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1 Direito Tributário – Perguntas e Respostas 1. Conceitue direito tributário. Ramo do direito público que estuda as relações jurídicas entre o fisco e o contribuinte. Vale citar a definição trazida por Regina Helena Costa1: “Desse modo, podemos definir o conceito de direito tributário como o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a instituição, a arrecadação e a fiscalização de tributos”. 2. Qual a finalidade da tributação? Custear as despesas públicas, redistribuir renda e estimular ou desestimular comportamento, principalmente, no que diz respeito à intervenção do Estado na economia. 3. O que significa sistema tributário nacional? Trata-se de conjunto harmônico de normas previstas na Constituição da República, que delimita a competência tributária, lista os princípios tributários, as imunidades, além de regulamentar a repartição de receitas entre os entes federativos. 4. O que é princípio jurídico? Norma jurídica de forte caráter axiológico e alta generalidade, isto é, se aplica a inúmeras situações. Sustenta todo o sistema jurídico. Segundo a consagrada lição de Celso Antônio Bandeira de Mello2: “é mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência”. 5. Qual a diferença entre princípio e regra? 1 Curso de Direito Tributário, 1ª ed., pg.10. 2 Curso de Direito Administrativo, 25ª ed., pg. 942/943. 2 Ambas são normas dotadas de juridicidade, segundo a moderna teoria geral do direito. A regra exige aplicação integral, isto é, não há conflito de regras sem que uma seja declarada inválida. Por outro lado, o conflito de princípios se resolve afastando um deles sem torná-lo inválido. 6. O que significa princípio da razoabilidade? Aplica-se ao direito tributário? Referido princípio, muito utilizado pela jurisprudência nos últimos anos, visa evitar os excessos da Administração Pública. Por meio da aplicação da equidade e da análise individualizada das situações, procura-se evitar o arbítrio. Um exemplo de sua aplicação, no direito processual tributário, pode ser observado no Recurso Especial nº 1137216, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, que determinou a redução da penhora sobre o faturamento, em sede de execução fiscal, de 20% para 5% com fundamento nesse princípio. 7. Cite um exemplo de aplicação do princípio da proporcionalidade na tributação. Referido princípio, segundo a doutrina alemã, pode ser dividido em 3 subprincípios: Adequação (ou utilidade): traz uma regra de compatibilidade entre o fim pretendido pela Administração Pública e os meios por ela utilizados para atingir seus objetivos. Necessidade: versa sobre a escolha de medida restritiva de direitos indispensável à preservação do próprio direito por ela restringido. Deve a Administração escolher os meios que tragam menos sacríficos ao cidadão. Proporcionalidade em sentido estrito: ao se restringir um direito, deve haver uma evidente vantagem na opção. Um exemplo é a exoneração do recolhimento de imposto territorial rural por parte do proprietário que não possui mais a posse da terra, em face de invasão promovida pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (STJ – Recurso Especial nº 1144982): 3 (...) Verifica-se que houve a efetiva violação ao dever constitucional do Estado em garantir a propriedade da impetrante, configurando-se uma grave omissão do seu dever de garantir a observância dos direitos fundamentais da Constituição. 3. Ofende os princípios básicos da razoabilidade e da justiça o fato do Estado violar o direito de garantia de propriedade e, concomitantemente, exercer a sua prerrogativa de constituir ônus tributário sobre imóvel expropriado por particulares (proibição do venire contra factum proprium). 4. A propriedade plena pressupõe o domínio, que se subdivide nos poderes de usar, gozar, dispor e reinvidicar a coisa. Em que pese ser a propriedade um dos fatos geradores do ITR, essa propriedade não é plena quando o imóvel encontra-se invadido, pois o proprietário é tolhido das faculdades inerentes ao domínio sobre o imóvel. 5. Com a invasão do movimento "sem terra", o direito da recorrida ficou tolhido de praticamente todos seus elementos: não há mais posse, possibilidade de uso ou fruição do bem; consequentemente, não havendo a exploração do imóvel, não há, a partir dele, qualquer tipo de geração de renda ou de benefícios para a proprietária. 6. Ocorre que a função social da propriedade se caracteriza pelo fato do proprietário condicionar o uso e a exploração do imóvel não só de acordo com os seus interesses particulares e egoísticos, mas pressupõe o condicionamento do direito de propriedade à satisfação de objetivos para com a sociedade, tais como a obtenção de um grau de produtividade, o respeito ao meio ambiente, o pagamento de impostos etc. 7. Sobreleva nesse ponto, desde o advento da Emenda Constitucional n. 42/2003, o pagamento do ITR como questão inerente à função social da propriedade. O proprietário, por possuir o domínio sobre o imóvel, deve atender aos objetivos da função social da propriedade; por conseguinte, se não há um efetivo exercício de domínio, não seria razoável exigir desse proprietário o cumprimento da sua função social, o que se inclui aí a exigência de pagamento dos impostos reais. 8. Na peculiar situação dos autos, ao considerar-se a privação antecipada da posse e o esvaziamento dos elementos de propriedade sem o devido êxito do processo de 4 desapropriação, é inexigível o ITR diante do desaparecimento da base material do fato gerador e da violação dos referidos princípios da propriedade, da função social e da proporcionalidade. (...) 8. Os princípios constitucionais tributários se caracterizam como cláusulas pétreas? O Supremo Tribunal Federal, por exemplo, na Ação Direita de Inconstitucionalidade nº 939 entende que sim. Referidos princípios, que compõe o Estatuto do Contribuinte, têm natureza jurídica de direitos e garantias individuais, resguardados, portanto, pelo disposto no artigo 60, parágrafo quarto, da Constituição Federal. STF ADIN 939 – (...) Uma Emenda Constitucional, emanada, portanto, de Constituinte derivada, incidindo em violação a Constituição originaria, pode ser declarada inconstitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, cuja função precipua e de guarda da Constituição (art. 102, I, "a", da C.F.). 2. A Emenda Constitucional n. 3, de 17.03.1993, que, no art. 2., autorizou a União a instituir o I.P.M.F., incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor, no parágrafo 2º desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica "o art. 150, III, "b" e VI", da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): 1- o princípio da anterioridade, que é garantia individual do contribuinte (art. 5º, par. 2º, art. 60, par. 4º, inciso IV e art. 150, III, "b" da Constituição); 2. - o princípio da imunidade tributária recíproca (que veda a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre o patrimônio, rendas ou serviços uns dos outros) e que é garantia da Federação (art. 60, par. 4º, inciso I, e art. 150, VI, "a", da C.F.) (...). 9. Defina o princípio da capacidade contributiva. CF/88 Artigo 145, parágrafo primeiro - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte (...) 5 Os tributos devem respeitar a capacidade econômica do contribuinte, ou seja, sua potencialidade de gerar riquezas. De forma didática é possível afirmar: “quem pode mais, paga mais e quem pode menos, paga menos”. Consiste na equitativa distribuição da carga tributária. Verifica-sepor meio de alíquotas progressivas ou nas hipóteses em que se aplica a mesma alíquota sobre diferentes bases de cálculo. Dele decorre o princípio da personalização dos impostos. O imposto de renda pessoa física é o melhor exemplo, autorizando abatimento de despesas específicas para cada contribuinte tais com saúde, educação, pensão alimentícia etc. 10. Este princípio aplica-se somente para os impostos ou também para os demais tributos? A doutrina, de forma majoritária, entende que se resume aos impostos tendo em vista que é a modalidade tributária que permite, de forma mais adequada, a verificação desse princípio. Fundamenta-se também na literalidade do texto constitucional que se refere somente aos impostos. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal entende de forma contrária (RE nº 573.675). Parece-me que o entendimento de nossa Corte Maior é mais consentâneo com a finalidade da norma que é, nas hipóteses em que seja possível, tributar de forma mais severa os contribuintes que possuem maior possibilidade de produzir riquezas, independentemente da espécie tributária. De qualquer forma, não há dúvidas de que há tributos nos quais a aplicação é mais difícil. É o caso das taxas. O emolumento exigido por um Cartório de Títulos e Documentos, por exemplo, que possui natureza tributária custará, em regra, o mesmo valor para uma pessoa rica ou para uma pessoa pobre. Da mesma forma, dificilmente será possível aplica-lo para a contribuição de melhoria. 11. Defina princípio da estrita legalidade tributária CF/88 artigo 150, inciso I. sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos estados, ao distrito federal e aos municípios: I- exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça 6 Trata-se do mais importante princípio do direito tributário. A tributação é necessária, mas, por invadir o patrimônio dos indivíduos, exige destes autorização expressa. Tendo em vista que adotamos a democracia representativa, esse princípio exige que a lei, em sentido formal, seja o veículo normativo que regulamenta todos os principais elementos da norma tributária. Nesse sentido vale citar a doutrina de Luciano Amaro para quem: “A lei deve esgotar, como preceito geral e abstrato, os dados necessários para a identificação do fato gerador da obrigação tributária e à quantificação do tributo, sem que restem à autoridade poderes para, discricionariamente, determinar se ‘A’ irá ou não pagar tributo, em face de determinada situação”3. Portanto, a instituição e a majoração de tributos, inclusive a base de cálculo, somente podem ser veiculadas por meio de lei, em regra ordinária. Interessante notar que, para a maioria da doutrina, também somente por meio de lei será possível reduzir um tributo. O fundamento é o artigo 97, II, do Código Tributário Nacional: CTN Artigo 97- Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. § 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. 3 Direito Tributário Brasileiro, 2ª ed. pg. 110. 7 § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. A jurisprudência entende que referido dispositivo legal restou totalmente recepcionado pela Constituição Federal de 88, razão pela qual precisa constar de lei a alíquota, a base de cálculo, o sujeito passivo, a hipótese de incidência (fato gerador in abstrato) e a multa. 12. Explique os três parâmetros normativos do direito tributário. Há três parâmetros de legalidade, dentro do direito tributário (Constituição Federal, lei complementar nacional que trata de normas gerais e lei local que pode ser federal, distrital, estadual ou municipal). De início, a Constituição Federal que não cria tributos mas apenas delimita a competência tributária de cada ente político, ou seja, autoriza que cada ente política institua, por meio de lei, um tributo. Após, a lei complementar que em regra não cria tributos mas regula as normas gerais. Por fim, a lei ordinária (federal, estadual, distrital ou municipal) que institui tributos, indica a alíquota, as hipóteses de isenção, anistia, remissão, parcelamento etc. Por exemplo, alguém quer se aprofundar no IPTU do município de Uberlândia, em Minas Gerais. De início, deve verificar as regras de competência tributária, imunidades ou outras normas previstas no texto constitucional (CF/88 - artigos 156 e 182). Após, deverá estudar as normas gerais de direito tributário sobre IPTU (CTN artigos 32/34, recepcionados como lei complementar) e, por fim, deverá ler a lei ordinária municipal do município de Uberlândia, que instituiu o IPTU. 13. As alíquotas dos tributos se submetem a esse princípio? Há situações que exigem maior agilidade. Por razões de ordem econômica, o aumento das alíquotas, pode ser veiculado por meio de ato do chefe do poder executivo (decreto ou Resolução da CAMEX – Câmara de Comércio Exterior), nas seguintes hipóteses: imposto de importação, imposto de exportação, imposto sobre produtos industrializados, imposto sobre operações financeiras, contribuição de intervenção no domínio econômico em face de importação de petróleo, álcool e gás e ICMS monofásico sobre comercialização de combustíveis (nessas duas últimas hipóteses pode reduzir ou 8 restabelecer a alíquota original prevista na lei instituidora, por meio de ato infralegal. Se houver efetivo aumento será necessário se valer de lei). 14. A instituição e a majoração de tributos, por meio de medida provisória, infringe o princípio da legalidade tributária? Em regra, não. As medidas provisórias podem instituir e majorar tributos (o texto do artigo 62 da CF/88 fala em impostos, mas a jurisprudência interpreta como tributos), desde que o princípio da anterioridade apenas se aplique após a publicação da lei de conversão, exceção feita ao imposto de importação, exportação, IPI, IOF e impostos extraordinários, aos quais não se aplica a anterioridade anual. Tendo em vista que medida provisória não pode veicular matéria reservada à lei complementar, alguns tributos não poderão ser normatizados por medida provisória. 15. Dentro da análise do princípio da estrita legalidade tributária a lei complementar possui um papel fundamental. Quais matérias na seara tributária devem, obrigatoriamente, ser veiculadas por meio de lei complementar, sob pena de inconstitucionalidade formal (CF/88 artigo 146 e 146-A)? a) Normas gerais de direito tributário, isto é, os principais institutos do direito tributário, em especial, o conceito de tributo e suas espécies; as definições de sujeito ativo e passivo da obrigação tributária; base de cálculo, aspecto material da regra matriz dos impostos; obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributária. b) Simples Nacional para as microempresas e empresas de pequeno porte. c) Tratamento tributário mais favorecido ao ato cooperativo. d) Limitações ao poder de tributar. e) Dirimir conflitos de competência entre os entes federativos. Por exemplo, antes da edição da LC nº 87/96, que regulamenta o ICMS, havia divergência entre os municípiose os estados federados sobre a tributação de bares e restaurantes. Os municípios entendiam que 9 deveria incidir o imposto sobre serviços de qualquer natureza. Já os estados defendiam a tese de que deveria incidir o ICMS. A referida norma dirimiu o conflito afirmando que incide o ICMS. f) Introduzir instrumentos que visem garantir, por meio da tributação, a livre concorrência. g) A instituição do imposto sobre grandes fortunas, do empréstimo compulsório, dos impostos residuais e de novas fontes de financiamento da seguridade social cuja materialidade econômica não esteja expressamente listada na Constituição Federal. h) para definir qual estado será competente para exigir o ITCMD, caso o doador resida no exterior ou ainda se o de cujus era domiciliado no exterior ou se havia imóvel a inventariar ou se o inventário tramitou no exterior. i) ICMS: a lei complementar que tratar de normas gerais, também regulará quem são os contribuintes, a substituição tributária e o regime de compensação do imposto (LC 87/96). Da mesma forma, lei complementar tratará a forma como serão concedidos os incentivos e os benefícios fiscais para evitar a guerra fiscal entre os Estados (LC 24/75). j) ISS: isenções, benefícios, alíquotas mínimas e máximas (LC 116/03). l) Para fixar os limites para a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais para o financiamento da seguridade social (CF/88 artigo 195, 11º). 16. Conceitue normas gerais de direito tributário. O artigo 146 da Constituição Federal exige lei complementar para regular as normas gerais de direito tributário, isto é, referida norma funciona como instrumento de harmonização entre a legislação de todos os entes federativos. Portanto, quer se trate de um tributo federal, estadual ou municipal, a hipótese de incidência, o conceito de obrigação tributária, as hipóteses e a técnica do lançamento, a prescrição e a decadência obedecem, em termos conceituais, a 10 mesma disciplina legislativa. Ex. o prazo prescricional para a cobrança do IPTU será sempre de cinco anos, para qualquer um dos mais de 5600 municípios de nosso país. 17. O Código Tributário Nacional foi recepcionado como lei complementar, pela atual Constituição? Em grande parte, sim. Formalmente, o CTN é uma lei ordinária. Porém, trata na maioria de seus dispositivos legais, de temas que podem ser definidos como normas gerais de direito tributário, razão pela qual esses artigos do CTN são materialmente leis complementares. De qualquer forma, não é correto afirmar que todo o CTN foi recepcionado como lei complementar, pois alguns dispositivos, tais como aqueles que tratam de privilégios e garantias da Fazenda Pública, de notória natureza processual, permanecem mesmo após a Constituição de 1988, formal e materialmente como leis ordinárias, tendo em vista que o direito processual pode ser regulamentado por lei ordinária. 18. Entre as limitações ao poder de tributar se encontram as imunidades, ou seja, regras constitucionais que proíbem a tributação de determinadas pessoas ou matérias. A regulamentação da imunidade exige lei complementar? Sim. O STF, no Recurso Extraordinário nº 566.622, julgado em 23.02.2017, definiu a seguinte tese: “Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar". 19. As contribuições especiais (gênero que abrange contribuições para o custeio da seguridade social, CIDE, interesse das categorias profissionais etc) devem ser veiculadas por meio de lei complementar? Em regra, não. A exceção, expressamente prevista no parágrafo 4º do artigo 195 da CF/88, restringe-se nas novas fontes de financiamento da seguridade social - (STF Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 739.715). (...) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÕES DE INTERVENÇÃO NO 11 DOMÍNIO ECONÔMICO E DE INTERESSE DAS CATEGORIAS PROFISSIONAIS. CRIAÇÃO. DISPENSABILIDADE DE LEI COMPLEMENTAR. O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido da dispensabilidade de lei complementar para a criação das contribuições de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais. Precedente. 20. Há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar? Por exemplo, se o legislador institui um imposto por lei complementar, quando poderia fazê-lo por lei ordinária, pode alterar essa legislação por lei ordinária? A resposta a essa questão depende do posicionamento do intérprete sobre a existência ou não de hierarquia entre lei ordinária e lei complementar. A questão é extremamente controvertida na doutrina e na jurisprudência. O Supremo Tribunal Federal (RE 377457), tradicionalmente, entende que não há hierarquia e sim nichos de competência legislativa, determinados pelo constituinte. Atualmente, a doutrina majoritária acompanha esse posicionamento. Portanto, prevalece o entendimento de que uma lei ordinária pode revogar uma lei complementar, se a matéria não estiver sob reserva de lei complementar. 21. Prazo para recolhimento de tributos pode ser alterado por meio de ato do chefe do Poder Executivo? O Supremo Tribunal Federal (RE 253.395) entende que sim, pois não observa no prazo para recolhimento um elemento essencial da norma tributária: Não se compreendendo no campo reservado à lei a definição de vencimento das obrigações tributárias, legítimo o Decreto nº 33.386/92, que modificou a data de vencimento do ICMS. Improcedência da alegação de infringência ao princípio da vedação de delegação legislativa. Basicamente, a fundamentação estaria na ausência de previsão do prazo para o recolhimento, entre os institutos previstos no artigo 97 do CTN. Da mesma forma, o artigo 160 do CTN afirma: 12 CTN Artigo 160. Quando a legislação tributária não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocorre trinta dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento.(...). O termo ‘legislação tributária’, quando utilizado no âmbito do Código Tributário Nacional, abarca normas legais e infralegais (ver artigo 96 do CTN). 22. E a base de cálculo do IPTU? A base de cálculo do IPTU é o valor venal do imóvel, ou seja, o valor de mercado. Ela pode ser reajustada por meio de decreto. Aumento propriamente dito não é permitido, mas sim a reposição da inflação desde o último aumento4. O artigo 97 do CTN dá respaldo a essa interpretação: “Somente a lei pode estabelecer: (...) § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo”. 23. Instituição e majoração de custas judiciais e emolumentos extrajudiciais exigem lei em sentido formal? O Supremo Tribunal Federal posiciona-se nesse sentido, pois são exemplos de taxas, espécies tributárias. (Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1444). Já ao tempo da Emenda Constitucional nº 1/69, julgando a Representação nº 1.094-SP, o Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que "as custas e os emolumentos judiciais ou extrajudiciais", por não serem preços públicos, "mas, sim, taxas, não podem ter seus valores fixados por decreto, sujeitos que estão ao princípio constitucional da legalidade (parágrafo 29 do artigo 153 da Emenda Constitucional nº 1/69), garantia essa que não pode ser ladeada mediante delegação legislativa" (RTJ 141/430, julgamento ocorrido a 08/08/1984). 2. Orientação que 4 No mesmo sentido o conteúdo da súmula nº 160 do Superior Tribunal de Justiça. 13 reiterou, a 20/04/1990, no julgamento do RE nº 116.208-MG. 3. Esse entendimento persiste, sob a vigência da Constituição atual (de 1988), cujo art. 24 estabelece a competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, para legislar sobre custas dos serviços forenses (inciso IV)e cujo art. 150, no inciso I, veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, a exigência ou aumento de tributo, sem lei que o estabeleça. 4. O art. 145 admite a cobrança de "taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição". Tal conceito abrange não só as custas judiciais, mas, também, as extrajudiciais (emolumentos), pois estas resultam, igualmente, de serviço público, ainda que prestado em caráter particular (art. 236). Mas sempre fixadas por lei. No caso presente, a majoração de custas judiciais e extrajudiciais resultou de Resolução - do Tribunal de Justiça - e não de lei formal, como exigido pela Constituição Federal. 24. A falta de correção da base de cálculo (tabela) do imposto de renda da pessoa física fere o princípio da legalidade, tendo em vista que, em face dos reajustes salariais, o contribuinte termina por ser tributado de forma mais severa, sem lei que autorize? Nossa Corte Constitucional (STF RE nº 421837) declarou que não cabe ao Poder Judiciário, com esse fundamento, majorar a citada tabela, por falta de amparo legal e também com fulcro na divisão constitucional de poderes que transforma o Poder Judiciário apenas em legislador negativo e não positivo. 25. No que consiste o princípio da tipicidade tributária? Trata-se de subprincípio decorrente do princípio da legalidade. Exige que todos os elementos da hipótese de incidência tributária (fato gerador, base de cálculo, alíquota e sujeitos) devem estar exaustivamente previstos em lei. A lei deve definir tipo fechado de modo a não deixar espaço que possa ser preenchido pela administração tributária, isto é, pelo Poder Executivo. 14 26. Conceitue o princípio da isonomia tributária CF artigo 150, II. “é vedado à União, aos estados, ao distrito federal e aos municípios (...) “instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos”. A lei tributária deve ser igualmente aplicada aos contribuintes que se encontrem em situação equivalente, independentemente da atividade profissional desenvolvida. A isonomia exige discriminação racional para contribuintes que se encontrem em situação diferenciada. Dele decorre o subprincípio da proibição dos privilégios odiosos, ou seja, proíbe privilégios decorrentes do exercício de determinadas atividades profissionais. Por exemplo, antes da Constituição de 1988, algumas atividades tais como a exercida por juízes e políticos eram dispensadas do recolhimento do imposto de renda. Atualmente, qualquer legislação, nesse sentido, seria inconstitucional. 27. A lei complementar nº 123/06 que regulamenta, entre outras matérias, o Simples Nacional (sistema mais benéfico de tributação para a microempresa e empresa de pequeno porte) exclui algumas atividades da opção pelo sistema (artigo 17 da LC 123/06). Referida norma é constitucional? Pessoalmente, entendo que não. Afinal, a Constituição Federal (artigos 146, III, ‘d’ e parágrafo único e 179) determina somente que haja sistema mais benéfico para as microempresas e empresas de pequeno porte. Não previu nenhuma espécie de restrição, exceção feita ao parâmetro para que uma pessoa jurídica possa se enquadrar como micro ou pequena empresa (no caso é faturamento anual limitado, hoje, a R$. 4.800.000,00). Portanto, o princípio da isonomia teria sido efetivamente transgredido pois tratou, sem discriminar de forma racional, pessoas jurídicas que se encontram em situação equivalente. Vale frisar, todavia, que o Supremo Tribunal Federal entende de forma diversa (STF RE nº 476106). 15 28. Cite mais alguns exemplos de aplicação desse princípio, na jurisprudência. a) lei complementar estadual que isente magistrados e servidores do poder judiciário local do recolhimento de custas judiciais e emolumentos extrajudiciais (taxas) fere a isonomia (STF ADIN 3334). b) A contribuição previdenciária patronal das instituições financeiras pode ter alíquota maior (22,5% sobre a folha de salários) que a das demais empresas (20% sobre a folha de salários) - (STF RE 598.572). c) lei estadual que transfira parte das receitas das custas judiciais (taxas) para caixa de assistência aos advogados fere a isonomia tributária (STF ADIN 1145). 29. Discorra sobre o princípio da irretroatividade da lei tributária. (CF/88 artigo 150-III ‘a’). Em respeito à segurança jurídica das relações sociais, em regra, a lei não retroage para atingir fatos anteriores a sua vigência. É princípio geral do direito com significado especial para o direito tributário. Portanto, a norma tributária que institui ou majora tributo não se aplica para fatos jurídicos pretéritos. 30. A súmula nº 584 do STF está de acordo com esse princípio? Referida súmula dispõe: “Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração” Parece-nos que a súmula objeto da questão desrespeita o princípio em foco. Deve-se aplicar, também em sede de imposto de renda, a legislação em vigor na data do fato gerador. A tendência jurisprudencial e doutrinária é pela sua inaplicabilidade. Porém, a questão não é pacífica. 31. O princípio da irretroatividade aplica-se também para a mudança de interpretação do fisco sobre determinada matéria? E para a jurisprudência dos tribunais superiores? Embora a questão não seja pacífica, a doutrina de forma geral defende que se aplica esse princípio às situações citadas, em respeito 16 ao princípio da segurança jurídica. Por exemplo, se o Supremo Tribunal Federal tem julgado inconstitucional um tributo e, a partir de determinada data, passa a julgá-lo constitucional, a nova interpretação deveria valer a partir da data do julgamento que alterou o posicionamento. Todavia, nossa Corte Maior não entende dessa forma. Em algumas situações, em análise casuística, aceita essa tese, com o reconhecimento da necessidade de modulação dos efeitos do julgamento, mas não de forma automática e, muito menos, como regra geral. A Fazenda, em face de alteração de seu posicionamento, não aceita essa tese, em nenhuma hipótese. 32. O que é e quais as modalidades de anterioridade tributária? (CF/88 artigo 150, III, ‘b’ e ‘c’). Trata-se de princípio fundamentado na segurança jurídica e no princípio da não-surpresa. Em regra, há um prazo para que um tributo instituído ou majorado passe a ser exigido. As modalidades são comumente denominadas de anterioridade anual ou genérica e especial ou nonagesimal. 33. O que é anterioridade anual ou genérica. Quais as exceções a esse princípio? CF/88 Artigo 150-III ‘b’ - vedado à União, aos estados, ao distrito federal e aos municípios cobrar tributos: (...) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou”. Em regra, é possível cobrar tributo criado ou majorado somente no primeiro dia do exercício seguinte ao da publicação da lei (1º de janeiro do ano seguinte). As exceções são de natureza extrafiscal, ou seja, tributos nos quais o governo necessita de agilidade na cobrança por necessidade de intervir na economia. As exceções são: imposto de importação, imposto de exportação, imposto extraordinário de guerra, imposto sobre operações financeiras, imposto sobre produtos industrializados, ICMS sobre combustíveis (somente se houver restabelecimento da alíquota. Se houver aumento será observada a anterioridade), CIDE sobre a comercialização e importação de petróleo, gás e álcool (somente se houver restabelecimento da 17 alíquota. Se houver aumento será observada a anterioridade)e empréstimo compulsório em face de guerra ou calamidade. Em face do disposto no artigo 195, parágrafo sexto, da Constituição Federal a criação ou o aumento de contribuições para o financiamento da seguridade social também estão excluídas dessa regra. 34. Defina anterioridade especial ou nonagesimal e liste suas exceções. CF/88 Artigo 150-III ‘c’- é vedado à União, aos estados, ao distrito federal e aos municípios cobrar tributos: (...) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b”. Deve ser aplicado concomitantemente com o princípio da anterioridade anual ou genérica. Proíbe a cobrança antes de 90 dias da publicação da lei que instituiu ou majorou o tributo. Portanto, em regra, o contribuinte saberá em 1º de outubro de cada ano, os tributos que iniciará o ano pagando. As exceções são: imposto de importação, imposto de exportação, impostos extraordinários de guerra, imposto sobre operações financeiras, imposto de renda, empréstimo compulsório em face de guerra ou calamidade e a base de cálculo do IPTU e do IPVA. 35. Alteração de prazo para recolhimento de tributos deve respeitar o princípio da anterioridade? O Supremo Tribunal Federal entende que não pois não considera o prazo para recolhimento como elemento essencial da tributação. STF Súmula Vinculante 50. Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade. 36. As taxas devem obediência a esse princípio? 18 Sim, pois não estão listadas entre as exceções (Nesse sentido: Supremo Tribunal Federal – ADIN nº 3694-7): Custas e emolumentos: serventias judiciais e extrajudiciais: natureza jurídica. É da jurisprudência do Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou extrajudiciais têm caráter tributário de taxa. III. Lei tributária: prazo nonagesimal. Uma vez que o caso trata de taxas, devem observar-se as limitações constitucionais ao poder de tributar, dentre essas, a prevista no art. 150, III, c, com a redação dada pela EC 42/03 - prazo nonagesimal para que a lei tributária se torne eficaz 37. Defina o princípio do não confisco (artigo 150, inciso IV, da CF/88). Está correlacionado com o direito constitucional de propriedade e da livre iniciativa. A tributação não pode ser tão severa que enfraqueça o direito dos indivíduos de adquirir e manter o seu patrimônio. Deve ser apreciado também a partir de outros princípios, tais como a proibição de excesso e capacidade contributiva. É extremamente difícil aplicar o referido princípio, por ausência de balizas claras para que reste caracterizado o efeito confiscatório, no caso concreto. A jurisprudência da Corte Constitucional Argentina, há muitos anos, entende que a tributação sobre herança não pode superar 33%. Em nossa história constitucional tivemos uma previsão específica, no artigo 185 da Constituição de 1934: Artigo 185 - Nenhum imposto poderá ser elevado além de vinte por cento do seu valor ao tempo do aumento. Todavia, nossa jurisprudência, nas raras vezes que aplicou o princípio, o fez apenas na análise do caso concreto, sem desenvolver regras gerais de aplicação. 38. É possível se falar em multa confiscatória? Setores da doutrina entendem que não se aplica pois a multa tributária não tem natureza tributária. Por outro lado, o Supremo Tribunal 19 Federal, tendo em vista que as multas estão incluídas no conceito de crédito tributário, tem decidido de forma diversa. Todavia, nossa Corte Constitucional afasta a multa por inconstitucional, apenas em situações excepcionais em que a multa tributária é efetivamente abusiva, em regra acima de 100% (STF - Medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1075). STF MC ADIN 1075 (...) É cabível, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal examinar se determinado tributo ofende, ou não, o princípio constitucional da não-confiscatoriedade consagrado no art. 150, IV, da Constituição da República. Hipótese que versa o exame de diploma legislativo (Lei 8.846/94, art. 3º e seu parágrafo único) que instituiu multa fiscal de 300% (trezentos por cento). A proibição constitucional do confisco em matéria tributária - ainda que se trate de multa fiscal resultante do inadimplemento, pelo contribuinte, de suas obrigações tributárias - nada mais representa senão a interdição, pela Carta Política, de qualquer pretensão governamental que possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, pela insuportabilidade da carga tributária, o exercício do direito a uma existência digna, ou a prática de atividade profissional lícita ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades vitais básicas. - O Poder Público, especialmente em sede de tributação (mesmo tratando-se da definição do "quantum" pertinente ao valor das multas fiscais), não pode agir imoderadamente, pois a atividade governamental acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade que se qualifica como verdadeiro parâmetro de aferição da constitucionalidade material dos atos estatais. 39. A alíquota máxima prevista para o imposto territorial rural corresponde a 20% por ano. Pode-se afirmar que é confiscatória? 20 Pessoalmente, acompanhando setores minoritários da doutrina, entendo que sim. Na hipótese de não recolhimento, e incidência de multa e juros, em menos de 5 anos o contribuinte perde a propriedade. Entretanto, há doutrinadores que defendem tese contrária. A Constituição Federal, em seu artigo 153, parágrafo 4º, I, estipula que o ITR terá alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas. Portanto, haveria uma exceção no texto constitucional em face do ITR, possibilitando incidência de tributação confiscatória. 40. O Poder Judiciário, ao julgar inconstitucional uma norma que institui multa confiscatório, deve reduzi-la ou afastar a incidência de qualquer espécie de multa? O STF tem precedentes no sentido da possibilidade de redução. Multa Confiscatória. Redução (...) É admissível a redução da multa tributária para mantê-la abaixo do valor do tributo, à luz do princípio do não confisco (STF ARE 776273). 41. Em que consiste o denominado princípio da uniformidade geográfica (artigo 151, I, CF/88)? Determina que os tributos federais devem ser igualmente cobrados em todo o território nacional, exceção feita a hipótese de concessão de incentivos fiscais, desde que devidamente justificados. Referido princípio objetiva à preservação e fortalecimento do pacto federativo. 42. E o princípio da uniformidade de renda da União Federal? CF/88 Artigo 151. é vedado à União: (...) II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos estados, do distrito federal e dos municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes. 21 Fundamenta-se, também, no princípio federativo. A União não pode tributar, com alíquotas maiores, a renda dos servidores públicos municipais, estaduais ou distritais. Da mesma forma, não pode fazer incidir imposto de renda mais gravoso sobre o lucro decorrente dos títulos da dívida pública dos estados, municípios e Distrito Federal. 43. Defina o princípio da não discriminação tributária (artigo 152 – CF/88). Os estados, o Distrito Federal e os municípios não podem fazer distinção tributária entre bens e serviços, em razão de sua procedência ou destino. Por exemplo, seria inconstitucional o estado do Rio Grande do Sul tratar de forma diferenciada, quanto ao ICMS, as mercadorias oriundas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Visa resguardar a federaçãobrasileira. 44. O pedágio infringe o princípio da liberdade de tráfego? Referido princípio, previsto no artigo 150, V, da Constituição da República, consiste na proibição da utilização de tributos com a finalidade de limitar o tráfego de pessoas ou bens. O pedágio, por outro lado, caracteriza expressa exceção constitucional a esse princípio. Vale destacar que, segundo entendimento atual do STF o pedágio tem natureza de preço público e não de taxa. STF “O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo poder público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita.” (STF - ADI 800) Por outro lado, vale citar o posicionamento de significativa parcela da doutrina que afirma que o pedágio será preço público caso o serviço seja objeto de concessão e o contrato esteja sob a égide de regime jurídico de direito privado. Caso contrário, poderá ser considerado tributo. 22 45. Como interpretar o princípio da necessidade de lei específica para a concessão de benefícios fiscais? CF/88 Artigo 150, § 6º - Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. Não basta que uma lei conceda benefícios fiscais, tais como isenções ou anistias. É necessário que seja uma lei específica, isto é, que trate exclusivamente daquela matéria. Especificamente, o ICMS exige lei complementar para tratar de benefícios fiscais (LC 24/75 que trata dos convênios do CONFAZ – Conselho de Política Fazendária). 46. Em que consiste o princípio da transparência dos tributos (artigo 150, parágrafo 5º, da CF/88)? “A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. Trata-se de norma constitucional regulamentada pela Lei nº 12.741/12. Consiste na previsão de instrumentos que possibilitem ao contribuinte saber a carga tributária incidente sobre todos os produtos e serviços que consome. 47. O que são princípios implícitos? Cite exemplos. São princípios que decorrem do sistema tributário, mas não se encontram expressos no texto constitucional. Por exemplo, os princípios da praticabilidade, da eficiência tributária e da proibição de sanções políticas. 48. Defina princípio da eficiência tributária. 23 Visa à adoção de política tributária que adote instrumentos legais que gerem desenvolvimento econômico e justiça fiscal. Como exemplo, vale citar a racionalização e consequente redução das obrigações acessórias (documentação contábil e fiscal) que geram custos para as empresas e dificultam o cumprimento da obrigação tributária. 49. O que se entende por princípio da praticabilidade tributária? Objetiva simplificar o cumprimento da norma tributária. Como exemplos é possível citar o Simples Nacional para as microempresas e empresas de pequeno porte ou a tributação do imposto de renda das pessoas jurídicas pelo lucro presumido. 50. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, frequentemente, se refere à proibição de sanções políticas. O que significa? Cite exemplos. As sanções políticas são práticas da administração tributária (fiscalização) que visam coagir o contribuinte ao recolhimento do tributo, sob pena de impedir sua atividade empresarial. Referida prática, bastante comum na legislação tributária, fere o princípio da proporcionalidade, da livre iniciativa e geralmente também o da ampla defesa. Vale frisar que a Fazenda Pública tem o poder-dever de cobrar seus créditos. Todavia, deverá fazê-lo pelos meios processuais previstos em lei, isto é, por meio do ajuizamento de execução fiscal. Pode-se citar como exemplo de sanção política na seara tributária, a proibição de apreensão de mercadorias para coagir o contribuinte a recolher o tributo eventualmente devido (súmula 323 do STF), proibição de emissão de talonário de notas fiscais para quem está devendo tributos ou ainda a interdição de estabelecimento comercial dos devedores. Supremo Tribunal Federal Súmula 70 - É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para cobrança de tributo. Súmula 323 - É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos. 24 51. O protesto de CDA (certidão da dívida ativa) caracteriza sanção política? A certidão da dívida ativa é o título executivo extrajudicial que possibilita o ajuizamento da ação de execução fiscal. Porém, muitas vezes, a Fazenda não ajuíza a execução fiscal, tendo em vista que os valores são baixos. Objetivando coagir psicologicamente os devedores a pagarem suas dívidas tributárias, a Fazenda tem levado a protesto a CDA, abalando o crédito dos devedores. O STF entende que referida prática não é inconstitucional por não caracterizar sanção política (STF ADI 5135). Por outro lado, a Fazenda tem respondido por danos morais, em face de protesto indevido de CDA, caso o crédito tributário seja indevido. 52. O princípio da garantia do mínimo existencial se aplica ao direito tributário? Sim. Referido princípio, que tem fundamento no princípio da dignidade da pessoa humana, afirma que o poder de imposição tributária do Estado não pode negar ao indivíduo o direito à subsistência com um mínimo de dignidade. 53. Existe o princípio da anualidade tributária? No direito tributário, atualmente, não. Existiu sob a égide da Constituição de 1967. Para a instituição e majoração de tributo era necessária a prévia previsão orçamentária. Não se deve confundir com o princípio da anualidade do orçamento que ainda existe ou ainda com o princípio da anterioridade anual, já estudado. 54. O que é o princípio da seletividade em função da essencialidade dos produtos? Regra que, de forma obrigatória, deve ser observada pelo legislador do IPI e, de forma facultativa, pela legislação do ICMS. Os produtos cujo consumo é considerado mais importante para a população, 25 principalmente a mais carente, devem ter alíquotas menores. É o que ocorre com os produtos da cesta básica. Por outro lado, produtos supérfluos, tais como bebidas alcoólicas e cigarros devem ser tributados com mais severidade, ou seja, com alíquotas maiores. 55. Discorra sobre o princípio da não-cumulatividade e cite os tributos aos quais se aplica. É uma técnica de incidência tributária pela qual durante as várias etapas da cadeia produtiva, deve-se compensar o que foi recolhido na operação anterior com o tributo devido na operação seguinte. É de aplicação obrigatória para o ICMS, IPI e para os impostos residuais. É de aplicação facultativa para o PIS e para a COFINS. 56. A progressividade de alíquotas se equipara à possibilidade de cobrança com alíquotas diferentes? Não. Progressividade consiste no aumento das alíquotas na proporção em que aumenta a base de cálculo (IR, ITR, IPTU, ITCMD) ou ainda na medida em que passa o tempo (IPTU progressivo no tempo). Não se confunde com alíquotas diferentes em que não há essa correlação entre a alíquota e a base de cálculo (IPI, ICMS, I. de Importação etc). 57. É possível tributar de forma mais severa uma empresa visando garantir a livre concorrência? Sim, nos termos do disposto no artigo 146-A da Constituição Federal, que autoriza a utilização da tributação como instrumento de garantia da livre concorrência. Trata-se de norma de eficácia limitada, ou seja, ainda depende de regulamentação. Porém, com certezapermitirá maior incidência tributária sobre determinadas empresas, sem que isso gere maltrato ao princípio da isonomia tributária. 58. Quais os princípios que se aplicam especificamente ao imposto de renda? São três. O primeiro é a generalidade que significa que todos os indivíduos, potencialmente, podem ser contribuintes do imposto de renda. Há também a universalidade que afirma que toda a renda pode 26 ser tributada. Por fim, a progressividade de alíquotas em face da majoração da base de cálculo. 59. Especifique as regras e princípios constitucionais que se aplicam às contribuições para o financiamento da seguridade social. a) Princípio da universalidade do custeio: previsto no caput do artigo 195 da Constituição Federal. Afirma que é de responsabilidade de toda a sociedade o financiamento da seguridade social. Por exemplo, a contribuição previdenciária dos aposentados que permanecem no mercado de trabalho é constitucional mesmo não trazendo benefícios para esses segurados, em razão desse princípio. STF - Contribuição previdenciária: aposentado que retorna à atividade: CF, art. 201, § 4º; L. 8.212/91, art. 12: aplicação à espécie, mutatis mutandis, da decisão plenária da ADI 3.105, red.p/acórdão Peluso, DJ 18.2.05. A contribuição previdenciária do aposentado que retorna à atividade está amparada no princípio da universalidade do custeio da Previdência Social (CF, art. 195); o art. 201, § 4º, da Constituição Federal ‘remete à lei os casos em que a contribuição repercute nos benefícios’” (RE 437.640, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 2.3.2007). b) Princípio da anterioridade mitigada ou noventena. Somente após 90 dias da publicação da lei que instituiu ou majorou a contribuição, esta poderá ser exigida. c) Proibição do uso das receitas oriundas das contribuições previdenciárias (sobre a folha de salários e demais verbas decorrentes do trabalho) em despesas outras que não o pagamento de benefícios previdenciários. Essa regra gerou a criação do Fundo do Regime Geral de Previdência Social (LC 101/00 – artigo 68), objetivando evitar que os recursos da previdência social sejam desviados. d) As contribuições sociais poderão ter alíquota ou base de cálculo diferenciada em face do porte da empresa, atividade econômica ou empregabilidade do setor. A título de exemplo, as instituições financeiras, tais como bancos ou corretoras de valores, contribuem 27 com a alíquota correspondente a 22,5% do salário-de-contribuição dos segurados empregado, avulso e individual que lhe preste serviços. As demais empresas, em regra, contribuem com a alíquota de 20%. O Supremo Tribunal Federal afastou eventual inconstitucionalidade dessa regra, com fundamento nesse princípio (STF RE 598.572). e) Proibição de remissão (perdão da dívida tributária) ou anistia (perdão da multa tributária), em patamares superiores aos previstos em lei complementar. f) A contribuição social para o financiamento da seguridade social, cuja base de cálculo ou materialidade econômica esteja expressamente prevista na Constituição Federal, pode ser instituída por lei ordinária. Novas fontes de financiamento, isto é, aquelas cuja base de cálculo não esteja prevista no texto constitucional devem ser veiculadas por lei complementar. 60. O que é competência tributária? Em uma federação, principalmente a brasileira que possui quatro espécies de entes políticos, o constituinte procurou garantir a todos o recebimento de receitas tributárias, para que a sua autonomia não fosse apenas formal. Para tanto, delineou, de forma extremamente detalhada, a competência tributária de cada ente. A competência tributária nada mais é que a aptidão constitucional para instituir tributos. Vale frisar que a Constituição não cria tributos, mas autoriza sua instituição por meio de lei. 61. O ente público é obrigado a instituir um imposto? A questão não é pacífica. Alguns entendem que há a obrigação apenas para os impostos cuja receita deva ser repartida entre os outros entes federativos, tal como acontece com o ICMS. Por outro lado, alguns entendem que, com fundamento no artigo 11 da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ente federativo é obrigado a instituir todos os impostos previstos na Constituição Federal. LC nº 101/00 Artigo 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência 28 constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos. 62. Quais são os tributos cuja competência legislativa é privativa da União Federal? Imposto de importação (II), imposto de exportação (IE), imposto sobre operações financeiras (IOF), imposto de renda (IR), imposto sobre produtos industrializados (IPI), imposto territorial rural (ITR), imposto sobre grandes fortunas (IGF), impostos extraordinários (Imposto de guerra), contribuições sociais para o financiamento da seguridade social, contribuição de intervenção no domínio econômico (CIDE), contribuição de interesse das categorias profissionais e empréstimo compulsório. 63. Quais são os tributos cuja competência legislativa é privativa dos Estados? O imposto sobre circulação de mercadorias e serviços de comunicação e transporte interestadual e intermunicipal de bens e pessoas (ICMS), o imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA) e o imposto sobre herança e doações (ITCMD). 64. Quais são os tributos cuja competência legislativa é privativa dos municípios? O imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), o imposto sobre a transmissão de bens inter vivos (ITBI), o imposto sobre a propriedade territorial urbana (IPTU) e a contribuição sobre iluminação pública (COSIP). 65. Qual a competência tributária do Distrito Federal? E dos Territórios? O Distrito Federal acumula a competência tributária conferida aos estados e aos municípios. 29 O território, por ser uma autarquia territorial da União, não possui competência tributária própria. Os tributos serão de competência da União Federal, salvo se forem divididos em municípios (nesse caso, os municípios instituirão os impostos municipais). Por exemplo, caso futuramente seja criado um território e nele seja aberta uma loja, o ICMS recolhido por esse estabelecimento comercial terá por sujeito ativo a União Federal. 66. O que é competência residual? Consiste na possibilidade, exclusiva da União Federal, de instituir um imposto ou contribuição social para o financiamento da seguridade social, cuja materialidade econômica não esteja expressa na Constituição Federal, por meio de lei complementar. Caso um município ou estado queira instituir novo imposto, não previsto na Constituição, terá de aguardar autorização por meio de emenda constitucional. 67. O que é competência comum? Trata-se da competência atribuída a todos os entes políticos. Abrange os tributos que podem ser instituídos por qualquer um dos quatro entes federativos, isto é, as taxas e as contribuições de melhoria. É possível, por exemplo, existirem taxas federais, estaduais, distritais ou municipais. 68. Discorra sobre o princípio da indelegabilidade da competência tributária. O princípio da indelegabilidade, previsto no artigo 7º do CTN, consiste na proibição da delegação de competência de um ente federativo para outro. 69. Qual a diferença entre bitributação e bis in idem? A bitributação consiste na dupla cobrança de um tributo sobre a mesma situação jurídica, realizada por mais de um ente político. Já bis in idem consiste na dupla incidência sobre o mesmo fato gerador, realizado pelo mesmo ente político. Como exemplo, pode-se citar o PIS e a COFINS que incide sobre o faturamento. 30 Ambas as hipóteses somentepodem ser admitidas, se houver previsão expressa na Constituição Federal. Por exemplo, há uma hipótese constitucional de bitributação que é admitida em face dos impostos extraordinários (impostos de guerra). 70. Diferencie capacidade e competência tributária. Competência tributária é o poder constitucional para instituir tributos. Capacidade é a aptidão para arrecadar e fiscalizar um tributo. 71. Qual a diferença entre fiscalidade, extrafiscalidade e parafiscalidade? Fiscalidade representa a principal função de um tributo, isto é, arrecadar recursos para fazer frente às despesas públicas. A extrafiscalidade consiste na utilização da tributação para incentivar ou desestimular comportamentos. Serve, por exemplo, para o Estado intervir na economia, proteger o meio-ambiente, favorecer as empresas que mais empregam etc. Por exemplo, o SAT (seguro de acidentes do trabalho), contribuição previdenciária que incide sobre a folha de salários, é reduzido para as empresas que tenham menor sinistralidade (menor número de acidentes do trabalho). Por fim, a parafiscalidade se concretiza na transferência da capacidade tributária (arrecadar e fiscalizar) para um terceiro que não o ente federativo que instituiu o tributo. Por exemplo, a União Federal que possui a competência constitucional para instituir o imposto territorial rural, pode transferir, por meio de convênio, a capacidade tributária para o município onde estiver localizada a sede do imóvel rural. 72. Conceitue e cite exemplos de partilha do produto dos tributos (artigo 157 e seguintes da CF/88). O fato de um ente federativo poder instituir um tributo não significa, necessariamente, que o produto da arrecadação ficará totalmente com ele. A Constituição Federal determina que a receita de vários tributos seja partilhada com outros entes federativos: 31 a) O imposto de renda, a qualquer título, retido na fonte dos servidores públicos estaduais e municipais, inclusive os lotados em autarquias e fundações, permanecerão com os respectivos estados, Distrito Federal e municípios. Por exemplo, o IR retido dos subsídios de um juiz estadual, permanece com o estado. b) 49% das receitas obtidas por meio do imposto de renda e do IPI serão transferidas para o Fundo de Participação dos Estados e Municípios e também para fundos de desenvolvimento das regiões norte, nordeste e centro-oeste. c) 50% do valor arrecadado por meio do ITR irá para o município em que se localizar a sede do imóvel rural. Na hipótese do município, por meio de convênio com a União Federal, assumir a atribuição de fiscalizar e cobrar o ITR lhe será repassado 100% do valor arrecadado, desde que não haja qualquer tipo de renúncia fiscal, por parte do município. d) 29% do valor arrecadado através da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico nas operações de importação de petróleo, gás e álcool irá para os estados e para o Distrito Federal e, desse montante, 25% será transferido para os municípios e) IPI (10% aos Estados e ao Distrito Federal, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados). Desse montante os municípios ficam com 25%. f) impostos residuais (20% para os estados e DF) g) IOF sobre o ouro: estado (30%) e município (70%), em que ocorreu a operação. h) 50% dos valores arrecadados a título de IPVA serão remetidos para o município no qual o veículo foi registrado. i) 25% do produto do ICMS será transferido para os municípios, na seguinte proporção: 3/4, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações que ocorram no território do município e até 1/4, de acordo com lei estadual. 32 73. Quais são as modalidades de exoneração fiscal? Há quatro formas de exoneração fiscal, isto é, institutos por meio dos quais o contribuinte não precisará recolher tributos: isenção, imunidade, alíquota zero e não incidência. 74. Discorra sobre a isenção (artigos 176 a 179 do CTN). Trata-se de hipótese de exclusão do crédito tributário prevista em lei, por meio da qual se exclui parcela da hipótese de incidência. Por exemplo, uma lei prevê a isenção do IPTU de imóveis cuja área seja inferior a 50 metros quadrados. Foi excluída da hipótese de incidência parte da materialidade econômica sobre a qual incide o tributo. Há várias definições sobre o instituto, tais como a dispensa legal do pagamento do tributo (atualmente, essa prevalece no STF) ou hipótese de não incidência legalmente qualificada. A interpretação das leis isencionais será restritiva e, salvo expressa previsão legal em sentido contrário, esse instituto não abrange as taxas e as contribuições de melhoria. A isenção concedida por prazo certo e com encargo não pode ser revogada. O contribuinte beneficiado com a isenção permanece obrigado a cumprir as obrigações acessórias. 75. A revogação de isenção deve atender ao princípio da anterioridade? Sim, conforme a doutrina majoritária tendo em vista que a revogação da isenção teria os mesmos efeitos da instituição de novo tributo. Por outro lado, o STF entende que o tributo já existia, razão pela qual não há sentido na aplicação de referido princípio. STF RE 204.062 (...) Revogada a isenção, o tributo torna-se imediatamente exigível. Em caso assim, não há que se 33 observar o princípio da anterioridade, dado que o tributo já é existente (...) 76. A União Federal pode isentar tributos de outros entes federativos, isto é, a chamada isenção heterônoma? Não, em respeito ao princípio federativo que exige tratamento isonômico entre todos os entes federativos. Parte da doutrina defende que há uma exceção prevista na própria Constituição, isto é, a possibilidade da União Federal, por meio de lei complementar, prever isenção sobre a exportação de imposto sobre serviços de qualquer natureza (CF/88 artigo 156, par. 3º, inciso II). Embora não esteja expressa na CF/88, essa regra se aplica também para os estados em relação a seus municípios. 77. E por meio de tratado internacional? A resposta é positiva, pois a União Federal atua como pessoa jurídica de direito público externo, isto é, como país e não como membro da Federação. Nesse sentido vale deixar registrado que a súmula nº 575 do Supremo Tribunal Federal indica esse itinerário jurisprudencial. À mercadoria importada de país signatário do GATT, ou membro da ALALC, estende-se a isenção do imposto de circulação de mercadorias concedida a similar nacional 78. O município pode se amparar na lei de responsabilidade fiscal para revogar isenção por prazo certo e com encargo? A questão, bastante atual, tem obtido resposta negativa da doutrina, pois cabe aos administradores planejarem os gastos públicos de tal forma a evitar a necessidade de recursos não previstos no orçamento. 79. O que significa não incidência tributária? Consiste na totalidade dos fatos do mundo real, não abrangidos pela hipótese de incidência. Didaticamente pode-se denominar de fato não imponível. Como exemplo, podemos citar todas as verbas de natureza indenizatória, em relação ao imposto de renda. 34 80. E alíquota zero? Instrumento de regulação da economia pelo qual se reduz a alíquota dos tributos extrafiscais, geralmente o imposto de importação e o IPI, para zero visando incentivar a produção ou controlar os preços, em algum setor da economia. 81. Conceitue imunidade. Modalidade de limitação ao poder de tributar. Define-se como proibição constitucional de se tributar determinadas situações, pessoas e bens ou ainda hipótese de não incidência constitucional ou ainda norma de incompetência tributária. Possui forte carga valorativa, concretizando valores que o constituinte concebeu como muito relevantes para o país. Por esse motivo, em conformidade com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a interpretação das normas imunizantesdeve ser extensiva. As pessoas e entidades beneficiadas permanecem obrigadas ao cumprimento das obrigações acessórias. 82. O que são as imunidades genéricas? São aquelas que atingem todos os impostos, tal como as previstas no artigo 150, VI, da CF/88, tais como a imunidade recíproca, a de templos de qualquer culto, a relativa a jornais e periódicos; a que atinge as entidades educacionais, assistenciais ou ainda a imunidade musical. 83. Em que consiste a imunidade recíproca? Aquela que, visando fortalecer o pacto federativo, proíbe que entes políticos exijam impostos incidentes sobre a renda, o patrimônio e os serviços uns dos outros. Abarca também as autarquias e fundações públicas no que tiver relação com suas atividades essenciais. Por exemplo, o Estado do Rio de Janeiro destina um imóvel para que seja um campo de futebol (é imune). O INSS, uma autarquia federal 35 que tem por função a concessão de benefícios previdenciários, faz a mesma coisa (não é imune, pois o esporte não é sua atividade essencial). Estão excluídos os entes da administração direta e indireta que têm por objeto atividades econômicas não monopolizadas e regidas por regime jurídico de direito privado. Não são beneficiadas as concessionárias e permissionárias de serviços públicos. Conforme prevê o artigo 150, parágrafo terceiro, da CF/88, essa modalidade de imunidade não exime o promitente comprador de recolher o IPTU. 84. Empresas públicas e sociedades de economia mista podem se beneficiar com a imunidade recíproca? A princípio, em conformidade com a literalidade do texto constitucional a resposta deveria ser negativa, pois apenas são citadas as fundações públicas e as autarquias. Porém, o Supremo Tribunal Federal tem se posicionado de forma diversa. Entende que as empresas públicas que desempenham serviços públicos essenciais, monopolizados e de caráter não concorrencial também devem ser beneficiadas pela norma imunizante. A primeira empresa pública a ter reconhecido referido status foi a ECT (Empresa de Correios e Telégrafos - STF RE nº 407099). CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO. I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem atividade econômica. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a. II. Atualmente, há outras como a Casa da Moeda. 36 Mais recentemente, sociedades de economia mista têm obtido, pelos mesmos argumentos trazidos pelas empresas públicas, este reconhecimento. Por exemplo, são beneficiárias da imunidade as sociedades de economia mista prestadoras de serviços de saúde cujo capital social seja majoritariamente estatal (STF RE 580264). 85. A imunidade recíproca abarca o IOF? Sim, pois os entes federativos, ao aplicar seus recursos, não visam o lucro, mas a manutenção do valor de compra da moeda, razão pela qual não atuam como especuladores e sim como membro da federação (STF – RE nº 213.059). TRIBUTÁRIO. IOF. APLICAÇÃO DE RECURSOS DA PREFEITURA MUNICIPAL NO MERCADO FINANCEIRO. IMUNIDADE DO ART. 150, VI, A, DA CONSTITUIÇÃO. À ausência de norma vedando as operações financeiras da espécie, é de reconhecer-se estarem elas protegidas pela imunidade do dispositivo constitucional indicado, posto tratar- se, no caso, de rendas produzidas por bens patrimoniais do ente público. 86. A imunidade recíproca abarca os impostos indiretos, ICMS e IPI? Por exemplo, se um município comprar um bem. Sobre essa operação não incidirá ICMS e IPI? Não, segundo a jurisprudência de nossa Corte Maior. Afinal, o ente federativo, embora arque com o valor do imposto por ser consumidor final, não é contribuinte do tributo. Da mesma forma, a imunidade não alcança o contribuinte (empresa que vendeu o produto para o ente político). STF Súmula 591: A imunidade ou isenção tributária do comprador não se estende ao produtor, contribuinte do imposto sobre produtos industrializados. Por outro lado, se o ente beneficiado pela imunidade for o contribuinte do ICMS, por exemplo, não haverá a incidência do imposto. 87. A OAB está abrangida? 37 Sim, por ser uma autarquia federal. Da mesma forma, as Caixas de Assistência aos Advogados (STF RE 405267). 88. Conceitue a imunidade dos templos de qualquer culto. Visa proteger e fortalecer a liberdade de culto. Alcança não apenas os prédios que abrigam os templos, mas também todas as atividades essenciais das instituições religiosas, tais como o dízimo. “O templo não deve ser apenas a igreja, sinagoga ou edifício principal, onde se celebra a cerimônia pública, mas também a dependência acaso contígua, o convento, os anexos por força de compreensão, inclusive a casa ou residência especial, do pároco ou pastor, pertencente à comunidade religiosa” (Aliomar Baleeiro, Direito Tributário Brasileiro, 1ª ed. pág. 91) 89. Os cemitérios possuem imunidade? Não há dúvidas, se os cemitérios forem uma extensão das igrejas (STF RE 578562). Porém, a questão não é pacífica se eles pertencerem a particulares e visarem lucro. Pessoalmente, entendo que não há imunidade, pois se trata de um negócio que visa o lucro. Por outro lado, há entendimento no sentido de que consiste em atividade religiosa e que a religiosidade não precisa estar vinculada a uma igreja ou religião específica, ou seja, muitas pessoas, ao homenagearem os seus entes queridos em um cemitério estariam praticando um ato religioso. No Recurso Extraordinário nº 544.815, que se restou extinto por questões processuais, o Supremo Tribunal Federal demonstra tendência no sentido de não estender a imunidade para os cemitérios de particulares. 90. E a maçonaria? Não é considerada religião. STF RE 562.351. A imunidade tributária conferida pelo art. 150, VI, b, é restrita aos templos de qualquer culto religioso, não se aplicando à maçonaria, em cujas lojas não se professa qualquer religião. (...) 38 91. Qual a abrangência da imunidade do papel dos livros, jornais e periódicos? Visa garantir a liberdade de expressão. Seguindo a trilha dos julgados do STF, a norma imunizante atinge o papel necessário para a confecção das listas telefônicas (STF RE 199183), apostilas (STF RE 183403), álbum de figurinhas, além dos filmes e papéis fotográficos, usados na confecção dos jornais. STF súmula 657. A imunidade prevista no artigo 150, VI, "d", da Constituição Federal abrange os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos. Não atinge, porém, as máquinas utilizadas na impressão, dos jornais e a tinta para a impressão. Abrange o denominado livro eletrônico, inclusive o suporte físico (CD) e o os leitores de livros eletrônicos (STF Recurso Extraordinário nº 330817 e nº 595676). 92. Discorra sobre a imunidade das entidades de assistência social e educacional; partidos políticos e suas fundações e sindicato de trabalhadores. Evidentemente, as entidades educacionais, sem fins lucrativos, e as entidades filantrópicas, possuem papel relevante para a sociedade, pois auxiliam o Estado em responsabilidades que lhe pertencem. No que se refere aos partidos políticos e suas fundações, estes são o fundamento da democracia representativa. Por fim, os sindicatos são essenciais como intermediários na eterna tensão nas relações entre o capital e o trabalho. Esta é a razão pela qual são listados como beneficiários da imunidade. As entidades educacionais e assistenciais deverão demonstrar que atendem aos requisitos previstos no artigo 14 do Código Tributário Nacional, ou seja,não poderão distribuir lucros ou parcelas de seu patrimônio, deverão manter em ordem sua contabilidade e não poderão remeter lucros para o exterior. 39 Os partidos políticos e suas fundações manterão a imunidade se não tiverem suas contas rejeitadas, em decisão definitiva, pela Justiça Eleitoral. Os sindicatos deverão apenas atender ao disposto no artigo 8º da Constituição Federal. 93. Os sindicatos patronais têm imunidade de impostos? Não, segundo o Supremo Tribunal Federal, uma vez que possuem condições econômicas de se manterem, sem auxílio estatal. 94. Os fundos de pensão têm imunidade, tendo em vista que são entidades que não visam lucros? O STF entende que só possuem imunidade as entidades de previdência privada fechada (fundos de pensão) nas quais há aportes financeiros somente da patrocinadora (empresa) e não do participante (segurado). Caso haja, como é mais comum, depósito do trabalhador e da empresa, não há imunidade. STF Súmula 730. A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo artigo 150,VI, "c", da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários. 95. Caso uma entidade assistencial alugue um imóvel para um particular, esse imóvel permanece imune ao IPTU? O Supremo Tribunal Federal entende que sim, desde que a receita seja integralmente revertida para a finalidade da entidade. STF Súmula 724. Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo artigo 150, VI, "c", da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades. 40 STF Súmula Vinculante 52. Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da Constituição Federal, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas. 96. O que é a imunidade musical? Regra de imunidade introduzida pela EC nº 75, objetiva incentivar a cultura nacional, especificamente a música e os músicos brasileiros. Era necessário tendo em vista que a internet possibilitou a aquisição de músicas e CD sem o pagamento de direitos autorais aos artistas, gerando crise no setor. Agora, os CDs e DVDs produzidos no Brasil de autores nacionais ou interpretados por artistas brasileiros não terão a incidência de impostos. Abrange também as músicas comercializadas via internet. Um exemplo. Um cantor brasileiro grava um CD com músicas de sua autoria. Nesse caso, não incidirá imposto de renda e ISS na fase de gravação (estúdio, arranjos etc) e também não incidirá ICMS na venda das lojas para o consumidor final. Por outro lado, haverá incidência de IPI na fabricação dos CDs e dos DVDs. 97. O que são imunidades específicas? Cite exemplos de imunidades específicas, relativas a impostos. São as que se aplicam apenas a um imposto ou a uma específica situação. a) IPI: Não incide sobre produtos industrializados destinados ao exterior. b) ITR: Não há incidência sobre pequena gleba rural, nos termos da lei. c) ISS: São imunes os serviços exportados. 41 d) ICMS: São imunes as mercadorias objeto de exportação e serviços de transporte e comunicação internacional. d1) ICMS: operação que destine - a outros estados - petróleo inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados e energia elétrica (o imposto caberá ao estado em que ocorrer o consumo). d2) ICMS: serviços de comunicação de rádio e televisão aberta (para evitar eventual tributação sobre a publicidade). e) Na transferência de imóveis desapropriados, para fins de reforma agrária, não há incidência de impostos. f) IOF: sobre o ouro, quando represente ativo financeiro, incide apenas o imposto sobre operações financeiras. Já sobre produtos produzidos com ouro como uma joia, por exemplo, há incidência de todos os impostos. g) Operações com energia elétrica, serviços de telecomunicações e derivados de petróleo e minerais só incide imposto de importação, imposto de exportação e ICMS. Referida regra imunizante não se estende para as demais espécies tributárias: STF súmula 659: é legítima a cobrança da COFINS, do PIS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. h) ITBI: não incide sobre a transmissão de bens decorrentes de realização de capital, fusão, cisão, incorporação ou extinção de empresa. 98. Cite exemplos de imunidades específicas relativas a taxas. Os principais exemplos são: assistência judiciária gratuita, tendo em vista que as custas judiciais são taxas; direito de petição; certidão de nascimento, casamento e certidão de óbito, considerando que os emolumentos dos cartórios extrajudiciais são taxas; habeas corpus; habeas-data e ação popular. 42 99. A imunidade embutida na norma que prevê justiça gratuita para as pessoas carentes, engloba os emolumentos dos cartórios extrajudiciais? Sim. Há precedentes do STJ e STF nesse sentido. STJ - RMS 26.493-RS, Rel. Min. Eliana Calmon (...) Trata-se de recurso em mandado de segurança em que se pugna pela anulação de ato do juiz de primeiro grau confirmado – pelo acórdão recorrido – que exonerou o recolhimento dos emolumentos devidos pela extração de certidões de registro de imóveis, quando os litigantes usufruírem o benefício de assistência judiciária, isto é, pretende-se afastar a aplicação do art. 3º, II, da Lei n. 1.060/1950 aos serviços extrajudiciais dos cartórios oficializados. Dessarte, a Turma negou provimento ao recurso ao entendimento de que a gratuidade da Justiça estende-se aos atos extrajudiciais relacionados à efetividade do processo judicial em curso, mesmo em se tratando de registro imobiliário. A isenção contida no art. 3º, II, da Lei nº 1.060/1950 abrange os valores devidos pela extração de certidões de registro de imóveis, necessárias ao exercício do direito de ação, não procede a premissa de que inexiste lei específica regulamentando a isenção em tela, porque se aplica ao caso a já mencionada lei, cujo esteio constitucional repousa no art. 5º, LXXVII, da CF/1988, que assegura aos necessitados a dispensa do pagamento dos atos necessários ao exercício da cidadania. Também em nada aproveita ao recorrente a natureza privada dos serviços que realiza, pois eles não deixam de ostentar a natureza de serviços públicos, embora prestados por delegação e sob supervisão do Poder Judiciário. Ressalte-se que há precedentes do STF, os quais acolhem a isenção dos atos necessários ao exercício da cidadania, aplicando o princípio da proporcionalidade. Precedentes citados do STF: ADC 5- DF, DJ 5/10/2007; ADI 1.800-DF, DJ 28/9/2007; do STJ: REsp 94.649-RJ, DJ 9/9/1996. 100. Cite exemplos de imunidades específicas relativas a contribuições especiais. http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=RMS%2026493 43 a) Aposentadoria e pensão por morte de regime próprio de previdência social dos servidores públicos, cujos proventos sejam inferiores ao teto máximo do salário-de-contribuição do Regime Geral de Previdência Social (R$.5839,45 - 2019). b) Aposentadorias e pensões do regime geral de previdência social. c) Não incide contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico sobre receitas decorrentes de exportação. Obs.: não há imunidade de contribuição social sobre o lucro em face de receitas originadas de exportações, pois a imunidade abrange a receita e não o lucro decorrente da receita (STF Ag.Reg. no RE 460158). d) Da mesma forma estão exoneradas do recolhimento de contribuições para o financiamento da seguridade social (contribuição previdenciária,
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