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CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | ISSN 2184-0776 | Nº 36 | 
agosto de 2016 
 
1 
DIREITO, 
SEGURANÇA E 
DEMOCRACIA 
AGOSTO 
2016 
 Nº 36 
 
 
IMPORTÂNCIA DA ONU NA SOLUÇÃO DE 
CONFLITOS INTERNACIONAIS: CRÍTICAS E 
PERSPECTIVAS 
 
UN Importance On The Settlement Of International 
Disputes: Critics And Prospects 
 
ADRIANO ARTUR JOÃO 
Doutorando em Direito e Segurança 
 
RESUMO 
O Direito Internacional surgiu como “um elemento de forte consenso, procurando colmatar 
lacunas éticas e jurídico-constitucionais”, sendo “o sistema de princípios e normas de 
natureza jurídica, que disciplinam os membros da sociedade internacional, ao agirem 
numa posição jurídico-pública, no âmbito das suas relações internacionais”. 
Os conflitos são fenómenos sociais complexos, que resultam de uma decisão, comportam 
vários elementos e apresentam simultaneamente vários aspetos. O recurso a força só se 
deverá ser utilizado depois de se haverem esgotado todas as hipóteses de sucesso das 
estratégias, processos, técnicas e mecanismos de resolução das controvérsias. 
As guerras têm um efeito destrutivo, traduzem-se na perda e destruição de recursos 
humanos e materiais, atrasando o processo de evolução natural dos Estados e da 
Comunidade Internacional. 
 
 
 
CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | Nº 36 | agosto de 2016 
 
2 
DIREITO, 
SEGURANÇA E 
DEMOCRACRIA 
AGOSTO 
2016 
Nº 36 
A paz é um estado de tranquilidade mental, moral e espiritual; um bem precioso 
necessário de se construir através do conhecimento, da sabedoria e do respeito pelos 
princípios e valores éticos e morais em que assentam as relações de convivência pacífica. 
O Direito à Paz é um direito difuso relativamente aos seus titulares, à oponibilidade e à 
sanção organizada aplicável àqueles que perturbam a paz social. Educar para a paz é o 
caminho mais seguro para construir a paz mundial. 
 
PALAVRAS-CHAVE 
Relações Internacionais, Direito Internacional, Conflito, Guerra, Paz, Liberdade, Direitos 
do Homem, Organizações Internacionais. 
 
ABSTRACT 
International law has emerged as "a strong consensus element, try to remedy ethical, legal 
and constitutional gaps” where “the system of principles and norms of a legal, governing 
members of the international society to act in a legal and public position, within its 
international relations”. 
Conflicts are complex social phenomena that result from a decision, and suggest several 
elements simultaneously present various aspects. 
The use of force should only be used after they have exhausted all chances of success of 
the strategies, processes, techniques and mechanisms of disputes. 
Wars have a destructive effect, reflect on the loss and destruction of human and material 
resources, delaying the process of natural evolution of states and the International 
Community. 
Peace is a state of mental tranquility, moral and spiritual; a precious commodity necessary 
to build through knowledge, wisdom and respect for principles and ethical and moral 
values which underpin the relationship of peaceful coexistence. 
The Right to Peace is a diffuse law on their holders, Enforceability and organized sanction 
those who disturb social peace. Education for peace is the surest way to build world 
peace. 
 
 
 
 
 
CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | Nº 36 | agosto de 2016 
 
3 
DIREITO, 
SEGURANÇA E 
DEMOCRACRIA 
AGOSTO 
2016 
Nº 36 
KEYWORDS 
International Relations, International Law, Peace, War, Conflict, Freedom, Human Rights, 
International Organizations. 
 
Abreviaturas, Siglas e Acrónimos 
Ac. – Acórdão. 
ACNUDH - Alto Comissariado da Nações Unidas para os Direitos Humanos, criado 
em 1993, organismo subsidiário da Assembleia Geral da ONU. 
ACNUR – Alto Comissariado da Nações Unidas para os Refugiados, instituído em 
1949 e aprovado em 1951, na Convenção de Genebra sobre a Condição dos Refugiados. 
Act. – Actualizado; actualizada. 
Amp. – Ampliado; ampliada. 
Anot. – Anotado; anotada. 
Art.º - Artigo; artigos. 
ASEAN – Associação de Nações do Sudeste Asiático. 
Aum. – Aumentado; aumentada. 
BAD – Banco Africano de Desenvolvimento. 
BM – Banco Mundial, criado pelo Acordo da Conferência de Bretton Woods, de 1 a 
22 de julho de 1944, retificado os seus estatutos, em 31 de dezembro de 1945. 
BMJ – Boletim do Ministério da Justiça. 
CADH - Convenção Americana sobre Direitos Humanos, assinada em 1969, entrou 
em vigor em 1978. 
CADHP - Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, assinada em 1981. 
CADHP - Comissão Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, órgão da UA. 
CC - Comando e Controlo. 
CCPM – Comissão Conjunta Político Militar, Angola. 
CCR – Convenção sobre a Condição dos Refugiados, aprovada em 1951, em 
Genebra. 
CDFUE – Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (2000/C 364/01). 
CEDAO - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. 
CEDAW – Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Descriminação 
Contra as Mulheres, adoptada em 1979, pela Assembleia das Nações Unidas. 
 
 
 
CEDIS Working Papers | Direito, Segurança e Democracia | Nº 36 | agosto de 2016 
 
4 
DIREITO, 
SEGURANÇA E 
DEMOCRACRIA 
AGOSTO 
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Nº 36 
CEDH - Convenção Europeia dos Direitos do Homem. 
CEDR - Comité para a Eliminação da Discriminação Racial. 
CEMAC - Comunidade Económica dos Países da África Central. 
CESDHLF - Convenção Europeia de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das 
Liberdades Fundamentais. 
Cf. – Confira, conferir. 
CI (2011) – Convenção de Istambul, de 2011. 
CIA – Central Intelligence Agency. 
CIDC - Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aprovada em 1989. 
CIDH - Comissão Interamericana de Direitos Humanos, instituída em fevereiro de 
1967, na III Conferência Interamericana Extraordinária, órgão da OEA. 
CIDM - Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. 
CIEDR - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de 
Discriminação Racial, adoptada em 1965, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, 
entrado em vigor em 1969. 
CIG - Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. 
CIPCG – Convenção Internacional sobre a Prevenção do Crime de Genocídio, 
aprovada em 1948, pelas Nações Unidas. 
CNU – Carta das Nações Unidas. 
Cód. – Código. 
Comp. – Compilação; compilada. 
Coord. – Coordenação; coordenações. 
COT – Crime Organizado Transnacional. 
CP – Código Penal. 
CPDHLF – Convenção para a Protecção do Homem e das Liberdades 
Fundamentais, adaptada em Roma, a 4 de Novembro de 1950 e entrada em vigor em na 
ordem internacional, em 3 de Setembro de 1953, e modificado nos termos do Protocolo 
n.º 11, entrado em vigor em 1 de Novembro de1998. 
CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa. 
CPP – Código do Processo Penal. 
CPS – Conselho para a Paz e Segurança da União Africana. 
 
 
 
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SEGURANÇA E 
DEMOCRACRIA 
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CRA – Constituição da República de Angola, aprovada em 3 de Fevereiro e 
promulgada em 5 de fevereiro de 2010. 
CSE - Carta Social Europeia. 
DAW - Divisão para o Avanço das Mulheres, criada em 1946, pela ONU. 
DCC – Declaração dos Direitos da Criança, aprovada em 1959, pela ONU. 
DD – Declaração dos Direitos, votada pelos representantes do povo da Virgínia, 
em 1 de Julho de 1776. 
DDHC – Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de Agosto de 
1789, integrada na Constituição Francesa de 1791. 
DDPMNERL - Declaração sobre os Direitos das Pessoas pertencentes a Minorias 
Nacionais, Étnicas, Religiosas e Linguísticas, adoptada em 1992, pela Assembleia Geral 
das Nações Unidas. 
DDS – Ciclo de estudos conducente ao grau de “Doutor em Direito e Segurança”, 
promovido pela Faculdade de Direito/UNL, no ramo científico “Direito e Segurança”, 
aprovado pelo Regulamento n.º 384/2013, de 25 de setembro.Dec. – Decreto. 
Dec. Lei – Decreto-Lei, Decretos-Lei. 
DI – Direito Internacional. 
DP – Direito Penal. 
DUDH - Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Resolução 
da Assembleia Geral das Nações Unidas n.º 217 (III), em 10 de dezembro de 1848. 
ed. – edição. 
EM – Estado-Membro. 
EME – Estado-maior do Exército. 
et al. – et alli (e outros). 
etc. – et cetera (e o resto). 
ETPI – Estatuto do Tribunal Penal Internacional. 
EU – Europa. 
EUA – Estados Unidos de América. 
FAA – Forças Armadas Angolanas. 
FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. 
FMI – Fundo Monetário Internacional. 
 
 
 
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GF – Guerra Fria. 
GM – Guerra Mundial. 
GOL – Linhas Aéreas Inteligentes, Brasil. 
GPS – Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global – criado em 
1973, é um sistema de navegação por satélite, com um aparelho móvel que envia 
informações sobre o posicionamento de algo em qualquer horário e em qualquer condição 
climática; tem um poder de encontrar o caminho para um determinado local, saber a 
velocidade e direcção do seu deslocamento; utilizado em automóveis com um sistema de 
mapas, na aviação geral e comercial, na navegação marítima e por diversas pessoas que 
querem saber a sua posição e, principalmente, para viajar. 
i. e. – isto é. 
Ibid. – no mesmo lugar. 
Id. – Idem. 
IDN - Instituto de Defesa Nacional. 
In – Inclusion - Inclusão. 
In. – Inimigo. 
INSTRAW - Instituto Internacional de Pesquisas e Capacitação para o Progresso 
da Mulher, criado em 1976, pela ONU. 
interceptores - fazer sentir os efeitos militares da Força (Targeting e actuação 
“NRT”). 
LCM – Lei dos Crimes Militares, aprovada pela Lei n.º 4/94, de 28 de Janeiro. 
LMCPP – Lei sobre as Medidas Cautelares em Processo Penal, aprovada pela Lei 
n.º 25/15, de 18 de Setembro, entrada em vigor a 18 de Dezembro de 2015. 
LOIC – Lei da Organização e Investigação Criminal, de 27 de agosto de 2008. 
LPP – Lei sobre a Prisão Preventiva em Instrução Preparatória, aprovada pela Lei 
n.º 18-A/92, de 17 de Julho. 
n.º - número. 
NBQ – Nitrobenzothiazolo Quinolinium. 
NCC – Netword Centric Capability. 
NCW – Netword Centric Warfare – Armas Centralizado no Líquido. 
network - reunir, comunicar e explorar a informação. 
 
 
 
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NRDM – Normas Reguladoras da Disciplina Militar/FAA, aprovadas pela CCPM, 
em 22 de Novembro de 1991. 
NRT – Net Registered Tonnage – Arqueação Líquida. 
NSS – National Serveillance State – sistema desenvolvido desde finais do século 
XX pelos Estados Unidos da América, para a recolha, análise e cruzamento de 
informações sobre cidadãos no mundo. 
NU – Nações Unidas. 
ob. cit. – obra citada. 
OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico. 
OCR - Operações Centradas em Rede - conjunto das operações militares levadas 
a cabo por uma força armada interligada de acordo com as características da Era da 
Informação. 
OCT – Organizações Criminais Transnacionais. 
ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. 
OEA - Carta da Organização dos Estados Americanos, aprovada na Conferência 
de Bogotá, em 30 de Abril de 1948, entrou em vigor em 1951. 
OEI – Ordem Económica Internacional. 
OFOAPR - Organização e Funcionamento dos Órgãos Auxiliares do Presidente da 
República de Angola, aprovada pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/12, de 15 de 
Outubro. 
OI – Ordem Internacional; Organizações Internacionais. 
OISE - Órgãos de Inteligência e de Segurança do Estado, criados por força do 
Decreto Legislativo Presidencial n.º 5/12, de 15 de Outubro. 
OMC – Organização Mundial do Comércio. 
OMP – Organização Mundial de Propriedade Intelectual. 
OMS – Organização Mundial da Saúde. 
ONG – Organização Não-Governamental; Organizações Não-Governamentais. 
Online – disponível na internet. 
ONU – Organização das Nações Unidas. 
OPC – Órgãos de Polícia Criminal. 
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo. 
 
 
 
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OSAGI – Escritório de Assessoria Especial para as Questões de Género e 
Promoção da Mulher, criado em 1977, pela Organização das Nações Unidas. 
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte, fundada a 4 de abril de 1949, 
através do Tratado de Wachington. 
OTM – Organização Tutelar das Crianças. 
p. – página. 
p. ex. – por exemplo. 
PA – Protocolos Adicionais. 
PALOP – Países de Língua Oficial Portuguesa. 
PC – Proteção Civil. 
PF – Protocolo Facultativo referente ao PIDCP. 
PIDCP - Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. 
PIDESC – Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais. 
PIN – Personal Identification Number - Número de Identificação Pessoal (NIP). 
PJ - Polícia Judiciária. 
PNR – Passenger Name Records – Registos de Identificação de Passageiros. 
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. 
Policy markers – legisladores. 
pp. – páginas. 
PPP – Parceria Público-Privada. 
Prof. – Professor; Professora. 
R.F.D.U.N.L. – Revista da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. 
R.L.J. – Revista da Legislação e Jurisprudência. 
R.M.P. – Revista do Ministério Público. 
R.O.A. – Revista da Ordem dos Advogados. 
Ranking – classificação. 
Rev. – Revisto; Revista. 
RI – Relações Internacionais. 
RMA- Revolução dos Assuntos Militares. 
RMC – Revolução Militar em Curso. 
s. d. – sem data. 
s. l. – sem local. 
 
 
 
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SADEC - Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. 
Séc. – Século; séculos. 
SFI – Sociedade Financeira Internacional. 
SI – Sistema Internacional no campo das Relações Internacionais. 
SIC – Sistema de Investigação Criminal, Serviço de Investigação Criminal. 
SIE – Serviço de Inteligência Externa, criado pelo Decreto Legislativo Presidencial 
n.º 5/12, de 15 de Outubro, art.º 50º, n.º 1, da OFOAPR. 
SIIC – Sistema Integrado de Informação Criminal. 
SINSE – Serviço de Inteligência e Segurança do Estado, criado pelo Decreto 
Legislativo Presidencial n.º 5/12, de 15 de Outubro, art.º 49º, n.º 1, da OFOAPR. 
SISM – Serviço de Inteligência e Segurança Militar, criado pelo Decreto Legislativo 
Presidencial n.º 5/12, de 15 de Outubro, art.º 51, n.º 1, da OFOAPR. 
SJ - Sistema Judicial. 
ss. – seguintes. 
STJ – Supremo Tribunal de Justiça. 
Supl. – Suplemento. 
TADHP - Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos, criado em Junho 
de 1998, mediante Protocolo assinado pelos Chefes de Estados da OUA. 
TEDH - Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. 
TIC – Tecnologia de Informação, Comunicação e Conhecimento. 
TIE - Tribunais Internacionais Específicos. 
TIJ – Tribunal Internacional de Justiça. 
TJE – Tribunal de Justiça Europeia. 
TO – Teatro Operacional. 
TOM - Teatro Operacional Militar. 
TPA - Tribunal Permanente de Arbitragem. 
TPI – Tribunal Penal Internacional. 
TPJ - Tribunal Penal para a Jugoslávia, criado sem 25 de Maio de 1993. 
TPR – Tribunal Penal para o Ruanda, criado em 8 de Novembro de 1995. 
TV – televisão. 
UA – União Africana. 
 
 
 
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UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura. 
UNICEF – Fundo Internacional das Nações Unidas de Socorro à Infância. 
UNIFEM – Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher, criado 
em 1976, pela ONU.v. – vide. 
Vol. – Volume; volumes. 
www – World Wide Web. 
 
INTRODUÇÃO 
O Homem é, por natureza, um animal social e um ser gregário que relaciona-se 
com o seu semelhante, estabelecendo formas diversas de relacionamento para a 
satisfação e realização de interesses e objetivos comuns. 
A história da evolução da humanidade mostra-nos, pois, que o Homem é, 
simultaneamente, um animal social, que se relaciona com o seu semelhante, um animal 
económico, que produz e consome, e um animal político, que prepara e toma decisões 
obrigatórias para todos os membros da colectividade humana a que respeitam. 
No planeta Terra, onde habita um rebanho de humanos, encontra-se, hoje, de 
diversas formas de organização social: Estados autónomos e independentes, uns 
soberanos e outros semi-soberanos, uns Estados-nações, outros Estados plurinacionais e 
outros Estados com projecto nacional. Neste sentido, Armando Marques Guedes (2005) 
sublinha que «As transformações sofridas pelo caminho são, aliás, assaz instrutivas (…) 
na fase fundacional inicial, as preocupações dos antropólogos mantiveram-se focadas no 
apuramento das várias configurações segundos as quais o controlo social seria 
sustentado e potenciado pela interrelação de “instituições”, ou na descoberta das “regras” 
subjacentes à manutenção de uma “ordem” em sociedades particulares.»1 
E no interior de cada um dos Estados, coexistem famílias, comunidades de 
resistência, associações profissionais, recreativas e culturais, grupos organizados de 
diferentes matizes, que se movem e actuam na esfera privada, uns, e na esfera pública, 
 
1 Guedes, Armando Marques. Entre Factos e Razões: Contextos e Enquadramentos da 
Antropologia Jurídica. 1.ª ed. Coimbra: Almedina. 2005. pp. 104-105. 
 
 
 
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outros, os quais são geralmente designados de grupos de interesses, grupos de pressão, 
grupos para-políticos e partidos políticos. Numa “perspectivação tópica inicial da 
antropologia jurídica em contexto, o autor referenciado, enaltece que «os obstáculos 
confrontados são de facto muitíssimo embaraçosos, no sentido em que não são de fácil 
resolução. Efectivamente, a Antropologia Jurídica (…) debruça-se sobre numerosas 
sociedades e culturas por vezes muito diferentes uma das outras, e tenta lidar com o 
problema peculiar que é suscitado pela ausência, em muitas sociedades, de quaisquer 
organismos jurídicos (e até políticos) formais».2 
Além desta panóplia de instituições, foram criadas, nos últimos cento e cinquenta 
anos, centenas de organizações internacionais públicas e privadas e muitas sociedades 
(empresas) multinacionais, enquanto as associações profissionais e os partidos políticos 
se internacionalizavam, confederando-se a nível regional e mundial, e se organizavam, a 
nível transnacional, grupos de intervenção ilegal, que fazem cair torres, explodir 
transportes colectivos, descarrilar comboios, aterrorizam colectividades e atormentam os 
governos em todos os cantos da Terra (Fernandes, 2011: 6-7). 
Por conseguinte, a comunidade internacional dos nossos dias caracteriza-se pela 
existência, no seu seio, de uma pulverização de grupos, sociedades, associações, 
organizações e instituições ligadas entre si por uma complexa rede de comunicações, 
informações e de relações interpessoais, intergrupais e interinstitucionais. Estas relações 
desenrolam-se em espaços intranacionais e internacionais, e revestem formas diversas 
que se podem agrupar em duas categorias: relações pacíficas (amigáveis), que decorrem 
dentro da normalidade estabelecida, e relações conflituosas, que revestem um aspeto 
problemático, e resultam de dificuldade de vária ordem que dão origem as tensões, 
descordos, diferendos e mesmo litígios de carácter mais ou menos grave que podem 
degenerar em conflitos armados. 
A ONU é um modesto elemento do conjunto complexo de instituições que 
asseguram as RI, por essa razão concordamos com Maurice Bertrand ao afirmar que «a 
ONU é apenas uma ínfima malha de uma imensa rede. As instituições que tratam das 
relações internacionais são ao mesmo tempo públicas e privadas. As sociedades 
transnacionais ou multinacionais têm filiais, agências e correspondentes que constituem 
 
2Ob. cit. pp. 96-97. 
 
 
 
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um sistema mundial, em alerta permanente, que exercem uma grande influência sobre os 
governos. Também existe um grande número de associações internacionais, as ONG, ou 
organizações não-governamentais, que tratam todos os problemas imagináveis e têm 
agências, escritórios e representantes espalhados pelo mundo» (Bertrand, 2004: 13). 
Ao longo da história da humanidade, as relações entre as sociedades politicamente 
organizadas têm revestido, em certos períodos de tempo e determinados espaços 
geográficos, um carácter de normalidade, traduzindo-se em relações de reciprocidade, de 
cooperação, de concertação e de integração; enquanto em outros períodos de tempo, por 
vezes bastantes longos, em espaços geográficos diversos e de dimensões variáveis, as 
relações entre os Estados têm revestido um carácter problemático, gerando situações de 
crise, intranquilidade e de conflito. 
A ideia da necessidade de um sistema de normas que regule as relações entre os 
homens impõe-se antes de mais no que respeita à ordem social que constitui o Estado. 
Mas, logo se manifesta a exigência de um sistema jurídico que se estabeleça também nas 
relações entre os diversos estados e entre os respetivos cidadãos. Deparamos assim, 
num plano ideal, com dois sistemas diferentes – o Direito interno e o Direito internacional, 
que deveria chamar-se, mais propriamente, interestadual (Giorgio Del Vecchio, 1968: 
166). 
O primeiro apresenta-se com contornos muito mais nítidos que o segundo. Há no 
Estado um poder central, do qual dimanam formalmente todas as normas que compõem o 
sistema; daí conceber-se o Estado como um eterno soberano a ser-lhe atribuídas 
jurídicas confirmadas e coordenadas numa sólida unidade. 
Os problemas surgem quando se pretende fundamentar, racional e realmente, um 
sistema que coordene de modo unitário os diferentes Estados. Admitir um poder central 
soberano, que admitisse os Estados, do mesmo modo que na ordem interna em que o 
Estado domina os indivíduos, seria pôr em causa aquele atributo pelo qual o Estado se 
afirma como suprema postetas. Um sistema de Direito Internacional conduz 
inevitavelmente a conceber a formação de um estado único que reunisse todo o género 
humano. 
A doutrina dominante admite a coexistência dos dois sistemas jurídicos, atribuindo 
porém ao interno ou estadual estrutura mais perfeita e validade mais intensa; ao passo 
 
 
 
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que o internacional ou interestadual se apresentaria dotado de certeza e de eficácia 
inferiores, deixando assim subsistir a autonomia dos diversos Estados. 
André Ventura (2015: 21) enaltece que «deve entender-se o direito interno como 
ordenamento vital de um Estado ou organização pública (não estatal) enquanto que o 
direito internacional deve assumir a configuração de direito global de todo as 
comunidades (estatais e não estatais), o que não significa necessariamente diferenças 
face à sua juridicidade (…). Nem sequer significará, necessariamente, que ambos os 
ordenamentos se encontram em conflito direito e sistemático, podendo verificar-se várias 
formas de coordenação e articulação». 
A distância conjuntural e acidental da História do Direito, segundoArmando 
Marques Guedes, viveu «um período de profunda alteração de coordenadas. A 
integridade funcional dos sistemas sociais tornaram-se para todos cada vez menos líquida 
e convincente, porventura em consonância com as enormes mudanças e convulsões 
sócios-políticas ocorridas nos panoramas nacionais e internacionais então 
contemporâneos»3. 
Têm sido muitas e variadas as situações conflituosas que perturbam a paz e a 
tranquilidade e geram sentimentos de receio, de medo e de pânico, resultante do 
comportamentos de certos e determinados protagonistas internacionais. Porquê? 
Que características ou critérios identificam o Direito Internacional face ao Direito 
Interno? 
Qual é a essência do verdadeiro carácter normativo do Direito Internacional no 
contexto das Nações? 
Quais são as razões de tanta conflitualidade? 
Quais as causas das guerras ou dos conflitos entre os principais protagonistas das 
Relações Internacionais? 
Terá a Organização da Nações Unidas contribuído para evitar a eclosão e 
proliferação de conflitos internacionais? 
Como proceder para que haja paz, tranquilidade e segurança? 
Será possível o estabelecimento de uma paz duradoira entre grupos, os povos e os 
Estados? 
 
3 Idem pp. 117-118. 
 
 
 
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Por conseguinte, no dealbar do século XXI, em que o homem dispõe de maios e 
técnicas de destruição massiva e de suicídio colectivo da humanidade, em que a história 
é, muitas vezes ensina como sendo a história das guerras, dos tratados de paz, da 
violação destes e de novas guerras, haverá algumas possibilidade da humanidade pôr 
termo ao processo de suicídio colectivo e instituir a paz mundial perpétua, que Kant já 
preconizava no último quartel do século XVIII? 
Poder-se-á orientar e canalizar a agressividade do ser humano para construir uma 
paz mundial assente em princípios e valores que assegurem a liberdade e garantam a 
felicidade dos povos que integram a própria humanidade? 
A estas interrogações procuramos responder neste trabalho, que consta além 
desta introdução, de mais cinco partes e uma conclusão. 
Na primeira parte, analisa-se o surgimento e desenvolvimento das Relações 
Internacionais e do Direito Internacional, as suas características e seus fundamentos, 
culminando com uma apreciação crítica da crise do Direito Internacional no actual 
contexto das Relações Internacionais. 
Na segunda parte, versa-se sobre a análise da problemática dos conflitos, tipologia 
e vias de solução e controle de conflitos internacionais, o papel dos Estados, 
Organizações Internacionais e técnicas utilizadas na resolução dos conflitos 
internacionais numa visão crítica, procurando entender e explicar os diferentes tipos de 
conflitos e o aproveitamento das situações conflituosas pelos protagonistas no contexto 
das Nações. 
Na terceira, examina-se com alguma profundidade a guerra como fenómeno social, 
seu significado, suas causas, funções e tipologia, caracterizando o fenómeno subversivo 
na Era da Globalização. 
Na quarta, debruça-se sobre as dimensões do conceito e problemática da Paz na 
actual etapa de desenvolvimento global, referenciando sobre as diversas concepções da 
ideia da paz. 
Na quinta e última, salientam-se as conexões do Direito à Paz no contexto dos 
Direitos Humanos, relacionando-as com os conceitos de educação, compreensão e de 
direitos humanos, a fim de perceber se a educação é imprescindível para garantir a paz 
mundial e protecção dos direitos do homem e se a Organização da Nações Unidas tem 
contribuído para minimizar e reduzir as situações de conflitualidade armada internacional. 
 
 
 
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1. Génese e Crise das Relações Internacionais e do Direito 
Internacional 
Quem meditar na gravidade e dificuldade dos problemas globais, nas controvérsias 
que reinam ainda em torno deles, e sobretudo na persistência do trágico fenómeno da 
guerra, que apesar de inspirações milenárias de paz, continua a alvoroçar a vida dos 
povos, terá fartos motivos para desesperar da sorte do género humano. 
Mas a inextinguível vocação do nosso espírito, atestando a fraternidade essencial 
do género humano, bem como a observação de certos factos da história antiga e 
moderna, anima-nos a vencer a desesperança. 
Sabe-se que, nas sociedades primitivas, só aos que pertencem ao grupo é 
reconhecida personalidade jurídica; o estrangeiro é equiparado, teoricamente, aos 
animais selvagens. Todavia, o mendigo, que por acaso se encontre longe da sua pátria, 
costuma ser respeitado, até pela ideia de que nele se pode dissimular alguma divindade. 
Não será talvez esta ideia, supersticiosa embora, um indício de que, desde as épocas 
mais recuadas, a inteligência humana foi capaz de superar o exclusivismo de grupo? 
Recorda-se que, no sistema do Direito romano, o escravo caput non habet: é uma 
coisa, não uma pessoa. Mas, se tal é a fórmula dogmática, na realidade o mesmo Direito 
reconhece indiretamente ao escravo certos direitos: não civiliter, porém naturaliter. 
Sabe-se também que, em tempos se tinha delineado um sistema de Direito 
Internacional já em épocas remotos foram formuladas e observadas regras nas relações 
entre os Povos, mesmo no que à guerra respeita. Tais regras tiveram, a princípio carácter 
puramente religioso: por exemplo a declaração de guerra era acompanhada de certos 
ritos, o que transparece claramente do jus feciale ou fetiale dos Romani. A religião, já nas 
suas formas primitivas, tenha temperado de algum modo a dureza dos costumes e das 
leis antigas nas relações entre os Povos. 
Com o advento e a difusão do Cristianismo que começou a delinear-se uma certa 
ordem internacional, segundo os princípios afirmados e propugnados pelos órgãos mais 
autorizados da Igreja e, cuja eficácia encontrou muitos obstáculos e oposições, quer em 
face dos povos não-cristãos, quer por efeito de paixões e de ideologias hostis. 
 
 
 
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Tal como sublinha André Ventura (2015), o direito internacional surgiu como um 
elemento de forte consenso, procurando colmatar lacunas éticas e jurídico-
constitucionais. 
Por conseguinte, o Direito Internacional moderno surgiu no Séc. XVII, sendo 
usualmente indicado como marco inicial o Tratado de Vestefália de 1648, que pôs fim à 
Guerra dos Trinta Anos e «in ocasione del quale lo Stato, da un lado, consolida 
definitivamente la propria indipendenza rispetto all`Imperatore, dei quali si disconosce, 
portanto, qualsiasi supremazia e, dall`altro, afferma il proprio dominio exclusivo su un 
determinato territorio e sulla relativa popolazione, com eliminazione dei vari centri di 
potere (feudali o comunali) che si erano formati nei secoli precedenti in una logica 
pluralista»4. 
O conceito de Direito Internacional tem sido alvo de debate, ou seja, tem sido 
problemática a descoberta dum conjunto de critérios específicos de delimitação desta 
área do Direito. 
Embora seja fácil a apreensão simplista da contraposição em Direito Internacional 
e o Direito Interno, Jorge Miranda (2009: 24), afirma que «as diferenças ressaltam quase 
à vista desarmada. Não encontramos leis como modo de formação centralizada do Direito 
por obra das autoridades com competência para tal. Como modo mais aproximado 
apenas encontramos – hoje, não há 100 anos – os tratados multilaterais gerais e as 
decisões, ou certas decisões, de órgãos de organizações internacionais e de identidades 
afins». 
Jorge Bacelar Gouveia (2003: 314) constata que sendo o Direito Internacional um 
setordo Direito Público que «melhor se experimenta do que se concretiza, pelo que não 
tem sido fácil propor uma afinada definição do mesmo». 
Enfrentando esse desafio intelectual existem vários critérios doutrinais sugeridos 
pelo autor citado, para se proceder à respetiva delimitação: 
a) Critério dos sujeitos intervenientes; 
b) Critério das matérias reguladas; e 
 
4 Carbone, Sergio M.: “I soggetti e gli attori nella comunita internazionale”, in Carbone, S.M., Luzzatto, R., & 
Santa Maria, A. (a cura di): Istituzioni di diritto internazionale, 3.ª ed., Torino, Giapichelli, 2006, pp. 3-41, pp. 
3-5. 
 
 
 
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c) Critério das fontes normativas. 
Concordamos com a ideia do mesmo autor, segundo a qual «não cremos que 
nenhuma destas conceções possa ser, por si só, inteiramente esclarecedoras daquilo que 
é o Direito Internacional Público. Nenhuma destas conceções – porque redutores de uma 
realidade que é mais vasta – é suficientemente englobantes do Direito Internacional 
Público, para além de alguns desses critérios não são diretamente explicativos do setor 
jurídico que pretendem identificar. 
A nossa definição de Direito Internacional Público apresenta-o do seguinte modo, 
numa conceção global: «o sistema de princípios e normas, de natureza jurídica, que 
disciplinam os membros da sociedade internacional, ao agirem numa posição jurídico-
pública, no âmbito das suas relações internacionais»5. 
 
1.1. Esboço histórico do desenvolvimento das Relações 
Internacionais 
Giorgio Del Vecchio afirma que “a ideia do Direito natural (…) em substância da 
Filosofia grega, e principalmente da escola estóica, foi aplicada pelos juristas romanos 
aos institutos do Direito interno, tornando-se um importante factor do seu progresso” e 
“veio a frutificar no campo do direito internacional”, devido à “sua recepção pelos 
canonistas (1968: 173). 
Por outro lado, a Filosofia patrística, e depois dela a escolástica, ao mesmo tempo 
que deduziam do Decálogo e do Evangelho os princípios absolutos do Direito natural, 
acolheram (…) grande parte da doutrina dos jurisconsultos romanos, inserindo-a num 
vasto sistema que, fundado nos dogmas cristãos, iria desempenhar certa função 
reguladora em toda civilização ulterior” (Vecchio, 1968: 173-177). 
As diferenças de organização interna entre os Estados não impediram que se 
reconhecesse a existência de uma comunidade, expressa pela significativa fórmula 
communitas communitatum. Segundo Giorgio Del Vecchio, mais correntemente falou-se 
de res publica chistiana, ou ainda de res publica sub Deo (1968: 173). 
Começou assim a delinear-se um «Direito internacional cristão», que, naturalmente 
se estendeu também aos Estados de Oriente europeu, como a Rússia, a Polónia e a 
 
5 Gouveia, Jorge Bacelar. Manual de Direito Internacional Público. 4.ª ed. Coimbra: Almedina. 2013. p. 314. 
 
 
 
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Hungria, quando estes, cerca do ano 1000, se converteram ao Cristianismo e, por via 
disso, cresceram sobremaneira as relações da Rússia e o mundo ocidental, apesar dos 
graves conflitos que se arrastaram longamente no campo doutrinal dos Estados cristãos, 
dos litígios entre a Igreja e o Império e outros fatos supervenientes (cf. Giorgio Del 
Vecchio, 1968: 173-175). 
Porém, a Paz de Vestefália (1648) indica-se como o início de uma nova era nas 
relações internacionais, caraterizada pelo princípio da absoluta independência e 
soberania dos Estados, que substituiu o da subordinação a autoridades universais como a 
Igreja e o Império. A marca do secular domínio de Roma permanece visível e opera até 
aos nossos dias, sobretudo nas nações neolatinas. Mais forte ainda e profundamente 
enraizado se conservou em muitas Nações o laço da fé cristã comum (Giorgio Del 
Vecchio, 1968: 175). 
Nos tempos modernos, o conceito medieval da «Comunidade dos Povos cristãos» 
se veio modificando e ampliando. Com os tratados de Munster e de Osnabrusck, isto é, 
com a chamada Paz de Vestefália, reconheceu-se existir entre os Estados uma igualdade 
jurídica independente de regimes políticos e credos religiosos, como a igualdade entre os 
Estados católicos e protestantes. Posteriormente, o que fora uma comunidade dos povos 
europeus dilatou-se até compreender povos de outros continentes (Giorgio Del Vecchio, 
1968: 176). 
Neste processo de evolução permaneceram firmes alguns princípios, que tinham 
constituído de certo modo os fundamentos da antiga Comunidade dos Estados cristão 
europeus, aceites também pelos Povos extraeuropeus e não cristãos, na medida em que 
correspondiam a interesses comuns e a exigências racionais próprias da natureza 
humana (Giorgio Del Vecchio, 1968: 177). 
 
 
 
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As raízes intelectuais dos vários estudos que Aron6 elaborou sobre as Relações 
Internacionais (RI) estão situadas na sua primeira investigação em torno dos problemas 
da filosofia da história. Pensar sobre as questões estratégicas e internacionais supõe uma 
racionalidade própria enquadrada pelos limites psicológicos e epistemológicos a que está 
sujeito a cognição e a objetividade históricas. 
Miguel Morgado sublinha que o problema fundamental neste aspeto é o do que a 
realidade histórica – por ser realidade humana – é «ambígua» e «inexaurível». Os factos 
e as ideias que vão surgindo, nascendo e morrendo, ocorrem num contexto de 
«pluralidade de mundos espirituais», tornando-os equívocos. É preciso acrescentar que a 
história e a política são atravessadas por decisões humanas concretas. Estas decisões 
têm de ultrapassar as indeterminações filosóficas, não diminuindo no entanto a 
necessidade de o observador adquirir um sentimento moderado de relatividade histórica 
(2014: 40), que permite discutir as decisões políticas e estratégicas e compreendê-las. Ao 
mesmo tempo, torna as decisões livres e abre a possibilidade de se estudar essa 
liberdade e o seu carácter essencialmente político. 
O estudo da RI é, por conseguinte, eminentemente histórico «em todos os sentidos 
do termo»: a) as decisões livres que são tomadas e as suas consequências, desejadas e 
não desejadas; b) a mudança incessante e a fragilidade dos sistemas; c) a multiplicidade 
das mudanças que transformam o mundo (morais, tecnológicas, socioeconómicas, 
culturais, étnicas, linguísticas, raciais, etc.); e d) a sujeição dos atores históricos a 
obrigações aparentemente contraditórias. 
Todas estas dinâmicas empurram os agentes da história para a possibilidade do 
conflito. Uma teoria das RI deve enquadrar uma teoria de conflito e da guerra. 
 
6 Aron (Raymond), filósofo e sociólogo francês (1905-1983), na sua abordagem ao estudo 
das Relações Internacionais (RI) coloca-se fora da habitual dualidade de escola 
«idealistas» e «realista». Se se quiser atribuir ao seu pensamento uma designação 
sintética pode-se falar de um «realismo crítico» que resulta da aplicação de uma 
racionalidade específica aos problemas histórico-políticos, que, por sua vez, se podem 
denominar-se «razão histórico-política» (Miguel Morgado, 2014: 40). In Enciclopédia das 
Relações Internacionais. 1.ª ed. Dom Quixote. 2014. pp. 40-42. 
 
 
 
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Por essas razões, Aron colocou como objeto central de estudo e de compreensão 
da problemática internacionalo regime político, as suas diferentes naturezas, dinâmicas, 
valores e propósitos. A primazia da política permite adquirir uma perspetiva dirigida 
diretamente ao político decisor, ao estadista, àquele que, em circunstâncias históricas 
concretas, com meios e escolhas limitadas, têm de decidir num contexto de incerteza 
essencial e de riscos nem sempre mensuráveis (Miguel Morgado, 2014: 41). 
Neste sentido, acentua o autor referido, a uma teoria da história e dos limites do 
conhecimento histórico temos de acrescentar uma «teoria da prática» ou uma 
«praxeologia». Com a importante ressalva aristotélica de que não se deve exigir mais 
determinação a um domínio do conhecimento do que aquilo que se pode providenciar. 
Atendendo a esta ressalva, Aron explicava não estaria disponível uma «teoria geral das 
RI comparável à teoria geral da economia». 
Assim, as RI solicitam o exercício da «moral da prudência», que apela ao 
julgamento de prudência, de articulação entre os fins e os meios concretos e limitados 
que estão disponíveis. O julgamento da prudência não pretende decidir de uma vez por 
todas os dilemas e antinomias que se colocam à ação estratégica e diplomática, 
(porquanto um julgamento moral e histórico nunca pode ser definitivo, mas que também 
não é arbitrário). Tem uma finalidade mais modesta: encontrar, em cada ocasião 
concreta, os compromissos mais razoáveis e mais aceitáveis. A política - e a política 
externa – nunca é um «conflito entre o bem e o mal», mas entre o «preferível e o 
detestável». 
Miguel Morgado sublinha que se é certo que a teoria das RI de Aron parte da sua 
filosofia da história, também não deve ser descurada a hipótese de ela terminar numa 
filosofia política. Em última análise, e além de todas as ambiguidades históricas, a 
estratégia e a diplomacia devem estar ao serviço das aquisições mais preciosas da 
humanidade. Isso inclui as liberdades de gozarmos enquanto homens e cidadãos. Não há 
como fugir a rudeza da História (Miguel Morgado, 2014: 42). 
A existência de uma comunidade jurídica internacional, hoje bem extensa do que 
no passado, é forçoso reconhecer que ela não saiu ainda, em parte, do estado teórico, e 
que os esforços tendentes a realizá-la em concreto estão ainda muito longe de alcançar o 
objetivo de uma organização cosmopolítica. 
 
 
 
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Ninguém ignora que estes esforços se têm multiplicado nos nossos dias, 
especialmente depois das trágicas experiências das guerras mundiais, da queda do morro 
de Berlim e dos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos de América. 
André Ventura acentua que o Direito Internacional surgiu como «um elemento de 
forte consenso, procurando colmatar lacunas éticas e jurídico-constitucionais», sendo «o 
sistema de princípios e normas de natureza jurídica, que disciplinam os membros da 
sociedade internacional, ao agirem numa posição jurídico-pública, no âmbito das suas 
relações internacionais». 
 
1.2. Apreciação crítica da crise do Direito Internacional 
A causa primeira da crise do Direito Internacional reside precisamente nos vícios 
da concepção que fizemos remontar à Paz de Vestefália, e que, segundo um ponto de 
vista largamente difundido, seria o traço característico do moderno Direito internacional. 
Essa concepção, segundo Giorgio Del Vecchio (1968: 177) pode resumir-se na 
fórmula seguinte: «um Estado está vinculado a observar somente aquelas normas de 
Direito internacional, às quais haja dado o concurso da própria vontade»7. 
Os autores da escola positivista «admitem que os estados permanecem 
vinculados, quando lhes aprouver, mas esses vínculos serão frágeis, sempre que não 
assentam numa lei que imponha a respectiva observância (Giorgio, 1968). 
Há quem aceita o princípio da obrigatoriedade dos pactos (pacta sunt servanda) 
como postulado pré-jurídico ou metajurídico (nós preferimos dizer do Direito natural); esta 
máxima não se basta a si própria, havendo de inserir-se num sistema de verdades 
racionais que definam e limitem de certo modo o valor: é o que acontece no Direito Civil, 
onde a validade dos contratos está subordinada à condição da capacidade dos 
contraentes e da ilicitude do objecto (Giorgio Del Vecchio, 1968: 178). 
Os Estados são obrigados a reconhecer-se mutuamente como sujeitos de direito. 
Não é nem pode ser obrigatório o reconhecimento de um Estado que viole as exigências 
fundamentais da humanidade e os princípios gerais do Direito, quer no seu ordenamento 
interno, quer nas relações internacionais. E se, em atenção a circunstâncias particulares, 
 
7 Nota do autor: A. Cavaglieri, Corso de Direito internacionale, 2.ª ed., Nápoles, 1932, p. 6. 
 
 
 
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o reconhecimento se der, sempre deverá ser condicionado e restrito a determinados 
efeitos (Giorgio Del Vecchio, 1968: 178). 
Observação análoga se pode fazer a respeito de certas normas implícitas nas 
relações entre os Estados, por força de costumes. Segundo as premissas da escola 
positivista, a observância do costume dependeria, em última análise, da vontade de cada 
um dos Estados: vontade que, bem merece o epíteto de ambulatória… Recai-se, 
portanto, aqui também, em pleno arbítrio (Giorgio Del Vecchio, 1968: 178). 
A crítica não implica, todavia, a rejeição do processo histórico que levou a modificar 
certas doutrinas políticas medievais, como o princípio da igualdade jurídica dos Estados, 
quaisquer que sejam os respectivos poder e extensão (princípio proclamado na Paz de 
Vestefália e depois geralmente mantido pela doutrina) não deve ser rejeitado; mas há-de 
acompanha-lo uma reserva dos Estados legítimos e a formulação específica dos 
requisitos de tal legitimação (Giorgio Del Vecchio, 1968: 178). 
Conexo com este princípio está a o da independência de todo o Estado perante os 
demais, de tal modo que nenhum deles possa reclamar preeminência ou impor 
hegemonia, mas propor somente acordos, que devem ser livremente consentidos. 
Nenhum acordo, aliás, poderá prejudicar o respeito pelos direitos fundamentais dos 
indivíduos e dos povos, do qual depende a legitimidade dos Estados. Pois se estes 
direitos forem gravemente violados, deve admitir-se a possibilidade de intervenção 
estrangeira que realize a respectiva tutela (Giorgio Del Vecchio, 1968: 179). 
A raiz dos equívocos e dos erros, hoje tão frequentes nas doutrinas do Direito 
internacional e do Direito público em geral, está na confusão entre arbítrio e liberdade: 
dois conceitos que, pelo contrário, deveriam ser rigorosamente discriminados. 
A liberdade se apresenta como ausência de toda e qualquer lei; na verdade, não é 
livre quem não segue a lei da sua própria natureza. E porque o homem é, de sua 
natureza, um ser espiritual, capaz de elevar-se do reino dos sentidos ao mundo da razão, 
(…) ele é tanto mais livre que quanto mais se libertar das paixões. Assim doutrinou Santo 
Agostinho: Eris liber si fueris servus: liber peccati, servus justitiae. No mesmo sentido se 
tinha já exprimido S. Paulo; um e outro sob a inspiração da máxima do Evangelho: «A 
verdade vos libertará». As análises da filosofia moderna chegaram às mesmas 
conclusões: basta recordar que, segundo a doutrina de Kant, a liberdade se interpenetra 
com o respeito da lei moral (Giorgio Del Vecchio, 1968: 181). 
 
 
 
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Isto tanto vale na ordem moral, como na ordem jurídica; e tanto para os indivíduos, 
quanto para as Nações e os Estados. Mesmo na ordem interna do Estado, a liberdade só 
é possível se a lei forrespeitada, e estará em tanto maior perigo quanto mais graves e 
frequentes forem as infracções às leis. Já Cicero exprimiu esta ideia, ao afirmar: Legum 
omnes servi sumus ut liberi esse possimus. E este conceito não foi em nada modificado 
pelos estudos jurídicos modernos, antes encontrou reforço e valorização, nomeadamente 
na teoria do Estado de Direito (Giorgio Del Vecchio, 1968: 181-182). 
De modo semelhante, deve-se reafirmar o princípio do primado da lei no que 
concerne às relações internacionais ou interestaduais. Tal como nas relações internas a 
soberania do Estado se acha racionalmente vinculada e subordinada ao respeito pelos 
direitos dos cidadãos, assim também nas relações entre Estado e Estado a soberania de 
cada um deles não pode significar arbítrio desenfreado, antes deve fundar-se naquela lei 
que define a unidade essencial do género humano. Assim não é dado renegar os 
princípios supremos da Lógica, que permanecem válidos ainda que não sejam objecto de 
declarações formais, nem de sanções positivas. Devido à falibilidade da mente humana, 
os princípios éticos, assim como os lógicos, podem ser por vezes transgredidos e violados 
no plano de facto; mas isso não lhes diminui o valor ideal, e é precisamente em função 
deste valor que aqueles erros são reconhecidos, combatidos e corrigidos (Giorgio Del 
Vecchio, 1968: 182). 
Importa recordar as sábias palavras com que Pio XII, na Encíclica Summi 
Pontificatus (de 20 de Outubro de 1939) proclamou algumas máximas que confirmam 
plenamente, e de modo autorizado, o que a crítica filosófica se tem aplicado, por várias 
formas, a demonstrar: «A concepção que atribui ao Estado autoridade ilimitada não é 
somente um erro nocivo à vida interna das Nações, à sua prosperidade, ao maior e mais 
ordenado incremento do seu bem-estar; ela traz igualmente prejuízos para as relações 
entre os Povos, por quebrar a unidade da sociedade supranacional, negar os 
fundamentos e o valor do Direito das gentes, abrir caminho à violação dos direitos 
alheios, e dificultar o entendimento mútuo e a coexistência pacífica». 
«Para haver contactos harmoniosos e duradouros, e relações frutuosas entre os 
Povos, é indispensável que estes reconheçam e observem os princípios de Direito natural 
internacional, que regulam o seu desenvolvimento e funcionamento normais… Fundar o 
Direito das gentes na vontade autónoma dos Estados e destronar esse mesmo Direito, e 
 
 
 
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roubar-lhes os títulos mais nobres e mais válidos, abandonando-o à dinâmica funesta do 
interesse privado e do egoísmo colectivo» (Giorgio Del Vecchio, 1968: 182-183). 
Jorge Bacelar Gouveia (2007) ao explicitar a história da terminologia «Direito 
Internacional» que por vezes aparece simplificadamente como «Direito Internacional», 
esclarece que «tem a sua raiz proposta, feita há muito tempo pelo filósofo britânico 
Jeremy Bentham», na sua obra “An Introduction to the Principles of Moral and Legislatin”, 
publicada em 1780, contendo a expressão International Law, em oposição ao National 
Law ou Municipal Law. Desde então, a locução International Law ganhou adeptos um 
pouco por toda a parte e hoje a terminologia largamente triunfante, podendo-se observar 
«no âmbito das línguas mais conhecidas: Doit Intenational em França, Diritto 
Internacionale em Itália e Direcho Internacional em Espanha, excepto na Alemanha, que 
utiliza mais o vocábulo VolKerrecht ». 
O autor referido afirma ainda que «não se pense contudo, que a fórmula «Direito 
Intenacional Público» ou «Direito Internacional» está isento de críticas, o que passamos a 
explicar por três motivos: 
 primo: a locação, ao referir-se a «nações», pode dar a entender que 
não se distingue a nação do Estado, quando é certo ser dois conceitos bem 
diferentes, segundo o demonstra a Teoria Geral do Direito; 
 secundo: os sujeitos internacionais, mesmo com aquela correção, 
não são apenas so estados, mas na respetiva categoria se incluem muitas outras 
entidades, como ficou claro no repúdio de uma conceção meramente estilista do 
Direito Internacional Público; 
 tertio: são hoje muito relevantes as normas que se afiguram 
diretamente multilaterais, não fazendo sentido um intuito meramente inter-
relacional, conexo que está com bilateralismo. 
Atendendo a estas críticas, há quem proponha a expressão «Direito das Gentes» 
ou «Direito dos Povos», que decerto poderia esquivar-se de algumas daquelas objeções. 
Mas ela teria por detrás de si o óbice da ausência de uma tradição, bem como o enorme 
perigo de localizar o Direito Internacional Público numa senda excessivamente 
sociológica, que não é seu melhor lugar, em demasia alargando a sociedade internacional 
aos povos, numa perspetiva mais do futuro longínquo do que propriamente do presente 
em que nos situamos». 
 
 
 
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Para compreender os conflitos internacionais, importa apreciar o sistema de 
política interna e política externa de um estado. Porém, a posição de um estado no 
sistema pode actuar de uma maneira semelhante ou não em relação às posições de 
outros estados, partindo da análise do que acontece no interior das unidades no sistema, 
pois a política interna tem muita relevância no “modus operandi” do estado. O realismo, 
que se apoia bastante no nível de análise sistémico, afirma que “os estados actuarão de 
forma semelhante devido ao sistema internacional”. 
Joseph S. Nye, Jr. afirma: «Duas importantes teorias, Marxismo e leninismo, 
baseiam-se fortemente no segundo nível de análise e na proposição de que os estados 
actuarão de forma semelhante se possuírem as sociedades internas semelhantes. Para 
preverem a política externa, analisam a organização interna do estado. Os marxistas 
defendem que a origem da guerra é o capitalismo» (2000: 50-51). Na opinião de Vladimir 
Ilich Lenine, o capital monopolista precisa da guerra: «Alianças interimperialistas são 
inevitavelmente nada mais do que tréguas nos períodos entre as guerras»8. A guerra 
pode ser explicada pela natureza da sociedade capitalista. O marxismo não foi muito 
bem-sucedido a explicar o início da I GM. Os argumentos que o capitalismo gera a guerra 
não resistem muito bem à experiencia histórica (Joseph S. Nye, Jr., 2000: 51). 
O liberalismo clássico, a filosofia que dominou grande parte do pensamento 
britânico e americano no século XIX, segundo Joseph, chegou à conclusão contrária: os 
estados capitalistas tendem a ser pacíficos porque a guerra é má para o negócio. Uma 
corrente do liberalismo clássico era representada por livre-cambistas como Richard 
Cobden (1804-1865), que conduziram a luta vitoriosa para a revogação das Leis dos 
Cereais inglesas, medidas protecionistas que tinham regulado o comércio internacional 
britânico de cerais ao longo de 500 anos. Como outros economistas britânicos da Escola 
de Manchester, ele acreditava que era melhor comercializar e prosperar do que fazer a 
guerra. Se estamos interessados em ficar mais ricos e melhorar o bem-estar dos 
cidadãos, asseverou Gobden, então o mais indicado é a paz (2000: 51-52). Em 1840, 
 
8 Lenine, V.I. Imperialism: The Highest Stage of Capitalism. Nova Iorque. International 
Publishers. 1977. p. 119. 
 
 
 
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forneceu uma boa expressão da visão clássica ao afirmar: «Podemos preservar o mundo 
da realidade da guerra e acredito que o mundo conseguirá fazê-lo através do comércio»9. 
As concepções clássicas marxista e liberal são opostas na sua visão acerca do 
relacionamentoentre guerra e capitalismo, mas aproxima-se ao localizarem as causas da 
guerra na política interna e, especialmente, na natureza do sistema económico. 
Portanto, Rechard Rosecrancer, em sua obra “The Rise of the Trading State” 
acentua a seguinte visão liberal: «O que é interessante e diferente acerca do mundo 
desde 1945 é que uma estratégia pacífica de comércio está a desfrutar de uma eficácia 
muito maior do que alguma vez no passado. Através de mecanismos de desenvolvimento 
industrial-tecnológico e de comércio internacional e podem realizá-lo enquanto outros 
estados também beneficiam com a intensificação do comércio e crescimento que a 
cooperação económica torna possível»10. 
Infelizmente, a retórica do movimento antimundialização (antiglobalização) tende a 
opor a democracia ao mercado, a lei da cidade ao capitalismo, como se a liberdade do 
comércio tivesse algo de criminoso ou ditatorial. No plano de princípios, ela parece 
esquecer que a liberdade de expressão, a propriedade privada e a possibilidade de nos 
dedicarmos à actividade económica da nossa escolha – pela mesma razão – são 
reconhecidos como direitos do homem em todas grandes declarações (a francesa, a 
americana e a da ONU) e que, em geral, os regimes políticos que autoritariamente 
atacaram a propriedade privada aboliram todas as outras liberdades. No plano dos factos, 
um estudo atendo da situação neste planeta mostraria que, em geral, a economia de 
mercado é mais próspera nos países democráticos e com liberdade política do que nas 
ditaduras (ou nas culturas fechadas) e isto tanto mais quando a tradição democrática é 
antiga e bem segura. Uma lei cívica com vigor – um Estado de direito incontestado – é a 
condição sine qua non para o desenvolvimento dos mercados: respeito dos contratos, 
protecção da propriedade, combate à criminalidade. Ao contrário, a corrupção, a ditadura 
e o poder das máfias desencorajam o crescimento económico. Nos lugares em que o 
 
9 Nota do autor: Richard Gobden, cit. Kenneth N. Waltz, Man, the state, and War: A 
Theoretical Analysis, Nova Iorque, Columbia University Press, 1959, p. 104. 
10 Nota do autor: Rechard Rosecrancer, The Rise of the Trading State: Commerce and 
Conquest in the Modern World, Nova Iorque, Basic, 1986, p. ix. 
 
 
 
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poder público só funciona em proveito de uma burocracia, de uma súcia militar, de um clã 
ou de uma qualquer feudalidade, quando o governo não tem contas a prestar acerca da 
sua gestão ou da sua acção legislativa e judicial, os investidores e os cérebros fogem. Em 
contrapartida, a liberdade política (necessariamente garantida pela lei) e a abertura 
cultural inspiram confiança. Encorajam o espírito de iniciativa e a circulação de 
informações, necessários à vida económica. No princípio do século XXI, um Estado de 
direito forte e democrático de forma alguma se opõe ao capitalismo ou à economia de 
mercado, são aliados um do outro (Lévy, 2002: 159-160). 
O significado mais profundo do movimento contemporâneo de globalização é a 
reunificação e segurança humana. O extraordinário crescimento técnico, económico e 
demográfico por que passamos solta, de certo modo, o grande grito afirmativo, o «sim» 
planetário da humanidade, criador, pensante, comunicante, produtor e comerciante 
conquistou a sua potência mundial11. 
 
2. Conflitos: Noções, Tipologia e Vias de Solução e 
Controle 
Embora os conflitos, designadamente as lutas armadas, «constituam um flagelo 
que até hoje se encontra associado a todas as formas de sociedades, de Estados e de 
organizações políticas e ideológicas» (Bouthoul, 1966: 26), praticamente só a partir do 
início da segunda metade do século XX, em virtude da ameaça de uma guerra nuclear e 
da proliferação de conflitos regionais, se uma investigação concernente ao estudo da 
natureza dos conflitos, das suas características, das estratégias e processos de resolução 
e do aproveitamento das situações conflituosas que envolvem a utilização de material 
bélico e o emprego de forças armadas. 
Um dos pioneiros no estudo dos conflitos foi o professor Quincy Wright que 
organizou investigações sobre a guerra enquanto fenómeno social, cujos trabalhos foram 
reunidos em 1942 na importante obra «The Study of War». 
 
11 Cfr. Lévy, Pierre. Cyberdemocracia. 1.ª ed. Editions Odile Jacob. Lisboa. 2002. pp. 159-
168. 
 
 
 
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Os estudos sobre a problemática dos conflitos mostram-nos que tem sido utilizada 
terminologia diversa e diferente para retratar as situações de antagonismo e 
conflitualidade entre dois ou mais protagonistas internacionais, falando-se em conflitos 
ideológicos, guerras económicas, conflitos revolucionários, guerras religiosas, conflitos 
regionais, guerras de civilizações, etc.; ou utilizando-se as designações de crise, tensão, 
diferendo, litígio, conflito ou guerra, para fazer referência a diferentes graus de 
conflitualidade intranacional e internacional. 
 
2.1. Noções de conflito 
Nos dicionários de Língua Portuguesa encontramos diversas noções de conflito 
tais como: «encontro de elementos ou coisas que se opõem»; «discussão, por vezes 
acompanhada de injúrias e ameaças»; «oposição entre autoridades que disputam entre si 
um direito»; «oposição violenta»; «luta entre potências ou países»; «contenda entre duas 
potências que disputam o mesmo direito, recorrendo, para tal, à utilização de material 
bélico». 
António José Fernandes sublinha a existência, portanto, de diferentes definições de 
conflito, na medida em que respeitam a conflitos de interesses pessoais, a conflitos 
jurídicos, a conflitos entre sociedades politicamente organizadas. Porém, na terminologia 
internacional utiliza-se normalmente o termo conflito para referenciar as situações 
conflituosas onde se praticam atos violentos com intervenção de forças militares e recurso 
a material bélico (2011: 19). 
A nível internacional, a existência de interesses divergentes, de natureza política, 
ideológica, estratégica e económica, implica não somente uma competição, por vezes, 
muito viva, mas também situações de conflito. A passagem da competição à crise, ao 
diferendo, ao litígio e ao conflito surge quando um dos protagonistas internacionais, 
dotado de poder de coagir, entende impor a sua vontade, usando formas de 
constrangimento e ou violando o direito estabelecido. E as condições de conflito estão 
criadas a partir do momento em que os outros actores internacionais não aceitam este 
comportamento (Fernandes, 2011: 19). 
No entanto, esta problemática envolve uma questão teórica que resulta do facto de 
que, em política internacional, as noções de conflito e de cooperação não se excluem 
reciprocamente. Na cena internacional, a política externa dos Estados não se situa num 
 
 
 
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clima de oposição entre a cooperação e o conflito. A própria existência de interesses e 
objetivos que implicam um risco grave de conflito entre Estados pressupõe e exige 
mesmo um certo nível de cooperação entre eles. 
Esta relação dialética singular entre cooperação e conflito, em política 
internacional, oferece a melhor explicação das flutuações ocorridas nas relações 
diplomáticas entre os Estados, mantendo entre si as relações consulares. 
Paz e guerra são dois termos em situações de contrariedade, de oposição. Um 
costuma explicar-se pelo outro. Quando há guerra não existe paz, e se vivemos em paz é 
porque não existe guerra.Zbigniev Brzezinski acentua que a informalidade ocupa assim o espaço preenchido 
pela formalidade e as contendas desenvolver-se-ão com maior acuidade e sob a capa de 
anonimato decorrente da instabilidade geopolítica e das divergências étnicas e religiosas 
(1999: 15). 
No enquanto, o desenvolvimento das pesquisas com vista a preservação da paz 
está ligado aos estudos sobre as guerras, sendo estas ser considerados como um meio 
de favorecer aquela. E o perigo reside no facto de os estudos sobre as guerras vierem a 
ser desviados do seu objetivo – a preservação da paz – e poderem ser utilizados para 
preparar a guerra. Contudo, parece-nos que o desenvolvimento da investigação sobre as 
causas e características dos conflitos podem ajudar a definir estratégias de resolução dos 
mesmos e evitar que estes degenerem em guerra aberta, já que normalmente se recorre 
à guerra para resolver conflitos existenciais entre nações constituídas em Estados ou para 
jugular conflitos intraestatais (entre governos e fações ou grupos étnicos) que lutam pela 
posse do território e pela conquista do poder (Fernandes, 2011: 20). 
As consequências que se deduzem destes conceitos são extremamente 
importantes, mesmo no plano prático. 
 
2.2. Tipologia dos conflitos 
Sublinhamos que a palavra conflito é utilizada com significações diversas. Tanto 
pode respeitar a dissensões interpessoais e a diferendos interinstitucionais, como pode 
referir-se a litígios diplomáticos entre governos ou a luta armada entre Estados. E daí que 
as tentativas de classificação dos conflitos que envolvem duas ou mais sociedades 
politicamente organizadas, e não os conflitos interpessoais e interinstitucionais. 
 
 
 
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As tipologias dos conflitos internacionais têm obedecido a diferentes perspetivas 
teóricas de análise e assentam em critérios distintos. Alguns autores baseiam-se nas 
características dos conflitos para elaborar uma classificação; e outros enumeram os 
conflitos em função das causas que presumivelmente lhes estão na origem (Fernandes, 
2011: 21). 
 Robert Bosc, depois de referir que um dos primeiros sociólogos da guerra, 
Novicow, distinguia quatro formas de luta das sociedades pela existência (fisiológica, 
económica, política e intelectual) e contava que as lutas fisiológicas pela sobrevivência 
tendiam a desparecer e mesmo as guerras económicas pela acumulação e apropriação 
das riquezas seriam, cada vez mais rapidamente, substituídas pelas guerras políticas de 
conquista, de anexação e de prestígio, e pelas guerras ideológicas, religiosas ou 
revolucionárias, identificou três tipos de conflitos internacionais (1965: 78-79): 
1. Os conflitos ideológicos, onde a luta pelos ideais e pelo modo de vida 
é preponderante, sem excluir outros aspetos, eram produtos de rivalidades Leste-
Oeste. 
O mundo capitalista e o mundo comunista lutavam menos para conquistar território 
do que para possuir o coração dos homens, isto é, para atrair os homens para a sua 
escala de valores moldada pela respectiva concepção do mundo e da vida. Onde existe 
este tipo de conflitos, não é possível um compromisso no plano das ideias (Fernandes, 
2011: 21). 
2. Os conflitos de interesses, em que os interesses económicos ou 
políticos estão em primeiro plano, são típicos de guerras clássicas por um território, 
por uma riqueza natural, por uma fronteira. 
O problema das fronteiras físicas tem constituído também objecto de lutas 
sangrentas: outrora na Europa, mais recente no Médio Oriente, na Ásia e na África. Ao 
contrário dos conflitos ideológicos, os conflitos de interesses podem ser equilibrados pelo 
estabelecimento de compromissos: os bens materiais repartem-se mais facilmente do que 
as ideias (Fernandes, 2011: 22). 
3. Os conflitos revolucionários, característicos das guerras de 
emancipação nacional e colonial, apresentam a originalidade de serem 
simultaneamente conflitos de interesses e conflitos ideológicos. 
 
 
 
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Os conflitos revolucionários são, pois, os mais difíceis de resolver pacificamente, 
porque, excluem, à partida, a tolerância e o compromisso. A guerra da Argélia, a revolta 
de Mau-Mau no Quénia ou de Fidel Castro em Cuba e as guerrilhas de Mao Tse-Tung na 
China os movimentos anticolonialista em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, são tipos 
perfeitos da guerra revolucionária (Fernandes, 2011: 22). 
Por sua vez, S. P. Huntington, baseando-se nas características dos conflitos, 
distingue as guerras civilizacionais dos outros tipos de conflitos comunitários, discorrendo 
da seguinte modo: «os conflitos civilizacionais são conflitos comunitários entre Estados. 
As guerras civilizacionais são conflitos desse tipo que se tornaram violentos. Estas 
guerras podem ocorrer entre Estados, entre grupos não-governamentais e entre Estados 
e grupos não-governamentais. (…). Os conflitos civilizacionais são, por vezes, lutas pelo 
controlo da população. Contudo, na maior parte das vezes, são lutas pelo controlo do 
território (…). As guerras civilizacionais apresentam algumas características comuns com 
as guerras comunitárias em geral. São conflitos prolongados (…). Envolvendo questões 
fundamentais da identidade e do poder do grupo são difíceis de resolver por via da 
negociação ou do conflito (…). Embora as guerras civilizacionais têm em comum com as 
outras guerras comunitárias a duração prolongada, altos níveis de violência e 
ambivalência ideológica, diferente delas de dois modos. Primeiro, as guerras comunitárias 
podem ocorrer entre grupos étnicos, religiosos, raciais ou linguísticos. Contudo, dado que 
a religião é a principal característica definidora das civilizações ocorrem quase sempre 
entrepovos de religiões diferentes (…). Segundo, as guerras comunitárias tendem a ser 
particularistas, e como tal, é muito pouco provável que alastrem e venham a envolver 
outros participantes. Em contrapartida, as guerras civilizacionais ocorrem, por definição 
entre grupos que pertencem a entidades culturais mais vastas» (1999: 297-298). 
Recorrendo ao carácter dimensional dos conflitos, Gonidec (1997: 425), 
apresentou uma tipologia dos conflitos internacionais com base na quantidade e 
qualidade dos grupos envolvidos no conflito, na extensão geográfica com este abrangida 
e na dimensão do objeto do conflito e dos meios utilizados pelos protagonistas, por 
exemplo, dois ou vários intervenientes, por um lado, e Estados, organizações 
internacionais, sociedades multinacionais e grupos organizados, por outro. 
 
 
 
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Se atender à extensão geográfica coberta pelos conflitos, pode-se distinguir os 
conflitos internos com dimensão internacional dos conflitos internacionais propriamente 
ditos. 
Os conflitos internos são, em princípio, excluídos do domínio internacional, em 
virtude de constituir um assunto interno. No entanto, hoje, parece ser evidente a realidade 
internacional da maior parte dos conflitos internos. O aparecimento e a multiplicação de 
movimento de libertação nacional e a intervenção, aberta ou clandestina, imposta ou 
solicitada, de potências estrangeiras nas lutas de libertação e independência, tornaram 
evidente a dimensão internacional de muitos conflitos internos (Fernandes, 2011: 24). 
Quanto aos conflitos internacionais propriamente ditos, o critério geográfico permite 
distinguir entre conflitos locais, regionais e planetários. Este critério facilita apreciar 
também a gravidade dos conflitos e possibilita determinar, em certa medida, as instâncias 
qualificadas para tentar encontrara sua solução. 
O critério relativo ao objecto dos conflitos permite distinguir os conflitos jurídicos 
dos conflitos políticos (distinção que interessa sobretudo aos processos de resolução); e 
permite também distinguir os conflitos em função dos antagonistas. Os conflitos podem 
preservar o essencial do «statu quo» ou introduzir uma transformação de ordem 
qualitativa. Esta distinção reveste-se de grande importância, porque permite entender a 
diversidade das reacções perante os conflitos (Fernandes, 2011: 25). 
Este critério permite, ainda, distinguir os conflitos que têm um objecto preciso e 
ilimitado, cujas pretensões são nitidamente afirmadas, dos conflitos que têm um carácter 
mais vago, mais difuso, e que podem abranger uma série de questões e problemas. 
O critério concernente aos meios utilizados pelas partes em confronto permite 
avaliar a intensidade dos conflitos internacionais, bem como o seu carácter legal ou ilegal. 
Geralmente, a atenção é polarizada pelos conflitos que envolvem a força armada ou a 
ameaça do emprego da força armada. Porém, existem outros meios de fazer a guerra; 
isto é, há felizmente muitos conflitos internacionais que não comportam o recurso ao 
emprego de forças armadas e à utilização de material bélico. 
Silviu Brucan (1977: 101 e segs.), baseando-se na análise da natureza dos 
conflitos, identificou os seguintes tipos de conflitos internacionais: 
1. Conflitos suscitados pelo jogo das grandes potências, pelas 
rivalidades estratégicas e pela evolução do recurso ao armamento; 
 
 
 
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2. Conflitos engendrados pelas diferenças de superfícies, de 
poderio militar, de população, etc., entre as nações; 
3. Conflitos resultantes de situações, criadas há longa data, de 
dependência e dominação devidas às diferenças de níveis de 
desenvolvimento económico e técnico; 
4. Conflitos derivados da oposição entre sistemas e edeologias 
socioeconómicas divergentes; 
5. Conflitos causados pelas mutações sociais ou pelas guerras 
civis nas quais estão implicadas potências estrangeirais; 
6. Conflitos provocado por um litígio entre dois países em 
circunstâncias particulares. 
Silviu Bucan observou que «à medida que prosseguem os estudos demostrou-se 
cada vez mais claramente que estes diferentes tipos de conflito não podem ser 
considerados isoladamente, porque põem em evidência pontos de encontro e interacções 
entre as diferentes causas dos conflitos, de tal sorte que, na maior parte dos casos, os 
conflitos reais representam uma combinação de dois ou três tipos». 
Não sendo possível determinar corretamente as causas que estão na origem dos 
conflitos internacionais, podendo a sua evolução alterar o seu carácter dimensional, as 
tipologias atrás explicitadas são passíveis de críticas: 
a) Do ponto de vista científico, é difícil distinguir os conflitos de 
interesses dos conflitos ideológicos, na medida que o conceito de ideologia 
compreende uma certa conceção do mundo e da vida assente numa escala de 
valores que implica a defesa de interesses específicos; 
b) Não é fácil distinguir os conflitos civilizacionais dos conflitos 
comunitários; 
c) É mais difícil distingui-los dos conflitos revolucionários e dos conflitos 
religiosos; 
d) Não é fácil separar os conflitos resultantes da oposição entre 
sistemas e ideologias socioeconómicas divergentes dos conflitos suscitados pelo 
jogo das grandes potências, pelas rivalidades estratégicas e pela evolução do 
recurso ao armamento; 
 
 
 
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e) Muito mais difícil é ainda, separar os conflitos jurídicos dos conflitos 
políticos, já que todos os conflitos internacionais são indissociáveis de opções 
políticas. Aliás foi o próprio Carl von Clausewitz que definiu a guerra como «a 
continuação da política por outros meios». Axioma que Vladimir Ilitch Lénine 
transformou em «a política é a continuação da guerra por outros meios», e que 
encontrou a sua última versão na definição de Joseph Stálin: «a política é a 
preparação da guerra». 
Os conflitos são, pois, fenómenos sociais muito complexos, que resultam sempre 
de uma decisão (acto político), comportam vários elementos e apresentam 
simultaneamente várias aspectos. Conforme sublinhou Gaston Bouthoul (1966: 24), 
«cada guerra é ao mesmo tempo, política, porque os governos nele desempenham um 
papel, - religiosas, porque nas guerras interferem, de uma maneira ou de outra, crenças, 
dogmas e princípios, - demografia, porque a guerra utiliza massas humanas, e, quanto 
mais não seja, deixa rastos nas estatísticas da mortalidade, - económica, porque não há 
guerra sem deslocação e destruição de riquezas, mesmo quando entre os contendores 
não exista uma prévia rivalidade económica. Em vão se buscaria um exemplo de conflito 
de alguma importância que não apresente todas as características». 
Por conseguinte, não é fácil distinguir objetivamente uns conflitos dos outros com 
base nas suas características ou nas causas que presumivelmente estão na sua origem. 
Por isso, o único critério cientificamente válido para classificar os conflitos parece se 
aquele que permite distingui-los em função da sua extensão geográfica e o número de 
interveniente de forma dinâmica, parecendo-nos plausível a distinção entre conflitos 
locais, conflitos regionais e conflitos mundiais ou planetários. 
 
2.3. Vias de solução e controle dos conflitos internacionais 
A problemática da resolução dos conflitos internacionais engloba: i) às vias de 
solução e controlo dos conflitos, ii) aos intervenientes nos processos e iii) aos meios e 
técnicas utilizados. 
Na etapa contemporânea, o recurso à guerra para punir uma violação dos direitos 
e liberdades ou para tentar dominar a violência organizada é impensável, torna-se 
necessário encontrar vias de solução pacífica das controvérsias internacionais para evitar 
que las degenerem em guerras declaradas. E mesmo se a evolução dos conflitos chega 
 
 
 
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ao extremo da utilização das forças armadas, mais necessário se torna ainda procurar 
vias de solução pacífica, em conformidade com as prescrições da Carta das Nações 
Unidas. 
Por outro lado, a tentativa de solucionar pacificamente os conflitos implica 
compreender as estratégias e os processos de resolução de conflitos internacionais: a) a 
escolha de determinada via; b) a opção por este ou aquele mecanismo de resolução; e c), 
consequentemente, determina a natureza dos intervenientes no processo de solução. 
Não obstante os filósofos, os juristas, os sociólogos e os politólogos entenderem, 
muitas vezes, a guerra como um instrumento necessário ao progresso, ou como último 
argumento contra a injustiça, tentaram sempre, ao longo da história, controlar, limitar ou 
solucionar os conflitos internacionais, sem utilizar, ou aumentar, o emprego da forma 
armada. 
“Duas vias, então, se lhes depararam: uma consiste em reduzir as manifestações 
de violência às regras de direito e da moral; a outra tem por objecto submeter os conflitos 
à análise sociológica dos factores que provocam a sua eclosão e desenvolvimento” 
(Fernandes, 2011: 50). 
A via de redução das manifestações de violência às regras de direito e da moral 
deu origem a uma teoria moral da guerra justa e a uma doutrina jurídica da guerra, 
prosseguida com a convicção de que a renovação do direito internacional e da diplomacia 
e o desenvolvimento de uma educação política permitirão solucionar e controlar mais 
eficazmente os conflitos internacionais. Os defensores desta via, rejeitando o dogmatismo 
defendem a possibilidade

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