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Delirium Introdução O delirium é uma alteração de comportamento de origem orgânica que se caracteriza por um declínio agudo nos níveis tanto de consciência quanto de cognição, com particular comprometimento da atenção; Costuma envolver perturbações da percepção, atividade psicomotora anormal e prejuízo do ciclo sono-vigília; Em sua forma clássica, apresenta início repentino (horas ou dias), um curso breve e instável e melhora rápida quando o fator causativo é identificado e eliminado; É uma condição frequentemente subdiagnosticada; Está associada com piora do prognóstico, aumento do tempo de internação, aumento da mortalidade e recuperação funcional. IMPORTANTE! Delirium x Delírio Delírio = sintoma psiquiátrico, o paciente tem uma alteração do pensamento, com ideia fixa, irremovível, impossível, que ele tem certeza que está sendo perseguido. Epidemiologia É um transtorno comum, sendo que grande parte da incidência e dos índices de prevalência é relatada em idosos; É relatado em 5 a 10% dos pacientes idosos atendidos em pronto-socorro; Ocorre em 70 a 87% dos pacientes em unidade de tratamento intensivo e em até 83% de todos os pacientes em cuidados de fim de vida; Desenvolve-se em 80% dos pacientes com doenças terminais. Fatores de risco Os dois principais fatores de risco são: → Idade avançada; → Doença cerebral preexistente (demência, tumor, AVC...); Outros fatores de risco são: → Episódio prévio de delirium; → Doenças psiquiátricas (depressão); → Uso de drogas; → Dor e imobilidade; → Déficit visual; → Algumas medicações, especialmente anticolinérgicos; → Fraturas, transfusão de sangue e invasões; → Duração da cirurgia e tipo de anestesia usada. Etiologia As principais causas de delirium são doenças do SNC (ex.: epilepsia), doença sistêmica (ex.: falência cardíaca) e intoxicação ou abstinência de agentes farmacológicos ou tóxicos. IMPORTANTE! Ao avaliar pacientes com delirium, o clínico deve presumir que todos os fármacos ou drogas que o paciente consumiu podem ser etiologicamente relevantes para o transtorno. Fisiopatologia Ainda existem estudos para um melhor entendimento, mas acredita-se que ocorre uma falência transitória do funcionamento cerebral; Aparentemente há um déficit de acetilcolina, mas serotonina e dopamina parecem estar envolvidos também; O sistema envolvido parece ser o sistema reticular ativador ascendente. Clínica As características fundamentais de delirium incluem: → Consciência alterada, como nível reduzido de consciência; → Atenção alterada, que pode incluir capacidade reduzida de concentrar, manter ou deslocar a atenção; → Prejuízo nos outros domínios do funcionamento cognitivo: pode se manifestar como desorientação (em especial quanto a tempo e espaço) e diminuição da memória; → Início relativamente rápido (de horas a dias); → Curta duração (em geral de dias a semanas); → Com frequência oscilações acentuadas e imprevisíveis quanto a gravidade e outras manifestações clínicas no decorrer do dia, às vezes piores à noite (confusão noturna), e que podem variar de períodos de lucidez a prejuízo cognitivo e desorganização graves; Algumas características clínicas associadas podem incluir: → Desorganização de processos de pensamento; → Perturbações da percepção, como ilusões e alucinações; → Hiperatividade e hipoatividade psicomotora; → Distúrbio do ciclo sono-vigília (frequentemente manifestado como sono fragmentado à noite, com ou sem sonolência diurna); → Alterações do humor (desde irritabilidade sutil até disforia, ansiedade ou mesmo euforia evidentes). Diagnóstico Critérios diagnósticos A. Perturbação da atenção (i.e., capacidade reduzida para direcionar, focalizar, manter e mudar a atenção) e da consciência (menor orientação para o ambiente); B. A perturbação se desenvolve em um período breve de tempo (normalmente de horas a poucos dias), representa uma mudança da atenção e da consciência basais e tende a oscilar quanto à gravidade ao longo de um dia; C. Perturbação adicional na cognição (ex.: déficit de memória, desorientação, linguagem, capacidade visuoespacial ou percepção); D. As percepções dos critérios A e C não são mais bem explicadas por outro transtorno neurocognitivo preexistentes, estabelecido ou em desenvolvimento e não ocorrem no contexto de um nível gravemente diminuído de estimulação, como no coma; E. Há evidências a partir da história, do exame físico ou de achados laboratoriais de que a perturbação é uma consequência fisiológica direta de outra condição médica, intoxicação ou abstinência de substância (i.e., devido a uma droga de abuso ou a um medicamento), de exposição a uma toxina ou de que ela se deva a múltiplas etiologias. Exames físicos e laboratoriais Um exame do estado mental – como o Miniexame do Estado Mental, o exame do estado mental ou sinais neurológicos – pode ser usado para documentar o prejuízo cognitivo e fornecer um parâmetro para medir o curso clínico do paciente; O exame físico com frequência revela indícios para a causa do delirium; A bateria de exames laboratoriais deve incluir exames- padrão e investigações adicionais indicadas pela situação clínica; O EEG em geral mostra uma lentidão generalizada de atividade e pode ser útil para diferenciar delirium de depressão ou psicose. Tratamento Ao tratar o delirium, o objetivo primário é abordar a causa subjacente; Outro objetivo importante do tratamento é fornecer apoio físico, sensorial e ambiental; → Apoio físico: necessário para que o paciente delirante não se veja em situações nas quais haja risco de acidentes; → A pessoa com delirium não deve ter privação sensorial nem estímulo demasiado no ambiente (principalmente no período da noite); → Normalmente a pessoa com delirium se beneficia da presença de um amigo ou parente no quarto ou de um cuidador regular; → É importante que as intervenções de reorientação sejam implementadas pelos familiares e pela equipe; o paciente deve ser lembrado – de forma gentil e quantas vezes for preciso – sobre o que está fazendo no hospital, o nome do hospital, quem o visitou nos últimos dias, o nome de pessoas da equipe que realizam o atendimento, que dia é hoje, a data de previsão da alta; Também é importante evitar mudanças desnecessárias de leito e da equipe assistente. É importante também manter o paciente hidratado, sem dor, com oxigenação adequada e com os distúrbios eletrolíticos corrigidos; Farmacoterapia Os dois principais sintomas de delirium que podem exigir tratamento farmacológico são psicose e insônia; Recomenda-se que os antipsicóticos sejam reservados para os casos de delirium hiperativo, no qual há as situações de agitação grave e/ou sintomas psicóticos importantes quando as medidas não farmacológicas já tiverem sido esgotadas; O uso dos antipsicóticos deve ser limitado para controle de agitação, uma vez que essa classe de fármacos não reduz a ocorrência nem a duração do delirium; Em grande parte dos casos, o haloperidol é o agente de primeira escolha por reunir o maior corpo de evidências e apresentar menor efeito sedativo; Nos casos de via oral impraticável, o haloperidol deve ser administrado por via intramuscular, com dose inicial que pode variar de 2 a 6 mg O médico deve sempre iniciar o tratamento com doses pequenas, com aumento lento e progressivo conforme a resposta ao tratamento O efeito começa a ser observado em 30 a 60 minutos e, portanto, uma nova dose pode ser repetida após esse período se o paciente continuar agitado; A dose diária total eficaz de haloperidol pode ficar na faixa de 5 a 40 mg para a maioria dos pacientes com delirium; O uso de antipsicóticos atípicos é alternativa terapêutica quando há necessidade de altas dosesde haloperidol para o controle dos sintomas; Assim que o paciente se acalmar, deve-se iniciar a medicação na forma líquida concentrada ou em comprimidos; O haloperidol foi associado a prolongamento do intervalo QT, por isso, é necessário que os clínicos avaliem eletrocardiogramas da situação inicial e, então, periodicamente e monitorar o estado cardíaco do paciente;
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