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Teoria geral da administração Augusto Nishimura E-book 1 Objetivos de aprendizagem • Conhecer os principais idealizadores que im- pulsionaram os estudos na área; • Compreender principais as ideias que emergi- ram a partir do surgimento das indústrias; • Exercitar a análise de fenômenos organizacio- nais a partir dos conceitos aprendidos. Teoria geral da administração E-book 1 2 Neste E-book: Introdução ���������������������������������������������������4 Quais foram as primeiras ideias na área da Administração? ��������������������������16 Análise Crítica à Administração Científica �����������������������21 O fortalecimento de outras ideias para a melhoria da eficiência �������������� 23 A Administração pode ser ensinada? ��������������������������������������������30 Quais são as críticas às ideias de Fayol? ����������������������������������������34 Considerações finais������������������������������� 35 Síntese ���������������������������������������������������������36 3 INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a) ao mundo da Administração! A partir de agora, iremos compreender as bases que dão sustentação à gestão e às decisões tomadas pelos administradores. Você sabia que muitas ideias que são utilizadas até hoje pelas organizações foram desenvolvidas há muito tempo? Então, que tal desbravarmos o tempo para descobrir as razões pelas quais essas ideias permanecem vi- vas até hoje? Fique atento O que são Organizações? “Objetivos e recursos são as palavras-chaves na definição de administração e também de organi- zação. Uma organização é um sistema de recur- sos que procura realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de objetivos). Além de objetivos e recursos, as organizações têm dois outros com- ponentes importantes: processos de transforma- ção e divisão do trabalho”. Maximiano (2018) Antes de darmos o primeiro passo nessa discussão, é muito importante compreendermos alguns termos que utilizaremos aqui, pois eles servirão de referên- 4 cia e nortearão toda a construção da nossa linha de raciocínio para a construção do conhecimento. É muito comum ler, ouvir e falar, no nosso dia a dia, algumas palavras que, aparentemente, são de fácil compreensão. Por exemplo, eficiência e eficácia são termos conhecidos no mundo corporativo. Veja os exemplos a seguir. Figura 1: Disponível em: https://exame.abril.com.br/revista-exa- me/em-busca-de-fabricas-cada-vez-mais-eficientes. Acesso em: 27 dez. 2018 Figura 2: Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/rele- ases/eficacia-das-vendas-pelas-redes-sociais-depende-de-planeja- mento-estrategico-muito-bem-estruturado. Acesso em: 27 dez. 2018 5 Basta fazermos uma pesquisa rápida na internet que poderemos levantar inúmeros exemplos. Mas, será que existe diferença entre esses dois termos? A res- posta é sim! Então, vamos conhecê-los? Para podemos iniciar o nosso entendimento, vamos analisar as situações abaixo: Figura 3: https://br.freepik.com/vetores-gratis/empresario- -fazendo-uma-pratica-de-alvo-de-flecha-de-sucesso_1311359. htm#term=flecha%20alvo&page=1&position=1 O executivo da figura acertou o centro dos dois al- vos em suas primeiras tentativas e está buscando acertar o terceiro alvo. Note que o executivo está sendo eficiente, pois está utilizando poucos recur- sos (flechas), além de economizar seu tempo. Ele também está sendo eficaz, pois está atingindo seu objetivo maior, que é acertar exatamente no alvo. Agora, vamos analisar a seguinte situação: 6 Figura 4: https://br.freepik.com/vetores-gratis/flechas-empresario- -blindfold_765716.htm#term=flechas&page=3&position=22 Considerando aquilo que aprendemos por meio da análise da primeira imagem, podemos chegar à se- guinte conclusão: o executivo está sendo ineficiente, pois está utilizando muitos recursos (flechas) e, por consequência, gastando muito tempo para acertar o centro do alvo. E está sendo ineficaz, pois não está alcançando seu objetivo, que é o de acertar o alvo. No mundo das organizações, é muito importante compreender que eficiência e eficácia sempre andam lado a lado. Há, ainda, outro termo que é muito utili- 7 zado, a efetividade. Afinal, qual o significado desse termo? Analise a ilustração abaixo Ou seja, efetividade é a união da eficiência com a eficácia. Agora que você já conhece bem os termos, fica claro que não é possível falar em alta efetividade se há baixa eficiência e/ou baixa eficácia. Vamos avançar um pouco mais na nossa discussão. Do ponto de vista da gestão, precisamos incorporar outros fatores na análise. A questão temporal e o ambiente da organização. Vamos analisar as defi- nições dadas pelos autores Fischmann e Almeida (2018, p. 2). Ser eficiente significa “fazer algo da melhor forma e com o menor prazo e recursos”, podendo ser me- dido por meio de números, estando associado ao pensamento racional. Ser eficaz significa “fazer as coisas certas, para aten- der as necessidades do ambiente da organização”. Os autores ampliam essa discussão, con- forme abaixo: 8 A eficiência tem um horizonte de curto prazo, o controle pode ser numérico, e se desenvolve por meio de uma forma de pensar racional. Já a eficácia tem um horizonte de longo prazo e seu controle é difícil de ser realizado, pois o resultado não é numérico, e se desenvolve por meio de uma for- ma criativa. (FISCHMANN; ALMEIDA, 2018, p.5). Note que continuamos com o mesmo entendimento sobre a eficiência, agora detalhando ainda mais as suas características. A eficiência é de curto prazo e pode ser medida e interpretada de maneira racional. Por exemplo, uma equipe de Fórmula 1 que estava trocando os quatro pneus de seus carros em quatro segundos. Após muito treinamento e aprendizagem, conseguiu diminuir o tempo para dois segundos, au- mentando a eficiência, pois passou a utilizar menos recursos (tempo) para executar a mesma tarefa. Com relação à eficácia, também mantemos o mesmo entendimento, porém, vamos incluir duas variáveis importantes: o tempo e o ambiente da organização. Quando falamos em alcançar os objetivos, estamos nos referindo ao alcance dos objetivos da organi- zação. Isso inclui atender as expectativas de todas as partes envolvidas, que participam do ambiente 9 da organização, como funcionários, clientes, forne- cedores, governo, dentre outros, que são denomi- nados em inglês de stakeholders. Por isso o con- ceito é mais amplo, e de uma perspectiva temporal maior. Analisemos, a seguir, a mensagem da empresa Microsoft: Figura 5: https://www.microsoft.com/en-us/Investor/company- -overview.aspx Em uma tradução livre dos dizeres dessa imagem, a missão da Microsoft é empoderar as pessoas e as organizações para que elas possam alcançar mais. Além disso, a visão da organização é a de ajudar pessoas e negócios a realizar todo o seu potencial. Mas como? Podemos deduzir, a partir daquilo que já conhecemos sobre essa empresa, que seria por meio da oferta de produtos e serviços em tecnologia que possibilitariam o alcance dessa missão e visão. Note, portanto, que se trata de algo que pode ser con- cretizado mais a longo prazo, nem sempre podemos medir de maneira numérica, e envolve criatividade. Podcast 1 10 Bem, agora que aprendemos sobre o que é eficiência e eficácia, vamos fazer uma breve reflexão sobre como os conceitos e as teorias da administração podem ajudar o gestor a enxergar as situações nas organizações de uma maneira diferenciada. Vamos analisar a imagem abaixo: Figura 6: h t t p s : // p t . w i k i p e d i a . o r g / w i k i / R e v o l u % C 3 % A7%C3%A3o_Industrial Essa é uma imagem que mostra o interior das fá- bricas, no período em que ocorreu a RevoluçãoIndustrial. Vamos nos deter e pensar mais sobre a 11 situação apresentada. O que você poderia dizer sobre ela? Objetivamente, poderíamos dizer que os homens estão trabalhando arduamente, usando muita força física para forjar ferro, ao mesmo tempo em que há uma criança próximo ao forno, num cenário em que prevalece o método artesanal de produção. Agora, vamos pensar sob o ponto de vista da eficiência? Vamos analisar e comparar as duas imagens abaixo: Figura 7: Imagem: Metalúrgia (1875). https://pt.wikipedia.org/wiki/ Metalurgia#/media/File:Adolph_Menzel_-_Eisenwalzwerk_-_Google_ Art_Project.jpg 12 Figura 8: Imagem: Metalúrgica (2018). Fonte:https://g1.globo.com/sp/ sao-carlos-regiao/noticia/sao-carlos-metalurgica-suspende-contrato- -de-310-funcionarios-temporariamente.ghtml Qual cenário aparenta ser mais eficiente na produção metalúrgica? Retomemos o conceito de eficiência: “fazer algo da melhor forma e com o menor prazo e recursos”. Qual fábrica está produzindo melhor e com menor uso de recursos? Na primeira imagem, há um uso intensivo de força humana, em que há inúmeros indivíduos trabalhando num espaço restrito, em condições insalubres. Na segunda imagem, há um uso intensivo de tecnologia, em que os traba- lhadores atuam de maneira mais ordenada e com menos dependência da força física e mais focados no trabalho intelectualizado. Portanto, a conclusão é de que a situação apresentada na segunda figura é a que ilustraria uma produção mais eficiente. 13 Agora, chegamos ao ponto alto da discussão que realizamos até aqui. Você percebeu que estamos fa- zendo a leitura de uma situação, fazendo uso daquilo que já aprendemos sobre eficiência? Ou seja, esta- mos usando um conceito para interpretar algo, como se funcionasse como uma lente, que nos permite termos uma visão mais clara do fenômeno, possibi- litando enxergar muito mais e além? Pois bem, essa é a importância de compreendermos bem as teorias, pois, por meio delas é que podemos fazer as leituras dos fenômenos que ocorrem no dia a dia, levando a uma melhor compreensão dos acontecimentos. A partir da realização de um diagnóstico de uma de- terminada situação, o gestor tem mais propriedade para tomar as suas decisões para que os problemas sejam resolvidos e os objetivos sejam alcançados. Portanto, na medida em que compreendemos os con- ceitos e as teorias, passamos a ter mais e diferentes “lentes” para visualizar os fenômenos, possibilitando analisar sob diferentes perspectivas e formar a nossa própria avaliação sobre os acontecimentos. Podemos dizer que essa é uma das grandes diferenças entre o profissional que detém o conhecimento sobre admi- nistração e o indivíduo que toma decisões no puro “achismo”, de maneira empírica. A administração pode ser considerada uma ciência, pelo fato de pos- sibilitar a análise sob diferentes lentes conceituais, e também uma arte, pois as decisões são tomadas a partir da aplicação das ferramentas administra- tivas. Também cabe ao gestor saber inovar e dar 14 novos rumos para os diferentes desafios a serem enfrentados. Vamos prosseguir com os estudos para conhecer as diferentes lentes idealizadas e utilizadas por in- divíduos, pesquisadores e organizações ao longo do tempo. Saiba que muitas delas são válidas até hoje! 15 QUAIS FORAM AS PRIMEIRAS IDEIAS NA ÁREA DA ADMINISTRAÇÃO? Uma das primeiras ideias estruturadas na área surgiu a partir da inquietação de um engenheiro mecâni- co chamado Frederick Winslow Taylor (1856-1915). Natural dos Estados Unidos, é considerado o “pai” da Administração Científica. Suas ideias aplicadas na fábrica onde trabalhava deram grandes resultados e, por isso, Taylor ficou muito conhecido pelas inova- ções implementadas na época que serviram como base para o surgimento de outras ideias. Saiba mais Você sabe quem foi Frederick Taylor? Para co- nhecê-lo, acesse este vídeo, que trata de sua bio- grafia e ideias. Você pode estar se perguntando: O que Taylor fez de relevante, a ponto de ficar tão famoso assim? Taylor inovou ao aplicar métodos científicos para aumentar a eficiência produtiva no âmbito das ta- refas dos operários. Ele havia identificado que as fábricas, em decorrência da Revolução Industrial, se 16 expandiram fortemente, mas operavam de maneira ineficiente. Saiba mais Antes da Revolução Industrial, as atividades produtivas eram artesanais e manuais, em que todo o processo produtivo era praticamente rea- lizado por um único trabalhador. Com o advento da Revolução Industrial, por volta de 1760, na In- glaterra, houve a incorporação de máquinas e a utilização de energia a vapor na produção, subs- tituindo esse modelo de produção por um siste- ma mecanizado – modelo que se espalhou para outros continentes. O trabalhador deixou de con- trolar a produção e passou a atuar no controle das máquinas. Houve aumento da produtividade, redução dos custos e crescimento dos lucros por parte dos proprietários das fábricas. Para mais detalhes sobre a Revolução Industrial, assista a esse vídeo abaixo: Mesmo com o aumento da produtividade em função da utilização das máquinas, as fábricas funcionavam de maneira caótica, pois trabalhadores, ferramentas, máquinas e estoques de materiais ficavam amon- toados, dificultando a movimentação das pessoas. O trabalho era caracterizado pelo empirismo – ou seja, baseado na experiência de cada trabalhador – e improvisação, gerando desperdícios e elevação dos preços dos produtos. 17 Diante disso, o objetivo de Taylor foi melhorar a efi- ciência produtiva. Você se lembra daquilo que já es- tudamos sobre eficiência? Pois bem, esse era o as- pecto que Taylor buscou melhorar. Para tanto, aplicou o método científico, fazendo estudos e realizando testes nas tarefas executadas pelos operários. Por meio da análise minuciosa dos movimentos execu- tados, bem como o tempo para execução desses movimentos pelos operários, pôde compreender, com mais propriedade, as características de cada tarefa, buscando, com isso, fazer adaptações dos movimentos e ferramentas utilizadas para elevação da produtividade e diminuição dos custos. Fique atento Com o estudo dos tempos e movimentos, Taylor conseguiu que o trabalho executado por 500 trabalhadores, para movimentação de carvão e minério de ferro, fosse executado por 140 indiví- duos, diminuindo os custos em 50% (ABRANTES, 2012). Em outras palavras, Taylor fez um trabalho minucioso e detalhado, buscando compreender os problemas, realizar testes e aplicar soluções plausíveis para de- senhar um padrão de execução das tarefas que fosse mais eficiente. Buscou levantar, registrar e analisar os dados obtidos, enfatizando sua atuação analítica e racional no processo produtivo. 18 Portanto, as ideias de Taylor podem ser sintetizadas conforme os seguintes aspectos (ABRANTES, 2012): • Aplicou métodos científicos para estudar as tarefas executadas pelos operários, substituindo os métodos empíricos que prevaleciam na época; • Os operários deveriam se ajustar à máquina e se- rem alocados em postos de trabalho específicos, com materiais e ferramentas alocados de maneira que aperfeiçoasse a produtividade; • Os operários deveriam ser treinados para a exe- cução de uma tarefa específica, conforme o padrão que se julgava ser mais eficiente; • Ênfase na cooperação e divisão do trabalho entre o administrativo e o operacional, ou seja, entre os gestores que planejariam a produção e os operários que executariam a tarefa; • Pagamento de melhores salários para compensar os operários pela sua produtividade. O objetivo do seu trabalho na Administração Científica era, portanto, alcançar a maior eficiência das fábricas, ou seja, elevar a quantidade produzida com diminuição dos custosda produção. Para isso, Taylor se concentrou na análise mecânica e temporal das tarefas, decompondo-as em movi- mentos menores, buscando aperfeiçoar constante- mente as atividades, por meio da racionalização dos movimentos e da realização de experimentos. Por intermédio de seus estudos, Taylor identificou que o operário produzia abaixo de seu potencial e que, pelo fato de a remuneração ser igual entre todos, 19 não havia estímulo adequado para que o operário pudesse produzir conforme seu potencial. Concluiu que a baixa produtividade era decorrente do sistema empírico e amador de administração, além da falta de padronização das técnicas. 20 ANÁLISE CRÍTICA À ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA Sabemos que os estudos de Taylor foram decisivos para uma mudança radical na forma de gerir as orga- nizações, passando da ênfase empírica e amadora para uma visão analítica, organização dos postos de trabalho e racionalização das tarefas, pautada no au- mento da eficiência produtiva, por meio da aplicação de métodos científicos e remuneração conforme a produtividade. Fique atento Aqui vale uma explicação muito importante. Não existe conceito ou teoria perfeita. O conhecimen- to é incremental, ou seja, a partir do que foi de- senvolvido, são sugeridas novas ideias, novas perspectivas, novos aprimoramentos. Mas o fato de haver críticas não invalida, necessariamen- te, as ideias propostas. Esse é um cuidado que sempre devemos ter, pois precisamos compreen- der tanto os seus pontos fortes, quanto as suas limitações. Por outro lado, as ideias de Taylor possuíam algumas limitações: 21 • Foco no ambiente interno: as ideias de Taylor foca- vam na questão interna da fábrica, não levando em consideração as interfaces com o ambiente externo; • Foco na produção: Taylor se preocupou, essencial- mente, com os problemas da produção, restritos às tarefas dos operários, sem estabelecer relações com outros setores da organização; • Especialização: fragmentação das tarefas, levando à superespecialização do trabalho em atividades re- petitivas, relegando para segundo plano o potencial humano para o trabalho. • Homem a serviço da máquina: o operário obede- ce ao ritmo de produção das máquinas, devendo o operário se adaptar a elas. Saiba mais Conheça aqui quais são as virtudes e defeitos do Taylorismo na atualidade. 22 O FORTALECIMENTO DE OUTRAS IDEIAS PARA A MELHORIA DA EFICIÊNCIA Você sabia que outra grande contribuição que nos influencia até os dias atuais vem das ideias de um empreendedor? Pois é, o empresário norte-americano Henry Ford (1863-1947) também inovou em sua área, por meio da aplicação de ideias sobre padroniza- ção, simplificação das tarefas e implementação da linha de montagem. Ele buscou, portanto, aumentar a eficiência da produção de sua fábrica, destinada à montagem de carros. Saiba mais Acesse aqui a biografia de Henry Ford. Afinal, por que as ideias de Henry Ford foram tão re- volucionárias para a época? Em primeiro lugar, pelo fato de estabelecer um novo patamar de produção na área automobilística. Em segundo lugar, por suas ideias se estenderem para outros setores econômi- cos, por exemplo, na produção da indústria de eletro- domésticos. Se, por um lado, Taylor é conhecido pela administração científica, Ford está associado à linha 23 de montagem móvel e popularizou os princípios da produção em massa, a padronização das peças e a especialização do trabalhador na função. Na produção em massa, Ford passou a produzir ape- nas um modelo, de uma única cor: preta. O famoso Ford T passou a ser produzido em grande escala, diminuindo drasticamente o tempo de produção e barateando os custos, tornando-o acessível para boa parte da população. Figura 9: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ford_Model_T Como isso foi possível? Conforme Maximiano (2018), ao estabelecer a linha de montagem móvel, o tempo para a montagem do chassi passou de 12 horas e 28 minutos para 1 hora e 33 minutos. Ou seja, houve forte aumento de eficiência, pois passou a utilizar 24 menos recursos (tempo) para produzir mais. Com a explosão do número de carros produzidos, eles fica- vam muito mais baratos. Além disso, vale ressaltar, também, que Ford inovou na forma de remuneração do trabalhador e, além adotar o padrão de 8 horas por dia de trabalho, duplicou o salário dos trabalha- dores para que pudessem comprar os produtos que eles próprios fabricavam! Ademais, concorrentes e industriais de outros setores passaram a replicar aquilo que Ford havia idealizado. Agora, você poderia perguntar: quais foram as estra- tégias adotadas por Ford para alcançar tanto sucesso assim? Então, vamos apontar algumas delas: • Oferta de modelos populares: o automóvel era um item extremante caro para a realidade da época e, por isso, desejava-se que o produto pudesse estar acessível para um público maior, por meio da diminui- ção dos custos com diminuição do preço de venda; • Oferta de financiamentos: para facilitar a compra dos automóveis, estabeleceu-se planos de financia- mentos e condições vantajosas que possibilitassem o acesso a um público menos favorecido; • Oferta de assistência técnica: tratava-se de uma iniciativa revolucionária, um diferencial nas questões comerciais da época, sendo oferecido aos potenciais clientes como forma de atração, em um mercado que estava em desenvolvimento. Como o objetivo era aumentar a eficiência produtiva, adotou-se um sistema de produção, em que os carros 25 passariam a ser montados por partes, em uma estei- ra rolante, por funcionários especializados em uma atividade. Esses trabalhadores desempenhavam suas funções em posições fixas na linha de montagem, evitando desperdício de tempo com movimentações desnecessárias. Como desempenhava uma tarefa específica, não era necessário investir muito tempo na capacitação para a realização de suas funções. Saiba mais Conheça a linha de montagem da Ford. Parte 1 Parte 2 Além da linha de montagem e da produção em gran- de escala, que outros aspectos são importantes para compreender sobre as ideias aplicadas por Ford? O Fordismo – nome pelo qual as ideias de Henry Ford ficaram conhecidas – possui as seguintes características: • Padronização das peças: as especificações das peças deveriam ser as mesmas, para facilitar e agi- lizar a produção, além de possibilitar trocas (peças intercambiáveis); • Máquinas especializadas: as máquinas deve- riam estar desenhadas para um fim específico na linha de montagem; • Sistema universal de fabricação: o fluxo de pro- dução deveria ser o mesmo em qualquer fábrica, 26 independentemente do local ou país onde a fábrica estivesse instalada; • Peças simples e processo produtivo simplificado: essa simplificação era necessária para agilizar o processo de montagem dos automóveis, facilitando o trabalho dos funcionários; • Trabalhador especializado: o operário deveria se especializar em uma função específica, para que pudesse ter um alto desempenho; • Tarefa única: as tarefas eram segregadas em par- tes específicas, cabendo aos operários executar so- mente aquela tarefa; • Posição fixa na linha de montagem: os trabalhado- res realizavam deslocamentos mínimos, ficando na mesma posição, para que seus esforços estivessem concentrados na execução de sua tarefa – em que as peças e o maquinário ficavam no posto de trabalho. A partir do que vimos até aqui, você conseguiria es- tabelecer relação das ideias de Ford com o atual cenário em que vivemos? Observe a reflexão abaixo: A linha de montagem continua a funcionar precisa- mente como Ford a inventou: os produtos andam, o trabalho fica parado. O trabalho, agora, é feito por robôs, no lugar de operários. Sem problemas de gre- ve, produtividade, fadiga,conflitos com a administra- ção. Sem chefes. Muito mais eficiente; muito menos dispendioso. Desperdício virtualmente inexistente. Cada vez que vai a uma lanchonete de fast-food, você 27 entra em um sistema de linha de montagem. Na ver- dade, em dois. Um está atrás do balcão. É o processo de fazer sanduíches. Os operadores – não são cozi- nheiros – movimentam-se muito pouco para preparar a comida e colocá-la no balcão. O outro sistema é a fila de clientes, da qual você faz parte. Você é o produto: você anda, o processo produtivo fica parado. Taylor e Ford iriam sentir-se muito à vontade vendo suas ideias triunfantes no terceiro milênio. (MAXIMIANO, 2018). Saiba mais Conheça mais a respeito de Henry Ford neste link. De fato, Ford foi capaz de influenciar o mundo. Mas, quais são as críticas ao Fordismo? A primeira delas é a opção de escolha pelo cliente. Henry Ford optou por produzir carros somente na cor preta. Um único modelo. Os trabalhadores não participavam na criação do modelo, e atuavam de maneira rotineira, como se fosse mais uma peça na engrenagem da produção. Suas funções estavam restritas à realização de movimentos mecânicos e repetitivos, alienando-os do processo produtivo como um todo. Vamos imaginar a seguinte situação: se per- guntássemos ao trabalhador da época sobre o que ele fazia, o que ele responderia? Provavelmente, algo 28 parecido com isso: “eu aperto porcas”; “eu coloco as peças na esteira”; “eu peso a matéria prima”. Ou seja, sua alienação quanto ao processo produtivo como um todo era uma das principais críticas em relação ao trabalho. Em outras palavras, as necessidades e expectativas desses trabalhadores não eram levadas em consideração. 29 A ADMINISTRAÇÃO PODE SER ENSINADA? Se alguém fizer essa pergunta, nos dias de hoje, a resposta é muito fácil: SIM! Mas, você sabia que essa ideia foi amplamente difundida por Jules Henri Fayol1 (1841-1925) e que muitos de seus princípios influen- ciam até hoje a forma como se ensina Administração nas Universidades? Além disso, a partir de suas ideias, a Administração passou a ser vista como uma profissão. Para Fayol, a atividade administrativa deveria estar separada da atividade operacional. Ele passou a olhar a organização de cima para baixo, ou seja, a partir do topo da hierarquia em que os executivos exerceriam atividades administrativas, consideradas as mais importantes, enquanto as atividades operacionais ficariam na base dessa hierarquia. 1 Enquanto Taylor preocupava-se mais com o chão de fábrica, ou seja, com atividades operacionais, Fayol entendia que a parte mais importante estava sob responsabilidade daquele que estava no topo da hierarquia, cuja administração cabia ao executivo. Saiba mais Conheça aqui a biografia de Henry Fayol: 30 Outro aspecto defendido por Fayol estava na defesa da ideia de que a administração deveria ser conside- rada como uma das funções da empresa. Para ele, existiam as seguintes funções: 1. Funções técnicas: relacionadas à produção de bens e serviços. 2. Funções comerciais: relacionadas aos processos de compra e venda de materiais. 3. Funções financeiras: relacionadas com a procu- ra/uso de capitais da empresa. 4. Funções de segurança: relacionadas à pro- teção de pessoas e preservação das proprie- dades da empresa. 5. Funções contábeis: relacionadas com a realiza- ção e a análise da situação econômica e controle de estoque, custos, registros, etc. 6. Funções administrativas: relacionadas aos ele- mentos do ato de administrar: prever, organizar, co- mandar, coordenar e controlar. As funções administrativas são as que comandariam as demais funções. Vamos detalhar um pouco mais cada elemento das funções administrativas. • Prever: é o olhar para o futuro e programar-se para ele, por meio do estabelecimento de planos de ação; 31 • Organizar: é o olhar para a estrutura física e tam- bém para a estrutura social, composta pelas pessoas que fazem parte dela; • Comandar: é o olhar para que a estrutura social funcione, tendo a equipe sob a responsabilidade dos dirigentes; • Coordenar: é a busca da harmonização, sincro- nização e integração operacionais e de esforços coletivos, para o alcance das metas da organização; • Controlar: é o olhar para as atividades, buscando verificar sua realização e identificar desvios para realização de correções. Saiba mais Conheça as ideias clássicas de Fayol aqui. É importante observar que Fayol não negava, neces- sariamente, que os níveis operacionais não importa- vam. Na realidade, ele passou a dar ênfase na organi- zação da empresa como um todo, diferentemente de Taylor, que se preocupou, basicamente, nas tarefas executadas em nível operacional, ou seja, no chão de fábrica. Para Fayol, a melhora da eficiência poderia vir do aperfeiçoamento da estrutura da organização. A administração, portanto, referia-se à organização como um todo e as funções administrativas eram valiosas por coordenar as demais funções. Mas um ponto em comum é que ambos buscavam a efici- ência, mas partiam de diferentes pontos de vista! Afinal, você poderia se perguntar: quem está certo 32 (ou errado)? Não há certo ou errado, são simples- mente perspectivas diferentes. Ambos possuem suas contribuições importantes para a construção do conhecimento na área. 33 QUAIS SÃO AS CRÍTICAS ÀS IDEIAS DE FAYOL? Uma das críticas está relacionada a uma visão sim- plista da organização, pois não considera as ques- tões psicológicas do indivíduo, nem as questões so- ciais que influenciam o trabalho, deixando de lado as necessidades e as expectativas dos indivíduos. Além disso, a premissa adotada por Fayol era a de que as empresas atuavam de maneira isolada do ambiente, em outras palavras, elas não sofriam influência ex- terna. Um outro aspecto está relacionado à ênfase demasiada no comando da organização, ou seja, a preocupação com a unidade do comando e linhas de autoridade, deixando de lado outros aspectos importantes para a organização. 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS Você aprendeu que Taylor buscou elevar a eficiência das atividades, com foco no nas tarefas executa- das pelos operários no chão de fábrica. Ele ficou conhecido por ser o propagador da Administração Científica, com a aplicação de métodos científicos para estudar tempos e movimentos. Ford alcançou alta eficiência em seu processo de produção de car- ros, por meio do uso dos princípios da produção em massa, com padronização das peças e utilização da linha de montagem móvel. Já Fayol buscou analisar a organização como um todo, com ênfase na im- portância da estrutura da organização e da função administrativa como responsável pela coordenação das outras funções da organização. Podcast 2 35 Síntese Referências ABRANTES, José. Teoria Geral da Administração – TGA: A Antropologia Empresarial e a Problemática Ambiental. Rio de Janeiro: Interciência, 2012. GOMES E SILVA, Luiz Felipe. A organização do tra- balho na linha de montagem e a teoria das organi- zações. Revista Administração de Empresas. vol. 27 no.3 São Paulo: Julho/Setembro, 1987. FISCHMANN, Adalberto A.; ALMEIRA, Martinho Isnard Ribeiro de. Planejamento estratégico na prática. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução di- gital. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. Introdução Quais foram as primeiras ideias na área da Administração? Análise Crítica à Administração Científica O fortalecimento de outras ideias para a melhoria da eficiência A Administração pode ser ensinada? Quais são as críticas às ideias de Fayol? Considerações finais Síntese
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