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1 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 Síndrome consumptiva CONCEITOS IMPORTANTES Caquexia: perda ponderal associada à perda de massa muscular, podendo ou não haver perda de gordura; é o estado mais grave do emagrecimento. Desnutrição: deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não com a perda ponderal; Desnutrição energético-proteica (DEP): ocorre por um aporte inadequado de energia associado ou não a um déficit de proteínas. ENTENDENDO A PERDA PONDERAL - Normalmente, está relacionada a diferentes etiologias, a exemplo de*: ➢ Câncer (45,3%); ➢ Distúrbios psiquiátricos (16,9%); ➢ Doenças do aparelho digestório (9,7%); ➢ Endocrinopatias (7,2%); ➢ Afecções reumáticas (6,8%); ➢ Infecções (5,5%); ➢ Origem indeterminada (3,5%). *Dados retirados de um estudo retrospectivo realizado com 35.402 pctes, num hospital terciário, em que 3,4% deles apresentavam perda de peso isolada. o Fatores sociais, como baixas condições econômicas e situações de isolamento social também podem ser causa de perda de peso. - Perda de peso significativa: perda maior que 5-10% do peso habitual no período de 6 a 12 meses (Prof. Leia considera 10% em 6 meses e 5% em 3 meses). - Perda ponderal maior que 10% é considerada estado de desnutrição, associado à deficiência humoral e celular mediada. Obs: Variações no tamanho das roupas também podem indicar indiretamente o início e a magnitude da perda de peso. - Em casos de idosos, considera-se síndrome consumptiva em perdas ponderais maiores que 5% em 6-12 meses e em pacientes portadores de anorexia nervosa, nos quais considera-se emagrecimento involuntário em perdas ponderais maiores que 15% em 6 meses. EPIDEMIOLOGIA - A síndrome consumptiva possui incidência semelhante entre homens e mulheres. 2 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 - Principais fatores de risco: ➢ Tabagismo; ➢ Idade avançada; ➢ Saúde prejudicada basalmente. Obs: Os fatores citados acima são associados a um pior prognóstico no emagrecimento, assim como o fator idade (pacientes idosos), deficientes físicos e pacientes com doença sistêmica crônica. - Estima-se que 15-20% dos adultos com mais de 65 anos terão emagrecimento involuntário, se acompanhados e observados por um período de 5-10 anos. FISIOPATOLOGIA - Mecanismos que levam à perda ponderal: >> Diminuição do aporte de energia/Diminuição da ingestão de alimentos; >> Aumento do gasto energético/Metabolismo acelerado; >> Perda de energia por via urinária ou intestinal. Obs: Em cada patologia, um desses componentes vai predominar, ou podem estar associados em uma mesma doença. A perda de peso é um sintoma de desordem multifatorial, que inclui: o Alteração da ingesta calórica, da absorção intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e abuso de drogas ou da produção aumentada de substâncias endógenas (como fator de necrose tumoral, interleucina-6, substâncias bombesina-like e fatores liberadores de corticotropina); o Outros fatores, como náusea e vômito, causados pela quimioterapia, também são importantes processos associados à perda de peso; o Dor oncológica e compressões tumorais do TGI, quando provocam disfagia e distensão abdominal; o Envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), momento em que há aumento da circulação de colecistocinina que, associada à diminuição do metabolismo basal, pode levar à perda de peso importante; o Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição da ingesta calórica. - Classificação: > Perda de peso involuntária com aumento do apetite: há um aumento do gasto energético pelas vezes ou pela urina; assim, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. Como causas, têm-se: 3 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 ✓ Hipertireoidismo: perda ponderal associada ao aumento do gasto energético basal e com o déficit na absorção intestinal, devido ao aumento da motilidade gastrointestinal. Obs: Em idosos com hipertireoidismo, também pode ocorrer a associação dessa doença com anorexia. ✓ DM descompensado: no DM1, a causa da perda de peso está relacionada à deficiência de insulina (hormônio anabólico) e à hiperglicemia com glicosúria (diurese osmótica), causando depleção dos líquidos extra e intracelulares (desidratação). ✓ Síndrome de má absorção; ✓ Feocromocitoma: por ser uma neoplasia produtora das catecolaminas norepinefrina, epinefrina e dopamina, há um aumento da atividade adrenérgica que, quando exacerbada, aumenta a taxa do metabolismo basal; ✓ Aumento importante da atividade física; ✓ Causa não orgânica: baixa condição econômica, em que há dificuldade à compra de alimentos para manutenção do equilíbrio calórico. > Perda de peso involuntária com diminuição do apetite: aqui, incluem-se: ✓ Doenças psiquiátricas: depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranoia; Obs: A anorexia nervosa, por sua vez, é considerada uma doença psiquiátrica associada à perda de peso voluntária. ✓ Uso crônico de drogas: o uso crônico de álcool, nicotina, opiáceos e estimulantes do SNC diminuem o apetite e causam perda ponderal; ✓ Neoplasias: também conhecida como síndrome anorexia-caquexia, a perda de peso associada ao câncer é comum e, ocasionalmente, pode ser a única manifestação de tumores ocultos; o emagrecimento, nesses casos, ocorre de forma secundária a anormalidades metabólicas. Como o CA é uma doença, acima de tudo, inflamatória, promove uma grande produção e liberação de citocinas, que são anorexígenas e geram saciedade precoce. Além disso, pode promover a perda de massa magra através de estímulo aos processos de lipólise e proteólise. Por fim, o sítio específico acometido pelo CA também pode gerar mecanismos para o emagrecimento (ex.: CA de cabeça e pescoço – geram anosmia, ageusia, hiporexia, disfagia, o que acaba levando à perda de peso). 4 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 ✓ Endocrinopatias: pctes com insuficiência adrenal podem cursar com anorexia, náusea e perda ponderal, assim como a hipercalemia; pctes idosos, normalmente, são os que mais cursam com hipertireoidismo; nos pctes com DM, pode ocorrer a perda de apetite como sintoma de gastroparesia, má absorção intestinal por neuropatia intestinal e insuficiência renal (DM1 também pode apresentar doença de Addison – insuf. adrenal primária – associada); pctes com hipertireoidismo ou DM, na maioria das vezes, apresentam-se com apetite preservado; ✓ Doenças crônicas: ▪ Em pacientes com HIV, por exemplo, a perda ponderal é um sintoma relativamente comum, mas, ao contrário dos cânceres, essa redução de peso está associada, primariamente, à diminuição da ingesta calórica, já que o gasto energético é igual ao paciente sem a doença; perda de peso súbita em pacientes com HIV geralmente está relacionada a uma infecção secundária, enquanto a perda gradual geralmente está relacionada à redução de ingesta calórica; ▪ Pacientes com doenças renais que cursam com uremia, tendem a apresentar um quadro de anorexia, náusea e vômito, assim como proteinúria, por exemplo, na síndrome nefrótica, contribuindo para o balanço calórico negativo; ▪ Hepatites; ▪ Tuberculose; ▪ Cirrose hepática; ▪ IRC. ✓ Doenças cardiopulmonares: a perda de peso, nesses casos, relaciona-se com a insuficiência cardíaca (caquexia cardíaca) ou à DPOC; No entanto, essa perda de peso pode ser ocultada pelo edema concomitante; ✓ Doenças gastrointestinais: ex.: estenose de esôfago, acalasia, úlcera esofágica, CA de esôfago, úlcera péptica, CA de estômago, síndrome disabsortiva, pancreatite crônica, doença celíaca, DII; pctes, normalmente, cursam com anorexia, dor abdominal, disfagia, odinofagia, saciedade precoce, diarreia, esteatorreia e sangramento crônico (nas fezes); ✓ Doenças neurológicas: AVE, demências, esclerose múltipla,ELA, Parkinson, podem estar associadas à alteração de motilidade gastrointestinal, bem como à disfagia, à alteração do olfato, à alteração do paladar (disgeusia), à constipação, à disfunção esfincteriana e à falta de apetite; ✓ Causa não orgânica: isolamento social – há, normalmente, diminuição do apetite; Em idosos, a dificuldade não está apenas no ato de comer, mas também em comprar e preparar os alimentos. 5 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 > Perda de peso voluntária. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E DIFERENCIAL - Anamnese: questionar sobre apetite, atividade física, como é o padrão da perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo peso e se a perda ponderal é voluntária ou involuntária. >> Mnemônico dos 9 D’s: o Dentição: alteração na cavidade oral; o Disfagia; o Distúrbio do paladar (disgeusia); o Diarreia; o Depressão; o Doença crônica; o Demência; o Disfunção (física, cognitiva e psicossocial) ou dependência; o Drogas. >> Mnemônico MEALS ON WHEELS: o Medication: medicamentos; o Emotional problems: problemas emocionais, principalmente depressão; 6 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 o Anorexia nervosa, alcoolismo; o Late life: paranoia; o Swallowing: deglutição; o Oral factors: fatores orais; o No money: problemas financeiros; o Wandering: comportamentos alterados; o H: hiper/hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipoadrenalismo; o Enteric problems: problemas entéricos; o Eating: problemas para se alimentar sozinho; o Low salt, low cholesterol: dieta pobre em sal e em gordura; o Stones, social problems: problemas sociais. EXAME FÍSICO - Deve ser detalhado; - Deve incluir exame da pele: >> Observar sinais de desnutrição, deficiência de vitamina e oligoelementos/micronutrientes (zinco, ferro, cobre, manganês, cromo, selênio e iodo). - Inspeção da cavidade oral; - Avaliação da tireoide; - Propedêutica cardiovascular, pulmonar e abdominal; - Toque retal; - Palpação de linfonodos; - Exame neurológico + mini mental; - Medidas antropométricas + sinais vitais. 7 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 EXAMES COMPLEMENTARES INICIAIS - Realizados em casos em que a história clínica + exame físico não forem indicativos da causa. 1) Hemograma; 2) Eletrólitos; 3) Glicemia; 4) Funções renal e hepática; 5) TSH; 6) Sorologia para HIV; 7) Proteína C reativa (eleva-se quando há indicativo de processos inflamatórios ou infecciosos agudos); 8) Parasitológico de fezes; 9) Radiografia de tórax PA e perfil; 10) Sumário de urina; 11) PPD. Obs: Embora concentrações de albumina sérica, pré-albumina, transferrina, colesterol e contagem de leucócitos possam ajudar a estabelecer o diagnóstico de desnutrição, suas determinações não contribuem para determinar a causa do problema. - Na ausência de alterações no exame físico e nos exames iniciais complementares, deve-se seguir a investigação com exames de rastreamento para CA, conforme sexo e idade: 8 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 MARCADORES TUMORAIS - Geralmente, eles não são diagnósticos de neoplasias, embora possam contribuir para o diagnóstico; - O valor diagnóstico do marcador tumoral depende da prevalência da doença na população, podendo auxiliar no diagnóstico diferencial e, especialmente, predizer metástases. 9 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 FLUXOGRAMA 10 Anna Beatriz V. B. Moreira, 2018.2 Referências bibliográficas: - https://www.sanarmed.com/sindrome-consumptiva; - Investigação de síndrome consumptiva. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo.
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