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Unidade II ESCOLÁSTICA CRISTÃ Profa. Bettina Brasil Para estudar a filosofia de Agostinho é importante conhecer previamente a vida do homem Aurélio Agostinho. O pensamento de Agostinho parte de uma existência profundamente humana e intensamente vivida. Ele não perde tempo com sistematizações distantes da realidade. Ele constrói sua filosofia confrontando sua forma de pensar com todo o contexto em que vive. A autobiografia de Agostinho, Confissões, é uma obra importante, na qual o autor se expõe inteiramente perante Deus e os homens. A filosofia de Santo Agostinho O termo Confissões não corresponde exatamente ao significado religioso atual (narrar os pecados a um confessor). Santo Agostinho usa esse termo no sentido bíblico, ou seja, conhecer a própria fraqueza e miséria, o que implica, principalmente, na proclamação da misericórdia e da glória de Deus, seu interlocutor. Confissões é uma obra de humildade e de louvor ao Criador, em que sua filosofia e sua vida aparecem intimamente interligadas. A filosofia de Santo Agostinho Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta, na região da Numídia, província romana ao norte da África (hoje Argélia), em 13 de novembro de 354 d.C. Viveu sua juventude no contexto da civilização helenizada. Viveu a decadência do Império Romano, o fim de uma civilização, em que o povo oprimido, ferido em seu orgulho, procurava felicidade nas mínimas situações. Agostinho viveu essa fase nas mesmas condições. Com 16 anos, após sua formação em Tagasta, se muda para Cartago para se aprofundar nos estudos. O homem Agostinho: vida conturbada Investe seus esforços no estudo da retórica, carreira que pretendia seguir. Leciona em Cartago e Roma. Nessa época conhece uma mulher por quem se apaixona e tem um filho, Adeodato. Agostinho não foi catequisado nem batizado, vivendo em um ambiente de conflito familiar, uma vez que sua mãe era católica e seu pai materialista. Na sua juventude participava de um grupo de jovens pouco recomendáveis, descritos como pervertidos à procura de prazer. Ele percebe que esse comportamento não o satisfazia e aos poucos vai se organizando na vida, sem parar de procurar a verdade. O homem Agostinho: vida conturbada Dois episódios foram importantes para seu processo de recuperação. Quando ingressa a fundo no campo filosófico, ele passa de uma vida completamente libertina para uma vida mais responsável. Interessa-se pelas homilias de um bispo católico, amigo de sua mãe, Mônica, e começa a participar de um grupo cristão em Milão. O que motiva sua vocação filosófica é o nascimento de seu filho Adeodato. Esse fato arranca Agostinho da indiferença com a responsabilidade. O projeto de superação: conversões Em seguida ele ingressa na seita dos maniqueus. O maniqueísmo era uma doutrina eclética, baseadas nas teorias de Pitágoras e Zoroastro, que explicava a presença do bem o do mal no mundo associados a dois princípios: um essencialmente bom, que provém de Deus e da Luz; outro essencialmente mal, que deriva do demônio e das trevas. Frequenta esta seita por 9 anos até que encontra Fausto e percebe que aquela doutrina não passa de uma mentira. Com isso, ele volta para Roma com sua mãe, esposa e filho. Lá acontece sua segunda conversão: o estudo sistemático das Sagradas Escrituras. O projeto de superação: conversões Após a segunda conversão, Agostinho abandona a carreira de retórico e a vida desregrada. É batizado na Igreja Católica, na Páscoa de 387, junto com seu filho. Em 391 é ordenado padre e 4 anos mais tarde consagrado bispo da igreja de Hipona. “Onde encontrei a verdade, aí encontrei a meu Deus, que é a própria verdade; e desde que aprendi a conhecer a verdade, nunca mais a esqueci”. Esse pensamento de Agostinho resume a satisfação do espírito e de seu intelecto por terem completado sua incansável e permanente investigação pessoal. Depois do batismo, aos 33 anos, Agostinho iniciou uma intensa atividade de escritor. A vida de santidade e obras A filosofia de Agostinho foi construída com base em uma conciliação entre o neoplatonismo e os ensinamentos evangélicos dos apóstolos João e Paulo. Do platonismo move-se para o cristianismo através da busca pela verdade. Primeiro renuncia ao racionalismo ao descobrir a possibilidade do espírito iniciar a filosofia pela fé e não pela ciência: “Se não crerdes, não entendereis” Isaías (7, 9). Depois renuncia ao materialismo e ao objetivismo do conhecimento empírico ao aceitar a teoria da iluminação divina. Depois renuncia ao ceticismo, após perceber o quanto de absurdo havia nas teorias maniqueístas. O percurso filosófico A busca da verdade foi uma obsessão na vida de Agostinho. “Existe a verdade?” foi o ponto de partida para sua inquietação intelectual. Deu início à construção de uma sólida doutrina filosófica de matriz cristã. A síntese que realizou entre fé e razão denominou de Filosofia Cristã. Sua síntese filosófica não é uma sistematização de teorias que problematizam o universo físico. É uma narrativa da condição humana a partir de sua própria experiência. A metafísica agostiniana Antes de construir a Metafísica, Agostinho precisa demonstrar a incapacidade do conhecimento sensível como base para se chegar à verdade. Para os maniqueístas, a fonte de todo conhecimento é a percepção sensível. Os sentidos alimentam o intelecto com dados variáveis que podem induzir o espírito a erros. Demonstra assim que a fonte da verdade não está na experiência sensível. Considera que a função corpórea tem valor para o conhecimento da verdade. A metafísica agostiniana Agostinho demonstra que as sensações em si não são falsas. Falso é querer ver nelas a legitimação de uma verdade externa ao próprio sujeito. As sensações não são a fonte de erros. Isso vem dos juízos, derivados das sensações. A fonte da verdade encontra-se no espírito que não tem em si mesmo a razão de ser. Descobre um novo gênero de verdade: as verdades da consciência, superando, desta forma, o ceticismo que tendia a paralisar sua reflexão. A metafísica agostiniana A sua teoria da iluminação revela a herança platônica. Ele esclarece que tudo quanto o entendimento assegura como verdadeiro não o deve a si mesmo e sim a um Ser Superior ao qual está em permanente dependência. Todo ser possui uma luz que vem do Ser divino e que por meio d’Ele consegue alcançar a verdade. A essência da Verdade, entendida como uma dimensão do Sumo Bem, tem como ponto de partida a verdade lógica. A verdade lógica coincide com a essência da Verdade Divina. Assim, Deus é a Verdade. A metafísica agostiniana (Adaptado de UFU, 2009) Para Agostinho, Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Considerando essa informação, é correto afirmar que se pode perceber: a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele considerava a verdadeira. b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória com a fé cristã. c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com a doutrina cristã. d) uma crítica violenta de Agostinho à filosofia em geral. e) o início da influência árabe na obra de Agostinho. Interatividade (Adaptado de UFU, 2009) Para Agostinho, Deus cria todas as coisas a partir de modelos imutáveis e eternos, que são as ideias divinas. Considerando essa informação, é correto afirmar que se pode perceber: a) que Agostinho modifica certas ideias do cristianismo a fim de que este seja concordante com a filosofia de Platão, que ele considerava a verdadeira. b) uma crítica radical à filosofia platônica, pois esta é contraditória coma fé cristã. c) a influência da filosofia platônica sobre Agostinho, mas esta é modificada a fim de concordar com a doutrina cristã. d) uma crítica violenta de Agostinho à filosofia em geral. e) o início da influência árabe na obra de Agostinho. Resposta Agostinho sempre admitiu a existência de Deus supremo em todas as circunstâncias da sua vida. Ele julga que esta ideia se apresenta na interioridade do homem, visto que este conceito pertence aos conceitos fundamentais do espírito. Não vê necessidade de prova material da existência de Deus, pois considera o conjunto de todos os seres como a maior prova: “A existência de Deus não é proclamada somente pela autoridade dos livros santos, mas toda a natureza que nos cerca e à qual pertencemos, proclama que reconhece a existência de um Criador excelso.” (Sobre a Trindade, XV, 1995, p.6) A natureza de Deus É na dimensão lógica que o espírito vai experimentar uma presença real e particular de Deus. Deus está no silêncio da alma e é nessa intimidade que Deus se revela. Procurar Deus é um ato de recolhimento, é reclinar-se sobre si mesmo, perscrutar seu íntimo e reconhecer-se na própria natureza espiritual. É o único ser com existência verdadeira e, em suas palavras “Porque Deus é bom, somos.” (Sobre a Trindade, 1980 – VI, 5, 7-8, p. 198) A natureza de Deus A criação é a realização das ideias contidas na plenitude do Criador. A criação partiu de dois princípios: o da emanação (neoplatonismo) e o da criação a partir do nada (teoria da tradição judaica). Para Agostinho, o tempo começou a existir exatamente junto com a criação. Por isso, a criação não se insere no tempo. Deus está fora deste tempo porque foi Ele quem o criou. Somente a alma do homem pode perceber a passagem do tempo, ingressando em uma dimensão espiritual. O tempo e a criação: origem do mal A criação está em constante processo de transformação, passando constantemente pelo tempo. A matéria é informe, mas o seu papel é o de manifestar a forma. Quando a matéria passa a existir, simultaneamente se tem a forma, pois até então matéria e forma estavam fora do tempo. Existe uma diferença no devir da forma: certos seres, como o dia, a terra, o mar, o ar, o fogo e a alma humana, receberam a existência imediatamente com a forma, enquanto os seres vivos e outras coisas foram se formando aos poucos no decurso da evolução. O tempo e a criação: origem do mal É impossível pretender atingir o princípio da existência de Deus dentro do tempo. É um paradoxo pensar em Deus na ordem temporal. Porque Deus é a essência e o tempo é sua criação. Surge o problema metafísico da existência indubitável do mal no mundo. Desafia assim a doutrina de ser Deus um Deus de Bondade. Agostinho admite que toda a substância criada tem uma participação do Bem, que é Deus. Toda substância é boa. Se o mal não é criação de Deus, não é uma substância. O mal é um limite: o mal é uma ausência de substância do bem. O tempo e a criação: origem do mal Agostinho jamais duvidou da existência de um Ser Superior. Transferiu sua investigação filosófica da ordem ontológica para o plano existencial do dia a dia. O homem é uma dualidade corpo e alma. Corpo material e alma espiritual, um ser pensante cujo pensamento não se confunde com a materialidade do seu corpo. Esse pensamento se assemelha ao platonismo. A alma é superior ao corpo, ela é que age sobre este. Não enquanto agente causal e sim agente aglutinador. O dualismo corpo-alma O corpo faz parte da natureza humana e é responsável por reunir as sensações externas e conduzi-las à alma. Nas Confissões: “quando dois seres de desigual perfeição se reúnem em um todo, a natureza do menos perfeito exige que ele obedeça e seja movido e a função do mais perfeito é mandar mover de modo que esta relação de agente e paciente constitua uma unidade harmoniosa”. Com essa unidade ele supera a dualidade do corpo e alma. Na Teoria da Iluminação ele afirma que a alma é veículo da causalidade sobre-eminente reservada exclusivamente a Deus. O conhecimento intelectual processa-se pela interferência divina. O dualismo corpo-alma A sede do pensamento é a mente, com as funções da inteligência e da razão, os atributos mais elevados da alma. Se Deus está na alma, os caminhos do intelecto e da razão para chegar à Verdade, passam, logicamente, pela interioridade do homem. Todas as proposições que a alma intui e compreende na ordem intelectual são verdadeiras porque foram agraciadas pela luz divina. A alma tem a mesma substância divina e por isso é imortal. O dualismo corpo-alma A partir da versão do Gênesis de que o homem foi criado à imagem de Deus, Agostinho deduz que todo homem tem uma vocação para procurar seu Criador, desejar amá-lo, e tem sede de voltar ao Criador. Esse retorno vai determinar uma forma tríplice de se encaminhar a Deus. Esses 3 aspectos estão imbricados em uma só unidade, uma só vida, uma só mente e uma só essência “Eu sou, eu conheço, eu quero. Sou enquanto sei e quero, sei por ser e querer; quero ser e saber. Veja quem puder como nestas 3 coisas existe uma vida inseparável, uma única vida, uma única mente, uma única essência e como a distinção é inseparável e todavia, existe.” Confissões, Cap. XIII. O Homem e a Cidade de Deus Esses três aspectos representam a faculdade da memória (quem sou), da inteligência (o que conheço) e da vontade (o que quero). Cada um compreende as outras e constituem uma única entidade substancial. A doutrina política de Agostinho aparece principalmente na obra Cidade de Deus. É uma obra síntese de seu pensamento político, na qual oferece uma visão de duas cidades que representam o dilema de todo homem de viver o bem ou o mal. O Homem e a Cidade de Deus Agostinho trabalha com uma metáfora político-religiosa que descreve a luta entre duas cidades: a Cidade Celeste, da comunidade dos justos (civilização romana), e a Cidade Terrena, do diabo e dos ímpios (bárbaros). A metáfora funciona para descrever duas cidades relacionadas a comportamentos dos indivíduos: os que vivem segundo a carne ou aqueles que vivem segundo o espírito. Para ele, a história do mundo é uma luta permanente entre a cidade de Deus e a cidade dos homens e é a Igreja a depositária das verdades da fé, tem supremacia sobre a cidade dos homens e orienta a consciência dos cidadãos. O Homem e a Cidade de Deus Assinale a alternativa correta com relação à argumentação a respeito da fé e da razão para Agostinho. a) A razão é a forma de se conhecer a realidade de forma coerente e lógica. b) A fé revela as verdades ao ser humano de forma direta e intuitiva. A razão sozinha não pode fazê-lo, pois somos seres limitados, imperfeitos e necessitamos da graça para conhecer as verdades divinas. c) A razão revela ao ser humano os mistérios da fé. d) A fé é um instrumento da razão ao buscar elementos convincentes para a justificativa coerente sobre o mundo. e) A fé faz crer em coisas que não se pode entender pela razão, cegando os indivíduos. Interatividade Assinale a alternativa correta com relação à argumentação a respeito da fé e da razão para Agostinho. a) A razão é a forma de se conhecer a realidade de forma coerente e lógica. b) A fé revela as verdades ao ser humano de forma direta e intuitiva. A razão sozinha não pode fazê-lo, pois somos seres limitados, imperfeitos e necessitamos da graça para conhecer as verdades divinas. c) A razão revela ao ser humano os mistérios da fé. d) A fé é um instrumento da razão ao buscar elementos convincentes para a justificativa coerente sobre o mundo. e) A fé faz crer em coisas que não se pode entender pela razão, cegando os indivíduos. Resposta Escolástica designa o movimento doutrinal que se estabeleceu na segunda metade da IdadeMédia, do século VIII prolongando-se por cerca de 500 anos até o seu ápice, no século XIII, entrando em declínio junto com o período medieval. A Escolástica cristã não foi uma corrente original que inventou um sistema filosófico, mas foi responsável pela sistematização e consolidação clássicas da filosofia do cristianismo. Os filósofos novamente vão se inspirar nas fontes helênicas ao entrarem em contato com as traduções das obras completas de Aristóteles. A filosofia de Tomás de Aquino Pode ser dividida em três períodos tomando-se como marco de referência o pensamento de Tomás de Aquino: Fase pré-tomista ou de formação (séc. IX ao XII). Época do apogeu ou do Aquinate, que corresponde ao nascimento cultural carolino (séc. XII ao XIII). Período de declínio (séc. XIII ao XV). A Escolástica cristã é uma corrente filosófica que se insere no contexto político-cultural de expansão do cristianismo na Europa e há outras correntes escolásticas importantes, como a vertente bizantina, representada por Fócio, um teólogo de Constantinopla que fez comentários sobre a obra de Aristóteles. A filosofia de Tomás de Aquino Outra vertente é a Escolástica muçulmana, ligada aos filósofos árabes, que mantiveram um diálogo estreito com os pensadores cristãos do Ocidente. Existia um esforço de releitura dos dogmas do Alcorão sob a luz da filosofia grega de Aristóteles. Uma tentativa de conciliar testes peripatéticos com os temas revelados por Maomé. Deste grupo destaca-se Avicena e Averróis. A terceira vertente da Escolástica é a hebraica, que tem em comum com as correntes árabe e bizantina a abordagem dos problemas fundamentais de relação entre fé e razão, entre Deus e o mundo, entre o intelecto e a alma. A filosofia de Tomás de Aquino Os filósofos judeus também têm acesso à filosofia grega para explicar as verdades da Torá. Distingue-se pela Cabala, na tentativa de justificar alguns dos problemas fundamentais com elementos do misticismo. Cabala é um termo hebraico que significa tradição, é uma espécie de ciência oculta, transmitida na época oralmente entre os judeus, que faz interpretações exclusivas da Bíblia. Maimônides foi representante desta vertente e inspirou Tomás de Aquino para desenvolver uma de suas vias de comprovação da existência de Deus. A filosofia de Tomás de Aquino Do ponto de vista político e cultural, a Escolástica foi contemporânea e favorecida pelo Renascimento Carolino dentro do domínio romano em toda a região europeia. Neste período, acompanhamos a criação das primeiras universidades. O termo Carolino é derivado do nome de Carlos I, Rei dos Francos e Imperador do Ocidente, coroado pelo Papa no natal de 800, em Roma. Esteve à frente do governo por 43 anos e implantou um projeto educativo e cultural de grande envergadura – depois conhecido como Renascimento Carolino. O projeto Carolino O projeto tinha como objetivo: fazer com que os povos bárbaros que compunham parte do seu reino se adaptassem aos padrões greco-romanos assimilados pelo cristianismo. O imperador pretendia legar a todo o seu império uma cultura verdadeiramente clássica. Para tanto, precisava de um plano educativo eficiente que estendesse a cultura a todos os habitantes. Carlos Magno não só apoiou o ensino já existente como instituiu várias espécies de escolas para concretizar seu projeto – daí o termo escolástica. O projeto Carolino O projeto tinha metas abrangentes que incluíam: criação das escolas palacianas e episcopais junto à multiplicação das oficinas de arte nos mosteiros; a convocação de assembleias anuais de notáveis para a solução dos problemas do reino; a expansão dos contatos comerciais com o Oriente; a criação de novos reinos a partir das Guerras de Conquistas; até o controle da administração dos condes e dos bispos por intermédio dos “Emissários do Senhor”. O projeto Carolino Ao mesmo tempo em que cuidava das tarefas administrativas, Carlos Magno zelava também pelo desenvolvimento do cristianismo em todos os territórios conquistados. Nas escolas criadas junto aos palácios, as escolas palacianas, surgiram as primeiras universidades ou a semente do que viriam a ser as universidades. Vários são os motivos que possibilitaram o novo florescer da Escolástica cristã nesse ambiente cultural. Do ponto de vista específico do desenvolvimento das ideias filosóficas, poderíamos salientar dois fatores fundamentais: a criação das universidades e o conhecimento de Aristóteles. O projeto Carolino A formação das universidades é o grande legado da Idade Média ao mundo ocidental. Eram constituídas pelas faculdades de artes, filosofia, teologia, medicina e direito. As primeiras universidades de que se tem conhecimento são as de Paris (1215, onde estudou e lecionou Tomás de Aquino), Bolonha (início do século XIII, famosa pelo curso de direito), Tolosa (1233), Louvain (1245), Salamanca (1248), Oxford (1258), Montpellier (1289), Roma, Nápoles e outras. O projeto Carolino O conhecimento de Aristóteles é outra causa básica do apogeu escolástico do século XIII, de tal modo que pode ser considerado, na linha da história da filosofia, um renascimento aristotélico. Os árabes foram em grande parte responsáveis pela transmissão da filosofia grega para o ocidente cristão. Para o Ocidente possuir conhecimento direto da filosofia aristotélica seria preciso, então, que fosse abolida a ponte do saber islâmico. Para isso, as obras de Aristóteles foram traduzidas do árabe para o latim. O renascimento do aristotelismo Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. Sobre o processo de reconhecimento dessa realidade, assinale a alternativa incorreta quanto a um de seus princípios básicos. a) O “princípio da não contradição” – o ser é ou não é. b) O “princípio da substância” – é possível diferenciar a substância do acidente. c) O “princípio da causa eficiente” – todos os seres da realidade sensorial não possuem em si próprios a causa eficiente de sua existência. d) O “princípio do ato e da potência” – o ato representa a capacidade de transformação, do vir-a-ser do ser. e) Não é possível existir algo que seja e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista. Interatividade Tomás de Aquino enfatizou a importância da realidade sensorial. Sobre o processo de reconhecimento dessa realidade, assinale a alternativa incorreta quanto a um de seus princípios básicos. a) O “princípio da não contradição” – o ser é ou não é. b) O “princípio da substância” – é possível diferenciar a substância do acidente. c) O “princípio da causa eficiente” – todos os seres da realidade sensorial não possuem em si próprios a causa eficiente de sua existência. d) O “princípio do ato e da potência” – o ato representa a capacidade de transformação, do vir-a-ser do ser. e) Não é possível existir algo que seja e não seja ao mesmo tempo e sob o mesmo ponto de vista. Resposta Tomás nasceu em 1225, em Nápoles, sul da Itália. Era descendente da família dos Condes de Aquino. Fez seus primeiros estudos com os beneditinos, no mosteiro de Monte Cassino. Mais tarde, cursa a universidade de Nápoles, onde se inicia nos estudos de moral e metafísica, além das artes liberais. Aos 19 anos, não obstante a grande oposição da família, que o manteve prisioneiro por um ano, ingressa na ordem dos dominicanos. Um ano mais tarde, em 1245, toma definitivamente o hábito e faz sua profissão de fé religiosa. Tomás de Aquino: o doutor angélico Tomás era muito determinado e disciplinado, o que o ajudou na função de sistematizador doutrinário e religioso que teria mais tarde. Conduziu os estudos teológicos na universidade de Paris e depois na universidade de Colônia, Alemanha. Lá fundou um importante grupo de estudos:Studium Generale. Mais tarde volta a Paris e recebe o título de Mestre em Teologia. O título de Doutor Angélico é uma homenagem dupla por sua douta sabedoria e seu temperamento sereno de abade beneditino. Quando volta à Itália, entra em contato com Aristóteles. Tomás de Aquino: o doutor angélico Daí em diante até o final da vida consagrou-se a uma dupla missão inteiramente intelectual: em primeiro lugar, assimilar as riquezas das ideias de Aristóteles, repensando o aristotelismo com sua inteligência cristã; depois, servir-se dessa base racional para construir uma vasta síntese teológica que seria sua obra verdadeiramente original. Em 1274 é convocado pelo papa Gregório X para participar do segundo Concílio de Lião. Durante a viagem, adoece e vem a falecer entre Nápoles e Roma, no convento de Fossanova, com apenas 49 anos. Tomás de Aquino: o doutor angélico O objeto da Escolástica cristã é Deus, como o de todas as filosofias teocêntricas do período medieval. Mas, de modo diferente das outras, particularmente da Patrística, para quem a teologia, a ciência de Deus, deve preceder o exercício do filosofar, na Escolástica a filosofia e a teologia, a rigor, coexistem numa relação de subordinação. Segundo Tomás de Aquino, teologia e filosofia são disciplinas diferentes. O fundamento da teologia é a razão divina, enquanto que o da filosofia é a razão humana. As duas ciências se coadunam quanto ao referencial de veracidade. A relação filosofia e teologia É incontestável a relação de coexistência entre a teologia e a filosofia na ordem epistemológica da Escolástica cristã. Essa relação reflete o binômio fé e razão que, respectivamente, são instrumentos de confirmação ou de construção da doutrina cristã. A questão da relação entre fé e razão, portanto, é uma questão de conciliação entre ambas: de cooperação ou de subordinação, jamais de oposição. Na Patrística era preciso, com a razão, esclarecer a teologia revelada à fé. Na ordem da Escolástica será necessário primeiro refinar os raciocínios para compreender melhor os dogmas revelados. A conciliação entre fé e razão Não se pode perder de vista, porém, que as duas correntes possuem como objetivo final com a formação filosófico- teológica dos padres, a missão de ensinar e de catequizar os pagãos, divulgando assim o cristianismo aos gentios. Para Tomás de Aquino há um equilíbrio estabelecido naturalmente nas relações entre a fé e a razão e, consequentemente, entre a teologia e a filosofia. São distintas nos enfoques de seus objetos, mas não se separam metodologicamente. A filosofia utiliza as luzes da razão natural, ao passo que a teologia se vale das luzes da razão divina manifestada na revelação. A conciliação entre fé e razão Tomás de Aquino, ao desenvolver sua metafísica, não pretende inovar. É no domínio da metafísica aristotélica que o filósofo se move e é por aí que se compreende sua visão de mundo e de Deus. Há que se considerar, também, que o tomismo constitui um sistema filosófico “fechado”, isto é, redondamente estruturado, no qual todas as partes se interligam de modo coerente: a lógica, a filosofia natural (ou física), a metafísica, a moral e, é claro, a teologia, onipresente enquanto fundamento e objeto de investigação concomitantes. A metafísica tomista A chave fundamental da metafísica tomista, mais uma vez, conforme o aristotelismo, é o princípio de potência e ato, aplicado para todos os níveis da realidade, desde o mais abstrato e imponderável do Ser Absoluto, ao nível das manifestações mais simples e concretas da matéria no mundo físico. Potência é não-realidade ou imperfeição, uma capacidade de concretização de algo, uma capacidade de se atingir uma perfeição. Ato designa realidade, perfeição, concretude resultante da potência em ação. A metafísica tomista A potência é a possibilidade de determinação das coisas em ato, que se efetua no movimento do vir a ser. Nessa perspectiva, a matéria é um não-ente (potência) que adquire realidade sob uma forma, isto é, se atualiza (ato) e é determinada pela forma. A forma é a essência das coisas, entendidas estas como coisas naturais e materiais, como água, ouro, madeira, etc. A substância é um ser completo e real, uma matéria potencializada que obteve uma forma, uma atualização (ato) enquanto ser, no mundo físico. Por fim, a substância é a confluência da matéria (possibilidade) e da forma (essência). A metafísica tomista Tomás de Aquino sustenta que Deus pode ser conhecido sim, mas, de modo racional, pelos caminhos lógicos da demonstração. Deus pode ser conhecido pela observação das suas criaturas, porquanto, o efeito (a criação) deve ter semelhança com a causa (o Criador). Para Tomás, Deus é a fonte, ao mesmo tempo criadora e explicativa de todos os seres. A natureza de Deus: o Ato puro Tomás, então, assume para si esse desafio de provar, de modo filosófico, a existência de Deus e propõe cinco vias ou caminhos de argumentação para realizar essa tarefa. 1ª via: a constatação dos motores que movem os móveis exige um primeiro motor imóvel. 2ª via: o encadeamento em série de causas eficientes exige uma primeira Causa na série. 3ª via: necessidade de um ser não contingente (necessário) na ordem dos seres contingentes. 4ª via: as perfeições em menor grau constatadas nos seres supõe essas mesmas perfeições, em grau máximo, concentradas em um Ser supremo. 5ª via: a organização perfeita do mundo exige uma inteligência infinita e onipotente. Provas da existência de Deus: as 5 vias Segundo Tomás de Aquino, há cinco vias que mostram a existência de Deus. Quais são elas? a) Do primeiro motor; sobre a primeira causa eficiente; sobre o existente necessário; sobre os graus do ser; sobre o fim supremo de todas as coisas. b) Da iluminação interior; sobre a primeira causa eficiente; sobre o primeiro motor; sobre o fim de todas as coisas; sobre os graus do ser. c) Sobre a iluminação interior; sobre a dialética da ideia do Bem; sobre a causalidade necessária; sobre a hierarquia dos seres; sobre a eternidade. d) Sobre a hierarquia dos seres; sobre a iluminação interior; sobre a dialética da ideia de Bem; sobre o primeiro motor; sobre a ideia inata de Deus. e) Sobre a ideia transcendental de Deus; sobre a causalidade; sobre a eternidade; sobre a iluminação interior; sobre o fim supremo de todas as coisas. Interatividade Segundo Tomás de Aquino, há cinco vias que mostram a existência de Deus. Quais são elas? a) Do primeiro motor; sobre a primeira causa eficiente; sobre o existente necessário; sobre os graus do ser; sobre o fim supremo de todas as coisas. b) Da iluminação interior; sobre a primeira causa eficiente; sobre o primeiro motor; sobre o fim de todas as coisas; sobre os graus do ser. c) Sobre a iluminação interior; sobre a dialética da ideia do Bem; sobre a causalidade necessária; sobre a hierarquia dos seres; sobre a eternidade. d) Sobre a hierarquia dos seres; sobre a iluminação interior; sobre a dialética da ideia de Bem; sobre o primeiro motor; sobre a ideia inata de Deus. e) Sobre a ideia transcendental de Deus; sobre a causalidade; sobre a eternidade; sobre a iluminação interior; sobre o fim supremo de todas as coisas. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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