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Consciência e suas alterações

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Podem-se resumir os usos do termo 
“consciência” em pelo menos três definições 
distintas: 
• Definição neuropsicológica: é o estado de 
estar desperto, acordado, em vigilância, 
lúcido. Trata-se especificamente do nível de 
consciência. 
 
• Definição psicológica: é a soma total das 
experiências conscientes de um indivíduo em 
determinado momento. É a dimensão 
subjetiva da atividade psíquica do sujeito que 
se volta para a realidade (relação do Eu com o 
meio externo). 
 
• Definição ético-filosófica: é a capacidade de 
tomar ciência dos deveres éticos e assumir as 
responsabilidades, os direitos e os deveres 
concernentes a essa ética. Ou seja, refere-se 
à consciência moral, ética e política. 
 
O sistema Research Domain Criteria (RDoC) 
contém construtos psicológicos relevantes tanto 
para o comportamento normal como para a 
psicopatologia. Esse projeto pretende utilizar 
descobertas sobre genética e neurociência para 
determinar se um paciente está, de fato, 
mentalmente doente. 
Segundo o RDoC, o nível de consciência é o 
continuum de sensibilidade e alerta do organismo 
perante os estímulos, tanto internos como 
externos. As principais características e 
propriedades do nível de consciência são: 
• O nível de consciência facilita a interação da 
pessoa com o ambiente de acordo com 
contexto que o sujeito está inserido (ex: em 
situações de ameaça, alguns estímulos podem 
ser ignorados e ao mesmo tempo a 
sensibilidade para outros estímulos mais 
relevantes podem estar aumentados, 
caracterizando o estado de alerta). 
 
• O nível de consciência adequado pode ser 
evocado tanto por estímulos externos (do 
ambiente) como por estímulos internos, 
(pensamentos, emoções, recordações). 
 
• O nível de consciência pode ser modulado 
tanto pelas características dos estímulos 
externos como pela motivação que o estímulo 
implica para o indivíduo em questão. 
 
• O nível de consciência varia ao longo de um 
continuum que inclui desde o estado total de 
alerta, passando por níveis de redução da 
consciência até os estados de sono (variação 
normal) ou coma (variação patológica). 
 
A consciência pode se alterar tanto por processos 
fisiológicos, ou seja, normal, como por processos 
patológicos. 
Alterações patológicas quantitativas: 
Do ponto de vista quantitativo, a consciência em 
si se trata da excitabilidade do SNC aos estímulos 
externos e internos. Em caso de alterações, a 
integridade do processo de conhecimento no seu 
aspecto mais global é comprometida. As causas 
são de conteúdo orgânico (intoxicações, síndrome 
de abstinência por droga álcool, delírios febris, 
traumatismo craniano) ou condições fisiológicas 
alteradas ou doenças. 
Nos quadros neurológicos e psicopatológicos, o 
nível de consciência diminui de forma progressiva, 
desde o estado normal, em vigilância, até o estado 
de coma profundo, no qual não há qualquer 
resquício de atividade consciente. Os graus de 
rebaixamento da consciência são: 
1°) obnubilação: É a lentidão, diminuição da 
clareza sobre o meio externo, dificuldade de 
concentração, confusão mental. Trata-se de um 
rebaixamento da consciência em grau leve a 
moderado. Também chamada de turvação da 
consciência ou sonolência patológica leve, nela o 
indivíduo tem dificuldade para integrar as 
informações sensoriais vindas do ambiente, pois 
ele diminui a atenção para as solicitações 
externas, dirigindo-se para a sonolência. Nesse 
caso, a pessoa apresenta-se em estado letárgico, 
sem reação diante de estímulos exteriores 
(barulhos, mudanças bruscas da luminosidade, 
etc.) 
2°) torpor: Grau mais acentuado de rebaixamento 
da consciência. O paciente está evidentemente 
sonolento, com curta resposta aos estímulos 
externos, apresentando traços de pudor. Possui 
origem orgânica, com desaparecimento da 
sensibilidade ao meio ambiente e dificuldade em 
exibir reações motoras, incapaz de qualquer 
reação espontânea. Só pode ser despertado por 
estímulos físicos vigorosos. 
3°) sopor: Estado de quase coma, de marcante e 
profunda turvação da consciência, de sonolência 
intensa, da qual o indivíduo pode ser despertado 
apenas por um tempo muito curto, por estímulos 
muito enérgicos, do nível de uma dor intensa. 
Nesse caso, pode apresentar reação de defesa e 
retorna, então, muito rapidamente, em segundos, 
à quase ausência de atividade consciente. Há a 
perda parcial da capacidade motora. 
4°) coma: Grau mais profundo de rebaixamento 
de seu nível, na qual há a perda completa da 
consciência. No estado de coma, não é possível 
qualquer atividade voluntária consciente. Possui 
quatro níveis: semicoma, coma superficial, coma 
profundo, coma depassé. 
• Lipotimia: perda parcial e rápida da 
consciência (dura apenas segundos), 
geralmente com visão borrada, palidez da 
face, suor frio, vertigens e perda parcial e 
momentânea do tônus muscular dos 
membros, com ou sem queda do corpo ao 
chão. A pessoa tem a sensação de que vai 
desmaiar. Além disso, a lipotimia é rápida e 
reversível. Pode ser utilizada (as vezes) para 
descrever a fase inicial da síncope. 
 
• Onirismo: estado de sonho patológico que se 
caracteriza pela predominância das 
representações imaginárias e é constituído 
por um conjunto de alucinações visuais 
interagindo entre si e com o "sonhador" 
enquanto este está acordado. estado, 
resultando em perturbações sensoriais e 
sensitivas. Costuma ocorrer em síndromes 
confusionais. 
• Confusão mental: desorganização profunda 
do funcionamento mental. O pensamento e o 
discurso do sujeito são incompreensíveis e 
difíceis de entender tanto os outros quanto a 
si mesmo. 
• Delirium 
Alterações patológicas qualitativas: 
Do ponto de vista qualitativo, a consciência se 
trata da capacidade de integração destes 
estímulos internos e externos, passados e 
presentes de forma mais harmônica. Em caso de 
alterações, esses estímulos vão de um estado 
organizado logicamente a uma atividade 
delirante e sem correspondência com a realidade. 
Causas: situações de intoxicação por substâncias 
depressoras do SNC, como sedativos, álcool, ou 
hipnóticos. Também pode ocorrer por causa de 
lesões cerebrais, traumatismos cranianos ou 
distúrbios metabólicos. 
• Estado crepuscular: estado patológico 
transitório que pode ser marcado por atos 
explosivos, violentos, descontrole emocional e 
após esse episódio há um esquecimento. 
Recorrente em casos de esquizofrenia, 
traumatismos cranianos, uso de álcool e 
outras substâncias. 
• Estado segundo: atividade psicomotora de 
forma coordenada, porém não se adequa a 
personalidade da pessoa, podendo o indivíduo 
agir sem correspondência com suas condutas. 
Originado por questões psicológicas. 
• Dissociação da consciência: perda da unidade 
psíquica, desligamento da realidade. 
• Transe: se assemelha bastante ao sonhar 
acordado, porém há a presença de atividade 
motora. Existem alguns tipos: transe religioso, 
transe histérico. 
• Estado hipnótico: atenção direcionada ao 
hipnotizador, atenção induzida. Não é algo 
mítico e é utilizado para relembrar certas 
memórias, fatos passados, além de ter função 
de anestesia. 
• Hipovigilância: dificuldade de concentração e 
memorização. Pode ser manifestada 
pela sonolência excessiva. 
• Hipervigilância: é quando os estímulos são 
percebidos com maior intensidade. O fluxo do 
pensamento é normalmente acelerado e há 
uma intensidade psicomotora e das atividades 
em geral. Presente nos estados 
de perturbações maníaco-depressivas. 
• Lentificação do pensamento: como o próprio 
nome diz, é a desaceleração do pensamento. 
Presente em casos depressivos graves. 
• Alucinações: “percepções” sem objeto, 
acompanhadas de convicção na realidade do 
percebido. 
• Experiência de Quase Morte: experiências 
rápidas em que o estado de consciência é 
vivenciado e registrado pela pessoa, 
ocasionado por vivencias como o próprio 
nome já diz de quase morte. Sentimentos de 
paz, sensações extracorpóreas. 
Alterações fisiológicas da consciência 
Fisiologicamente, aconsciência oscila entre a 
vigília plena e o sono profundo, passando por um 
estágio intermediário de sonolência, sendo essas 
diferentes fases chamadas de ciclo circadiano. O 
sono é um fenômeno que acomete a pessoa 
mesmo contra sua vontade, seja como 
consequência de grande privação anterior, seja 
como patologia. 
Delírio: É uma alteração do juízo de realidade 
caracterizado por uma convicção irremovível, 
crenças fantasiosas, que podem ser em relação a 
própria pessoa, às outras pessoas ou ao 
ambiente. Nesses casos, o indivíduo não é capaz 
de perceber que essas ideias estão equivocadas 
mesmo com a existência de evidências que 
apontem os erros dessa crença. 
O delírio faz parte, junto com outros sinais e 
sintomas, de alguma doença psiquiátrica ou 
neurológica. As situações mais comuns em que 
pode ocorrer o aparecimento do delírio são a 
demência com corpos de Lewy, a esquizofrenia, o 
transtorno delirante, a depressão e o transtorno 
de humor bipolar. 
Delirium: É um transtorno de base orgânica 
associado a alterações quantitativas de 
consciência. Durante essa síndrome cerebral, a 
pessoa pode ter diminuição da atenção, 
desorientação em relação ao tempo e ao espaço, 
pensamentos incoerentes ou desorganizados, 
dificuldades de memória, fala sem sentido, 
diminuição da consciência ou agitação. 
Para ser chamado de delirium, esses sintomas 
devem ter início agudo e devem variar em 
intensidade ao longo do dia, ou seja, pode ser 
reversível. Esse quadro pode ocorrer dentro do 
delírio. Recorrente em casos de traumatismo 
craniano, uso de substâncias como álcool e 
drogas e febre alta.

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