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1 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC) I. CONCEITO ➢ O Acidente Vascular Encefálico (AVE) ou Acidente Vascular Cerebral (AVC) é definido como uma disfunção de uma área do encéfalo pela falta de suprimento sanguíneo. Se trata de uma síndrome neurológica com grande prevalência em adultos e idosos, sendo também umas das maiores causas de mortalidade no mundo, e uma das principais causas de internações. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVC refere-se a um rápido desenvolvimento de sinais clínicos de distúrbios focais com a apresentação de sintomas iguais ou superiores há 24 horas, consequentemente provocando alterações nos planos cognitivo e sensório – motor. ➢ AVE pode ser classificado segundo o grau de etiologia: AVE isquêmico que vai ocorrer uma lesão do tecido encefálico pela falta de sangue que leva oxigênio e nutrientes para células. AVE hemorrágico quando há extravasamento de sangue para algum ponto do sistema nervoso central (SNC). II. VASCULARIZAÇÃO ENCEFÁLICA O encéfalo tem um consumo muito elevado de oxigênio e glicose e isso exige um fluxo intenso e continuo de sangue. Para garantir esse suporte, o encéfalo vai ser irrigado por uma rede anastomótica formada na base do cérebro, através das artérias carótidas internas e vertebrais. ➢ Artérias carótidas internas: são bifurcação da artéria carótida comum. A do lado esquerdo sai do próprio arco aórtico e a do lado direito do tronco braquioencéfalico. Ela vai possuir 4 segmentos: • CERVICAL: da sua bifurcação até a entrada no crânio; • PETROSO: ele penetra a parte petrosa do osso temporal, entrando na cavidade craniana pelo canal carotídeo; • CAVERNOSO: ao entrar na fossa média intracraniana, passando pelo seio cavernoso; • INTRACRANIANO: onde origina seus ramos terminais: Artéria cerebral média; Artéria cerebral anterior; Artéria comunicante posterior. ➢ Artérias vertebrais: são ramo da subclávia e também possuem 4 segmentos: 2 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO • CERVICAL: passa posteriormente a carótida comum; • VERTEBRAL: penetra o forame transverso da 6º vertebra; • SUBOCCIPITAL: entra no canal vertebral, penetra a dura-máter e a aracnoide, entrando no crânio pelo forame magno. • INTRACRANIANO: passa anteriormente pelo bulbo e ao nível do sulco bulbo pontino vai se anastomosar com a artéria vertebral contralateral, formando a basilar. ✓ A basilar percorre o sulco basilar na ponte e se bifurca nas artérias cerebrais posteriores. ✓ E assim, esses ramos terminais vão formar o círculo arterial/polígono de Willis, que é muito importante, já que as anastomoses oferecem certa compensação em caso de obstruções das principais artérias que se dirigem ao encéfalo. • Artéria comunicante anterior: ramo da própria artéria cerebral anterior que liga as artérias cerebrais anteriores contralaterais. • Artéria comunicante posterior: ramo da artéria carótida interna e comunica a carótida interna com a cerebral posterior, fechando o polígono. ✓ Além das principais artérias a carótida interna também origina a oftálmica e a vertebral tem seus ramos cerebelares, pontinos e espinais, o que justifica certas repercussões clínicas em pacientes com AVE. 3 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO III. TERRITÓRIOS CORTICAIS DE IRRIGAÇÃO ➢ ARTÉRIA CEREBRAL ANTERIOR: irriga a face medial do hemisfério, do lobo frontal até o sulco parieto occipital; ➢ ARTÉRIA CERREBRAL MÉDIA: percorre o sulco lateral e irriga a maior parte da face dorso lateral de cada hemisfério; ➢ ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR: irriga a face inferior do lobo temporal e ganha o lobo occipital. 4 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO IV. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS V. DIAGNÓSTICO AVE ➢ Nem sempre é possível distinguir entre isquemia e hemorragia a partir da história e do exame neurológico, mas a TC e a RM permitem um diagnóstico definitivo. ➢ Assim, na abordagem neurológica do paciente com AVE após o exame clínico para possível localização anatômica da região disfuncional do SNC complementamos com exame de imagem (neuroimagem) para estabelecer a origem isquêmica ou hemorrágica daquele insulto. O AVC é uma síndrome marcada por quatro características principais: 1. Início súbito – O início súbito dos sintomas é documentado pela história. 2. Envolvimento focal do sistema nervoso central – O local de envolvimento do sistema nervoso central é sugerido pela natureza dos sinais e sintomas, delineados mais precisamente pelo exame neurológico e confirmado por exames de imagem (tomografia computadorizada [TC] ou ressonância magnética [RM]). -Em um AVC isquêmico, a oclusão de um vaso sanguíneo interrompe o fluxo sanguíneo para uma região cerebral específica, interferindo com as funções neurológicas dependentes da região, levando a um padrão de déficits mais ou menos estereotipado. -A hemorragia produz um padrão menos previsível de envolvimento focal, pois complicações como aumento da pressão intracraniana, edema cerebral, compressão de tecido e vasos cerebrais, ou dispersão do sangue 5 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO pelo espaço subaracnóide ou pelos ventrículos cerebrais podem comprometer a função cerebral em locais distantes da hemorragia 3. Ausência de resolução rápida – A duração do déficit neurológico é documentada na história. No passado, a definição-padrão de AVC exigia que os déficits persistissem por pelo menos 24 horas, para distinguir um AVC de um ataque isquêmico transitório (discuto mais adiante). No entanto, qualquer indicação temporal é arbitrária, e o ataque isquêmico transitório geralmente melhora dentro de uma hora. 4. Causa vascular – Uma causa vascular pode ser inferida a partir do início agudo dos sintomas e, muitas vezes, a partir da idade do paciente, da presença de fatores de risco para AVC e da ocorrência de sinais e sintomas que podem ser atribuídos ao território de determinado vaso sanguíneo cerebral. Quando isso é confirmado pelos exames de imagem, podem ser feitas outras investigações para identificar uma etiologia mais específica, como trombose arterial, êmbolo cardiogênico ou distúrbio de coagulação. Um AVC que esteja progredindo ativamente, como consequência de um distúrbio vascular subjacente (mas não em decorrência do edema cerebral associado), ou que tenha progredido há poucos minutos, é denominado AVC em evolução ou progressivo. • AVE circulação posterior: Os AVCs da circulação posterior produzem sinais e sintomas de disfunção do tronco cerebral, incluindo coma, ataques de queda (colapso súbito sem perda da consciência), vertigem, náuseas e vômitos, paralisias de nervo craniano, ataxia e déficits sensorimotores cruzados, que afetam a face de um lado do corpo e os membros do outro lado. Também ocorrem hemiparesia, distúrbios hemissensoriais e déficits do campo visual, mas estes não são específicos de AVCs da circulação posterior. • AVE circulação anterior: Os AVCs da circulação anterior estão comumente associados com sinais e sintomas que indicam disfunção hemisférica, como afasia, apraxia ou agnosia. Esses AVCs frequentemente produzem hemiparesia, distúrbios hemissensoriais e defeitos do campo visual, que também podem ocorrer nos AVCs da circulação posterior. Diagnósticos diferenciais: Hipóxia, hipoglicemia, crises convulsivas e enxaqueca também podem levar déficits neurológicos, como paralisia ou fraqueza unilateral, dificuldade ou perda da capacidade de conversar e cefaleia. Duração dos déficits: 6 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO Quando os sinais e sintomas da isquemia cerebral se resolvem completamente após períodos mais curtos (em geral dentro deuma hora), usa-se o termo ataque isquêmico transitório (AIT). - AITs recorrentes com características clínicas idênticas (AITs estereotipados) geralmente são causados por trombose ou embolia que se origina dentro da circulação cerebral. Obs. Trombo se mantém em uma localidade especifica e o embolo se movimenta pelos vasos. Em alguns casos, os déficits duram um período mais longo, mas se resolvem por completo ou quase completamente em alguns dias, é o chamado déficit neurológico isquêmico reversível (RIND). Principais etiologias: Isquemia A interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro priva neurônios, glia e células vasculares do substrato glicose e do oxigênio. A menos que o fluxo sanguíneo seja restaurado prontamente, isso leva à morte isquêmica do tecido cerebral (infarto). - O padrão de morte celular depende da gravidade da isquemia. Edema cerebral: é um fator determinante do resultado de um AVC. A isquemia leva ao edema vasogênico, quando o líquido do compartimento intravascular vaza para o parênquima cerebral. O edema costuma ser máximo em cerca de 2 a 3 dias após o AVC, podendo ser suficientemente grave para causar herniação cerebral e óbito. - Se tem sangue o processo inflamatório se inicia e vão levar a todo um quadro de dilatação, células sanguíneas chegam ao local, com isso tem se o processo de edema cerebral, levando a uma hipertensão intracraniana. Zona de penumbra isquêmica: zona que circunda o núcleo de uma região cerebral isquêmica, onde a isquemia é incompleta, a lesão celular é potencialmente reversível, e a sobrevivência celular pode ser prolongada. - No entanto, a menos que o fluxo sanguíneo seja restaurado (por recanalização do vaso ocluído ou circulação colateral a partir de outros vasos), as células que apresentam lesão reversível também começam a morrer, e o infarto se expande. - A morte do tecido penumbral está associada com um resultado clínico ruim. 1) Trombose: A trombose produz AVC por oclusão de grandes artérias cerebrais (em especial carótida interna, cerebral média ou basilar), de pequenas artérias penetrantes (como no AVC lacunar), de veias cerebrais ou de seios venosos. - Os sintomas geralmente evoluem durante minutos a horas. - AVCs trombóticos com frequência são precedidos de AITs, que tendem a produzir sintomas semelhantes, pois afetam o mesmo território de modo recorrente. 2) Embolia A embolia produz AVC quando artérias cerebrais são ocluídas pela passagem distal de um trombo do coração, do arco aórtico ou das grandes artérias cerebrais - Embolo se movimenta pela circulação. AVCs embólicos produzem caracteristicamente déficits neurológicos que são máximos no início do quadro. 7 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO Quando os AITs precedem os AVCs embólicos, especialmente aqueles que se originam de uma fonte cardíaca, os sintomas normalmente variam entre os ataques, pois territórios vasculares diferentes estão afetados. Hemorragia A hemorragia pode interferir com a função cerebral por meio de vários mecanismos, incluindo a destruição ou a compressão do tecido cerebral e a compressão de estruturas vasculares, levando a isquemia secundária e edema. 1) Hemorragia intracerebral ou intraparenquimatosa Causa sintomas ao comprimir tecido adjacente (podendo, assim, produzir isquemia local) e, em menor extensão, ao destruir células. - Causa cefaleia mais grave em relação ao AVE isquêmico e depressão da consciência, assim como déficits neurológicos que não correspondem à distribuição de um vaso sanguíneo isolado. 2) Hemorragia subaracnóidea A hemorragia subaracnóidea leva à disfunção cerebral por: - Elevação da pressão intracraniana - Efeitos citóxicos sobre o sangue subaracnóidea ou o tecido cerebral. Complicações: - Vasoespasmo – vasoconstrição rodeada de um trombo, afeta as artérias intradurais no espaço subaracnóide (leva a isquêmia) - Ressangramento – segunda ruptura - Extensão do sangue para dentro do tecido cerebral (produzindo um hematoma intracerebral) - Hidrocefalia Essa hemorragia geralmente se apresenta com dor de cabeça, e não tanto com déficits neurológicos focais. 3) Hemorragia subdural ou epidural Essas hemorragias costumam ser de origem traumática e geralmente se apresentam com cefaleia ou alteração da consciência. - Produz uma lesão de massa, que pode comprimir o cérebro subjacente. Exames de neuroimagem: Tomografia computadorizada de crânio: Escala de Fisher: Avalia a presença de sangue na TCC, o grau representa a quantidade de sangue identificada. I) Sangue não detectado II) Sangue difuso ou com espessura < 1mm III) Coágulo localizado ou com espessura > 1mm. IV) Hematoma intracerebral ou intraventricular com ou sem sangue no espaço subaracnóideo. 1) Hemorragia subaracnóidea: - Apresenta-se como hiperdensidade (branco) nos sulcos e giros, nas cisternas da base, circundando o mesencéfalo e formando imagem semelhante a um coração. - Além disso, podem aparecer sinais de hemorragia em outras cisternas, no interior dos ventrículos (hemoventrículo) e fissuras interemisféricas. 8 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO - 5% dos casos não são diagnosticados pela TCC, sendo necessária a punção lombar algumas horas após o ictus (sangramento). 2) Hemorragia intraparenquimatosa - Apresenta-se como região hiperdensa focal, mesmo na ausência de contraste. - Após algumas semanas, na fase crônica, o hematoma se torna isodenso ao parênquima, e ao longo do tempo a lesão residual se torna hipodensa. Obs. Se durante a fase crônica surgir uma imagem hiperdensa na mesma topografia, ela pode ser sugestiva de ressangramento. 3) Achados de Imagem para AVE isquêmico: - Fase Hiperaguda (<12hrs) Neste momento, a TC de crânio é importante para excluir hemorragia e para detecção de achados precoces de isquemia cerebral. São eles: a) perda do contorno insular. b) indefinição dos núcleos cinzentos. c) perda da diferenciação substância branca e cinzenta. d) artéria cerebral hiperdensa. - Na maioria das vezes, a lesão correspondente ao AVE isquêmico só aparece tardiamente (30% dos casos podem ser vistos nas primeiras 3 horas, 60% nas primeiras 24 horas, e quase 100% nos primeiros 7 dias). - Fase subaguda: Pode apresentar lesão hipodensa em forma de cunha, envolvendo substância branca e cinzenta e respeitando o limite vascular, bem como edema perilesional e sinais de efeito de massa (desvio de estruturas da linha média para o hemisfério contralateral, apagamento de sulcos e cisternas, compressão ventricular). 9 SAMANTHA LEÃO F. LIMA NEURO - Fase crônica: É uma lesão focal hipodensa, bem delimitada, respeitando limites vasculares, com proeminência de sulcos e alargamento dos ventrículos ipsilaterais. HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA TC DE CRÂNIO RM HEMORRAGIA INTRAPARENQUIM.