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69 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Unidade III 5 PODER EXECUTIVO Como vimos anteriormente, o Poder Executivo é um dos Poderes tripartites do Brasil e está presente em todos os entes federativos, tendo como chefes o presidente da República (União), o governador (Estados e Distrito Federal) e o prefeito (Municípios). Não somente na Constituição atual, mas em Constituições anteriores, o Brasil, historicamente, adotou o sistema de governo presidencialista. Sua função típica, anteriormente demonstrada, implica atos de gestão e administração, tendo como funções atípicas legislar e julgar. 5.1 Presidente da República Comecemos pelo Executivo federal, que é representado pelo presidente da República. Um cidadão chega ao cargo de presidente da República por intermédio de eleição presidencial. A matéria encontra‑se disciplinada no art. 77 da CF/88 (BRASIL, 1988), da qual podemos extrair: • A eleição para presidente da República ocorrerá no 1º domingo de outubro do ano em que ocorrer a eleição. Será considerado eleito em 1º turno o candidato que obtiver a maioria absoluta dos votos considerados válidos, ou seja, excluindo‑se os votos brancos e nulos. • Se o candidato não obtiver a maioria absoluta dos votos, seguir‑se‑á com o 2º turno das eleições, com os dois candidatos mais votados. • Caso ocorra o evento morte, desistência ou impedimento legal do candidato habilitado ao 2º turno, será convocado, dentre os remanescentes, o de maior votação. • Em caso de empate, será utilizado o critério de idade, elegendo‑se o mais idoso. Esse critério também será utilizado no caso de disputa de 2º lugar para o 2º turno. O presidente e o vice‑presidente da República serão empossados em sessão do Congresso Nacional, na qual prestarão o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil. No entanto, o cargo de presidente da República poderá ser declarado vago caso decorram 10 dias da data fixada para a posse, e o presidente ou o vice‑presidente, salvo se justificado por motivo de força maior, não tiverem assumido o cargo. 70 Unidade III Pode ocorrer a necessidade de substituição do presidente em caso de eventual impedimento, por exemplo, por doença, férias ou vacância do cargo, como nos casos de cassação do mandato, renúncia ou morte. Havendo essa necessidade, o art. 80 da CF/88 (BRASIL, 1988) disciplina que serão chamados para suceder o presidente na seguinte sequência: o presidente da Câmara dos Deputados, o presidente do Senado Federal e, por fim, o presidente do STF. Situação interessante ocorreu no Brasil em decisão proferida na ADPF 402 (BRASIL, 2016), em que a maioria dos ministros entendeu: [...] que réus em ação penal perante o Supremo Tribunal Federal não podem substituir o Presidente da República. A decisão foi aplicada ao então Presidente do Senado Renan Calheiros. O STF entendeu que ele poderia continuar a ocupar o cargo de Presidente do Senado, mas não poderia assumir temporariamente a Presidência da República (NUNES JÚNIOR, 2018, p. 1569‑1570). Saiba mais Consulte o julgado da ADPF 402 do STF para saber mais sobre a linha sucessória do presidente da República do Brasil: BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Referendo na Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 402 Distrito Federal. Relator: Min. Marco Aurélio. DJe, Brasília, 7 dez. 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADPF402 Ementa.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2019. Cabe ressaltar que a possibilidade de sucessão do cargo de presidente da República pelo presidente da Câmara, do Senado ou do STF será sempre temporária, até como uma forma de não violar o princípio da separação dos Poderes. Caso ocorra a vacância do cargo, poderão ocorrer duas situações: se a vacância ocorrer nos primeiros 2 anos do mandato, ocorrerão novas eleições diretas no prazo máximo de 90 dias; se a vacância ocorrer na segunda metade do mandato (últimos dois anos), ocorrerão pelo Congresso Nacional eleições indiretas no prazo de 30 dias. Cabe lembrar que, em ambos os casos, os eleitos direta ou indiretamente deverão completar o período faltante de seus antecessores – art. 81 da CF/88 (BRASIL, 1988). Na linha sucessória do cargo de chefe do Poder Executivo no âmbito estadual, distrital e municipal, por uma questão de simetria constitucional, nos casos de impedimento ou de vacância, teremos: • Estado: sucessão pelo vice‑governador, presidente da Assembleia Legislativa e pelo presidente do Tribunal de Justiça (TJ). 71 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS • Distrito Federal: mesma linha sucessória anteriormente definida. • Municípios: sucessão pelo vice‑prefeito e presidente da Câmara de Vereadores. Caso ocorra a vacância dos dois cargos do chefe e do vice do Poder Executivo estadual, distrital ou municipal, deverá haver novas eleições? O STF já se pronunciou a esse respeito no julgamento da Adin 3.549‑5, cuja relatora é a ministra Cármen Lúcia. Assim, compete aos respectivos Estados, Distrito Federal e Municípios legislar acerca da sucessão do Poder Executivo, não sendo exigida a absoluta simetria com o modelo federal, em razão da capacidade de autogoverno e auto‑organização que gozam esses entes federativos. Assim, caberá à Constituição do Estado disciplinar a eleição indireta para governador e vice‑governador, bem como caberá à Lei Orgânica do Município fazê‑lo em âmbito municipal. Não pode o Estado legislar acerca das eleições municipais, sob pena de ferir a autonomia do Município (BRASIL, 2007b). Saiba mais Conheça a íntegra do acórdão da ADI 3.549‑5 de lavra da ministra Cármen Lúcia em: BRASIL. Supremo Tribunal Federal (STF). Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.549‑5 Goiás. Requerente: procurador‑geral da República. Requerido: Assembleia Legislativa do Estado de Goiás. Relator: Min. Cármen Lúcia. DJe, Brasília, 31 out. 2007b. Disponível em: <http:// redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=492850>. Acesso em: 11 jan. 2019. O presidente da República poderá ausentar‑se do País sem a necessidade de autorização do Congresso Nacional pelo prazo máximo de 15 dias – art. 83 da CF/88 (BRASIL, 1988). A não observância desse dispositivo constitucional poderá levar à perda do cargo. A autorização dada pelo Congresso Nacional ocorrerá na forma de decreto legislativo, como já vimos anteriormente quando estudamos as espécies normativas. O mesmo entendimento deve ser aplicado para os demais entes federativos a fim de evitar que o Poder Executivo fique sem comando em períodos prolongados. Vejamos o entendimento do STF sobre o assunto de acordo com a ADI 3.647‑5: [...] a ausência do Presidente da República do país ou a ausência do Governador do Estado do território estadual ou do país é uma causa 72 Unidade III temporária que impossibilita o cumprimento, pelo chefe do Poder Executivo, dos deveres e responsabilidades inerentes ao cargo. Desse modo, para que não haja acefalia no âmbito do Poder Executivo, o Presidente da República ou o Governador do Estado deve ser devidamente substituído pelo vice‑presidente ou vice‑governador respectivamente (...). Em decorrência do princípio da simetria, a Constituição estadual deve estabelecer sanção para o afastamento do Governador ou do Vice‑Governador do Estado sem a devida licença da Assembleia Legislativa (BRASIL, 2008b, p. 1). Quais são as funções de um presidente da República? O presidente da República é o chefe de Estado e o chefe de governo. O que isso significa? Que ele representa o País externamente e que pratica os atos de natureza administrativa e política na condução da coisa pública. São atribuições do presidente da República, de acordo com o art. 84 da CF/88 (BRASIL, 1988): I – nomear e exonerar os Ministros de Estado; II – exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superiorda administração federal; III – iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V – vetar projetos de lei, total ou parcialmente; VI – dispor, mediante decreto, sobre [...]: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos [...]; VII – manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; IX – decretar o estado de defesa e o estado de sítio; X – decretar e executar a intervenção federal; 73 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS XI – remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; XII – conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII – exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais‑generais e nomeá‑los para os cargos que lhes são privativos [...]; XIV – nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador‑Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV – nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI – nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado‑Geral da União; XVII – nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; XVIII – convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; XIX – declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX – celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI – conferir condecorações e distinções honoríficas; XXII – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII – enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstas nesta Constituição; XXIV – prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; 74 Unidade III XXV – prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; XXVI – editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; XXVII – exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. De acordo com o último inciso, o presidente da República poderá exercer outras funções previstas na CF/88, ou seja, o rol de atribuições previsto no art. 84 da CF/88 não é um rol exaustivo, que esgote as possibilidades, mas sim exemplificativo, podendo haver outras atribuições, além das previstas nesse artigo (BRASIL, 1988). Dessas atribuições, que são privativas do presidente da República, há três que são delegáveis a outras pessoas: ministro de Estado, procurador‑geral da República e advogado‑geral da União, que são as previstas nos incisos VI, XII e XXV, anteriormente referidos (BRASIL, 1988). Quanto aos ministros de Estado, sabemos que podem ser nomeados ou exonerados livremente pelo presidente da República. Revisitando tópico tratado anteriormente, são requisitos para ser ministro de Estado: ter nacionalidade brasileira, ser maior de 21 anos e estar em pleno gozo dos direitos políticos. Os ministros de Estado auxiliam o presidente da República na condução da coisa pública em âmbito federal, exercendo funções como orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal, expedição de instruções para execução de leis e apresentação de relatórios anuais sobre sua gestão nos respectivos ministérios. Os ministros de Estado são julgados nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade pelo STF, salvo se o crime de responsabilidade for conexo com o do presidente da República, situação na qual o órgão julgador será o Senado Federal. Há dois conselhos que representam órgãos superiores de consulta do presidente da República: Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional. O Conselho da República é presidido pelo presidente da República e poderá ser sempre por ele convocado toda vez que for relevante para a estabilidade das instituições democráticas. Sempre será convocado com anterioridade o Conselho da República nos casos de decretação de intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio. Compõem o Conselho da República, nos termos do art. 89 da CF/88: I – o Vice‑Presidente da República; II – o Presidente da Câmara dos Deputados; III – o Presidente do Senado Federal; 75 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS IV – os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; V – os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; VI – o Ministro da Justiça; VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução (BRASIL, 1988). Quanto ao Conselho de Defesa Nacional, também é um órgão de consulta, presidido e convocado pelo presidente da República. Normalmente é convocado para posicionar‑se sobre assuntos relacionados com a soberania nacional e defesa do Estado Democrático. Dentre as atribuições do Conselho de Defesa Nacional estão opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal, propor critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo, além de estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias para garantir a independência nacional e a defesa do Estado Democrático. São membros do Conselho de Defesa Nacional, segundo o art. 91 da CF/88: I – o Vice‑Presidente da República; II – o Presidente da Câmara dos Deputados; III – o Presidente do Senado Federal; IV – o Ministro da Justiça; V – o Ministro de Estado da Defesa [...]; VI – o Ministro das Relações Exteriores; VII – o Ministro do Planejamento. VIII – os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica [...] (BRASIL, 1988). 76 Unidade III 5.1.1 Responsabilidade do presidente da República Ao contrário do que dispunha a Carta Magna de 1824, em que o imperador não estava sujeito a nenhum tipo de responsabilidade, a CF/88 (BRASIL, 1988) prevê que o presidente da República possa ser responsabilizado penal e politicamente por seus atos, podendo ser julgado por crime comum e crime de responsabilidade. Anteriormente, já nos referimos à possibilidade de o ministro de Estado ser responsabilizado por crime de responsabilidade. Mas, afinal, o que é crime de responsabilidade? Trata‑se de uma infração de caráter político, com previsão no art. 85 da CF/88 (BRASIL, 1988), podendo configurar crime de responsabilidade os atos do presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra a existência da União; o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público edos Poderes constitucionais das unidades da Federação; o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; a segurança interna do País; a probidade na administração; a lei orçamentária; o cumprimento das leis e das decisões judiciais. A responsabilização por crime de responsabilidade implica no processo de impeachment. Como estudamos anteriormente, o vice‑presidente, os ministros de Estado, os comandantes das Forças Armadas, os ministros do STF, os membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público, o procurador‑geral da República, o advogado‑geral da União, os governadores e prefeitos podem ser processados por crime de responsabilidade. Já nos crimes comuns, o presidente da República será julgado pelo STF. Por se tratar de uma função atípica do Poder Legislativo, nos crimes de responsabilidade, o presidente da República será julgado pelo Senado Federal, sendo o julgamento presidido pelo presidente do STF. Tanto para julgamento de crimes comuns como para julgamento de crime de responsabilidade (impeachment), há a necessidade de que a Câmara dos Deputados autorize por um quórum qualificado de 2/3 de seus membros o início da instauração do respectivo processo perante o STF ou o Senado Federal. Na prática de crimes comuns, o presidente da República poderá praticar algum crime previsto no Código Penal ou na Legislação Penal Extravagante. A denúncia poderá ser oferecida pelo procurador‑geral da República, e o órgão competente para julgamento será o STF. No entanto, o recebimento da denúncia está condicionado à autorização da Câmara dos Deputados pelo quórum de 2/3. Recebida a denúncia pelo STF, o presidente da República deverá ficar afastado de suas funções pelo prazo de até 180 dias, que é o prazo destinado ao seu julgamento. Caso não seja julgado dentro desse prazo, poderá retomar às suas funções enquanto prossegue o processo criminal. Nos crimes de responsabilidade, a denúncia poderá ser feita por qualquer cidadão perante a Câmara dos Deputados, cabendo ao seu presidente recebê‑la ou não. Caso o presidente da Câmara dos Deputados rejeitar a denúncia, poderá ser interposto recurso para o Plenário e não para o STF. Vejamos posicionamento do STF a respeito no MS 35.423 do ministro Celso de Mello: 77 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS É por tal motivo que o Plenário do Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente advertido que atos emanados dos órgãos de direção das Casas do Congresso Nacional [o Presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo], quando praticados, por eles, nos estritos limites de sua competência e desde que apoiados em fundamentos exclusivamente regimentais, sem qualquer conotação de índole jurídico‑constitucional, revelam‑se imunes ao judicial review, pois – não custa enfatizar – a interpretação de normas de índole meramente regimental, por qualificar‑se como típica matéria interna corporis, suscita questão que se deve resolver “exclusivamente no âmbito do Poder Legislativo, sendo vedada sua apreciação pelo Judiciário” (BRASIL, 2017b, p. 12). No mesmo sentido, de acordo com o MS 26.062‑9: Oferecimento de denúncia por qualquer cidadão imputando crime de responsabilidade ao Presidente da República [...]. Impossibilidade de interposição de recurso contra decisão que negou seguimento à denúncia. Ausência de previsão legal (Lei 1.079/50). [...] A interpretação e a aplicação do Regimento Interno da Câmara dos Deputados constituem matéria interna corporis, insuscetível de apreciação pelo Poder Judiciário (BRASIL, 2008c, p. 1). No caso de recebimento da denúncia pelo presidente da Câmara, ela será encaminhada a uma comissão especial eleita, que examinará a denúncia e elaborará parecer que, posteriormente, será submetido ao Plenário. Em Plenário, a Câmara dos Deputados poderá autorizar a abertura do processo de impeachment contra o presidente. Essa votação pressupõe 2/3 dos membros da Câmara. Após autorização da Câmara dos Deputados, o processo seguirá para julgamento para a outra casa parlamentar, podendo ou não ser iniciado no Senado Federal, mediante deliberação da maioria simples de seus membros. Vejamos o entendimento do STF sobre ao assunto no ADPF 378: [...] Apresentada denúncia contra o Presidente da República por crime de responsabilidade, compete à Câmara dos Deputados autorizar a instauração de processo (art. 51, I, da CF/1988). A Câmara exerce, assim, um juízo eminentemente político sobre os fatos narrados, que constitui condição para o prosseguimento da denúncia. Ao Senado compete, privativamente, processar e julgar o Presidente (art. 52, I), locução que abrange a realização de um juízo inicial de instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara (BRASIL, 2015d, p. 3). 78 Unidade III O processo de julgamento do impeachment percorrerá três fases: • Formação de uma comissão especial que elaborará um parecer para submissão ao Plenário, o qual decidirá pelo início do processo pela maioria simples, desde que presente maioria absoluta de seus membros. Nessa fase, pode ocorrer, se for o caso, o arquivamento do processo. • Instrução probatória com consequente votação pelo Plenário, por maioria simples e votação aberta, desde que presentes à sessão a maioria absoluta. • Julgamento pelo Plenário, com a necessidade de 2/3 para condenação do presidente. A decisão do Senado far‑se‑á por resolução. Observação Uma vez iniciado o processo de impeachment, a eventual renúncia do presidente da República não tem o poder de paralisá‑lo. 5.1.2 Condenação do presidente Como vimos, o presidente da República poderá ser condenado pela prática de crime comum ou crime de responsabilidade. Se condenado por crime comum, incorrerá: • na perda do mandato; • no cumprimento da pena; • na suspensão dos direitos políticos, enquanto durarem os efeitos da condenação. Se condenado por crime de responsabilidade, incorrerá: • na perda do cargo; • na inabilitação por oito anos para o exercício de função pública. Recente caso ocorreu no Brasil com o julgamento do impeachment da ex‑presidente Dilma Rousseff: Embora sejam as duas punições sobreditas cumulativas, no impeachment da ex‑presidente Dilma Rousseff, o Senado, com a anuência do presidente do STF, decidiu fazer duas votações, ao que se denominou “fatiamento” do julgamento. O Senado, nesse caso, condenou a presidente com a consequente perda do cargo, mas a isentou da pena da inabilitação para função pública por oito anos (NUNES JÚNIOR, 2018, p. 1592). 79 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS O presidente pode ser processado criminalmente pela prática de crimes comuns, desde que estejam vinculados à sua função, tais como peculato, prevaricação, corrupção etc. Se o crime não tiver relação com a sua função, o presidente somente poderá ser processado após o término de seu mandato, ficando suspenso o prazo prescricional, mesmo que a prática criminal tenha ocorrido antes de sua investidura no cargo como presidente da República. Essa imunidade não se aplica a outros chefes do Poder Executivo, como governadores e prefeitos. Quanto à responsabilidade civil ou fiscal, o presidente da República não possui imunidade. 5.2 Poder Executivo Estadual, Distrital e Municipal O governador do Estado é o chefe do Poder Executivo no âmbito estadual, auxiliado pelos secretários de Estado. A exemplo do que ocorre com o Poder Executivo federal, o mandato é de 4 anos, admitida uma reeleição. O governador também é eleito pelo voto, podendo se eleger em 1º turno caso haja maioria absoluta de votos válidos. Na prática de crimes comuns, a competência para julgamento é do STJ. Quanto à eventual prática de crime de responsabilidade, deverá haver previsão de como se dará o julgamento na Constituição Estadual. Nas palavras de Nunes Júnior: [...] dispõe o artigo 78, da Lei Federal 1.079/50. Segundo o § 3º desse artigo, “Nos Estados, onde as Constituições não determinaremo processo nos crimes de responsabilidade dos Governadores, aplicar‑se‑á o disposto nesta lei, devendo, porém, o julgamento ser proferido por um tribunal composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores, sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça local, que terá direito de voto no caso de empate. A escolha desse Tribunal será feita – a dos membros do Legislativo – mediante eleição pela Assembleia, e a dos desembargadores, mediante sorteio” (2018, p. 1594). No âmbito do Distrito Federal, igualmente ocorre com os Estados, o chefe do Poder Executivo é o governador, eleito como os demais governadores dos Estados, com mandato de 4 anos, mediante eleições. No âmbito dos Municípios, o chefe do Poder Executivo é o prefeito, também eleito para um mandato de 4 anos, mediante eleição por voto. 6 PODER JUDICIÁRIO O Poder Judiciário é o terceiro e último Poder a ser estudado. A estrutura judiciária brasileira está prevista no texto constitucional de 1988. Com maior interesse para nossos estudos, o Poder Judiciário tem como função típica a de julgar, também conhecida como função jurisdicional, ou seja, dizer o direito ao caso concreto, dirimindo conflitos que lhe são levados quando da aplicação das leis. 80 Unidade III Não obstante, pode o Poder Judiciário exercer funções atípicas, como elaborar o regimento interno de seus tribunais (função atípica legislativa), assim como conceder licenças e férias a seus magistrados e serventuários (função atípica executiva). Tendo o Poder Judiciário a função precípua de julgar, ele encontra‑se regularmente estruturado para exercer a sua função jurisdicional através de seus órgãos. O Poder Judiciário é o que detém o poder jurisdicional, entre outras palavras, não podemos fazer justiça com as próprias mãos, e sim submeter à apreciação do Poder Judiciário os conflitos de interesse para que ele atue fazendo justiça. Por outro lado, o Poder Judiciário não pode se abster de analisar as demandas jurídicas que lhe são submetidas – art. 5º, inciso XXXV, da CF/88 (BRASIL, 1988) –, configurando assim o que chamamos de princípio da inafastabilidade da jurisdição, ou seja, toda vez que houver lesão ou ameaça de lesão ao direito de alguém, será competente para apreciação o Poder Judiciário. No entanto, pelo princípio da inércia da jurisdição, o Poder Judiciário não atua de ofício nas demandas, ou seja, ele deve ser provocado pelo interessado para poder intervir nas relações conflituosas, é o disposto no artigo 2º do novo Código de Processo Civil (novo CPC), que dispõe: “O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (BRASIL, 2015a). A estrutura do Poder Judiciário está prevista no art. 92 da CF/88, ou seja, são órgãos que compõem o Poder Judiciário: I – o Supremo Tribunal Federal [STF]; II – o Conselho Nacional de Justiça [CNJ] [...]; III – o Superior Tribunal de Justiça [STJ] [...]; IV – os Tribunais Regionais Federais [TRFs] e Juízes Federais; V – os Tribunais do Trabalho e Juízes do Trabalho; VI – os Tribunais e Juízes Eleitorais; VII – os Tribunais e Juízes Militares; VIII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios (BRASIL, 1988). Cabe ressaltar que esse rol do art. 92 é um rol taxativo, de forma que quaisquer outros órgãos, mesmo que recebam a denominação de Tribunal não integram o Poder Judiciário, como é o caso do Tribunal Marítimo, Tribunal de Contas e outros. Ademais, qualquer outro juízo criado à margem da Constituição Federal poderá ser considerado ilegítimo, nos termos do art. 5º, inciso XXXVII, da CF/88, que impede a criação de tribunal de exceção (BRASIL, 1988). 81 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS STF STJ Colégios recursais TJs Juízes estaduais, do DF e territ. TJM ou TJ Juízes de direito (Juiz‑auditor) e conselhos de justiça (Auditorias militares estaduais, do DF e Territórios) TRTs Juízes do trabalho TRFs Juízes federais TREs Juízes e juntas eleitorais Juizados especiais TST TSE STM Conselhos de justiça (Auditorias militares da União) Figura 2 – Organograma do judiciário brasileiro A doutrina costuma fazer distinção entre os órgãos do Poder Judiciário, dividindo‑os entre justiça comum ou ordinária e justiça especial ou especializada. Excetua‑se o órgão de cúpula do Poder Judiciário, que é o STF, também conhecido como órgão de superposição, pois suas decisões se sobrepõem a todas as justiças e tribunais, não pertencendo, portanto, a nenhuma justiça específica (comum ou especial). De acordo com a divisão doutrinária, é a seguinte: • Justiça especial ou especializada — Justiça do Trabalho: é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST), pelos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e pelos juízes do trabalho nas varas do trabalho. — Justiça Eleitoral: é composta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), pelos juízes eleitorais e juntas eleitorais. — Justiça Militar da União: composta pelo Superior Tribunal Militar (STM) e Conselhos de Justiça (Especial e Permanente), nas sedes das auditorias militares; — Justiça Militar dos Estados, do Distrito Federal e Territórios: composta pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal de Justiça (TJ) ou Tribunal de Justiça Militar (TJM), sendo, em primeiro grau, pelos juízes de Direito togados e pelos Conselhos de Justiça, com sede nas auditorias militares. Com caráter residual, ou seja, o que não for da competência da justiça especializada, será da justiça comum ou ordinária. 82 Unidade III • Justiça comum ou ordinária — Justiça Federal: composta pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs) e juízes federais. — Justiça do Distrito Federal e Territórios: tribunais e juízes do Distrito Federal e Territórios. — Justiça Estadual comum: composta pelos Tribunais de Justiça e juízes de Direito de 1º grau. A discussão doutrinária gira em torno de o STJ pertencer a uma justiça específica, no caso, a comum ou a especializada. O entendimento majoritário da doutrina está no sentido de que o STJ não pertence a nenhuma das duas justiças, sendo considerado, também, um órgão de superposição da justiça brasileira. No entanto, faz‑se necessário uma breve reflexão sobre a estruturação do Poder Judiciário nos termos prescritos pela Constituição Federal (BRASIL, 1988). Certo é que o STJ não recebe, em regra, recursos advindos das justiças especializadas, quais sejam, trabalhista, militar e eleitoral, sendo que cada uma delas possui o seu próprio tribunal superior. Dessa forma, o STJ tem atuação em sede recursal no que toca aos recursos advindos da justiça comum, ou seja, federal e estadual. Com base nesse entendimento, poder‑se‑ia dizer que cada justiça especializada tem o seu tribunal superior, sendo Tribunal Superior do Trabalho (TST), Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Superior Tribunal Militar (STM), a justiça comum também teria o seu próprio tribunal superior. Qual seria? O STJ. Mais uma vez relembramos que o entendimento majoritário da doutrina está no sentido de que o STJ não pertence a nenhuma das justiças específicas. Cabe ressaltar mais uma divisão feita entre as justiças do Poder Judiciário. Temos órgãos judiciários federais e órgãos judiciários estaduais. As justiças organizadas pela União são as chamadas justiças federais, sendo elas: justiça especializada do trabalho, justiça especializada eleitoral, justiça especializada militar da União, justiça comum federal e justiça comum do Distrito Federal e dos Territórios, além do STF e do STJ. As justiças organizadas pelos Estados são as chamadas justiças estaduais, sendo elas: justiça especializada militar dos Estados e a Justiça Comum Estadual. A estrutura das justiças federais está prevista no texto constitucional, enquanto a das justiças estaduais, no texto das respectivas Constituições Estaduais, respeitadas as diretrizes constitucionais. No que toca ao Poder Judiciário,há que se falar ainda do princípio do duplo grau de jurisdição, tendo como significado que toda demanda apresentada ao Poder Judiciário para apreciação está sujeita a um duplo exame, sendo o primeiro exame feito pelo juízo monocrático (um só juiz) e o segundo exame, em caráter recursal, por um juízo colegiado (vários juízes), com prevalência da segunda decisão em relação à primeira. Exceção a esse princípio ocorre nas causas que têm início diretamente nos tribunais ou órgãos colegiados e não no juízo monocrático, denominada competência originária dos tribunais. 83 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Verificando o quadro com o organograma do Poder Judiciário, podemos identificar os graus de jurisdição ou instâncias, sendo que, de baixo para cima, a 1ª linha indica o 1º grau de jurisdição, a 2ª linha, o 2º grau de jurisdição, a 3ª linha, a instância superior composta pelos tribunais superiores e a 4ª, a instância máxima da justiça brasileira, que é o STF. 6.1 Magistratura O termo magistratura é derivada do latim magistratus, exprime o cargo ou dignidade de magistrado. Assim, literalmente, quer significar uma função de mando ou designar aquele que a exerce, que manda, que ordena, que dirige. A magistratura é uma das carreiras jurídicas almejada por muitos estudantes de Direito. São requisitos para ingresso no cargo: • ser brasileiro nato ou naturalizado; • ser diplomado em curso de Direito por instituição de ensino oficial, reconhecida pelo Ministério da Educação; • possuir 3 anos de atividade jurídica, incluindo exercício de cargos, empregos ou funções após a conclusão do curso de Direito, inclusive de magistério superior que exija a utilização de conhecimento jurídico – Resolução nº 75 do CNJ (BRASIL, 2009a): • regularidade com o serviço militar; • estar em pleno gozo dos direitos políticos; • integridade física e mental; • boa conduta social. O ingresso na carreira de magistrado se dá por meio de concurso público de provas e títulos, que, em regra, é composto de fases, sendo estas eliminatórias e classificatórias. O juiz é antes de tudo um agente público atuante na realização da justiça e na pacificação dos conflitos. Para que ele possa exercer com liberdade e independência seu mister, proferindo seus julgamentos com isenção e retidão de acordo com sua convicção racional, faz‑se necessária a existência de mecanismos reguladores e sustentadores da sua carreira. Para tanto, são asseguradas garantias constitucionais, que são atributos que permitem ao juiz agir com liberdade e imparcialidade. Tais garantias não constituem simples privilégios ou tampouco afrontam o princípio da igualdade, pois existem em favor do jurisdicionado, ou seja, daquela pessoa que procura o Poder Judiciário buscando aplicação da justiça e que necessita ter a certeza de que o magistrado, ao atuar em seu caso concreto, o fará de forma livre e imparcial. 84 Unidade III São duas espécies de garantias funcionais: de liberdade e de imparcialidade. São garantias funcionais de liberdade, de acordo com o art. 95, caput, da CF/88 (BRASIL, 1988): Vitaliciedade Está prevista no art. 95 da CF/88 (BRASIL, 1988) e implica na impossibilidade da perda do cargo de magistrado por mero procedimento administrativo do tribunal ao qual o juiz estiver vinculado. Essa garantia é adquirida após 2 anos de efetiva atividade do magistrado, quando o ingresso na magistratura se dá por meio de concurso público, sendo que esse período é considerado estágio probatório, com a necessidade do envio de relatórios periódicos à Corregedoria Geral de Justiça. Uma vez vitaliciado, o magistrado somente poderá perder o cargo através de processo judicial específico, mediante sentença judicial transitada em julgado, sendo‑lhe assegurados o contraditório e a ampla defesa. Inamovibilidade Garantia dada aos juízes de que eles não poderão ser removidos de seus respectivos cargos, ou até mesmo promovidos para entrância/instância superior sem seu próprio consentimento. A inamovibilidade não é uma garantia absoluta, comportando exceção, que é o interesse público. Nesses casos, a decisão caberá ao respectivo tribunal ao qual o juiz estiver vinculado ou ao CNJ, por voto da maioria absoluta de seus membros, sempre assegurado o exercício da ampla defesa – art. 93, inciso VIII, da CF/88 (BRASIL, 1988). Irredutibilidade de subsídio Refere‑se à proteção do valor nominal dos subsídios, ou seja, o salário de um juiz não pode ser reduzido, não alcançando essa regra a reposição de eventuais perdas inflacionárias, bem como não impedindo descontos previdenciários e tributos incidentes. Quanto às garantias funcionais de imparcialidade, elas se manifestam por meio de vedações impostas aos magistrados. Nesse caso, o que se visa assegurar é que o juiz seja imparcial em seus julgamentos. Para tanto, foram estabelecidas as seguintes vedações: I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II – receber a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III – dedicar‑se à atividade político‑partidária; 85 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei [...]; V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração [...] [(quarentena)] (BRASIL, 1988). O dever de imparcialidade é, antes de tudo, um dever ético, de dignidade, de paridade de tratamento entre as partes e de justiça na aplicação correta da lei ao caso concreto. Para assegurar essa imparcialidade, o legislador infraconstitucional também cuidou de algumas situações que, uma vez verificadas, poderão comprometer a imparcialidade do juiz na sua atuação processual. Saiba mais Consulte a legislação infraconstitucional do novo CPC, arts. 144 e 145, no tocante aos impedimentos e suspeição do juiz para atuar nos casos concretos a fim de que sua imparcialidade não seja comprometida. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código do Processo Civil. Brasília, 2015a. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015‑2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 10 jan. 2019. O Estatuto da Magistratura é a lei que rege a carreira dos magistrados ou juízes. É uma lei complementar de iniciativa do STF – art. 93, caput (BRASIL, 1988). Na falta dessa nova lei que viesse a dispor sobre o Estatuto da Magistratura, tem‑se aplicado a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) – Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979 (BRASIL, 1979) –, que foi recepcionada pela Carta Magna. Observação Recepção é o instituto pelo qual a nova Constituição Federal recebe norma infraconstitucional pertencente ao ordenamento constitucional anterior, sendo com ela compatível, tornando‑a, a partir daquele instante, eficaz novamente. A exemplo do que ocorre com outras carreiras jurídicas, o magistrado possui deveres fixados em lei e deve cumpri‑los à risca, uma vez que, da sua atuação decisória, implicará o destino material, moral, psicológico, familiar e profissional das pessoas 86 Unidade III 6.2 Supremo Tribunal Federal (STF) Como vimos, o STF é um órgão do Poder Judiciário previsto no art. 92 da CF/88 (BRASIL, 1988). O STF é o órgão de cúpula do Poder Judiciário, isso quer dizer, é a máxima instância da justiça brasileira, cabendo‑lhe especialmente a guarda da Constituição Federal (proteção dos direitos constitucionalmente assegurados). Nos termos do art. 101 da CF/88 (BRASIL, 1988), o STF é composto de 11 ministros escolhidos e indicados pelo presidente da República, devendo essa escolha ser aprovada pela maioria absoluta do Senado Federal. Uma vez aprovada a escolha e a indicação, passa‑se à nomeação do ministro, momento em que ele é vitaliciado. São requisitos para ocupar o cargo deministro do STF (BRASIL, 1988): • ser brasileiro nato; • ter mais de 35 e menos de 65 anos de idade; • ser cidadão (estar em pleno gozo dos direitos políticos); • ter notável saber jurídico; • reputação ilibada. A competência do STF vem prescrita na Constituição Federal em seus arts. 102 a 103 (BRASIL, 1988), sendo competência originária, recursal e para adoção de súmulas vinculantes. Vamos explicar melhor: a competência significa aquilo que o STF pode julgar. Quando dizemos competência originária, queremos dizer que é a competência para julgar causas que se iniciam originariamente no próprio órgão do STF. Por exemplo, julgar o presidente da República das infrações penais comuns. Nesse caso, a ação tem início e fim no próprio STF. Quando falamos na competência recursal, significa que uma ação judicial, quando chega ao conhecimento do STF para ser apreciada, o será em grau de recurso, ou seja, já foi apreciada em outros órgãos do Poder Judiciário anteriormente. O STF funcionará como última instância, normalmente, em ações que envolvem direito constitucional, já que o STF é o guardião da Constituição. A competência para adoção de súmulas vinculantes significa que após reiteradas decisões proferidas pelo STF em matéria constitucional, ele poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Nesses casos, os demais órgãos do Poder Judiciário, assim como a administração pública, ficam vinculados ao teor da súmula, devendo aplicá‑la. 87 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS A súmula de caráter vinculante terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei pelo Poder Legislativo, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a Adin. Por fim, do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula vinculante aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao STF, que, julgando‑a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso. Saiba mais Conheça o teor das súmulas vinculantes em: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmulas vinculantes. Brasília, 2017c. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=juri sprudenciaSumulaVinculante>. Acesso em: 11 jan. 2019. O STF está sediado na capital federal (Brasília) e tem poder de julgamento (jurisdição) em todo o território nacional. Isso quer dizer que o STF tem competência para conhecer ações oriundas de qualquer lugar do Brasil. 6.3 Conselho Nacional de Justiça (CNJ) O CNJ é um órgão judiciário, mas não jurisdicional, ou seja, não tem jurisdição e não julga conflitos de interesse. Integra a estrutura do Poder Judiciário brasileiro, realizando um controle interno do Poder Judiciário. De acordo com o art. 103‑B, parágrafo 4º (BRASIL, 1988), há o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Assim, o CNJ exerce controle administrativo, financeiro e disciplinar do Judiciário, sendo que os dois primeiros controles se referem aos órgãos do Poder Judiciário. Já o controle disciplinar refere‑se aos agentes do Poder Judiciário. Compete ao CNJ zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, definir os planos, metas e programas de avaliação institucional do Poder Judiciário, receber reclamações, petições eletrônicas e representações contra membros ou órgãos do Judiciário, julgar processos disciplinares e melhorar as práticas e a celeridade, publicando semestralmente relatórios estatísticos referentes à atividade jurisdicional em todo o País. 88 Unidade III Trata‑se de criação recente, foi inserido na estrutura do Poder Judiciário pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (BRASIL, 2004), previsto no art. 103‑B da CF/88 (BRASIL, 1988). Não exerce jurisdição, atividade típica do Judiciário, mas sim o seu controle, conforme já visto. O CNJ é composto de 15 membros, sendo (BRASIL, 2004): • presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); • ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que será o corregedor nacional de justiça; • ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST); • desembargador de Tribunal de Justiça (TJ); • juiz estadual; • juiz do Tribunal Regional Federal (TRF); • juiz federal; • juiz de Tribunal Regional do Trabalho (TRT); • juiz do trabalho; • membro do Ministério Público da União; • membro do Ministério Público do Estado; • advogados (duas vagas); • cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada (duas vagas). 6.4 Superior Tribunal de Justiça (STJ) Como já vimos anteriormente, o STJ é um órgão do Poder Judiciário considerado pela doutrina majoritária como um tribunal de superposição, tal qual o STF. É composto de, pelo menos, 33 ministros, que também são escolhidos e nomeados pelo presidente da República após aprovação pelo Senado Federal em maioria absoluta. Nesse particular, o presidente da República faz a sua escolha dentre uma lista tríplice, como veremos a seguir. São requisitos para ocupar o cargo de ministro do STJ: • ser brasileiro nato ou naturalizado; • ter mais de 35 e menos de 65 anos; 89 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS • notável saber jurídico; • reputação ilibada. Aqui, aplica‑se a regra do terço constitucional, a escolha dos ministros do STJ segue essa regra, ou seja, serão escolhidos e indicados 33 ministros dentre 1/3 de desembargadores federais dos TRFs, 1/3 de desembargadores dos Tribunais de Justiça e 1/3 de advogados e membros do Ministério Público. Para a escolha de advogados e membros do Ministério Público, aplicar‑se‑á a forma prevista na regra do quinto constitucional preconizada no art. 94 da CF/88 (BRASIL, 1988), senão vejamos: Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de Advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes (BRASIL, 1988, grifo nosso). Para a escolha e indicação dos ministros do STJ, verifica‑se uma limitação no poder de escolha do presidente da República, uma vez que, necessariamente, o ministro a ser escolhido será proveniente de um dos órgãos do Poder Judiciário listados, da Advocacia ou do Ministério Público. No caso dos desembargadores federais e dos desembargadores dos Tribunais de Justiça, o STJ elaborará lista tríplice, enviando‑a ao presidente da República, que escolherá um nome e depois o nomeará ministro após a aprovação do Senado Federal. No caso da escolha de advogados e membros do Ministério Público, os órgãos de representação de cada classe farão a indicação em lista sêxtupla de seus membros. São os órgãos de representação para a elaboração da lista sêxtupla: Colégio de Procuradores da República pela indicação de membros do Ministério Público Federal, Conselhos Superiores de cada Ministério Público Estadual e Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) com relação à Advocacia. A exemplo do que ocorre com o STF, a competência do STJ vem prescrita na CF/88 em seu art. 105, sendo competência originária e recursal (BRASIL, 1988). O STJ também tem sede na capital federal (Brasília)e jurisdição em todo o território nacional. 6.5 Justiça do Trabalho A Justiça do Trabalho é a justiça especializada em razão da matéria que julga. Está prevista nos arts. 111 a 116 da CF/88 (BRASIL, 1988). Sua competência está prevista no art. 114 da CF/88 (BRASIL, 1988). Dentre as alterações trazidas pela Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), tem‑se a ampliação da competência da Justiça do Trabalho, inicialmente prevista como julgamento da “relação de emprego” para “relação de trabalho” no novo texto constitucional (competência processual). 90 Unidade III Isso quer dizer que a Justiça do Trabalho não julga mais apenas a relação de emprego, ou seja, os conflitos de interesse entre empregado e empregador regida pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). O seu campo de competência foi ampliado para relação de trabalho, que, por sua vez, engloba a relação de emprego, por exemplo, como se dá nos casos do pequeno empreiteiro. Ao contratar os serviços de um pequeno empreiteiro, não há o registro em carteira e/ou vínculo empregatício, porém problemas de ordem trabalhista na relação serão julgados pela Justiça do Trabalho, se necessário. Excetuam‑se dessa competência as ações instauradas entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico‑administrativo. Por força da ADI 3.395‑6 (BRASIL, 2006), em virtude de liminar com efeito ex tunc, que suspendeu toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 (BRASIL, 1988), que inclua na competência da Justiça do Trabalho a apreciação de causas que sejam instauradas entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados pela típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico‑administrativo. Isso quer dizer que, no funcionalismo público, as ações instauradas entre os servidores estatutários e o Poder Público serão apreciadas pela justiça comum, federal ou estadual. Assim, de acordo com o art. 114 (BRASIL, 1988), compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: II – as ações que envolvam exercício do direito de greve [...]; III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores [...]; IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição [...]; V – os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no artigo 102, I, “o” [...]; VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho [...]; VII – as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho [...]; VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no artigo 195, I, “a” e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir [...]; IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei [...] (BRASIL, 1988). São órgãos da Justiça do Trabalho o Tribunal Superior do Trabalho (TST), os Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) e os juízes do trabalho. 91 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS 6.5.1 Tribunal Superior do Trabalho (TST) É o órgão de cúpula da Justiça do Trabalho. Em regra, suas decisões são irrecorríveis, salvo os casos previstos em lei, bem como as decisões que contrariarem a CF/88 (BRASIL, 1988). O TST compõe‑se de 27 ministros escolhidos dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos, nomeados pelo presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal. Para a escolha desses ministros, aplica‑se a regra do quinto constitucional, já referida, ou seja, 1/5 será escolhido dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exercício. Veja que 1/5 das vagas é destinado ao preenchimento por advogados e membros do Ministério Público do Trabalho. Os outros 4/5 serão escolhidos dentre juízes dos TRTs, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio TST. Anote que o texto fala em magistratura da carreira, ou seja, os juízes dos TRTs que ingressaram por meio da regra do quinto constitucional não poderão integrar a lista desses 4/5 de ministros do TST. O TST também tem competência originária (julga a reclamação, preserva a sua competência e garante a autoridade de suas decisões), além da competência recursal. 6.5.2 Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs) Os TRTs estão divididos por região, sendo ao todo 24 regiões no território nacional. Os TRTs são compostos de, no mínimo, 7 juízes. Esses juízes serão escolhidos, quando possível, na respectiva região do tribunal e serão nomeados pelo presidente da República dentre brasileiros com mais de 30 e menos de 65 anos. Para a escolha desses ministros, também se aplica a regra do quinto constitucional, sendo 1/5 dentre advogados com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de 10 anos de efetivo exercício. Os outros 4/5 serão escolhidos mediante promoção de juízes da 1ª instância da Justiça do Trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente. Cabe anotar que, como forma de efetividade do processo, os TRTs instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais atividades da função jurisdicional nos limites territoriais da respectiva jurisdição, podendo ainda funcionar descentralizadamente, com a constituição de câmaras regionais, assegurando, dessa forma, o pleno acesso à justiça. Os TRTs estão divididos por região, conforme o quadro a seguir. Os Estados grafados em negrito indicam a sede do TRT respectivo. Cabe lembrar que a expressão “divididos por região” não significa que são regiões geográficas, mas, sim, regiões de acordo com a quantidade da demanda judicial. Note que, geograficamente, no Sudeste, há dois TRTs, qual sejam, da 2ª e da 15ª Região, ambos localizados em São Paulo. 92 Unidade III Quadro 3 1ª Região – Rio de Janeiro 13ª Região – Paraíba 2ª Região – São Paulo 14ª Região – Acre e Rondônia 3ª Região – Minas Gerais 15ª Região – Campinas (SP) 4ª Região – Rio Grande do Sul 16ª Região – Maranhão 5ª Região – Bahia 17ª Região – Espírito Santo 6ª Região – Pernambuco 18ª Região – Goiás 7ª Região – Ceará 19ª Região – Alagoas 8ª Região ‑ Pará e Amapá 20ª Região – Sergipe 9ª Região – Paraná 21ª Região – Rio Grande do Norte 10ª Região ‑ Distrito Federal e Tocantins 22ª Região – Piauí 11ª Região ‑ Amazonas e Roraima 23ª Região – Mato Grosso 12ª Região ‑ Santa Catarina 24ª Região – Mato Grosso do Sul Como pudemos observar, no Estado de São Paulo, há dois TRTs, enquanto em alguns Estados não há um TRT instalado. Vejamos o TRT da 8ª Região, sediado no Pará com jurisdição sobre os Estados do Pará e do Amapá. Isso quer dizer que as ações trabalhistas do Estado do Amapá que estiverem em grau de recurso para a 2ª Instância trabalhista seguirão para apreciação do TRT da 8ª região sediado no Pará. Voltemos aos dois TRTs sediados em São Paulo, o da 2ª e da 15ª região. Isso significa que as ações trabalhistas do Estado de São Paulo que estiverem em grau de recurso para 2ª instância seguirão para o TRT da 2ª ou da 15ª Região. Como diferenciá‑los? Saiba mais O mapa a seguir mostra quais são os Municípios cujas ações trabalhistas em grau de recurso seguirão para apreciação do TRT da 2ª Região instalado em São Paulo, capital: TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO (TRT2). Varas do Trabalho da Capital e de Outros Municípios. São Paulo, 2017. Disponível em: <http://trt2. jus.br/consultas/226‑telefones‑e‑enderecos‑jurisdicao/1415‑jurisdicao>. Acesso em: 15 jan. 2019. 6.5.3 Juízes do trabalho De acordo com a Constituição Federal, nas Varas do Trabalho, a jurisdição será exercida por um juiz singular, com ingresso na Magistratura do Trabalho, mediante concurso público de provase títulos. As Varas do Trabalho compõem a primeira instância do judiciário laboral e são instituídas por lei. 93 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Em comarcas em que não houver Vara do Trabalho, a competência será atribuída aos juízes de direito, com recurso para o TRT da respectiva região. O que isso quer dizer? Às vezes, pequenas comarcas não possuem a justiça especializada do trabalho, possuindo apenas a Justiça Comum Estadual. Nesse caso, o reclamante poderá optar entre dirigir‑se à comarca maior, normalmente vizinha, que possui Justiça do Trabalho para propor sua ação trabalhista ou propô‑la na sua própria comarca, que será apreciada por um juiz de direito, ou seja, da Justiça Comum Estadual, que atuará tal qual um juiz trabalhista. Sendo certo que, se houver recurso, este deverá ser encaminhado ao TRT competente e da respectiva região. Cabe ressaltar que a Emenda Constitucional nº 24/1999 (BRASIL, 1999a) extinguiu a representação classista da Justiça do Trabalho, substituindo as antigas juntas de conciliação e julgamento (órgãos colegiados), composta por 1 juiz do trabalho e 2 juízes classistas e pelos juízes do trabalho (órgão singular), que exercem a jurisdição nas Varas do Trabalho. A referida emenda assegurou o cumprimento dos mandatos dos então ministros classistas temporários do TST, dos juízes classistas temporários dos TRTs e das extintas juntas de conciliação e julgamento (JCJs). O STF já se manifestou sobre alguns pontos trazidos pela reforma do Judiciário, como na Emenda Constitucional nº 45/2004 (BRASIL, 2004), a saber: a Justiça do Trabalho não é competente para apreciar as causas instauradas entre o Poder Público e, servidores a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico‑administrativo; a ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidente de trabalho é competência da Justiça do Trabalho; a ação de indenização proposta por viúva e filhos de empregado morto em serviço é competência da Justiça do Trabalho; a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ações penais; segundo o STJ, a Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ação alusiva a relações contratuais de caráter eminentemente civil, diversa da relação de trabalho; a ação possessória decorrente do exercício do direito de greve é competência da Justiça do Trabalho. 6.6 Justiça Eleitoral A Justiça Eleitoral também é especializada em razão da matéria que ela julga. De acordo com o art. 118 da CF/88 (BRASIL, 1988), são órgãos da Justiça Eleitoral o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), os juízes eleitorais e as juntas eleitorais. 6.6.1 Tribunal Superior Eleitoral (TSE) O órgão máximo da Justiça Eleitoral é o TSE, posicionando‑se acima dos TREs e dos juízes eleitorais e juntas eleitorais. A Justiça Eleitoral não configura a magistratura de carreira, isso quer dizer que toda a sua estrutura organizacional é composta de membros de outros órgãos do Poder Judiciário, de forma que não há ingresso mediante concurso público na carreira para juiz eleitoral. 94 Unidade III Compõe‑se de no mínimo 7 juízes, sendo: • Três juízes eleitos dentre os ministros do STF, pelo voto secreto. • Dois juízes eleitos pelo voto secreto dentre os ministros do STJ. • Dois juízes escolhidos da seguinte forma: o STF elabora lista sêxtupla, escolhendo nomes dentre advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, encaminhando‑a ao presidente da República, que escolherá 2 nomes, nomeando‑os, sem haver necessidade de aprovação pelo Senado Federal. Observa‑se que as exigências são no tocante aos juízes que sairão da lista sêxtupla elaborada pelo STF, a saber, com notável saber jurídico e idoneidade moral. No entanto, tem sido entendimento do TSE o que foi manifestado nas Resoluções nº 20.958/2001 (BRASIL, 2001c) e nº 21.461/2003 (BRASIL, 2003b), que dizem ser necessário também que o advogado tenha o requisito adicional de 10 anos de efetivo exercício profissional. Os membros do TSE, assim como os demais juízes eleitorais, terão o mandato de 2 anos, no mínimo, e nunca por mais de 2 biênios consecutivos. Respeitadas as diretrizes constitucionais, a organização e competência dos órgãos da Justiça Eleitoral são definidas por meio de lei complementar – art. 121 da CF/88 (BRASIL, 1988). O TSE tem competência originária e recursal. A competência originária encontra‑se prevista no art. 22, inciso I, do Código Eleitoral – Lei nº 4.737/1965 (BRASIL, 1965). A competência recursal ocorre à medida que as revisões das decisões dos TREs são feitas, dentro dos limites previstos no art. 121, parágrafo 4º, da CF/88 (BRASIL, 1988). As decisões do TSE em regra são irrecorríveis, porque ele é a máxima instância da Justiça Eleitoral, salvo as que contrariarem a Constituição, bem como as que forem denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança. 6.6.2 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) Conforme o disposto no art. 120 da CF/88 (BRASIL, 1988), na capital de cada Estado e do Distrito Federal, haverá um TRE. Isso quer dizer que cada Estado da federação possui seu próprio TRE. Nesse caso, nos parece que fazer uso do termo regional não está correto, pois os tribunais não estão divididos por região. Os TREs compõem‑se de 7 juízes, sendo: eleição pelo voto secreto de 2 juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça do respectivo Estado; eleição pelo voto secreto de 2 juízes dentre juízes de Direito (1ª Instância), escolhidos pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado; 1 juiz do TRF com sede na capital do Estado ou no Distrito Federal ou, não havendo, um juiz federal (1ª Instância) escolhido, em qualquer caso, pelo TRF da respectiva região; 2 juízes por nomeação 95 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS do presidente da República, dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado (BRASIL, 1988). Os TREs têm competência originária conforme art. 29, inciso I, do Código Eleitoral (BRASIL, 1965) e recursal de acordo com o art. 29, inciso II, do Código Eleitoral (BRASIL, 1965). 6.6.3 Juízes eleitorais e juntas eleitorais Os juízes eleitorais, de acordo com o disposto no art. 32 do Código Eleitoral (BRASIL, 1965), são os próprios juízes de direito em efetivo exercício, cabendo‑lhes a jurisdição de cada uma das zonas eleitorais em que se divide a circunscrição eleitoral, com as competências expressas prescritas no art. 35 do Código Eleitoral (BRASIL, 1965). As juntas eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral, as quais são criadas para apurar as eleições em cada zona eleitoral. De acordo com o art. 36 do Código Eleitoral (BRASIL, 1965), as juntas eleitorais compõem‑se de um juiz de direito, que será o presidente de 2 ou 4 cidadãos de notória idoneidade. Os membros das juntas devem ser nomeados 60 dias antes da eleição, depois de aprovação do TRE, pelo seu presidente. É competência da junta eleitoral, de acordo com o art. 40 do Código Eleitoral (BRASIL, 1965), apurar, no prazo de 10 dias, as eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição, resolver as impugnações e demais incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração, bem como expedir boletins de apuração e diploma aos eleitos para cargos municipais. 6.7 Justiça Militar Trata‑se também de justiça especializada em razão da matéria que julga, que é o direito (penal) militar. De acordo com o art. 122 da CF/88, são órgãos da Justiça Militar: “I – O Superior Tribunal Militar; II – Os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei” (BRASIL, 1988). Há dois tipos de servidores militares: integrantes das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios, que integram as Forças Auxiliares e reserva do Exército (Polícia Militar e Corpo de Bombeiro Militar). Há, portanto, duas justiças militares: Justiça Militar da União – art.124 da CF/88 (BRASIL, 1988) e Justiça Militar dos Estados – art. 125, parágrafos 3º, 4° e 5º, da CF/88 (BRASIL, 1988). 6.7.1 Justiça Militar da União A Justiça Militar da União tem competência exclusivamente penal, ou seja, competência para processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Veja que não se exige que quem cometa o crime militar seja um militar da União (Forças Armadas), exige‑se apenas a existência da prática de crime militar no âmbito das Forças Armadas. 96 Unidade III A Lei nº 8.457/1992 (BRASIL, 1992) é a responsável pela organização da Justiça Militar da União no território brasileiro. De acordo com esse diploma legal, o território brasileiro está dividido em 12 circunscrições judiciárias militares (CJM), sendo: • Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. • Estado de São Paulo. • Estado do Rio Grande do Sul. • Estado de Minas Gerais. • Estados do Paraná e Santa Catarina; • Estados da Bahia e Sergipe. • Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. • Estados do Pará, Amapá e Maranhão. • Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. • Estados do Ceará e Piauí. • Distrito Federal, Estados de Goiás e Tocantins. • Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. A primeira instância da Justiça Militar da União é composta pelos Conselhos de Justiça Militar (Especial e Permanente – órgãos colegiados), os quais funcionarão nas sedes das auditorias militares (mínimo de 1 auditoria militar por CJM), em jurisdição superior, pelo STM. Vejamos os Conselhos de Justiça. Conselho Especial de Justiça Esse conselho é competente para o julgamento dos oficiais das Forças Armadas, exceto oficiais‑generais, cuja competência é originária do STM nos delitos previstos na legislação penal militar – Código Penal Militar (CPM) (BRASIL, 1969). A competência desse conselho se estende aos crimes praticados em coautoria com oficiais, mesmo que por não oficiais. Cabe ressaltar que o Conselho Especial de Justiça é constituído para cada processo e dissolvido após a conclusão dos seus trabalhos. 97 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Conselho Permanente de Justiça Esse conselho é competente para julgamento das praças (não oficiais). É renovado a cada 3 meses, podendo julgar os civis nas hipóteses permitidas em lei. Os Conselhos Especial e Permanente são compostos, cada, de um juiz‑auditor e quatro juízes militares. O STM é a instância máxima da Justiça Militar da União. Compõe‑se de 15 ministros vitalícios, sendo: • 3 oficiais‑generais da Marinha, que sejam da ativa e do posto mais elevado da carreira. • 4 oficiais‑generais do Exército, que sejam da ativa e do posto mais elevado da carreira. • 3 oficiais‑generais da Aeronáutica, que sejam da ativa e do posto mais elevado da carreira. • 5 civis (não militares), dos quais, 3 serão escolhidos dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional, 1 deles será escolhido dentre juízes auditores da própria Justiça Militar e 1 será escolhido dentre membros do Ministério Público da Justiça Militar. Os oficiais‑generais devem ser brasileiros natos, e os civis podem ser brasileiros natos ou naturalizados, com mais de 35 anos de idade, notório saber jurídico, conduta ilibada e com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional para os advogados. Cabe ao presidente da República apontar a indicação dos 15 ministros, a qual deve ser aprovada pela maioria simples do Senado Federal. Uma vez aprovada a indicação, deve‑se proceder à nomeação. O STM tem competência originária e recursal de acordo com seu regimento interno. Observação A Justiça Militar da União poderá, em alguns casos, julgar além dos militares integrantes das Forças Armadas, também poderá julgar o civil na prática de crimes militares, por exemplo, contra o patrimônio sob a administração militar. Com o advento da Lei nº 13.491/2017 (BRASIL, 2017a), houve uma ampliação da competência da Justiça Militar. Em regra, os crimes dolosos contra a vida de civis, mesmo que praticados por militares federais, eram da competência do tribunal do júri – art. 9º, parágrafo único, do CPM (BRASIL, 1969) –; exceção dada aos casos praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei nº 7.565/1986 (BRASIL, 1986) – Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei do Abate – sobre a possibilidade de abater aeronave considerada hostil no espaço aéreo brasileiro (BRASIL, 1986). 98 Unidade III Com o advento da Lei nº 13.491/2017 (BRASIL, 2017a), o parágrafo 2º do art. 9º do CPM definiu que os crimes, quando dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto: I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa; II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais (BRASIL, 2017a). 6.7.2 Justiça Militar dos Estados A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar Estadual, sendo: • 1° grau/instância: juízes de Direito (juiz‑auditor) e Conselhos de Justiça (Especial e Permanente). • 2° grau/instância: Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça Militar, em que o efetivo militar seja superior a 20.000 integrantes (por exemplo: São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul). No caso da inexistência de um Tribunal de Justiça Militar, o órgão recursal será o próprio Tribunal de Justiça Estadual. Cabe ressaltar que é da competência da Justiça Militar dos Estados processar e julgar os militares dos Estados na prática de crimes militares definidos em lei, bem como as ações judiciais contra atos disciplinares militares. Nesse particular, conclui‑se que a Justiça Militar estadual não julga civis, apenas os militares estaduais. Outra conclusão é a de que a Justiça Militar dos Estados não tem competência exclusivamente penal, já que julga as ações judiciais contra atos disciplinares. Conselho Permanente de Justiça A esse conselho compete processar e julgar as praças – soldados, cabos, sargentos, subtenentes e aspirantes a oficial. Conselho Especial de Justiça A esse conselho compete processar e julgar os tenentes, capitães, majores, tenentes‑coronéis e coronéis. Os Conselhos Especiais de Justiça são compostos por 1 juiz de direito e 4 juízes militares (oficiais sorteados e temporários para o exercício da função específica), têm competência para processar e julgar os militares nos crimes militares, exceto aqueles praticados contra civis. 99 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Juiz‑auditor De acordo com o art. 125 da CF/88, parágrafo 5º (BRASIL, 1988), compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente (juízo monocrático), os crimes militares cometidos por militares contra civis (exceto os crimes dolosos contra a vida, que são da competência do tribunal do júri) e as ações judiciais contra atos disciplinares militares. Lembrete A Justiça Militar Estadual não julga civis, apenas a Justiça Militar da União. 6.8 Justiça Federal Excetuando‑se a competência das justiças especializadas, a competência da Justiça Federal é estabelecida em razão da matéria ou das pessoas envolvidas, conforme disposto no art. 109 da CF/88. Está estruturada em dois graus de jurisdição: “I – Os Tribunais Regionais Federais; II – Os Juízes Federais” (BRASIL, 1988). De acordo com o art. 27, parágrafo 6º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), em substituição ao antigo Tribunal Federal de Recursos (TFR), foram criados 5 Tribunais Regionais Federais (TRFs), instalados no prazo de 6 mesesa contar da promulgação da Constituição Federal (BRASIL, 1988a). Os TRFs que integram o 2º grau de jurisdição são compostos de, no mínimo, 7 juízes, escolhidos, quando possível, na respectiva região; vale dizer, não há um TRF para cada Estado da federação, de forma que são cinco TRFs ao todo, distribuídos por cinco regiões no País, sendo essas regiões definidas pela quantidade de demanda judicial, e não pelo caráter geográfico, a saber: • O TRF da 1ª Região tem sede em Brasília e jurisdição sobre o Distrito Federal e os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins. • O TRF da 2ª Região tem sede no Rio de Janeiro com jurisdição sobre os Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. • O TRF da 3ª Região tem sede em São Paulo com jurisdição sobre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. • O TRF da 4ª Região tem sede em Porto Alegre com jurisdição sobre os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. • O TRF da 5ª Região tem sede em Recife com jurisdição sobre os Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe. 100 Unidade III Cabe ressaltar que, por força da Emenda Constitucional nº 73/2013 (BRASIL, 2013a), foram criados 4 novos TRFs, da 6ª, 7ª, 8ª e 9ª Região, por meio da introdução do parágrafo 11 ao art. 27 do ADCT, que reza: [...] São criados, ainda, os seguintes Tribunais Regionais Federais: o da 6ª Região, com sede em Curitiba, Estado do Paraná, e jurisdição nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; o da 7ª Região, com sede em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, e jurisdição no Estado de Minas Gerais; o da 8ª Região, com sede em Salvador, Estado da Bahia, e jurisdição nos Estados da Bahia e Sergipe; e o da 9ª Região, com sede em Manaus, Estado do Amazonas, e jurisdição nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima (BRASIL, 2013a). No entanto, contra esta emenda foi ajuizada Adin (BRASIL, 2013b) com concessão de liminar para suspensão dos seus efeitos. Assim, atualmente, temos 5 TRFs no Brasil, distribuídos por 5 regiões, como vimos anteriormente. Lembrete Na atualidade, existem 5 TRFs no Brasil, e não nove, sendo da 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª Região. O TRF é a 2ª Instância da Justiça Federal. Para ser um juiz do TRF ou desembargador federal, como comumente são chamados, é necessário ser brasileiro nato ou naturalizado e ter mais de 30 e menos de 65 anos de idade. Para a composição dos TRFs, aplica‑se a regra do quinto constitucional. Assim, os TRFs compõem‑se de 1/5 de membros do Ministério Público, com mais de 10 anos de carreira, e de advogados, de notório saber jurídico e reputação ilibada, com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional, a serem indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação da respectiva classe, no caso, pelo Conselho Federal da OAB e pelo Colégio de Procuradores da República. Os outros 4/5 serão escolhidos dentre juízes de carreira com atuação de mais de 5 anos (que ingressaram mediante concurso público de provas e títulos). A competência dos TRFs é originária e recursal e está prevista no art. 108 da CF/88 (BRASIL, 1988). Saiba mais Conheça mais sobre a competência originária e recursal dos TRFs no art. 108 da Constituição Federal: BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 25 set. 2018. 101 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO E INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS Por fim, os juízes federais. As varas federais que integram o 1º grau de jurisdição são compostas por juízes que ingressaram na carreira por meio de concurso público de provas e títulos, no caso com competência originária prevista no art. 109 da CF/88 (BRASIL, 1988), para processar e julgar: I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; III – as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V ‑ a as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico‑financeira; VII – os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI – a disputa sobre direitos indígenas. 102 Unidade III Observação Nas ações previdenciárias em que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, será competente para processar e julgar a Justiça Estadual do foro do domicílio dos segurados ou beneficiários. Por fim, a Lei nº 10.259/2001 (BRASIL, 2001b) instituiu os juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça Federal (criminal, para o processamento e julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo; e cível, para as causas de menor complexidade – de até 60 salários mínimos). 6.9 Justiça Estadual Compete à Justiça Estadual comum, por critério residual, o julgamento de causas que não forem de competência das justiças especializadas e da Justiça Federal – art. 125 da CF/88 (BRASIL, 1988). Os Estados organizarão sua justiça, observados os princípios estabelecidos na CF/88 (BRASIL, 1988). A exemplo, são órgãos da justiça do Estado de São Paulo o Tribunal de Justiça (TJ), o Tribunal de Justiça Militar (TJM), os tribunais do júri, as turmas de recursos, os juízes de Direito, as auditorias militares, os juizados especiais e os juizados de pequenas causas. Sendo assim, cada Estado da federação pode organizar sua própria justiça, observados os parâmetros da CF/88 (BRASIL, 1988). A Justiça Estadual comum é composta em regra por dois graus de jurisdição, sendo o segundo grau integrado pelos Tribunais de Justiça (colegiados) e o primeiro grau pelos juízes de Direito (monocrático, exceção ao tribunal do júri, que é colegiado). Os Tribunais de Justiça compõem‑se de 1/5 de membros da advocacia e do Ministério Público Estadual e 4/5 de juízes de direito da carreira, na forma do art. 94 da CF/88 – regra do quinto constitucional (BRASIL, 1988). Os Tribunais de Justiça de cada Estado da federação estão localizados nas capitais, assim como no Distrito Federal com jurisdição em todo o território do referido Estado. A competência recursal destina‑se a reexaminar decisões proferidas em 1º grau de jurisdição pelos juízes de Direito, ressalvada a competência originária em alguns casos. Mediante promoção pelos critérios de merecimento e antiguidade (alternadamente) é que o juiz de 1º grau é promovido para o tribunal. Os juízes dos Tribunais de Justiça são denominados
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