma de escudo e malformações cardiovasculares. Figura 5. A. córtex ovariano normal pré-menopáusico com múltiplos folículos primordiais. B. ovário de uma mulher com disgenesia gonadal. Ovário em fita revelando estroma ovariano sem folículos primordiais.Fonte: Williams, gineco- logia, 2014 Síndrome de Savage: também co- nhecida como Síndrome do Ovário Resistente, é um caso mais raro de amenorreia primária, na qual os ová- rios possuem mutações quanto aos receptores de gonadotrofinas (FSH ou LH). Desse modo, essa insensibi- lidade ovariana não permite que haja o devido estímulo para que ocorra a produção dos hormônios esteroides femininos, impedindo assim, o funcio- namento do ciclo menstrual. Síndrome dos Ovários Policísti- cos (SOP): consiste em uma causa de amenorreia primária, bem como a causa mais comum de anovulação crônica com estrogênio presente. Desse modo, não ocorre a formação do corpo lúteo, nem a produção de progesterona, de modo que o útero permanece sob o estímulo do estro- gênio, gerando um quadro de san- gramento anormal, com ciclos muito espaçados, podendo chegar a mais de seis meses sem a presença de menstruação (daí serem caracteriza- dos como uma das causas de ame- norreia secundária). Em alguns casos, a ausência de sangramento endo- metrial pode ser decorrente também da presença elevada de andrógenos nessas pacientes, uma vez que esses hormônios possuem a capacidade de atrofiar o endométrio. Insuficiência Ovariana Precoce: ge- ralmente consiste em uma causa de 13AMENORREIA Hipotireoidismo: consiste em uma das causas de amenorreia secundária, decorrente de baixa ação da tireoide, hiperprolactinemia, tumores hipofisá- rios e infecções que lesam o compar- timento III, gerando déficits quanto aos hormônios gonadotróficos. O me- canismo pelo qual isso ocorre advém do fato que a redução dos níveis sé- ricos de hormônios tireoidianos leva a um aumento compensatório do TRH (hormônio hipotalâmico que estimu- la a adeno-hipófise a produzir o seu hormônio estimulador), o que leva a um aumento do TSH, que estimula os tireotrofos hipofisários, além de se ligar aos lactotrofos da hipófise, aumentando a secreção de prolac- tina. Essa alta de prolactina gera um aumento da dopamina central, que consiste no principal inibidor da se- creção de prolactina (mecanismo de feedback negativo). Esse aumento de dopamina repercutirá no hipotálamo, alterando a secreção de GnRH, rom- pendo com a produção normal e cí- clica das gonadotrofinas, de modo a impedir a ovulação. SE LIGA! O aumento da prolactina pode ser tanto primário (por meio de um pro- lactinoma), ou secundário, dado o meca- nismo de elevação do TRH. Nesse últi- mo caso, os níveis séricos de prolactina são inferiores a 100 ng/mL. Síndrome de Sheehan: ocorre nos casos em que há isquemia e necrose amenorreia secundária, referindo-se a um processo no qual a ação ovariana seja pequena ou simplesmente não ocorra, aliado à alta dosagem sérica de gonadotrofinas, dada a ausência de feedback negativo dos hormônios femininos. Apesar desse envolvi- mento central, ressalta-se que esse quadro resulta de um acometimento primariamente ovariano, não acome- tendo de forma patológica a hipófise ou o hipotálamo (compartimento III ou IV). A definição desse distúrbio con- siste na perda de ovócitos antes dos 40 anos. Esse quadro pode ter diver- sas origens, como cromossomopatias (como mosaicismos do 45, X0), radio- terapia, quimioterapia, cirurgias pélvi- cas prévias e tabagismo. Compartimento III: nesse caso, ocorrem patologias ou distúrbios que acometem à hipófise, gerando inter- ferências no ciclo menstrual que le- vam ao quadro de amenorreia. Hipoplasia hipofisária: consiste em uma anomalia congênita, de modo a ser uma causa de amenorreia pri- mária. Em cenários desse tipo, pode não ocorrer a produção de FSH e LH, ou pode haver uma produção extre- mamente baixa desses hormônios, assim como dos demais hormônios hipofisários, o que leva a um quadro clínico com apresentações mais di- versas, relacionadas aos respectivos déficits hormonais. 14AMENORREIA hipofisária anterior por uma grave hi- potensão pós-parto, geralmente em decorrência de sangramento puer- peral importante ou por um choque hemorrágico. Como resultado, dife- rentes regiões da hipófise podem ser lesionadas, bem como a glândula in- teira, levando a um quadro caracterís- tico do déficit hormonal decorrente da área acometida. Nos casos em que são lesionadas as regiões respon- sáveis pela produção de LH e FSH, a perda da atividade gonadotrófica gera uma anovulação e, por consequ- ência, amenorreia. Compartimento IV: ligado às altera- ções e lesões hipotalâmicas tais que refletem na alteração do ciclo mens- trual, impedindo a menstruação, ca- racterizando o quadro de amenorreia. Síndrome de Kallmann: consiste em uma anomalia congênita, que ca- racteriza amenorreia primária. Nele, ocorre a incapacidade de migração do GnRH, cursando com anosmia (inca- pacidade de reconhecer odores), ca- racterizando-se como uma síndrome genética relacionada ao bulbo olfató- rio, resultante de um distúrbio here- ditário ligado ao cromossomo X, do- minante ou recessivo. Nesse caso, há uma mutação no gene KAL1, o qual codifica proteínas de adesão que são essenciais para a migração normal do GnRH e dos neurônios olfatórios. Logo, essas pacientes apresentam um complemento normal de neurô- nios de GnRH, mas dada à incapaci- dade desse em migrar, a sua ação na adeno-hipófise não ocorre, gerando uma grande redução na produção de estrogênio, devido a falta de estímulo à produção de gonadotrofinas, impe- dindo o desenvolvimento de mamas e do aparecimento do ciclo menstrual. SAIBA MAIS! A Síndrome de Kallmann está associada à anomalias da linha média da face, como fenda palatina, agenesia renal unilateral, ataxia cerebelar, epilepsia, entre outros. Uma das provas de sua existência, além de um quadro clínico sugestivo, é testar o nervo olfatório da paciente, por meio da exposição dessa a odores característicos, como café moído ou algum perfume. Alterações funcionais do hipotála- mo: nesse caso, ocorrem alterações funcionais do hipotálamo, outrora saudável, de modo que surja um dis- túrbio capaz de desregular a produção do GnRH, o que causará a alteração no ciclo menstrual, levando à ame- norreia. Quadros desse tipo geram a chamada amenorreia hipotalâmica, que pode ser oriunda de três catego- rias: transtornos alimentares, excesso de exercícios e estresse. No caso de 15AMENORREIA transtornos alimentares, a restrição calórica grave é a responsável pelo quadro de amenorreia, bem como o estresse ao sistema nervoso central causado pela perda de peso, indução de vômito, uso excessivo de laxativos e exercícios compulsivos. No caso da anorexia, ocorre grave disfunção hi- potalâmica, influenciando em outros eixos hormonais. Já os quadros indu- zidos por exercícios são caracterís- ticos de mulheres em condições de baixa porcentagem de gordura cor- poral, como bailarinas e atletas, sen- do também atrelado à falta de balan- ço energético nutricional positivo. Já finalizamos as etiologias majoritá- rias quanto à amenorreia e os com- partimentos nos quais elas ocorrem. Agora, antes da discussão quanto ao diagnóstico e ao tratamento, va- mos ainda falar de uma outra clas- sificação quanto às amenorreias que se refere mais ao quadro hormonal observado. Neles, podemos obser- var uma ausência de função ovaria- na correta, ausência de estimulação por gonadotrofinas, ou até mesmo a normalidade de algum desses grupos de hormônios. Hipogonadismo hipogonadotrófi- co: nesse caso, ocorre a diminuição tanto dos hormônios ovarianos quan- to das gonadotrofinas, de modo que essas não estimulam as gônadas de modo adequado. Geralmente, qua- dros assim possuem sua origem nos compartimentos III ou IV. Hipogonadismo hipergonadotrófi- co: nesse caso, os ovários não fun- cionam de formaadequada, apesar de um grande estímulo hipofisário e hipotalâmico, revelado pela alta do- sagem sérica dos hormônios gona- dotróficos. Sendo assim, não há a responsividade ovariana, caracteri- zando, geralmente, um problema no compartimento II. Amenorreia eugonadotrófica: nes- se caso, as gonadotrofinas estão em níveis normais, mas não ocorre mens- truação. Logo, mais provavelmente, o problema em questão se encontra na parte canalicular, que consiste no útero e no canal vaginal (comparti- mento I). TIPO DE HIPOGONADISMO LH/FSH ESTROGÊNIO DEFEITO PRIMÁRIO Hipergonadotrófico Alto Baixo Ovário Hipogonadotrófico Baixo Baixo Hipotálamo/Hipófise Eugonadotrófico Normal* Normal* Vários Tabela 3. Tabela categorias de amenorreia com base nos níveis de gonadotrofinas e estrogênio (Williams, Ginecolo- gia, 2014) 16AMENORREIA 3. INVESTIGAÇÃO E DIAGNÓSTICO O cenário de amenorreia, bem com as categorias e etiologias que já foram discutidas tornam evidente o fato de que uma boa anamnese e exame fí- sico são fundamentais para o correto rastreio e identificação de uma causa coerente para a queixa da paciente, podendo apontar o diagnóstico etio- lógico na maioria das vezes. Antes de tudo, é fundamental reite- rar que, nos casos de pacientes que já menstruaram antes (nas quais só é possível que haja amenorreia secundária), a principal causa da au- sência de sangramento uterino é a gestação. Portanto, ao conversar com a paciente, deve-se ter em mente que é importante investigar questões re- lacionadas à gestação, como data da última menstruação (DUM), atividade sexual e contracepção. Além disso, se observarmos as etio- logias mais frequentes, conseguimos inferir que a anamnese deve obter dados fundamentais que podem es- tar relacionados às doenças, bem como podem tê-las causado. Sendo assim, existem informações indispen- sáveis a serem questionadas, além FLUXOGRAMA ETIOLOGIAS E CLASSIFICAÇÃO AMENORREIA Compartimento I Compartimento II Compartimento III Compartimento IV Vagina, útero e tubas Ovários Hipófise Hipotálamo • Hímen imperfurado • Síndrome de Rokitansky • Síndrome de Morris • Síndrome de Asherman • Síndrome de Turner • Síndrome de Savage • SOP • Insuficiência ovariana • Hipoplasia Hipofisária • Hipotireoidismo • Síndrome de Sheehan • Síndrome de Kallmann • Amenorreia hipotalâmica 17AMENORREIA das já citadas, como: idade, histórico menstrual (questionar sobre regulari- dade nos ciclos prévios), anteceden- tes obstétricos, partos, aleitamento, curetagem prévia, dieta seguida, nível de atividade física praticada, estres- se, saúde psicológica, cirurgias pré- vias (especialmente pélvicas), químio ou radioterapia prévias, medicações (com ênfase em drogas psicotrópicas e aquelas que atuam na fisiologia da dopamina), galactorreia (aumento da secreção láctea), hiperandrogenismo (relacionado à SOP), hipoestrogenis- mo e a presença de caracteres sexu- ais secundários presentes ou não. Dito isso, a anamnese deve ser ini- ciada por meio da observação e in- vestigação sobre o desenvolvimento puberal, avaliando a presença dos ca- racteres sexuais secundários e cicla- gem menstrual, especificando o inter- valo e a duração do ciclo, assim como a quantidade de fluxo menstrual. Partindo do fato de que a paciente já menstrua, deve-se investigar quando ocorreu a alteração, se foi abrupta ou gradual, bem como se ocorreu após algum evento, como cirurgia, infec- ção, radioterapia, quimioterapia etc. Em relação aos antecedentes familia- res, deve-se perguntar quanto a pos- síveis causas de cessação precoce de menstruação, assim como histórico de doenças autoimunes. Quanto à histó- ria social, deve ser questionado sobre a exposição a toxinas ambientais, até mesmo cigarro, sendo observados aqueles que atuam nos circuitos da dopamina, como os antipsicóticos. O exame físico da paciente começa quando a olhamos desde que entra em nosso consultório, uma vez que a aparência geral da paciente pode ser útil para indicar possíveis causas, como um IMC baixo, além da obser- vação de desgaste do esmalte dos dentes, que podem ser oriundos de transtornos alimentares. Deve-se buscar por sinais de anomalias ge- néticas, como síndrome de Turner e defeitos na linha média, que podem nos indicar o possível compartimento acometido. Apesar de não ser muito realizado no cotidiano, o exame dermatológico pode ser valioso nesse caso, uma vez que por meio dele podemos observar a presença de hirsutismo, acantose nigricans ou acne, que são indicativos de SOP. O exame das mamas pode elucidar a presença de galactorreia, o que po- deria sugerir níveis elevados de pro- lactina, a qual influenciaria nos níveis de dopamina como já foi discutido antes. Quanto ao exame da genitália, a inspeção já nos revelaria o padrão de distribuição dos pelos pubianos (a não ser que a paciente seja tricotomi- zada), mostrando se a paciente possui um padrão tipicamente feminino ou masculinizado (indicativo de hiperan- drogenismo), assim como essa tipo de distribuição pode se apresentar 18AMENORREIA com clitoromegalia, engrossamento da voz e padrão de calvície masculino. Pacientes com produção estrogênica normal possuirão vagina úmida de cor rosada com muco cervical ao exa- me especular. O toque vaginal pode auxiliar na identificação da presença de útero, a fim de identificar possíveis causas de amenorreia primária. De acordo com as observações do exame físico, podem ser solicitados exames complementares direciona- dos aos achados clínicos. Nos casos de amenorreia primária, deve-se pensar nas possíveis causas que podem resultar no impedimento do fluxo menstrual, principalmente diante na ausência de útero. A pre- sença de mamas já nos é sugestiva da presença ou ausência de estrogê- nio circulando no sangue da paciente. Diante disso, devem ser dosadas as gonadotrofinas, além de ser feito uma ultrassonografia pélvica, a fim de ava- liar a presença e normalidade do apa- relho reprodutor. Diante da suspeita de causas genéticas, pode-se solicitar um cariótipo, que será utilizado para afastar casos de Síndrome de Turner. Outras causas genéticas podem ser diagnosticadas no caso de ausência de útero por meio da testosterona, uma vez que valores elevados suge- rem uma Síndrome de Insensibilida- de aos Androgênios, enquanto que a baixa desses faz com que reste como alternativa uma Síndrome de Morris. Uma vez constatada a anormalidades quanto ao LH e FSH, pode-se solicitar uma tomografia computadorizada de crânio, pensando-se estar diante de anomalias hipofisárias ou hipotalâ- micas, as quais podem estar relacio- nadas a hipoplasias, por exemplo. A ultrassonografia se torna muito im- portante nas pacientes que possuem útero, uma vez que, nesse caso, uma hipótese plausível é a de criptome- norreia, podendo enxergar casos de hímen imperfurado ou septo vaginal transverso. Dados esses exemplos, o entendimento desse rastreio pode ser feito de modo melhor a partir do fluxograma a seguir: 19AMENORREIA AMENORREIA PRIMÁRIA Presença de mamas? Hímen imperfurado, septo vaginal transverso Possivelmente normal Sd. Insensibilidade aos androgênios Malformação mülleriana Sim Não Alta Normal ou baixa Criptomenorreia? Dosar testosterona Sim Não Presença de útero? Sim Cariótipo RM de crânio Alto Baixo Solicitar cariótipo Dosagem FSH Não Sim Presença de útero? Não Investigar disgenesia gonadal XY X0 ou XX XY Alterada Normal Def. de hormônio anti-mülleriano Tumor? Amenorreia hipotalâmica 20AMENORREIA No caso de queixas compatíveis com amenorreia secundária, a abordagem investigativa é seguida inicialmente pelo teste de gravidez. Afastada a hi- pótese de gestação, podem ser feitas dosagens de prolactina e de TSH, a fim de averiguar possíveis etiologias centrais e metabólicas. Nesse cená- rio, são utilizados dois testes que po- dem nos ajudar a levantar as hipóte- ses mais plausíveis para a ausência de sangramento menstrual,que são os testes da progesterona e o teste do estrogênio + progesterona. Teste da progesterona: nesse tes- te, a progesterona é administrada à paciente por 7 a 10 dias, simulando a segunda fase do ciclo menstrual, aguardando um possível sangramen- to endometrial. De acordo com o que já foi elucidado sobre ciclo menstrual e compartimentos, caso a paciente re- late fluxo menstrual, concluímos que há estrogênio circulante, bem como que a paciente não estava ovulando e que o seu trato genital é pérvio. Nes- se cenário, uma das hipóteses diag- nóstica é um quadro de anovulação crônica. No caso de a paciente não menstruar, levantamos hipóteses re- lacionadas à ausência dos caracteres mencionados anteriormente, como ausência de estrogênio circulante (nesse caso, o endométrio não é esti- mulado previamente) ou por um trato genital impérvio. Porém, para termos certeza quanto ao mecanismo, deve ser realizado um segundo teste, que comprovará a teoria da ausência do estrogênio. Sendo assim, realiza-se o teste do estrogênio + progesterona. Teste do estrogênio + progestero- na: nesse teste, o estrogênio é admi- nistrado, simulando a primeira fase do ciclo e após isso, é administrada a progesterona, de modo a simu- lar a segunda fase, do mesmo modo que o teste anterior. Diante disso, se a paciente apresentar sangramen- to menstrual, constata-se que ha- via pouco estrogênio circulante, bem como que a sua cavidade endometrial é normal. Logo, suspeita-se de aco- metimentos no compartimento III ou IV, os quais não estão sendo capazes de estimular o ovário de forma ade- quada, ou ainda no próprio compar- timento II, que não está sendo capaz de produzir os seus hormônios corre- tamente. No caso de haver a ausência de menstruarão após o teste, pode- -se inferir uma cavidade endometrial comprometida, como nos casos de sinéquia intrauterina, correspondente à Síndrome de Asherman. De acordo com os resultados de cada um dos testes, devem ser solicitados exames de acordo com as possibili- dades levantadas e compartimentos provavelmente acometidos, a fim de nos guiar para um diagnóstico e tra- tamento corretos. 21AMENORREIA 4. TRATAMENTO Obviamente, dadas as diversas etiolo- gias que podem culminar em amenor- reia, o tratamento para esse quadro deve ser individualizado e direcionado para a causa que originou esse pro- cesso. Portanto, vamos seguir cada uma das etiologias e elucidar o trata- mento para cada uma delas. Nos casos de criptomenorreia por hímen imperfurado, a correção ocor- re por meio da himenotomia, a fim de escoar o fluxo menstrual que se acumula. Os casos relacionados à alterações anatômicas congênitas, como a Sín- drome de Rokitansky, devem ser tra- tados com a investigação de demais AMENORREIA SECUNDÁRIA Dosar β-HCG Dosar prolactina, TSH Afastada Gestação Teste da progesteronaPositivo Negativo Anovulação Realizar perfil androgênico Realizar teste estrogênio + progesterona Positivo Negativo Dosar FSH e LH Normais Baixos Insuficiência ovariana Insuficiência hipotálamo-hipofisária Alteração estrutural do trato genital Avaliação da cavidade uterina por histeroscopia Possível Síndrome de Asherman 22AMENORREIA alterações do trato urinário, que po- dem acompanhar a malformação das estruturas genitais, além de avaliar o comprometimento do canal vaginal. É importante ressaltar que nesse caso, a etiologia do quadro fará com que não seja possível induzir a menstru- ação na paciente, de modo que essa continuará em amenorreia. Isso tam- bém ocorre nos casos de Síndrome de Morris, devendo-se proceder com a busca e remoção dos testículos, uma vez que a exposição desses a tempe- raturas maiores do que deveria (uma vez que os testículos se abrigam na bolsa escrotal, em uma temperatura menor do que a do corpo) aumen- ta a probabilidade de lesões em seu material genético, gerando quadros propícios para cânceres testiculares. Após a orquiectomia, pode-se pro- ceder com terapia de reposição hor- monal direcionada e individualizada para a paciente, bem como deve ser avaliado o comprometimento vaginal, dada a possibilidade da existência de um canal curto, o que pode vir a pre- judicar a paciente futuramente, caso essa deseje ter uma vida sexual ativa. Nos casos de menopausa precoce, em decorrência de uma insuficiência ovariana primária, deve ser realiza- da a terapia de reposição hormonal por meio de estrogênio e progeste- rona. É importante que se tenha em mente que a progesterona protege o endométrio da paciente, ainda que seus sintomas sejam oriundos prima- riamente do hipoestrogenismo. O diagnóstico de síndrome de Tur- ner requer o tratamento por via de reposição hormonal, a fim de que a paciente desenvolva os caracteres sexuais secundários femininos. SE LIGA! No caso de o tratamento en- volver a reposição hormonal com es- trogênio e progesterona, a duração do tratamento não possui consenso, sendo que a indicação mais razoável é aque- la que mantém o tratamento até apro- ximadamente os 50 anos de idade da paciente, fase essa em que ocorre a menopausa. Nos casos de anovulação por hi- perandrogenismo, como ocorre na síndrome dos ovários policísticos, o tratamento requer mudança do estilo de vida, em termos de dieta e prática de atividades físicas, o uso de anti- concepcionais orais para que o ciclo da paciente seja regulado, bem como tratar as demais queixas apresenta- das pela paciente (lembrar que o tra- tamento é sempre individualizado). Também pode ser administrada me- tformina nas pacientes que apresen- tam quadro de diabetes melito. Quando a paciente for diagnosticada com hipotireoidismo, o tratamen- to padrão dá-se por meio da admi- nistração de levotiroxina, com dose de 1,6 µg/kg, sendo razoável iniciar o tratamento com doses entre 50 e 23AMENORREIA 100 µg via oral diariamente, devendo a resposta ao tratamento ser conferi- da entre 6 a 8 semanas após o início, de modo que o TSH deve ser manti- do dentro de suas variantes normais. Pacientes com hiperprolactinemia devem ser tratadas com agonistas dopaminérgicos, como a bromocrip- tina ou a cabergolina. Em casos que apresentem macroadenomas ou de déficits secundários, pode ser neces- sária a recomendação de tratamento cirúrgico. Pacientes com transtornos alimen- tares ou que praticam exercícios em demasia necessitam modificar o seu comportamento, sendo que nos pri- meiros é necessário a presença de acompanhamento psicológico, uma vez que os diagnósticos de transtor- nos alimentares trazem consigo taxas significativas de morbidade e de mor- talidade. Muitas vezes, ao atender uma paciente que seja atleta de alta performance, essas não desejarão alterar os seus hábitos de vida, de- vendo essas receber terapia com estrogênio. O tratamento da Síndrome de Asher- man, quando possível, requer a histe- roscopia cirúrgica com lise das siné- quias, a fim de propiciar o correto funcionamento uterino. A síndrome de Sheehan é tratada com a reposição dos hormônios cujos locus de produção foram lesionados, assim como nos casos de síndrome de Kallmann. É sempre importante, junto com o diagnóstico, orientar as pacientes quanto à etiologia de sua queixa, im- plicações dessa a longo prazo e as opções terapêuticas, devendo ser elucidados os benefícios e malefícios de cada uma das opções possíveis, sendo muito importante discutir tam- bém o desejo da paciente de engravi- dar futuramente. 24AMENORREIA TRATAMENTO Reposição hormonal Levotiroxina Histeroscopia e lise de sinéquias Tratar fator desencadeante Mudança de estilo de vida + anticoncepcionais orais Agonistas dopaminérgicos Síndromes de Sheehan e Kallmann Orquiectomia Hormônios hiposisários e/ou hipotalâmicos Insuficiência ovariana primária Síndrome de MorrisSíndrome de Turner Estrogênio + Progesterona Avaliar comprometimento vaginal Síndrome de Asherman Amenorreia hipotalâmica Hipotireoidismo SOP Hiperprolactinemia Cirurgia se causa tumoral25AMENORREIA AMENORREIA Etiologias Diagnóstico TratamentoClassificação Compartimento I Compartimento III Compartimento IVCompartimento II Vagina, útero, trompas Hipófise HipotálamoOvários Reposição hormonal Cirurgia Mudanças do Estilo de Vida Ressonância Magnéticaj Anamnese Dosagem hormonalExame físico Secundária Primária 26AMENORREIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Diretriz para amenorreia, Febrasgo Williams, ginecologia, 2014 27AMENORREIA
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