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APLV – ALERGIA A PROTEÍNA DO LEITE SANARFLIX + TRATADO DE PEDIATRIA + ARTIGOS LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO Alergia alimentar mais comum em crianças. ALERGIA ALIMENTAR Geralmente é uma reação adversa ao componente proteico do alimento e envolve mecanismos imunológicos. INTOLERÂNCIA É uma reação adversa que envolve a digestão ou o metabolismo, mas não o sistema imunológico. EPIDEMIOLOGIA Aumento da prevalência no mundo todo Mais comum em lactentes e crianças (6-8%) < 10% dos casos persistem até a vida adulta Prevalência da APLV no Brasil 5,4% crianças Se um dos pais ou irmão tiver doença atópica, o risco de desenvolvimento de atopia em RN e lactentes aumenta para 20-40%, aumentando ainda mais se os pais forem atópicos (40-60%) FISIOPATOLOGIA As manifestações da APLV podem ser Mediadas por IgE, não mediadas por IgE e mistas. A alergia alimentar é desencadeada por resposta imune aberrante à administração oral de antígenos diatéticos, que ocorre quando barreiras imunológicas são quebradas. COMBINAÇÃO DE 2 FATORES: Barreira intestinal imatura e permeável Dieta com proteínas alergênicas Sistema imunológico imaturo Menor produção de IgA secretora Assim, ocorre a penetração dos alérgenos e a sensibilização alérgena. OBS: A alteração da microbiota (parto cesárea, demame precoce) Possuem maior risco de possuírem uma alergia alimentar Uma microbiota saudável é essencial para imunologia. SENSIBILIZAÇÃO ALERGÊNICA: Via intestinal Via mais comum Transcutânea Respiratória FATORES DE RISCO PARA ALERGIA ALIMENTAR Sexo masculino Etnia asiática Etnia africana Comorbidades alérgicas História familiar de alergia alimentar Desmame precoce O leite materno tem IgA que ajuda na tolerância imunológica nos alimentos que são introduzidos, e também ajuda na regulação da microbiota Época de exposição aos alérgenos alimentares MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A APLV pode se apresentar como diferentes síndromes clínicas. As manifestações são diversas e dependem dos mecanismos envolvidos (IgE mediadas – imediatas- e não IgE mediadas- reações tardias-) e do órgão acometido. As reações imediatas geralmente ocorrem minutos depois da exposição a PLV e, tipicamente desenvolvem-se com manifestações gastrintestinais, respiratórias, cutâneas ou anafilaxia. As manifestações cutâneas imediatas são as mais comuns. A HISTÓRIA CLÍNICA é fundamental, detalhando: Idade que surgiu os sintomas Tempo decorrido entre a ingestão do alimento suspeito e o início das manifestações clínicas Quantidade do alimento ingerido Tipo de manifestações clínicas Duração dos sintomas Reprodutibilidade dos sintomas ENTEROCOLITE INDUZIDA POR PROTEÍNA ALIMENTAR (FPIS) Hipersensibilidade gastrointestinal a alimentos Mais grave das hipersensibilidades alimentares gastrointestinais não mediadas por IgE Urgência entre as crianças com APLV REAÇÃO DIVERSAS AOS ALIMENTOS Não imunológicas Dependentes exclusivamente da substância ingerida ou das características dos hospedeiros Intolerância a lactose. Imunológicas Dependentes da susceptibilidade individual de MECANISMOS IMUNOLÓGICOS Alergia alimentar APLV. LOUISE CANDIOTTO 2 Antes era mais rara Geralmente desencadeada pela proteína do leite de vaca, mas pode também ser ocasionado por soja, peixe, frango e outros alimentos Dificulta a dieta Sintomas, em geral, se desenvolvem no primeiro ano de vida Quadro clínico: Náuseas Vômitos intratáveis Hipotonia Palidez Apatia Diarreia com muco e sangue Sintomas iniciam em torno de 1-3 horas da ingestão de proteína Nas crises agudas, em geral, as crianças evoluem bem, com uso de hidratação venosa, esteroides e fórmulas extensamente hidrolisadas (FeH) Tolerância inicia por volta dos 2-3 anos de idade Pode haver leucocitose no quadro agudo PROCTITE E PROCTOCOLITE Mais comum Reação imunológica não mediada por IgE Início em RN e lactentes nos primeiros 3 meses de vida, estando 50% em AME Independente do aleitamento Não se trata de uma alergia ao leite materno, mas de alergia às proteínas alimentares ingeridas pela mãe nutriz e presentes nos alimentos A maioria dessas crianças está em amamentação materna exclusiva e apresenta melhora dos sintomas após a suspensão do leite de vaca da dieta materna em até 72 horas QUADRO CLÍNICO: Enterorragia Sangramento nas fezes com muco, que não altera a consistência das fezes O sangramento na maioria das vezes é de pequenamonta, sendo referida apenas a presença de rajas de sangue nas fezes ou diarreia com muco e sangue Sem comprometimento do estado geral Pode manter bom ganho ponderal O lactente pode apresentar cólica, irritabilidade e choro excessivo Diagnóstico diferencial INTOLERÂNCIA A LACTOSE Não é dose dependente Reação ocorre independente da quantidade ingerida Tratamento na criança amamentada Orientar a dieta de restrição para mãe nutriz Esses pacientes são habitualmente alérgicos apenas ao leite da vaca e apresentam evolução satisfatória, com resolução dos sintomas após a retirada desse alimento da dieta da mãe nutriz Nos pacientes em uso de fórmula à base de vaca ou soja, recomenda-se a mudança dessas para FeH (proteína da vaca extremamente hidrolisada) Nos casos mais graves ou naqueles refratários ao uso de hidrolisados, está indicada a fórmula de aminoácidos (FAA) Em geral, a evolução é satisfatória, com resolução dos sintomas em alguns meses ENTEROPATIA INDUZIDA POR PROTEÍNA ALIMENTAR Primeiros meses de vida Após o desmame e o início das fórmulas com leite de vaca ou soja Após a introdução desses alimentos, o paciente pode apresentar um quadro temporário de ganho de peso satisfatório e boa evolução clínica Reações clínicas podem se tornar evidentes em dias, semanas ou até 1 mês após a introdução do alimento Reações tardias mediadas por células Quadro clínico: Má absorção Início insidioso Diarreia não sanguinolenta persistente Perda proteica acentuada: Hipoalbuminemia e déficit ponderoestatural Vômitos intermitentes Anemia INTOLERÂNCIA A LACTOSE Reação adversa ao alimento não-imunológica. Ocorre a deficiência da lactase Enzima que degrada a lactose. Aparecimento mais tardio Adolescentes e adultos Incomum no lactente. Outros achados Diarreia com distensão abdominal (dose-dependente), não cursa com sangramento ou manifestações alérgicas de pele. Melhora para o leite sem lactose, o que não ocorre na APLV. LOUISE CANDIOTTO 3 Eritema perianal Distensão abdominal Perda de peso Insuficiência do crescimento Diagnóstico clínico Alguns casos pode haver necessidade de endoscopia digestiva alta Tratamento Dieta de restrição a PLV Nas fases iniciais do tratamento, além da exclusão dos alérgenos, pode ser necessária a suspensão dos dissacarídeps (lastose e./ou sacarose) A maioria dos lactentes com APLV responde bem ao uso de fórmulas a base de proteína extensamente hidrolisada (FeH) Nos casos mais graves pode ser necessário o uso de fórmulas a base de aminoácidos (FAA) ou mesmo nutrição parental A soja pode ser uma opção terapêutica, mas deve- se tomar cuidado para não iniciar esse alimento em pacientes com agressões importante da barreira intestinal, pois o aumento da permeabilidade pode contribuir para a sensibilização à soja Inicia somente após o reestabelecimento da barreira intestinal Diagnóstico diferencial Doença celíaca REFLUXO GASTROEXOFÁGICO Lactentes Vômitos/ Regurgitação com baixo ganho ponderal Após introdução de fórmula láctea Antecedente pessoal de sangramento em fezes, de dermatiteatópica e de alergia alimentar Diagnóstico diferencial DRGE CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Refratária ao tratamento clínico habitual Pode ter fissuras anais recorrentes Atecedente de sangramento nas fezes Antecedente pessoal ou famíliar de atopias Diagnostico diferencial Constipação funcional DIAGNÓSTICO O diagnóstico é um desafio Sintomas inespecíficos e testes diagnósticos possuem limitações. PADRÃO OURO Teste terapêutico Exclusão do leite de vaca por 6-12 semanas Melhora dos sintomas. Teste de provocação oral Oferta progressiva do leite de vaca Retorno das manifestações clínicas. SUSPEIÇÃO DIAGNÓSTICA História clínica minuciosa com recordatório alimentar associado aos sintomas Nos casos não IgE mediados, deve-se levar em consideração que os sintomas podem ser tardios e ocorrerem dias ou semanas após a introdução da PLV Após a identificação do alimento suspeito, recomenda-se a eliminação por 2-4 semanas Confirmação por meio de testes de exames complementares e/ou desafio oral TESTES DIAGNÓSTICOS Ainda não existe um teste laboratorial considerado padrão ouro A pesquisa de anticorpos IgE específicos para o leite de vaca pode ser solicitada Testes cutâneos Teste no sangue DIETAS DE ELIMINAÇÃO E TESTE DE PROVAÇÃO ORAL A eliminação do antígeno na dieta, no caso da PLV, fornece informações diagnósticas e, ao mesmo tempo, alívio dos sintomas Se não houver melhora, ou não é APLV ou não foram eliminados todos os antígenos Se a dieta de eliminação tem sucesso, o TPO está indicado para confirmação diagnóstica Teste de provação oral Avalia mediada ou não por IgE Consiste em fornecer alimentos em doses crescentes e intervalos regulares, sob supervisão médica, para detecção de possíveis reações clínicas Os pacientes portadores de APLV devem ser submetidos ao teste de desencadeamento oral, em intervalos e 6-12 meses, para determinar se desenvolveram tolerância Os testes orais também servem para acompanhamento DOENÇA CELÍACA Enteropatia autoimune pela ação da gliadina. Apenas em pacientes predispostos. Início após 6 meses, com a introdução alimentar. Quadro Clínico Síndrome Disabsortiva, esteatorreia, distensão abdominal LOUISE CANDIOTTO 4 ACHADOS COMPLEMENTARES Anemia ferropriva Devido as perdas fecais, má absorção pela lesão do intestino delgado e pela inflamação crônica Eosinofilia periférica Sensibilização IgE específica Testes cutâneos (prick test), IgE sérica (RAST e ImmunoCAP) Apenas para reações IgE mediadas TRATAMENTO Baseia-se na exclusão das proteínas do leite da vaca da dieta, devendo-se também evitar a inalação e o contato com a pele, e manter as necessidades nutricionais do paciente. Para RN e lactentes em aleitamento materno, recomenda-se dieta de restrição para a mãe nutriz. Para aqueles que estão em uso de fórmulas infantis, deve- se avaliar a melhor opção, conforme a idade e o quadro clínico do paciente. EXCLUSÃO DO LEITE DE VACA: AME Exclusão de leite e derivados da dieta materna Fórmula Láctea Substituir por fórmulas extensamente hidrolisadas (proteínas já quebradas) ou a base de aminoácidos FÓRMULAS POLIMÉRICAS À BASE DE PROTEÍNA DE SOJA A recomendação de não utilizar fórmulas de soja antes dos 6 meses devido ao inadequado fornecimento nutricional, vem sendo questionada As fórmulas com proteína de soja podem ser indicadas para os pacientes com APLV, especialmente IgE mediada, com reações de menor gravidade, especialmente para aqueles que recusam as FeH e as FAA ou pela preferencia da família (pais veganos) FÓRMULAS EXTENSAMENTE HIDROLISADAS (FEH) Indicadas para o tratamento da APLV As fórmulas extensamente hidrolisadas estão disponíveis em formulações à base de proteínas do soro (com e sem lactose), da caseína, da soja e do arroz (as duas ultimas não estão disponíveis no Brasil) Na escolha de com ou sem lactose leva em consideração se existe ou não intolerância a lactose associada a AA FEH com lactose Reações mediadas pela IgE Níveis de lactose geralmente normais Proctite e proctocolite IgE não mediado Acometimento no intestino grosso Vantagens Menor custo, melhor palatabilidade e efeito bifidogênico FEH sem lactose Enteropatia e má absorção Acometimento do jejuno/íleo Fases iniciais do tratamento Resultados insatisfatórios Em torno de 10% Indica a FAA FÓRMULA DE AMINOÁCIDOS (FAA) Não contém peptídeos, mas uma mistura de aminoácidos essenciais e não essenciais, sintéticos, sendo consideradas não alergênicas Isentas de lactose Indicadas: Primeira opção Casos graves de anafilaxia que ameaçam a vida, ou enteropatia com lesão de ilosidades e prejuízo nutricional Segunda opção Naqueles que não tiveram uma boa resposta com FeH TEMPO DE RESTRIÇÃO ALIMENTAR As crianças com reações imediatas e graves (mediadas por IgE) devem, inicialmente, permanecer com a dieta de eliminação por 12-18 meses Antes do desafio oral o IgE específico deve ser dosado e, se ele estiver muito elevado, o desafio oral deve ser adiado Nos casos de APLV IgE mediada, o desafio oral deve ser realizado em um ambiente hospitalar Cuidado com anafilaxia Nos casos de enteropatia ou proctocolite, se o diagnóstico da APLV for confirmado em crianças até 12 meses de vida, o lactente deve ser mantido com a dieta de eliminação, por pelo menos 6 meses ou até 9-12 meses de vida PROGNÓSTICO- APLV Transitória (em geral). Desenvolvimento espontâneo de tolerância oral até os 2-3 anos de idade: 45-50% ao 1 ano 60-75% aos 2 anos 85-90% aos 3 anos Reintrodução gradual do leite de vaca. OBS: Em pacientes com reações IgE mediadas, a aquisição de tolerância demora mais tempo.
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