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Centro Unisal Maria José Martins Gomes de Castro Pedagogia Waldorf: uma educação baseada no diálogo, afeto e arte Americana 2010 Centro Unisal Maria José Martins Gomes de Castro Pedagogia Waldorf: uma educação baseada no diálogo, afeto e arte Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Educação no Centro Universitário Salesiano de São Paulo, sob a Orientação do Prof. Dr. Severino Antônio Moreira Barbosa. Americana 2010 Castro, Maria José Martins Gomes C352p Pedagogia Waldorf: uma educação baseada no diálogo, afeto e arte. Maria José Martins Gomes de Castro. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2010. 84 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP. Orientador: Prof. Dr. Severino Antônio Moreira Barbosa. Inclui bibliografia. 1. Educação Waldorf. 2. Antroposofia. 3. Escolas Waldorf – Brasil. I. Título. CDD – 370.112 Catalogação elaborada por Maria Elisa V. Pickler Nicolino. Bibliotecária do UNISAL – UE – Americana, CMA – CRB-8/8292. Maria José Martins Gomes de Castro Pedagogia Waldorf: uma educação baseada no diálogo, afeto e arte Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Mestre em Educação no Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Dissertação de Mestrado defendida e aprovada em ___/___/___ pela Comissão Julgadora: _________________________________________ Prof. Dr. Severino Antônio Moreira Barbosa _________________________________________ Prof. Drª. Regina Célia Sarmento _________________________________________ Prof. Dr. Luis Antonio Groppo Dedico esta dissertação primeiramente a Deus, pela saúde, fé e perseverança que me tem dado. A meus pais, com toda minha dedicação, amor e carinho. Às crianças da escola Waldorf, que me receberam de forma muito calorosa. AGRADECIMENTOS A Deus, autor da vida, fonte de todo o conhecimento e inspiração. Ao meu orientador, Prof Dr: Severino Antônio Moreira Barbosa, pela abertura de caminhos para o conhecimento e pelas excelentes orientações. E por seu apoio e inspiração ao desenvolvimento das idéias e conceitos que me possibilitaram compor essa dissertação me proporcionando um crescimento pessoal e acadêmico sobre uma pedagogia diferenciada para o diálogo, afeto e arte. Ao meu co-orientador Profº Dr Luís Antonio Groppo, pelo apoio, companheirismo e amizade durante a realização do curso do mestrado. Pelo incentivo e pelas valorosas sugestões. Um agradecimento especial pela mensagem deixada na qualificação em que expressa que o seu verdadeiro papel, como educador, é o de remover dificuldades, e obstáculos físicos e psíquicos do nosso caminho. Sendo assim, demonstra o seu compromisso ético e efetivo junto aos alunos dessa instituição. Ao coordenador, Prof. Dr. Renato Soffner, pelo apoio, incentivo, dedicação e pela especial participação neste trabalho, a mais sincera gratidão. À Profª Drª Regina Célia Sarmento que, na banca de qualificação, ofereceu sugestões valiosas para que pudesse continuar a desenvolver meu trabalho de pesquisa. Às minhas irmãs, Maria Ângela, Alessandra, Tatiane e Fabiana pelo carinho e atenção que sempre tiveram comigo, apoiando em todos os momentos. Aos meus pais, Fernando e Terezinha, pelo incentivo e apoio durante o meu mestrado, pelas palavras sensatas. Aos meus sobrinhos (a), Sofia, Bernardo e Vinícius, que são para mim o melhor presente que uma tia poderia ter e por estarem sempre presentes na minha vida, de forma tão afetuosa. Ao meu namorado, Hélio Luiz, pelo carinho, compreensão e apoio, ensinando-me a não desistir de meus sonhos. Aos amigos que fiz durante o curso, pela verdadeira amizade que construímos e por estarem sempre ao meu lado; por todos os momentos que passamos, o meu especial agradecimento. Aos meus professores do Mestrado, pela paciência, dedicação e ensinamentos disponibilizados nas aulas: cada um de forma especial contribuiu para a minha formação profissional. Agradeço à nossa secretária do curso de Mestrado Inessa, por ser sempre atenciosa quando precisamos de sua atenção. Agradeço às pessoas do laboratório de informática da UNISAL, que me ajudaram muito quando mais precisei de suporte técnico. Às escolas Waldorf pesquisadas, pela oportunidade de fazer a minha pesquisa de campo; aos professores, por ter ajudado tanto a conseguir fazer a pesquisa nessas escolas. A todos os funcionários que me receberam de uma forma muito acolhedora. A Carlos Coelho, pela atenção e dedicação nas correções da minha dissertação. Em especial ao meu amigo Wellington Oliveira, quero agradecer de coração pela amizade, carinho, pelas horas ao telefone ouvindo o meu desabafo. Que Deus pague tudo isso; com certeza, nunca poderei pagar tanta gentileza. Obrigada por tudo. Confiança é uma das palavras de ouro que, no futuro, deverão dominar a vida social. Amor pelo que se tem a fazer é outra palavra de ouro. E, no futuro, serão socialmente benéficas as ações que forem realizadas por amor ao ser humano universal. Rudolf Steiner Meu filho deficiente mental, Hikari, foi despertado pela voz dos pássaros para a música de Bach e Mozart e acabou produzindo suas próprias obras. As pequenas peças que ele inicialmente compôs eram cheias de frescor e prazer. Pareciam gotas de orvalho brilhando sobre a relva. A palavra inocência é composta de prefixo "in", que significa "não", e de "nocere", "ferir". Ou seja, ela quer dizer "aquele que não fere”. A música de Hikari era uma manifestação natural de sua própria inocência. Conforme ele passou a criar mais obras, no entanto, não pude deixar de ouvir nelas também a voz de uma alma escura e atormentada. Apesar de deficiente, seus esforços extenuantes permitiram que ele melhorasse suas técnicas de composição e aprofundasse suas concepções. E isso fez com que ele então expressasse com a música o que fora incapaz de expressar com palavras. O fato de expressá-la em música cura Hikari de sua tristeza é um ato de recuperação. Mais ainda, seus ouvintes aceitaram essa música como algo que também os fortalece e restaura. Nesses fenômenos, eu encontro as razões para acreditar no estranho poder curativo da arte. (trecho do discurso de aceitação do Prêmio Nobel.). (Kemzaburo Oe) RESUMO Este estudo, intitulado “Pedagogia Waldorf: uma educação baseada no diálogo, afeto e arte, tem como meta compreender a pedagogia diferente proposta pela Escola Waldorf. Diante de tantas crianças com dificuldade de aprendizagem, a intenção é de refletir se a Escola Waldorf, com sua proposta curricular muito rica, pode ser utilizada no ensino convencional. Assim, o objetivo deste presente trabalho é analisar princípios e concepções pedagógicas da Pedagogia Waldorf. Como metodologia, apresenta-se a pesquisa teórica e a pesquisa de campo. Nesta, realizada em duas escolas Waldorf, as vozes dos educadores e também de alunos são ouvidas e observadas. As respostas às questões são analisadas e interpretadas. O trabalho está organizado em dois capítulos. O primeiro dialoga com o referencial teórico, versando sobre a importância do diálogo, afeto e harmonia na educação. Discorre sobre o trabalho de Rudolf Steiner, austríaco, responsável pela primeira escola Waldorf, que surgiu na Alemanha. Aborda brevemente a Antroposofia – palavra originária do grego (antropos, homem; sophia, sabedoria) –, que tem foco no conhecimentodo ser humano. Também é apresentada uma experiência desenvolvida na Associação Comunitária Monte Azul, sobre a vocação social e a Pedagogia Waldorf. O segundo capítulo traz a revelação de uma educação encantadora, com a pesquisa realizada em duas escolas, na qual se mostra o resultado das observações, bem como as vozes dos educadores Waldorf. Observamos nas escolas a importância da arte, do diálogo e do afeto na educação. Diante dos questionários aplicados para os professores, notamos que eles procuram a formação Waldorf por ser uma pedagogia que se baseia numa formação diferente da escola convencional, visando à importância de conhecer a essência do aluno. Palavras-chave: Educação Waldorf, antroposofia, escolas Waldorf. ABSTRACT This study, entitled "Waldorf education: an education based on the dialog, affection and art, aims to understand the different pedagogy proposed by the Waldorf School. With so many children with learning difficulties, the intention is to reflect the Waldorf School, with its rich curriculum, can be used in conventional teaching. Thus, the aim of this study is to analyze pedagogical concepts and principles of Waldorf education. The methodology presents the theoretical research and field research. This held in two Waldorf schools, the voices of educators and students are also heard and seen. Answers to questions are analyzed and interpreted. The paper is organized into two chapters. The first dialogue with the theoretical, concerning the importance of dialogue, affection and harmony in education. Discusses the work of Rudolf Steiner, Austrian, responsible for the first Waldorf school, which originated in Germany. Discusses briefly anthroposophy - the word originates from the Greek (anthropos, man, sophia, wisdom) - which focuses on knowledge of human beings. There is also an experience developed in Monte Azul Communitarian Association on the social vocation and Waldorf Pedagogy. The second chapter brings the revelation of a lovely education, with research conducted in two schools, which also shows the results of these observations, as well as the voices of Waldorf educators. Observed in the school the importance of art, dialogue and affect in education. Before the questionnaires for teachers, we note that they seek training to be a Waldorf education that is based on a different formation of the conventional school, aiming at the importance of knowing the essence of the student. Keywords: Waldorf education, anthroposophy, Waldorf Schools SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................ 10 CAPÍTULO 1 – UM DIÁLOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF .......... 14 1.1 Rudolf Steiner .......................................................................................... 15 1.2 Antroposofia ............................................................................................. 17 1.3 O estudo geral do homem: uma base para a Pedagogia ........................ 20 1.4 Uma breve história da Escola Waldorf ..................................................... 23 1.5 Metodologia e didática............................................................................... 26 1.6 Alguns dos aspectos da concepção pedagógica....................................... 33 1.7 A vocação social da Pedagogia Waldorf: da consciência à realização. A Associação Comunitária Monte Azul ........................................................ 40 1.7.1 Reflexões sobre currículo social ........................................................... 44 CAPÍTULO 2 – REVELAÇÕES DE UMA EDUCAÇÃO ENCANTADORA ... 47 2.1 Procedimentos metodológicos................................................................. 48 2.2 Caracterização da Escola Waldorf 1 ....................................................... 50 2.3 Relatos da observação na Escola Waldorf 1............................................ 52 2.4 Caracterização da Escola Waldorf 2 ........................................................ 58 2.5 Relatos da observação na Escola Waldorf 2 ........................................... 60 2.6 Comparativo entre as duas escolas Waldorf............................................ 67 2.7 Modelo do questionário aplicado aos professores das escolas Waldorf 1 e Waldorf 2 .................................................................................... 69 2.8 Perfil dos pesquisados ............................................................................. 71 2.9 As vozes das escolas Waldorf pelas respostas dos professores............ 72 CONSIDERAÇÕES FINAIS:.......................................................................... 76 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 80 ANEXO......................................................................................................... 81 INTRODUÇÃO Receber a criança em agradecimento ao mundo de onde ela vem; Educar com amor; Conduzir a criança através da verdadeira liberdade que pertence ao homem. Rudolf Steiner A arte da educação deve ser cultivada em todos os aspectos, para se tornar uma ciência construída a partir do conhecimento profundo da natureza humana. Pestalozzi Em Arte, os procedimentos são sagrados, desde que satisfaçam a uma necessidade interior. Wassili Kandinski INTRODUÇÃO Nosso verdadeiro papel, como educadores, é o de remover dificuldades. Cada criança traz das regiões divinas algo de novo para o mundo, e é nossa tarefa como educadores a remoção dos obstáculos físicos e psíquicos de seu caminho de forma a permitir que seu espírito adentre a vida em toda liberdade. Rudolf Steiner A escolha desse tema surgiu por acreditarmos principalmente numa educação mais justa, baseada no diálogo, afeto e arte. A questão central desta pesquisa está focada em saber como a Escola Waldorf ensina, por meio de uma pedagogia diferente. Diante de tantas crianças com dificuldade de aprendizagem no ensino convencional, pretendemos pesquisar e refletir sobre a Pedagogia Waldorf, uma proposta muito rica, que talvez possa ser utilizada no ensino convencional. A Pedagogia Waldorf se baseia na Antroposofia e em sua visão do ser humano e da criança, e especialmente no sentir, no querer e pensar. Esta Pedagogia, que tem seu alicerce na Antroposofia – “conhecimento do ser humano” –, desenvolvida por Rudolf Steiner no início do século XX, não é uma religião; é um caminho de conhecimento. Surge como uma necessidade do coração e de sentimento. Podemos perguntar se esta pedagogia não estaria fora das expectativas do nosso país. Apesar desse questionamento, dá para perceber a importância da Pedagogia Waldorf, que apresenta outra realidade, uma realidade baseada no amor, no afeto e no diálogo. Tem vida, poesia e esperança. A Pedagogia Waldorf é uma educação apaixonante, com atividades manuais que proporcionam aos alunos o contato com materiais variados: fiar, tecer, forjar, modelar, esculpir, pintar etc. Trabalha, também, cotidianamente, com artes visuais, música, poesia, história e jardinagem. Acredita que, partindo dessa experiência, o aluno, mais tarde, não se assustará diante de um problema que de início pareça exceder suas forças. É importante mencionarmos que, na Escola Waldorf, a professora cumprimenta individualmente a criança ao entrar na sala de aula. Dessa forma, a mesma aprende a ser saudada, a ser considerada, e já recebe, portanto, um primeiro contato do dia. As crianças ficam em filas, aguardando pacientemente sua vez. Recebem um gesto de atenção individual, consideração, e aprendem a ter paciência; captam, assim, um exemplo de educação. Para a Pedagogia Waldorf, é essencial entender que educar é um ato de amor. É importante ouvir vozes, dialogar, ouvir a história de cadacultura, como uma linguagem simples. É preciso haver interação entre o professor e o aluno; haver vida, sonho, amor. O educador tem que vencer sua insegurança e acreditar no novo. Por isso, a Pedagogia Waldorf é importante para a criança, se pensarmos que, quanto mais a criança for motivada a aprender, melhor será o seu desenvolvimento. O mesmo acontece com o andar e o falar: a criança desenvolve esse aprendizado em contato com outras pessoas. Justificamos a realização da pesquisa em razão da quantidade de crianças com dificuldade de aprendizagem e também pela relevância das contribuições da Pedagogia Waldorf para o desenvolvimento da aprendizagem. Assim, esta pesquisa está relacionada à segunda linha de pesquisa do Mestrado em Educação Sociocomunitária do Centro Unisal, denominada “A intervenção educativa sociocomunitária: linguagem, inter-subjetividade e práxis”. Como objetivo geral, intencionar estudar e analisar alguns dos princípios da Pedagogia Waldorf e, como objetivo mais específico, refletir sobre como a Escola Waldorf ensina por meio de uma pedagogia diferente. Para Groppo e Martins (2007, p. 48), A observação científica diferencia-se da observação espontânea pelo fato de que o pesquisador irá se interessar por uma dada questão da realidade, ou de parte dela, e metodicamente irá coletar dados sobre a questão ou aspecto. Neste caso, a observação é do tipo participante, pois, segundo os autores, ela permite ao pesquisador um contato direto com o que está observando. Notamos que a pesquisa experimental visa a um padrão único, na ciência, pois parte de um modelo de estudo para todas as ciências; já a pesquisa qualitativa parte de uma visão dinâmica que comporta a pesquisa de diferentes formas, visto que abrange técnicas e métodos de pesquisa diferentes em relação aos estudos experimentais. Houve, ainda, observação e pesquisa de campo, com uso de questionário. Para Lakatos e Marconi (1996, p. 42), A pesquisa de campo é uma fase que é realizada após o estudo bibliográfico, para que o pesquisador tenha um bom conhecimento sobre o assunto e têm seu interesse da pesquisa voltado para o estudo de indivíduos, grupos, comunidades, instituições, entre outros campos. Para a pesquisa de campo, foi utilizado o instrumento Questionário, com a maioria das questões abertas. Tanto para o referencial teórico quanto para a pesquisa de campo, são utilizados os ensinamentos de Rudolf Steiner, Rudolf Lanz e Tobias Richter. No Capítulo 1 – Um diálogo sobre a Pedagogia Waldorf –, abordamos a importância do diálogo, afeto e arte, na educação; apresentamos brevemente o filósofo, cientista e artista austríaco Rudolf Steiner, criador da Antroposofia e responsável pela primeira escola Waldorf criada em 1919, na cidade de Stuttgart, na Alemanha; discorremos sobre o estudo geral do homem como uma base para a Pedagogia e também sobre um pensador, que, a sua maneira, pode ter influenciado a Pedagogia Waldorf. Visando também à metodologia e didática da Pedagogia; apresentamos uma breve história da escola Waldorf, com alguns dos princípios, objetivos e os aspectos que alicerçam sua concepção pedagógica. Relatamos, ainda, a história da Associação Comunitária Monte Azul, bem como as reflexões do currículo social. No Capítulo 2 – Revelações de uma Educação Encantadora –, enfocamos os procedimentos metodológicos para a realização da pesquisa de campo, que foi realizada por meio de observação do ambiente, das salas de aula e da dinâmica de duas escolas Waldorf, pertencentes a duas cidades do interior de São Paulo. Igualmente, apresentamos os resultados obtidos na aplicação do questionário aos educadores das salas observadas, com análise e interpretação de suas vozes. CAPÍTULO I UM DIÁLOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formar seres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos, encontrar propósito e direção para suas vidas. Rudolf Steiner A alegria de pensar é mais rara, cada dia. Assim também a paixão de conhecer e transformar o mundo. Pensar é diálogo. Pesquisar é diálogo. Escrever é diálogo. Não há aprendizagem, nem ensino, sem diálogo. Severino Antônio CAPÍTULO 1 UM DIÁLOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF Neste capítulo, abordamos a importância do diálogo, afeto e arte, na educação. Apresentamos brevemente o filósofo, cientista e artista austríaco Rudolf Steiner, criador da Antroposofia e responsável pela primeira escola Waldorf. Igualmente, enfocamos a Antroposofia, que foi desenvolvida por Rudolf Steiner. Uma palavra que vem do grego anthropos, homem, e sophia que significa sabedoria, e que aborda o conhecimento do ser humano. Além disso, citamos algumas concepções de Pestalozzi. Terminamos o capítulo com a vocação social, tomando como exemplo a Associação Comunitária Monte Azul. 1.1 Rudolf Steiner Rudolf Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861 em Kraljevec (Áustria). Apesar de seu interesse humanístico ainda por uma sensibilidade para assuntos espirituais, cumpriu em Viena, a conselho do pai, estudos superiores de ciências exatas. Por seu desempenho acadêmico, a partir de 1883, Rudolf Steiner tornou-se responsável pela edição dos escritos científicos de Goethe na coleção Deustsches Nationalliteratur. (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm). Uma pequena observação se faz ao menino Steiner, que, aos oito anos de idade, teve despertada a sua paranormalidade, mas a manteve em segredo, devido ao preconceito da época. Para integrar o seu dom, mantendo a lucidez, julgou ser necessário ter uma visão concreta da realidade e para isso se entregou aos estudos da matemática, ciências naturais e filosofia (EMANUEL, 2009). Aos dez anos de idade, matriculou-se no colégio Liceu, numa cidade próxima da qual morava, chamada Wiener-Neustadt, na qual recebeu uma nota que nenhum aluno havia recebido antes, pois adquiriu sozinho o conhecimento da área da matemática como cálculo, estatística e geometria descritiva. Recebeu seu primeiro convite de trabalho em 1883, por sua aplicação nos estudos, cuja incumbência era de responsabilizar-se pelos escritos de Goethe, e por lá ficou até 1890, quando se transferiu para Weimar, na Alemanha, igualmente convidado para trabalhar no Arquivo Goethe-Schiller. Morou e trabalhou nessa cidade por sete anos. Em 1891, doutorou-se em Filosofia, com uma tese em epistemologia, publicada posteriormente como Verdade e Ciência. Seus estudos na área humanística lhe renderam, em 1894, a produção de um livro, intitulado A Filosofia da Liberdade. Nessa época, morava em Berlim. Foi escritor, redator literário e conferencista para divulgar suas ideias, por ele chamadas de “científico-espirituais”, iniciando pela Teosofia, no período de 1902 a 1912, e depois pela Antroposofia, sociedade da qual ele mesmo foi o fundador. Em Dornarch (Suíça), Steiner construiu em madeira o Goetheanum, sede da Sociedade (e mais tarde também da Escola Superior Livre de Ciências Espirituais), destruído em dezembro de 1922 por incêndio e, posteriormente, substituído pelo atual edifício em concreto. (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm). Steiner faleceu nessa mesma cidade de Dornarch, em 1925, deixando grandes contribuições nos campos da Medicina, Agricultura, Organização Social, Pedagogia e Pedagogia Curativa. 1.2 Antroposofia Em 1902, Steiner realizou uma palestra “De Zaratrusta a Nietzsche” na qual utilizou pela primeira vez a palavra “Antroposofia”, sendo mais tarde designada ao conjunto de conhecimento criado por ele. De acordo com Passerini (1998, p. 31), Steiner define a Antroposofia como "um caminho de conhecimento que pretende fazer o espírito humano chegar à união com o espírito cósmico" ou conhecimento produzido pelo eu superior do homem”. A Antroposofia procura responder as mais profundas perguntas do homem através da razãosem negar os anseios espirituais. A Antroposofia é uma palavra de origem grega que significa "conhecimento do ser humano", ou “sabedoria humana” e foi introduzida em 1913 pelo austríaco Rudolf Steiner, caracterizada pelo conhecimento da natureza, do ser humano e do universo, que em sua concepção amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como a sua aplicação em, praticamente, todas as áreas da vida humana. (Sociedade Brasileira de Antroposofia). (SAB, 2009). Essa Antroposofia é a base da Pedagogia Waldorf. Para aplicá-la, não é necessário ser antropósofo ou antroposófico, mas sim compreender que o futuro da humanidade exige espírito de iniciativa, fantasia criadora e senso de responsabilidade. Em seus conceitos, há reflexões sobre a capacidade de pensar e sobre a compreensão do ser humano moderno, bem como quatro características de desenvolvimento: da consciência, do autoconhecimento, da individualidade e da liberdade. Em seu livro Passeios através da História à Luz da Antroposofia, Rudolf Lanz (1998) apresenta como o ser humano é conseqüência de uma linha de acontecimentos espirituais. A criança, quando pequena, quer conquistar o seu espaço, correr, pular, engatinhar, subir em árvore, em cadeiras, mesas e, assim, está treinando seu sistema motor. O mesmo podemos afirmar da motricidade da mão, que faz fluir a vontade contida no corpo inteiro. Conforme Lanz (1998, p. 43), O que toda criança deveria ter em primeiro lugar é um ambiente cheio de carinho e amor. Assim o leite materno protege o recém-nascido contra a substancialidade do mundo da figura da mãe (não necessariamente a mãe física), protege- o contra a frieza do ambiente, dando-lhe calor e aconchego. Mesmo que a criança cresça num ambiente onde tudo parece ser perfeito, mas não tem calor humano, acabam gerando nela traumas, defeitos congênitos e psíquicos. O que toda criança precisa é de amor, afeto e diálogo porque só assim saberá o quanto “o mundo é bom”. A criança, inconscientemente, imita o que está ao seu redor, como o modo de falar, os gestos, e mais tarde irá imitar a mãe, brincará, com seus colegas, de médico, vendedor, pois o seu mundo se baseia na identificação. Exatamente, é por isso que não devemos destruir esse seu pequeno mundo, com comentários irônicos, porque na verdade essa é a realidade em que a criança vive. E os adultos têm que compreender que a mesma é incapaz de fingir e mentir. Pois não sabe distinguir entre a realidade do seu mundo e a da sua imaginação. Para Lanz (1998, p. 43), Isso se aplica em particular a adultos que possuam um dos quatro temperamentos muito predominante. O colérico pode, com suas ”explosões”, causar um impacto tão grande numa criança que ela seja prejudicada, em toda a sua vida posterior, em seu sistema rítmico e circulatório; o adulto melancólico, concentrado em si próprio, não dará à criança o calor e o aconchego de que precisa, o que poderá ter efeitos muito negativos sobre seu sistema digestivo; o fleumático, que é uma pessoa animicamente insípida, deixará a criança sem estímulos, obtusa, com as capacidades cerebrais pouco desenvolvidas; o adulto sangüíneo não consegue segurar a criança com carinho: ela se sentirá desamparada, e isso deixará um marco negativo em sua própria vitalidade. Lanz (1998) compreende que isso se revelará como um dos princípios pedagógicos mais importantes para todas as idades: os educadores, inclusive os pais, devem trabalhar sobre si mesmos, para eliminar falhas que podem ter efeitos negativos sobre seus educandos. Devemos compreender que a infância não é uma fase de brincadeiras, sem responsabilidade; pelo contrário, a criança, até os três anos de vida, aprende mais do que todos os anos de vida acadêmica do homem. Se pensarmos no andar, pensar, falar são aprendizados que a mesma conquista antes mesmo do termino do terceiro ano. São aprendizados que fazemos em contato com outros seres humanos. O desenvolvimento humano é setenial; cada fase possui características próprias, que vão se modificando a cada sete anos. Desde o nascimento até a maioridade (21 anos), distinguimos as três fases, por setênios ou sete anos cada. No primeiro setênio, a criança está na fase da imitação; quando alcança o segundo, começa a desenvolver os sentimentos; já no terceiro, o adolescente está conquistando o mundo das idéias. Segundo Passerini (1998, p. 45), No primeiro setênio, entre o nascimento e a troca dos dentes, a criança vive preferencialmente no âmbito do envoltório da mãe e do lar. Entre a troca dos dentes e a puberdade, no segundo setênio, ela dá um passo em direção ao mundo; nessa fase, a escola, juntamente com o lar, desempenha papel da importância para a criança e o futuro jovem. Como foi mencionado, a fase é de sete anos, porém podendo haver alteração devido às diferenças socioculturais, individuais e de sexo. Assim, de acordo com Passerini (1998, p. 45), A criança pequena vive num estado que se caracteriza pela ingenuidade e por abertura e confiança em relação ao mundo, acolhendo, sem resistência anímica, todas as impressões que esse mundo lhe proporciona; assemelha-se, pois, a um grande órgão sensório. Nessa fase, ela aprende por imitação. Ao receber amor, calor, e com uma vida rítmica, a criança estará desenvolvendo autoconfiança e a vivência de que o mundo é bom. Pois a criança aprende por meio da imitação e, através desta, estará aprendendo o comportamento do ser humano, criando uma base para o seu desenvolvimento. Conforme Passerini (1998, p. 46), No período dos sete aos catorze anos, após a segunda dentição e o primeiro estiramento, encontramo-nos diante do escolar. Nessa fase a criança se isola, volta-se para si mesma, explorando as qualidades de sua mente nos processos de pensar, sentir e querer pelo poder da imaginação. Ela se encastela para construir um mundo próprio, onde faz tudo o que não pode fazer no mundo real. A criança que não sonha na infância, ao se tornar adulta, não terá flexibilidade, respeito; quer dizer, terá inabilidade para fazer contato com outras pessoas e com isso acabará se isolando. Portanto, é importante uma educação baseada no brincar, criar e ouvir histórias, pois através dessa imaginação infantil que irá possibilitar o desenvolvimento da criatividade na vida profissional e social. De acordo com Passerini (1998, p. 46), "A beleza de uma folha ou de um pôr de sol farão nascer o sentimento de que o mundo é belo e de que vale a pena viver". Quando falamos da beleza do pôr do sol, brincar, ouvir histórias, amor, calor, são coisas que parecem pequenas, mas fazem toda a diferença na vida da criança, pois é importante para o indivíduo vivenciar esses fundamentos para o seu desenvolvimento pleno. 1.3 O estudo geral do homem: uma base para a Pedagogia O livro de Rudolf Steiner (2003), intitulado A arte da Educação. II. Estudo geral do homem: uma base para a pedagogia, apresenta as catorze conferências proferidas em Stuttgart, na Alemanha, de 21 de agosto a 5 de setembro de 1919, por ocasião da fundação da Escola Waldorf Livre. Uma das conferências teve como tema “A trimembração do organismo social”, realizada a pedido de alguns membros da Sociedade Antroposófica. Outra conferência intitulada "Estudo geral do homem," foi escolhida por Rudolf Steiner para ser feita aos professores da nova Escola Waldorf Livre. Com base nessas conferências, devemos, primeiramente, distinguir entre a tarefa pedagógica que a sociedade nos propõe hoje e aquela que a humanidade propõe isto considerando que a ciência espiritual antroposófica coloca os homens em atividade, sempre novos e voltados para a sua época. Para Steiner, deveríamos dar início à educação para a criança quando realmente integrada ao plano físico, ou seja, ao começar a respirar e sentir o ar exterior, pois a respiração tem uma relação com o sistema do metabolismo,além das funções da respiração estarem ligadas ao sistema neurossensorial. Steiner (2003) afirma que a criança não sabe respirar de modo a sustentar-se corretamente, pela respiração, no processo neurossensorial. Devemos, nesse momento, compreender o ser humano, pelo ponto de vista antropológico-antroposófico. A educação deve ensiná-los a respirar corretamente. Por outro lado, a criança sabe muito bem dormir e já nasce dormindo, mas o que ela ainda não sabe fazer é o que constitui o fundamento dos estados de vigília e o sono. A criança tem toda a espécie de experiência no plano físico; usa seus membros, come, bebe e respira. Mas enquanto faz tudo isso, em estados alternados de sono e vigília, não é capaz de levar para o mundo espiritual tudo que experimenta no mundo físico – o que vê, ouve com os ouvidos, realiza com suas mãozinhas, e a maneira como esperneia; tampouco poderia transformá-lo no mundo espiritual e trazer o produto dessa atividade de volta para o plano físico. O que caracteriza seu sono é ser diferente do sono do adulto. (STEINER, 2003, p. 25). Entendemos que ocorre uma transformação no sono do adulto – geralmente são experiências ocorridas entre o adormecer e o despertar – o que o diferencia do sono da criança, visto que a mesma não leva para o sono o que realizou e vivenciou nesse entremeio. Steiner (2003) afirma que a atividade educacional e docente é dirigida inicialmente a um campo elevado – ou seja, o ensino da respiração e do ritmo na alternância entre o sono e a vigília – e, por essa razão, notamos que, para sermos bons educadores, devemos olhar para o que fazem. Para Steiner (2003, p. 40), O professor moderno deveria ter como fundamento de tudo que desempenha na escola, uma ampla visão das leis do Universo. Obviamente é nas primeiras classes, nos primeiros graus da vida escolar que o ensino exige um relacionamento da alma do docente com as mais elevadas idéias da humanidade. Entendemos que o professor deve conhecer a fundo o papel que desempenha na escola. E principalmente na alma do aluno. É por isso que, nos primeiros anos, o professor deve ter contato com o aluno por mais tempo, criando, assim, um laço afetivo. De acordo com Steiner (2003, p. 68), Por curioso que pareça, tudo que a criança faz e traquina é realizado por simpatia para com o fazer e traquinagem. Quando nasce no mundo, a simpatia é amor forte, querer vigoroso. Mas não pode permanecer assim; deve permear-se, como que ser continuamente iluminada pela representação mental. Isso se dá, em sentido mais amplo, quando integramos aos nossos instintos os ideais, os ideais morais. Pouco sabemos que, ao andar, as crianças estão, na verdade, vivendo conscientemente, e nada sabem do que acontece dentro dos músculos ou até mesmo do que ocorre no nosso corpo como um todo. Assim, segundo Steiner (2003, p. 77), “tudo que possuímos como conceitos de coesão, de adesão, de forças de atração e repulsão constituem, no fundo, apenas hipóteses para a ciência exterior”. Podemos dizer que os sentimentos que vivem na nossa alma só conhecem os sonhos, mas os sonhos são lembrados por nós, diferente dos sentimentos que são experimentados. De acordo com Steiner (2003, p. 100), O homem possui ao todo doze sentidos. O fato de a ciência comum distinguir apenas cinco, seis ou sete sentidos decorre de esses serem especialmente evidentes, enquanto os demais que completam o número doze são menos. Abordamos o sentido da audição, da visão, do paladar, olfato e tato, considerando que o sentido térmico e o tato são vistos como diferentes no homem ao se relacionar com o mundo. Steiner (2003) afirma que temos o sentido da linguagem e temos ainda os sentidos da audição, do calor, da visão, do paladar, do olfato e, depois, o sentido do equilíbrio. Mantemos o nosso equilíbrio – frente, atrás, direita e esquerda –, para não cairmos. Inclusive, os sentidos, como o olfato, visão e calor, estão ligados aos sentimentos. O sentido do calor está relacionado com os sentimentos, e confundimos com o sentido do tato que, na verdade, é mais volitivo, enquanto o calor é apenas sentimental. 1.4 Uma breve história da Escola Waldorf A primeira escola Waldorf surgiu em 7 de setembro de 1919 em Sttutgart na Alemanha. Emil Molt, o proprietário de uma empresa de cigarros, por ter conhecimento que Steiner entendia de “pedagogia”, propôs para o mesmo que fundasse uma escola para os filhos de seus operários e para os funcionários. Emil Molt sabia que Steiner, enquanto estudante foi responsável por educar um menino excepcional (hidrocéfalo incurável), e esse estudante acabou sendo curado. O mesmo terminou seus estudos e formou-se em Medicina, e veio a falecer durante a primeira guerra mundial, mas nada relacionado à sua deficiência. Steiner concordou, mas para tanto colocou 4 condições: primeira condição: que a escola seria aberta, indistintamente, para todas as crianças; a) segunda condição: que a escola fosse coeducacional; b) deveria também ser uma escola com um currículo unificado de 12 anos e, por último, que os professores da Escola fossem também os dirigentes e administradores da mesma. Queria que a Escola Waldorf tivesse o mínimo de interferência governamental e não tivesse a preocupação com objetivos lucrativos. (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm). Após uma conferência em Oxford em 1922, Steiner definiu “três regras de ouro” para o “professor Waldorf”: a) Receber a criança em agradecimento ao mundo de onde ela vem; b) educar a criança com amor; c) conduzir a criança através da verdadeira liberdade que pertence ao homem. (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm). O nome da primeira Escola foi emprestado por Emil Molt, o dono da empresa de cigarros, que também se chamava Waldorf. Foram várias conferências para a abertura da primeira Escola Waldorf, para os professores que Steiner escolheu. Depois, outras escolas foram surgindo na Alemanha, na Inglaterra, na Suíça, na Suécia, nos Estados Unidos. No Brasil, a primeira escola Waldorf surgiu em São Paulo em 1956, no dia 27 de fevereiro. O Quadro 1 apresenta o crescimento do número de escolas Waldorf, de 1919 a 2009, na Alemanha, e no restante da Europa e do mundo, desconsiderados os estabelecimentos de educação infantil isolados. Alemanha Outros Países da Europa Outros Continentes Total 1919 1 0 0 1 1925 4 3 0 7 1938 8 8 0 16 1955 25 8 8 41 1971 32 42 21 95 1983 80 154 76 350 1992 144 289 149 582 2004 187 444 249 880 2009 213 468 312 993 Var. 1971- 2009 665% 1.114% 1.486 % 1.045% Quadro 1 – Crescimento das escolas Waldorf em números, de 1919 a 2009 Fonte: Rickli (2009a). No Brasil, ainda são raras as referências à Pedagogia Waldorf em cursos de formação de professores, os quais, às vezes, se referem com um tom irônico “nem vamos falar dessa esquisitice”. Percebemos que as pessoas ainda acreditam que a Escola Waldorf seja fora da realidade, e os professores, comumente, têm muito pouco contato com ela e até mesmo desconhecimento da mesma. Conforme o Quadro 1, podemos perceber que o número de Escolas Waldorf aumentou significativamente a partir da revolução pedagógica que surgiu na cultura ocidental entre 1890 e 1930, e que ficou conhecida como: Nova Educação, Escola Nova, New Education, Education Nouvelle, Reformpädagogik. De 1919 a 2009, houve uma triplicação na quantidade de escolas Waldorf; um resultado extremamente positivo. O Quadro 2 apresenta os países nos 15 primeiros lugares em número de escolas Waldorf no mundo. Classificação País Nº de Escolas 1ª Alemanha 213 2ª EUA 130 3ª Holanda 92 4ª Suécia 41 5ª 5ª Noruega Suíça 35 - 6ª Itália 34 7ª Austrália 33 8ª 8ª Brasil Reino Unido 32 - 9ª 9ª Finlândia Hungria 25 - 10ª Bélgica 22 11ª Canadá 21 12ª Rússia 18 13ª África do Sul 17 14ª Dinamarca 16 15ª Áustria 15Quadro 2 – Os 15 primeiros colocados em número de escolas Waldorf Fonte: Rickli (2009a). Conforme consta no Quadro 2, entre os quinze países que mais têm Escolas Waldorf, a Alemanha está em primeiro lugar com 213, já que é o país berço da referida Pedagogia. Já o Brasil e o Reino Unido estão empatados em 8º lugar com apenas 32 escolas. Mesmo assim, percebemos que houve um crescimento significativo de escolas Waldorf, tanto no Brasil como também em outros países. A Pedagogia Waldorf visa muito à relação professor-aluno. O professor tem que ser uma artista, trazer o mundo para dentro da sala de aula, ou seja, contemplando a visão de Steiner que desejava uma educação baseada no diálogo, no afeto e na arte, uma pedagogia diferente da escola convencional. Para educar tem que ter arte, dar ao aluno a possibilidade de expressar seus sentimentos, emoções, mostrar seu lado criativo. A Pedagogia Waldorf tem convergências com o que pode ser chamado de neoromântica. De um modo geral, segundo essas concepções, o educador precisa conhecer seu aluno para educá-lo e, principalmente, entender que ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para que o aluno construa o seu conhecimento. Os professores têm nas mãos a “chave-de-ouro” para educar, mas infelizmente muitos não sabem como utilizá-la. O aluno já traz uma bagagem muito grande de histórias da sua vida, bem como alegrias e tristezas. A Pedagogia Waldorf preza uma educação baseada na arte, afeto e diálogo. Esse é o cerne da Escola Waldorf. 1.6 Metodologia e Didática O livro "A arte Educação I: Metodologia e Didática” aborda catorze conferências realizadas por Rudolf Steiner, de 21 de agosto a 5 de setembro de 1919, por ocasião da fundação da Escola Waldorf Livre. Em 2003, Rudolf Lanz faz a tradução para o português. O ensino aqui adotado é diferente: transcorre de acordo com os impulsos evolutivos, conforme a ordem cósmica geral. Trataremos da humanização do ser humano superior e também do anímico espiritual, físico, corpóreo e do ser humano inferior. Steiner (2003) afirma que, primeiro, precisamos distinguir entre o ensino baseado na convenção num acordo entre os homens, mesmo que não seja preciso, e também aquele baseado no conhecimento da natureza humana em geral. Partindo desse aspecto de conhecimento da natureza humana em geral, é um ensino baseado no querer, no sentir e no pensar. Mas vem a questão: como iremos fazer isso com uma classe inteira sendo que com um aluno é mais fácil? O importante é ter amor no que se pratica. Steiner (2003) faz uma analogia interessante quando comenta sobre o casulo da borboleta; Imagine você dentro dessa borboleta; mas ela saiu. Agora imagine que você está dentro desse casulo e sua alma mais tarde sairá. Poderemos comentar com a criança se for explicar a sobrevivência da alma após a morte. Porém, antes dos catorze anos, não devemos falar sobre a imortalidade, mas sim fazer essa analogia com o casulo da borboleta. Portanto, tudo deve ser explicado de forma mais singela. Percebemos também a importância de ensinar partindo da alma da criança. Mas o professor precisa acreditar primeiro que a borboleta representa a alma do homem, do contrário, não iremos conseguir nada com a criança. Conforme Steiner (2003, p. 13), Portanto, ao ensinar a escrever devemos começar pelo desenho das formas artísticas dos caracteres com seu elemento fonético, se quisermos retroceder a ponto da criança ser sensibilizada pelas diferenças entre as formas. Não basta demonstrarmos isso oralmente a ela, pois tal procedimento faz do ser humano aquilo que hoje eles tornaram. Percebemos que, ao ensinar, devemos partir do desenho da arte e, através do meio artístico, não ficar apenas no abstrato, buscando, nos elementos do desenho, as letras manuscritas e, em seguida, as letras de forma. Sendo assim, edificaremos a leitura sobre a atividade do desenho. Com isso, as crianças poderão expressar, na leitura e na escrita, o que reside em seu sopro do falar. Em seguida, a criança começa a escrever frases independentes, se ela entendeu ou não; com isso, a criança, por meio da frase, percebe como que veio a conhecer as formas como sendo f em fish. Vai aprender a copiar, fazendo com que não apenas leia, mas reproduza com as mãos o que vê, principalmente as letras de forma. Conforme Steiner (2003, p. 15), Em seguida percorremos o caminho inverso: a frase que antes escrevemos na lousa agora desmembramos e os outros caracteres que ainda não extraímos de seus elementos nos evidenciamos pela atomização das palavras, partindo do todo para o detalhe. Por exemplo, aqui está escrito “cabeça”. A criança aprende primeiro a escrever “cabeça” em c, a, b, e, ç, a, tirando cada letra da palavra – indo, portanto, do todo para a parte. Dividimos o papel em pequenos retalhos e, em seguida, contamos os retalhos. Digamos que seja 24. Na sequência, colocamos grãos de feijão e retiramos esse retalho de papel, fazendo um montinho; e assim vou fazendo outros. Ao final, faremos quatro montinhos com 24 pedaços de papel. Chamando o que fica primeiro de nove, o segundo de cinco, o terceiro de sete e o quarto de três. Consideramos que, antes, nos tínhamos 24 montinhos; agora, tenho 24 pedaços de papel; tenho 9, 5, 7, 3 pedaços de papel. Com isso, ensinamos para a criança a adição, visto que 24 pedaços de papel juntos são 9+5+7+3. Não necessitamos chegar à soma, que não corresponde com a natureza humana. De acordo com Steiner (2003, p. 19), O homem nasce no mundo querendo levar sua própria corporalidade do ritmo musical à relação musical com o mundo; essa faculdade musical interior existe mais acentuadamente entre os três e os quatro anos de idade. Hoje, na verdade, tudo está misturado, de forma confusa, especialmente o artístico, porque desenhamos e modelamos com as mãos; mas ambas são atividades diferentes entre si, podendo manifestar-se de forma especial quando introduzimos as crianças no âmbito artístico. Depois de havermos falado durante algum tempo com a criança sobre as mãos e sobre trabalhar com as mãos, passemos a fazer com que ela execute alguma coisa de habilidade manual. Isto pode acontecer, sob certas circunstâncias, já na primeira aula. “Agora eu faço isto (um traço reto, figura 1). Faça o mesmo com sua mão”! Pode-se então fazer as crianças executarem a mesma coisa o mais devagar possível, pois isso já será vagaroso se chamarmos as crianças uma a uma para fazer o desenho na lousa e voltar para o seu lugar. Nesse caso, a duração correta da aula é de grande importância. Em seguida, pode-se dizer à criança: “Agora eu faço isto ( figura 2). Façam-nos, vocês também, com as suas mãos. “ Então cada criança o fará também. Ao terminarmos, nós lhe diremos: “Esta 1ª (figura 1) é uma linha reta e a outra (figura 2) é uma curva, portanto vocês fizeram com as suas mãos, uma linha reta e uma curva”. Figura. 3 Figura. 4 Notamos que a criança realiza as tarefas de modo que o conteúdo seja recapitulado na próxima aula. Segundo Steiner (2003, p. 51), Nós nos segregamos do mundo exterior ao aprender a designar os objetos por substantivos. Ao designarmos algo por “mesa” ou “cadeira” deparamos-nos da mesa ou da cadeira: nós estamos aqui, e a mesa ou a cadeira está lá. É bem diferente quando designamos as coisas por objetivos. Ao dizer “a cadeira é azul” eu exprimo algo que me une à cadeira. A qualidade que percebo une-me à cadeira. Designando um objeto por um substantivo, separo-me dele; pronunciando-me sobre a sua qualidade, junto-me novamente a ele, de modo que desenrola a tala individual que se tem de levar a inteiramente à consciência. Ao ensinar língua estrangeira para a criança, não devemos ficar perdendo tempo com traduções, por exemplo, do alemão para o latim e vice- versa. Devemos fazer mais leituras,expressar os próprios pensamentos. Ler em voz alta de modo correto, proporcionando a leitura da forma correta; depois, pedir para narrar com suas próprias palavras e principalmente ficar atento se acaso o aluno não tiver entendido algo. Em seguida, conversamos com os alunos com a nossa própria língua, sobre algo qualquer, mas que sejam capazes de sentir e compreender conosco. E depois pedimos para a criança reproduzir na língua estrangeira o que acabamos de conversar. Segundo Steiner (2003, p. 99), Não convém ensinar na escola uma língua estrangeira sem realmente exercitar tanto a gramática quanto a sintaxe. Especialmente no caso de crianças que já ultrapassaram os doze anos, é necessário trazer-lhes à consciência o conteúdo da gramática. Para chegar ao aspecto gramatical, devemos discutir com o aluno assuntos da vida, de forma que estará valendo para o ensino da língua estrangeira. De acordo com Steiner (2003, p. 110), Teremos assim de distribuir os espaços na escola de tal forma que uma coisa passa a coexistir com outra. Não podemos, por exemplo, fazer recitar poesias ou falar sobre história, se na sala vizinha, os pequenos tocam trombeta. Percebemos a importância da organização dos horários porque não podemos, com crianças pequenas, começar a aula de música na mesma classe, quando, ao lado, os outros estão precisando de silêncio. Outro ponto importante que deve ser ressaltado é a leitura de livros. O professor deve narrar oralmente ou até falar textualmente um trecho de poesia. O aluno deve ouvir e não ler junto. “É de suma importância para a língua estrangeira, porém não é tão necessário para a língua materna”. De acordo com Steiner (2003, p.114), “A geometria lhes oferece um exemplo extraordináriamante adequado para ligar o ensino visual à sua própria matéria didática”. I Figura 3: triângulo retângulo (1) Triângulo isósceles (2). Ao desenhar um triangulo, (figura 3) poderão fazer, embaixo e limítrofe a ele, um quadrado. Ensine então à criança caso ainda não o tenham feito, o conceito de que, num triângulo retângulo, os lados a e b são os catetos, o lado c é a hipotenusa. Sendo assim, construíram um quadrado sob a hipotenusa. Isto tudo vale, é claro, apenas para um triângulo isósceles. Agora dividam o quadrado por suas diagonais. Façam uma parte vermelha (V1 e V2) (em cima e embaixo) e uma parte amarela (A1) (à direita). Digam, então, à criança: “ Vou recortar a parte amarela e colocá-la ao lado” ( figura 2). E coloque também a parte vermelha ao lado da amarela. Agora construam um quadrado sobre um dos catetos, mas nesse quadrado é composto de um pedaço vermelho e um pedaço amarelo. O aluno deve começar a dar início ao ensino de geografia na segunda etapa do primeiro grau. Para Steiner, a criança, até os nove anos, deve aprender música, pintura, escrita e leitura, língua estrangeira e, mais tarde, aritmética. Até aos 12 anos, gramática, morfologia, história natural do reino animal e vegetal, língua estrangeira e geometria. Segundo Steiner (2003, p. 13), Tentaremos dar à criança, inicialmente de modo artístico, uma espécie de imagem das condições montanhosas e fluviais, mas também de outras condições da redondeza. façamo-lo de modo realmente a elaborarmos com crianças um mapa elementar da região para uma mais próxima de sua casa, que lhe é familiar. Iremos transformar uma área conhecida em mapa. Desenharemos os rios, os córregos da área do mapa e aos poucos nós os transformaremos em uma visão das redondezas. Poderemos trabalhar com as cores, como, por exemplo: os rios em cor azul e as montanhas em marrom. Utilizaremos os prados para alimentar o gado; temos também o posteiro. Com isso, o aluno receberá uma visão econômica da região e também poderemos abordar que dentro das montanhas tem carvão, metais, etc. Os rios servem para transportar as coisas. Para Steiner (2003, p. 125), Viemos a conhecer as três etapas da evolução humana que vigoram entre a troca dos dentes e a puberdade, incidindo especialmente na época do primeiro grau e no início do segundo. Precisamos apenas ter em mente que principalmente na última dessas etapas o subconsciente desempenha um grande papel junto ao plano consciente um papel significativo para toda a vida futura da pessoa. Imaginamos agora quantas pessoas andam de trem elétrico sem ao menos saber como se dá a sua impulsão. Visto que nós utilizamos algo que não compreendemos. Na verdade, tudo que é ensinado na escola para a criança deveria ter ligação com a vida prática. O que hoje é considerado antissocial, na verdade, deveríamos torná-los sociais, podendo vir a fazer parte da vida profissional do aluno mais tarde. Portanto, o aluno deve aprender principalmente entre os quinze anos como escrever uma carta social. Sendo que, entre os 13, 14 e 15 anos, o aluno é conduzido mais para a linha prática. Segundo Steiner (2003, p. 130), Não podemos pensar pedantemente "agora você está lecionando Geografia, ou agora História, e nada mais interessa". Não- ao explicarmos ao aluno que a palavra "sofá" veio do Oriente na época das Cruzadas, trataremos de inserir no ensino de História alguma coisa sobre o processo de fabricação de sofás. Passaremos depois a outros móveis ocidentais, extraindo, portanto, do chamado "tema de ensino" algo bem diferente. Percebemos o quanto é importante, tanto para mente e alma quanto para o corpo, esse ponto de vista metodológico-didático. Principalmente para a evolução da criança. Na verdade, hoje, o ensino entre os sete e os doze anos de idade está sendo aplicado de forma totalmente intelectual, apesar de falarem que são contra o intelectualismo. Steiner (2003) analisa que os mais velhos hoje não compreendem a juventude; portanto, muitos mostramos que essa meia criança estará muito envelhecida devido a uma educação e a um ensino mal conduzido. Portanto, o aluno que não obtiver conhecimento dos cuidados, tanto com a alimentação como também com a saúde – considerando que nessa fase esses assuntos são naturais do ser humano –, obterá tal conhecimento mais tarde, por outros meios, podendo gerar nele atitudes inadequadas, como o egoísmo. O professor tem que ter iniciativa: a cada palavra falada, tem que desenvolver conceitos e sentimentos e principalmente interesses por assuntos da comunidade, sejam eles relevantes ou irrelevantes. 1.7 Alguns dos aspectos da concepção pedagógica de Steiner De acordo com Richter (1995, p. XII), “A publicação da Obra Objetivo Pedagógico e Metas de Ensino de uma escola Waldorf visa possibilitar aos professores acesso à bibliografia da Pedagogia Waldorf em português.” Segundo Richter (1995, p. XII), “Na esperança de que cada pessoa envolvida na arte de educar seja capaz de dar vida a formas mortas, desenvolvendo e plasmando assim sua própria escultura curricular, sua própria imagem curricular, que se ouse por em prática esta tentativa de apresentação das metas de educação e dos possíveis conteúdos de aula“. Ainda de acordo com Richter (1995, p. 6), Há que se plantar “sementes”, tanto em relação aos conteúdos, quanto à estrutura do ensino. Isto significa que mais tarde, dentro de novos contextos, a matéria aprendida deve servir de estímulo para o desenvolvimento dos conteúdos de novas questões e de novos pontos de vista. É preciso estimular e preservar a vontade espontânea de aprender, o espírito de investigação, a disposição para a atividade criativa e para a participação na formação da sociedade. Assim, a educação pode ser reconhecida como instrumento para o desenvolvimento e para transformação. Alguns professores acreditam que a tecnologia é muito importante, mas, para a Pedagogia Waldorf, o educador deveria dar prioridade à arte, à jardinagem, à música e histórias esquecidas no tempo. Como também a temas atuais que tem a ver com a realidade, como a pedagogia social, ecologia,higiene, sexualidade, educação ambiental e de trânsito, etc., que devem ser integrados no ensino global. Conforme Richter (1995, p. 7), A Pedagogia Waldorf tem um caráter cristão, que permeia todo o ensino e que transcende os limites de uma confissão. Nenhuma criança deveria crescer sem um ensino religioso. De acordo com a vontade dos pais, o ensino é ministrado pelas várias confissões e comunidades religiosas, e também como "ensino cristão livre" pelos professores da escola. Para a Pedagogia Waldorf, as matérias, tanto teóricas como práticas, são agrupadas de uma forma que a aula permita mudanças, incluindo o intervalo que é visto como o momento de assimilação do aprendizado da matéria. A criança precisa ter uma pausa entre o sono e a vigília, podendo durante a noite se distanciar de tudo que aprendeu. A partir destes apontamentos, notamos a importância do professor saber valorizar a experiência do aluno para melhor ensinar. O professor precisa entender que o importante na educação não é a nota, prova, sabatina, mas, sim, como ensinar. Livros que correspondem com a faixa etária. O ser humano deve permear a busca do conhecimento com amor pelo saber, de tal forma que nessa atividade, ele se comporte como o artista criador ou como aquele que vivencia uma obra de arte e assim a reproduz em seu íntimo. (RICHTER, 1995, p. 11). Além disso, a escola Waldorf parte de uma educação baseada no diálogo e no afeto, que é o cerne dessa pedagogia. Inclusive, tudo isso é muito bem trabalhado e discutido, pois tem uma preocupação especial com a aura da criança. Na pedagogia Waldorf, a educação não deve ser baseada apenas em conteúdos específicos e sim no empenho do professor. Todo ensino é, na verdade, uma arte, e o professor deve saber entender a alma do aluno. Pois o aluno deve estar preparado para essa vivência, formando um conjunto de imagens, facilitando a leitura por conta própria. De acordo com Richter (1995, p. 343), Hedwick Hauck, a primeira professora de trabalhos manuais na escola Waldorf Stuttgart, concluiu a seguinte frase: “Crianças que aprenderam na juventude a criar ‘com a mão’ objetos artísticos úteis para outros e para elas mesmas de uma maneira adequada, não ficarão, como adultos, alheias ao ser humano e à vida. Saberão, de maneira artística e social, enriquecer e dar forma fecunda à existência e ao convívio com os outros. A arte plástica é de suma importância para a criança, considerando que o treino da motricidade é importante para o desenvolvimento infantil. O tricô é atividade muito importante também porque nessa atividade desenvolve algo que aperfeiçoa a capacidade de julgar. Com isso, percebemos a necessidade das atividades manuais para a criança, como comentamos anteriormente da motricidade, que é importante para o desenvolvimento infantil e também para o relacionamento com o ser humano, como saber compartilhar, como respeitar uma obra de arte futuramente. Entre dois e três anos de idade, a criança ainda está na fase da imitação; com isso, as aulas devem proporcionar uma aprendizagem na qual o eu não deve se separar do mundo, e muito menos entre as coisas que pertencem ao mundo. Richter (1995, p. 366) afirma que A jardinagem permite ao jovem entender, de fato, o inter- relacionamento de fenômenos da natureza. A situação possibilita que ele adquira a experiência através de atividades práticas. O trabalho e a observação, realizados durante alguns anos, transformam a interação das forças da natureza em vivência. Do trabalho comum no jardim da escola resulta uma base para julgamentos e para a própria responsabilidade. A atividade relacionada à jardinagem faz o aluno adquirir responsabilidade, confiança diante das suas próprias capacidades, estimulando as qualidades como gratidão, persistência, respeito e admiração. Conforme Richter (1995, p. 360), “numa segunda época as técnicas são ampliadas principalmente pelo processo de envolver, que possibilita a produção de copas, vasos, bules, regadores, formas de bolo, sinos etc.”. Essas técnicas exigem dos alunos muita segurança e concentração nas marteladas, crescendo assim o desejo de executar seus próprios projetos. Deve dominar os processos, dobrar, soldar etc. De acordo com Richter (1995, p. 361), Contrariamente ao trabalho frio com cobre (ou latão), o ferro é trabalhado em estado quente. O aluno aprende logo no início a diferença entre trabalhar o ferro em estado incandescente ou frio e vivencia a maleabilidade com a qual o ferro incandescente é moldado pelo martelo. É interessante comentar que, nessa idade, os jovens querem atividades desafiadoras, que exigem energia, coragem e presença de espírito. É importante para o aluno participar, por exemplo, na elaboração de uma fazenda, com produção básica da terra, da paisagem, podendo trabalhar tanto individualmente como em grupo. Nas escolas Waldorf, as peças de teatro podem ser vistas como ponto alto do ensino da língua materna, tanto que os alunos têm que saber interpretar pela fala, pelos gestos e também pela música. Os alunos devem, também, principalmente na arte, ter contato com a prática, como copiar um quadro, por exemplo, de Rembrandt no Museu da história da arte em Viena, visitar estúdios de obras artísticas contemporâneas, visitar concertos e museus. De acordo com Richter (1995, p. 21), O primeiro setênio; anterior ao ingresso na escola caracteriza- se pela atividade particularmente intensa dos sentidos e por uma reação pouco seletiva da criança às experiências sensoriais. Nisso se expressa uma forte tendência de entrega a todo o mundo ambiente. A criança precisa do exemplo dos adultos e do ambiente perceptível. A vivência é convertida em ação que, por sua vez, contribui para o desenvolvimento do organismo. Assim, a imitação educa, inclusive, o organismo sensório. Quando é atingido um determinado grau de desenvolvimento, entre o do cérebro, as forças plasmadoras dos órgãos tornando-se suficientemente livres para serem acessíveis à educação. Este é o momento da maturidade escolar. Essas forças podem agora ser alcançadas por imagens e pensamentos, pela memória e pelo ritmo. Nos primeiros anos de vida, a criança aprende com a imitação e com imagens; além disso, é a melhor fase para se ensinar. Portanto, partindo dessa visão, é fundamental o bom exemplo no ambiente que a rodeia. No ambiente familiar, por exemplo, os pais são como referências para as crianças. Para a mesma, os adultos nunca erram. Quando observam qualquer erro, ficam decepcionados. No segundo setênio, entre os 10 e os 12 anos de idade, começa uma nova fase. É o desenvolvimento infantil: o corpo perde dimensões harmoniosas, predomina o crescimento dos membros e o sistema muscular torna-se visivelmente importante. Com 11 e 12 anos de idade, antes de começar a obter conhecimento de história, os alunos necessitam estar preparados para começar a desenvolver a imagem histórica da antiga Índia, Pérsia, Egito e Grécia. Conforme Richter (1995, p. 23), O fim do segundo setênio é caracterizado pelo extenso complexo de sintomas da puberdade. Os “processos de transformação” dentro do corpo são percebidos e influenciam a harmonia da vida anímica. Mostramos a importância de o jovem sair do meio que o cerca, pois é uma fase em que eles vão começar a manifestar e desprezar o que antes parecia obvio. O exercício físico nessa fase é visto como um desafio, pois tira a preocupação dos jovens de si mesmos e desperta o interesse para o funcionamento do mundo que os cercam. Além disso, o jovem começa a ver o mundo de forma mais ativa e objetiva, obtendo experiências novas do mundo. Inclusive, é importante para os jovens ter essa abertura para a vida. Há uma história de vida muito rica que, mesmo diante de toda essa dificuldade, é possível vencer. Em relação ao terceiro setênio, conforme Richter (1995, p. 23), A educaçãodurante a adolescência tem, como tarefa mais importante, a educação da vontade. Por meio desse treino, o jovem se ambientará, de forma autônoma, gradativamente ao “mundo estranho. De acordo com Richter (1995, p. 24), Quando o adolescente, desejoso de se orientar no mundo, descobre que também outras pessoas mais velhas passam por batalhas, lutas interiores, ele precisa se sentir suficientemente livre, para que essa descoberta possa lhe ser útil. O adolescente, ao sentir-se isolado do mundo, começa a se interessar pelas relações entre os ramos tradicionais do conhecimento, procurando por uma cosmovisão holística para orientá-los, e o professor deve levar em conta, em sua didática, essa experiência e necessidade. Para Richter (1995, p. 75), Os últimos quinze minutos da aula principal, reservados aos contos, são novamente caracterizados pela fala artística e elaborada. Numa palestra dirigida a professores e professoras da Basiléia e de seus arredores, Rudolf Steiner disse que todo ensino da fala deveria ter um cunho artístico. Portanto, o assunto primordial do 1º ano é conduzir à escrita, pois a criança lida mais com a escrita, devido a motricidade, do que com a leitura. Após a metade do primeiro ano, as letras devem ter sido todas introduzidas em pequenos textos, escritas em letras maiúsculas. Os materiais necessários são cadernos formato A4 e lápis de cera grosso. A escrita é inicialmente a pintura com letras grandes, cerca de três fileiras de letras em cada página. Richter (1995) afirma que no 1º e 2º ano não há ensino de gramática, sendo que o 2º ano é a continuação do que foi iniciado no 1º ano, de modo que o aluno se familiariza mais com a escrita e o escrever. O professor, cuidadosamente, deve olhar quais os alunos que evitam, por timidez, não escrever na lousa, e descobrir se nessas crianças há alguma dificuldade particular. É importante mencionar que tudo isso é feito com muita cautela, antes mesmo da criança ter consciência dolorosa dela. A criança aprende no 1º e 2º ano por meio das imagens dos contos, e começa a se familiarizar com as habilidades corporais, como a ciranda e as cantigas. Já no segundo ano, as letras minúsculas e maiúsculas se juntam e, no terceiro ano, iniciam a letra cursiva. No segundo ano, nas escolas de língua inglesa a professora ensina inglês com ajuda de desenhos, de forma dinâmica. É no segundo ano que começam a usar livros de leitura; antes disso, só é utilizado para ler na escola o que foi escrito pelo próprio aluno. A criança gosta de correr livremente. No 4º ano, deve conduzir a ginástica de forma cuidadosa e executá-la individualmente em forma de cirandas, exercícios com a bola, corda e saltos, cambalhotas, estrelas, pega- pega e etc. No 5º ano, a criança tem mais preferência para atividades de movimentos giratórios, visto que os movimentos especiais não devem ainda ser compreendidos por meio de conceitos. Na visão de Richter (1995, p. 32), Assim como a geometria se desenvolve a partir do desenho de formas e o desenho com carvão a partir da aquarela, o ensino anterior de ciências prática constitui uma totalidade que agora vem se diferenciando no espaço e no tempo; essa diferenciação se dá de modo que, por um lado, chega-se à geografia e à história – passando pelas noções de histórias e geografia local – e, de outro lado, até as ciências naturais, com o ensino prático da horticultura a partir do 6º ano. Conforme Richter (1995, p. 242), “do 6º ao 8º ano, o ensino era ministrado por um ‘professor de classe’ imbuído de formação geral que introduza as mais diversas matérias”. Com isso, repetem várias vezes em casa o que aprenderam; além disso, o ensino parte da experiência. Depois, os alunos têm que reescrever as observações em seu caderno. O jovem busca o amadurecimento do linguajar próprio, o ensino da língua apresenta uma ajuda significativa. Sendo importante à recitação, tanto em grupo como também individual, o texto rimado ou em prosa. A busca da linguagem própria se dá no 8º ano, iniciando o trabalho com diversos modelos de orações, baseados em textos apropriados. Richter (1995) afirma que ao iniciar o 8º ano as poesias devem ser maiores (poesias pensativas) de Goethe e Schiller, como Die Sprüche de konfuzius (provérbio de Confúcio), Das verschleierte Bildnis zu Sais (O retrato velado de Sais). O conteúdo deve ser preparado de modo que tanto a recitação da poesia como o atuar em sua forma artística, não interfira nos problemas de compreensão. De acordo com Richter (1995, p. 310), Enquanto que pintura, desenho e modelagem são ensinados nos oito primeiros anos pelo professor de classe, permeando todo o ensino fundamental, no ensino médio pode haver uma ênfase diferenciada, ou seja, durante os quatros anos do ensino médio, as referidas matérias podem ser alternadas em combinações variáveis. Em nossas observações, baseamo-nos nas seguintes distribuições no currículo: 9º ano Desenho 10º ano Pintura Desenho Modelagem 11º ano Pintura Desenho Modelagem 12º ano Pintura Modelagem Fonte: Richter (1995, p. 310) Do 1° ao 8° ano, a pintura faz parte da aula princi pal, portanto seria interessante, desde o início, diferenciar a pintura com blocos de cera ou giz de cera, e, mais tarde, com aquarela e lápis de cor. No 9º ano, o aluno pode iniciar o estágio na silvicultura e na agricultura; portanto, o estágio não deve ser visto apenas como alternativa e sim como um aprofundamento. No 10º ano, os alunos aprendem usando moldes feitos por eles, como saias e casacos etc. Os objetos produzidos são de forma diferente como copos, vasilhames, vários tipos de cestas. Os alunos que aprendem língua estrangeira têm matéria alternativa como artesanal prático ou trabalho artesanal artístico, o teatro de fantoches, tanto de mão como de vara; montam o cenário, arrumam a iluminação, entre outros. Os alunos do 11º ano fazem estágios em institutos, escolas para deficientes e também em hospitais. No 12º ano, começam a ver os problemas da vida com mais responsabilidade. Com isso, a vida se torna mais visível, dando uma visão mais ampla em relação às matérias de ensino. Após a leitura da obra Objetivo Pedagógico e Metas de Ensino de uma Escola Waldorf, percebemos que a educação Waldorf parte de uma visão mais humanista, para o educar com amor e o trabalhar com os sentimentos da criança. A mesma precisa ter uma visão que o mundo é belo, bom e verdadeiro. Outra coisa que chama a atenção também é que o aluno aprende por meio de imitação, estímulo, imagem, conto de fadas, fábulas, poesia. Para educar tem que ter vida, interação entre professor e aluno. O olhar do educador tem que estar em tudo que o rodeia, por meio da arte. Isso é educar com amor. 1.8 A vocação social da Pedagogia Waldorf: da consciência à realização. A Associação Comunitária Monte Azul O importante não é a perfeição com a qual conseguimos realizar o que deve provir à vontade, e sim que o que tiver de surgir nesta vida, por mais imperfeito que venha a parecer, seja feito uma vez para que haja um começo. (STEINER, s/d) Para Steiner, a educação não podia ser algo desgastante no coração do educador e do educando, mas sim algo que permitisse que a dignidade humana se tornasse realidade na qual os alunos pudessem aprender a conviver com a diversidade, fosse ela social, cultural ou étnica. A família, na verdade, é a primeira responsável pela educação da criança, sendo que as atitudes, falas, ações, refletem crenças; são valores que necessitam ser percebidos, conhecidos, compreendidos, refletidos e que, geralmente, são transformados. Seremos responsáveis como educadores quando formos capazes de criar possibilidades para as crianças e jovens obterem encontros verdadeiros com as pessoas e com o mundo para que isso possa gerar nas almas a gratidão e assim frutíferas ações sociais no mundo. Após receber freqüentes visitas dascrianças de uma favela próxima à Escola Rudolf Steiner de São Paulo, local em que trabalha, a pedagoga Ute Craemer resolveu fundar a Associação Comunitária Monte Azul (ACMA), em 25 de janeiro de 1979. (ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA MONTE AZUL, 2010). Essa Associação desenvolve atividades pedagógicas, profissionalizante, culturais e de saúde social. A educação é vista como prioridade na ACMA, onde a educação se inicia desde o berçário, passa pela creche, jardins de infância, pré-escola, centro de juventude e escola para excepcionais; as crianças recebem acompanhamento pedagógico, reforço escolar para os alunos que freqüentam escolas públicas. Hahn (2008, p. 7) afirma que O fórum pela humanização do social (FHS) foi fundado em 2001 a fim de dar continuidade às várias iniciativas que ocorreram nos anos oitenta e noventa até 1998/9 – no sentido de promover reflexões e trocas de experiências em torno da questão social à luz da Antroposofia, fomentando grupos de estudo sobre a Trimembração do organismo social. Hahn afirma que, em 2001, um grupo de pessoas ligado à iniciativa social para cursos de pedagogia social se reuniu com a necessidade de prosseguir com as atividades e criou vários grupos com os seguintes temas: 1. Grupo do Currículo Social 2. Grupo Pergunta e Ação 3. Grupo Encontros Regionais 4. Grupo de Estudos 5. Grupo Pindorama 6. Grupo Publicações. 1. Grupo do Currículo Social. Um grupo de professores, ex-alunos e pais se reuniram em 2001 para propor a ideia do currículo social, mostrando exemplos e também experiências realizadas no Brasil e na Alemanha dentro do movimento Waldorf dos anos 70 até hoje. 2. Grupo Pergunta e Ação. Durante uma discussão sobre o currículo social, por meio de uma iniciativa de alguns ex-alunos Waldorf, surge o grupo de jovens, que durante anos foi se ampliando com jovens oriundos de outras escolas e também estrangeiros que desenvolviam pequenas ações sociais, como o reencantamento de uma praça pública, a pintura artística da pediatria do hospital de Campo Limpo. 3. Grupo Encontros Regionais. Acontecem desde 2001 esses encontros regionais em Friburgo, Nova Iguaçu, Sergipe, Brasília, Rezende e têm como temas aqueles relacionados à trimembração social, à questão social e questões pedagógicas ligadas à situação específica do Brasil, que, em 2006, foram apresentadas na Conferência Connectivity. 4. Grupos de Estudos. Grupos de sete a dez pessoas se reúnem mensalmente para estudar a questão social à luz da Antroposofia. Em 2005, um grupo se ampliou para preparar a vinda de Paul Mackay, dirigente da sessão de ciências sociais em Donarch, que pediu a elaboração de questões relacionadas ao Brasil. 5. Grupo Pindorama. Há seis anos, alguns grupos de brasileiros se reúnem para o estudo da alma do povo brasileiro e tentam cercar este tema por meio de estudos de componentes étnicos. 6. Grupo Publicações. As obras publicadas foram: • Impulsos sociais e anti-sociais, de Rudolf Steiner, pela Monte Azul; • Valorizando o índio, pela Monte Azul; • Conhecendo a trimembração do organismo social, coletânea editada pela Monte Azul; • Questão social, coletânea de textos editada pela Monte Azul; • Dinheiro, ouro e consciência, de G. Klockenbring, pela Monte Azul; • Pindorama, também pela Monte Azul. Falamos da vocação social da Pedagogia Waldorf, da necessidade do bem ao ser humano, da participação dos alunos ao se deparar com os problemas da sociedade, em geral, porque a participação dos alunos, dos jovens, nos grupos de estudos, em prol dos problemas da desigualdade social, faz com que estes amadureçam, aprendam a dar e receber, e voltem sempre enriquecidos de cada encontro. Em março de 2008, foi realizado o segundo Fórum Waldorf de Integração – Ação social, na sede da escola Waldorf Francisco de Assis, com a presença de alunos, ex-alunos, professores, pais e voluntários também engajados na iniciativa da pedagogia Waldorf. Segundo Craemer (2008, p. 14), Partimos de relatos de experiências realizadas em escolas Waldorf, e constatamos que elas eram de dois tipos: 1- Incorporados do currículo pela própria escola, como no caso da escola Waldorf Francisco de Assis e Waldorf São Paulo. 2- Iniciativas próprias de alunos ou professores não amparados pela escola; como no caso da escola Waldorf Rudolf Steiner. Conforme Craemer (2008, p. 15), Do primeiro grupo foram ressaltados: o interesse pelo outro, o reconhecimento da diversidade, a disposição para a troca, para aprender conjunto, a compaixão. Percebemos a importância de incentivar a participação no currículo social e também que temos que aproximar os jovens da realidade do mundo; desta forma, estaremos tornando-os agentes de transformação a favor de uma sociedade mais justa. Notamos que realizaram um grupo de estudo para discussão do currículo, no sentido de amadurecimento das idéias e para a formação dessa comunidade utilizam jornais eletrônicos, periódicos, divulgam em novos eventos. Portanto quando esse alicerce estiver maduro poderão levantar os pilares para uma nova consciência“. (CRAEMER, 2008, p. 15). 1.8.1. Reflexões sobre Currículo Social Segundo Cerri (2008, p. 16), Ao ouvirmos falar de currículo social é provável nos decorrer a idéia de que se trata de mais um componente curricular, uma matéria de ensino que preencha a grade curricular na escola. Isso talvez possa até contemplar um anseio para a educação dos jovens de nossos tempos, porém, para escola Waldorf, currículo social tem abrangência muito maior. Em primeiro lugar, espera-se que o currículo social refira-se a um trabalho educativo cujo resultado seja ter jovens conscientes das necessidades sociais que existem no mundo e que se mobilizem para a ação, participando de iniciativas que verdadeiramente buscam atender essas necessidades ou criando novas iniciativas. Percebemos que, ao falar de currículo social, estamos também falando de futuro, mas de um futuro em que todos tenham acesso à dignidade, respeito, no qual os jovens estejam inseridos numa sociedade onde tenha entendimento entre as pessoas, que possam ouvir umas às outras, que se ajudem mutuamente. Entendemos que o social significa qualquer relação com o outro, seja ela com uma pessoa próxima, que vive ao nosso redor, como também uma pessoa completamente distante da comunidade na qual vivemos. De acordo com Cerri (2008, p. 17), Dessa forma, falar de currículo social na escola Waldorf é falar da responsabilidade social cuja abrangência vai muito além de idéia de ajuda centrada em diminuir a pobreza material que assola as pessoas. [...] O interesse verdadeiro e genuíno pelo mundo e pelas pessoas é o que pode nos despertar para que se preste atenção no outro e se perceba o outro como um ser necessitado. O interesse verdadeiro e não interesseiro leva a que se aprenda a ver as pessoas com mais respeito e compreensão, leva a que se acredite que elas podem transformar, e desenvolver. A autora comenta que é fácil imaginarmos o que pode acontecer à criança pequena que vive privada de carinho, atenção e de ambiente amoroso. O que resulta para uma criança viver em meio a um ambiente conturbado em que as pessoas têm atitudes grosseiras? O que acontece com a alma da criança que vê gestos bruscos no lidar com objetos e pessoas? O que se forma na criança que ouve palavras de violência? O currículo social está mais voltado a que se proporcione à criança um ambiente bom, acolhedor, compreensivo, amoroso, harmonioso e pleno de gestos que tenham sentido do que propriamente ação no social. As favelas são como espelhos da sociedade contemporânea. Refletem grande parte das suas contradições, desigualdades e injustiças. São espelhos nos quais poucos desejam mirar-se. Ao contrário, cumpre passar bem longe, e se isso não for possível, se a visão desses aglomerados humanos for inevitável, sente-se compaixão e/ou medo. Para evitar
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