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Fábio Duarte Carneiro Filho – Medicina P4 2 Puberdade precoce e SOP 1.Entender a fisiopatologia da puberdade precoce e classificar os seus tipos. Introdução Puberdade precoce é o início da maturação sexual antes dos 8 anos de idade nas meninas ou 9 anos nos meninos. O diagnóstico é feito em comparação com os padrões populacionais, radiografia das mãos e do punho esquerdos para avaliar a idade óssea e conferir possível avanço do desenvolvimento ósseo e avaliação dos níveis séricos das gonadotrofinas e esteroides gonadais e das suprarrenais. O tratamento depende da causa. Nas meninas, o primeiro evento puberal é tipicamente o desenvolvimento mamário (telarca), logo depois seguido do aparecimento dos pelos pubianos (pubarca) e axilares e, mais tarde, do primeiro período menstrual (menarca), que tradicionalmente ocorre 2 a 3 anos após a telarca. Por isso o diz-se que o desenvolvimento na mulher é TPM: telarca-pubarca-menarca! Nos meninos, o primeiro marco puberal é tipicamente o aumento do volume testicular, seguido do aumento peniano e do aparecimento de pelos pubianos e axilares. A puberdade precoce pode ser completa (TPM) ou incompleta (ex. T; TP; TM; PM; P etc.). Quase 8 a 10% das meninas brancas, 20 a 30% das meninas negras e uma porcentagem intermediária de meninas hispânicas alcançam a puberdade aos 8 anos. A puberdade precoce é de 10 a 23 vezes mais frequente em meninas do que em meninos! Classificação A puberdade precoce pode ser classificada em 2 tipos: · Dependente do GnRH (puberdade precoce central) · Puberdade precoce independente do GnRH (efeitos periféricos do hormônio sexual) Em geral, a puberdade precoce dependente de GnRH é mais comum de modo geral e 5 a 10 vezes mais frequente em meninas. Na puberdade precoce dependente de GnRH, o eixo hipotálamo-hipofisário é ativado, resultando no aumento da secreção do GnRH, o qual estimula a secreção dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH), que por sua vez estimularão a secreção dos esteroides sexuais e promoverão a gametogênese. Pode ter sua etiologia em uma lesão identificável subjacente, incluindo: · Tumores intracranianos, especialmente na região do hipotálamo ou da glândula pineal; · Harmatomas, gliomas, germinomas e adenomas. · A neurofibromatose e algumas outras doenças raras também podem estar relacionadas à puberdade precoce. · A puberdade precoce central também pode ser decorrente de causas iatrogênicas (p. ex., cirurgia, radioterapia ou quimioterapia para tratamento de câncer). · História familiar de puberdade precoce dependente da GnRH é outro fator de risco. Identificaram-se mutações em vários genes até o momento, mas os testes ainda são incipientes. A puberdade precoce independente do GnRH é muito menos comum. As características sexuais secundárias são o resultado de níveis circulantes elevados de andrógenos ou estrogênios, sem ativação do eixo hipotálamo-hipofisário. A etiologia da puberdade precoce independente do GnRH está sujeita ao efeito do hormônio sexual predominante (estrogênico ou androgênico), e as alterações físicas são muitas vezes acentuadamente discordantes do desenvolvimento puberal normal. Defeitos enzimáticos adrenais, especificamente a hiperplasia adrenal congênita, são a forma patológica mais comum do excesso de androgênios em crianças de ambos os sexos. Em ambos os sexos, o aparecimento dos pelos pubianos e axilares é denominado adrenarca. Crianças com adrenarca precoce podem ter sinais de produção adrenal de androgênios (p. ex., pelos pubianos, acne, odor corporal), que progridem lentamente sem aceleração do crescimento linear. A adrenarca prematura pode estar associada ao desenvolvimento posterior da síndrome do ovário policístico na adolescência. São os 3 PP SÓ 1 TELARCA PRECOCE por ex. 2.Descrever os fatores de risco, quadro clinico, diagnóstico e tratamento da puberdade precoce. Sinais e sintomas Em meninas, os seios se desenvolvem e aparecem pelos pubianos, pelos axilares ou ambos. Meninas podem começar a menstruar. Nos meninos, aparecem pelos faciais, axilares e pubianos e aumento peniano, com ou sem aumento do volume testicular, dependendo da etiologia. Odor corporal, acne e alterações de comportamento podem se desenvolver em ambos os sexos. Surto de crescimento puberal é visto em ambos os sexos (com início em meados da puberdade nas meninas, e entre o início e meados da puberdade em meninos), mas o fechamento prematuro das epífises resulta em baixa estatura na idade adulta, ou seja, é aquela menina que cresce muito rápido e depois estagna. O aumento do volume testicular ou ovariano que ocorre na puberdade precoce está ausente na adrenarca precoce isolada. Algumas considerações: Normalmente as crianças com puberdade precoce tem uma alteração na proporção corporal, uma vez que as epífises fecham e seus membros param de crescer (ficando com tronco mais alongado e membros mais curtos). As meninas com puberdade precoce também têm mais risco de desenvolver câncer de ovário e mama, pois ficam expostas por mais tempo ao estrógeno. Por isso é tão importante o tratamento precoce. Fatores de risco · Prematuridade · Baixo peso ao nascer · Obesidade Diagnóstico · Radiografias para idade óssea · Níveis dos hormônios séricos · Possibilidade de ultrassonografia pélvica e RM cerebral O diagnóstico da puberdade precoce é clínico. Radiografias da mão e do punho esquerdos avaliam a maturação óssea e analisam sua aceleração do crescimento como resultado da atuação dos hormônios sexuais. Diferencia periférica e central pela dosagem de LH pós sensibilização de GNRH. Tratamento · Agonista do GnRH (puberdade precoce dependente do GnRH) · Antagonista de andrógenos ou estrógenos (puberdade precoce independente do GnRH) · Retirada de tumor, se necessário O tratamento não é necessário para adrenarca ou telarca prematuras, porém a reavaliação de rotina é importante para prevenir a possibilidade de puberdade precoce futura. No caso da puberdade precoce dependente do GnRH, a secreção hipofisária de LH e FSH pode ser suprimida por agonistas do GnRH, como acetato de leuprolida 7,5 a 15 mg IM a cada 4 semanas, 11,25 ou 30 mg IM a cada 12 semanas ou 45 mg a cada 24 semanas, triptorelina 22,5 mg a cada 6 meses ou implantes de histrelina (trocados anualmente). A resposta ao tratamento deve ser monitorada, e as doses modificadas, se necessário. O tratamento pode ser mantido até os 11 anos em meninas e até os 12 anos de idade em meninos. Em meninas com a síndrome de McCune-Albright, inibidores de aromatase como letrozol e anastrozol, têm sido usados com sucesso variável para reduzir o estradiol. Essa síndrome é uma desordem genética que consiste em uma tríade de displasia fibrosa poliostótica, manchas cutâneas café-com-leite e endocrinopatias hiperfuncionantes. Se, nos meninos, a puberdade precoce independente do GnRH se dever a precocidade familiar masculina independente das gonadotrofinas ou síndrome de McCune-Albright, o uso de antagonistas androgênicos (p. ex., espironolactona) melhora os efeitos do excesso de andrógenos. 3. Conceituar a Síndrome do Ovário Policístico e sua epidemiologia, diagnóstico, quadro clínico, fisiopatologia, evolução e tratamento. Introdução A SOP é a endocrinopatia mais comum na vida reprodutiva da mulher e a causa mais comum de hiperandrogenismo, anovulação crônica, amenorreia, hirsutismo e infertilidade por fator ovulatório. Epidemiologia · É encontrada em aproximadamente 80% dos casos de hiperandrogenismo em mulheres · Afeta em média 5-10% das mulheres em idade reprodutiva · Pode ser identificada em 30-40% das pacientes inférteis · Pode ser identificada em 90% das pacientes com ciclos irregulares Fisiopatologia A exata fisiopatologia da SOP não é totalmente esclarecida. Estudos apontam que sua etiologia é de origem genética multifatorial e poligênica, em virtude do acumulo de casos dentro de mesmas famílias. Em geral, os genes supostamente envolvidos estão relacionados com a síntese de androgênios e à resistência à insulina. Inclusive, estudos sugerem queas alterações tem início na fase fetal, na qual elevados níveis séricos maternos de androgênios e/ou insulina influenciam na programação genética, que predispõe ao desenvolvimento de SOP. A base da fisiopatologia da SOP é o hiperandrogenismo! Acerca disso, vale salientar: Hiperandrogenismo Algumas causas Inibição da secreção/pulsatilidade do FSH Desregulação da enzima formadora de androgênios (CYP17 e Citocromo P450) Diminuição da atividade da aromatase ovarina e aumento da atividade da aromatase periférica Alguns efeitos Maior produção ovariana da androgênios!!! Aumento da testosterona livre e total Aumento da relação LH/FSH Obs: atualmente, acredita-se que os ovários policísticos sejam consequência, e não causa do quadro de anovulação. Vale salientar que o hiperandrogenismo e a anovulação crônica podem ser causados por anormalidades em quatro “setores” do corpo: ovários, hipotálamo-hipófise, adrenais e compartimento periférico (pele e adiposo). No entanto, os ovários são o compartimento mais consistente nessa fisiopatologia. Modelo explicativo para instalação/manutenção da SOP no caderno. Papel da obesidade A obesidade é comumente encontrada em pacientes com SOP e interferem no processo ovulatório de três formas: · Aumento da aromatização periférica de androgênios em estrogênios (estrona); · Inibição da síntese hepática de SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais), o que aumenta a fração livre de estradiol e testosterona; · Aumento dos níveis de insulina que, por sua vez, atua de forma sinérgica com as gonadotrofinas (LH) e estimulam a síntese de androgênios pelas células da teca no estroma ovariano. Obs1: a paciente do problema apresentou acantose nigrans, que pode ser explicada pelo papel da insulina, em níveis elevados. Obs2: a insulina altera a esteroidogênese ovariana de forma independente da secreção de gonadotrofinas na SOP. Dessa forma, a hiperinsulinemia é capaz de contribuir para o hiperandrogenismo ovariano. Obs3: LH - ESTIMULA - células da teca, que convertem colesterol em testosterona e androstenediona. FSH – ESTIMULA – células da granulosa, que convertem esses hormônios em estrona e estradiol (pela AROMATIZAÇÃO). LH/FSH >1 sugestiva de PP central. Clínica Irregularidade menstrual · Oligomenorreia/amenorreia; · Sangramento uterino disfuncional (estimulo estrogênico constante, resultando em sangramento com padrão imprevisível; pode produzir hiperplasia endometrial e até mesmo carcinoma). Hiperandrogenismo · Hirsutismo (o mais comum – presença de pelos em locais incomuns para mulheres); · Acne; · Seborreia; · Alopecia androgênica; Sinais de masculinização: aumento do timbre da voz também podem ocorrer em outras doenças como tumores. Obesidade IMC >30. Resistência à insulina Acantose nigrans é um marcador cutâneo clássico de resistência insulínica. Intolerância à glicose e diabetes mellitus tipo 2 Pacientes com SOP tem uma disfunção nas células beta pancreáticas, por isso apresentam um maior risco de intolerância à glicose e DM tipo II. Dislipidemia Prevalência próxima de 70%. Níveis elevados de LDL e triglicerídeos. Hipertensão arterial sistêmica Aumento na incidência de HAS. Síndrome metabólica Caracterizada por resistência à insulina, obesidade, dislipidemia aterogênica e HAS. Prevalência de 45%. Infertilidade Muito frequente e resulta em ciclos anovulatórios. Abortamento precoce Mulheres que engravidam com SOP têm uma taxa elevada (30-50%) de chance de abortamento precoce, em comparação com aa população normal (15%). Complicações na gravidez Risco 2-3x maior de diabetes gestacional, parto prematuro, pré-eclâmpsia e mortalidade perinatal. Apneia obstrutiva do sono Está associada a obesidade e resistência a insulina. Distúrbios psicológicos Podem apresentar ansiedade, depressão, baixa autoestima etc. Diagnóstico As mulheres afetadas devem possuir pelo menos dois dos seguintes critérios: 1. Oligo-ovulação ou anovulação 2. Hiperandrogenismo clinico ou bioquímico 3. Ovários policísticos identificados na USG No entanto, como outras condições podem apresentar essas repercussões, a SOP, atualmente, é um diagnóstico de exclusão. Critérios de Rotter-dam Apresentar duas das seguintes condições 1. Oligo-ovulação ou anovulação; 2. Sinais de hiperandrogenismo 3. Ovários policísticos Em função desses critérios, podemos classificar pacientes com SOP em quatro fenótipos: SOP grave anovulação; hiperandrogenemia; ovários policísticos Anovulação/hiperandrogenemia anovulação e hiperandrogenemia SOP ovulatória hiperandrogenemia e ovários policisticos SOP moderada anovulação e ovários policísticos Tratamento Em geral, o tratamento depende do objetivo final e da gravidade de sua disfunção endócrina: Controle da irregularidade menstrual - Redução de peso, pois reduz a insulina, o que consequentemente diminui o estimulo a produção androgênica (se dá pela pelos receptores de IGF nas células da teca). - Anticoncepcionais combinados orais (ACO) Tratamento do hirsutismo Desejo de gestação Manejo da resistência insulínica 4. Abordar o aspecto psicológico da paciente com SOP e puberdade precoce. As pessoas com PP sofrem uma desconexão entre o crescimento físico e emocional, “corpo de adulto em uma mente de criança”. Por exemplo: alguns brinquedos tem limite de tamanho, e a menina por ser grande demais tem seu direito cerceado. Isso pode gerar uma série de problemas psicológicos, como a depressão.