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RESUMO DO LIVRO - DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO (PRIMEIRA V.A)

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CAP 1: NOÇÕES FUNDAMENTAIS E OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1.1 Considerações iniciais
O Estado, como o conhecemos hoje, formado por três elementos essenciais: povo, território e governo, amalgamados em uma unidade jurídica. Governo, símbolo do poder, deve ser visto como competência; território, como limite dessa competência; e povo, como conjunto de interações humanas. Assim, o Estado é a sociedade maior e, como sociedade, deve estar intimamente ligado ao ser humano, em um conjunto harmônico.
Tratados e convenções são acertados e firmados com a finalidade de aproximar os Estados e tornar mais agradável a vida dos cidadãos.
O conflito de leis pode ser no tempo ou no espaço. Do concurso de leis no tempo, vai preocupar-se o Direito Intertemporal, positivado na ordem jurídica brasileira nos primeiros artigos da LINDB. O conflito de leis no espaço é tema do Direito Internacional Privado, que, mais do que um direito verdadeiro, tem sido entendido como uma técnica de aplicação do Direito.
1.2 Conceito
Para Clóvis Beviláqua, Direito Internacional Privado é o conjunto de preceitos que regulam as relações de ordem privada da sociedade internacional,2 enquanto Luís Ivani Araújo vê esse ramo das ciências jurídicas como o conjunto de regras de direito interno, cujo objetivo é a solução de conflitos envolvendo leis originárias de Estados diferentes, indicando, em cada caso, a lei competente a ser aplicada.
Nessa tessitura, visualizamos o Direito Internacional Privado como o conjunto de normas de direito público interno que busca, por meio dos elementos de conexão, encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando a lide comporta opção entre mais de uma ordem jurídica para solucionar o caso.
Destinadas a compor litígios em relações privadas transnacionais, essas normas estão perfeitamente inseridas na ordem jurídica interna dos Estados, mas vêm gradativamente ocupando espaço em tratados e convenções internacionais, bem como em regulamentos da União Europeia.
Amorim enfatiza que aplicamos a norma jurídica estrangeira seguindo determinações de uma lei local, não se tratando de conflitos, mas do reconhecimento de um direito adquirido no exterior: “Conflitos, realmente, há quando aquela lei ferir nossa soberania ou a ordem pública local.”4 Nesse sentido, poder-se-ia afirmar que o Direito Internacional Privado promove, na realidade, um diálogo entre ordenamentos jurídicos diversos.
1.3 Objeto 
O objeto central do Direito Internacional Privado é o conflito de leis no espaço, visto esse espaço como o de ordenamentos jurídicos diversos. Nessas leis se incluem temas de direito civil,comercial, trabalhista, industrial, fiscal, administrativo, penal e processual. 
Enfatizando ser único o objeto de estudo do DIPr, Amílcar de Castro assim o sintetiza: “organizar direito adequado à apreciação de fatos anormais, ou fatos com duas ou mais jurisdições, sejam pertinentes ao fórum, ou ocorridos no estrangeiro.”7 Essa visão se ampara nas teorias italiana e alemã, as quais nos dois últimos séculos restringiram o campo do Direito Internacional Privado ao conflito de leis.
As doutrinas francesa e norte-americana ampliam o objeto de nossa disciplina.
Atentos aos objetivos desta obra e alicerçados na releitura dos diversos autores, sentimo-nos autorizados a enunciar o objeto de Direito Internacional Privado mais adequado ao nosso tempo, (...) inclui o conflito de leis interespacial, a nacionalidade, a condição jurídica do estrangeiro, os direitos adquiridos, o conflito de jurisdições, a competência internacional e o reconhecimento de sentenças estrangeiras.
1.4 Normas de DIPr na Constituição Federal de 1988 
A Carta Magna vigente, no caput do artigo 5º, garante aos estrangeiros residentes no país “a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” nos termos legais, equiparando-os, nesses aspectos, aos brasileiros. Exceto os direitos políticos, tais como votar e ser votado, o estrangeiro, regularmente residindo no Brasil, não sofre qualquer discriminação.
1.5 Direitos adquiridos
O respeito aos direitos adquiridos é considerado basilar para a segurança jurídica, fazendo parte dos ordenamentos jurídicos contemporâneos – no Brasil, ele está inserido na Carta Magna (art. 5º, inc. XXXVI). Verificar a prevalência desses direitos quando invocada em outro país interessa ao Direito Internacional Privado.
Seria um contrassenso imaginar que o ser humano, ao ultrapassar as fronteiras de seu país, nele deixasse os direitos adquiridos, especialmente os que constituem seu estatuto pessoal. Trata-se de direitos privados, que foram reconhecidos por ordenamento jurídico competente. Nessa esfera, são repelidos, por óbvio, os que ofendem a ordem pública, os bons costumes e a soberania nacional.
Feitas as ressalvas acima, todos os direitos, plenamente incorporados ao patrimônio jurídico do cidadão, nacional ou estrangeiro, devem acompanhá-lo extraterritorialmente.
Cabe ao Direito Internacional Privado de cada país verificar as circunstâncias de aquisição de direitos no estrangeiro e indicar as condições para o seu reconhecimento no ordenamento jurídico interno.
Por fim, observemos que mera expectativa de direito em uma ordem jurídica não deve ser tida como direito adquirido, enquanto conquistas reconhecidas na esfera do direito público, como aposentadorias e pensões, somente são invocadas perante o ordenamento que as concedeu.
1.6 Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público 
O DIPr tem profunda afinidade com o Direito Internacional Público, trabalhando ambos com fontes e institutos comuns – tratados, nacionalidade, extradição – e com o mesmo objetivo – a convivência pacífica e harmônica entre os povos.
1.7 Direito Internacional Privado e Direito Comparado 
Enfatize-se, inicialmente, que boa parte da doutrina entende que, a rigor, não existe Direito Comparado, mas estudos comparativos entre sistemas jurídicos diversos, até porque tal ramo seria uma criteriosa comparação entre institutos jurídicos presentes no ordenamento legal de diferentes países, buscando estabelecer pontos comuns e divergentes que neles existem.
Quando da aplicação de Direito estrangeiro, o operador jurídico nacional deve analisar tal direito à luz do método comparativo, e não seguindo os preceitos jurídicos do foro. Assim, em caso jusprivatista internacional que deva ser resolvido por norma jurídica estrangeira (por exemplo, direito francês), a leitura desse direito não pode ser feita tendo em consideração as formas de interpretação e de aplicação do direito local: esse operador (juiz ou advogado) deverá analisar as normas do direito francês utilizando a sua hermenêutica.
RESUMO
1.1 Considerações iniciais - A intensificação do intercâmbio de pessoas vinculadas a Estados regidos por legislações diversas oportuniza a ocorrência, cada vez mais frequente, de conflitos, criando dificuldade para estabelecer qual ordenamento jurídico e qual legislação são competentes para a solução da lide. É desse conflito de leis no espaço que se ocupa o Direito Internacional Privado.
1.2 Conceito - É o ramo do direito interno que regula direta ou indiretamente as relações privadas internacionais (Cláudia Marques). É o conjunto de regras de direito interno que objetiva solucionar os conflitos de leis originárias de Estados diversos, indicando, em cada caso que se apresente, a lei competente a ser aplicada (Araújo). É um complexo de normas e princípios de regulação que, atuando nos diversos ordenamentos legais ou convencionais, estabelece qual o direito aplicável para resolver conflitos de leis ou sistemas, envolvendo relações jurídicas de natureza privada ou pública, com referências internacionais ou locais (Strenger). O Direito Internacional Privado consiste no conjunto de normas de direito público interno que busca, por meio dos elementos de conexão, encontrar o direito aplicável, nacional ou estrangeiro, quando a lide comporta opção entre mais de uma ordem jurídica para solucionar o caso (Del’Olmo). 
1.3 Objeto - Organizardireito adequado à apreciação de fatos anormais ou fatos com duas ou mais jurisdições, sejam pertinentes ao fórum ou ocorridos no estrangeiro (Amílcar). Conflito de leis, nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro e direitos adquiridos (Niboyet). Conflito de leis interespacial, nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro, direitos adquiridos, conflito de jurisdições, competência internacional e homologação de sentenças estrangeiras (Del’Olmo). 
1.4 Normas de DIPr na Constituição Federal de 1988 - Reconhece ao estrangeiro os direitos fundamentais. Disciplina a nacionalidade e dá competência privativa à União para legislar sobre emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros. 
1.5 Direitos adquiridos - Todos os direitos, plenamente incorporados ao patrimônio jurídico do cidadão, nacional ou estrangeiro, devem acompanhá-lo extraterritorialmente. Mesmo casos em que tais direitos, se buscados em nosso foro, pela aplicação direta da norma estrangeira, não seriam aceitos por contrariarem a ordem pública, podem ser admitidos. São repelidos, no entanto, aqueles que ofendem a ordem pública local. 
1.6 Direito Internacional Privado e Direito Internacional Público - Possuem fontes e institutos comuns: tratados, nacionalidade, extradição. 
1.7 Direito Internacional Privado e Direito Comparado - Para o DIPr, o Direito Comparado é uma ferramenta indispensável na aplicação do Direito estrangeiro, assim como na criação e na adaptação de institutos.
CAP 2 - ESBOÇO HISTÓRICO DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
2.1 Considerações iniciais 
O Direito Internacional Privado (DIPr) pode ser definido, em linhas gerais, como o marco jurídico de um país que indica qual o direito a ser aplicado nas questões que contêm um elemento estrangeiro. Em casos que envolvem um elemento estrangeiro, torna-se necessário definir questões como a lei e a jurisdição aplicáveis. Nesse sentido, o Direito Internacional Privado promove um diálogo entre culturas legais diferentes, pois pode estipular a aplicação da lei de um país em outro. 
É consenso entre os estudiosos que na Antiguidade não existiram regras de Direito Internacional Privado, uma vez que o estrangeiro era considerado hostil, não inspirava confiança e não praticava a mesma religião, o que o transformava em potencial inimigo.
O estrangeiro, nem em Roma, nem em Atenas, tinha direito algum, não podendo ser proprietário nem casar, herdar, contratar ou praticar o comércio. Algumas legislações, como a chinesa, permitiam até o sacrifício e a destruição do estrangeiro.
2.2 Grécia 
O meteco, estrangeiro em Atenas, não tinha o status de cidadão, mas pagava uma taxa especial a fim de poder exercer atividades comerciais. Dispunha de uma judicatura especial, a polemarca, protegendo sua família e seus bens. Surgiu, aí, o próxeno, cidadão encarregado de orientar o estrangeiro em suas relações comerciais e zelar por seus interesses. A consequência dessas relações ensejou o surgimento de tratados entre as cidades, chamados asília, que seriam a origem dos tratados de DIPr,2 com o fim de proteger os súditos e resguardá-los contra violências. O meteco chegou a gozar de certos direitos políticos e civis, sendo então chamado isótele.
2.3 Roma 
Em Roma, o estrangeiro, a princípio vendido como escravo e tendo seus bens sequestrados, evoluiu para peregrino, com certos direitos, baseados no jus gentium. Em 242 a.C., surge o pretor peregrino, para solucionar as questões entre romanos e estrangeiros ou entre somente estes, desde que residentes em Roma. 
O pretor exercia o antigo poder jurisdicional dos reis, sendo a autoridade suprema na administração da justiça e encarnando, na esfera de suas atribuições, a soberania do povo romano, podendo “também criar, ou transformar o direito (critérios de apreciação), se tal exigissem as necessidades da prática”.3 
Também no Egito, no tempo de Amenófis III (1500 a.C.), firmaram-se alguns tratados de comércio com os babilônios e com os hititas.
Como destaca Jacob Dolinger, os estrangeiros não participavam da vida jurídica, não admitindo os direitos locais cotejo com direitos estrangeiros, o que afastava qualquer possibilidade de conflito: existia apenas um complexo de normas de direito material,4 sendo absoluta a territorialidade das leis. 
A invasão dos bárbaros no Império Romano, em 476 de nossa era, vai alterar essa situação. A partir de então passam a conviver, no mesmo contexto, pessoas de diferentes línguas, raças e condições econômicas e sociais. 
Nesse ínterim, surge a personalidade das leis, por meio da qual cada ser humano será julgado pelas leis de sua tribo, seu povo, sua nação.
Após a invasão dos bárbaros, suas normas jurídicas vão vigorar nos lugares dominados, com o que o caráter territorial das leis cede ao direito de sangue, o jus sanguinis. Acresça-se que os bárbaros, não conseguindo absorver as leis romanas, permitiam que cada um se regesse por suas próprias leis. Apenas em caso de conflito imperava a lei dos vencedores.
A miscigenação vai fazendo desaparecer esse regime jurídico da personalidade do direito, que se extingue na Espanha, no século VIII, quando surge o Codex Wisigothorum, o qual unifica o conjunto de leis, suprimindo todas as legislações ali existentes, inclusive a romana. A morte de Carlos Magno, no século IX, com a dissolução do Império carolíngio, vai ocasionar o restabelecimento da territorialidade das leis.
2.4 Feudalismo 
A pouca força dos sucessores de Carlos Magno resultou no surgimento do feudalismo. Dentro de seus domínios, o senhor feudal admitia apenas a sua lei. É a territorialidade da lei, o jus soli.
Mas o feudalismo, dominante na Europa, não se firmou no norte da Itália, onde era grande o intercâmbio comercial e industrial entre as cidades de Florença, Veneza, Pisa, Perúgia, Milão, Bolonha e Módena, entre outras. Elas eram verdadeiras repúblicas autônomas, com direito próprio, o statuta, resumo do antigo direito costumeiro das cidades e dos comerciantes, em oposição à Lex, direito romano, que era o direito comum, geral, aplicável quando omisso o direito particular da cidade.
Esse intercâmbio entre as cidades começou a defrontar-se com fatos que requeriam soluções jurídicas, não dirimidas da mesma forma em seus estatutos.
2.5 Glosadores e escolas estatutárias 
Em 1100, Irnerius instituiu o ensino do Direito Romano na Escola de Bolonha, por ele fundada. Estudando o Digesto, foi escrevendo breves notas marginais ou interlineares explicativas do conteúdo, as glosas, nas quais confrontava textos, desfazia contradições e buscava um entendimento harmonioso e o mais completo possível do conjunto. Esse centro de estudos jurídicos passou a ser denominado escola de glosadores, nele se destacando Accursius, Bulgarus e Iacobus, ao lado de Irnerius.
Os séculos XIII e XIV vão encontrar a escola dos pós-glosadores, comentaristas ou bartolistas, em Perúgia, Pádua, Pisa e Pávia. Surge então Bartolo (1314-1357), de Saxoferrato, considerado o pai do DIPr. Os pós-glosadores não se limitavam a notas explicativas, pois redigiam, sobre as glosas, comentários próprios, buscando e criando um direito novo, comum, de possível aplicação às situações de seu tempo. Ele foi o fundador da escola estatutária italiana e dividiu os estatutos em reais (lei da situação da coisa) e pessoais (ligados à pessoa).
A solução dos conflitos, preconizada pelo sistema estatutário italiano que vem sendo adotada até nossos dias, era esta: 
a) Bens imóveis: regido pela localização da coisa;
b) Sucessão: de acordo com o domicilio do falecido, sendo que a formalidade na sucessão era regida pelo lugar da elaboração do ato; 
c) Contratos e seus efeitos: conforme o lugar da celebração (para as obrigações) e da execução (para negligência e mora); 
d) Delitos: segundo a lei do lugar do ato.
Além da italiana, tais escolas ou sistemas estatutários compreendem mais três: a francesa, a holandesa e a alemã. 
A escola estatutária francesa, no século XVI, foi criada por Bertrand D’Argentré (l519-1590) e distinguiu os estatutos reais (coisas) e os pessoais,mais tarde admitindo os mistos. O estatuto pessoal, que era exceção, devia acompanhar o ser humano, sendo que a regra era o estatuto real. Assim, a extraterritorialidade seria muito limitada. Já no século XVIII, Boulenois, Bouthier e Froland reestruturam a escola, ampliando a aplicação extraterritorial dos estatutos, o que deixou de ser exceção. 
Merece referência Charles Dumoulin (1500-1566), criador da teoria da autonomia da vontade, faculdade de as partes estabelecerem a lei que deve reger a validade de um contrato. Se não indicada a lei, a escolha do local para a realização do contrato indica a vontade dos contratantes.
A escola estatutária holandesa, do século XVII, tem como expoentes Bulgarus, Chistian Rodenburg – seu criador, e Ulrich Huber – o mais famoso, adotando o critério absoluto da territorialidade de todos os estatutos (reais e pessoais). Mais tarde, a escola passou a aceitar, em casos excepcionais, a aplicação de estatutos pessoais, em razão da cortesia internacional (comitas gentium). Ulrich assim sintetizou os parâmetros de sua escola: as leis só vigoram no território do Estado e obrigam todos os seus súditos, sendo estes os que se encontram nos limites do Estado de forma permanente ou não, e os governantes, por cortesia, podem admitir que o direito objetivo de cada povo conserve seus efeitos em toda parte, contanto que não prejudique o Estado estrangeiro nem seus súditos.
Apesar de muitos tratadistas não a referirem como sistema autônomo, a escola alemã, do século XVIII, destaca Nikolas Hert e Henrich von Cocceji. Amílcar de Castro indica que “como doutrina, ou escola, a alemã só pode ser considerada atípica, eclética, não saliente por qualquer traço original, senão pela maior precisão de conceitos”,12 mas reconhece que, ao repetir as demais doutrinas, ela as melhorou. Os estatutos são os reais, pessoais e mistos. Sintetizando, deve-se lembrar que as escolas estatutárias não eram práticas, não alcançando o êxito almejado.
2.6 Codificação 
O século XIX vai assistir ao surgimento de normas de Direito Internacional Privado em códigos civis de vários países, como França (1804), Itália (1865) e Alemanha (1896). Em 1855, com Andrés Bello, primeiro autor de obra autônoma sobre Direito Internacional Privado na América, aparece o Código Civil do Chile, que estabelece, em seu artigo 57, que “a lei não reconhece diferença entre o chileno e o estrangeiro quanto à aquisição e gozo dos direitos civis que regra este código”.
No que tange ao nosso país, é oportuno destacar que a Carta Magna de 1891 assegurou, no artigo 72, aos estrangeiros residentes no Brasil a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, associando-se a esse nascente espírito de aceitação das pessoas oriundas de outros países.
2.7 Doutrinas modernas 
Ainda no século XIX vão despontar os grandes precursores da doutrina de Direito Internacional Privado, Story, Savigny e Mancini, cujas contribuições para nossa disciplina influenciarão as legislações, as decisões judiciais, as convenções e os tratados a partir de então.
Joseph Story, professor da Universidade de Harvard e membro da Suprema Corte americana, publicou em 1834 seu Conflict of Laws, que, segundo Valladão, se tornou “quase uma bíblia para os julgados e a doutrina não só nos Estados Unidos como na Inglaterra”.
Story alicerçou-se em princípios das escolas estatutárias, como D’Argentré e Huber, naquilo que considerou importante, mas versou os temas separadamente, nem mesmo aceitando a divisão em estatutos pessoais, reais e mistos. Ele substituiu a gentileza internacional, a cortesia, pelo princípio da busca da boa justiça, na aplicação do direito estrangeiro. Em resumo, sua doutrina estabelece: 
a) Capacidade das pessoas: lei do domicílio; 
b) Capacidade para contratar: lei do local do contrato; 
c) Bens imóveis: lei da sua situação; 
d) Casamento: lei do lugar da celebração; 
e) Divórcio e relações dos cônjuges: lei do domicílio atual. 
Friedrich Carl von Savigny, professor de Berlim, escreveu Sistema de Direito Romano Atual (1849). Com ele surge a ideia de um universalismo, de um direito aplicável universal, pois entende que o interesse das pessoas requer e merece igualdade de trato das questões jurídicas, em caso de conflito de leis, preconizando que a solução seja a mesma, onde quer que ocorra o julgamento.
Savigny já alerta para quatro institutos que são inaplicáveis nos foros que não os admitem, tornando-se, portanto, não abarcáveis pelas normas de DIPr: poligamia, morte civil, escravidão e proibição de aquisição de propriedade imobiliária por judeus.
RESUMO
2.1 Considerações iniciais - Na Antiguidade, não existiram normas de DIPr, porque o estrangeiro era considerado inimigo, não possuindo direitos e não podendo, o mais das vezes, casar, herdar, contratar ou praticar o comércio. 
2.2 Grécia - Chamado meteco, o estrangeiro pagava uma taxa especial e podia exercer atividades comerciais, inclusive com judicatura própria, a polemarca, para proteger sua família e seus bens. Surgem o próxeno, que orienta o estrangeiro em negócios e interesses, e a asília, tratado entre as cidades, origem dos atuais tratados de DIPr. 
2.3 Roma - O peregrino, com certos direitos no jus gentium, passa a contar com seu pretor peregrino. Com a invasão dos bárbaros, passam a viver no mesmo território pessoas de diferentes línguas e origens, surgindo a personalidade das leis: na solução da lide, o julgador aplica a lei de cada um (visigodo, lombardo, romano etc.). 
2.4 Feudalismo - Retorna a territorialidade das leis, que no feudo é absoluta, mas o feudalismo não se firma nas cidades do norte da Itália.
2.5 Glosadores e escolas estatutárias - Irnerius (1100) estuda Direito Romano na Escola de Bolonha e coloca notas lineares ou marginais (glosas) no Digesto. Surge a escola dos glosadores, que busca nas leis romanas o que existia sobre estrangeiros. No século XIV, surge Bartolo, o pai do DIPr: é a escola dos pósglosadores, com comentários próprios sobre as glosas, criando um direito novo. Solução para os conflitos: Bens imóveis: lei da localização da coisa. Sucessão: domicílio do falecido. Contratos: lugar da celebração. Delitos: lei do lugar do ato. Escolas estatutárias: Francesa: estatutos reais e pessoais – D’Argentré. Holandesa: critério absoluto de territorialidade de todos os estatutos. Alemã: pequena contribuição – estatutos reais, pessoais e mistos. 
2.6 Codificação - No século XIX, surgem os grandes códigos: Código Civil da França (1804) e Código Civil do Chile (1855), com regras sobre o estrangeiro. 
2.7 Doutrinas modernas - Joseph Story: EUA, 1834. Escreveu Conflict of Laws, defendeu a equidade dos conflitos de leis e o critério da busca da boa justiça na aplicação do direito estrangeiro. Friedrich Carl von Savigny: Alemanha, 1849. Autor de Sistema de Direito Romano Atual, aventou a mesma solução para o conflito de leis entre os diferentes povos e defendeu o domicílio como o principal elemento de conexão. Pasquale Stanislao Mancini: Itália, 1851. Fez notáveis palestras em Turim e Roma, propondo a nacionalidade como elemento de conexão.

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