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Maria Eduarda de Souza – NEUROLOGIA OLFAÇÃO O órgão responsável pelo olfato é o epitélio olfatório, o qual recobre a parte mais alta da cavidade nasal. Os receptores olfatórios são neurônios bipolares com cílios olfatórios que são revestidos por uma membrana celular que contém partículas intermembranosas. Em torno dos receptores, existem células de suporte e células basais, que são semelhantes a neuroblastos, compondo a camada inferior do epitélio olfatório. O ar inalado, ao carrear moléculas aromáticas, é obrigado a circular por entre as conchas nasais. Na região superior da fossa nasal, estão os cílios (com seus microrreceptores) das células olfatórias mergulhadas em um muco próprio da mucosa nasal. As partículas aromáticas mergulham neste muco que reveste a cavidade nasal. Receptores específicos (que variam de pessoa para pessoa) se ligam a cada partícula aromática, gerando uma complexa transdução de sinal químico em impulso nervoso, o qual alcança o bulbo olfatório, passando pela lâmina crivosa (cribriforme) do osso etmoide. Os receptores olfatórios respondem a inúmeras substâncias químicas que produzem odor (substâncias odoríferas). Quando associadas aos receptores, há um desencadeamento de resposta mediada por proteína G, com o AMPc como segundo mensageiro. O AMPc abre canais de sódio e cálcio, causando uma despolarização da membrana do receptor que desencadeia um potencial de ação neural. Obs: O contato permanente com partículas de natureza irritante predispõe à destruição dos cílios do epitélio olfatório, trazendo prejuízos à captação dos estímulos olfatórios. Processo de transdução de sinal olfatório A transdução do sinal olfatório é algo complexo. Em resumo: a substância odorífera que se dissolve no muco epitelial estabelece conexões com microrreceptores presentes nos cílios das células olfatórias. No momento desta conexão, os microrreceptores sofrem uma mudança conformacional que ativa uma proteína G por meio de sua subunidade alfa, a qual converte GDP por GTP que, por sua vez, ativa a enzima adenilato ciclase, que converte ATP em AMPc. O AMPc ativa canais iônicos por meio da PKA (fosforilando o canal iônico), iniciando, assim, uma despolarização. Devemos ter em mente que toda subunidade alfa de uma proteína G é inativa quando ela está ligada ao GDP. Portanto, para que ela seja ativada, deve haver a quebra da ligação entre o GDP e a ligação subsequente a uma molécula de GTP livre no citoplasma. Obs.: Existem certos tumores que são causados por mutações na subunidade alfa, fazendo com que esta perca a sua capacidade GTP- ásica. Desse modo, a adenilato ciclase sempre estará ativada, e os níveis de AMPc sempre estarão altos, desencadeando assim, uma exacerbação da ativação da PKA, que tem como uma de suas funções a ativação da transcrição gênica. Cada vez que a célula tumoral se divide mais rapidamente, passando mais rapidamente pela fase S, ela passa a reparar erros inatos cada vez menos, atingindo, assim, um fenótipo neoplásico. Via olfatória As próprias células olfatórias representam os neurônios de 1ª ordem da via olfatória – são neurônios bipolares localizados na mucosa olfatória cujos prolongamentos periféricos são muito pequenos e que apresentam os receptores da olfação. Seus prolongamentos centrais agrupam-se em feixes que, em conjunto, formam o nervo olfatório. Estes filamentos atravessam a lâmina cribriforme do osso etmoide e fazem sinapse com as chamadas células glomerulares mitrais (neurônios de 2ª ordem), localizadas no bulbo olfatório (formando o glomérulo olfatório). Os axônios destas células mitrais seguem pelo tracto olfatório e ganham as estrias olfatórias laterais e mediais. Admite-se que os impulsos olfatórios conscientes seguem pela estrita olfatória lateral e terminam na área cortical de projeção para a sensibilidade olfatória, situada na parte anterior do úncos e do giro para-hipocampal (mais especificamente, nas áreas pré-piriforme e peri- amigdaloide), relacionando-se com a noção consciente da olfação. As fibras da estria olfatória medial incorporam-se à comissura anterior, área septal e áreas próximas ao corpo amigdaloide (integrante do sistema límbico, relacionado com a emoção), estando este componente mais relacionado com o princípio emotivo e prazeroso do estímulo olfatório. Maria Eduarda de Souza – NEUROLOGIA Lesões: (Nervo, bulbo e trato olfatório) determinam diminuição ou perda do olfato homolateral (Hiposmia, anosmia). A causa mais frequente de lesão do nervo olfatório é o traumatismo craniano com fratura da lâmina crivosa. Os tumores da base do lobo frontal podem lesar o bulbo e o trato olfatório. Lesões do córtex olfatório primário podem determinar alucinações olfatórias, e do secundário, agnosia olfatória. Crise uncinadas: são alucinações olfatórias que acontecem como consequência de crises epiléticas focais originadas no córtex olfatório, nas quais, as pessoas sentem cheiros que não existem naquele momento. ↪ GUSTAÇÃO Estima-se que existam mais de 10.000 brotamentos gustativos na língua. Os brotamentos gustativos são encontrados nas papilas na mucosa da língua. As papilas podem ser de três tipos: folhadas, fungiformes e circunvaladas; mas apenas as papilas fungiformes e circunvaladas contêm brotamentos gustativos. O brotamento gustativo apresenta uma extremidade dendrítica (que representa um axônio que seguirá por algum nervo craniano que, dependendo da região da língua, pode ser o facial, glossofaríngeo ou vago) e outra extremidade receptora. Cada brotamento gustativo é formado por três tipos básicos de células: Células de suporte: que isolam o receptor Célula basal: de alto índice mitótico Células gustativas: responsáveis pelo sabor Quando a substância química se liga ao seu receptor, há um desencadeamento nervoso que, por meio de componentes sensitivos de alguns nervos cranianos, leva o impulso até o córtex para que seja interpretada a sensação gustativa. O ser humano é capaz de distinguir quatro tipos básicos de sensações de sabor: doce (açúcar, sacarina, álcool e alguns aminoácidos); salgado (íons metálicos); ácido (íons de hidrogênio); e amargo (alcaloides como nicotina). Qualquer que seja a sensação, ou seja, qualquer que seja a partícula gustativa, ela deve se ligar a um receptor específico de um brotamento gustativo, para aumentar os níveis de AMPc, favorecendo a abertura de canais iônicos, geração de uma despolarização e criação de um impulso nervoso. Fisiologia do sabor Para que uma substância possa ser sentida como sabor, ela deve ser dissolvida na saliva e deve interagir com as terminações gustativas. A ligação de uma substância química despolariza a membrana do receptor gustativo, que conduz a liberação do neurotransmissor e desencadeia um potencial de ação, gerando um impulso nervoso que viaja até o córtex cerebral específico. Transdução do sinal gustatório O estímulo do sabor é convertido em impulso nervoso, basicamente, por meio dos seguintes mecanismos: influxo de Na+ para os sabores salgados; ligação de íons H+ aos receptores e fechamento dos canais de potássio para os sabores ácidos; a capacidade da gustaducina em aumentar AMPc para os sabores doces e de diminuir AMPc para os sabores amargos. Desta forma, temos: Salgado: o Na+ entra normalmente, levando a uma despolarização da membrana. Ácido: o H+ entra normalmente na célula gustativa, levando a uma despolarização da membrana. Amargo: nas terminações nervosas da sensação amarga há a presença da gustaducina, enzima que ativa uma fosfodiesterase, que destrói o AMPc no momento em que a partícula de caráter amargo se liga ao seu receptor. Com a destruição do AMPc, ocorre o fechamento dos canais de K+, que leva a uma despolarização e a geração de um impulso elétrico. Doce: a gustaducina relacionada a partículasde caráter doce aumenta os níveis de AMPc, abrindo-se os canais iônicos de uma maneira diferente da do sabor amargo, a partir do momento que a partícula se liga ao seu receptor Via gustativa Em resumo, os pares VII, IX e X cranianos (a depender da região da língua) levam impulsos dos brotamentos gustativos até o núcleo do tracto solitário no bulbo. Estes impulsos trafegam para o tálamo e, deste, para o córtex gustativo (onde ocorre a interpretação do sabor) e para o Maria Eduarda de Souza – NEUROLOGIA hipotálamo e sistema límbico (onde ocorre a apreciação emotiva do sabor). Minuciosamente, os impulsos gustatórios oriundos dos dois terços anteriores da língua passam primeiramente pelo nervo lingual e, através do nervo da corda do tímpano, chega ao nervo facial (VII) e, finalmente para o núcleo do trato solitário no tronco encefálico. As sensações gustatórias oriundas das papilas circunvaladas, na parte posterior da língua e outras posteriores da boca, são transportadas pelo nervo glossofaríngeo também para o trato solitário. Finalmente, alguns sinais gustatórios são transmitidos para o trato solitário a partir da base da língua e de outras partes da região faríngea pelo nervo vago. Todas as fibras gustatórias fazem sinapse nos núcleos do trato solitário e enviam neurônios de segunda ordem para uma área pequena do núcleo medial posterior ventral do tálamo, localizado medialmente ao lemnisco medial (que traz informações táteis e proprioceptivas da medula). A partir do tálamo, neurônios de terceira ordem são transmitidos para a ponta inferior do giro pós-central no córtex parietal e do interior da área opérculo-insular. Esta se situa ligeiramente lateral, ventral e rostral à área da língua. Lesões: Uma ageusia ou perda da sensibilidade gustativa unilateral pode ser devida à lesão do facial ou do nervo da corda do tímpano.
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