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1 Módulo II Hanna Briza INTRODUÇÃO A pneumonia ocorre quando uma infecção do parênquima pulmonar causa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pulmonar na radiografia de tórax. A pneumonia pode ser definida: → Ponto de vista histológico: preenchimento do espaço alveolar por infiltrado necroinflamatório. → Ponto de vista clínico: infecção aguda do pulmão decorrente da infecção por algum microrganismo. CLASSIFICAÇÕES As pneumonias são classificadas como adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais. PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC) Refere-se à doença: → Adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou → Que se manifesta em até 48h da admissão na unidade assistencial. PNEUMONIAS ASSOCIADAS AOS CUI DADOS DE SAÚDE (PACS) Ocorrem em pacientes: → Encontram-se institucionalizados; → Estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes; → Que têm contato frequente com instituições de saúde (p. ex. hemodiálise, tratamento de feridas, antibióticos intravenosos ou quimioterapia); → Imunossuprimidos. PNEUMONIA NOSOCOMIAL Surge: → Pelo menos, 48h depois da admissão hospitalar ou → Desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. Essa categoria inclui: → Pneumonia adquirida no hospital (PAH): pneumonia adquirida ≥ 48h após a internação hospitalar → Pneumonia associada a ventilação mecânica (PAVM): pneumonia adquirida ≥ 48h após a intubação endotraqueal. EPIDEMIOLOGIA → A PAC constitui uma das principais causas de morte no mundo, com alto impacto nas taxas de morbidade. → No Brasil, como em outros países, houve uma redução das taxas de mortalidade por infecções do trato respiratório, apesar dessa redução ter sido menor nas úl- timas décadas. → Dentre as pneumonias, a PAC persiste como a de maior impacto e é a 3º causa de mortalidade no meio médico. → A incidência é alta entre lactentes e crianças, diminui durante a infância, permanece incomum em adultos jovens, mas depois começa a aumentar após os 50 anos de idade e, em especial, após os 65 anos. → A pneumonia bacteriana não é só mais prevalente entre os idosos como também é mais grave, com um risco de morte progressivamente crescente com o avançar da idade. → Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), a pneumonia é uma das principais causas de internação no Brasil, perdendo apenas para parto/puerpério que não são considerados doenças. FATORES DE RISCO A maioria dos adultos de qualquer idade que desenvolve uma pneumonia bacteriana apresenta frequentemente 1 ou mais condições predisponentes. → A mais comum é a infecção respiratória viral prévia, que aumenta a adesão das bactérias às células epiteliais respiratórias e altera os mecanismos do clearance devido à interferência com a ação ciliar. Outros fatores predisponentes incluem: → Desnutrição: fragiliza o sistema imunológico; → Consumo excessivo de álcool: diminui o reflexo da tosse e afeta a migração dos leucócitos; → Tabagismo: aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar; → Doença hepática ou renal: diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos; → Diabetes melito: diminui a função e a mobilização dos leucócitos; → Deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. Diferentemente da pneumonia bacteriana, a pneumonia viral ou por Mycoplasma ocorre quando esses organismos são transmitidos a hospedeiros imunologicamente “imaturos”. A presença ou ausência de uma imunidade prévia e a competência do sistema imunológico parecem ser os principais determinantes da ocorrência de infecção. ETIOLOGIA PNEUMONIA ADQUIRIDA EM COMUNIDADE (PAC) Streptococcus pneumoniae (pneumococo) e vírus respiratórios são os patógenos mais frequentemente detectados em pacientes com PAC. Em uma grande proporção de casos (até 62%), nenhum patógeno é detectado, pela dificuldade de se obter amostras fidedignas e respostas em tempo hábil, tornando a coleta de exames específicos uma prática não habitual. 2 Módulo II Hanna Briza As causas de PAC mais comumente identificadas podem ser agrupadas em 3 categorias: 1. Bactérias típicas 2. Bactérias atípicas 3. Vírus respiratórios Vírus influenza A e B BACTÉRIAS TÍPICAS: → S. pneumoniae (causa bacteriana mais comum) → Haemophilus influenzae → Moraxella catarrhalis → Staphylococcus aureus → Estreptococos do grupo A → Bactérias gram-negativas aeróbicas (ex: Enterobacteriaceae como Klebsiella spp ou Escherichia coli) → Bactérias microaerofílicas e anaeróbios (associadas à aspiração) BACTÉRIAS ATÍPICAS “atípica” refere-se à resistência intrínseca desses organismos aos beta-lactâmicos e sua incapacidade de serem visualizadas na coloração de Gram ou cultivadas usando técnicas tradicionais: → Legionella spp → Mycoplasma pneumoniae → Chlamydia pneumoniae → Chlamydia psittaci → Coxiella burnetii VÍRUS RESPIRATÓRIOS VÍRUS INFLUENZA A E B → Rinovírus → Vírus parainfluenza → Adenovírus → Vírus sincicial respiratório → Metapneumovírus humano → Coronavírus (ex: Síndrome respiratória no Oriente Médio) → Bocavírus humanos. A prevalência desses patógenos varia: → Geografia → Taxas de vacinação contra pneumococos → Fatores de risco do hospedeiro (ex: tabagismo → Estação do ano → Gravidade da pneumonia. Certas exposições epidemiológicas também aumentam a probabilidade de infecção por um patógeno específico. Como exemplos: → Exposição à água contaminada é um fator de risco para a infecção por Legionella; → Exposição à aves aumenta a possibilidade de infecção por C. psittaci; → Viagens ou residência no sudoeste dos Estados Unidos deve levantar suspeitas de coccidioidomicose; → Falta de higiene dental pode predispor à pneumonia causada pela flora oral ou anaeróbios. Em pacientes imunocomprometidos, o espectro de possíveis patógenos também se amplia, incluindo fungos e parasitas, bem como patógenos bacterianos e virais menos comuns. PNEUMONIA ADQUIRIDA NO HOSPITAL (PAH) Surge após 48 horas de internação hospitalar e pode ser: → Precoce: ocorre até o 4º dia de internação → Tardia: ocorre após 5 ou mais dias de internação. A PAH DE INÍCIO PRECOCE → É mais ocasionada por microrganismos que são associados também à PAC, tais como S. pneumoniae, H. influenzae e anaeróbios. A PAH DE INÍCIO TARDIO → É causada principalmente por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (MRSA); bacilos Gram-negativos entéricos; P. aeruginosa; não fermentadores, tais como Acinetobacter baumannii e S. maltophilia; e infecções polimicrobianas. Fatores que aumentam o risco de PAH incluem: → Exposição à antibióticos → Idade avançada → Comorbidades graves → Imunossupressão de base → Colonização da orofaringe por microrganismos virulentos → Condições que promovem a aspiração pulmonar ou inibem a tosse como, por exemplo, cirurgia 3 Módulo II Hanna Briza toracoabdominal, intubação traqueal, inserção do tubo nasogástrico e posição supina → Exposição à equipamentos respiratórios contaminados. Um estudo recente sugere que os microrganismos multirresistentes são mais frequentes na PAH de início precoce do que antes se imaginava, e que os fatores de risco para a pneumonia de início precoce devem ser reavaliados. PNEUMONIA ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE (PACS) Essas infecções possuem uma epidemiologia única mais semelhante àquela observada nas infecções adquiridas no hospital. → S. aureus (tanto sensível à meticilina quanto resistente à meticilina) → P. aeruginosa São os microrganismos mais frequentemente associados. FISIOPATOLOGIA Os microrganismos causadores da pneumonia podem atingir os alvéolos pulmonares de 3 formas: 1. Através da microaspiraçãodo material proveniente das vias aéreas superiores; 2. Menos comumente: através da inalação de aerossol contaminado do ambiente; 3. Via hematogênica. ASPIRAÇÃO DO MATERIAL DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES Os microrganismos infectantes podem atingir os alvéolos e desenvolver pneumonia devido: Aspiração de pequenas quantidades: → Aspiração de secreções nasofaríngeas ou de conteúdos da boca, em especial durante o sono (algum grau de aspiração ocorre de forma normal). → Aspirações mais importantes, contudo, são mais frequentes em pessoas mais idosas, particularmente naquelas mais frágeis ou acamadas. A aspiração maciça: → Ocorre, por ex., em pessoas que apresentam con- vulsões, que se engasgam enquanto vomitam ou em indivíduos cujo reflexo da tosse está diminuído pelo álcool, drogas ou doenças neurológicas. → Nesses pacientes, a síndrome clínica de pneumonia aspi- rativa inclui os efeitos dos microrganismos e do material aspirado, assim como do ácido gástrico. INALAÇÃO DIRETA DO MATERIAL EM AEROSSÓIS A pneumonia também pode ser causada por inalação direta de material em aerossóis para os pulmões. Esse processo é incomum para a maioria das pneumonias bacterianas: → Porém: é característico do Mycobacterium tuberculosis e do Bacillus anthracis. → Esse mecanismo também explica a infecção por alguns vírus, como o da influenza ou sincicial respiratório. V IA HEMATOGÊNICA As bactérias também podem atingir os pulmões através da corrente sanguínea, ser filtradas pelos mecanismos normais do clearance do hospedeiro, mas depois escapar e causar pneumonia. → A pneumonia por S. aureus é comumente causada por disseminação hematogênica, em especial se uma infecção endovascular como a endocardite estiver presente. → A Escherichia coli e outros bacilos Gram-negativos podem, ainda, causar pneumonias através de dissemi- nação hematogênica. MECANISMO DE DEFESA Um conjunto de mecanismos de defesa do hospedeiro protege o trato respiratório inferior da entrada de organismos infecciosos, como: → Configuração das vias aéreas → Produção de imunoglobulina A secretora (IgA) → Ação ciliar das células epiteliais, entre outros. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as de- fesas inatas e específicas entram em ação. Se esses mecanismos de defesa falharem: Essa sequência inicia um círculo vicioso, onde células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana: → A resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. → Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão, gerando hipoxemia. PATOGÊNESE DA PAC: 1. Chegada do patógeno no espaço alveolar. 2. Multiplicação descontrolada do patógeno. 3. Produção local de citocinas principalmente por macrófagos alveolares. 4. Recrutamento de neutrófilos para o espaço alveolar e introdução de citocinas na circulação sistêmica. 5. Geração do exsudato alveolar. AS BACTÉRIAS REPLICAM NOS ALVÉOLOS ESTIMULAM A PRODUÇÃO LOCAL DE CITOCINAS CAUSAM EXTRAVASAMENTO CAPILAR E ACÚMULO DE PLASMA E CÉLULAS INFLAMATÓRIAS 4 Módulo II Hanna Briza Ao contrário da pneumonia bacteriana, o vírus influenza: → Invade diretamente as células do epitélio cilíndrico → Causam alterações patológicas que vão desde a vacuo- lização de algumas células epiteliais respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas alterações dispersas que originam o padrão intersticial difuso observado na radiografia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica da PAC varia amplamente: → Pneumonia leve: apresentando febre, tosse e falta de ar, até... → Pneumonia grave: caracterizada por sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. Quadro clínico: típico clássico da PAC é representado pela pneumonia pneumocócica. A doença se apresenta de forma: → Hiperaguda, entre 2 e 3 dias, → Presença de calafrios, tremores, febre alta (39-40ºC), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. O exame físico: → Normalmente evidencia prostração, taquipneia, taquicardia e hipertermia. → Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndrome de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. S INAIS E S INTOMAS PULMONARES Incluem: → Tosse (com ou sem produção de escarro); → Dispneia; → Dor no peito tipo pleurítica. Achados do exame físico incluem: → Taquipneia → Aumento do esforço respiratório → Sons respiratórios adventícios, incluindo estertores e roncos. → Frêmito toracovocal, egofonia → Macicez à percussão também sugerem pneumonia. Esses sinais e sintomas resultam do acúmulo de leucócitos, fluidos e proteínas no espaço alveolar. A hipoxemia: → Resulta do comprometimento subsequente das trocas gasosas alveolares. Na radiografia de tórax: → O acúmulo de leucócitos e líquido dentro dos alvéolos aparece como opacidades pulmonares. S INAIS E S INTOMAS SISTÊMICOS A grande maioria dos pacientes com PAC apresenta febre. Outros sintomas sistêmicos: → Calafrios → Fadiga → Mal-estar → Anorexia também são comuns. → Taquicardia → Hemograma: • Leucocitose neutrofílica com desvio para a esquerda ou • Leucopenia também são achados ocasionados pela resposta inflamatória sistêmica, sendo a leucopenia um sinal de mau prognóstico. → Elevação de marcadores inflamatórios: • VHS • PCR • Procalcitonina (altamente específico para infecções bacterianas). SÍNDROME DA CONSOLIDAÇÃO PULMONAR •Presença de som bronquial •Aumento do frêmito toracovocal •Submacicez •Broncofonia SÍNDROME DO DERRAME PLEURAL •Abolição do murmúrio vesicular e do frêmito torocovocal •Submacicez •Egofonia 5 Módulo II Hanna Briza → Bioquímica: • Na maioria das vezes é normal • Pode evidenciar hiponatremia em alguns casos. A pneumonia por Legionella pneumophila, por exemplo, costuma cursar com hiponatremia grave e elevação de enzimas hepáticas. A gasometria arterial tem como achados mais frequentes a hipoxemia e a alcalose respiratória. Embora certos sinais e sintomas como febre, tosse, taquicardia e estertores sejam comuns entre pacientes com PAC, esses achados são inespecíficos e são compartilhados entre muitos distúrbios respiratórios. Nenhum sintoma individual ou constelação de sintomas é adequado para o diagnóstico sem imagens do tórax. Sinais e sintomas de pneumonia também podem ser sutis em pacientes com idade avançada e/ou sistema imunológico comprometido, e maior suspeita pode ser necessário para o diagnóstico. Exemplo: → Pacientes mais velhos podem apresentar alterações no estado mental, sem apresentar febre ou leucocitose. → Em pacientes imunocomprometidos, os infiltrados pulmonares podem não ser detectáveis nas radiografias de tórax, mas podem ser visualizados com TC de tórax. DIAGNÓSTICO RECOMENDAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DE MÉTODOS DE IMAGEM NA PAC O diagnóstico de PAC geralmente: A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina, quando disponível, nas incidências posteroanterior (PA) e perfil. Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxiliar no diagnóstico diferencial. Os achados radiográficos consistentes com o diagnóstico de PAC incluem: → Consolidações lobares → Infiltrados intersticiaise/ou cavitações. Embora certas características radiográficas sugiram certas causas de pneumonia (por exemplo, consolidações lobares quase sempre são causadas por pneumococo, embora possam eventualmente surgir da evolução de uma pneumonia estafilocócica): A aparência radiográfica sozinha não pode diferenciar de maneira confiável as etiologias. Não há consenso nas recomendações a respeito do manejo da PAC na atenção primária, especialmente no que tange à realização de exames complementares, muitas vezes não disponíveis de imediato. Sendo assim, quando o clínico está seguro do diagnóstico, a realização da radiografia de tórax não é necessária para dar início ao tratamento, e os antimicrobianos podem ser prescritos adequadamente. Porém, menos de 40% dos médicos são capazes de diagnosticar pneumonias com base somente no exame físico. Sendo assim, a radiografia deveria ser obrigatória para pacientes com suspeita de PAC. A radiografia de tórax está recomendada também quando há dúvida quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferencial com câncer de pulmão, assim como quando, durante o seguimento do tratamento, a resposta clínica for insatisfatória. A realização da radiografia de tórax está recomendada para todos os pacientes admitidos ao hospital. Ultrassonografia de tórax (UST): maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de altera- ções parenquimatosas. Principais achados ultrassonográficos na PAC são: → Consolidações; → Padrão intersticial focal; → Lesões subpleurais; → Anormalidades na linha pleural. UST apresenta alto rendimento na detecção de complicações como o derrame pleural, além de permitir a visualização de loculações na cavidade. DEMONSTRAÇÃO DE UM INFILTRADO NA IMAGEM DO TÓRAX SÍNDROME CLINICAMENTE COMPATÍVEL, POR EX.: FEBRE, DISPNEIA, TOSSE E PRODUÇÃO DE ESCARRO A PAC também é a principal causa de sepse; assim, a apresentação inicial pode ser caracterizada por hipotensão, estado mental alterado e outros sinais de disfunção orgânica, como disfunção renal, disfunção hepática e/ou trombocitopenia. Todo paciente idoso debilitado, ou qualquer paciente com doença de base que evolui com redução do nível de consciência, piora do estado geral ou taquidispneia deve ter a pneumonia bacteriana como um dos seus diagnósticos diferencias, mesmo na ausência de febre, tosse produtiva e leucocitose. O infiltrado alveolar do tipo broncopneumônico é o achado radiológico mais frequente na pneumonia bacteriana, independente do agente etiológico. 6 Módulo II Hanna Briza Tomografia de tórax: método mais sensível na identificação de aco- metimento infeccioso do parênquima pulmonar, porém trata-se de um método de alto custo e alta exposição à radiação. É um exame útil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes obesos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias. Indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados. Devido à alta exposição radiológica pela TC, alguns autores sugerem o uso da UST como teste auxiliar intermediário antes do uso da TC no diagnóstico em casos difíceis. Ressalta-se ainda a importância da TC de tórax para a avaliação de complicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, além da investigação da falta de resposta clínica ao tratamento. AVALIAÇÃO DA GRAVIDADE E DEF INIÇÃO DO LOCAL DE TRATAMENTO Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença, pois isso tem impacto direto na redução da mortalidade. Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão quanto: → Local de tratamento (ambulatorial, hospitalar ou UTI); → Necessidade de investigação etiológica; → Escolha do antibiótico e sua via de administração. Os instrumentos validados incluem: → Pneumonia Severity Index (PSI). → Mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65): • Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score); • Ureia > 50 mg/dl; • Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; • Blood pressure: pressão arterial sistólica < 90 mmHg ou pressão arterial diastólica < 60 mmHg; • Idade ≥ 65 anos. → CRB-65: forma simplificada sem a dosagem de ureia; As diretrizes da American Thoracic Society/Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA) de 2007. → Systolic blood pressure, Multilobar involvement, Albumin, Respiratory rate, Tachycardia, Confusion, Oxy- genation, and pH (SMART-COP); → Severe Community-Acquired Pneumonia (SCAP). Os três últimos instrumentos estão relacionados à pneumonia grave e internação em UTI. Recomenda-se que o paciente com PAC seja avaliado objetivamente na sala de emergência quanto a gravidade inicial e identificação precoce do risco de evolução para desfechos graves, como: → Necessidade de admissão à UTI; → Desenvolvimento de sepse grave; → Necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não invasivo, de suporte inotrópico; → Risco de falência terapêutica (SCAP, SMART-COP ou ATS/ISDA simplificado, embora necessitem ainda maior validação externa). Na ausência de PAC grave, sem indicações socioeconômicas de internação, sem doenças associadas descompensadas, hipoxemia, impossibilidade de ingestão oral de medicamentos, sem presença de pelo menos 2 pontos no escore CURB-65, ou de pelo menos 1 no escore CRB-65, ou ainda mais que 70 pontos no PSI, o médico assistente deve considerar o tratamento ambulatorial para pa- cientes com PAC. 7 Módulo II Hanna Briza INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA NA PAC Embora possa haver resposta inadequada a alguns tratamentos empíricos, a realização de testes etiológicos não é necessária nos casos de pacientes com PAC não grave em tratamento ambulatorial. Assim, permanecem as recomendações somente para pacientes com PAC grave, não respondedora à terapia empírica inicial e internados em UTI. Pacientes com PAC grave devem ser investigados etiologicamente com os exames básicos disponíveis: → Exame direto e cultura de escarro; → Hemocultura; → Testes para detecção de antígenos urinários para S. pneumoniae e Legionella sp.; → Testes sorológicos e eventual cultura para germes atípicos. Em casos selecionados e em um contexto clínico apropriado, culturas especiais e testes de galactomanana e 1-3-beta-glucana para fungos, assim como os mais recentes testes antigênicos ou de biologia molecular para vírus e germes atípicos, podem ser realizados, mas com pouca indicação no manejo habitual da PAC. Para pacientes em ventilação mecânica, pacientes não respondedores à terapêutica empírica inicial ou aqueles com suspeita de agentes etiológicos menos comuns, assim como em casos que necessitem diagnóstico diferencial com doença pulmonar não infecciosa (exemplos: tumores, vasculites ou doença intersticial pulmonar), pode ser necessária coleta de amostras de forma invasiva via broncoscopia, aspiração endotraqueal, lavado broncoalveolar ou toracocentese em casos com derrame pleural do mesmo lado da lesão. 8 Módulo II Hanna Briza DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Várias doenças podem manifestar febre e opacidades radiográficas no tórax e mimetizar a PAC, sendo assim, deve ser suspeitado quando a resolução radiológica é raramente rápida ou quando há falta de resposta aos tratamentos iniciais ou subsequentes com antibióticos. Em pacientes com PAH e particularmente naqueles com PAV, os sinais e sintomas clássicos de pneumonia, incluindo novas altera- ções radiográficas, febre, leucocitose ou leucopenia e secreções purulentas, não são suficientemente sensíveisnem específicos para confirmar a presença de uma infecção pulmonar. Condições que podem mimetizar a pneumonia: → Atelectasia; → Hemorragia pulmonar; → SDRA; → Embolia pulmonar, entre outras. Em pacientes com suspeita de PAH ou PAV, a confirmação microbiológica de pneumonia é importante no intuito de evitar tratamentos desnecessários e resistência aumentada aos antibióticos. TRATAMENTO TRATAMENTO AMBULATORIAL O tratamento antibiótico inicial é definido de forma empírica devido à impossibilidade de se obter resultados microbiológicos logo após o diagnóstico da PAC, o que permitiria escolher antibióticos dirigidos a agentes específicos. A escolha do antibiótico deve levar em consideração: 1) Patógeno mais provável no local de aquisição da doença; 2) Fatores de risco individuais; 3) Presença de doenças associadas; 4) Fatores epidemiológicos, como viagens recentes, alergias e relação custo-eficácia. Proposta da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) na publicação “Recomendações para o manejo da pneumonia adquirida na comunidade” de 2018: uso de monoterapia com ẞ-lactâmico ou macrolídeos para os pacientes ambulatoriais, sem comorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Nesses casos, sugere-se evitar o uso das fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência norte-americana Food and Drug Administration sobre o potencial risco de efeitos colaterais graves. Essas drogas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento, situações essas em que os benefícios superariam os potenciais riscos. Quanto aos macrolídeos, a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC. Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos três meses anteriores; quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25%, o que ocorre, por exemplo, nos EUA e em alguns outros países; e na presença de doenças associadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, alcoolismo ou imunossupressão). Nesses casos, recomenda-se para o tratamento ambulatorial da PAC associar macrolídeos a um ẞ-lactâmico ou realizar monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória por pelo menos 5 dias. TRATAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM ENFERMARIAS A recomendação atual da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia é o emprego de ẞ-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória isolada. Um ẞ-lactâmico isolado pode ser usado se houver exclusão confirmada de Legionella sp. TRATAMENTO DE PACIENTES INTERNADOS EM UTI A terapia combinada deve ser recomendada por reduzir a mortalidade. A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo e um ẞ-lactâmico, ambos por via endovenosa. DURAÇÃO DA ANTIBIOTICOTERAPIA A duração ideal da antibioticoterapia no tratamento da PAC não está ainda definitivamente estabelecida. A antibioticoterapia de curta duração parece ser a mais apropriada, pois proporciona menor exposição do paciente à ação de antibióticos, reduz a ocorrência de efeitos adversos, diminui o desenvolvimento de resistência por parte dos microrganismos, melhora a adesão dos pacientes e pode minimizar o tempo de internação e os custos financeiros. No entanto, o tratamento curto deve ser tão eficaz quanto os tratamentos mais longos no que diz respeito às taxas de mortalidade, complicações e recorrência da doença. A duração do tratamento pode ser diferente conforme a gravidade da PAC. Recomenda-se que para a PAC de baixa gravidade e com tratamento ambulatorial, esse seja feito com monoterapia e por 5 dias. 9 Módulo II Hanna Briza A PAC de moderada a alta gravidade deve ser tratada com os esquemas antibióticos discutidos abaixo, por períodos de 7 a 10 dias. O tratamento pode ser estendido até 14 dias a critério do médico assistente. TRATAMENTO ADJUVANTE O uso de corticoides na PAC grave mostrou-se tanto seguro como benéfico em diversos desfechos clínicos importantes. Entretanto, são necessários novos estudos que confirmem o impacto dessa terapia sobre a mortalidade relacionada à PAC, apesar das meta- análises sugerirem a redução dessa taxa, sobretudo no subgrupo com apresentação mais grave. Em caso de infecção causada por um microrganismo com concentração inibitória mínima > 0,5 mg/l, é conveniente administrar o antimicrobiano a cada 8 h para evitar a seleção de cepas resistentes. PNEUMONIA ADQUIRIDA NO HOSPITAL E PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO A terapia empírica da PAV é necessariamente ampla, pois a variedade de patógenos potenciais é grande e a mortalidade é aumentada quando o patógeno responsável é resistente ao regime empírico inicial com antibióticos. Os regimes empíricos recomendados incluem agentes ẞ-lactâmicos de amplo espectro, geralmente em combinação com aminoglicosí- deos e com cobertura para MRSA. O ẞ-lactâmico empírico deve ser baseado nos padrões de sensibilidade aos antibióticos para patógenos Gram-negativos comuns na instituição de relevância ou na unidade específica. Os antibióticos empíricos para a PAH são menos estudados. A PAH em pacientes não entubados é uma mistura de patógenos da PAC e patógenos encontrados na PAV, embora a frequência dos da PAV seja provavelmente menor, principalmente em casos que se apresentem precocemente após a admissão. O risco mais acentuado de patógenos MDR em pacientes não entubados com PAH é a terapia antibiótica recente, e a monoterapia provavelmente é adequada para a maior parte dos pacientes sem exposição recente aos antibióticos. Ticarcilina-clavulanato e piperacilina-tazobactam são os ẞ- lactâmicos/inibidores de ẞ1-lactamase preferidos para o tratamento de pneumonia nosocomial. Levofloxacina (IV ou VO), Gatifloxacina (IV ou VO), Moxifloxacina (IV ou VO) ou Gemifloxacina (VO) são preferidas para Streptococcus pneumoniae. 10 Módulo II Hanna Briza A ciprofloxacina apresenta a melhor atividade in vitro contra Pseudomonas aeruginosa. A pneumonia nasocomial grave, necessitando de cuidado em UTI, é caracterizada por progressão radiográfica, doença multilobar ou cavitação. Todos os outros casos de pneumonia nosocomial são considerados como formas brandas a moderadas. Critérios de alto risco incluem: → Idade superior a 65 anos; → Pancreatite; → Doença pulmonar obstrutiva crônica; → Disfunção do sistema nervoso central (acidente vascular encefálico, overdose de drogas, coma, estado epiléptico); → Insuficiência cardíaca congestiva; → Desnutrição; → DM; → Intubação traqueal; → Insuficiência renal; → Cirurgia toracoabdominal complicada; → Alcoolismo. PNEUMONIA ASSOCIADA AOS CUIDADOS DE SAÚDE A abordagem ideal para a cobertura empírica da PACS permanece controversa em virtude das variações nos sistemas de cuidado em saúde e nas definições. Os pacientes PACS negativos na cultura apresentam prognósticos equivalentes ou melhores quando tratados com antibióticos para PAC quando comparados com o tratamento de amplo espectro, mas são difíceis de identificar na admissão. Se iniciada com a terapia de amplo espectro, parece segura a diminuição para a terapia de PAC após os resultados da cultura serem negativos. 11 Módulo II Hanna Briza
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