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Aspectos biológicos da aquisição da linguagem

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Problema enfrentado pela hipótese inatista: como se sustenta a ideia de um componente inato que 
ninguém sabe se está atuando desde o nascimento, e que só é possível perceber após um ano? 
Como garantir que a linguagem é inata, e não aprendida?
A pista que a hipótese inatista procurava foi encontrada em experimentos como os citados abaixo.
Para resolver o problema, experimentos começaram a ser feitos. Como não há possibilidade de 
perguntar algo a um bebê, tampouco confiar em suas capacidades de pensamento, confia-se em 
suas reações frente a situações linguísticas diversas.
Essas reações, de familiaridade ou estranheza, seriam explicadas pela atuação de um componente 
linguístico atuando desde cedo no bebê.
Técnica de sucção não nutritiva:1.
Quando maior a taxa de sucção do bebê na chupeta, mais interesse ele demonstra.▪
Estudiosos construíram um aparelho que, por meio de um fio, está ligado à chupeta do bebê. 
Cada vez que a chupeta é sugada, o aparelho é acionado.
▪
Mehler descobriu que as crianças, nos primeiros dez dias de vida, distinguem as palavras 
através do ritmo. Elas só percebem as vogais e não as consoantes.
▪
Os bebês separam a língua por sonoridade, e não por famílias.▪
Quando o bebê escuta um idioma diferente, suga a chupeta com mais rapidez. Quando 
escuta um idioma que lhe é comum, a sucção fica inalterada.
▪
Um estudo de Eloísa de Oliverira Lima demonstrou que as crianças assumem as consoantes a 
partir do segundo mês de vida, o que mostra que o período da pré-fala é o mais importante da 
linguagem.
▪
Embora novos estímulos causem uma taxa maior de sucção, a repetição desses estímulos 
causa o efeito contrário. Por isso, não é possível selecionar apenas um conjunto de estímulos 
para verificar as reações. 
▪
Ainda, os bebês desinteressam-se rapidamente. Para isso, a solução é dividir os bebês que 
participarão do experimento em dois grupos: controle (vai receber os novos estímulos 
continuamente) e experimental (vai receber os novos estímulos, mas em algum momento, 
receberá outros novos estímulos).
▪
Há de se checar também se os bebês não estão com fome, para não haver confusão entre a 
sucção de fome e a de interesse.
▪
Metodologia:
Gravações de histórias foram feitas em quatro idiomas: inglês, russo, italiano e francês. ▪
Esses áudios foram apresentados a bebês de dois meses de idade nos EUA e a bebês de 
quatro dias de vida na França.
▪
Todos os bebês demonstraram aumento na taxa de sucção quando os estímulos mudavam da 
língua materna para a nova língua e vice-versa.
▪
Esse resultado foi mais significativo com o grupo dos bebês de quatro dias, o que demonstra 
que aa crianças já possuem parâmetros desde cedo para identificar a língua materna através 
da PROSÓDIA.
▪
Para comprovar isso, os estímulos foram modificados de duas maneiras: as gravações foram 
apresentadas de trás para frente, distorcendo assim os elementos prosódicos (o resuktado disso 
foi uma perda da habilidade de distinguir as línguas, e não houve mudança de sucção 
quando os idiomas mudava); e filtragens foram feitas nas gravações originais, deicando 
apenas algumas pistas do idioma (nessa situação, as crianças dos dois grupos foram capazes 
de distinguir as histórias em diferentes línguas).
▪
Técnica da escuta preferencial2.
Bebês têm capacidade de virar-se para a direção de um estímulo sonoro e manter antenção 
a esse estímulo.
▪
Metodologia:
O experimento foi feito em uma sala especialmente preprada, onde situavam-se três 
lâmpadas, uma na frente, uma à esqueda e uma à direita.
▪
No início, a lâmpada central acende para chamar a atenção do bebê e, em seguida, uma 
das lâmpadas laterais acende, e o estímulo sonoro é acionado. A lâmpada do meio acende 
depois de um tempo de exposição do bebê ao estímulo sonoro, e em seguida a lâmpada da 
outra lateral acende, consoantemente com o estímulo sonoro.
▪
Todo o procedimento é repetido em torno de três a quatro vezes.▪
Os estímulos não permanecem sempre no mesmo lugar: alternam com o tempo.▪
Outro experimento, dessa vez modificando elementos fônicos dos verbos de uma história, 
comprovou que bebês de nove a 15 meses tinham a atenção mais presa às histórias sem 
alteração fônica.
▪
Técnica de fixação preferencial do olhar3.
Metodologia:
Parecida com a do segundo experimento, mas ao invés de luzes piscando, há a presença de 
telas com imagens e história apresentada oralmente.
▪
Essa técnica é aplicável a crianças de doze a quatro anos de idade, pois se imagina que nessa 
faixa etária a criança já associa um evento a uma imagem.
▪
Partindo do pressuposto que as categorias linguósticas (prosódia, fonética, morfologia) são 
construtos mentais, conceitos criados que se imagina serem trabalhados em algum nível de 
abstração - a mente, podemos tentar entender o que ocorre num cérebro de bebê.
Técnicas de neuroimagem: apresentam séries de imagens que podem nos transmitir a dinâmica 
das ativações cerebrais.
Estudo 1: focalizou a capacidade que bebês de quatro meses possuem de distinguir padrões 
acentuais de sua língua materna. O português, por exemplo, possui um padrão paroxítono de 
acentuação (a maioria das palavras é paroxítona), por exemplo.
Bebês foram expostos a padrões diferentes dos de suas línguas, e houve ativações cerebrais 
diferentes ao ouvirem a forma oposta.
▪
Metodologia: ERP (POTENCIAIS RELACIONADOS A EVENTOS);▪
Os estudos indicaram que, ao serem expostas à padrões diferentes, os bebês tiveram estímulos 
ativados na região frontal do hemisfério esquerdo, que é exatamente a região ativada no 
cérebro dos adultos.
▪
Estudo 2: utilizando-se da técnica de MAGNETOENCEFALOGRAFIA, os bebês foram expostos a 
tons, notas harmônicas e sílabas.
A região temporal superior do hemisfério esquerdo (responsável pelo processamento de 
estímulos sonoros de qualquer natureza) e a região inferior frontal do hemisfério esquerdo 
(preparação da articulação da fala) foram o foco de interesse desse estudo.
▪
A região temporal superior do hemisfério esquerdo mostrou-se ativa no cérebro de bebês de 
cinco dias de vida, seis meses e um ano de idade.
▪
Estudos feitos na região inferior frontal foi ativada quando adultos ouviam sons linguísticos, ▪
Em Psicolin- guística, a palavra 
experimento se apli- ca apenas a 
determi- nadas situações em que fatores 
metodo- lógicos (como ela- boração, 
aplicação e análise) estão rigoro-
samente controlados e podem, com isso, 
ser replicados em outra situação para a 
verifi cação de algu- ma hipótese.
FZ: região (frontal do hemisfério esquerdo)
MMR: ativação cerebral
Aspectos biológicos da aquisição da linguagem
quarta-feira, 21 de outubro de 2020 15:19
 Página 1 de Linguística II 
A região temporal superior do hemisfério esquerdo (responsável pelo processamento de 
estímulos sonoros de qualquer natureza) e a região inferior frontal do hemisfério esquerdo 
(preparação da articulação da fala) foram o foco de interesse desse estudo.
▪
A região temporal superior do hemisfério esquerdo mostrou-se ativa no cérebro de bebês de 
cinco dias de vida, seis meses e um ano de idade.
▪
Estudos feitos na região inferior frontal foi ativada quando adultos ouviam sons linguísticos, 
como sílabas e palavras. Mesmo apenas ouvindo, essa área cerebral se prepara para "treinar" 
como seria a articulação.
▪
Esses estudos comprovaram que esse treinamento acontece a partir dos seis meses de vida.▪
Estudo 3: adultos, crianças de cerca de sete anos e adolescentes tiveram suas ativações 
cerebrais avaliados.
Os participantes tiveram de decidir se determinada palavra possuía uma característica 
semântica, ouvir uma história, e decidir se a frase apresentada é declarativa ou interrogativa.
▪
As imagens obtidas mostraram que as mesmas áreas foram ativadas nas três faixas etárias.▪
Metodologia: ressonância magnética funcional (fMRI)▪
É possível haver desempenho linguístico normal em condições cognitivas fora do normal?
Crianças com Síndrome de Down (apesar do atraso linguístico), com hidrocefalia e comsíndrome de Williams apresentam problemas cognitivos diversos, mas a linguagem não é 
afetada (pelo menos não diretamente);
▪
Se considerarmos a linguagem como um sistema abstrato, um conjunto de regras que 
envolvem categorias, relações estruturais, é possível manter a linguagem intacta em meio a 
problemas cognitivos;
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Se considerarmos a linguagem como uma atividade social, interacional, que se constrói em 
práticas discursivas, consideramos que a linguagem é afetada pelos desvios cognitivos.
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 Página 2 de Linguística II

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