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RESUMO - Reconhecimento de Estado

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Reconhecimento de Estado 
Conceito 
É ato unilateral por meio do qual um sujeito de DIP constata os 
elementos constitutivos de um Estado: população permanente, 
território definido, governo efetivo e independência e soberania 
externa. 
O Estado não surge com o reconhecimento. O reconhecimento 
apenas constata o que já existe. 
O ato de reconhecimento, portanto, não produz efeitos jurídicos 
sobre a personalidade internacional do novo Estado, pois o que a 
confere ao novo sujeito é a confirmação da reunião de todos os 
elementos necessários. 
Israel: atualmente é Estado para fins de DIP, pois é membro da ONU. A 
maioria dos países árabes não reconhecem Israel como Estado, mas 
possuem com ele relações informais. 
O DIP contemporâneo considera o ingresso de um Estado na ONU 
como seu atestado de surgimento, o que não obriga os demais 
Estados a reconhecerem-no. Por outro lado, os que não o 
reconhecerem não podem negar sua existência. 
 direitos básicos de um Estado: existência, igualdade soberana e 
não-intervenção. 
O não reconhecimento de um Estado não decorre necessariamente 
da ausência de um ou mais elementos constitutivos, pois se trata 
de ato discricionário daquele que confere o reconhecimento, 
envolvendo outros fatores. 
Características do ato de reconhecimento 
Unilateral, discricionário, irrevogável e com efeitos ex tunc 
(retroativos).; adoção da teoria declaratória. 
Ademais, o reconhecimento não pode ser vinculado a um prazo 
limite, sendo, ademais, ato incondicionado, ou seja, que não pode 
depender de exigências ou condições. 
O reconhecimento pode ser solicitado pelo novo Estado, mas, na 
prática, é concedido sem pedido. 
Pode ser expresso ou tácito. 
Será expresso quando feito por meio de declarações, escritas ou 
orais, de representantes do ente estatal que reconhece o novo 
Estado. 
Atualmente, o reconhecimento não precisa ser expresso, pois há 
atos que, se praticados pelo Estado, implicam em reconhecimento 
tácito de existência. Ex.: celebração de acordo bilateral ou 
estabelecimento de relações diplomáticas. OBS.: NÃO vale o mesmo para 
relações consulares. 
Será tácito quando resultar de atos que, inequivocamente, façam 
inferir a intenção de criar vínculos com o novo Estado. 
No direito brasileiro, o art. 4º, §1º do Decreto 9199/17 que regula 
a Lei de Migração, determina que a aposição de visto brasileiro a 
qualquer documento de viagem válido, emitido nos padrões 
estabelecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) 
não implica o reconhecimento tácito de Estado estrangeiro. 
O reconhecimento pode ser individual, quando concedido por um só 
Estado, ou coletivo, quando concedido por um grupo de Estados. 
 
 
 
Consequências jurídicas do reconhecimento 
1) O Estado que reconhece deseja estabelecer relações formais 
com o reconhecido, que só se efetuam com o reconhecimento 
mútuo entre Estados. 
Ex.: o Brasil não reconhece o Kosovo como Estado, pois ainda não ingressou 
na ONU, de modo que não é possível o estabelecimento de relações formais 
entre esses dois países. 
2) Os Estados que reconheceram o novo país consideram que ele 
reúne todos os elementos constitutivos de um Estado. 
Quanto mais Estados reconhecerem o novo Estado, mais forte será 
a prova de sua existência. 
Palestina: atualmente é reconhecida por mais de 140 Estados, 
fortalecendo sua argumentação de que reúne todos os elementos 
constitutivos. 
3) O ato de reconhecimento de Estado impede aqueles que 
reconheceram o novo país de retirar sua decisão, que é irrevogável 
Princípio de Estoppel: impedimento de revogar o reconhecimento de 
um Estado e proibição de comportamento contraditório. Apenas o 
desaparecimento de um Estado leva à perda dos efeitos jurídicos 
do reconhecimento. 
Natureza jurídica do reconhecimento de Estado 
1) Teoria constitutiva: predominante no séc. XIX, atualmente em 
desuso. Determina que o reconhecimento seria condição necessária 
à criação ou estabelecimento de um Estado. Para aqueles que não o 
reconhecessem, não haveria a obrigação de proteger seus direitos, 
ou seja, sua soberania poderia ser atacada. O reconhecimento, 
segundo essa teoria, tem efeitos ex nunc. 
Ex.: em 1850 surge o Estado X, reconhecido como tal pela França em 1860. 
Somente os atos praticados a partir de 1860 serão válidos perante a 
França. 
2) Teoria declaratória: art. 13 da Carta da OEA e no costume 
internacional atual. Determina que se um Estado reúne 
objetivamente todos os elementos constitutivos, é um Estado. O 
respeito à sua soberania deve ser garantido em razão de sua 
existência. Nesse caso, o reconhecimento perde relevância. 
Segundo essa teoria, o reconhecimento possui efeitos ex tunc, ou 
seja, retroativos até o momento em que todos os elementos foram 
reunidos. 
Essa teoria está consagrada também nos arts. 3º e 8º da 
Convenção de Montevidéu de 1933. 
Ex.: em 2030 surge o Estado Y. O Brasil o reconhece apenas em 2035. Y 
será um Estado para o Brasil somente a partir do reconhecimento, mas 
todos os atos praticados desde 2030 serão válidos perante o Brasil. 
Requisitos para o reconhecimento 
1) Existência: reunião dos elementos constitutivos 
2) Requisito político: o reconhecimento é ato discricionário, ou seja, 
nenhum país é obrigado a reconhecer um novo Estado. 
3) Requisitos jurídicos: 
- Viabilidade do novo Estado: novos Estados surgem por processos 
sucessórios, ao qual se aplicam os princípios da integridade 
territorial e da autodeterminação dos povos. Se houver uma minoria 
no Estado que lute pela independência, e não pela autonomia interna, 
 
 
e obtiver vitória completa, o Estado será viável ao reconhecimento 
internacional. 
A autodeterminação é exercida pela população como um todo, enquanto a 
autonomia interna traduz a capacidade de participar ativamente da vida 
política do Estado. 
 Vitórias possíveis na luta pela independência: militar (controle 
manso e pacífico sobre o território) e reconhecimento pelo 
predecessor da criação de novo Estado. 
Se o povo tiver direito à independência, o DIP protegerá a criação 
do novo Estado, retirando a exigência de viabilidade. 
É o caso da Palestina, que não tem controle sobre o território e a 
população, mas há um povo palestino, um território ocupado, com direito à 
independência. 
 povo é um conjunto de pessoas distinto étnica ou culturalmente 
do restante da população do Estado. Povo difere de minoria na 
medida em que aquele está submetido a dominação no país em que 
se encontra, seja pela colonização, por ocupação estrangeira ou por 
sucessão remedial (sucessão alternativa à violação massiva de 
direitos humanos).  esse povo não participa da vida política, não 
tem igualdade de condições em relação aos demais e está sob 
dominação. 
- O novo Estado não pode surgir em contexto de violação grave do 
jus cogens: nesse caso, seu reconhecimento é vedado pelo DIP pela 
doutrina da responsabilidade internacional agravada. Pode violar o 
DIP, mas não o jus cogens. 
 Doutrina Stimson (1932, EUA): diante da criação da província de 
Manchukuo pela China, os EUA se recusaram a reconhecer a 
independência da região, pois ocorria contra a vontade da população. 
Na década de 1940, os EUA reafirmaram essa doutrina para 
recusar o reconhecimento da conquista soviética dos países bálticos 
(Estônia, Letônia e Lituânia), de modo que, em 1991, após a dissolução 
da URSS, os EUA apenas reataram relações diplomáticas com esses 
países. 
 Resoluções do CSNU: proibiu o reconhecimento de novos Estados 
como forma de tentar evitar ameaças à paz e à segurança 
internacionais. 
 Rodésia do Sul (Zimbábue): decretação da independência por 
minoria branca em 1965 e instauração de regime de 
apartheid  Res. 216 e 217 de 1965, com base no Cap. 
VII da Carta da ONU: impedimento de reconhecimento, com 
a finalidade de isolar completamente o país para que 
abandonasse o regime de segregação racial, o que ocorreu 
em 1979. 
 República Turca do Chipre do Norte: o norte da ilha do 
Chipre não é controlado pelo governo cipriota,mas por um 
governo autônomo, com relações com a Turquia, pois essa 
parte do país é de maioria turca e o sul é de maioria grega. 
A Turquia foi chamada a intervir contra os gregos e criou 
o novo Estado. Os esforços de reconciliação falharam.  
Res. 541 de 1983, com base no Cap. VII: proibição de 
reconhecer o Estado. 
- Prática internacional: diretrizes para o reconhecimento de novos 
Estados  não se baseiam no costume internacional 
As diretrizes surgiram com a criação da Comunidade Econômica 
Europeia, mas não são obrigatórias. São elas: 
 novos Estados somente devem ser reconhecidos se aceitarem 
respeitar o princípio da autodeterminação dos povos, assegurarem 
respeito aos direitos humanos e aos limites existentes, além de 
outras obrigações em matéria de desarmamento e não proliferação 
nuclear, por exemplo. 
 devem se organizar, em âmbito interno, de forma democrática 
e em respeito ao império da lei (“rule of law”)

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