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Produzido por Ana Gabriela Vasconcelos Cavalcante Licencianda em História pela UFRPE Resumo da obra: História Geral das Civilizações. Parte III: A Idade Média Autor: Édouard Perroy O Esmaecer da Europa Édouard Perroy inicia a obra contextualizando o cenário em que a Europa achava-se na conjuntura do início do Medievo. Marcada pelas rupturas com a cultura do contexto antigo, assim como também por continuidades estruturais, apesar de aspectos de desenvolvimento que se aflorava, entretanto o estado era caótico e flagelado, impactado ainda pelas desestruturações e crises acometidas. Assim, com a ameaça da expansão islâmica, bem como com o que o autor conceitua como a deformação da religião cristã “pelas superstições e sobrevivência do paganismo”, o território achava-se num estado de violência constante, dominado por uma aristocracia indisciplinada e tendo retornado a um modo primitivo de economia, cuja terra era a única fonte para exploração e o rendimento era bastante fraco. De forma clara, este historiador tece sua abordagem explanando os aspectos sociais, geográficos e políticos com riqueza de detalhes. O autor pontua que, entretanto, é generalizante considerar que em todo o território o cenário era semelhante, uma vez que havia pontos onde afloravam-se com mais intensidade a espiritualidade cristã, conforme os moldes do catolicismo apostólico romano, assim havia um desenvolvimento intelectual e cultural em alguns destes fragmentados reinos, contudo pela dispersão em que encontravam-se, tais desenvolvimentos mostravam-se ineficazes, numa conjuntura de poder descentralizada. No entanto, tal cenário se modifica ainda que por um breve período, quando, a partir de acordos estabelecidos entre chefes aristocratas francos e a Igreja, forma-se o Império Carolíngio. Após abordar a descentralização política, Perroy busca explicar o contexto de formação do Império Carolíngio. Com a ascensão social de uma família de chefes francos latifundiários, no ano 800, é firmada uma aliança entre estes e a Igreja de Roma, consolidada pela sagração de Pepino pela cristandade romana. O novo imperador cede ao pontificado romano auxílio militar, galgando assim a preparação da restauração da civilização Ocidental. Ambos os setores beneficiam-se e desenvolvem-se mutuamente. E a Igreja enxerga na ascensão da família carolíngia uma verdadeira oportunidade de reunificação e restabelecimento do poderio ocidental, valendo-se de sua fortuna. É muito interessante quando o historiador enfatiza que a restauração da segurança urbana acabou favorecendo um “surto demográfico”. Entretanto, pelas técnicas primitivas empregadas na agricultura, havia um baixo rendimento agrícola, não se equiparando a demanda populacional. Além disso, outro fator característico foi a considerável redução das atividades comerciais, havendo também um declínio monetário. Apesar das tentativas do novo império em reerguer o comércio, entretanto a economia carolíngia é predominantemente rural. Os apontamentos feitos por Perroy acerca do cenário econômico da conjuntura explanada são deveres interessantes. O autor pontua que o declínio da moeda impediu a contratação de trabalhadores assalariados, não sendo, ademais, economicamente vantajoso manter um grupo grande de escravos, o que fomentou a consolidação de uma nova organização socioeconômica, pautada ainda na servidão, mas tendo como moeda de troca a concessão de terras cujos servos poderiam habitar e utilizar, desde que submetesse ao sistema imposto pelos senhores, com cobrança de impostos e servidão estrita. Ao afirma que a moral cristã proibia reduzir a condição de escravo os batizados, propondo a alforria como solução, o que reduz o número da classe servil, Perroy tem uma concepção que se diferencia da proposta pelo historiador Baschet, pois segundo este a Igreja contribuiu com a manutenção da escravidão, inclusive considerando-a uma espécie de castigo divino. Mais adiante o autor explora a constituição do sistema de vassalagem, pontuando que ele ajudou na manutenção da estruturação do Estado. Em um documento datado de 757, há a descrição de como aconteciam os ritos de vassalos, cujos homens livres, já abastados, que decidissem se ‘recomendar’ a um senhor deveriam se submeter. Em vista disso, a ameaça do confisco das terras exerce significativa pressão para que o vassalo não desobedecesse a seu rei. Assim, com bem enfatiza Perroy, “os hábitos vassálicos codificaram-se e fixaram-se” na sociedade, configurando-se como verdadeiros sustentáculos ideológicos. Pela exploração detalhada, é bastante interessante quando o autor explana a questão do renascimento artístico e cultural- ‘das letras-, bem como a importância exercida pela cristandade nesta nova dinâmica social. Com a criação do sistema de abadia, a Igreja sustentava a moral e a ordem carolíngia, promovendo, inclusive, uma libertação dos fracos da ‘selvageria’. Nesse ponto é válido questionar a relação atribuída pelo autor entre francos e a noção de selvageria, quiçá ‘barbarismo’, pois ela pode reproduzir o imaginário construído que associa povos bárbaros a brutalidade e inferioridade. Ainda sobre a Igreja Carolíngia, a sagração que havia sido conferida ao rei dos francos, atribuiu-lhe um caráter sacerdotal que implicava o abandono do modo despótico de governo. Quanto ao renascimento artístico, fundava-se no objetivo de restaurar a ordem política e renovar a vida religiosa, fomentando, inclusive, uma remodelação arquitetônica que refletia os valores da nova ordem. A sagração e a vassalagem a princípio reforçaram o poderio dos imperadores carolíngios, porém posteriormente tal exercício de poder deixou de ser suficiente para submeter os grandes a um rei não mais vitorioso, assim a autoridade começou a funcionar no império, sendo, após incessantes conflitos dinásticos, em 843 a Europa partilhada em reinos independentes. A dissolução do império carolíngio impactou o poderio da igreja deixando, ademais, a Europa mais suscetível a invasões tanto marítimas quanto terrestres e estas por sua vez, mesmo diante da resistência, aceleraram o processo de enfraquecimento monárquico. Fomentando muitos impactos materiais, haja vista, por exemplo, os sucessivos saques de metais preciosos. Além disso, como pontua o autor, o setor urbano achava mais protegido pelas muralhas, diferente da área rural estando mais vulnerável. Este processo turbulento rompeu com o florescimento do renascimento carolíngio. Apesar do posterior restabelecimento do cenário mais pacifico, a Europa não mais se unificou desde então, e tal processo fomentou o advento e a consolidação do sistema feudal figurando um novo sistema de estruturação social, nesse sentido, mas adiante o autor explora o crescimento e a consolidação identitária da sociedade feudal. Contudo, vale salientar que apesar das rupturas históricas, segundo Perroy, a marca carolíngia foi deixada no Ocidente, tanto nas delimitações das fronteiras territoriais, que nessa conjuntura começava a se delinear, como no âmbito artístico e religioso do Ocidente. Tendo, também, resquícios na organização econômica o sistema senhorio e de vassalagem. Assim, finalizo esta síntese considerando que o texto me foi muito enriquecedor. Pude, através das explanações do autor, compreender de forma mais clara e detalhada os processos que figuraram tal conjuntura histórica. Referência Bibliográfica principal: PERROY, Édouard. História Geral das Civilizações. Parte III: A Idade Média. Tomo 1. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1974, cap. V, pp. 124-161.
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