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Hab. Clínicas P4 Lucianne Albuquerque|Medicina NIC E JEC Anatomia do colo do útero O colo do útero é formado por epitélio colunar, o qual reveste o canal endocervical, e epitélio escamoso, que cobre a ectocérvice.5 O ponto de encontro é denominado junção escamocolunar (JEC). Junção escamocolunar A junção escamocolunar (JEC) raramente permanece restrita ao orifício externo. Ao contrário, trata- se de um limite dinâmico, o qual se modifica em resposta à puberdade, gravidez, menopausa e estimulação hormonal (Figura 19.4). Em neonatos, a JEC localiza-se na ectocérvice. Durante a menarca, a produção de estrogênio faz o epitélio vaginal se encher de glicogênio, sobre o qual os lactobacilos atuam a fim de reduzirem o pH, estimulando a metaplasia das células subcolunares de reserva. A metaplasia avança internamente a partir da JEC original em direção ao orifício externo e sobre as vilosidades colunares. Esse processo estabelece uma área denominada zona de transformação, a qual se estende da JEC original até a JEC fisiologicamente ativa, delimitada pela junção Hab. Clínicas P4 Lucianne Albuquerque|Medicina escamocelular. À medida que amadurece, o epitélio metaplásico na zona de transformação começa a produzir glicogênio e torna-se semelhante ao epitélio escamoso original, tanto ao exame colposcópico quanto ao histológico. Na maioria dos casos, acredita-se que a NIC tenha origem em um único foco na zona de transformação na JEC que avança. O lábio anterior do colo é duas vezes mais propenso a desenvolver NIC que o lábio posterior, e a NIC raramente se origina nos ângulos laterais do colo. Uma vez presente, a NIC pode avançar de maneira planimérica e acometer toda a zona de transformação, embora não costume substituir o epitélio escamoso original fora da zona de transformação. De modo geral, a NIC resultante desse avanço tem borda externa nítida. Na porção proximal, a NIC acomete as criptas cervicais, e essa área tende a exibir as lesões mais graves de NIC. A extensão do acometimento dessas glândulas cervicais tem implicações terapêuticas importantes, pois é preciso destruir toda a glândula para que se garanta a eliminação da NIC.5 A única maneira de se identificar a localização da JEC original é pesquisar cistos de Naboth ou aberturas de glândulas cervicais, que indicam a ocorrência de epitélio colunar. Após amadurecer e produzir glicogênio, o epitélio metaplásico é denominado zona de transformação cicatrizada e é relativamente resistente a estímulos oncogênicos. Toda a JEC com células metaplásicas iniciais é sensível a fatores oncogênicos, o que pode causar a transformação dessas células em NIC. Portanto, é mais provável a NIC começar durante a menarca ou após a gravidez, quando a metaplasia é mais ativa. Por outro lado, após a menopausa, a metaplasia é pequena e se reduz o risco de NIC por nova infecção pelo papilomavírus humano (HPV). Os fatores oncogênicos são introduzidos pelo contato sexual em geral e pela penetração do pênis em particular. Embora vários agentes – entre eles espermatozoides, histonas do líquido seminal, tricomonas, clamídia e herpes- vírus simples – tenham sido estudados, agora se sabe que a infecção persistente por HPV oncogênico de alto risco é, sem dúvida, o principal fator de risco no desenvolvimento da NIC. Em geral, a neoplasia intraepitelial cervical (NIC) origina-se em uma área de metaplasia na zona de transformação da junção escamocolunar (JEC). A metaplasia avança internamente a partir da JEC original, em direção ao orifício externo e sobre as vilosidades colunares, para constituir a zona de transformação. A NIC tende a surgir durante a menarca ou após a gravidez, quando a metaplasia é mais ativa; após a menopausa, a metaplasia é menos ativa, e o risco de NIC diminui. • A maioria das lesões NIC 1 e algumas NIC 2 regridem de maneira espontânea sem tratamento; todavia, a NIC é uma lesão que pode avançar para carcinoma invasor. Esse termo equivale a displasia, a qual significa maturação anormal; assim, a metaplasia proliferativa sem atividade mitótica atípica não deve ser denominada displasia. A metaplasia escamosa não deve ser diagnosticada como displasia (ou NIC), uma vez que não evolui para câncer invasor. • Mais de 90% dos casos de NIC são atribuídos à infecção por papilomavírus humano (HPV). Apenas alguns tipos de HPV causam lesões intraepiteliais de alto grau e câncer (HPV-16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68). O tipo 16 é o mais comum no câncer invasor e na NIC 2 e NIC 3, sendo encontrado em 47% das mulheres com câncer. • As lesões escamosas com potencial pré-maligno são divididas em três classes: (i) células escamosas atípicas (ASC); (ii) lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL); e (iii) lesões intraepiteliais escamosas de alto grau (HSIL). A classe ASC subdivide-se em duas: ASC de significado indeterminado (ASC-US) e aquela na qual é preciso excluir lesões de alto grau (ASC- H). Hab. Clínicas P4 Lucianne Albuquerque|Medicina • A classe LSIL abrange a NIC 1 (displasia leve) e as alterações do HPV, denominadas atipia coilocitótica. A classe HSIL abrange NIC 2 e NIC 3 (displasia moderada, displasia grave e carcinoma in situ). • A taxa de regressão espontânea de NIC 1 comprovada por biopsia é de 60 a 85% em estudos prospectivos. A regressão é habitual em acompanhamento com citologia e colposcopia durante 2 anos. Na LSIL persistente por mais de 2 anos, a escolha do tratamento é opcional. A conduta expectante ainda é apropriada em algumas pacientes, e as terapias de ablação – entre elas a crioterapia e a ablação com laser – são modalidades de tratamento aceitáveis. • Quando determinada amostra citológica sugere a ocorrência de HSIL, deve-se proceder à colposcopia e biopsia dirigida. Embora a NIC de alto grau possa ser tratada por várias técnicas, o método preferido do tratamento da NIC 2 ou 3 em pacientes não adolescentes é a excisão eletrocirúrgica por alça (LEEP). • As células endocervicais atípicas representam risco de adenocarcinoma in situ (AIS), considerado um precursor do adenocarcinoma. • Após coleta de amostra para se excluir doença invasora, as lesões de neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA) 3 podem ser tratadas com laser ou excisão ambulatorial. Pacientes com NIVA 1 e a maioria das pacientes com NIVA 2 e infecção por HPV não necessitam de tratamento. Essas lesões são multifocais e, com frequência, regridem, embora possam reaparecer após terapia ablativa. • A neoplasia intraepitelial vulvar de grau 3 (NIV 3) é tratada por excisão simples, ablação com laser ou vulvectomia simples (parcial), com ou sem enxerto cutâneo de espessura parcial. A excisão de pequenos focos de doença produz excelentes resultados e garante o melhor resultado estético, embora, por esse método, seja difícil o tratamento das lesões multifocais ou extensas. Em geral, a NIV 1 ou 2 está associada a alterações distróficas ou ao HPV e pode ser tratada de modo expectante. • A doença intraepitelial, além de ser frequente no colo do útero, na vagina e na vulva, pode coexistir nessas áreas. A causa e a base epidemiológica são comuns às três localizações, e é habitual tratá- la por meio de ablação, excisão e conduta conservadora. O diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais a fim de se evitar o avanço da doença para câncer invasor. Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) O conceito de doença pré-invasora do colo foi introduzido em 1947, quando se constatou a possibilidade de se identificarem alterações epiteliais que tinham a aparência de câncer invasor, mas eram limitadas ao epitélio.1Estudos subsequentes mostraram que, sem tratamento, essas lesões podem avançar para câncer do colo do útero.2 A melhora na avaliação citológica levou à identificação de lesões precursoras incipientes, denominadas displasias, nome que reconhece o potencial maligno dessas lesões. Antigamente o tratamento do carcinoma in situ (CIS) era muito agressivo (na maioria das vezes, por histerectomia), enquanto as displasias eram consideradas menos importantes e não recebiam tratamento ou eram tratadas por biopsia orientada por colposcopia e criocirurgia. O conceito de neoplasia intraepitelial cervical (NIC) foi introduzido em 1968, quando Richart sugeriu o potencial de avanço de todas as displasias.3 A maioria das lesões NIC 1 e algumas NIC 2 não tratadas regridem de maneira espontânea; todavia, se a lesão NIC de alto grau não receber tratamento, pode avançar para carcinoma invasor.4 A metaplasia proliferativa sem atividade mitótica não deve ser denominada displasia nem NIC, pois não avança para câncer invasor. Hab. Clínicas P4 Lucianne Albuquerque|Medicina Os critérios para o diagnóstico de neoplasia intraepitelial podem variar de acordo com o patologista, embora as características importantes sejam imaturidade celular, desorganização celular, anormalidades nucleares e aumento da atividade mitótica. O nível da atividade mitótica, da proliferação celular imatura e da atipia nuclear identifica o grau de neoplasia. Se as mitoses e células imaturas forem limitadas ao terço inferior do epitélio, a lesão, em geral, é designada NIC 1. O acometimento dos terços médio e superior é diagnosticado como NIC 2 e NIC 3 respectivamente. Hab. Clínicas P4 Lucianne Albuquerque|Medicina
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