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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 1 1. Caso clínico Paciente do sexo masculino, 26 anos, pardo, chega ao Pronto Socorro trazido pelo Corpo de Bombeiros, devido a atropelamento por carro há 20 minutos com relato de ejeção. Deu entrada neste serviço nitidamente embriagado Sem relato de perda de consciência, convulsões ou vômitos. 2. ABCDE do paciente A → Vias aéreas pérvias B → Eupneico (FR 14); MV universalmente audível sem esforço respiratório C → PA 130x90mmHg; FC 92 bpm D → Paciente embriagado; Glasgow 13 E → Sem estigma de trauma torácico ou abdominal; oroscopia e otoscopia sem alterações; aparelho cardiovascular: Ritmo cardíaco regular, em dois tempos, bulhas normofonéticas, Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 2 sem sopros; abdome flácido, indolor à palpação, timpânico, sem massas ou visceromegalias, com peristalse aumentada, sem pontos dolorosos; membros com escoriações em região escapular esquerda e MI esquerdo, sem sangramento ativo, sem edema ou hematoma; o ultrassom (E-FAST) não evidenciou líquido livre AMPLA → Não foi capaz de informar ❖ A → Alergias ❖ M → Medicamentos de uso ❖ P → Passado médico ❖ L → Líquidos e alimentos ingeridos ❖ A → Ambiente do trauma e eventos TCE leve Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 3 Conduta ❖ Leve risco → Assintomático; observar por 8 horas ❖ Moderado risco → Lesão facial grave; perda momentânea de consciência; cefaleia persistente; convulsões; trauma com grande energia cinética; fazer Tc de crânio; observar por 24 horas ❖ Alto risco → Mecanismo de trauma importante; fazer Tc de crânio e observar por 48 horas; repetir Tc 3. Reavaliação do paciente Após 40 minutos da admissão do paciente ele apresentou ❖ Anisocoria pupilar com midríase a direita. ❖ Hemiplegia à esquerda ❖ Glasgow 8 Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 4 4. Paciente com TCE grave Avaliação e acompanhamento neurocirúrgico/ Paciente submetido a intubação orotraqueal (IOT) de emergência e encaminhado para avaliação neurocirúrgica/ diagnóstico/ tratamento IOT precoce em pacientes comatosos Hospitalização em UTI Oxigenioterapia a 100% 5. Tc de crânio do paciente *Coleção espontaneamente hiperdensa, extra-axial e de morfologia biconvexa, centrada na região parietal direita, de provável conteúdo hemático, sugestiva de hematoma epi/extradual e que promove efeito de massa sobre o parênquima encefálico adjacente. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 5 Atente para a meníngea média (artéria que mais sangra) 6. Por que essa Tc sugere hematoma extradural? Porque o sangue tem que descolar a dura-máter que está fortemente aderida a calota craniana assim como às suturas cranianas 7. Em quais situações de TCE é indicado Tc de crânio TCE leve algumas situações TCE moderado TCE grave 8. Por que a reavaliação do paciente com TCE é importante? Intervalo lúcido Doutrina de Monro-Kellie → Quanto à dinâmica da PIC, vale o princípio de Monro Kellie: sendo o crânio um compartimento não expansível, o volume total de seu conteúdo deve permanecer constante, do contrário haverá aumento de pressão. Assim, à medida que novo volume (um hematoma por exemplo) é adicionado à caixa craniana, sangue venoso e líquor são expulsos, de forma que o volume total do compartimento permanece estável. Enquanto agem os mecanismos de compensação, não há aumento perceptível de PIC. Uma vez esgotados, a PIC aumenta de forma exponencial. Tal efeito pode ser visualizado na curva de Langfit ou curva de pressão/volume. Percebe-se que medidas isoladas de PIC não Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 6 fornecem qualquer indício de que o paciente está realmente estável ou próximo do limite de descompensação. Qualquer interferência negativa nesse ponto (intubação sem anestesia, tosse, assincronia com a ventilação mecânica, dentre outros) pode elevar de maneira catastrófica a pressão intracraniana. Todo o esforço deve ser feito para manter o paciente na porção horizontal da curva, em lugar de tratar os aumentos inesperados. Por outro lado, pequenas reduções nos componentes intracranianos podem reduzir significativamente a PIC neste ponto, como drenagem de poucas gotas de líquor por derivação ventricular externa ou pequenas reduções no CSC (vasoconstrição discreta). 9. Por que o paciente teve um rebaixamento rápido de consciência e anisocoria pupilar com midríase do lado direito após 40 minutos? Síndrome clássica de herniação do uncus Tríade ❖ Comprometimento do parassimpático pela compressão do nervo oculomotor, impedindo a contração pupilar; a midríase é do lado da lesão ❖ Déficit motor é contralateral (hemiparesia) ❖ Diminuição do escore de Glasgow Chamar o neurocirurgião para a descompressão 10. Conduta no TCE Evitar hipovolemia Evitar líquidos hipotônicos Evitar hiponatremia Evitar hiperglicemia Prevenir lesão secundária ❖ Líquidos intravenosos → Solução salina isotônica; Ringer lactato ❖ Normocapnia preferível Piora neurológica aguda ❖ Hiperventilação temporária – no máximo – por 4 horas → PaCO2 30-32mmHg ❖ Manitol ou solução de manitol a 20% → 1g/Kg EV em bolus ❖ Solução salina hipertônica → Solução salina 3-23,4% Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 6: TC DE CRÂNIO NO TRAUMA – HEMATOMA EXTRADURAL 7 Solução salina hipertônica só é utilizado em paciente chocado 11. Prescrição do paciente do caso Repouso absoluto no leito com cabeceira elevada de 30-45º graus Dieta zero SG a 5% -------1000mL GH a 50%-----40mL/500mL NaCl a 20% ---10mL/500mL KCl a 19,1%----10mL/500mL SF a 0,9% ------1000mL a critério médico (ACM) Sedação e analgesia → Fentanil + Propofol// Fnetanil + Quetiamina Manitol a 20%----350mL EV em bolus em 5 minutos Fenitoina (Hidantal) ----10mg EV de 8/8 horas por sete dias Profilaxia para ulcera de estresse por Omeprazol 1 ampola EV/dia Não faz quimioprofilaxia para TVP → Sangramento ativo; paciente vai para o centro cirúrgico ❖ Fazer após cirurgia o uso de meias compressivas Dipirona ------1g EV se temperatura maior ou igual 37,8 HGT de 4/4 horas Insulina regular SC se HGT >180 conforme esquema a seguir → 170 a 250 2UI, 250 a 300 4UI, 300 a 350 - 6UI, 350 a 400 8UI, >400 10UI GH a 50%-----30mL EV se HGT <70 Uso de dispositivo de compressão Monitorizalçai de dados vitais Solicito hemograma, Na, K, Ureia, Creatinina, Glicemia, TP, TTPA Solicito tipagem e reserva de sangue 12. Lembre-se – crânio e meninges Entre a calota e a dura-máter → Espaço epidural (extradural); sangramento de alta pressão formando uma lente biconvexa (imagem em limão); intervalo lúcido Entre a dura-máter e a aracnoide → Espaço subdural; sangramento de baixa pressão formando uma crescente hiperdenso (imagem em banana); história arrastada Entre a aracnoide e a pia-máter → Espaço subaracnóideo; local onde tem o líquor; quando há sangramento é espalhado contornando os sulcos e cisternas; deve descartar com angiotc aneurisma Referências bibliográficas Aula de Dra. Lina Codes (20/09/2021) GUIMARÃES, H.P., LOPES, R.D., LOPES, A.C., TIMERMAN, S. Tratado de medicina de emergência: pronto-socorro e UTI. 1a edição, volumes. São Paulo: Atheneu, 2010 ATLS: Advanced Trauma Life Support for Doctors. American College of Surgeons. 10 a edição. 2018