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Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório LESÕES SEM SIGNIFICADO CLÍNICO E ALTERAÇÕES POST MORTEM ENFISEMA INTERSTICIAL POST MORTEM Trata-se de uma das alterações autolíticas mais tardiamente observadas na carcaça em decomposição. Ocorre devido ao acúmulo de gases resultantes da atividade de bactérias putrefativas produtoras de gás. CAVIDADE NASAL E SEIOS PARANASAIS ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS EPISTAXE Epistaxe é a denominação utilizada para designar os casos em que ocorre hemorragia nasal. A despeito da definição de hemorragia nasal, a origem do sangue não necessariamente é a cavidade nasal. Ela pode ter várias causas, como: trauma; exercício intenso em equídeos; inflamação; neoplasias; diáteses hemorrágicas; micose da bolsa gutural; e trombose da veia cava caudal em bovinos. Epistaxe secundária a traumas pode ocorrer em qualquer espécie, sendo mais frequente em cães e em equinos. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS RINITE Por definição, rinite se refere ao processo inflamatório da mucosa nasal. Frequentemente, a causa primária de rinite é viral, seguida de infecção secundária, bacteriana ou micótica. As causas de rinite incluem: vírus, que se constituem na causa primária mais frequente; bactérias, como Bordetella bronchiseptica e Pasteurella multocida toxigênica; fungos; Rhinosporidium seeberi; alergênicos; gases tóxicos, como como amônia e H2S (gás sulfídrico). As rinites podem ser classificadas quanto ao curso em agudas, crônicas ou crônico-ativas. O processo inflamatório agudo é caracterizado por exsudação, ao passo que o processo crônico é caracterizado por alterações proliferativas. As situações em que o processo é classificado como crônico-ativo correspondem aos casos em que a rinite crônica também apresenta características de um processo agudo, havendo associação entre alterações proliferativas e exsudativas. Os processos crônicos podem resultar na formação de pólipos nasais que são inicialmente sésseis, podendo tornar-se pedunculados Quanto ao exsudato, as rinites podem ser classificadas em: serosa; catarral; catarral- purulenta; purulenta; hemorrágica; fibrinosa; fibrinonecrótica; e granulomatosa. Rinite serosa é a forma mais comum, caracterizada por exsudato translúcido e líquido com número muito reduzido de células inflamatórias e epiteliais. A mucosa nasal geralmente apresenta-se edemaciada e hiperêmica. Essa condição, em geral, causa desconforto respiratório e espirro. Dentro de algumas horas ou poucos dias, a rinite serosa é modificada devido a alterações na secreção glandular, infecção bacteriana e aumento do conteúdo celular e proteico do exsudato. No caso da rinite catarral, o exsudato apresenta aspecto mais viscoso, uma vez que é rico em muco. A hiperemia e o edema na mucosa nasal tendem a ser mais acentuados do que na rinite serosa. A rinite catarral-purulenta ou mucopurulenta geralmente é uma evolução da rinite catarral. Nesse caso, há maior concentração de leucócitos no exsudato. A rinite purulenta está associada ao acúmulo de grande quantidade de neutrófilos e células epiteliais de descamação, o que confere aspecto de pus ao exsudato. Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório A rinite fibrinosa, também classificada como pseudodiftérica ou pseudomembranosa, corresponde a um processo inflamatório caracterizado pelo acúmulo de uma camada ou placa de fibrina, que também contém células inflamatórias e restos celulares, aderida à mucosa ainda íntegra. Rinite granulomatosa, que é um processo inflamatório crônico, em geral associado a alterações proliferativas, como fibrose. SINUSITE Sinusite é o termo utilizado para designar a inflamação dos seios paranasais. Entre as causas de sinusite, destacam-se: rinite (causa mais frequente); larvas de Oestrus ovis em ovinos; periodontite; e descorna e fraturas dos ossos do crânio com exposição dos seios. Nos casos de rinite catarral ou purulenta, frequentemente ocorre intumescimento da mucosa nasal com consequente oclusão do orifício de drenagem dos seios paranasais. Nesses casos, as secreções e os exsudatos presentes nos seios acumulam-se, resultando em sinusite. ALTERAÇÕES PROLIFERATIVAS Podem ocorrer neoplasias epiteliais benignas, como papiloma e adenoma, ou malignas, como o carcinoma de células escamosas. O carcinoma de células escamosas é a neoplasia mais comum na cavidade nasal de gatos, comum também em cavalos (Figura 1.10), sendo nesta última espécie a neoplasia nasal de maior ocorrência, e, ao contrário das demais espécies domésticas, na maioria das vezes, a neoplasia tem origem no seio maxilar, e não na cavidade nasal. Outra neoplasia epitelial maligna que ocorre na cavidade nasal é o adenocarcinoma, principalmente nos casos de tumor etmoidal enzoótico. O tumor etmoidal enzoótico acomete ovinos, caprinos e bovinos e é classificado morfologicamente como adenocarcinoma. FARINGE E BOLSAS GUTURAIS As bolsas guturais são divertículos ventrais das tubas de Eustáquio e, entre os animais domésticos, são encontradas somente nos equídeos. São bilaterais, localizadas ventrolateralmente ao encéfalo. O acúmulo excessivo de ar no interior das bolsas guturais caracteriza a condição chamada de timpanismo das bolsas guturais, que ocorre principalmente durante o primeiro ano de vida dos equídeos. Essa condição poderia ser considerada uma anomalia do desenvolvimento porque, em alguns casos, é atribuída a pregas da mucosa que funcionam como válvulas, que possibilitam a entrada de ar nas bolsas, mas impedem a saída deste. Contudo, aparentemente a maioria dos casos é considerada timpanismo adquirido, causado principalmente por edema da mucosa decorrente de inflamação aguda, resultando em obstrução da saída de ar das bolsas. LARINGE E TRAQUEIA ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO COLAPSO TRAQUEAL O colapso traqueal é caracterizado pelo achatamento dorsoventral da traqueia devido a uma alteração de seus semianéis cartilaginosos, que formam arcos muito abertos, e ao relaxamento da musculatura lisa que os sustenta. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS HEMORRAGIA Hemorragia pode ser observada com relativa frequência na mucosa da epiglote, em que geralmente observam-se hemorragias do tipo petequial. EDEMA As principais causas de edema nesses segmentos do trato respiratório são: inflamação aguda; doença do edema em suínos (causada por Escherichia coli toxigênica); e anafilaxia ou Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório hipersensibilidade tipo 1, que se desenvolve como resultado de exposição a alergênios potentes após sensibilização prévia. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS Devido à localização anatômica da laringe e da traqueia, as laringites e traqueítes geralmente estão associadas às inflamações do trato respiratório superior e inferior. Assim, as traqueítes geralmente estão associadas a bronquites e pneumonias, enquanto as laringites estão associadas a rinites, embora possam ocorrer isoladamente. Uma causa importante de laringite em bovinos e suínos é a extensão de necrobacilose oral, causada pela infecção por Fusobacterium necrophorum. Nesses casos, que são caracterizados por laringite necrótica, as lesões são bem demarcadas, com superfície amarela ou acinzentada e circundada por área de hiperemia da mucosa. Outras causas infecciosas de laringite incluem Histophilus somni (Haemophilus somnus), particularmente em bovinos adultos, Trueperella pyogenes, previamente denominado Arcanobaterium (Corynebacterium) pyogenes, em bezerros e ovinos, e o vírus da influenza A em suínos. Em alguns casos, o processo inflamatório é de origem não infecciosa, na laringite necrótica iatrogênica, provocada por sonda e nas traqueítes, decorrentes de traqueostomia.Com relação ao curso e tipo de exsudato, as laringites, traqueítes e laringotraqueítes podem ser classificadas de forma idêntica ao descrito nos casos de rinite, ou seja, podem ser agudas ou crônicas e estarem acompanhadas do acúmulo de diferentes tipos de exsudato. Quanto ao exsudato, podem ser classificadas como: serosa; catarral; catarropurulenta; purulenta; hemorrágica; fibrinosa; fibrinonecrótica; e granulomatosa. PULMÕES ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS EDEMA PULMONAR Se a quantidade de líquido no interstício ultrapassa a capacidade de drenagem linfática, ocorre extravasamento para o interior do alvéolo. Edema pulmonar é caracterizado pelo acúmulo de líquido nos alvéolos pulmonares, proveniente dos vasos sanguíneos. O fluido de edema que se acumula no alvéolo se mistura ao surfactante alveolar, e, em consequência dos movimentos respiratórios, ocorre formação de espuma, o que compromete ainda mais as trocas gasosas nos alvéolos, por impedir a entrada do ar inspirado no interior dos alvéolos. As causas de edema pulmonar são as mesmas causas gerais de edema, ou seja: aumento da pressão hidrostática, aumento da permeabilidade vascular, diminuição da pressão oncótica e obstrução da drenagem linfática. O aumento da pressão hidrostática intravascular favorece o extravasamento de líquido do compartimento vascular para o espaço intersticial e, posteriormente, para dentro dos alvéolos. Causa: edema cardiogênico, ICCE ou bilateral, hipervolemia. Edema pulmonar decorrente de aumento da permeabilidade vascular ocorre nos casos em que há lesão do endotélio dos capilares alveolares. O que ocorre de fato nesses casos é que, além de lesão do endotélio dos capilares alveolares, ocorre lesão no epitélio alveolar, particularmente nos pneumócitos tipo I. A lesão do epitélio alveolar favorece o extravasamento de líquido para o lúmen alveolar. Caudas: anafilaxia, estados de choque. Inalação de gases nocivos, toxinas sistêmicas, e estágios iniciais dos processos inflamatórios do pulmão. Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório Na diminuição da pressão oncótica do plasma, há diminuição acentuada na concentração de proteínas plasmáticas, particularmente a albumina, e, em consequência, o sangue perde sua capacidade de retenção de líquido intravascular pelo mecanismo osmótico. Decorrente de obstrução linfática, uma causa extremamente rara, que resulta de processos obstrutivos dos vasos linfáticos, como: linfadenites, linfossarcomas e linfangiomas. HEMORRAGIA Hemorragias são relativamente frequentes nos pulmões; em geral, localizam-se sob a pleura e comumente são do tipo petequial. As causas de hemorragia pulmonar são variadas e incluem: diáteses hemorrágicas; septicemias; toxemias; congestão intensa; ruptura de aneurisma; traumas; migração de larvas de ciclo hepatotraqueal, como larvas de Ascaris sp. em suínos; e erosão de vasos em casos de processos de tromboembolismo séptico. ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS ATELECTASIA Por definição, atelectasia é a expansão incompleta do pulmão, que pode ser localizada ou generalizada, e resulta no colapso de alvéolos previamente preenchidos por ar. Portanto, morfologicamente, a atelectasia é caracterizada pela condição na qual os alvéolos pulmonares encontram-se sem ar e sem nenhum outro conteúdo em seu interior. A atelectasia pode ser congênita, em decorrência da expansão incompleta dos alvéolos, ou adquirida, devido ao colapso alveolar. A atelectasia congênita pode ser subclassificada em total ou parcial (focal ou multifocal). A atelectasia adquirida, por sua vez, pode ser obstrutiva, devido à obstrução total de vias respiratórias, ou compressiva, por compressão externa do parênquima pulmonar. A atelectasia congênita é difusa, caracterizando atelectasia pulmonar total, que ocorre nos casos de animais natimortos que não tiveram nenhum movimento respiratório. Nesses casos, nenhum fragmento do parênquima pulmonar flutua quando colocado em recipiente com água. A atelectasia congênita também pode ser focal ou multifocal, nos casos de animais neonatos que têm movimentos respiratórios fracos devidos à debilidade (Figura 1.30) ou lesão nos centros respiratórios do sistema nervoso central, que geralmente é provocada por hipoxia, principalmente nos casos de distocia, decorrente de trabalho de parto laborioso e demorado. A atelectasia obstrutiva é a forma mais comum e decorre da obstrução total de uma determinada via respiratória, quando a ventilação colateral não é suficiente para a expansão da área afetada. A atelectasia compressiva é causada por lesões pleurais, mediastinais ou pulmonares, que ocupam espaço na cavidade torácica e, consequentemente, comprimem o parênquima pulmonar, como: hidrotórax; hemotórax; quilotórax; pleurite exsudativa com piotórax; processos neoplásicos do mediastino e do pulmão; e pneumotórax. EFISEMA Carece de importância clínica, exceto em equinos. Por definição, enfisema pulmonar significa distensão excessiva e anormal dos alvéolos associada à destruição de paredes alveolares, o que caracteriza excesso de ar nos pulmões, ou seja, condição contrária à atelectasia. Nas espécies domésticas, o enfisema pulmonar pode ser de dois tipos: alveolar e intersticial. O enfisema alveolar (vesicular) é caracterizado por excesso de ar nos alvéolos, acompanhado ou não de destruição de paredes alveolares. Caso haja destruição de paredes alveolares, o processo torna-se irreversível. A patogênese do enfisema alveolar envolve a obstrução parcial ou “obstrução expiratória” da árvore brônquica. Isso faz com que, como resultado de uma obstrução brônquica parcial, ocorra entrada de ar nos Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório alvéolos por ocasião da inspiração, mas não ocorra a saída do ar durante a expiração. O enfisema alveolar é mais importante na espécie equina, particularmente na doença conhecida como complexo bronquiolite-enfisema crônico, que acomete principalmente animais mantidos em baias e ambientes empoeirados. Essa condição também é conhecida como asma equina ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Macroscopicamente, a área afetada encontra-se aumentada de volume, uma vez que não ocorre colapso da área enfisematosa, que tem coloração róseo-clara, superfície elevada em relação às áreas normais, consistência fofa e hipercrepitante, deixando impressão dos dedos à palpação. O enfisema intersticial (tipo rosário) é caracterizado pelo acúmulo de ar no interstício, ou seja, nos septos interlobulares e, eventualmente, no conjuntivo subpleural e vasos linfáticos. Macroscopicamente, são observadas bolhas de ar nos septos interlobulares, o que confere um aspecto semelhante ao de um rosário ao septo interlobular. Essa lesão ocorre em espécies que têm pulmão septado (com lobulação completa e ausência de ventilação colateral). Por isso, essa lesão é observada frequentemente em bovinos, com baixa frequência em suínos e raramente em equinos, não ocorrendo em outras espécies de animais domésticos. ALTERAÇÕES INFLAMATÓRIAS As pneumonias podem ser classificadas quanto ao curso em superaguda, aguda, subaguda e crônica. Quanto ao tipo de exsudato produzido, as pneumonias podem ser classificadas em catarral, fibrinosa, purulenta, hemorrágica, necrótica e granulomatosa. BRONCOPNEUMONIA A característica mais importante para classificar um processo pneumônico como broncopneumonia é o local de origem do processo inflamatório, o qual, nesse caso, é a junção bronquíolo-alvéolo. Nas broncopneumonias, os agentes causadores chegam ao pulmão por via aerógena ou broncogênica. Localização das lesões nos casos de broncopneumonias é cranioventral. A predileção pelas porções cranioventrais se deve aos seguintes fatores: menor extensão dasvias respiratórias que suprem essa região, o que proporciona menor eficiência na filtragem do ar inspirado pelo lençol mucociliar; maior turbilhonamento do ar nessa área, o que pode causar maior desgaste do epitélio; e a ação da gravidade, que dificulta a eliminação das partículas infecciosas e de exsudato dessas porções do pulmão. De maneira geral, as características macroscópicas da broncopneumonia são áreas de consolidação ou hepatização (a consistência da área lesionada fica semelhante à do fígado) cranioventrais, de coloração vermelho-escura ou acinzentada, localizada nas porções cranioventrais, sempre seguindo a orientação lobular. Podem ocorrer coalescência e comprometimento de todo o lobo. Ao corte, observa-se superfície úmida, quando o processo é supurado (exsudato mucopurulento ou purulento nas vias respiratórias), ou superfície ressecada, quando o exsudato é do tipo fibrinoso. A broncopneumonia apresenta evolução cronológica das lesões com características morfológicas distintas. Inicialmente, ocorre a fase de congestão, que é seguida da hepatização vermelha; posteriormente, a hepatização cinzenta e, finalmente, a fase de resolução. A fase de congestão é caracterizada por dilatação dos capilares dos septos alveolares. Macroscopicamente, as áreas afetadas apresentam-se aumentadas de volume, de consistência um pouco mais firme do que o normal e de coloração vermelho-escura; além disso, flui grande quantidade de sangue ao corte. Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório Os fragmentos, imersos em água, não submergem, uma vez que, nessa fase, ainda existe ar dentro dos alvéolos. (Poucas Horas) Na fase de hepatização vermelha, há grande quantidade de hemácias dentro dos alvéolos, sendo possível observar também alguns leucócitos e fibrina (2 a 3 dias). Macroscopicamente, as áreas afetadas estão aumentadas de volume (não estão deprimidas em relação ao parênquima normal, como na atelectasia) e têm coloração vermelho-escura e consistência firme. A fase de hepatização cinzenta é caracterizada pela intensa presença de leucócitos, predominantemente neutrófilos, nos alvéolos. Essa fase tem duração de aproximadamente 4 a 5 dias. Macroscopicamente, é semelhante à fase anterior, mas a coloração é acinzentada, e não necessariamente há elevação em relação à superfície do órgão. Durante a fase de resolução, os agentes infecciosos são eliminados, e a fibrina é liquefeita por substâncias líticas produzidas pelos neutrófilos. Ao final de poucos dias, o material liquefeito ou parcialmente liquefeito é expelido ou drenado pelos linfáticos. O epitélio alveolar se regenera, e, em curto espaço de tempo, o pulmão volta à normalidade morfológica e funcional. A resolução das broncopneumonias é quase sempre incompleta nos ruminantes e suínos, uma vez que a ventilação colateral nessas espécies é ausente ou pouco desenvolvida, o que dificulta a expulsão do exsudato das vias respiratórias. Por isso, a broncopneumonia nos bovinos frequentemente resulta em atelectasia, bronquite com bronquiectasia supurada crônica e bronquiolite. PNEUMONIA LOBAR A pneumonia lobar também tem início na junção bronquíolo-alvéolo, geralmente afeta as porções cranioventrais e os agentes causadores chegam ao pulmão por via aerógena ou broncogênica, de maneira idêntica ao que ocorre nas broncopneumonias. A diferença entre esses dois processos é que a evolução da pneumonia lobar é mais rápida e o processo é mais extenso. Quanto ao curso, a pneumonia lobar pode ser classificada em superaguda e aguda. Nesses casos, geralmente o processo não progride para cronicidade devido à evolução rápida e à alta taxa de letalidade. Quanto ao tipo de exsudato, a pneumonia lobar pode ser classificada em fibrinosa ou fibrinopurulenta (mais comum), hemorrágica ou necrótica. Macroscopicamente, a pneumonia lobar é caracterizada por áreas de consolidação cranioventrais, envolvendo difusamente os lobos, em geral a totalidade de um ou mais lobos, que se apresentam de coloração ou uniforme, com espessamento da pleura e alargamento dos septos interlobulares, devido à exsudação de fibrina e ao edema. É comum a presença de áreas de necrose. PNEUMONIA INTERSTICIAL No caso da pneumonia intersticial, o local de origem do processo é diferente dos padrões de pneumonia descritos anteriormente, uma vez que o processo tem início nos septos alveolares, não ocorrendo envolvimento das vias respiratórias. Outra característica da pneumonia intersticial é que a via de infecção é, na maioria dos casos, hematógena, embora a via broncogênica também ocorra na pneumonia intersticial, particularmente nos casos de inalação de gases pneumotóxicos. Ao contrário da broncopneumonia e da pneumonia lobar, o curso da pneumonia intersticial é geralmente crônico, embora ocorra um estágio inicial agudo. A sequência de eventos no desenvolvimento das lesões envolve, inicialmente, lesão difusa das paredes alveolares, seguida por um período breve de exsudação e, em seguida, estabelecimento da fase crônica, caracterizada por uma resposta proliferativa e fibrótica. Medicina Veterinária Patologia Especial e Diagnóstico Post Mortem Rebeca Meneses Rebeca Woset Sistema Respiratório Macroscopicamente, a pneumonia intersticial se caracteriza por áreas de consolidação difusas por todo o pulmão, principalmente nas porções dorsocaudais. PNEUMONIA GRANULOMATOSA O modelo típico de pneumonia granulomatosa é a tuberculose pulmonar. Essa doença acomete todas as espécies de animais domésticos, porém é mais prevalente em bovinos. O principal agente etiológico nos bovinos é o Mycobacterium bovis. Macroscopicamente, as pneumonias granulomatosas se apresentam sob a forma de nódulos de tamanhos variáveis distribuídos pelo parênquima pulmonar (granulomas). No caso da tuberculose, as porções centrais dos nódulos contêm material necrótico caseoso e, às vezes, mineralizado. PNEUMONIA TROMBOEMBÓLICA (OU EMBÓLICO-METASTÁTICA) Pneumonia tromboembólica é consequência da fixação de êmbolos sépticos (bacterianos) provenientes de processos inflamatórios e infecciosos em outros órgãos, que atingem os pulmões por via hematogênica. As causas mais frequentes em cão, suíno e bovino são as endocardites valvulares e, nos ovinos, a linfadenite caseosa. Macroscopicamente, observam-se múltiplos abscessos pulmonares de tamanhos variados, e alguns se apresentam como pequenos pontos amarelados ou esbranquiçados correspondentes a microabscessos, localizados principalmente nas regiões dorsolaterais dos pulmões, embora a distribuição frequentemente seja aleatória. A consolidação, nesses casos, geralmente tem distribuição multifocal.
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