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Transtorno de Déficit de Atenção Dentro do livro IACAPAP está nos transtornos externalizantes, mas no DSM-5 está nos Transtornos do Desenvolvimento. Nota Histórica O TDAH há tempos é descrito na literatura médica. Heinrich Hoffmann (1809-1894), um psiquiatra alemão, foi o primeiro a descrever crianças cujo comportamento era marcado por impulsividade e hiperatividade. A tal distúrbios de comportamento ele deu o nome de “insanidade impulsiva” ou “inibição defeituosa.” Em 1902, o pediatra George Still publicou no jornal The Lancet descrições de crianças com agitação motora, dificuldades de atenção e em controlar impulsos e necessidade de recompensa imediata. A Hiperatividade foi o sintoma usado para nomear o transtorno quando foi, pela primeira vez, incluído na CID-9 como “Síndrome Hipercinética da Infância” e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, 2ª edição (DSM-II), “reação hipercinética da Infância”. Foi somente em 1980 quando a desatenção também recebeu ênfase e o transtorno foi conceituado como “transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade”(DSM-III) e posteriormente “transtorno do déficit de atenção e hiperatividade” (DSM-III-R e DSM-IV). Definição dos Transtornos do Neurodesenvolvimento • Uma condição que assim como diversos outros psiquiátricos, teve seu entendimento refinado e desenvolvido ao longo dos anos. • Condição do neurodesenvolvimento que pode persistir ao longo da vida e que tem critérios diagnósticos bem estabelecidos Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral, antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência. DSM 5: Transtornos do Neurodesenvolvimento Considerações Gerais • É um transtorno do neurodesenvolvimento • Desatenção, hiperatividade e impulsividade → 3 grupos de sintomas • Afeta aproximadamente 5% das crianças (< 18 anos) → essa prevalência ainda precisa ser olhada, • Funcionamento neuropsicossocial alterado e correlação neurobiológica TDAH • É comum • Pode ser grave • Pode persistir ao longo da vida • É estigmatizante • É tratável Epidemiologia • Média no mundo: 5,29% para crianças e adolescentes • Média no mundo: 2,5% para adultos (19-45 anos) • 15% das crianças persistem com critérios completos na vida adulta • 40-60% das crianças entram em remissão parcial (melhora de alguns critérios diagnósticos) na vida adulta • Sexo masculino > sexo feminino Etiologia e Fatores de Risco • Forte componente genético: herdabilidade de 70-80% (manifestação precoce dos sintomas) • Fatores ambientais perinatais: prematuridade, exposição intrauterina ao tabaco e baixo peso ao nascer, porém há outros fatores ambientais em estudo ainda • Déficits neurobiológicos • Arquitetura genética complexa Uma série de agentes causais, tanto genéticos como ambientais, podem contribuir para o desenvolvimento do TDAH. Entretanto, cada fator de risco individual explica apenas uma pequena proporção do risco de desenvolvimento do transtorno. Nenhum dos fatores identificados é necessário para o desenvolvimento do TDAH, eles não são específicos e também são relacionados com outros transtornos mentais e anormalidades de neurodesenvolvimento. Neurobiologia • Disfunção frontal-strial → mediado por GABA e catecolaminas • Há umas teorias para tentar definir o transtorno, mas não totalmente esclarecido • Desregulação catecolaminérgica (dopamina e noradrenalina) • Atraso na maturação cortical (córtex pré- frontal) → redução na ação da dopamina à nível de córtex pré-frontal • Pode ter um atraso no desenvolvimento do volume cerebral, principalmente, em determinadas áreas O córtex pré-frontal tem uma ação inibitória, mas para desempenhar a sua função, ele precisa estar ativado pela via dopaminérgica, que está com sua ação reduzida, logo, o tratamento consiste no aumento da disponibilidade da dopamina na fenda pré-sináptica, por isso esse tipo de medicação recebe o nome de psicoestimulante. Apresentação Clínica Hiperatividade A hiperatividade é caracterizada por • Atividade física excessiva • Sentimentos constantes de impaciência – tornando os pacientes incapazes de se manterem quietos, mesmo em situações em que se espera tal comportamento • Atividade motora sem propósito – isto é, a atividade não tem um objetivo e afeta o ambiente de forma negativa, frequentemente, permanece em pé e caminhando sem propósito quando deveria estar sentado, ou movimentando as mãos e manipulando pequenos objetos quando se deveria estar imóvel • Inquietação – frequente ou o ato de se contorcer em seu assento • Incapacidade de brincar calmamente • Falar demais, correr em voltas ou escalar algo, quando isto é inapropriado Desatenção A desatenção se refere a um padrão comportamental em que o indivíduo tem dificuldade em iniciar, continuar exercendo e completar uma tarefa. Os pais podem hesitar em aceitar um diagnóstico de TDAH baseando-se na percepção de que a criança é capaz de focar quando desempenham tarefas específicas como jogar videogame, assistir TV ou em determinadas situações. Vale ressaltar que a motivação, a relevância e a atratividade de uma tarefa para a criança, além do ambiente, influenciam amplamente a manifestação dos sintomas. Impulsividade A impulsividade se refere à dificuldade em retardar uma ação ou resposta, mesmo quando é sabido que tal ação trará consequências negativas. A impulsividade é associada à necessidade de gratificação imediata, mesmo quando o adiamento levaria a melhores resultados. Comportamentos impulsivos manifestam-se em dificuldade em aguardar “sua vez de falar”, em jogos e brincadeiras ou ao atravessar a rua. Também podem manifestar-se como uma tendência em agir sem pensar. Por ex, dando respostas imediatas, independentemente, de sua precisão, ou respostas não relacionadas à questão, ou deixando escapar respostas antes de a questão ser finalizada. O que é mais comum? O TDAH tem uma história natural que tende a ter mais hiperatividade na infância e ao longo da vida, a tendência é a diminuição desse sintoma, pelo amadurecimento, e o sobressalto da desatenção e impulsividade → Mas não é regra. Diagnóstico DSM – 5 Critérios Diagnósticos A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2) 1. Desatenção – seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos 5 sintomas são necessários. a. Frequentemente, não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (p.ex, negligencia ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso) b. Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (p.ex, dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas) c.Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (p.ex, parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia) d. Frequentemente, não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (p.ex, começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo) e. Frequentemente, tem dificuldade para organizar as tarefas e atividades (p.ex, dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais, dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem, trabalho desorganizado e desleixado, mau gerenciamento do tempo, dificuldade em cumprir prazos) f. Frequentemente, evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (p. ex., trabalhos escolares ou lições de casa, para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos) → Importante g. Frequentemente, perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p.ex, materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular) h. Com frequência, é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados) i. Com frequência, é esquecido em relação à atividades cotidianas (p.ex, realizar tarefas, obrigações, para adolescentes mais velhos e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados) 2. Hiperatividade e impulsividade – seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: Nota: os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor, desafio, hostilidade ou dificuldade para compreender tarefas ou instruções. Para adolescentes mais velhos e adultos (17 anos ou mais), pelo menos 5 sintomas são necessários. a. Frequentemente, remexe ou batuca as mãos ou pés ou se contorce na cadeira b. Frequentemente, levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (p.ex, sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar) c. Frequentemente, corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é apropriado. (Nota: em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude) d. Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente e. Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor ligado” (p.ex, não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar) f. Frequentemente, fala demais g. Frequentemente, deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (p.ex, termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar) h. Frequentemente, tem dificuldade para esperar a sua vez (p.ex, aguardar em uma fila) i. Frequentemente, interrompe ou se intromete (p.ex, mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo) B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade- impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade. C. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade- impulsividade estão presentes em 2 ou mais ambientes (p. ex., em casa, na escola, no trabalho, com amigos ou parentes, em outras atividades) D. Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade E. Os sintomas não ocorrerem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são mais bem explicados por outro transtorno mental (p. ex., transtorno do humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno da personalidade, intoxicação ou abstinência de substância) Determinar o subtipo: 314.01 (F90.2) Apresentação combinada: Se tanto o critério A1 (desatenção) quanto o critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos 6 meses. 314.00 (F90.0) Apresentação predominantemente desatenta: Se o critério A1 (desatenção) é preenchido, mas o critério A2 (hiperatividade- impulsividade) não é preenchido nos últimos 6 meses. 314.01 (F90.1) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: Se o critério A2 (hiperatividade- impulsividade) é preenchido, e o critério A1 (desatenção) não é preenchido nos últimos 6 meses. Resumindo os critérios • Presença de 6 critérios de desatenção e/ou: • Presença de 6 critérios de hiperatividade e impulsividade • Vários sintomas estavam presentes antes dos 12 anos de idades • Vários sintomas presentes em dois ou mais ambientes Avaliação Clínica • Informação de pelo menos 2 contextos → professores são importantes (relatório escolar) • Avaliação médica/psiquiátrica • Avaliar comorbidades • Testes adicionais não são necessários, mas podem ajudar (escalas e avaliação neuropsicológica) A escala mais usada com as crianças é a SNAP – IV → mas não é necessário para fechar o diagnóstico. Diagnóstico Diferencial • Hiperatividade situacional → crianças vítimas de trauma, negligência, abuso, luto • Transtornos disruptivos e de conduta (TOD/TC) • Transtorno de humor • Tique, coreia, discinesias • Abuso de substâncias • TEA • Deficiência intelectual Comorbidades Possíveis consequências quando não tratado • Menor desempenho acadêmico • Problemas matrimoniais e divórcio • Dificuldades em lidar com a prole • Menor performance no trabalho • Desemprego • Acidentes de trânsito • Outros transtorno psiquiátricos Indivíduos afetados pelo TDAH e suas famílias comumente interpretam Tratamento Objetivos • Reduzir sintomas • Melhorar desempenho escolar • Reduzir problemas na escola e trabalho Tratamento baseado em evidências • Melhor evidência para medicações estimulantes • Tratamentos comportamentais também são efetivos em casos leves a moderados • Psicoeducação para pais e escola Treinamento para os pais Os pais podem ser treinados construtivamente a lidar com o comportamento de seus filhos ao ensiná-los como reforçar comportamentos desejáveis e extinguir o mau comportamento. Por ex, como estabelecer e transmitir regras sensatas, apropriadas e viáveis e o que fazer quando a criança adere às regras ou as quebras. Tem indicação de psicoeducação, terapia comportamental e muitos casos medicação (psicoestimulante). Psicoestimulantes Não há predileção de uma medicação sobre outra. Metilfenidato ou anfetaminas • Tem na apresentação de ritalina de liberação imediata, ritalina LA e concerta - OROS (não faz pico, por possuir um sistema osmótico) – metilfenidato • Anfetaminas – lisdexanfetamina, venvanse • Eficácia e segurança bem estabelecidas • Resposta clínica em 70% • Efeitos colaterais comuns: náusea, perda de peso, insônia • Efeitos colaterais mais graves: tiques, sintomas psicóticos, aumento de pressão arterial, retardo do crescimento • Se o paciente apresentar sintomas psicóticos, tem que ocorrer a retirada do psicoestimulante, porque o aumento da dopamina disponível pode desencadear a presença dos sintomas, durante o uso da medicação ou o estabelecimento desse quadro de maneira permanente (não há como saber), se atentar a história familiar que envolve sintomas psicóticos (transtorno bipolar, esquizofrenia) e aspredisposições. Outras medicações (Não-estimulantes) • Atomoxetina • Clonidina • Impiramina Os não-estimulantes são menos efetivos e tem mais efeitos colaterais – tentar apenas quando os estimulantes não estiverem disponíveis, não forem tolerado ou não apropriados. As medicações começam a ser utilizadas a partir dos 6 anos de idade.
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