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0 PONTIFICA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA FACULDADE DE PSICOLOGIA CAMILA DO VALLE LARISSA DE SOUZA FRANCA LETÍCIA DA CONCEIÇÃO GREGORIO LUCIANA SBROCCO FIGUEIREDO VITÓRIA MARI LEANDRO RELATÓRIO 1 MEMÓRIA IMEDIATA VISUAL E AUDITIVA CAMPINAS 2015 1 CAMILA DO VALLE LARISSA DE SOUZA FRANCA LETÍCIA DA CONCEIÇÃO GREGORIO LUCIANA SBROCCO FIGUEIREDO VITÓRIA MARI LEANDRO RELATÓRIO 1 MEMÓRIA IMEDIATA VISUAL E AUDITIVA Trabalho apresentado à disciplina Fenômenos e Processos Psicológicos B, da Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, como parte das atividades de laboratório exigidas para aprovação. Responsável pela disciplina: Profa. Berenice Carneiro e monitora Taína Feijon. PUC-CAMPINAS 2015 2 Introdução Para Gazzaniga e Heatherton (2005, p.216) a memória é “... a capacidade do sistema nervoso de adquirir e reter habilidades e conhecimentos utilizáveis, permitindo que os organismos se beneficiem da experiência.” Ainda segundo os autores acima, Donald Hebb afirma que as memórias estão armazenadas em múltiplas regiões do cérebro e ligadas por circuitos de memória. Gazzaniga e Heatherton (2005) destacam que Richard Atkinson e Richard Shiffrin em 1968 propuseram um modelo de memória chamado de modelo modal de memória, que apesar de ser um tanto indefinido e vago era o modelo de memória mais utilizado entre os psicólogos. Este modelo é um sistema de memória de três estágios, composto pela memória sensorial, mémoria de curto prazo e memória de longo prazo. A memória sensorial envolve o armazenamento das informações sensoriais, ou seja, das informações que chegam por meio dos orgãos dos sentidos, as informações sensoriais tem uma pequena duração e são registradas de tal maneira que mantêm a sua forma original. A memória de curto prazo (MCP) mantém informações na consciência por um tempo limitado e sua capacidade também é limitada, alguns pesquisadores comtemporâneos preferem o termo memória imediata para explicar esta ideia de temporalidade da MCP. Diferente da memória de curto prazo, a memória de longo prazo, é a armazenagem relativamente permanente das informações (ATKINSON; HILGARD, 2012). Salienta os autores Izquierdo (2011), que a memória de longo prazo e a memória de curto prazo são sistemas independentes separados, porém paralelos e eles se diferem em dois aspectos: duração e capacidade. Segundo Gazzaniga e Heatherton(2005), outra maneira de se observar a distinção entre memória de longo prazo e memória de curto prazo é através do efeito de posição serial, que é a capacidade de lembrar com mais facilidade dos itens, de uma lista de palavra por exemplo, do seu início e do fim, sendo os itens do meio mais comumente esquecidos. Sendo assim, a melhor memória para os itens apresentados 3 primeiro é chamada de efeito primazia, já o efeito recentidade é a melhor memória para itens mais recentes. Contudo, os autoresGazzaniga e Heatherton(2005), destacam que a principio se pensava que a memória de curto prazo era um tampão em que os dados verbais eram repitidos até serem armazenadas ou ignorados, porém, esclareceu-se que a memória de curto prazo é uma unidade processadora ativa, que utiliza vários tipos de informações, como sons, imagens e ideias e não um simples sistema de armazenamento. Contando com esses relatos o psicólogo britânico Alan Baddeley e seus colegas propuseram um prestigioso modelo de sistema de memória ativo tripartidário, chamado de memória de trabalho, que é um sistema de processamento ativo que mantém durante poucos minutos as informações que estão sendo utilizadas naquele momento. Os componentes da memória de trabalho são: a executiva central, a alça fonológica e o bloco de notas visuoespacial. “A executiva central preside as interações entre os subsistemas e a memória de longo prazo: ela é a chefe. Ela codifica informações dos sistemas sensoriais e filtra as informações suficientemente importantes para serem armazenadas na memória de longo prazo. Ela também recupera informações da memória de longo prazo conforme necessário. A executiva central depende de dois subcomponentes que retém temporariamente informações auditivas e visuais. A alça fonológica codifica informações auditivas e está sempre ativa quando lemos, falamos ou repetimos palavras para nós mesmos a fim de não esquecê-las. [...] O bloco de notas visuoespacial é utilizado para processar informações visuais, como características de um objeto e onde estão localizados.” (Gazzaniga e Heatherton, 2005, p. 221) De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005), se pensava que a memória de longo prazo era um sistema parcialmente unitário e que as memórias só se diferenciavam com relação a força e a acessibilidade, porém, eram do mesmo tipo. Contudo, psicólogos cognitivos contestavam essa visão nas décadas de 70 e 80, afirmando que “a memória não é uma entidade monolítica, mas um processo que envolve alguns sistemas interatuantes. Embora os sistemas compartilhem uma função comum, que é reter e usar informações, eles codificam e armazenam diferentes tipos de informação e fazem isso de maneira diferente”(p. 224). 4 Para Gazzaniga e Heatherton(2005), os sistemas da memória envolvem três procedimentos: codificação, armazenamento e recuperação. A codificação é o processo de preparar as informações que serão armazenadas, ou seja, é o processo onde o cérebro converte a realidade em códigos e a evoca também através de códigos. O armazenamento ocorre após a codificação, e é onde acontece a retenção das representações, a experiência é armazenada por algum tempo. E a recuperação também chamada de evocação é a forma de buscar a informação para ser utilizada. Ainda segundo Gazzaniga e Heatherton (2005) existe um outro processo chamado consolidação, este seria um processo hipotético de transferência da memória imediata para a memória de longo prazo, neste tempo o conteúdo não fica ajustado de forma estável, e as memórias seriam suscetíveis a interferência por diversos fatores. As interferências que afetam a maneira como as memórias são armazenadas e codificadas se referem tanto ao conteúdo emocional da memória, sendo que quanto mais carga emocional, mais facilmente ela será recordada, quanto ao estado emocional do indivíduo no momento em que recebe o estímulo externo ou a informação e no momento de recuperação. Dentre os fatores que mais influenciam estão a atenção, a motivação e o humor (DALMAZ, 2004). Ainda sobre os mecanismos da memória, James McGaugh e colaboradores demonstraram a importância da amígdala na mediação de memórias emocionais ao regular os eventos bioquímicos relacionados com a formação da memória por meio de mecanismos hormonais e neuro-humorais relacionados ao estresse e à ansiedade, alterando sinapses gabaérgicas, noradrenérgicas e colinérgicas, provando também a importância de hormônios como dopamina e serotonina (MCGAUGH, 2002). Em se tratando de transitoriedade da memória os autores Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 238) se referem ao padrão de esquecimento com o passar do tempo e isso ocorre devido à interferências de outras informações. “As informações adicionais podem levar ao esquecimento de duas maneiras. Na interferência proativa, informações anteriores inibem a nossa capacidade de lembrar novas informações. Na interferência retroativa, novas informações inibem a nossa capacidade de lembrar antigas informações.” 5 Segundo os autores, é possível diferenciar os sistemas da memória entre memóriaexplícita e memória implícita. Na memória explícita temos lembranças e informações de forma consciente, e as informações recuperadas são conhecidas como memória declarativa, que são as informações cognitivas trazidas à mente, podendo ser verbalizadas. Na memória explicita existem também outras duas distinções, a memória episódica que se diz respeito as nossas experiências passadas, ou seja, eventos dos quais participamos e a memória semântica que traz a tona conhecimentos importantes ou de fatos triviais, independentes de nossas experiências pessoais. Já na memória implícita as memórias se manifestam sem esforço ou intenção consciente e não requer atenção, e um exemplo dela é a memória de procedimento ou memória motora, que envolve habilidades motoras, e tem um aspecto automático e inconsciente (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 227), foi criado uma influente teoria da memória baseada na profundidade da elaboração pelos psicológos Fergus Craik e Robert Lockhart, eles afirmam que as memórias são armazenadas por significado. Portanto, quanto mais profundo uma informação é codificada, mais significado tem e melhor é recordado. Craik e Lockhart concluiram que diferentes tipos de repetição levam a diferentes codificações. A repetição de manutenção consistesimplesmenteem repetir muitas vezes o mesmo item, já a repetição elaborativa envolve codificar a informação de maneiras mais significativas. 6 Objetivos Avaliar a memória imediata visual e auditiva. Comparar os resultados de cada participante de acordo com a média de acertos obtidos dentro de sua faixa etária. Comparar as médias por cada faixa etária Relacionar os dados obtidos no experimento com a teoria sobre memória. Método Situação: A Situação 1 na qual o participante A.S. realizou o experimento se caracteriza por uma sala ampla com uma mesa e cadeiras ao redor, iluminação natural do dia, sem interferências de barulhos ou informações visuais senão as do experimento. O participante e o experimentador estavam sentados nas cadeiras, um de frente para o outro. Na situação 2 participou o sujeito B.B. o local era seu quarto, que continha uma cama, escrivaninha e armário. No momento do experimento o experimentador e o participante estavam sentados na cama, sendo que o ultimo segurava um caderno como apoio para escrever. A iluminação era natural pois foi realizado no período da tarde e estava silêncio. Situação 3: O Experimento dos sujeitos A.F. I.F. I.D. e M.D ocorreu em um lugar fechado sem barulho e com uma mesa como suporte, as participantes sentaram e foram instruídas de como aconteceria e a ordem. As participantes não tiveram contato uma com a outra depois do experimento. Situação 4: O experimento feito com os participantes L.C., M.S., C.S. e L.S. foi realizado em um escritório amplo, com iluminação natural do dia, livre de barulhos, havia uma mesa e duas cadeiras, onde o participante e o experimentador permaneceram sentados durante a aplicação dos experimentos. E os materiais necessários ficaram sobre a mesa. 7 Situação 5: O experimento feito com os participantes G.M. D.H. e A.B. foi realizado em uma sala ampla, cuja qual havia uma mesa com cadeiras onde o participante e o aplicador pudessem se sentar confortavelmente durante os experimentos, na sala também havia uma iluminação adequada e livre de quaisquer ruídos ou informações visuais que pudessem interferir no experimento. Situação 6: Com as participantes G.S e A.C, o experimento foi realizado em um quarto fechado, em uma tarde ensolarada. Antes da aplicação do teste, eu conversei com ambas as participantes separadamente, perguntando como havia sido o dia e se algo as incomodava. As duas me responderam de forma tensa/ansiosa, como se ansiassem pelo término do teste. Isso foi comprovado, quando – durante a aplicação do teste – elas não usaram os dez segundos ofertados para a memorização dos itens. Participantes: L.C.: 6 anos; sexo feminino. A.B.: 7 anos e 3 meses; sexo feminino. G.M.: 8 anos e 3 meses; sexo feminino. D.H.: 10 anos e 5 meses; sexo masculino. M.S.: 11 anos e 1 mês; sexo feminino. A.F.: 13 anos e 5 meses; sexo feminino. I.D.: 13 anos e 5 meses; sexo feminino. I.F.: 14 anos e 10 meses; sexo feminino. C.S.: 17 anos; sexo masculino. M.F.: 17 anos e 3 meses; sexo feminino. A.S.: 21 anos e 4 meses; sexo masculino. B.B.: 26 anos e 7 meses; sexo masculino. 8 L.S.: 27 anos e 4 meses; sexo feminino. A.C.: 29 anos e 9 meses; sexo feminino. G.S.: 30 anos e 4 meses; sexo feminino. Material: Para a memória auditiva lista de 20 palavras referentes a conceitos concretos e abstratos, sendo elas: gato, maçã, bola, árvore, igreja, cabeça, ideia, porta, caixa, carro, rei, copo, leite, peixe, interessante, computador, seta, flor, chave, felicidade Para a memória visual 20 cartões com diferentes figuras, sendo elas: casa, limão, caneta, bebê, piano, jacaré, TV, mesa, coelho, olho, sapato, ônibus, ovo, garrafa, relógio, rosa, peixe, pêra, cadeira, borboleta (Anexo) Folha de papel Caneta Cronômetro Procedimento: O primeiro experimento realizado foi a memória imediata auditiva, para isso o aplicador convidou o participante que foi levado para um ambiente tranquilo, onde ficaram sozinhos para realizar o experimento. Em seguida o aplicador passou as instruções ao participante e logo após leu pausadamente as 20 palavras para o participante, e solicitou para este escrever em uma folha as palavras que se lembrava, frisando ainda que não precisava ser na mesma ordem, assim que o participante começava a escrever o aplicador iniciava o cronômetroe após o participante terminar as palavras o aplicador parava o cronômetro, e imediatamente perguntava ao participante se ele havia utilizado alguma estratégia para lembrar das palavras. Prontamente após o termino do experimento da memória imediata auditiva, o aplicador iniciava o experimento da memória imediata visual, para isso o aplicador mostrou separadamente 20 cartões com as figuras para o participante e em seguida solicitou para o participante escrever numa folha de papel as figuras das quais se lembrava, sem a necessidade de ser na mesma ordem, logo que o participante começava a 9 escrever o aplicador iniciava o cronômetro e após o participante terminar de escrever as figuras que se recordava o aplicador parava o cronômetro, e imediatamente perguntava ao participante se ele havia utilizado alguma estratégia para lembrar das figuras. 10 Resultados Tabela 1. Resultados individuais dos participantes no experimento de memória imediata auditiva e média geral por cada faixa etária. Observa-se na Tabela 1 que a média do número de acertos entre as três faixas etárias foi similar, tendo uma diferença mínima de 1,2 pontos entre o menor e o maior resultado. O grupo de 12 a 17 anos foi o que menos pontuou, seguido do grupo das crianças (5 a 11 anos) e por último de 18 a 30 anos. Os dois participantes que obtiveram as maiores pontuações estão no grupo dos adultos, porém as duas menores pontuações também se encontram neste Participante Número de acertos Tempo De 5 a 11 anos L.C. 9 0:50 A.B. 8 1:05 G.M. 9 1:30 D.H. 10 1:20 M.S. 8 1:12 Média 8,8 1:11 De 12 a 17 anos A.F. 8 1:11 I.D. 9 1:58 I.F. 7 1:03 C.S. 9 1:06 M.F. 9 1:28 Média 8,4 1:21 De 18 a 30 anos A.S. 16 2:10 B.B. 9 1:30 L.S. 12 1:08 A.C. 6 2:00 G.S. 5 1:40 Media 9,6 1:38 11 mesmo grupo. Com relação ao tempo que os participantes levaram para realizar o experimento, quanto maior a faixa etária maior foi à média do tempo, porém com uma diferença de menos de 30 segundos. O participante A.S. do terceiro grupo referenteà faixa etária foi o que obteve a maior pontuação e também o maior tempo. Porém, analisando os demais resultados, não é possivel dizer que há uma correlação entre tempo gasto e a pontuação. 12 Tabela 2. Resultados individuais dos participantes no experimento de memória imediata visual e média geral por cada faixa etária. Participante Número de acertos Tempo De 5 a 11 anos L.C. 7 0:58 A.B. 10 1:10 G.M. 11 1:20 D.H. 10 1:30 M.S. 14 1:44 Média 10,4 1:20 De 12 a 17 anos A.F. 10 1:48 I.D. 12 1:44 I.F 10 0:58 C.S. 12 1:20 M.F. 12 1:55 Média 11,2 1:33 De 18 a 30 anos A.S. 14 2:03 B.B. 15 2:10 L.S. 11 1:12 A.C. 10 1:33 G.S. 9 2:20 Média 11,8 1:51 Analisando a Tabela 2 podemos constatar que houve um aumento crescente tanto na média de pontos quanto na média de tempo de raciocínio a cada faixa etária. A maior média ficou com os adultos, no valor de 11,8 e a menor com as crianças, 10,4, notando-se uma diferença pequena na pontuação. O maior tempo foi o do participante G.S, do terceiro grupo, com 2 minutos e 20 segundos, e o menor foi o da L.C. (5 a 11 anos) juntamente com I.F. (12 a 17) com 0:58 segundos. A diferença na média do tempo entre as faixas etárias não passou de 35 segundos. 13 Quadro 1. Estratégias individuas usada pelos participantes no experimento de memória imediata auditiva. Analisando o quadro acima podemos perceber que a repetição foi a estratégia mais utilizada pelos participantes no experimento de memória auditiva, independentemente da faixa etária. Participante Estratégia De 5 a 11 anos L.C. Repetição A.B. Repetição G.M. Repetição D.H. Lembrou das imagens M.S. Repetição De 12 a 17 anos A.F. Repetição I.D. Repetindo sempre a palavra anterior junto com a palavra posterior e assim sucessivamente. I.F. Contando no dedo para memorizar C.S. Repetição M.F. Repetição De 18 a 30 anos A.S. Criou uma história B.B. Nenhuma L.S. Repetição A.C. Nenhuma G.S. Repetição 14 Outras estratégias empregadas foram visualizar a imagem da palavra mentalmente, contar nos dedos para ajudar a memorizar e criar uma história contínua que envolvesse todas as palavras. Quadro 2. Estratégias individuas usada pelos participantes no experimento de memória imediata visual. Participante Estratégia De 5 a 11 anos L.C. Repetição A.B. Repetição G.M. Repetição D.H Fazendo associações M.S. História De 12 a 17 anos A.F. Tentando decorar por ordem I.D. Tentou fixar a imagem na cabeça I.F. Falando as palavras em voz alta para poder memorizar melhor C.S. Repetição M.F. Repetição De 18 a 30 anos A.S. Criou uma história B.B. Visualizou palavras no papel L.S. Fazendo associações A.C. Nenhuma G.S. Repetição 15 No Quadro 2 nota-se que a estratégia mais utilizada no experimento de memória imediata visual foi a repetição. Há uma variedade maior de estratégias do que no experimento auditivo, como as associações, a verbalização das palavras em voz alta, a visualização das palavras no papel antes de escrever e novamente a criação de uma história que envolvesse todos os elementos. Não há relação direta entre as estratégias empregadas e a faixa etária, pois se observa uma variedade de estratégias dentro do mesmo grupo, e a escolha de uma mesma estratégia dentro de grupos diferentes, como a história, que aparece na primeira faixa etária e na última, e a repetição que está presente em todos. Gráfico 1. Comparação de média aritmética nos experimentos de memória visual auditiva e visual por faixa etária. Com base nos resultados apresentados acima, podemos perceber que independente da faixa etária os participantes de modo geral tiveram um melhor desempenho na memória imediata visual, acertando cerca de 2 pontos a mais na média. Discussão A partir da análise dos resultados e das variáveis envolvidas (pontuação, estratégia, idade e tempo), juntamente com a base teórica levantada, podemos chegar a algumas conclusões e hipóteses de quais aspectos influenciam mais significativamente o desempenho dos participantes dos experimentos de memória auditiva e visual e o porquê. 0 2 4 6 8 10 12 5-11 anos 12-17 anos 18-30 anos Memória auditiva Memória visual 16 Para discutir o experimento, é válido comentar qual tipo de memória foi utilizado durante os experimentos. A principio podemos destacar a memória sensorial que segundo Gazzaniga e Heatherton (2005) chega por meio dos orgãos dos sentidos, os participantes utilizaram em específico a memória sensorial visual, também chamada de memória icônica, quando mostramos as imagens das figuras da lista. E posteriormente quando ditamos a lista de palavras os participantes utilizaram a memória auditiva, também chamada de memória ecoíca. Observamos que a memória de curto prazo também foi utilizada pelos participantes, visto que para Gazzaniga e Heatherton (2005) ela não consegue manter informações por mais de 20 segundos, depois elas desaparecem, a menos que impeçamos pensando sobre as informações ou repetindo-as, e aqui destacamos que esta foi a estratégia mais utilizada pelos nossos participantes para auxiliar a recuperação das informações; a repetição. Foi possível notar o uso da memória de longo prazo nos efeitos recentidade e primazia, comentados por Gazzaniga e Heatherton (2005), nos experimentos, apesar dos resultados não terem sido apresentados no presente trabalho, dado que as palavras que estavam no começo da lista foram mais frequentemente lembradas, evidenciando o efeito primazia, assim como as últimas, mostrando o efeito recentidade. E quando colocamos que a memória de curto prazo e a memória de longo prazo foram evidenciadas nos resultados dos participantes, consequentemente podemos dizer que a memória de trabalho também foi ativada nestas circunstâncias, pois segundo Gazzaniga e Heatherton (2005 p. 235) “As regiões frontais tornam-se ativas quando a informação está sendo ou recuperada da memória de longo prazo ou codificada da memória de trabalho para a memória de longo prazo”, nesta memória existem sistemas interatuantes e que estes sistemas compartilham uma função comum, que é reter e usar informações. Pudemos também perceber que todos os experimentos evidenciaram que a memória visual é mais facilmente recordada do que a memória auditiva. Esse fato pode ser explicado por uma pesquisa recém-publicada pelos psicólogos Bigelow e Poremba 17 (2014) no site PLoS ONE, na qual eles afirmam que não lembramos tão bem daquilo que ouvimos ao compararmos com o que vemos ou tocamos. Analisando os resultados, nota-se uma leve melhora de pontuação conforme a faixa etária aumenta, pois de acordo com Grivol e Hage (2011) o desenvolvimento da memória na infância ocorre paralelamente ao desenvolvimento cognitivo geral, sendo que assim como a atenção, ela intervém em todas as atividades cognitivas. Outro fator relevante é a estratégia adotada por cada participante, que como observado, independe da idade, pois crianças adultos e adolescentes adotaram estratégias diversas, tendo a presença de uma mesma em mais de um grupo. De acordo com Gazzaniga e Heatherton (2005, p. 227), foi criado uma influente teoria da memória baseada na profundidade da elaboração pelos psicológos Fergus Craik e Robert Lockhart, eles afirmam que as memórias são armazenadas por significado. Portanto, quanto mais profundo uma informação é codificada, mais significado tem e melhor é recordado. Craik e Lockhart concluiram que diferentes tipos de repetição levam a diferentes codificações. “A repetição de manutenção consiste simplesmente em repetir muitas vezes o mesmo item, já a repetição elaborativa envolve codificar a informação de maneiras mais significativas.”Como exemplo, os participantes A.S. e M.S. utilizaram a estratégia de montar histórias, significando cada elemento em um contexto, e obtiveram as maiores pontuações de acertos. Conclusão Com o presente trabalho podemos concluir que, ainda que haja uma sobreposição da memória visual sobre a memória auditiva, quanto aos resultados, é uma diferença mínima, que não afeta de forma significativa nos testes, pelo menos em um pequeno espaço amostral. O trabalho foi importante para avaliarmos a memória dos participantes e conseguirmos enxergar na prática aquilo que vemos/estudamos na teoria. É de grande valia podermos clarear o que estudamos, por exemplo, entender melhor os componentes da memória de trabalho e as influências no cotidiano. Portanto, realizar 18 este trabalho foi importante para o melhor entendimento dos pontos estudados e fixação do conteúdo Referências ATKINSON; HILGARD. Introdução a psicologia. Ed. 15. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 745 p. Bigelow J; Poremba A. Achilles’ Ear? Inferior Human Short-Term and Recognition Memory in the Auditory Modality. PLoS ONE 9(2): e89914. doi:10.1371/journal.pone.0089914 Disponível em: <http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0089914#authcontri b>. Acesso em: 02/10/2015. DALMAZ, Carla; ALEXANDRE NETTO, Carlos. A memória. Ciencia Cult. [online]., vol.56, n.1, pp. 30-31. 2004. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009- 67252004000100023&script=sci_arttext>. Acesso em: 28/09/2015. GAZZANIGA, Michael; HEATHERTON. Ciência Psicológica: mente, cérebro e comportamento. Ed.Porto Alegre: Artmed, 2005. 624p. GRIVOL, Maria Aparecida; HAGE, Simone R. V. Memória de trabalho fonológica: estudo comparativo entre diferentes faixas etárias. Scielo [online]., vol.23, n.3, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2179- 64912011000300010&script=sci_arttext>. Acesso em: 02/10/2015. Izquierdo, Ivan. Memória. Ed. 2. Porto Alegre: Artmed, 2011. 95 p. MCGAUGH, J.L. Memory consolidation and the amygdala: a systems perspective. Trends Neurosci; 25(9): 456. 2002 http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0089914#authcontrib http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0089914#authcontrib http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2179-64912011000300010&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2179-64912011000300010&script=sci_arttext 19 Anexo 20 21
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