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- -1 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA EDUCAÇÃO – CIDADANIA E DEMOCRACIA - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Estabelecer a relação entre educação, cidadania e democracia. 2. Entender a formação do Estado Moderno, seu projeto e seus limites enquanto estado de direitos e deveres. 3. Analisar as bases do socialismo utópico e do socialismo científico e suas críticas ao pensamento liberal burguês no campo político e econômico. ATENÇÃO Tratar da relação entre Educação, Cidadania e Democracia é, ao mesmo tempo, um desafio teórico e político. • Teórico, por termos várias definições para cada uma delas, como também, da relação entre ambas. Portanto, nossa opção será a de oferecer uma compreensão crítica desta relação em sua materialidade e historicidade. • Político, por compreendermos que estamos diante de um mundo em que cada vez mais se ampliam controles racionais sobre a vida social – em suas dimensões públicas e privadas - como um todo, regida pelo discurso da democracia restrita, que é a perspectiva teórico-ideológica expressa pelo pensamento liberal burguês. Nas aulas anteriores, tivemos o cuidado de conceituar a educação como sendo um fenômeno eminentemente humano e decorrente da relação que o homem estabelece, de forma intencional, através do trabalho com a natureza para produzir as condições e de nossa existência.materiais* não-materiais* Sendo assim, estaremos, nesta aula, nos dedicando mais a temática da Democracia e da Cidadania e, ao final, faremos considerações da relação dessas com a educação. Para cumprirmos tal trajetória estaremos recorrendo às Ciências Políticas buscando as conceituações necessárias para compreendermos melhor a dimensão política e social da educação. *materiais: Produção de bens duráveis e não-duráveis. *não-materiais: A produção da cultura, do saber, do conhecimento, ou seja, de sentidos e significados referentes a relação do homem com a natureza, o mundo, consigo mesmo e com os demais seres humanos. 1 Conceitos Fundamentais a) Estado Em geral, a organização jurídica coercitiva de determinada comunidade. O uso da palavra Estado deve-se a Maquiavel em sua obra ‘O Príncipe’. Podem ser distinguidas três concepções fundamentais: • Concepção organicista - segundo a qual o Estado é independente dos indivíduos e anterior a eles. Tal • • • - -3 • Concepção organicista - segundo a qual o Estado é independente dos indivíduos e anterior a eles. Tal concepção funda-se na analogia entre Estado e um organismo vivo. O Estado é um homem em grandes dimensões, suas partes ou membros não ser separados da totalidade. A totalidade precede, portanto, as partes (os indivíduos, ou grupos de indivíduos) de que resulta; a unidade, a dignidade e o caráter que possui não podem derivar de nenhuma de suas partes nem do seu conjunto. Esta concepção foi elaborada pelos *.gregos • Concepção atomista ou contratualista - segundo a qual o Estado é uma criação dos indivíduos, ou seja, é obra humana: não tem dignidade e nem caracteres que não lhe tenham sido conferidos pelos indivíduos que o produziram. Foi essa a concepção dos estoicos, que consideravam o Estado como *. res Populi • Concepção formalista: segundo a qual o Estado é uma criação jurídica. O Estado é considerado em primeiro lugar, como comunidade, como um grupo social residente em determinado território e tem três elementos ou propriedades características: soberania ou poder preponderante ou supremo, povo e *.território *grego: Segundo Aristóteles: "O Estado existe por natureza e é anterior ao indivíduo, porque se o indivíduo de per si não é autossuficiente, estará em relação ao todo, na mesma relação que estão as outras partes. Por isso, quem não pode fazer parte de uma comunidade ou quem não tem necessidade de nada porquanto se basta a si mesmo não é membro de um Estado, mas fera ou Deus". *res Populi: Segundo o filósofo romano Cícero (106 a.C. - 43 a.C.) "O Estado (res publica) é coisa do povo, e o povo não é qualquer aglomerado de homens reunidos de uma forma qualquer, mas uma reunião de pessoas aglomeradas pelo acordo em observar a justiça e por comunidade de interesses". *povo e o território: Para o jurista austro-americano Hans Kelsen (1881-1973) o Estado é simplesmente a ordenação jurídica em seu caráter normativo e coercitivo. b) Formação do Estado Moderno ou Estado-Nação* • A formação do Estado Moderno, Estado-Nação ou Estado Liberal Burguês aparece no vocabulário político em meados do século XIX (1830). De acordo com a periodização proposta pelo historiado inglês Eric Hobsbawm passou por três etapas, são elas: • vincula nação e território e o discurso da nacionalidade Princípio de nacionalidade (1830-1880): provém da economia política liberal burguesa. • articulada à língua, à religião e à raça e seu discurso provém dos Ideia Nacional (1880-1918): intelectuais pequeno-burgueses. • enfatiza a consciência nacional, defendida por um conjunto de Questão Nacional (1918-1950-60): lealdades políticas e seu discurso provém dos partidos políticos e do Estado. *Estado-Nação: O texto é inspirado na obra “Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária” de Marilena Chauí. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 2000. Segundo Marilena Chauí o Estado Moderno ou Estado-Nação precisava enfrentar dois problemas fundamentais: “de um lado, incluir todos os habitantes do território na esfera da administração estatal; de outro, obter a lealdade dos habitantes ao sistema dirigente, uma vez que a luta de classes, a luta no interior de cada classe social, as tendências políticas antagónicas e as crenças religiosas disputavam essa lealdade. Em suma, como dar à divisão econômica, social e política a forma da unidade indivisa? Pouco a pouco, a ideia de nação surgirá como solução dos problemas". • • • • • • • - -4 Decorre desses problemas a ideologia do nacionalismo, ou seja, a estratégia ideológica da burguesia foi desenvolver no cidadão do novo modelo de sociedade o sentimento de pertencimento à nação, ou seja, de uma religião cívica do patriotismo. Essa foi a tentativa de se criar uma unidade em uma sociedade dividida em classes sociais. Contudo, como observa o historiador Hobsbawm, "o liberalismo tem dificuldade para operar com a ideia de nação e de Estado nacional porque, para a ideologia liberal, a realidade se reduz a duas referências econômicas: uma unidade mínima, o indivíduo, e uma unidade máxima, a empresa, de sorte que não parece haver necessidade de construir uma unidade superior a estas. No entanto, os economistas liberais não podiam operar sem o conceito de economia nacional, pois era fato inegável que havia o Estado com o monopólio da moeda, com finanças públicas e atividades fiscais, além da função de garantir a segurança da propriedade privada e dos contratos econômicos, e do controle do aparato militar de repressão às classes populares. Os economistas liberais afirmavam por isso que a riqueza das nações dependia de estarem elas sob governos regulares e que a fragmentação nacional, ou os Estados nacionais, era favorável à competitividade econômica e ao *”.progresso Feitas essas considerações sobre o Estado Moderno, passemos agora, a uma compreensão dos princípios do liberalismo. *progresso: CHAUÍ, Marilena. Brasil: Mito Fundador e Sociedade Autoritária. São Paulo: Perseu Abramo Editora, 2000, pág. 14-15. c) Teses do Liberalismo Político e Liberalismo Econômico Tomemos por base a definição presente no Dicionário de Filosofia de *:Nicolas Abbagnano “Liberalismo. Doutrina que tomou para si a defesa e a realização da liberdade no campo político. Nasceu e afirmou-se na Idade Moderna e pode ser dividida em duas fases: 1ª do século XVIII, caracterizada pelo individualismo; 2ª do séc. XIX, caracterizada pelo estatismo”. *Nicolas Abbagnano: Abbagnano. 1998: págs 604-5. O pressuposto filosófico do liberalismo político centra-se na defesa de que os seres humanos têm, por natureza, * e que cabe ao Estado respeitá-los. Em outraspalavras, o liberalismo limita as funçõesdireitos fundamentais do Estado e este teria os poderes públicos regulados por normas gerais subordinadas às *leis * direitos fundamentais: Como por exemplo: direito à vida, à liberdade e à felicidade. * leis: Os princípios fundamentais do liberalismo incluem a transparência, os direitos individuais e civis, um governo baseado no livre consentimento dos governados e estabelecido com base em eleições livres - o que geralmente significa um sistema de governo democrático - e igualdade da lei e dos direitos para todos os cidadãos. - -5 O princípio fundamental que rege o liberalismo econômico é a defesa em torno da independência da economia em relação a toda e qualquer forma de controle, principalmente estatal, das relações econômicas. Tanto que se enfatiza a liberdade da iniciativa econômica, a livre circulação da riqueza, a valorização do trabalho humano e da *. Adam Smith, um dos principais teóricos do liberalismo econômico afirma que aeconomia de mercado prosperidade econômica e a acumulação de riquezas são concebidas através do trabalho livre, sem nenhum agente regulador ou interventor; ou seja, o próprio mercado dispunha de mecanismos próprios de regulação - a "mão invisível" -, que trariam benefícios para toda a sociedade, além de promover a evolução generalizada. Os ideais liberais se materializaram no campo educacional através de três teorias pedagógicas: a pedagogia tradicional, a pedagogia nova e a pedagogia tecnicista. Em outros encontros estaremos nos dedicando as bases teórico-metodológicas de cada uma dessas teorias e como estas se materializaram em termos de práticas educativas na sociedade moderna. * economia de mercado: Defesa da livre concorrência, do livre cambismo e da lei da procura e da oferta como mecanismo de regulação do mercado. D) Democracia Vem do grego demo = povo e cracia = governo, ou seja, governo do povo. Portanto é um sistema em que os cidadãos de um país podem participar da vida política. Tal participação pode ocorrer através de eleições, plebiscitos e referendos. Além disso, é dado o direito a cada cidadão de ser expressarem livremente. Contudo, vale ressaltar que na Grécia Antiga a democracia era restrita por se constituir como privilégio de poucos, ou seja, era reservada apenas os que eram considerados cidadãos (os proprietários de terra que correspondiam a apenas 10% da população). Na sociedade moderna prevalece o modelo de democracia representativa em que os cidadãos elegem representantes, em intervalos regulares através das eleições, que votam os assuntos em seu favor. E) Cidadania O conceito de cidadania tem origem na Grécia Antiga, da noção de polis ou cidade-estado, sendo usado para designar os direitos relativos ao cidadão. Portanto, o indivíduo que vivia na cidade e ali participava ativamente das decisões políticas. Por este conceito estar vinculado à noção de direitos, principalmente de direitos políticos, permitem aos cidadãos participarem direta ou indiretamente na formação do governo e na sua administração através do voto ou do concurso público. Contudo, o cidadão além de terem direitos tem deveres, uma vez que em uma coletividade seus direitos são garantidos mediante deveres dos demais componentes de uma estrutura social. - -6 2 Educação, Democracia e Cidadania Na aula anterior, apontamos que o direito à educação na Antiguidade e na Idade Média restringiu-se àqueles que detinham sobre o seu controle o poder político, econômico e social. Portanto, era uma educação excludente. A burguesia, enquanto classe social que surgiu no seio do feudalismo no século XI-XII, ao se desenvolver enquanto classe economicamente ativa no período do mercantilismo reivindicou o direito à educação e defendeu uma escola laica, pública e gratuita para todos. Um bom exemplo disto é que, no século XVIII, os ideais burgueses valorizavam a capacidade de autonomia, o conhecimento racional, o individualismo e o espírito de liberdade em oposição aos privilégios do clero e da nobreza. Tanto que foram muitos os movimentos revolucionários burgueses que levantaram a bandeira em defesa da educação como condição para o exercício da cidadania. Contudo, é na formação do Estado Moderno que teremos a defesa da Educação como direito de todos e dever do Estado. O aspecto revolucionário desses ideais aponta para o caráter jurídico da educação enquanto direito e funda, pela primeira vez na história do ocidente, a educação como política social de caráter universalizante. Vale ressaltar que a educação atendia a uma dupla função do novo modelo de sociedade capitalista: a função política de formar o cidadão e a função econômica de preparar os quadros necessários para desempenharem tarefas simples, intermediárias e complexas do sistema capitalista de produção na sua fase de desenvolvimento industrial. O pensamento liberal em educação vai preconizar a defesa de que através da educação será possível redimir a sociedade das desigualdades sociais, ou seja, através dela ocorrerá o processo de inclusão de todos os cidadãos à estrutura social. Porém, já se passaram quase dois séculos e tal promessa não se efetivou. Os estudos desenvolvidos no campo da sociologia da educação, apontam que ao invés da educação solucionar os problemas da sociedade acabou, em última instância, reforçando a marginalidade social. Pois a sociedade moderna estruturou um sistema de ensino dualista, ou seja, uma educação para as elites e uma educação para as massas. Do exposto acima, podemos compreender que estamos em uma democracia restrita que mantém privilégios, inclusive na oferta e na qualidade da educação oferecida, para os que detêm o poder político e econômico. 3 Os ideais socialistas Os processos revolucionários burgueses nos séculos XVII, XVIII e XIX tiveram participação efetiva dos trabalhadores (servos, vassalos e camponeses) nos frontes de guerra, principalmente na Revolução Francesa que tinha como lema: liberdade, igualdade e fraternidade. - -7 Embora os ideais burgueses criticam severamente os privilégios do clero e da nobreza e pregavam que os benefícios da sociedade capitalista deveriam ser estender a todos, eles acabaram restringindo tais privilégios somente à burguesia capitalista. Diante de tal fato, o proletariado começa a se organizar e a reivindicar seus direitos. É nesse contexto que vai se desenvolver na Europa do século XVIII e XIX o pensamento socialista. Os primeiros teóricos desta vertente foram Proudhon, Fourier, Saint-Simon e Owen, conhecidos como socialistas utópicos. O socialismo utópico fez críticas ao liberalismo econômico, principalmente à livre iniciativa e à livre concorrência e defendeu a formação de comunidades autossuficientes, onde os homens, através da livre cooperação — cooperativas de trabalhadores -, teriam suas necessidades satisfeitas. Diferente dos socialistas utópicos surge o socialismo científico, defendido por Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895) que preconizavam a existência de uma classe operária revolucionária capaz de superar o Estado burguês e de criar uma sociedade a partir da supressão da propriedade privada dos meios de produção. Além disso, compreende que o ser humano, acima de tudo, é um ser social e, enquanto tal, se constitui através do trabalho. Tanto que uma das teses defendidas por Marx é: "Não é a consciência individual que determina a vida; mas a vida que determina a consciência". Tal concepção se opõe a teoria do indivíduo 'em estado de natureza', como defendera os teóricos do liberalismo. De acordo com o marxismo, os dois níveis de realidades existentes, que decorrem da relação do homem com a natureza e com os demais seres humanos se explicam através dos conceitos de infraestrutura econômica e superestrutura econômica. • Infraestrutura ou estrutura material da sociedade é a base econômica, isto é, as formas pelas quais são produzidos os bens materiais que atendam às necessidades humanas. • Superestrutura correspondea estrutura jurídico-política (Estado, direito etc.) e à estrutura ideológica (formas de consciência social). De acordo com esta vertente, a educação se situa no campo da superestrutura econômica com a finalidade de garantir a objetificação das representações da burguesa no plano da consciência como correspondentes à realidade concreta. A perspectiva do materialismo histórico e do materialismo dialético de Karl Marx e Friederich Engels é a base para o desenvolvimento das teorias críticas e progressistas no campo da educação. • • - -8 O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai aprender a: • Situar as Pedagogias Tradicional, Nova e Tecnicista como pertencentes ao pensamento liberal em educação. • Entender a aplicação de tais teorias na prática educativa. • Diferenciar os pressupostos teóricos, o papel da escola, o sistema de avaliação, os conteúdos e técnicas de ensino, a relação professor/aluno e os métodos das teorias liberais no campo educacional. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Aprendeu a relação entre educação, cidadania e democracia como relações de interesses de uma determinada estrutura social. • Compreendeu a concepção de Estado organicista, atomista ou contratualista e formalista. • Entendeu o processo de formação do Estado Moderno e as bases do liberalismo político e econômico. • Compreendeu os ideais do socialismo utópico e do socialismo científico de Karl Marx e Frederich Engels. • • • • • • • Olá! 1 Conceitos Fundamentais 2 Educação, Democracia e Cidadania 3 Os ideais socialistas O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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