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- -1 RESPONSABILIDADE CIVIL RESPONSABILIDADE CIVIL E ELEMENTOS CARACTERIZADORES Bruna Souza da Silva - -2 Olá! Você está na unidade Abordaremos aqui os elementosResponsabilidade Civil e Elementos Caracterizadores. caracterizadores do instituto da responsabilidade civil: o ato jurídico, o dano, o elemento subjetivo do agente e o nexo de causalidade. Também serão estudadas as hipóteses excludentes de reponsabilidade e a responsabilidade civil decorrente do descumprimento de obrigações contratuais. Bons estudos! - -3 1. Elementos Caracterizadores da Responsabilidade Civil No ordenamento jurídico brasileiro, o instituto da é entendido como a atribuição doresponsabilidade civil resultado de uma conduta antijurídica com a necessidade de que o agente responsável pela conduta indenize aquele titular de direito que teve uma repercussão negativa em sua esfera jurídica. Pereira (1999) define a responsabilidade civil como a obrigação de reparar o dano imposta aos indivíduos que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem. De modo geral, a responsabilidade civil no Direito Brasileiro está vinculada à , ou seja,perspectiva subjetiva está relacionada aos elementos de dolo ou culpa do agente na prática do ato ilício. Significa que o ato comissivo (positivo) ou omissivo (negativo) deve ter sido praticado com dolo - a intenção de provocar o resultado danoso – ou com culpa – situações de negligência, imprudência ou imperícia. Pereira (1999, p. 29), aponta que somente pode ser atribuída a responsabilidade subjetiva a alguém se for constatado que o seu comportamento contribuiu para o prejuízo sofrido: “A essência da responsabilidade subjetiva vai assentar, fundamentalmente, na pesquisa ou indagação de como o comportamento contribui para o prejuízo sofrido pela vítima”. Há algumas hipóteses de , entre elas a do Estado, que independe de dolo ou culpa - sobre a qualresponsabilidade civil objetiva falaremos brevemente adiante – e a das clínicas e hospitais particulares, prestadores de serviço com relação à estrutura oferecida, por se configurar nesta hipótese relação de consumo nos termos do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, há que se aplicar sempre a regra geral do disposto nos artigos 186 e 927 do Código Civil de 2002, que exige a ocorrência de dano e a culpa ou dolo por parte do agente, posto que ausentes os pressupostos da obrigação de indenizar censurável se mostra à pretensão daqueles que ajuízam ações pleiteando a indenização sem comprovar o cumprimento dos requisitos. Como dito anteriormente, a responsabilidade civil está associada ao elemento subjetivo, somente sendo cabível indenização quando comprovada a culpa ou dolo do agente. Sobre os conceitos de e , apontou Gonçalves (2003, p. 32): “O dolo consiste na vontade de cometer umadolo culpa violação de direito e a culpa, na falta de diligência. Dolo, portanto, é a violação deliberada, consciente, intencional, do dever jurídico”. Segundo entendimento jurisprudencial consolidado, a ausência de ação ou omissão voluntária imputável ao agente, impede a sua responsabilidade civil, tendo em vista se tratar de um dos seus pressupostos. Monteiro (1969, p. 418) pontua que diante da ausência de ato culposo, inexiste a obrigação de reparar dano: “Em princípio, para que haja responsabilidade, é preciso que haja culpa; sem prova desta, inexiste obrigação de reparar o dano”. Portanto, no que tange ao entendimento genérico sobre o instituto jurídico da responsabilidade - -4 civil, aqueles que praticarem atos ilícitos e, em razão disso, causarem dano a outrem, somente podem ser responsabilizados se tiverem agido, comprovadamente, com culpa ou dolo. 1.1 Ato ilícito: conceito e elementos De acordo com Gonçalves (2011), a violação do dever jurídico de não lesar outrem pressupõe que o agente tenha consciência da antijuridicidade do ato praticado. Nesse sentido, Pereira (2011) conceitua o – tantoato ilícito civil como penal -, como a violação de um dever preexistente a imputação do resultado à consciência do agente. Segundo o autor, atos ilícitos são condutas humanas contravenientes à ordem jurídica, sendo impossível que gere uma situação em benefício do agente por ser “lesivo a direito de outrem”. Logo, Pereira (2011, p. 548) afirma que: Como categoria abstrata, o ato ilícito reúne, na sua etiologia, certos requisitos que podem ser sucintamente definidos: a) uma conduta, que se configura na realização intencional ou meramente previsível de um resultado exterior; b) a violação do ordenamento jurídico, caracterizada na contraposição do comportamento à determinação de uma norma; c) a imputabilidade, ou seja, a atribuição do resultado antijurídico à consciência do agente; d) a penetração da conduta na esfera jurídica alheia, pois, enquanto permanecer inócua, desmerece a atenção do direito. Veja a seguir os tipos de atos ilícitos: Intencionais ou não; Por comissão ou omissão; Por descuido ou imprudência; Por imperícia. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /2f98a8d4c2e085043a5b42bf16ba99df https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/2f98a8d4c2e085043a5b42bf16ba99df https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/2f98a8d4c2e085043a5b42bf16ba99df - -5 1.2 Dano: conceito e modalidades O elemento , essencial à caracterização da responsabilidade civil, como visto, caracteriza-se pelo prejuízodano sofrido por alguém em razão da conduta de outrem, seja em sua esfera patrimonial seja em sua esfera extrapatrimonial (sem repercussão direta na esfera financeira daquele que sofreu o prejuízo). Em outras palavras, é a lesão a qualquer bem jurídico protegido Entretanto, não haverá dever de indenizar caso não tenha sido demonstrado o dano causado. É possível verificar, no nosso ordenamento, duas exceções: i. art. 416, caput, do Código Civil: “Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo”; ii. art. 940 do Código Civil: “Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição. ” Para ser indenizável, ainda, é preciso que o dano experimentado seja “atual e certo”. Com relação às modalidades de danos que podem ser causados, Gonçalves (2011) define, em resumo, as possibilidades: i. danos materiais, em que o bem jurídico protegido possui natureza patrimonial e está relacionado ao patrimônio do lesado; ii. danos morais, em que o bem jurídico ofendido possui natureza extrapatrimonial, ofendendo o ser humano, não produzindo este dano efeito patrimonial direto. Os , como dito, possuem repercussão direta no patrimônio do ofendido, e são compostos emdanos materiais regra pelo dano emergente e lucro cessante. Os chamados “ ” são compostos por todas asdanos emergentes despesas realizadas pelo ofendido para restauração de seu patrimônio, ou seja, a efetiva diminuição patrimonial sofrida pela vítima, que pode ser comprovada mediante recibos, notas fiscais, orçamentos, etc. Já os chamados “ ” correspondem àquilo que o ofendido deixou de ganhar em razão do evento danoso, sendo alucros cessantes sua prova um pouco mais complicada. Significa que o lesado terá de fazer prova de tudo aquilo teria ganho se o evento danoso não tivesse ocorrido. A jurisprudência exige, para que se configure tanto, a existência de probabilidade objetiva de que aqueles ganhos ou lucros aconteceriam, e não a mera possibilidade. Sobre a deverá incidir, também, a correção monetária desde a data do eventoindenização por danos materiais danoso, via de regra, nos termos do artigo 389 do Código Civil, interpretado em conjunto com a Súmula nº. 43 do Supremo Tribunal Federal.Incidem, ainda, juros legais nos termos dos artigos 406 e 407 do Código Civil. Ainda em relação aos danos materiais, é possível que seja fixada pensão mensal ao ofendido para custeio de sua sobrevivência ou de seu tratamento, sendo que esta forma de indenização – de natureza civil – não sofre dedução da pensão paga pelo órgão previdenciário oficial. - -6 Já o dano moral, possui e não repercute no patrimônio econômico financeiro docaráter extrapatrimonial ofendido, mas em seus direitos da personalidade, extraídos do art. 1º, III, e art. 5º V e X da Constituição da República de 1988. Tais direitos são: honra, dignidade, intimidade imagem, dentre outros. A ofensa a eles gera comumente sentimentos de vergonha, humilhação, dor, sofrimento e tristeza. Mesmo não tendo repercussão direta no patrimônio da vítima, busca-se por meio do pagamento da indenização em dinheiro uma espécie de compensação ao tormento sofrido, inexistindo atualmente no ordenamento jurídico pátrio um critério objetivo para fixação deste quantum. Mesmo não tendo repercussão direta no patrimônio da vítima, busca-se por meio do pagamento da indenização em dinheiro uma espécie de compensação ao tormento sofrido, inexistindo atualmente no ordenamento jurídico pátrio um critério objetivo para fixação deste quantum. Comum é a distinção, na análise de casos concretos, entre o dano moral e o mero aborrecimento, especialmente se considerarmos o aumento vertiginoso de ações pleiteando danos morais que tramitam nos juizados especiais do país, desde a instituição deste foro em 1995 (lei nº. 9.099). Assim, tendo em vista que nenhuma indenização deve ter o fito de enriquecer o lesado às custas do empobrecimento do ofendido, mas também considerando que deve ter o caráter reparatório à vítima e desmotivador ao agente, foi-se ao longo dos anos estabelecendo a separação do tratamento dos fatos concretos. Caracterizam-se como (a depender damero aborrecimento confirmação no caso concreto) hipóteses quotidianas cujo sofrimento causado não tende a permanecer no tempo como, por exemplo, o exame de bagagens de passageiros na alfândega de um aeroporto ou rodoviária. O fundamento jurídico para reparação pelo dano moral pode ser extraído diretamente da Constituição de 1988, em seu artigo 5, sem maiores controvérsias (BRASIL, 1988): V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; A doutrina também menciona a existência do , normalmente associado às condutas de lesãodano estético corporal de natureza grave, em que a deformidade física geral tristeza, vexame e humilhação, gerando o direito à indenização. O dano estético não se confunde com o dano moral e com o dano material mas pode gerar repercussões nas duas esferas, ou seja, de ressarcimento das despesas incorridas em tratamentos e medicamentos, assim como lucros cessantes, caso o ofendido dependa de sua aparência para trabalhar – dano material – e de reparação pela ofensa a seus direitos de personalidade – dano moral. Nos últimos anos, tem-se falado também nos “ ” que não se enquadram como dano material, moraldanos sociais ou estético. De igual forma, o chamado dano social não é sinônimo de dano moral coletivo. Os danos sociais são - -7 lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida e podem ser causa, de indenização por dolo ou culpa grave especialmente se causam redução coletiva de segurança ou trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da população. Alguns exemplos de danos sociais fornecidos pela doutrina são: o pedestre que joga papel no chão, o passageiro que atende ao celular no avião, o pai que solta balão com seu filho. Tais condutas socialmente reprováveis podem gerar danos como o entupimento de bueiros em dias de chuva, problemas de comunicação do avião causando um acidente aéreo, o incêndio de casas ou de florestas por conta da queda do balão etc. Figura 1 - Lixo jogado no mar, um exemplo de dano social Fonte: chaiyapruek youprasert, Shutterstock, 2020 #PraCegoVer: Vemos na imagem algumas garrafas de plástico poluindo o oceano. Diante da prática dessas condutas socialmente reprováveis, o juiz deverá condenar o agente a pagar uma indenização de caráter punitivo, dissuasório ou didático, a título de dano social. O valor da indenização é destinado à coletividade (e não à “vítima” imediata). Conforme explica Tartuce (2013), os danos sociais são difusos e a sua indenização deve ser destinada não para a vítima, mas sim para um fundo de proteção ao consumidor, ao meio ambiente etc., ou mesmo para uma instituição de caridade, a critério do juiz. - -8 1.3 Nexo de Casualidade O é um dos elementos da responsabilidade civil porquanto deve-se poder concluir que,nexo de casualidade sem a conduta antijurídica, não haveria dano por parte do ofendido. O artigo 186 do Código Civil exige, para configuração do dever de indenizar, que a conduta ilícita tenha causado o dano experimentado. Para identificar este elemento, que possui , é preciso que exista relação de causa e efeito direta enatureza lógico-jurídica imediata entre a conduta e o dano, nos termos do art. 403 do Código Civil. É a chamada “teoria dos danos ”, em que o agente que praticou o ato ilícito responde diretamente (de forma imediata)diretos e imediatos pelos danos causados por sua ação ou omissão. - -9 1.4 Culpa : dolo e culpalato sensu A presença do elemento , enquanto elemento de consciência do sujeito (elemento subjetivo), é requisitoculpa para a configuração da responsabilidade no âmbito da teoria subjetiva, majoritariamente adotada pelo nosso ordenamento jurídico. Partindo desse pressuposto, tem-se o instituto da culpa definido no art. 186 do nosso Código Civil caracterizado pela ação ou omissão voluntária, negligência e imperícia. Nesse sentido, segundo Gonçalves (2011, p. 68): Agir com culpa significa atuar o agente em termos de, pessoalmente, merecer a censura ou reprovação do direito — o que só pode ocorrer quando, em face das circunstâncias concretas da situação, caiba afirmar que ele podia e devia ter agido de outro modo. O critério para aferição da diligência exigível do agente, e, portanto, para caracterização da culpa, é o da comparação de seu comportamento com o do homo medius, do homem ideal, que diligentemente prevê o mal e precavidamente evita o perigo. A chamada culpa em sentido amplo pode ser identificada com o dolo, ou seja, situação em que a conduta foi deliberadamente (voluntária e intencionalmente) adotada pelo agente no intuito de causar dano a outrem. Já a culpa em sentido estrito é aquele em que o dano decorre do comportamento negligente ou imprudente do agente. Já as três situações de cometimento de ato ilícito que vimos anteriormente – negligência, imprudência –, compõem o que se chama de culpa em sentido estrito, no sentido de violação a um dever pré-e imperícia existente sem consciência e intenção de causar dano. O Código Civil, no entanto, não faz distinção alguma entre dolo e culpa, nem entre os graus de culpa, para fins de reparação civil dos danos. Os tipos de culpa são: Contratual ou extracontratual; culpa própria ou culpa de terceiro. - -10 Fique de olho O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os danos materiais, morais e estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis, que diminuem o nível social de tranquilidade. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a condenação por danos sociais somente pode ocorrer em demandas de natureza coletiva, e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de ações coletivas poderiam pleitear danos sociais - -11 2. Excludente deResponsabilidade Civil Há hipótese legais em que, mesmo presentes uma conduta antijurídica e um prejuízo a outrem, não haverá o dever de indenizar em razão de configurada alguma . Dentre elas,causa excludente da responsabilidade civil estão o estado de necessidade e a legítima defesa. O está previsto no nosso Código Civil nos artigos 188, II, 929 e 930. O artigo 188, incisoestado de necessidade II dispõe que não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente. O parágrafo único do mesmo artigo informa que nesse caso o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo. Já o artigo 929 do Código Civil dispõe que mesmo nestes casos o prejuízo causado deve ser reparado, ressalvado pelo art. 930 o direito de regresso daquele de indenizará em face daquele que criou a situação de perigo. A está abarcada no art. 188, I, do Código Civil. Segundo Gonçalves (2011, p. 146):legítima defesa Se o ato foi praticado contra o próprio agressor, não pode o agente ser responsabilizado civilmente pelos danos provocados. Entretanto, se, por erro de pontaria, terceira pessoa foi atingida, deve o agente reparar o dano. Mas terá ação regressiva contra o agressor, para se ressarcir da importância desembolsada (art. 930, parágrafo único). A legítima defesa putativa também não exime o réu de indenizar o dano, pois somente exclui a culpabilidade e não a antijuridicidade do ato. Assim, somente a legítima defesa real, e praticada contra o agressor, deixa de ser ato ilícito, apesar do dano causado. 2.1 Fato de terceiro O pode gerar a exclusão de responsabilidade civil quando se assemelhar às situações de casofato de terceiro fortuito, que possuem a característica de serem imprevisíveis e inevitáveis. Nestas hipóteses não haverá dever de indenizar em razão do rompimento do nexo de causalidade. Segundo Gonçalves, no caso de dois motoristas que colidem no trânsito (2011, p. 139): “Dessa maneira, o causador direto do dano tem a obrigação de repará-lo, ficando com direito à ação regressiva contra o terceiro, de quem partiu a manobra inicial e ensejadora da colisão”. De acordo com o autor, o causador direto do dano só deixará de ter a obrigação de indenizar se sua ação for equiparável ao caso fortuito. - -12 2.2 Culpa exclusiva da vítima A hipótese de ocorre quando somente o comportamento desta pode ser atribuídoculpa exclusiva da vítima como causa do dano sofrido. Assim, rompe-se o nexo de causalidade, elemento necessário à configuração da responsabilidade civil, pelo que não haverá dever de indenizar. Em caso de culpa concorrente da vítima, ou seja, concomitância entre a culpa da vítima e a culpa do agente, a indenização deverá ser reduzida nos termos do art. 945 do Código Civil. 2.3 Caso fortuito e força maior O , previsto no art. 393 do Código Civil, normalmente é associado a ato ou fato alheio à vontade dascaso fortuito partes e a força maior a acontecimentos naturais. Ambos são, portanto, inevitáveis e rompem o nexo de causalidade excluindo o dever de indenizar por falta deste elemento essencial. 2.4 Da cláusula de não indenizar A é o acordo estabelecido entre as partes, com observância da autonomia dacláusula de não indenizar vontade, de que a inexecução do contrato não gerará dever de indenizar para nenhuma das partes. Nos contratos em geral, segundo Gonçalves (2011) a validade desta cláusula estará vinculada à autonomia da vontade, inexistência de vícios de consentimento, não violação à ordem pública, igualdade e equilíbrio na negociação entre as partes e; inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa grave do estipulante e ausência da intenção de afastar a obrigação inerente à função. Nos contratos regidos pelo Direito do Consumidor, tal cláusula não é admitida por disposição expressa dos artigos 24 e 25 do diploma legal. Fique de olho Outra hipótese em que pode deixar de haver a responsabilidade civil será a prescrição da pretensão da reparação dos danos, hipótese na qual não haverá direito a indenização. De modo geral a prescrição para reparação civil será de três anos, conforme estipulado no art. 206, §3º, V, do Código Civil de 2002. Nas relações de consumo, o artigo 27 do CDC determina que o prazo prescricional da pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prescreve em 5 anos, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. - -13 2.5 Teoria de imprevisão A chamada retrata uma possibilidade de – obrigatóriasteoria da imprevisão revisão de cláusulas contratuais entre as partes –, nas hipóteses em que houver mudança nas circunstâncias em que as partes se encontravam quando celebraram o contrato. Ou seja, a situação das partes no momento da execução das obrigações contratuais modifica-se de modo que uma delas fica com obrigação desequilibrada em relação à outra. Tal situação também é conhecida pela expressão , que significa dizer que as obrigaçõesrebus sic stantibus contratuais se mantem na medida em que as circunstâncias da celebração permaneçam as mesmas. Por meio da chamada cláusula , as partes podem ajustar isto expressamente no contrato para fazerrebus sic stantibus compreender que se houver situação imprevista os termos do contrato devem ser ajustados. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /5bbf8bcee253f186a43c2a5cf2348940 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/5bbf8bcee253f186a43c2a5cf2348940 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/5bbf8bcee253f186a43c2a5cf2348940 - -14 3. Responsabilidade civil e contratos O instituto da responsabilidade civil, enquanto obrigação secundária nascida do descumprimento de uma obrigação primária pré-existente, está intimamente relacionado aos , pois os negócios jurídicoscontratos contratuais são uma das principais fontes de obrigações no direito brasileiro. Conforme já se sabe em razão do estudo da teoria dos contratos, são regidos principalmente pelos princípios da autonomia da vontade, bilateralidade, equilíbrio contratual e boa-fé. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /c113169a95558734cfc8adba98b0629c https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/c113169a95558734cfc8adba98b0629c https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/c113169a95558734cfc8adba98b0629c - -15 3.1 Responsabilidade civil e contratos: responsabilidade pré-contratual Conforme demonstra Fiuza (2015) a responsabilidade civil pode aparecer tanto na fase pré-contratual quanto na fase pós-contratual, sendo a semelhança entre ambas que em tais momentos não há, propriamente, contrato. Assim, tanto a responsabilidade pré-contratual como a pós-contratual não há natureza de responsabilidade contratual em si, cabendo a cada uma sua peculiaridade. Na fase pré-contratual, objeto de estudo deste tópico, em que ainda não há contrato e as partes estão em fase de negociações preliminares, ainda assim é possível verificar a ocorrência de ato ilício que gere o dever de indenizar, como o abuso de direito, por exemplo. Um dos principais fundamentos da responsabilidade pré- contratual está no artigo 422 do Código Civil. Em certos tipos de contratos necessário se faz negociar determinadas cláusulas de forma preliminar (além das negociações preliminares, proposta e aceitação), o que já poderia causar danos, conforme aponta Fiuza (2015, p. 341): A responsabilidade pré-contratual tem natureza própria. Se, por um lado, ainda não há contrato, por outro, não se pode equiparar a situação pré-contratual à prática de um ato ilícito stricto sensu, como uma batida de veículos. Já existem tratativas pré-contratuais, e é combase nelas que uma das partes pode vir a responder junto à outra. O fundamento dessa responsabilidade nos dá o próprio Código Civil, ao consagrar o princípio da boa-fé (art. 422) e a responsabilidade pelo abuso de direito (art. 187). É por atentar contra o princípio da boa-fé e seus subprincípios, tais como a transparência, a lealdade, a probidade; é por exercer abusivamente o direito de se retirar, excedendo os limites impostos pela própria boa-fé, que a parte causadora do dano será obrigada a indenizar a outra. De qualquer forma, a responsabilidade, nestes casos, não pode ser transposta para além dos limites do razoável, uma vez que não se pode comparar as negociações preliminares com o contrato em si. Veja a seguir os elementos que configuram a responsabilidade pré-contratual: Existência da relação pré-contratual, ou seja, situação de negociações preliminares, proposta ou aceitação; Conduta antijurídica por uma das partes, em violação a princípios do Direito; Dano (moral ou material); Dolo ou culpa por parte do agente; Nexo de causalidade. - -16 3.2 Responsabilidade civil e contratos: recusa de contratar A figura da está intimamente relacionada com a responsabilidade civil pré-contratual e serecusa de contratar apresenta quando uma das partes, após a fase das negociações preliminares (já nas fases de proposta e aceitação) se recusa a fornecer o serviço ou produto que viria a ser objeto do contrato. AA recusa de contratar está muito relacionada à figura do abuso de direito posto que, ainda inexistente o contrato, ainda inexistente a obrigação principal em si. Em outras palavras, a cláusula de não contratar impõe condições de contratações, como, por exemplo, empresas aéreas que não transportam animais. Importante destacar, portanto, que as cláusulas de não contratar devem conter licitude em seu objeto e não podem ser contrárias ao direito, não podendo ser s (dentre outras possibilidades de ilicitude),discriminatória sob pena inclusive de responsabilização civil e criminal. A cláusula de não contratar poderá ensejar responsabilidade civil (e até criminal) a depender de seu conteúdo antijurídico. Um especial cuidado deve ser tomado com as relações regidas pelo direito do consumidor. Figura 2 - Exemplo de cláusula de não contratar: animais em empresas aéreas Fonte: Monika Wisniewska, Shutterstock, 2020 #PraCegoVer: Vemos na imagem um homem carregando duas bagagens, uma em cada uma das suas mães: de um lado, uma mala; do outro, uma casa plástica com o seu cachorro, acondicionado para viagens de avião. - -17 3.3 Responsabilidade civil e contratos: cláusula de indenizar Por se tratar de , os contratos são também fortemente regidos pelo negócio jurídico bilateral princípio da , sendo que as partes podem pactuar livremente as suas cláusulas desde que não hajaautonomia da vontade violação ao ordenamento jurídico (objeto ilícito). Nesse sentido, as partes também pactuar expressamente cláusula de indenizar referente a todas ou a parte das obrigações contidas no instrumento, estabelecendo limitações em suas hipóteses de ocorrência e valores, como por exemplos os tipos de danos que poderão vir a ser objeto de indenização. Esta possibilidade só existe no caso de obrigações estipuladas por contrato, e não podem violar a ordem pública, a ordem econômica, a finalidade social dos contratos, a boa-fé objetiva, etc. Também não podem eliminar a indenização nos casos de descumprimento doloso do contrato (ou com culpa grave), nem afastar elementos essenciais da natureza do contrato. 3.4 Responsabilidade civil e contratos: responsabilidade pós-contratual A responsabilidade pós-contratual ocorre após a fase de execução do contrato. Nesta fase, o princípio da boa-fé (art. 422 do Código Civil) também é de fundamental importância. Na responsabilidade pós-contratual não há mais contrato – cujo objeto já fora exaurido. Há, na verdade, permanência de alguns deveres das partes decorrentes daquele objeto anterior, como, por exemplo, o dever de garantia de funcionamento de um produto já entregue, por determinado período de tempo. é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender que os principais ensejadores da responsabilidade civil são os atos ilícitos, ou seja, atos jurídicos (humanos) e voluntários contrários ao direito; • compreender que a culpa é elemento subjetivo essencial á responsabilidade civil que foi adotada como regra pelo nosso ordenamento, podendo ser identificada na modalidade de dolo, ou culpa em sentido estrito (negligência, imprudência, imperícia); • entender que o dano é o prejuízo patrimonial (material) ou extrapatrimonial (moral) sofrido pelo lesado e passível de reparação, se houver culpa e nexo de causalidade em relação à conduta; • distinguir as hipóteses de excludentes de responsabilidade mais comuns - culpa exclusiva da vítima e caso fortuito ou força maior; • compreender que as partes devem guardar boa-fé objetiva tanto nas negociações preliminares, formação, quanto na execução dos contratos, mas também após sua conclusão, sob pena de responsabilização por abuso de direito inclusive nas fases pré e pós contratual. • • • • • - -18 Referências GONÇALVES, C. R. Responsabilidade Civil. 8.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. P. 32. MONTEIRO, W. de B. Curso de Direito Civil - Direito das Coisas, 6ª ed., Saraiva, 1969, p. 418. PEREIRA. C. M. da S. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense. 2011. PEREIRA. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense. 1999. STOCO, R. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência.. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011 TARTUCE, F. Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: Método, 2013. Olá! 1. Elementos Caracterizadores da Responsabilidade Civil 1.1 Ato ilícito: conceito e elementos Assista aí 1.2 Dano: conceito e modalidades 1.3 Nexo de Casualidade 1.4 Culpa lato sensu: dolo e culpa 2. Excludente de Responsabilidade Civil 2.1 Fato de terceiro 2.2 Culpa exclusiva da vítima 2.3 Caso fortuito e força maior 2.4 Da cláusula de não indenizar 2.5 Teoria de imprevisão Assista aí 3. Responsabilidade civil e contratos Assista aí 3.1 Responsabilidade civil e contratos: responsabilidade pré-contratual 3.2 Responsabilidade civil e contratos: recusa de contratar 3.3 Responsabilidade civil e contratos: cláusula de indenizar 3.4 Responsabilidade civil e contratos: responsabilidade pós-contratual é isso Aí! Referências
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