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Planejamento Familiar

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Thalita Maria C. C. Garonci 
Planejamento Familiar – MARC 5 
Conceito e princípios gerais 
Para a OMS, planejamento familiar/anticoncepção é a possibilidade do indivíduo ou casal de ter a oportunidade de 
escolha do número desejado de filhos, do momento que desejam tê-los e do espaçamento das gravidezes, utilizando 
para isso métodos contraceptivos. 
Constituição Federal do Brasil, de 12 de janeiro de 1996, que trata do planejamento familiar, consta que o planejamento 
familiar é direito de todo cidadão e é o conjunto de ações e regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de 
constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal e é parte integrante de uma visão 
de atendimento global e integral à saúde deles. 
Os elementos presentes na qualidade dos serviços de saúde sexual e reprodutiva incluem: a escolha e a autonomia dos 
métodos contraceptivos; a informação baseada em evidências sobre a eficácia, riscos e benefícios de diferentes 
métodos; os profissionais de saúde treinados e competentes; a provisão ao usuário de informações baseadas no respeito 
à privacidade e confidencialidade; e rede de equipamentos de saúde apropriada e disponíveis por território. 
Foram criadas categorias para a elegibilidade do uso de métodos contraceptivos para assegurar segurança ao uso do 
método. 
 
 
 
 
 
 
Síntese das condições consideradas especiais na escolha de método anticoncepcional: idade maior que 35 anos e 
tabagismo, tabagismo, hipertensão arterial sistêmica, obesidade (IMC maior ou igual a 30), infecção pelo HIV e risco 
de aquisição, uso de antirretroviral, diabetes mellitus com e sem doença vascular periférica, enxaqueca, depressão, 
lúpus eritematoso sistêmico com e sem anticorpo fosfolípide, entre outras. 
Métodos Contraceptivos 
Os métodos modernos seriam: esterilização masculina e feminina, dispositivos intrauterinos (DIU), implantes subdérmicos, 
contraceptivos orais, preservativos masculinos e femininos, injetáveis, pílulas contraceptivas de emergência, adesivos, 
diafragma e capuz cervical, agentes espermicidas, anel vaginal e esponja vaginal. Os não modernos seriam: 
abordagens de conscientização da fertilidade como tabelinha, muco cervical, temperatura basal, sintotérmico; coito 
interrompido; amenorreia lactacional e abstinência sexual. 
Métodos hormonais 
A contracepção hormonal pode ser feita com a combinação de estrogênios e progestagênios ou com progestagênios 
isolados. Podemos classificar os AHCs de acordo com sua forma de administração, resultando em quatro grupos: injetável, 
vaginal, transdérmica e oral. Com exceção da via injetável, as outras apresentam a vantagem de não dependerem de 
um profissional de saúde para seu uso. 
Mecanismo de ação: Os AHCs agem, primariamente, inibindo a secreção de gonadotrofinas, e o progestagênio é o 
principal responsável pelos efeitos contraceptivos observados. O principal efeito do progestagênio é a inibição do pico 
pré-ovulatório do hormônio luteinizante (LH), evitando, assim, a ovulação. Além disso, espessa o muco cervical, 
dificultando a ascensão dos espermatozoides; exerce efeito antiproliferativo no endométrio, tornando-o não receptivo 
à implantação; e altera a secreção e a peristalse das trompas de Falópio. O componente estrogênico age inibindo o 
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pico do hormônio folículo-estimulante (FSH) e, com 
isso, evita a seleção e o crescimento do folículo 
dominante. Além disso, ele age para estabilizar o 
endométrio e potencializar a ação do componente 
progestagênio, por meio do aumento dos 
receptores de progesterona intracelulares. Essa 
última função do estrogênio possibilitou a redução 
do progestagênio nas formulações contraceptivas 
combinadas. 
Eficácia: uso correto e consistente é fundamental 
para manter a alta eficácia deles. Sempre se deve 
explicar para a mulher que procura orientação 
contraceptiva que todos os métodos contraceptivos 
têm taxas de falha, mas que o uso correto dele 
minimiza essas falhas. 
Efeitos Adversos: Uma boa orientação sobre os seus 
possíveis efeitos adversos é fundamental para 
melhorar a aceitação e promover uso adequado de 
métodos contraceptivos, tornando-os, inclusive, mais 
eficazes. 
O uso prolongado de estrogênios parece estar 
associado com o aumento de neoplasias de mama 
– havendo familiares de primeira geração com a 
patologia, esse risco chega a aumentar quase cinco 
vezes. Por outro lado, o uso de contracepção 
hormonal diminui a prevalência de neoplasias de 
ovário e de endométrio. pode levar à irritabilidade, 
e o uso prolongado, à diminuição da libido. O 
predomínio de ação progestogênica pode levar ao 
aumento de sensibilidade e a ganho de peso (e em alguns, à base apenas de progesterona, pode desencadear quadros 
de melancolia e excepcionalmente depressão). Contraceptivos com ação antiandrogênica podem interferir mais 
intensamente na libido. 
O aumento de TG varia de 30% a 80% dos valores iniciais, independentemente da via de administração, mantendo 
níveis dentro da normalidade. Esse aumento é provocado pela síntese hepática de TG pelo EE. Assim, em mulheres com 
hipertrigliceridemia, devem-se preferir os métodos não hormonais ou aqueles contendo apenas progestagênio. 
EE, presente na maioria do AHCs, combinados aumenta a síntese hepática de angiotensinogênio, que, por sua vez, eleva 
a pressão arterial sistêmica por meio do sistema renina-angiotensinaaldosterona. Esse efeito é relevante quando a 
mulher já é hipertensa, e a suspensão do método combinado é mandatória, visto que a descontinuação dele é uma 
importante medida de controle de pressão arterial nessas mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
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Métodos Comportamentais 
São os métodos baseados na identificação do período fértil durante o qual os casais se abstêm das relações sexuais 
ou praticam coito interrompido, a fim de diminuir a chance de gravidez. É um Planejamento familiar natural, tanto 
pelas vantagens da falta de efeitos adversos quanto por princípios religiosos ou socioculturais. 
O período fértil pode ser identificado por meio da observação da curva de temperatura corporal, das características 
do muco cervical e de cálculos matemáticos baseados na duração, fisiologia do ciclo menstrual e meia-vida útil dos 
gametas. 
Mecanismo de ação: 
 
 
 
 
 
 
Método Billings - Consiste no casal se abster do coito vaginal durante o período em que o muco cervical observado 
permaneça filante. O monitoramento do muco cervical é o fundamento para o método e depende de conhecimento 
prévio de suas características físicoquímicas, que estão sujeitas ao estímulo hormonal. A estimulação estrogênica crescente 
na primeira fase do ciclo faz com que o muco cervical sofra mudança conforme se aproxima do período ovulatório, 
tornando-se abundante, aquoso, semelhante à clara de ovo, e filante, propriedade essa que pode ser observada na 
realização do exame ginecológico, quando o muco cervical é colocado entre “dois braços” da pinça Cheron, e a filância 
pode chegar a 10 cm. 
Os métodos comportamentais têm benefícios únicos e limitações importantes. Um benefício para as pacientes é a 
compreensão aprimorada do processo reprodutivo. As limitações estão relacionadas à necessidade de abstinência 
periódica, o que é evidenciado pelas taxas de falha relativamente altas com uso típico. 
Métodos de Barreira 
São métodos que impedem a ascensão dos espermatozoides do trato genital inferior para a cavidade uterina por meio 
de ações mecânicas e/ou químicas. Como exemplos, citamos o preservativo ou condom (masculino e feminino), diafragma, 
espermicidas, esponjas e capuz cervical. 
Desse grupo, os preservativos masculinos, seguidos dos femininos, são os mais utilizados atualmente. Em geral, são 
produzidos a partir de dois tipos de matéria-prima: borracha natural (látex) e borracha sintética (“plástico”). Ambos 
protegem os parceiroscontra o risco de gravidez e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), incluindo o vírus da 
imunodeficiência humana (HIV). 
Preservativo masculino e feminino: A taxa de falha dos preservativos masculinos varia de 2% a 15% no primeiro ano 
(gestações por 100 mulheres por ano). Essa variação se deve às diferenças do uso perfeito (falha teórica) e do típico 
falha prática). O índice de falha está relacionado, em grande parte, à não utilização correta pelo usuário e, em menor 
parte, à resistência e ao tipo do material utilizado. Todos esses fatores podem contribuir com as rupturas acidentais ou 
deslizamentos, interferindo na eficácia do método. Consiste em um dispositivo que é inserido na vagina antes do coito 
com a finalidade de impedir que o pênis e o sêmen entrem em contato direto com a mucosa genital feminina. 
Diafragma: O diafragma é um dispositivo vaginal de anticoncepção que consiste em um capuz macio de borracha, 
côncavo, com borda flexível, que cobre parte da parede vaginal anterior e o colo uterino. Serve como uma barreira 
cervical à ascensão do espermatozoide da vagina para a cavidade uterina. Requer instruções claras e treinamento 
adequado pelo profissional de saúde, incluindo o autoexame pélvico, necessários para o seu uso correto. Tem tamanho 
individual para cada paciente e deve ser medido pelo médico. posição correta: recobrindo o colo uterino e a parede 
vaginal anterior. No tamanho correto, não deverá causar desconforto ou se deslocar com a mobilização da paciente. 
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Deve ser inserido antes da ejaculação vaginal e ser 
retirado após 6 horas. Não deve permanecer por mais 
de 24 horas para não haver exposição a infecções 
vaginais. 
Métodos cirúrgicos 
No Brasil, a Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996, 
regula o § 7º do artigo 226 da Constituição Federal, 
que trata do planejamento familiar (Brasil, 1996). Ela 
regulamenta a esterilização cirúrgica voluntária. No 
seu artigo 10, estabelece que somente é permitida a 
esterilização cirúrgica em: 
• - homens e mulheres com capacidade civil 
plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, 
pelo menos, com dois filhos vivos, desde que 
observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a 
manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no 
qual será propiciado à pessoa interessada acesso a 
serviço de regulação da fecundidade, incluindo 
aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando 
desencorajar a esterilização precoce; 
• - risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro 
concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado 
por dois médicos. 
É sempre necessário o registro da manifestação da 
vontade em documento escrito e assinado pela 
paciente, no qual se encontram informações a respeito 
dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais, 
dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis existentes. E na vigência de sociedade conjugal, a 
esterilização depende do consentimento expresso de ambos os cônjuges. A lei também prescreve que a esterilização 
cirúrgica é proibida durante os períodos de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por 
cesarianas sucessivas anteriores, e que ela não deve ser feita por meio de histerectomia ou ooforectomia. 
Métodos químicos 
DIU de cobre 
Mecanismo de ação: O principal mecanismo de ação do DIU-Cu situa-se no desencadeamento pelos sais de cobre e 
polietileno da reação de corpo estranho pelo endométrio. A liberação de uma pequena quantidade de metal estimula 
a produção de prostaglandinas e citocinas no útero. Como resultado, forma-se uma “espuma” biológica na cavidade 
uterina, que, por sua vez, possui efeito tóxico sobre espermatozoides e óvulos, alterando a viabilidade, transporte e 
capacidade de fertilização deles, além de dificultar a implantação por meio de uma reação inflamatória crônica 
endometrial. A presença de cobre no muco cervical também atua na diminuição da motilidade e viabilidade dos gametas 
masculinos. A inibição da ovulação não está presente nesse método. Além dos efeitos pré-fertilização, pode-se observar 
retardo ou aceleração no transporte dos embriões, dano a eles e diminuição da implantação. 
Indicações: É indicado para mulheres que procuram métodos reversíveis de longa ação. Deve ser aconselhado durante 
a consulta, quando se observa uso inconsistente do método atual que é dependente da usuária para ter a sua eficácia 
garantida. É pertinente assinalar que o método pode ser indicado para pacientes nulíparas (Lohr et al., 2017), inclusive 
adolescentes. Nova consulta deve ser agendada após a primeira menstruação ou a partir de três a seis semanas da 
inserção. A paciente deve ser encorajada a retornar a qualquer momento para discutir efeitos colaterais ou desejo de 
trocar de método. 
Sistema intrauterino liberador de levonorgestrel 
Mecanismo de ação: Os principais mecanismos de ação colaboraram para se obter um contraceptivo com menos efeitos 
colaterais e com eficácia excepcional, durante cinco anos de uso. Os principais são: muco cervical espesso e hostil à 
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penetração do espermatozoide, inibindo a sua motilidade no colo, no endométrio e nas tubas uterinas, prevenindo a 
fertilização; Alta concentração de LNG no endométrio, impedindo a resposta ao estradiol circulante; Forte efeito 
antiproliferativo no endométrio; Inibição da atividade mitótica do endométrio; Manutenção da produção estrogênica, o 
que possibilita boa lubrificação vaginal. 
Efeitos adversos: a orientação antecipatória possibilita maior entendimento do método por parte de usuária e leva à 
procura mais rápida do profissional ou serviço, assim que perceba a possibilidade de complicação. Os efeitos adversos 
mais comuns são: Expulsão; Dor ou sangramento; Perfuração; Infecção; Gravidez ectópica; Gravidez tópica. Os sinais 
de possíveis complicações que devem fazer com que a paciente retorne ao médico são os seguintes: Sangramento 
importante ou dores abdominais nos primeiros três a cinco dias após a inserção: podem indicar perfuração no momento 
da inserção ou ainda a possibilidade de infecção ou deslocamento do SIU-LNG; Sangramento irregular ou dores em 
todos os ciclos: podem corresponder a deslocamento ou expulsão parcial do SIULNG; Febre ou calafrios, com ou sem 
corrimento vaginal: podem indicar a presença de infecção; Dor persistente durante as relações: pode se relacionar a 
infecção, perfuração ou expulsão parcial; Atraso menstrual com sintomas de gravidez ou um SIU-LNG em expulsão: 
pode indicar gravidez intra ou extrauterina, embora seja raramente observada; Fios do SIU-LNG mais longos ou não 
visíveis: podem significar que houve deslocamento do dispositivo ou mesmo gestação. 
Prescrevendo um MAC na APS 
O primeiro passo é não simplificar ou minimizar – é só uma receita de contraceptivo –, pois é necessário ouvir a demanda 
entendendo o que a pessoa pensa e espera. O passo seguinte é orientá-la sobre o leque de possibilidades e explorar 
melhor as escolhas prévias apresentadas: um cuidado fundamental é não colocar as nossas escolhas e preferências na 
vida do indivíduo, mas auxiliá-lo a fazer escolhas adequadas. 
O exame ginecológico, incluindo o citopatológico, não é mandatório para iniciar a contracepção. O médico de família 
e comunidade deve ouvir os anseios e orientar a pessoa sobre cuidados e acompanhamento, deixando-a livre para suas 
escolhas. Quando a escolha de um método implicar manipulação genital, orienta-se a exclusão de doenças do trato 
genital, em particular ISTs. Não há necessidade de exames laboratoriais e de imagem previamente ao início da 
contracepção, salvo pacientes com alguma patologia intercorrente ou, ainda, com algum fator de risco identificado. 
Orientações sobre vantagens, desvantagens e riscos associados à contracepção escolhida devem ser sempre realizadas 
na atenção primária, ou seja, a escolha do método deve contemplar a satisfação da paciente,efetividade e segurança 
do método e a aderência em longo prazo. 
 
Tabela com métodos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Thalita Maria C. C. Garonci

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