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1 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 O peritônio é uma membrana serosa transparente, contínua, brilhante e escorregadia. Reveste a cavidade abdominopélvica e recobre as vísceras. O peritônio consiste em duas lâminas contínuas: o peritônio parietal, que reveste a face interna da parede abdominopélvica, e o peritônio visceral, que reveste vísceras como o estômago e intestino. FUNÇÕES: Facilitar movimentos peristálticos e reduzir atrito entre as vísceras. Resistência a infecções (leucócitos e anticorpos no liquido peritoneal). Comunicação neurovascular entre o órgão e a parede corporal. Armazenamento do gordura. Via alternativa de absorção de medicamentos. Características funcionais O peritônio é um verdadeiro órgão, com funções e patologias próprias. Das suas características funcionais, as principais são: A secreção do líquido peritoneal, que reduz o atrito entre as vísceras A resistência a infecção pela ação dos macrófagos existentes no líquido peritoneal e também pela sua capacidade de confinar uma infecção. Quando esta não é muito intensa, o peritônio através, especialmente, do omento maior, que se desloca, a isola por tamponamento e/ou aderência. O acúmulo de gordura, em especial no omento maior, que atua como reserva nutricional A absorção e a eliminação de substâncias para e da circulação, podendo ser utilizado em processos terapêuticos (diálise peritoneal, administração de medicamentos). Esta mesma propriedade explica a absorção de toxinas bacterianas nos casos de infecções graves que afetem o peritônio O peritônio é muito sensível, provocando dores intensas quando traumatizado, descolado ou fortemente distendido. O peritônio parietal é inervado pelos nervos das paredes a ele adjacentes: a parte diafragmática pelos n.n. frênicos, o restante pelos n.n. tóraco-abdominais e ramos do plexo lombo-sacral. Os estímulos dolorosos do peritônio parietal podem ser relacionados diretamente com a região estimulada ou podem ser referidos, como, por exemplo, a estimulação dolorosa da parte central do peritônio diafragmático que é referida no ombro. O peritônio visceral não apresenta inervação para a dor, mas sensações de distensão ou tração podem ser sentidos difusamente. Peritônio parietal O peritônio parietal tem a mesma vasculatura sanguínea e linfática e a mesma inervação somática que a região da parede que reveste. Como a pele sobrejacente, o peritônio que reveste o interior da parede do corpo é sensível a pressão, dor, calor e frio, e laceração. A dor no peritônio parietal geralmente é bem localizada, exceto na face inferior da parte central do diafragma, que é inervada pelos nervos frênicos; a irritação nesse local costuma ser referida nos dermátomos C3–C5 sobre o ombro. Subdivisões: anterior ou antero-lateral (reveste a parede antero-lateral do abdômen). Responsável por revestir a face interna da parede abdominopelvica. O peritônio parietal anterior infraumbilical apresenta a prega umbilical mediana, impar e as pregas umbilicais 2 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 mediais e laterais, pares. Todas elas são produzidas pela presença de estruturas no tecido extraperitoneal: • ligamento umbilical mediano, resultante do úraco (estrutura embrionária que vai da bexiga ao umbigo) fibrosado, produz a prega umbilical mediana • as a.a. umbilicais obliteradas produzem as pregas umbilicais mediais, uma de cada lado • as a.a. epigástricas inferiores produzem as pregas umbilicais laterais, uma de cada lado Enquanto as pregas umbilicais mediana e mediais chegam ao umbigo, as laterais não o fazem. Entre a prega umbilical mediana e as pregas umbilicais mediais situa-se a fossa supravesical; entre as mediais e laterais fica a fossa inguinal medial e lateralmente à prega umbilical lateral fica a fossa umbilical lateral. Acima do umbigo também existe uma prega, formada pelo ligamento falciforme Peritônio visceral O peritônio visceral e os órgãos que ele cobre têm a mesma vasculatura sanguínea e linfática e inervação visceral. O peritônio visceral é insensível a toque, calor e frio, e laceração; é estimulado basicamente por distensão e irritação química. A dor provocada é mal localizada, sendo referida para os dermátomos dos gânglios vertebrais que emitem as fibras sensitivas, sobretudo para as partes medianas desses dermátomos. Consequentemente, a dor oriunda de derivados do intestino anterior geralmente é sentida no epigástrio; a dor proveniente de derivados do intestino médio, na região umbilical; e aquela originada em derivados do intestino posterior, na região púbica. Reveste as vísceras. Não sensível. Vascularização e inervação corresponde ao órgão. Relação do peritônio e as vísceras O peritônio e as vísceras estão na cavidade abdominopélvica. A relação entre as vísceras e o peritônio é a seguinte: Os ÓRGÃOS INTRAPERITONEAIS são quase completamente cobertos por peritônio visceral (p. ex., o estômago e o baço). Intraperitoneal neste caso não significa dentro da cavidade peritoneal (embora o termo seja usado clinicamente para designar substâncias injetadas nessa cavidade). Os órgãos intraperitoneais foram conceitualmente, se não literalmente, invaginados para o saco fechado, como ao pressionarmos a mão fechada contra uma bola de aniversário cheia. Os ÓRGÃOS EXTRAPERITONEAIS, RETROPERITONEAIS E SUBPERITONEAIS também estão situados fora da cavidade peritoneal — externamente ao peritônio parietal — e são apenas parcialmente cobertos por peritônio (geralmente apenas em uma face). Órgãos retroperitoneais, como os rins, estão entre o peritônio parietal e a parede posterior do abdome e só têm peritônio parietal nas faces anteriores (não raro com uma quantidade variável de gordura interposta). Do mesmo modo, a bexiga urinária subperitoneal só tem peritônio parietal em sua face superior. As vísceras abdominais são classificadas conforme sua relação ao peritônio em peritonizadas, extraperitoneais e intraperitoneais. As PERITONIZADAS são aquelas quase totalmente envolvidas por peritônio visceral, ficando sem este revestimento somente numa estreita faixa que corresponde a região onde o meso ou ligamento se delamina para revestir a víscera, tornando-se peritônio visceral. As EXTRAPERITONEAIS são aquelas situadas externamente ao peritônio parietal, o qual pode revestir uma ou mais faces da víscera, mas sem envolvê-la quase completamente (neste caso ela seria peritonizada). Em decorrência das alterações ocorridas durante o desenvolvimento embrionário existem dois tipos de vísceras extraperitoneais: as primitivamente extraperitoneais que, desde o início do seu desenvolvimento estiveram localizadas externamente ao peritônio e as secundariamente extraperitoneais que eram inicialmente peritonizadas e tornaram-se posteriormente extraperitoneais em consequência a sobreposição de seu meso ao peritônio parietal posterior. As lâminas assim em contato (lâmina posterior do meso e peritônio parietal) unem-se e são substituídas por uma 3 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 lâmina conjuntiva. A lâmina anterior do meso passa a ser agora parte do peritônio parietal posterior e a víscera torna-se extraperitoneal. Este fenômeno de justaposição e posterior substituição é denominado de coalescência e o conjuntivo que substituiu as lâminas peritoniais é denominado de fáscia de coalescência. Esta situação definitiva pode ser artificialmente (por dissecação anatômica ou cirúrgica) revertida pois as fáscias de coalescência permitem uma fácil clivagem, o que permite a manipulação da parede posterior destas vísceras por uma incisão na parede anterior do abdome. Como a maior parte dos órgãos extraperitoneais situa-se posteriormente ao peritônioparietal posterior é comum chamá-los de retroperitoniais. A única víscera INTRAPERITONEAL é o ovário, pois se situa na cavidade peritoneal. Nesta região, a cavidade deixa de ser virtual para ser real. Além disto, como a tuba uterina se abre tanto para a cavidade peritoneal quanto para o útero e este se comunica com a vagina, a cavidade peritoneal está, por esta via, em comunicação com o meio externo. Assim, enquanto no sexo masculino a cavidade peritoneal é fechada, no sexo feminino é uma cavidade aberta, o que justifica o fato de infecções dos órgãos genitais femininos alcançarem e envolverem o peritônio. PERITONIZADOS: fígado, baço, estomago, jejuno-ilio, ceco, cólon transverso, cólon sigmoide, parte inicial da 1° porção do duodeno (ampola). INTRAPERITONEAL: ovário. EXTRAPERITONEAIS: rins e suprarrenais, pâncreas, 2° parte do duodeno, veia cava inferior, aorta abdominal, cólon ascendente, cólon descendente, reto, porção abdominal das vias urinarias. Cavidade peritoneal A cavidade peritoneal está dentro da cavidade abdominal e continua inferiormente até a cavidade pélvica. A cavidade peritoneal é um espaço potencial com espessura capilar, situado entre as lâminas parietal e visceral do peritônio. Não contém órgãos, mas contém uma fina película de líquido peritoneal, que é composto de água, eletrólitos e outras substâncias derivadas do líquido intersticial em tecidos adjacentes. A cavidade peritoneal é completamente fechada nos homens. Nas mulheres, porém, há uma comunicação com o exterior do corpo através das tubas uterinas, cavidade uterina e vagina ⟶ essa comunicação é uma possível via de infecção externa. Entre os folhetos parietal e visceral está a cavidade peritonial, virtual em estado normal, mas real sob certas circunstâncias, como derrames de ar ou líquido (pneumoperitônio, hemoperitônio, derrames de bile, conteúdo gástrico ou intestinal, etc) ou introdução artificial de ar ou líquido para fins de diagnóstico ou tratamento. Também a abertura cirúrgica ou traumática do peritônio, após secção dos planos parietais, ao permitir a entrada de ar, transforma a cavidade peritoneal de virtual em real. Corresponde a um espaço existente entre os dois folhetos peritoneais. É virtual, correspondendo a um espaço capilar preenchido por uma quantidade mínima de liquido peritoneal. Masculina ≠ feminina ⟶ na feminina tem a presença do óstio abdominal da tuba Liquido peritoneal O líquido peritoneal lubrifica as faces peritoneais, permitindo que as vísceras movimentem-se umas sobre as outras sem atrito e permitindo os movimentos da digestão. Além de lubrificar as faces das vísceras, o líquido peritoneal contém leucócitos e anticorpos que resistem à infecção. Os vasos linfáticos, sobretudo na face inferior do diafragma, cuja atividade é incessante, absorvem o líquido peritoneal. Formações peritoneais A cavidade peritoneal abriga uma grande extensão de intestino, a maior parte da qual é revestida por peritônio São necessárias extensas áreas de continuidade entre o peritônio parietal e visceral para dar passagem às estruturas neurovasculares da parede do corpo até as vísceras Embora o volume da cavidade abdominal corresponda a uma fração do volume do corpo, os peritônios parietal e visceral que revestem a cavidade peritoneal internamente têm uma área de superfície muito maior do que a face externa do corpo (pele); portanto, o peritônio é extremamente convoluto. CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS FORMAÇÕES PERITONEAIS 4 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 Meso Prega de peritônio que une um órgão a parede (peritônio visceral com peritônio parietal) e que contém o feixe vascular nervoso. Epíplon Prega de peritoneo que une dois órgãos entre si (peritônio visceral com visceral). Fascia de coalescênci a Aderência constante entre 2 lojas peritoneais; se alojam órgãos que giram e se prendem a parede abdominal. Ligamento Pregas de peritônio que unem órgãos a órgãos/parede e que não carregam elementos nobres. O MESENTÉRIO é uma lâmina dupla de peritônio formada pela invaginação do peritônio por um órgão, e é a continuidade dos peritônios visceral e parietal. Constitui um meio de comunicação neurovascular entre o órgão e a parede do corpo. O mesentério une um órgão intraperitoneal à parede do corpo — geralmente a parede posterior do abdome (p. ex., o mesentério do intestino delgado). O mesentério do intestino delgado costuma ser denominado simplesmente “mesentério”; entretanto, os mesentérios relacionados a outras partes específicas do sistema digestório recebem denominações de acordo — por exemplo, mesocolos transverso e sigmoide, mesoesôfago, mesogástrio e mesoapêndice. Os mesentérios têm um cerne de tecido conjuntivo que contém sangue e vasos linfáticos, nervos, linfonodos e gordura. Um complexo leque formado a partir de duas camadas de peritônio (anterossuperior e posteroinferior) separadas por tecido conjuntivo e vasos. Os mesos que são reflexões do peritônio parietal posterior, constituídos por duas lâminas, que relacionam a parede abdominal com sua respectiva víscera, fixando-a e ao mesmo tempo dando-lhe mobilidade. O espaço entre as duas lâminas do meso é preenchido por tecido extraperitoneal, pelo qual passam vasos, nervos e linfáticos em direção a víscera. Os mesos existentes são o mesentério, para o jejuno e o íleo, o mesocolo transverso, para o colo transverso e o mesossigmóide, para o colo sigmóide. O OMENTO é uma extensão ou prega de peritônio em duas camadas que vai do estômago e da parte proximal do duodeno até os órgãos adjacentes na cavidade abdominal. Os omentos são reflexões peritoniais largas, amplas, que se dispõe entre duas vísceras. Os omentos existentes são o omento menor entre o fígado e a curvatura menor do estômago e a primeira porção do duodeno e o omento maior que vai da curvatura maior do estômago ao colo transverso e deste se dispõe como um “avental”, anteriormente às alças intestinais. O OMENTO MAIOR é uma prega peritoneal proeminente, que tem quatro camadas e pende como um avental da curvatura maior do estômago e da parte proximal do duodeno. Após descer, dobra-se de volta e se fixa à face anterior do colo transverso e seu mesentério O OMENTO MENOR é uma prega peritoneal muito menor, dupla, que une a curvatura menor do estômago e a parte proximal do duodeno ao fígado. Também une o estômago a uma tríade de estruturas que seguem entre o duodeno e o fígado na margem livre do omento menor. Um LIGAMENTO PERITONEAL consiste em uma dupla camada de peritônio que une um órgão a outro ou à parede do abdome. 5 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 Os ligamentos que são ou reflexões peritoniais de dupla lâmina que vão do peritônio parietal (exceto o posterior, porque aí então seriam mesos) a uma víscera ou reflexões peritoniais entre uma víscera e outra. Estes conceitos são generalizações e como tal, admitem exceções. Assim, existem ligamentos que se prendem à parede posterior, como o lienorrenal e a lâmina posterior do ligamento falciforme e ligamentos denominados de mesos, sem partirem da parede posterior, como o mesoapêndice ou o mesossalpinge. O fígado está unido: À parede anterior do abdome pelo ligamento falciforme. Ao estômago pelo ligamento hepatogástrico, a porção membranácea do omento menor. Ao duodeno pelo ligamento hepatoduodenal, a margem livre espessa do omento menor, que dá passagem à tríade portal: veia porta, artéria hepática e ducto colédoco. Conexões peritoneais com o fígado: Coronários Falciforme Triangular Hepatogástrico (omento menor) Os ligamentos hepatogástrico e hepatoduodenal são partes contínuas do omento menor e são separados apenas por conveniência para descrição.O estômago está unido: À face inferior do diafragma pelo ligamento gastrofrênico. Ao baço pelo ligamento gastroesplênico, que se reflete para o hilo esplênico. Ao colo transverso pelo ligamento gastrocólico, a parte do omento maior semelhante a um avental, que desce da curvatura maior, inferiormente, recurva-se e, então, ascende até o colo transverso. Embora os órgãos intraperitoneais possam ser quase totalmente cobertos por peritônio visceral, todo órgão precisa ter uma área que não é coberta para permitir a entrada ou saída de estruturas neurovasculares. Essas áreas são denominadas áreas nuas, formadas em relação às fixações das formações peritoneais aos órgãos, inclusive mesentérios, omentos e ligamentos que dão passagem às estruturas neurovasculares. Uma PREGA PERITONEAL é uma reflexão de peritônio elevada da parede do corpo por vasos sanguíneos, ductos e ligamentos formados por vasos fetais obliterados subjacentes (p. ex., as pregas umbilicais na face interna da parede anterolateral do abdome). Um RECESSO OU FOSSA PERITONEAL é uma bolsa de peritônio formada por uma prega peritoneal (p. ex., o recesso inferior da bolsa omental entre as lâminas do omento maior e as fossas supravesical e umbilical entre as pregas umbilicais. Omentos e ligamentos No início do desenvolvimento embrionário o intestino primitivo apresenta duas conexões com a parede do corpo. Posteriormente se prende a ela pelo amplo meso dorsal, que vai do esôfago terminal a parte cloacal do intestino posterior. Anteriormente prende-se pelo meso ventral que existe na altura do esôfago terminal, estômago e parte inicial do duodeno. O crescimento do fígado, entre as duas lâminas do meso ventral as afasta uma da outra, tranformando-as em peritônio visceral hepático. O que persiste do meso ventral forma: O ligamento falciforme, entre a parede anterior do abdome e o fígado. A borda livre, inferior, do ligamento falciforme contém a veia umbilical que, após o nascimento, oblitera-se e forma o ligamento redondo do fígado. 6 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 O omento menor, entre o fígado, superiormente e a curvatura menor do estômago e a primeira porção do duodeno, inferiormente. A margem livre do omento menor, direita no adulto, contém o ducto colédoco, a a. hepática e a v. porta e constitui a parede anterior do forame epiplóico, o qual dá acesso à bolsa omental. O omento menor costuma ser dividido em ligamentos hépato-gástrico, entre o fígado e o estômago e hépato-duodenal, entre o fígado e a 1ª porção do duodeno. Entre o fígado e o diafragma forma-se o ligamento coronário. Entre as suas duas lâminas, uma anterior ( ou superior ) e outra posterior ( ou inferior ) está a área nua do fígado, não peritonizada. As duas lâminas se encontram à direita, formando o ligamento triangular direito e à esquerda, formando o ligamento triangular esquerdo. Como estas estruturas são todas derivadas de uma única, o meso ventral, são contínuas umas com as outras. Assim, o ligamento falciforme continua-se para a direita e para a esquerda como a lâmina anterior do ligamento coronário e a lâmina posterior deste se continua como o omento menor. Daí alguns autores afirmarem ser o ligamento triangular esquerdo formado pelas lâminas esquerdas do ligamento falciforme e do omento menor. Parte do meso dorsal vai se acolar ao peritônio parietal posterior primitivo em conseqüência ao crescimento, pregueamento e rotação que o intestino primitivo sofre durante seu desenvolvimento. O que persiste forma o mesentério, os mesocolos transverso e sigmóide, o omento maior e os ligamentos gastrofrênico, gastrolienal e esplenorrenal: O omento maior pende do estômago e passa anterior ao colo transverso. Suas bordas laterais são livres, mas sua parede anterior, formada por duas lâminas peritoniais, curva-se posteriormente constituindo a parede posterior, que ascende para fixar-se no colo transverso. No embrião está composto por quatro lâminas peritoniais ( as duas anteriores e as duas posteriores ), mas durante o desenvolvimento ocorre uma fusão, em grau variável, da parede anterior com a posterior, com o colo transverso e com o mesocolo transverso. A parte resultante destas fusões, que vai do estômago ao colo transverso é o ligamento gastrocólico. O ligamento gastrofrênico conecta o fundo do estômago e o esôfago abdominal ao diafragma. O ligamento gastrolienal vai da curvatura maior do estômago ao baço, onde sua lâmina anterior se continua como o peritônio visceral deste órgão. O ligamento esplenorrenal (ou lienorrenal) vai do baço ao peritônio parietal posterior relacionado com o rim esquerdo. É formado pela continuação do peritônio visceral do baço e pela lâmina posterior do ligamento gastrolienal. Subdivisões da cavidade peritoneal Após a rotação e o surgimento da curvatura maior do estômago durante o desenvolvimento, a cavidade peritoneal é dividida em sacos peritoneais maior e menor. A cavidade peritoneal é a parte principal e maior. A bolsa omental situa-se posteriormente ao estômago e ao omento menor. O mesocolo transverso (mesentério do colo transverso) divide a cavidade abdominal em um compartimento supracólico, que contém o estômago, o fígado e o baço, e um compartimento infracólico, que contém o intestino delgado e os colos ascendente e descendente. O compartimento infracólico situa-se posteriormente ao omento maior e é dividido em espaços infracólicos direito e esquerdo pelo mesentério do intestino delgado. Há comunicação livre entre os compartimentos supracólico e infracólico através dos sulcos paracólicos, os sulcos entre a face lateral dos colos mascendente e descendente e a parede posterolateral do abdome. Supramesocólico – acima do mesocólon transverso: estomago, fígado, baço, omento menor e maior parte do omento maior. A cavidade peritoneal é dividida em andares supra e inframesocólicos, separados pelo mesocolo transverso e em uma terceira porção, a porção pélvica, situada abaixo do estreito superior da pelve. Os andares supra e inframesocólicos serão vistos a seguir enquanto a porção pélvica será vista quando do estudo da pelve. É importante notar que o mesocolo transverso não é um mero septo horizontal póstero-anterior, pois tem uma disposição oblíqua, ínfero-anterior, e tem grande mobilidade, de tal modo que as relações por ele determinadas variam conforme a situação. 7 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 O ANDAR SUPRAMESOCÓLICO contém o fígado, o estômago, o baço, o ligamento falciforme, o omento menor e a maior parte do omento maior. É subdividido pelo fígado em recessos subfrênicos e subhepático: • os recessos subfrênicos (ou supra-hepáticos) direito e esquerdo são espaços virtuais entre o peritônio visceral hepático e o peritônio parietal diafragmático, separados um do outro pelo ligamento falciforme. O recesso direito é limitado posteriormente pela lâmina anterior do ligamento coronário, enquanto o recesso esquerdo é limitado posteriormente pelo ligamento triangular esquerdo. • recesso subhepático (ou hépato-renal) situa- se entre o peritônio da face visceral do lobo direito do fígado e o peritônio parietal posterior que reveste o rim direito. Posteriormente é limitado pela lâmina posterior do ligamento coronário. O ANDAR INFRAMESOCÓLICO é subdividido em partes superior (ou direita) e inferior (ou esquerda) pela raiz do mesentério e contém as alças jejunais e ileais, emolduradas pelos colos ascendente, transverso e descendente. Lateralmente aos colos ascendente e descendente existem duas depressões longitudinais, os sulcos paracólicos. Estes compartimentos e sulcos da cavidade peritoneal determinam como e onde materiais (líquido peritoneal, sangue, pus, etc) contidos na cavidadeperitoneal devem se acumular ou deslocar. Os acúmulos ocorrem nos pontos de maior declive, que são o recesso hépato-renal, em ambos os sexos e em decúbito dorsal e a escavação retovesical, no sexo masculino e a escavação reto- uterina, no sexo feminino. Também as curvaturas da coluna vertebral contribuem na determinação destes pontos de acúmulo, criando vertentes naturais para o escoamento. Os sulcos paracólicos e a divisão esquerda do andar inframesocólico drenam para a pelve. Além disto, os sulcos paracólicos também drenam para o recesso hépato-renal e recebem, em especial o direito, o conteúdo da bolsa omental, através do forame epiplóico. A divisão direita do andar inframesocólico é um espaço fechado, em termos de drenagem. Bolsa omental A bolsa omental é uma cavidade extensa, semelhante a um saco, situada posteriormente ao estômago, omento menor e estruturas adjacentes. A bolsa omental tem um recesso superior, limitado superiormente pelo diafragma e as camadas posteriores do ligamento coronário do fígado, e um recesso inferior entre as partes superiores das camadas do omento maior. Como consequência destas alterações que ocorrem com os órgãos e com os mesos ventral e dorsal, forma-se a bolsa omental. Ela é um espaço virtual, amplo e irregular, situado em sua maior parte posterior ao estômago e omento menor. É uma dependência da cavidade peritoneal com a qual se comunica através do forame epiplóico. Este é limitado anteriormente pela borda livre do omento menor e posteriormente pelo peritônio parietal posterior que recobre a v. cava inferior. A esquerda a bolsa omental é limitada pelos ligamentos gastrolienal e esplenorrenal. Inferiormente ela se prolonga no recesso inferior da bolsa omental, entre a parede anterior e a parede posterior do omento maior. As dimensões deste recesso dependem do grau de fusão destas paredes (ver descrição do omento maior). Ocasionalmente o recesso inferior pode estar isolado do restante da bolsa omental pela presença de aderências. Superiormente a bolsa se continua entre o fígado e o diafragma como o recesso superior da bolsa omental. A bolsa omental permite o livre movimento do estômago sobre as estruturas posteriores e inferiores a ela, pois as paredes anterior e posterior da bolsa omental deslizam suavemente uma sobre a outra. A maior parte do recesso inferior da bolsa é separada da parte principal posterior 8 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 ao estômago após aderência das lâminas anterior e posterior do omento maior. A bolsa omental comunica-se com a cavidade peritoneal por meio do forame omental, uma abertura situada posteriormente à margem livre do omento menor (ligamento hepatoduodenal). O forame omental pode ser localizado passando-se um dedo ao longo da vesícula biliar até a margem livre do omento menor. Fossas Entre a prega umbilical mediana e as pregas umbilicais mediais situa-se a fossa supravesical; entre as mediais e laterais fica a fossa inguinal medial e lateralmente à prega umbilical lateral fica a fossa umbilical lateral. Supravesical Inguinal medial Inguinal lateral Para-retal A inervação somática, (também chamada de parietal) é muito densa, especialmente na pele, no peritônio parietal e nas raízes dos mesos. O peritônio parietal é inervado pelos nervos das paredes a ele adjacentes: a parte diafragmática pelos n.n. frênicos, o restante pelos n.n. tóraco-abdominais e ramos do plexo lombo-sacral. PERITÔNIO PARIETAL ⟶ DOR SOMÁTICA PROFUNDA Inervação somática = parede abdominal ↓ Sensível a dor/pressão/calor/frio/laceração ↓ Dor geralmente é bem localizada ↓ Inervada por nervos da parede adjacente: n. frênico (parte diafragmática), nn. Toraco-abdominais (ramos do plexo lombo-sacral) PERITÔNIO VISCERAL ⟶ DOR VISCERAL Inervação visceral = órgãos que recobre ↓ Insensível ao toque/calor/frio/laceração > estimulado por distensão e irritação química ↓ Dor geralmente mal localizada ↓ Inervado por nervos das vísceras adjacentes ↓ Epigástrico: derivados do intestino anterior Região umbilical: derivados do intestino médio Região pubica: derivados do intestino posterior PLEURÍTICA DOR PLEURÍTICA: dor aguda no peito que piora quando se respira, tosse ou espirra. A pleurite é provocada quando, por alguma razão, vários tipos de elementos estranhos - como microrganismos, substâncias irritantes ou células cancerosas - entram em contacto com a pleura e as células defensivas reagem provocando uma inflamação. Nesse caso, além da chegada das próprias células defensivas, que se encarregam da eliminação dos elementos estranhos e do fabrico de fibras destinadas à cicatrização das eventuais lesões, o espaço pleural é frequentemente invadido por um líquido proveniente dos vasos sanguíneos. Contudo, como este processo nem sempre se desenvolve de forma idêntica, é possível distinguir vários tipos de pleurite. 9 Manoella Evelyn | P5 – UC14 | Anatomia – aula 1 Na denominada pleurite seca, em que a inflamação costuma ser mais localizada, produz-se uma escassa acumulação de líquido no espaço pleural. Por outro lado, na pleurite húmida, a inflamação é mais extensa e costuma produzir uma considerável acumulação de líquido inflamatório no espaço pleural, o que se conhece como derrame pleural. Um tipo específico de pleurite húmida, a pleurite purulenta ou empiema pleural, corresponde à acumulação no espaço pleural de pus, um líquido viscoso composto por restos de microorganismos e células defensivas, provocado por uma reacção inflamatória nas infecções bacterianas. As causas mais frequentes da pleurite são) as infecções pulmonares bacterianas (nomeadamente, a tuberculose pulmonar), a embolia pulmonar, os traumatismos torácicos, as bronquiectasias (dilatações anómalas dos brônquios) e o cancro do pulmão. PLEURAL VISCERAL insensível a dor porque não recebe nervos associados a sensibilidade geral PLEURA PARIETAL é extremamente sensível a dor; recebe muitos ramos dos nervos intercostais e frênicos. Parte costal e periférica diafragmática: dor local; dor referida nos dermátomos das paredes torácica e abdominal. Parte mediastinal e área central diafragmática: dor local; dor referida na raiz do pescoço e no ombro (dermátomos C3-C5) PERITONEAL A peritonite é a inflamação da cavidade peritoneal. Sua causa mais séria é a perfuração do trato gastrintestinal, que produz inflamação química imediata seguida rapidamente de infecção por microrganismos intestinais. A peritonite também pode resultar de qualquer condição abdominal que produz inflamação intensa (p. ex., apendicite, diverticulite, obstrução intestinal estranguladora, pancreatite, doença inflamatória pélvica e isquemia mesentérica). O sangramento intraperitoneal de qualquer origem (p. ex., aneurisma roto, trauma, cirurgia, gestação ectópica) é irritante e causa peritonite. O bário causa peritonite grave e nunca deve ser administrado a um paciente com suspeita de perfuração do trato gastrintestinal. No entanto, meios de contraste hidrossolúveis podem ser usados com segurança. Derivações peritoneossistêmicas, drenos e cateteres de diálise na cavidade peritoneal predispõem o paciente à peritonite infecciosa, assim como o líquido ascítico predispõe. Raramente ocorre peritonite bacteriana espontânea, na qual a cavidade peritoneal é infectada por bactérias provenientes da corrente sanguínea. Peritonite bacteriana espontânea ocorre principalmente em pacientes com cirrose e ascite. A peritonite faz com que o líquido se desvie para a cavidade peritoneal e intestino, causando desidratação e distúrbios eletrolíticos graves. A síndrome de desconforto respiratório agudo do adulto pode se desenvolver rapidamente. Insuficiência renal, insuficiência hepática e coagulaçãointravascular disseminada podem se seguir. Sem tratamento, a morte ocorre em questão de dias. O primeiro sinal clínico observado é a dor e sensibilidade abdominal, agravada durante a movimentação. INFLAMAÇÃO DO PERITÔNIO PARIETAL: A dor apresenta caráter constante e incômodo, localizando-se sobre a área inflamada, tornando possível a identificação exata da localização acometida, uma vez que é transmitida pelos nervos somáticos que inervam o peritônio parietal. A intensidade depende do tipo e do volume do material ao qual o peritônio é exposto em determinado período de tempo. A dor da peritonite agrava-se durante a palpação, ou por movimentos como tosse ou espirro – o paciente permanece quieto no leito, evitando movimentos, ao contrário, por exemplo, do paciente com cólica que pode se contorcer incessantemente