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Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 1 Afecções Cardiovasculares INSUFICIÊNCIA CIRCULATÓRIA Quando o débito cardíaco é deficiente, não é possível manter o equilíbrio circulatório. Quando o desenvolvimento de déficit do débito cardíaco é lento o suficiente, os mecanismos compensatórios, juntamente com a insuficiência do próprio coração como uma bomba, resultam em aumento da pressão venosa e insuficiência cardíaca congestiva. Por outro lado, se ocorre redução aguda do débito cardíaco, como acontece na cessação súbita dos batimentos cardíacos, a consequência é a privação do fornecimento de oxigênio aos tecidos e, então, se instala a síndrome da insuficiência cardíaca aguda. A insuficiência cardíaca pode ser do lado esquerdo e/ou direito do coração. A do lado esquerdo (ou insuficiência cardíaca esquerda) causa aumento da pressão diastólica final do ventrículo esquerdo, da pressão média do átrio esquerdo e da pressão venosa pulmonar. Dependendo da magnitude e da taxa de aumento da pressão, a insuficiência cardíaca esquerda resulta em edema pulmonar intersticial e, se grave o suficiente, edema pulmonar, dispneia e morte. A insuficiência cardíaca do lado direito do coração (ou insuficiência cardíaca direita) causa aumento da pressão diastólica final do ventrículo direito, da pressão média do átrio direito e da pressão venosa jugular. Dependendo da magnitude e da taxa de aumento da pressão, a resulta em distensão venosa simétrica (mais facilmente detectada nas veias jugulares), aumento no conteúdo dos líquidos pleural, pericárdico e abdominal (ascite) e hepatomegalia. AUMENTO DO CORAÇÃO A proporção do peso do coração em relação ao peso corporal (PC) é maior em animais atléticos do que em animais não atléticos e, em equinos, a proporção coração:peso pode ser moderadamente maior durante o treinamento, como resultado da hipertrofia fisiológica. Hipertrofia cardíaca (hipertrofia concêntrica) é a resposta usual à maior carga de pressão, ocorrendo hipertrofia de fibras individuais com aumento na quantidade de unidades contráteis (sarcômeros) e na massa muscular total. Dilatação cardíaca (hipertrofia excêntrica) é uma resposta usual ao aumento da carga de volume e, provavelmente, resulta do rearranjo das fibras. As contrações que ocorrem em uma câmara cardíaca dilatada podem ejetar um maior volume de sangue por unidade de encurtamento miocárdico. MANIFESTAÇÕES DE INSUFICIÊNCIA CIRCULATÓRIA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA (CONGESTIVA) Etiologia: doenças de endocárdio, miocárdio e pericárdio que interferem no fluxo de sangue do e para o coração ou que prejudicam a função do miocárdio podem resultar em insuficiência cardíaca congestiva Achados clínicos: na insuficiência cardíaca direita, nota-se congestão venosa generalizada e edema; na insuficiência cardíaca esquerda, verifica-se edema pulmonar e angústia respiratória Patologia clínica: aumento da concentração sérica ou plasmática de troponina I cardíaca, uma enzima cardioespecífica Achados de necropsia: edema subcutâneo, ascite, hidrotórax e hidropericárdio; na insuficiência cardíaca direita, aumento e congestão do fígado; na esquerda, edema pulmonar Confirmação diagnóstica: exame clínico Tratamento: terapêutica da causa específica, frequentemente malsucedida; usar diuréticos, restringir o sal, reduzir a atividade e usar, possivelmente, digoxina. As causas podem ser: Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 2 Afecções Cardiovasculares Endocardite, resultando em estenose ou insuficiência valvular Defeitos valvulares congênitos, mais comumente estenose valvular Ruptura de valva ou de cordoalha valvar Doença do miocárdio: o Miocardite: bacteriana, viral, parasitária ou tóxica o Degeneração do miocárdio: nutricional ou tóxica o Cardiomiopatia congênita ou hereditária o Toxinas que interferem na condução cardíaca Defeitos anatômicos congênitos que resultam em desvios (shunts): o Anomalias cardíacas, como defeito de septo atrial ou ventricular, tetralogia de Fallot o Anormalidades vasculares que resultam em shunts, como persistência do ducto arterioso Hipertensão: o Pulmonar: doença de altitude elevada (doença do peito inchado), cor pulmonale o Sistêmica: causa não documentada de insuficiência cardíaca congestiva em grandes animais. TRATAMENTO Quando causada por pericardite ou tamponamento pericárdico visa a remover o líquido pericárdico e prevenir uma nova ocorrência. Nos animais com deficiência da função de bomba cardíaca, o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva inicialmente visa a reduzir os efeitos da maior pré-carga mediante a administração de diuréticos e inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), bem como restringir a ingestão de sódio, reduzir a demanda de débito cardíaco com a restrição de atividade física e melhorar a contratilidade por meio da administração de agentes inotrópicos positivos, como glicosídeos cardíacos e dobutamina. DIURÉTICOS Furosemida, IV, dose incial de 0,25 a 1 mg/kg para equinos e 2,5 a 5mg/kg para bovinos Múltiplas doses de furosemida induzem à alcalose metabólica hipopotassêmica hipoclorêmica e, por isso, é importante monitorar as concentrações séricas de potássio e cloreto durante o tratamento. INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA O benazepril, em dose oral única (0,5 mg/kg) AGENTES INOTRÓPICOS POSITIVOS (DOBUTAMINA, CÁLCIO, GLICOSÍDEOS CARDÍACOS) Dobutamina em baixa dose IV (1 μg/kg/min) o principal efeito é um pequeno aumento da pressão sanguínea arterial média. Em dose IV intermediária (2,5 a 7,5 mg/kg/min) o principal efeito da dobutamina é o aumento da contratilidade cardíaca; essa deve ser a faixa de variação da dose-alvo para animais que necessitam de suporte inotrópico INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA Pode ocorrer insuficiência cardíaca aguda no caso de grave defeito no enchimento cardíaco; de insuficiência do coração como uma bomba, provocada por taquicardia, bradicardia ou arritmia grave; e de aumento súbito na carga de trabalho cardíaco. A ocorrência súbita de taquiarritmia associada à excitação, Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 3 Afecções Cardiovasculares suficientemente grave para causar insuficiência cardíaca aguda. Etiologia: início súbito de arritmia grave, ruptura de valva ou vaso cardíaco, tamponamento pericárdico Achados clínicos: perda de consciência súbita e queda, com ou sem convulsão. Palidez intensa de membranas mucosas e morte ou recuperação completa após o episódio Patologia clínica: aumento da concentração sérica de troponina I cardíaca, mas a progressão clínica geralmente é muito breve para possibilitar exames laboratoriais Confirmação diagnóstica: exame clínico Achados de necropsia: congestão e edema pulmonar; achados relacionados com a causa específica Tratamento: com frequência, o tratamento da causa específica é malsucedido. Insuficiência cardíaca aguda também pode ocorrer na ausência de cardiopatia primária sob influência de agentes farmacológicos que interferem na condução cardíaca. Esses estão associados com a ingestão de algumas plantas tóxicas. As muitas causas de insuficiência cardíaca aguda serão listadas, com mais detalhes, posteriormente. Alguns exemplos são: Anormalidades de enchimento: o Tamponamento pericárdico: ruptura de ventrículo e átrio o Ruptura de artéria aórtica e artéria pulmonar Taquiarritmia: o Miocardite; por exemplo, vírus da encefalomiocardite, febre aftosa o Miopatia por deficiência nutricional; por exemplo, deficiência de cobre ou selênio o Intoxicação por plantas; por exemplo, Phalaris spp., eupatório o Descarga elétrica e eletrocução Bradicardia: o Iatrogênica; por exemplo, administração de gliconato de cálcio ou de borogliconato de cálcio,xilazina, tolazolina, solução concentrada de cloreto de potássio o Intoxicação por plantas; por exemplo, Taxus spp.2 Aumento na carga de trabalho cardíaco: o Ruptura de valva aórtica o Anafilaxia aguda. Em equinos, pode ocorrer arritmia e parada cardíaca durante indução anestésica com barbituratos; também, pode ocorrer sem sinais prévios em equinos submetidos à anestesia com halotano. SINTOMAS Pode ocorrer durante o repouso, mas é mais comum nos períodos de excitação ou de atividade física Dispneia Cambaleio Queda O animal pode morrer dentro de segundos após os aparecimentos dos sintomas Palidez das mucosas Convulsões clônicas Pulso fraco ou ausente e bradicardia Taquicardia ou ausência de bulhas Equinos com início súbito de taquiarritmia causada por fibrilação atrial, múltiplas extrassístoles ventriculares ou por ruptura de cordoalha valvular de mitral ou aórtica manifestam uma síndrome na qual o início súbito de angústia respiratória é o sintoma mais evidente. No entanto, o exame do coração possibilita o diagnóstico da causa primária. TRATAMENTO Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 4 Afecções Cardiovasculares O tratamento de insuficiência cardíaca aguda não é possível ou praticável em grandes animais em razão da rápida progressão da doença. FIBRILAÇÃO ATRIAL EM EQUINOS FC entre 26 a 48 bpm Não apresenta bom desempenho esportivo Pode ter episódios de sincope Uma frequência ventricular relativamente baixa em equinos com fibrilação atrial reflete a dominância do sistema nervoso parassimpático. Em outras palavras, os equinos com fibrilação atrial e frequência ventricular superior a 60 bpm apresentam ativação simpática e deve-se identificar doença ou fatores estressantes concomitantes. Mais frequente em Puro-Sangue Inglês e Standardbred com menos de 7 anos Os equinos com fibrilação atrial apresentam frequência cardíaca mais elevada e pressão de oclusão da artéria pulmonar muito maior durante protocolo de exercício padronizado em esteira rolante, em comparação com a de equinos treinados sadios. FIBRILAÇÃO ATRIAL SECUNDÁRIA Podem desenvolver em resposta a doença cardiovascular primária como insuficiência da mitral e/ou da tricúspide Qualquer lesão congênita ou adquirida que resulte em hipertrofia atrial representa risco de fibrilação. Quando há doença cardíaca primária, a frequência ventricular em repouso é muito mais elevada e a arritmia se manifesta como taquicardia. No caso de fibrilação atrial, sugere-se que frequência cardíaca acima de 60 bpm indica cardiopatia primária. Em equinos com fibrilação atrial, há prejuízo ao enchimento ventricular quando a frequência cardíaca é superior a 70 bpm; em frequência cardíaca em repouso acima de 80 a 100 bpm há grave anormalidade cardíaca e o animal rapidamente desenvolve sinais de insuficiência cardíaca. TRATAMENTO Digoxina Sulfato de quinidina Não pode usar anticoagulantes É possível a conversão bem-sucedida da fibrilação atrial solitária de equinos ao ritmo sinusal normal, com subsequente retorno à corrida ou a outro tipo de atividade. Em equinos com um diagnóstico inicial de fibrilação atrial associada com baixo desempenho em corrida, a conversão deve ser postergada por até 48 h. Sulfato de quinidina, VO, 22mg/kg a cada 2h até a conversão (da fibrilação até o rimo sinusal normal) ou sinais de intoxicação (não pode ultrapassar 40g) o Sinais de intoxicação: apatia, cansaço, anorexia, urticária, congestão de membranas mucosas, cólica e morte (é corrigido com a aplicação Iv de bicarbonato de sódio) ENDOCARDITE RESUMO Etiologia: bacteriana; ocasionalmente, infecção parasitária Epidemiologia: histórico de doença crônica com definhamento, diminuição periódica na produção de leite e claudicação inconstante Achados clínicos: o tipo de sopro depende da predileção das valvas nas espécies; nefrite embólica, artrite, tenossinovite ou miocardite Patologia clínica: hemocultura Achados de necropsia: lesões valvulares, frequentemente vegetativas, podendo Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 5 Afecções Cardiovasculares haver ruptura de cordas tendíneas; lesões embólicas em outros órgãos Confirmação diagnóstica: sopro cardíaco ou taquicardia persistente com evidência de bacteriemia, hemocultura positiva; pode ser confirmada por ecocardiografia Tratamento: medicações antimicrobianas, com base no resultado de cultura microbiológica; há necessidade de tratamento prolongado; quando há insuficiência cardíaca a taxa de mortalidade é alta. ETIOLOGIA BOVINOS Trueperella (Arcanobacterium ou Actinomyces ou Corynebacterium) pyogenes Helcococcus ovis Estreptococos α-hemolíticos Micrococcus e Staphylococcus spp. Pseudomonas spp. Clostridium chauvoei (carbúnculo sintomático) Mycoplasma mycoides Bartonella bovis (rara) Erysipelothrix rhusiopathiae (insidiosa) (rara) EQUINOS Actinobacillus equuli Streptococcus spp., inclusive S. equi e S. zooepidemicus Pasteurella/Actinobacillus spp. Pseudomonas spp. Larvas migrantes de Strongylus spp. SUÍNOS E OVINOS E. rhusiopathiae (insidiosa) Streptococcus spp., incluindo S. equisimilis, S. dysgalactiae, S. suis Escherichia coli Trueperella (Arcanobacterium ou Actinomyces ou Corynebacterium) pyogenes. EPIDEMIOLOGIA Bacteriemia crônica predispõe à endocardite. Pode haver histórico de condição séptica contínua, como mastite, metrite, abscesso podal e reticuloperitonite traumática, e de procedimento como uso de cateter de demora IV, que pode ocasionar bacteriemia. Bovinos podem apresentar queda na produção de leite, ECC baixo, e claudicação Equinos com sinais semelhantes, com claudicação com desvio de membros, distensão articular intermitente, tosse, convulsões, trombose em veia jugular, cólica, diarreia, retardo de crescimento e infecção umbilical. Em porcas é comum agalactia, perda de peso, intolerância ao exercício e dispneia em repouso ACHADOS CLÍNICOS Em bovinos: hemocultura positiva (87%), detecção ecocardiográfica de uma lesão (84%), taquicardia persistente (80%), sopro (60%), febre (46%), claudicação/poliartrite (44%) e sinais clínicos de insuficiência cardíaca (37%). Sopro ou frêmito na auscultação e palpação Taquicardia Febre oscilante Pode durar por meses Na patologia clínica se encontra eucocitose, neutrofilia, hiperfibrinogenemia e hiperglobulinemia. TRATAMENTO Deve-se fazer cultura para antibiograma Medicina Veterinária Clínica Médica de Grandes Rebeca Meneses 6 Afecções Cardiovasculares Geralmente em bovinos são sensíveis a penicilina combinada com gentamicina, ou sulfonamida potencializada Em equinos recomenda-se os de amplo espectro Duração longa
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