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Luciana Santos ATM 2023/2 1 Neurologia Delirium Delirium = mudança repentina no estado mental. Início repentino de confusão, flutuante. A confusão pode incluir desorientação, diminuição da consciência, dificuldade de foco ou dificuldade de se lembrar de eventos recentes. Pode ser hipoativo cansado, com sono e menos consciente do que está ao redor; ou hiperativo inquieto ou agitado e mais excitado. É um estado confusional agudo associado a declínio funcional e estresse significativos. É uma manifestação de encefalopatia aguda e é também chamado de falha cerebral aguda, disfunção aguda do cérebro ou estado mental alterado. Causa fisiopatológica não é bem compreendida. Estado agudo de insuficiência cerebral início súbito de confusão, curso flutuante, desatenção e nível de consciência anormal. Conceitos Encefalopatia aguda estado fisiopatológico do processo do SNC. Delirium sintomas observados a beira do leito. Pode ser agitação de forma aguda ou a variante hipoativa/silenciosa. Pode ser um quadro misto com sintomas predominantemente hipoativos e outros de agitação. Pacientes mais velhos (11-40%) apresentam delirium quando hospitalizados ou na internação. Pode ocorrer em 15-25% dos idosos pós-operatório – cirurgias eletivas e mais de 50% em cirurgias de alto risco como reparo de fratura de quadril e cirurgia cardíaca. Qualquer idade, admitido na UTI e que requerem suporte ventilatório mecânico – prevalência de delirium de 80%. Delirium é forte e independentemente associado a resultados ruins nos pacientes. Risco 10x maior de morte e risco 3-5x maior de complicações nosocomiais, tempo de internação prolongado e necessidade de casa de repouso. Prevenção Afeta qualquer idade, mas preferencialmente mais idosos. Fatores predisponentes: fatores crônicos que aumentam a vulnerabilidade do paciente. Fatores precipitantes: eventos ou condições agudos que iniciam o delirium. O risco de uma pessoa ter delirium é definido pela soma dos fatores predisponentes e precipitantes – quanto mais predisponentes presentes, menos eventos precipitantes são necessários para causar o delirium. FATORES DE RISCO Condições predisponentes: Prejuízo cognitivo pré-existente Múltiplas comorbidades, incluindo depressão Polifarmácia Sensação prejudicada (visão, audição por exemplo) Capacidade funcional prejudicada (atividades de vida diária diminuídas) História de uso indevido de álcool e/ou desnutrição Anemia Fatores precipitantes: Doença grave (sepse, AVC) Uso de cateter urinário e outras intervenções e/ou restrições físicas Cirurgia/anestesia Novo medicamento psicoativo Dor Mudança ambiental Desidratação e/ou distúrbios eletrolíticos Retenção urinária/impactação fecal Quando rastrear os pacientes? Até 80% dos casos não são reconhecidos. Pacientes hospitalizados que estão em risco de delírio comprometimento cognitivo pré-existente ou múltiplas comorbidades OU internados em UTI. Métodos de triagem mais breves usam o Algoritmo Confusion Assessment Method (CAM) – examina 4 características principais do Delirium mudança aguda no estado mental e curso flutuante, desatenção, pensamento desorganizado e nível anormal de consciência. Deve haver presença da 1ª e 2ª características, mais a 3ª OU 4ª. A sensibilidade do CAM diminui quando não é acompanhado por avaliação cognitiva prévia – Miniexame do Estado Mental que leva até 15 minutos avaliação limitada da atenção e nível de consciência. Luciana Santos ATM 2023/2 2 Avaliadores podem avaliar o nível de consciência usando a Escala de agitação e sedação de Richmond. O Método de Avaliação de Entrevista de Diagnóstico de 3 Minutos para Confusão (3D-CAM) tem sido descrito como uma versão mais preferível para pacientes hospitalizados. O Método de Avaliação de Confusão para a UTI (CAM-ICU) é uma aplicação específica do algoritmo CAM que usa respostas não verbais do paciente para avaliar a atenção, o pensamento e o nível de consciência. Pode ser concluído em poucos minutos. Os pacientes na UTI correm um risco tão alto de delirium que devem ser examinados diariamente. Estratégias eficazes de prevenção: Estudo de Yale: Alvo 6 fatores de risco comprometimento cognitivo, privação de sono, imobilidade, deficiência visual, deficiência auditiva e desidratação. Avaliados na admissão, e os pacientes com 1 ou mais desses receberam intervenções direcionadas. Voluntários realizaram protocolo do sono não farmacológico como massagem, música suave na hora de dormir e esta intervenção reduziu muito o uso de sedativos. Medicamentos para prevenir delirium não foram bem-sucedidos. Não há evidências para apoiar o uso de antipsicóticos para prevenção ou tratamento do delirium. O Haloperidol é comumente utilizado em UTI, mas não demonstra melhora de sobrevida mesmo no alto risco. Antipsicóticos podem converter sintomas hiperativos em hipoativos, resultando em redução aparente da gravidade do delirium – mas os resultados posteriores são piores ou iguais em comparação aos do delirium hiperativo. DIAGNÓSTICO: história e exame físico Qualquer hospitalizado confuso e de alto risco com confusão em qualquer ambiente – considerar. NENHUM teste laboratorial ou exame de imagem são mais precisos que a clínica do paciente. História é obtida pelos cuidadores ou familiares. INÍCIO AGUDO é mais consistente com delirium. Se houver flutuações do estado mental também é essencial. Exame físico: avaliação do estado mental com testes. Nível anormal de consciência + desatenção. Evidências de pensamento desorganizado, divagações, fala incoerente. Testes de atenção comumente usados Extensão de dígitos (até 5 para frente e 4 para trás) Recite os dias da semana e os meses do ano na ordem inversa Tarefa de desempenho contínuo (instruir o paciente a levantar a mão quando ouvir uma determinada letra em uma lista) Exame de triagem de atenção (mostrar fotos; pedir ao paciente para lembrar e lembrar) Recite uma lista de séries de 7 ou 3 Soletre “mundo” para trás Luciana Santos ATM 2023/2 3 Exames laboratoriais, imagem e eletroencefalograma: Não substituem história e EF. O delirium pode preceder o AVC então imagem pode ser necessária. Diagnósticos diferenciais de delirium: Demência, depressão e outras síndromes psiquiátricas agudas, delirium subsindrômico (síndrome parcial do delirium). Mudança aguda no estado mental não é demência é delirium. Curso de flutuação rápida (minutos a horas) e nível anormal de consciência são altamente sugestivos de delirium. Demência prévia tem risco de 2-5x maior de delirium (delirium sobreposto a demência). Depressão pode ser confundida com delírio hipoativo. Síndromes psiquiátricas agudas como mania ou psicose aguda, apresentam delírio hiperativo. Delirium subsindrômico: algumas, mas não todas as características de delirium – devem ser avaliados e tratados de forma semelhante. Dados incertos. NENHUM DADO avaliou se determinado especialista é superior a outro na avaliação e tratamento do delirium. Quando hospitalizar por suspeita de delirium? Nem todos requerem, e a hospitalização pode agravar o quadro. É melhor diagnosticar e tratar o paciente delirante em ambiente com qual ele esteja familiarizado. Hospitalizar: quando delirium associado a doença desestabilizadora como sepse ou IAM ou suporte inadequado em casa. Medidas não farmacológicas: BASE DO TRATAMENTO DE DELIRIUM Terapia primária: identificação e tratamento dos fatores causais. Remoção e redução de fatores contribuintes associados como medicamentos psicoativos, anormalidades de fluidos e eletrólitos, dor intensa, hipoxemia, anemia grave, infecções, privação sensorial e imobilidade. MEDICAMENTOS PSICOATIVOS ESTÃO ENTRE OS CONTRIBUINTES MAIS IMPORTANTES E REVERSÍVEIS PARA O DELIRIUM – merecem atenção benzodiazepínicos, sedativos-hipnóticos, anticolinérgicos fortes, analgésicos opióides, prodopaminérgicos. BENZODIAZEPÍNICOSSÃO FORTEMENTE ASSOCIADOS AO DELIRIUM. Luciana Santos ATM 2023/2 4 Quando medidas não farmacológicas falham, institui-se terapia medicamentosa? Não há medicação específica para delirium; Quando agitação ou outros sintomas alguns medicamentos causam sedação como antipsicóticos – porém converte o delírio hiperativo para hipoativo dando falsa sensação de resposta positiva. DELÍRIO HIPOATIVO PRESSAGIA PIOR PROGNÓSTICO. Antipsicóticos devem ser usados quando o paciente está dificultando sua capacidade de receber o tratamento ou pondo em perigo a si mesmo. Usar nas doses eficazes mais baixas durante o período mais curto. Haloperidol – eficácia semelhante aos atípicos. Típicos e atípicos tem efeitos de sedação excessiva, prolongamento do QT, risco de aspiração e risco de morte. Acatisia: inquietação motora efeito adverso dos antipsicóticos de alta potencial que pode ser confundido com agravamento do delirium. HALOPERIDOL DEVE SER EVITADO EM PACIENTES COM PARKINSONISMO E DOENÇA DE CORPOS DE LEWY – usar antipsicótico atípico com menos efeitos extrapiramidais. Diretrizes recentes: Otimização de estratégias não farmacológicas Se precisar sedação: Dexmedetomidina – agonista adrenérgico usado para sedação em intubados e ventilados mecanicamente na UTI – pode reduzir delirium na UTI por propriedades analgésicas – reduz uso de opiáceos. Pode ser alternativa aos benzodiazepínicos para sedação. Etapas no tratamento de suporte Aumentar mobilidade do paciente: minimizar cateteres internos, oximetria contínua etc. Eliminar restrições físicas – retirar paciente da cama para refeições, deambular 2xao dia quando capaz. Monitorar débito urinário e intestinal, evitar retenção de urina e impactação fecal que podem contribuir para o delirium Normalizar a rotina diária do paciente: informações sensoriais adequadas como uso de óculos e aparelhos auditivos, relógios, calendários, iluminação adequada, adotar ciclos sono-vigília adequados, incentivar sono noturno – redução de barulhos, telas etc. Risco de recorrência: Em curto prazo os pacientes requerem monitoramento contínuo do estado clínico, cognitivo e funcional até que retornem aos valores basais. Luciana Santos ATM 2023/2 5 A avaliação das atividades de vida diária é útil para monitorar a recuperação funcional do delirium Minimizar a duração do delirium – quanto menor a duração, mais plenamente se recuperará, embora possa levar semanas-meses. Delirium >2 semanas tem muito menos probabilidade de retornar à função basal. Delirium MESMO RESOLVIDO confere desfechos ruins em longo prazo 2019 Referência: MATTISON, Melissa L.P. Delirium. Annals Of Internal Medicine, [S.L.], v. 173, n. 7, p. 49-64, 6 out. 2020. American College of Physicians. http://dx.doi.org/10.7326/aitc202010060.
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