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1 2 Neurobiologia do Nós A visão da neurociência afetiva sobre o autismo Roberto Aguilar Machado Santos Silva1 Suzana Portuguez Viñas2 The mind is its own place, and in itself Can make a heaven of hell, A hell of heaven. John Milton3, Paradise Lost (A mente é seu próprio lugar, e em si pode fazer um céu do inferno, um inferno do céu.) 1 Roberto Aguilar Machado Santos Silva é escritor, médico-veterinário, Doutor, membro da Academia de Ciências de Nova York e pós-graduando em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 2 Suzana Portuguez Viñas é escritora, agente literária, pedagoga, psicopedagoga e pós- graduanda em neuropsicopedagogia. Possui vários livros publicados sobre filosofia e neuropsicopedagogia. 3 John Milton (Londres, 9 de dezembro de 1608 — Londres, 8 de novembro de 1674) foi um poeta, polemista, intelectual e funcionário público inglês da Comunidade da Inglaterra sob Oliver Cromwell, servindo como ministro de línguas estrangeiras. Escreveu em um momento de fluxo religioso e agitação política, e é mais conhecido por seu poema épico Paraíso Perdido (1667). 3 A neurociência afetiva é o estudo dos mecanismos neuronais da emoção. Este campo interdisciplinar combina a neurociência com o estudo psicológico da personalidade, emoção e humor. A existência das chamadas "emoções básicas" e seus atributos definidores representam uma questão duradoura e ainda incerta na psicologia. Áreas do cérebro relacionadas à emoção Considera-se que as emoções estão relacionadas à atividade em áreas cerebrais que direcionam nossa atenção, motivam nosso comportamento e determinam o significado do que está acontecendo ao nosso redor. O trabalho pioneiro de Paul Broca (1878), James Papez (1937) e Paul D. MacLean (1952) sugeriram que a emoção está relacionada a um grupo de estruturas no centro do cérebro chamado sistema límbico, que inclui o hipotálamo, cingulado córtex, hipocampos e outras estruturas. A pesquisa mostrou que as estruturas límbicas estão diretamente relacionadas à emoção, mas as estruturas não-limbicas têm maior relevância emocional. Atualmente, as seguintes estruturas cerebrais estão envolvidas na emoção: Principais estruturas do Sistema Límbico Amígdala 4 As amígdas são duas estruturas pequenas e redondas localizadas antes do hipocampo perto dos pólos temporais. As amígdalas estão envolvidos na detecção e aprendizagem de quais partes do nosso entorno são importantes e têm significado emocional. Eles são críticos para a produção da emoção, e podem ser particularmente assim para as emoções negativas, especialmente o medo. Estudos múltiplos mostraram a ativação da amígdala ao perceber uma ameaça potencial; vários circuitos permitem que a amígdala use memórias passadas relacionadas para melhor avaliar o possível Tálamo O tálamo está envolvido na retransmissão de sinais sensoriais e motores ao córtex cerebral, especialmente estímulos visuais. O tálamo também desempenha um papel importante na regulação dos estados de sono e vigília. Hipotálamo O hipotálamo é envolvido na produção de uma saída física associada a uma emoção, bem como em circuitos de recompensa. 5 Circuitos de recompensa Existe um sistema de recompensa cerebral que tem como função promover e estimular comportamentos que contribuem na manutenção da vida e da espécie, como a alimentação, proteção, sexo, entre outros, que quando ativado, proporcionará sensações de prazer e satisfação. As substâncias psicoativas são capazes de ampliar em centenas de vezes a atividade deste sistema de recompensa, alterando o funcionamento cerebral. O sistema de recompensa do cérebro, também conhecido como sistema mesolímbico-mesocortical reúne a área tegmental ventral (ATV), o núcleo accumbens, a amígdala, o hipocampo, o córtex pré- frontal, giro do cíngulo e o córtex orbitofrontal. A área tegmentar ventral está localizada na parte ventral do tegmento do mesencéfalo (parte superior do tronco encefálico), medialmente à substância negra, contendo neurônios ricos em dopamina, sendo o sistema dopaminérgico o principal alvo na investigação acerca de alterações. O núcleo accumbens está na zona de união entre o putâmen e a cabeça do núcleo caudado em área que alguns autores também chamam de corpo estriado ventral, e é responsável pelo aprendizado e pela motivação, bem como pela valorização de cada estímulo. A amígdala ou corpo amigdaloide é uma massa esferoide de substância cinzenta de cerca de 2 cm de diâmetro situada no polo temporal do hemisfério cerebral, fazendo parte do sistema límbico e responsável pela resposta emocional diante de um evento. O hipocampo é uma elevação curva e muito pronunciada que se dispõe acima do giro para-hipocampal, constituído de um tipo de córtex muito antigo, tendo importantes funções psíquicas relacionadas com o comportamento e a memória. O córtex pré-frontal é responsável pelas funções psíquicas superiores, como o controle e planejamento, enquanto o giro do cíngulo, localizado acima do corpo caloso, tem conexões com diversas estruturas do sistema límbico, e funções como a regulação da atividade cognitiva e emocional. Finalmente, a região do córtex orbitofrontal, que tem participação no controle do impulso e da tomada de decisão. Sendo assim, a liberação da dopamina a partir da ATV é liberada na presença de um estímulo capaz de proporcionar bem-estar, iniciando a ativação do sistema, passando ao núcleo accumbens, que recebe as projeções dopaminérgicas da ATV, que ativada, torna-se responsável pela detecção dos estímulos ambientais de reforço positivo. A amígdala na sequência estabelece associações entre o evento motivacional e estímulos ambientais, e o córtex pré-frontal e o giro do cíngulo são ativados por eventos motivacionais relevantes, definindo quando a resposta motivacional será emitida e a sua intensidade (Schwiderski, 2018). 6 Hipocampo O hipocampo é uma estrutura dos lobos temporais mediais envolvidos principalmente na memória. Ele funciona para formar novas memórias e também conectar diferentes sentidos, como entrada visual, cheiro ou som às memórias. O hipocampo permite que as memórias sejam armazenadas a longo prazo e também as recupera quando necessário. É essa recuperação que é usada na amígdala para ajudar a avaliar o estímulo afetivo atual. Fórnix 7 O fórnix é o principal caminho de saída do hipocampo para os corpos mamilares. Foi identificado como uma região principal no controle de funções de memória espacial, memória episódica e funções executivas. Corpos mamilares Os corpos mamilares são importantes para a memória recolhadora. [14 8 Bulbo olfativo Os bulbos olfativos são os primeiros nervos cranianos, localizados no lado ventral do lobo frontal. Eles estão envolvidos no olfato, a percepção de odores. Giro cingulado O giro cingulado está localizado acima do corpo caloso e geralmente é considerado parte do sistema límbico. As diferentes partes do giro cingulado têm funções diferentes e estão envolvidas com o controle de afetos, viscero- motores, seleção de resposta, controle de esqueleto, processamento visuo- espacial e acesso à memória. Uma parte do giro cingulado é o córtex cingulado anterior, que desempenha um papel central na atenção e nas tarefas cognitivas exigentes ao comportamento. Pode ser particularmente importante em relação a consciência emocional subjetiva. Esta região do cérebro também pode desempenhar um papel importanteno início de um comportamento motivado. O giro cingulado é mais ativo tanto na tristeza induzida experimentalmente quanto nos episódios depressivos. 9 Outras estruturas cerebrais relacionadas à emoção Gânglios basais Os gânglios basais são grupos de núcleos encontrados em ambos os lados do tálamo. Os gânglios basais desempenham um papel importante na motivação, seleção de ação e aprendizado de recompensas. Córtex orbitofrontal É uma estrutura importante envolvida na tomada de decisões e a influência da emoção nessa decisão. 10 Córtex pré-frontal O termo córtex pré-frontal refere-se à parte frontal do cérebro, atrás da testa e acima dos olhos. Parece desempenhar um papel crítico na regulação da emoção e do comportamento antecipando as consequências de nossas ações. O córtex pré-frontal pode desempenhar um papel importante na gratificação tardia ao manter as emoções ao longo do tempo e organizar o comportamento em direção a objetivos específicos. Corpo estriado ventral O estriado ventral é um grupo de estruturas subcorticais que se pensa que desempenham um papel importante na emoção e no comportamento. Uma parte do estriado ventral chamado núcleo accumbens é pensado para estar envolvido no prazer da experiência. Indivíduos com vícios experimentam maior atividade nessa área quando encontram o objeto de seu vício. 11 ínsula O córtex insular é pensado para desempenhar um papel crítico na experiência corporal de emoção, pois está conectado a outras estruturas cerebrais que regulam as funções autonômicas do corpo (frequência cardíaca, respiração, digestão, etc.). A ínsula está implicada na empatia e na consciência da emoção. Cerebelo Recentemente, tem havido uma quantidade considerável de trabalho que descreve o papel do cerebelo na emoção, bem como na cognição, e uma "Síndrome Afetiva Cognitiva Cerebelar" foi descrita. Ambos os estudos de neuroimagem, bem como estudos após lesões patológicas no cerebelo (como um acidente vascular cerebral) demonstram que o cerebelo tem um papel significativo na regulação emocional. Estudos de lesão mostraram que a disfunção cerebelar pode atenuar a experiência de emoções positivas. Embora esses mesmos estudos não mostrem uma resposta atenuada a estímulos assustadores, os estímulos não recrutaram estruturas que normalmente seriam ativadas (como a amígdala). Em vez disso, as estruturas límbicas alternativas foram ativadas, como o córtex pré-frontal ventromedial, o giro cingulado anterior e o insula. Isso pode indicar que a pressão evolutiva resultou no desenvolvimento do cerebelo como um circuito redundante de medição do medo para aumentar a sobrevivência. Também pode indicar um papel regulador para o cerebelo na resposta neural a estímulos gratificantes, como dinheiro, drogas de abuso e orgasmo. 12 Papel do hemisfério direito em emoção O hemisfério direito foi proposto ao longo do tempo como envolvido diretamente no processamento da emoção. A teoria científica sobre o papel do hemisfério direito desenvolveu ao longo do tempo e resultou em vários modelos de funcionamento emocional. C.K. A Mills foi um dos primeiros pesquisadores a propor uma ligação direta entre o hemisfério direito e o processamento emocional, tendo observado redução do processamento emocional em pacientes com lesões no hemisfério direito. A emoção foi originalmente pensada para ser processada nas estruturas do sistema límbico, como o hipotálamo e a amígdala. No final dos anos 80, no início dos anos 90, no entanto, as estruturas neocorticais demonstraram ter um envolvimento na emoção. 13 Processamento das emoções em crianças com Transtornos do Espectro Autista A capacidade de compreender, expressar e regular a emoção adequadamente tem sido identificada há muito tempo como núcleo da comunicação diária e da interação social em crianças, independentemente do contexto intelectual, de desenvolvimento ou cultural. A pesquisa atual em crianças com Transtornos do Espectro Autista(TEA) implica os déficits globais na regulação emocional, abrangendo reciprocidade e expressão emocional, enquanto há menos concordância com a existência de déficits de reconhecimento de emoção em grupos TEA de alta funcionalidade. No entanto, os estudos existentes sugerem que a capacidade cognitiva pode influenciar os níveis de déficit experimentados, e, portanto, futuros estudos que exploram o processamento de emoção em TE,A devem identificar e controlar as diferenças grupais e individuais na capacidade cognitiva. Estudos neurológicos e eletrofisiológicos indicam déficits em processos automáticos subjacentes ao reconhecimento de emoção. A literatura indica um vínculo emergente entre o apego e a capacidade de compreender os estados emocionais do eu e dos outros, bem como com reciprocidade adequada para a expressão de estímulos emocionais nas populações com TEA. As altas taxas de internalização e externalização das dificuldades observadas em crianças com TEA, juntamente com os achados de que a insegurança de inserção atua como fator de risco para essas dificuldades, destacam a necessidade de estudos futuros que investiguem a influência da insegurança de ligação em dificuldades emocionais e comportamentais em crianças com TEA, juntamente com explicações orgânicas para déficits de processamento emocional neste grupo. Especificamente, o desenvolvimento das conexões em crianças com TEA, parecem depender de uma ampla gama de fatores, como a sincronia pai- filho, mediada pela gravidade da sintomatologia da criança, o cognitivo da criança capacidade, bem como estresse dos pais e estilos de enfrentamento. É necessário explorar qualitativamente os fatores que medeiam a relação de apego bidirecional e como ele interage com os caminhos neurais da criança para influenciar a capacidade de processamento emocional. Tais explorações de comportamentos de apego em crianças com TEA ajudarão a esclarecer melhor a natureza do apego nesta população, levando em consideração as características, déficits, interesses e dinâmica familiar. Além disso, dado o foco relativo do apego na infância, na infância e na infância na literatura sobre o TEA, até o momento, os estudos futuros que exploram as características do apego em crianças e adolescentes, serão inestimáveis para contribuir com o conhecimento sobre relações de apego em toda a trajetória de desenvolvimento do TEA. Conclusões A neuropsicopedagogia tem historicamente sido o centro dos esforços de pesquisa dedicados a promover a compreensão de como os eventos 14 mentais são instanciados em nossa biologia. Além disso, nossa disciplina tende a se tornar excessivamente identificada com os métodos específicos que são mais comumente implantados para avaliar a função biológica. Esperamos que as pesquisas apresentadas neste artigo sejam um argumento para uma neuropsicopedagogia mais aberta e inclusiva e também servirá de catalisador para a formação da próxima geração de psicólogos, professores e pedagogos de uma forma mais ampla e interdisciplinar. A neuropsicopedagogia sempre incluiu os sistemas central e periférico em sua competência e tem se dedicado a compreender a interação entre os sistemas biológicos centrais e periféricos desde a sua criação. Esta é claramente uma força na qual devemos continuar a capitalizar e é um bom presságio para a continuidade da relevância e sucesso futuro da disciplina. Para saber mais FACEBOOK. NEUROPSICOPEDAGOGIA HOJE. https://www.facebook.com/neuropsicopedagogiahoje/ WIKIPEDIA. Affective neuroscience https://en.wikipedia.org/wiki/Affective_neuroscience 15