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FÁRMACOS ANTINEOPLÁSICOS INTRODUÇÃO - Neoplasias (ou “câncer”) são caracterizadas por multiplicação celular descontrolada, com formas anormais do próprio corpo. Afeta 01 em cada 03 pessoas, sendo a 2ª maior causa de morto em países desenvolvidos. - Ocorre geralmente nas idades avançadas, onde a malignidade ocorre. - O tumor, quando dito maligno, refere-se pela capacidade de desdiferenciação, invasividade e capacidade de metastatizar (espalhar pelo corpo). Essas características refletem alterações genéticas. - O CA estabelecido pode ser abordado por meio de excisão cirúrgica, irradiação e tratamento farmacológico (quimioterapia). - O fato das células cancerígenas serem semelhantes às humanas dificulta o tratamento farmacológico, sendo o alvo geralmente a regulação hormonal e o controle do ciclo celular (bases da malignidade). PATOGÊNESE DO CÂNCER - As células cancerosas manifestam 04 características: - Proliferação descontrolada; - Desdiferenciação e perda de função; - Invasividade; - Metástase. GÊNESE DE UMA CÉLULA CANCEROSA - Células normais se tornam cancerosas por mutações genéticas (adquiridas ou hereditárias), geralmente após exposição a vírus ou substâncias cancerígenas (tabaco, amianto, etc). Envolve ainda fatores epigenéticos (hormonal, cocarcinogênicos, promoção tumoral). - Há 02 tipos de alterações genéticas: - Ativação de proto-oncogenes a oncogenes. Os primeiros controlam o ciclo de vida celular, mas quando convertem-se promovem alterações malignas. - Inativação de genes de supressão tumoral (antioncogenes). CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS DAS CÉLULAS CANCEROSAS PROLIFERAÇÃO DESCONTROLADA - Não quer dizer exatamente crescimento rápido, mas um desvio do mecanismo que regula a divisão celular e o crescimento tecidual. - Fatores que promovem o desvio: - Fatores de crescimento; - Transdutores do ciclo celular; - Mecanismo apoptótico alterado; - Expressão da telomerase; - Alterações nos vasos sanguíneos, gerando angiogênese no tumor. - A resistência à apoptose ocorre pela inativação de fatores pró-apoptóticos ou ativação de fatores antiapoptóticos. - As telomerases são enzimas que promovem a estabilização dos terminais dos cromossomos, que protegem o DNA. - A expansão de tumores muitas vezes requer angiogênese, que ocorre por fatores de crescimento liberados por estes. DESDIFERENCIAÇÃO E PERDA DE FUNÇÃO - Cas maldiferenciados multiplicam-se com mais rapidez e acarretam pior prognóstico. INVASIVIDADE - É a perca das relações espaciais entre células, invadindo tecidos circundantes. Também secretam enzimas que degradem a matriz extracelular, permitindo o movimento. METÁSTASES - Tumores secundários que foram liberados do tumor primário e atingem outros locais através dos vasos sanguíneos e linfáticos. São a principal causa de morbimortalidade. - Promovem nova angiogênese no lugar que migram. PRINCÍPIOS GERAIS DA AÇÃO DE FÁRMACOS ANTICÂNCER CITOTÓXICOS - Esquemas de quimioterapia têm como objetivo destruir o maior número de células malignas, já que não se pode contar com o sistema imune. Se um tumor é removido cirurgicamente, qualquer micrometástase remanescente é sensível à quimioterapia. - Os tumores sólidos crescem menos que as leucemias, possuindo 03 compartimentos: - A: células em divisão continua. - B: células em repouso (G0). - C: células que não são mais capazes de dividir. - Os fármacos citotóxicos têm como principais alvos as células do compartimento A. O compartimento B dificulta o tratamento do CA, já que são passíveis de entrar no A após fim do tratamento. - Esses fármacos têm como alvo a divisão celular do tumor, não afetando invasividade, desdiferenciação e metastatização. Por esses efeito, podem causar efeitos tóxicos: - À MO (mielossupressão), com queda na produção de leucócitos (diminui resistência a infecções); - Comprometimento da cicatrização; - Alopecia; - Dano ao epitélio do TGI; - Depressão do crescimento em crianças; - Esterilidade; - Teratogenicidade; - Carcinogenicidade; - Náuseas e vômitos; - Lesão renal por catabolismo da purina. FÁRMACOS ANTICÂNCER - Fármacos citotóxicos: - Agentes alquilantes, que impedem a replicação do DNA. - Antimetabólitos, que impedem a síntese de DNA. - ATBs citotóxicos, que evitam a divisão celular. - Derivados de plantas, que afetam o fuso mitótico. - Hormônios, principalmente esteroides e aqueles que impedem a síntese de estrógenos e andrógenos. - Inibidores de ptn quinase: essas atuam na transdução do sinal do receptor do fator de crescimento. - Anticorpos monoclonais e outros. AGENTES ALQUILANTES - Ligam-se ao DNA celular, entrecruzando filamentos. - Promovem mielossupressão, alopecia e transtornos de TGI. Com uso prolongado, também suprimem a gametogênese e aumentam risco de leucemia não linfocítica. - Mostardas nitrogenadas: principal representante é a ciclofosfamida, além de ifosfamida, bendramustina, clorambucila e melfalana. - Nitrossoureias: incluem a lomustina e a carmustina. Atravessam a BHE, sendo usados em tumores do SNC. - Outros agentes: - O bussulfano deprime seletivamente a MO, sendo usado na leucemia granulomatosa. - A dacarbazina é um alquilante inativo que é clivado no fígado. - A procarbazina inibe a síntese de DNA e RNA e interfere na mitose, sendo usada na doença de Hodgkin. - Compostos de platina: possuem ação análoga aos alquilantes, intercruzando filamentos de DNA. Incluem a cisplatina e a carboplatina. ANTIMETABÓLITOS - Antagonistas do folato: representados pelo MTX (metrotexato). Os folatos são usados na síntese de DNA e divisão celular, sendo essas atividades inibidas quando há diminuição deste. Também incluem o raltitrexede e o pemetrexede. - Análogos de pirimidina: inibem o DNA sem inibir o RNA, produzindo um análogo da uracila. Principais representantes são fluoruracila, capecitabina, gencitabina, azacitidina e decitabina e tegafur. - Análogos de purina: também inibem a síntese de DNA, além de serem mielossupressores. Representados por cladribina, clofarabina, fludarabina, etc. ANTIBIÓTICOS CITOTÓXICOS - Atuam diretamente no DNA. Não são usados em conjunto com radioterapia, devido à alta toxicidade. - Doxorrubicina e antraciclinas: representados pela doxorrubicina, idarrubicina, daunorrubicina e epirrubicina. Causa cardiotoxicidade. - Dactinomicina: impede o movimento da RNA polimerase, evitando a transcrição. Não causa cardiotoxicidade, sendo mais usada em CAs pediátricos. - Bleomicinas: degradam o DNA pré-formado, sendo usadas em CA de células germinativas. Causa pouca mielossupressão. - Mitomicina: age como agente alquilante, além de produzir radicais livres. Causa mielossupressão tardia. DERIVADOS DE PLANTAS - Alcaloides da vinca: incluem vincristina, vimblastina e vindesina. Impedem a polimerização dos microtúbulos, parando a metáfase mitótica. - Paclitaxel e compostos: chamados de “taxanos”, congelam os microtúbulos no estado polimerizado. - Campotecinas: incluem irinotecado e topotecano. Inibem a topoisomerase I, bastante expressa em células malignas. - Etoposídeo: inibem a função mitocondrial e transporte de nucleosídeo; - Compostso de esponjas marinhas: representados pelo eribulin, que inibe os microtúbulos. HORMÔNIOS - Alguns tumores (ex: mama, útero, próstata) são hormonodependentes. Hormônios inibidores desses locais podem ser usados para retardadar o crescimento e aliviar sintomas. - Glicocorticoides: inibem a proliferação de linfócitos (leucemias, linfomas), diminuem a PIC (tumores cerebrais), etc. Principais usados são a prednisolona e a dexametasona. - Estrógenos: dietilestilbestrol e etinilestradiol são usados no paliativo de tumores prostáticos. - Progestógenos: atuam no CA do endométrio, sendo eles o megestrol, noretisterona e a medroxiprogesterona. - Análogos do hormônio liberador de gonadotrofina: inibem a liberação de GH, sendo usados principalmente no CA de mama e próstata. - Análogos de somatostatina: aliviam os sintomas de tumores neuroendócrinos que liberam somatostatina. ANTAGONISTASHORMONAIS - Antiestrógenos atuam em CA de mama hormondependentes, inibindo a transcrição de genes estrógeno-responsivos. Podem induzir menopausa. - Inibidores de aromatase podem ser usados no CA de mama em mulheres pós-menopausa, pois inibem a síntese de estrógenos a partir dos andrógenos adrenais. - Antiandrógenos são usados no CA de próstata, além de controlar picos de testosterona. ANTICORPOS MONOCLONAIS - Servem para se ligar às células tumorais, ativando o sistema imune contra aquela célula. Outros inativam fatores de crescimento e promovem apoptose. Promovem terapia altamente específica. Possuem custo elevado. - Rituximabe: usado no tratamento de linfomas. Lisa os linfócitos B, ativa o complemento e deixa outras células sensibilizadas a outros fármacos. Análogos são alentuzumabe, brentixumabe e ofatumabe. - Trastuzumabe: induz a RI do hospedeiro e inibe o ciclo celular tumoral. Análogos são panitumumabe e cetuximabe, usados no CA colorretal. - Bevacizumabe: utilizado no CA colorretal. Neutraliza o VEGF, prevenindo a angiogênese do tumor. Também atua na degeneração macular aguda, causada por angiogênese excessiva na retina. - Catumaxomabe: se liga a uma molécula de adesão epitelial, favorecendo a ação de linfócitos T e de células apresentadoras de antígeno. INIBIDORES DE QUINASES PROTEICAS - Imatinibe: inibidor de quinases da leucemia mieloide crônica e do fator de crescimento plaquetário. Usado também em tumores de TGI. OUTROS AGENTES - Crisantaspase: formulação da enzima asparaginase, que é ativa em células tumorais, principalmente da leucemia linfoblástica. - Hidroxicarbamida: análogo da ureia que inibe a síntese de DNA. Usado no tratamento da policitemia rubra vera e anemia falciforme. - Bortezomibe: inibe o proteossomo celular, sendo mais sensível em células tumorais. Usado no tratamento do mieloma. - Talidomida: afeta a transcrição gênica, angiogênese e função do proteossomo, principalmente em mielomas. Causa teratogenicidade e neuropatia periférica. - Modificadores da resposta biológica: intensificam a resposta do hospedeiro ao tumor, como a interferona-alfa, aldesleucina, tretinoína e bexaroteno. Alguns são agentes hematoporfirínicos fotoativadores, ou seja, se acumulam nas células e provocam sua morte quando excitados por radiação. RESISTÊNCIA AOS FÁRMACOS ANTICÂNCER - Pode ser primária (fármaco admistrado pela primeira vez) ou adquirida (desenvolve-se com o tratamento). A adquirida se desenvolve por adaptação ou mutação das células tumorais. Alguns mecanismos são: - Diminuição no acúmulo dos fármacos nas células, por aumento da expressão de ptns de transporte do fármaco; - Queda na quantidade de fármaco captada pela célula; - Ativação insuficiente do fármaco; - Aumento na inativação; - Maior concentração da enzima-alvo; - Menor demanda por substrato; - Maior utilização de vias metabólicas alternativas; - Rápido reparo de lesões do DNA induzidas pelo fármaco; - Atividade alterada do alvo; - Mutações genéticas. TERAPIAS COMBINADAS - Aumentam a citotoxicidade para os tumores sem aumentar a toxicidade geral. Ex: metotrexato com vincristina. Geralmente combina-se um fármaco que seja mielossupressor com um que não seja. - Reduz a possibilidade de resistência, sendo admistrados em altas doses intervaladas. CONTROLE DA ÊMESE E MIELOSSUPRESSÃO - Êmese: são usados antagonistas do receptor HT3 como ondansetrona ou granisetrona para reduzir os vômitos fármacoinduzidos. Outros agentes são metoclopramida, dexametasona, lorazepam e difenidramina. - Mielossupressão: pode ser superada com remoção de parte da MO do próprio pct, que pode ser usada como reposição após o fim do tratamento. O ácido folínico pode ser suplementado para evitar anemia ou após alta dose de MTX.
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