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1 Levantamento bibliográfico para resenha 02: “Hobbes: medo e soberania” 1- BUENO, Marcelo Martins. Medo e liberdade no pensamento de Thomas Hobbes. Revista Primus Vitam, n. 1, p. 1-11, 2010. Disponível em: <http://delphos- gp.com/primus_vitam/primus_1/marcelo.pdf>. Acesso em: 17 de set. de 2021. 2- VALVERDE, João Bueno. A soberania da reta razão. Philósophos - Revista de Filosofia, v. 7, n. 1, 2008. Disponível em: <https://revistas.ufg.br/philosophos/article/view/3152>. Acesso em: 17 set. 2021. 3- SHELTON, George. Morality and Sovereignty in the Philosophy of Hobbes. 2. ed. Inglaterra: Palgrave 4- FROST, Samatha. El miedo y la ilusión de la autonomia. Traduzido por Juan A. Fernández Manzano y Gustavo Castel de Lucas. Las Torres de Lucca: Revista Internacional de Filosofia Política, v. 5, n. 9, p. 175-200. 2016. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5804050>. Acesso em: 17 de set. de 2021. 5- Macmillan UK, 2016.SANTI, Raffaella. Metus revealed. Hobbes on Fear. Agathos: An International Review of the Humanities and Social Sciences. V. 2, n. 2, p. 67-80. 2011. Disponível em: <http http://www.agathos-international-review.com/issue2_2/07.%20Articol%204%20- %20RAFFAELLA%20SANTI.pdf>. Acesso em: 18 de set. de 2021. A POLÍTICA DO MEDO EM TORNO DA AUTO SOBERANIA Maria Paula Oliveira Orge1 Vívian Cintra Grassis2 4- FROST, Samatha. El miedo y la ilusión de la autonomia. Traduzido por Juan A. Fernández Manzano y Gustavo Castel de Lucas. Las Torres de Lucca: Revista Internacional de Filosofia Política, v. 5, n. 9, p. 175-200. 2016. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5804050>. Acesso em: 17 de set. de 2021. A filosofia hobbesiana relaciona, de forma brilhante, a construção sociopolítica do homem com a constituição das suas paixões, evidenciando o medo como a mais relevante delas. Nos seus escritos, ele caracteriza o medo como sentimento precursor, que guia todas 1 Graduanda do curso Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: <mariporge@gmail.com>. 2 Graduanda do curso Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: <vivi.cintrag23@gmail.com>. 2 nossas decisões, mas, que também é responsável pela nossa ingenuidade, principalmente perante a auto soberania individual. Adentrando esse recorte, a autora Samantha Frost, em El miedo y la ilusión de la autonomia, promove uma análise sobre o tema, utilizando o materialismo hobbesiano como sustentáculo para evidenciar a ilusão da autonomia, e mais a frente, tornar claro como o medo é o elemento mor desse processo. Ao introduzir, Samantha problematiza a falta de reconhecimento de Hobbes nesse campo, visto que elaborou um estudo de alta complexidade sobre um tema pouco discutido, mas pouco recebe o mérito por isso. A partir daí, ela introduz a ideia hobbesiana de que “o medo é a resposta física impulsiva em face da ameaça de dano ou ameaças à sobrevivência” (FROST. 2016. p. 3) e esse caráter “de instinto animal pela sobrevivência” (FROST. 2016. p. 3) do medo, por si só, já é suficiente para que abandonemos as incertezas do estado de natureza e nos subordinamos ao governo de um soberano, que será obedecido e facilmente manterá as ordens, devido ao temor. A partir dessa máxima, a autora aponta que Hobbes ousa em situar o medo como um meio termo entre o passional e o gnosiológico, e em não corroborar com a ideia de que este nos torna objeto da manipulação política. Para ele, “a maneira como o medo guia o sujeito no tempo[...]fornece uma sensação de possível domínio sobre si mesmo e sobre o mundo ao seu redor.” (FROST. 2016. p. 4), o que leva a especulação hobbesiana de um segundo intuito do estabelecimento de um soberano, sendo justamente a sensação de possível domínio sobre si mesmo e sobre o mundo ao seu redor. O texto é subdividido em tópicos primordiais para entender-se como o medo falseia a autonomia, algo que é bem delimitado pela autora em três abrangentes recortes. Nesse primeiro recorte do texto, intitulado como “a heteronomia”, a autora busca familiarizar-nos com o materialismo hobbesiano – o berço da reflexão sobre a auto soberania, encontrada mais precisamente no conceito de causalidade. Ela indica que, contrário ao pensamento cartesiano, Hobbes considera as pessoas como “corpos pensantes”, e não faz distinção de corpo e mente, algo que é criticado por Samantha, que caracteriza o materialismo de Hobbes como “um determinismo mecanicista reducionista.” (FROST. 2016. p. 5) revelando-se controverso ao que propõe. Em paralelo a isso, ela evidencia que para Hobbes, a necessidade da validação de não ser heterônomo leva a sensação real de autonomia individual, o que resulta na ilusão de ser soberano de si. Com isso, é interessante ressaltar que apesar de admirar e reconhecer o estudo 3 como rico e revolucionário, a autora tem inúmeras ressalvas em relação a considerações hobbesianas, e faz questão de deixá-las evidentes. A posteriori, é importante salientar a relação estabelecida entre a causalidade e nossos pensamentos e desejos. Samantha descreve que, para o materialismo hobbesiano, os nossos pensamentos e paixões são causados, ao invés de serem produtos da nossa psiché, ou seja, são resultados da “fusão de numerosas causas, internas e externas, que estão relacionadas entre si de forma complexa e não linear” (FROST. 2016. p. 5). Com isso, a autora fala, baseado no conceito hobbesiano, que as ações humanas são heterônomas, haja vista que não são autodeterminadas por nós mesmos. Já no segundo recorte, nomeado de “o medo”, após a apresentação de conceitos e a explicação de cada um deles, Samantha passa, de forma complexa, a tecer uma ligação entre estes e o medo hobbesiano. Interessada na temporalidade do medo, uma vez que ele se enquadra nas paixões e cada umas delas possuem sua própria peculiaridade e tempo, ela recorre aos trechos de Hobbes. Assim, há a descoberta de uma história do medo, ilustrado e criticado pela autora em “insistir, como Hobbes, em que o medo tem uma história é dar-lhe uma riqueza e textura que é social e historicamente reconhecível como específico para o indivíduo em particular que o experimenta.” (FROST, 2016, p. 12) Ademais, a pesquisa acadêmica mostra também que cada pensamento e memória possui uma dimensão avaliativa e afetiva, enquanto a percepção nada mais é do que o movimento do corpo em direção ao objeto que origina o estímulo, portanto, as paixões nada mais são que pensamentos e experiências, afinal este estímulo prove a dimensão avaliativa e afetiva. É válido comentar, que as paixões adotam diferentes formas, dependendo da ausência ou presença de um objeto e consequentemente o medo é uma dessas paixões. O artigo El miedo y la ilusión de la autonomia expõe que o medo visto em Hobbes representa a paixão da aversão, explicitando aos leitores como esse fato se dá: “o medo é a sensação do movimento de repulsão que surge na expectativa imaginativa de uma experiência futura de dor de um objeto ofensivo perdido.” (FROST, 2016, p. 15). Somado a isso, a concepção humana moldada pela causalidade leva-os a crer em episódios de sucessão, e tendo em mente que o medo é visto como um objeto desagradável e ausente, a tendência inata é de conter o repertório de possibilidades do passado. 4 É, finalmente, no terceiro e último recorte, intitulado como “a política do medo e o medo”, que esse repertório de possibilidades desperta nos homens uma sensação para a ação, colocando-o como agente ativo e efetivo. O medo, porém, precisa ser objeto, pois, não sendo, caracteriza-se como terror, rompendo a ilusão de potência do sujeito e desaguando na sua privação da capacidade de agir. Por conseguinte, a autora ratifica que o segmento da teoria deHobbes sobre o medo indica a necessidade de proporcionar um objeto a este medo. Então, a figura do soberano surge como objeto que concentra o medo dos indivíduos, mas ao mesmo tempo é ponto de referência e os permite se verem como agentes ativos, perpassando sua soberania ao ponto de cada indivíduo se sentir auto soberano. Vale salientar que o fato de dos indivíduos criarem ativamente o soberano, cuja eficácia temível e singular, é a condição para que se sintam agentes autônomos. Ao concluir, Samantha amarra os meandros do texto com a afirmação que “A análise de Hobbes sugere que, em ambas as dinâmicas do medo simplificam o mundo para que possamos imaginar como agir” (FROST, 2016, p. 23) e ainda completa com “os indivíduos pode realmente procurar um cânone de medo para sustentar sua imagem como agentes autônomos e auto soberanos.” (FROST, 2016, p. 23), ratificando a máxima hobbesiana e evidenciando que o medo é essencial, pois o sentimento de autonomia é a garantia da eficácia de um soberano e de um povo em um processo de crise, que será justamente ocasionada por um objeto de medo. Em face ao exposto, é nítido que o texto da Samantha Frost tem um caráter crítico em apresentar a questão do medo e a ilusão da autonomia, resgatando seu processo histórico, sua sustentação nas teorias hobbesiana, mas sempre ligando-o ao contexto que a obra foi escrita. A autora propõe ideias destrinchadas sobre o tema, montando o texto em uma linearidade construtiva que culmina na aplicabilidade do tema no âmbito político, justamente como Hobbes propunha. Além disso, exemplifica e busca simplificar alguns conceitos passados no texto, buscando amarrar toda a estrutura textual e sem deixar pendências para a compreensão do texto.