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FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA PROF.ª ME. ANDERSON CÊGA SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CONCEITOS 4 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE POR DESASTRES AMBIENTAIS 15 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CRIMES AMBIENTAIS 22 HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA 37 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS – DIVERSIDADE HUMANA 49 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS - CONCEITO 57 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA 66 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS MULHERES 79 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DAS CRIANÇAS 93 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – DIREITO DOS IDOSOS 104 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – IDENTIDADE DE GÊNERO 111 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – HOMOFOBIA 120 EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS – PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS 129 ÉTICA - CONCEITO 144 ÉTICA E O MUNDO GLOBALIZADO DE HOJE 157 ÉTICA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO 168 INTRODUÇÃO O presente tem a finalidade de leva-lo a jornada do conhecimento desmitifican- do muitas “verdades” aparentes do conhecimento popular. E assim ao longo da jornada iremos descobrir realmente do que se trata o direito ambiental, a cultura afro-brasileira, as relações étnico raciais, os direitos humanos e a ética. A cada passo uma nova descoberta, um novo rumo que mudará completamen- te todo o seu modo de ver e pensar a respeito de cada tema proposto. Espero que goste da forma apresentada, bem como a clareza desenhada no trajeto, para que ao final, possa refletir e considerar como sua mente, seu conhecimento e a forma como enxerga o presente se alterou. Lembre-se, deixe anotado o que pensa a respeito de cada tema, antes de iniciar os seus estudos, e ao final reveja como o enxerga após o conhecimento adquirido. Parabéns por chegar até aqui, o primeiro passo, nos vemos ao final, e sincera- mente espero que tenha repensado sua forma de enxergar o presente em uma perspectiva solidária global. EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CONCEITOS AULA 01 5 A Lei 6.938/1981 trouxe a definição legal de meio ambiente: “Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. No entanto, trata-se de conceito restritivo, segundo aponta Vladimir Passos de Freitas, pois se limitaria aos recursos naturais, justificado pela época em que a lei foi editada. O Supremo Tribunal Federal segue defende: “a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses em- presariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral”. De qualquer sorte, assim restou consagrada em nosso país, mas que represen- ta muito mais do que a imediata e precipitada conclusão de que seria apenas o meio ambiente natural, como ar, solo, água, fauna e flora conforme prevê o con- ceito legal. Portanto, precisamos entender que temos um meio ambiente natural, cultural, artificial e do trabalho. O objetivo da classificação é identificar a atividade degradante e o bem atingido pela agressão, mantendo a unidade conceitual de meio ambiente. Carlos Frederico Marés defende que: “O meio ambiente, entendido em toda a sua plenitude e de um ponto de vista hu- manista, compreende a natureza e as modificações que nela vem introduzindo o ser humano assim, meio ambiente é composto pela terra, a água, o ar, a flora e a fauna, as edificações, as obras-de-arte e os elementos subjetivos e evocativos como a beleza da paisagem ou a lembrança do passado, inscrições, marcos ou sinais de fatos naturais ou da passagem de seres humanos”. 6 Portanto, podemos facilmente observar que o conceito de ambiente vai além daquilo que foi definido pela legislação e podemos classificá-lo em quatro cate- gorias distintas: CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO Ambiente Natural É a água, o ar, o solo, a flora e a fauna e o equilíbrio dinâmico entre todos os seres vivos o local onde vivem. Ex.: § 1.º do art. 225 da CF. Ambiente Artificial Está relacionado ao meio urbano, sendo o espaço construído (conjunto de edifica- ções). Ex.: arts. 182 e 21, XX, da CF e o Estatuto da Cidade – Lei 10.257/2001. Ambiente Cultural Descreve a história de um povo, sendo integrado pelo patrimônio artístico, paisa- gístico, arqueológico, turístico, etc. Ex.: art. 216 da CF. Ambiente Laboral ou do Trabalho É o ambiente onde as pessoas realizam as suas atividades de trabalho, sejam elas remuneradas ou gratuitas. As palavras-chave são salubri- dade e saúde físico-psíquica. Ex.: arts. 7.º, XXIII, e 200, VII, da CF. MEIO AMBIENTE ARTIFICIAL Entende-se como meio ambiente artificial o espaço urbano construído, con- siderando as edificações (espaço urbano fechado) e os equipamentos públicos (espaço urbano aberto) – ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em geral. Re- sumidamente, é a ação do homem consistente em transformar o meio ambiente natural em artificial. Também é chamado de meio ambiente construído por ser formado por todos os assentamentos humanos e seus reflexos urbanísticos. O melhor exemplo de transformação é a cidade; daí todas as preocupações em relação à qualidade de vida, expressão utilizada tanto no caput do art. 225 como no inciso V do seu § 1.º. Citando José Afonso da Silva, Elida Séguin aponta para uma disciplina autônoma do Direito Ambiental a partir do meio ambiente construído: o Direito Urbanístico. E com razão, pois as preocupações são as mes- mas e o Estatuto da Cidade, que instituiu diretrizes gerais para política urbana, representa isso. 7 A poluição sonora, por exemplo, é uma das formas de degradação ao meio am- biente artificial, conforme já decidiu o STJ ao admitir a legitimidade do Ministério Público para propor ação civil pública na defesa da segurança do trânsito, matéria relativa à ordem urbanística, com vistas à proteção de direitos difusos e coletivos. Se nós tínhamos antes da Constituição Federal de 1988 uma política nacional do meio ambiente (natural), a partir dela, por meio do art. 182 do texto constitu- cional, passamos a ter também uma política de desenvolvimento urbano para a tutela do meio ambiente artificial e regulamentada pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). Esta lei estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental (art. 1.°, parágrafo único). Den- tre as diretrizes gerais da política urbana, aquelas que merecem destaque para o meio ambiente artificial são as seguintes: • a garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações (art. 2.°, I); • o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição es- pacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as dis- torções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (art. 2.°, IV); • a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inade- quados em relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades quepossam fun- cionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraes- trutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subu- tilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental (art. 2.°, VI); 8 • a adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade am- biental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência (art. 2.°, VIII); • a proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e ar- queológico (art. 2.°, XII); • a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efei- tos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou cons- truído, o conforto ou a segurança da população (art. 2.°, XIII). MEIO AMBIENTE CULTURAL O patrimônio ambiental cultural ou meio ambiente cultural é aquele que abran- ge, segundo Vladimir Passos de Freitas, as “obras de arte, imóveis históricos, museus, belas paisagens, enfim tudo o que possa contribuir para o bem-estar e a felicidade do ser humano” ou “aquilo que possui valor histórico, artísti- co, arqueológico, turístico, paisagístico e natural”, nas palavras de Luís Paulo Sirvinskas. O art. 216 da Constituição Federal conceitua o patrimônio cultural brasileiro como aqueles “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” e nos quais se incluem: I. as formas de expressão; II. os modos de criar, fazer e viver; III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV. as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. A Emenda Constitucional 48/2005 veio a acrescentar a previsão de que a lei es- tabelecerá o Plano Nacional de Cultura – PNC que, segundo o § 3.º do art. 215, terá duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural brasileiro e à integração 9 das ações do Poder Público que conduzem, entre outras, à defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro (inciso I). Este plano está em fase de elaboração na Câmara dos Deputados. Por sua vez, o Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro – art. 216, § 1.°, da CF – por meio de: • inventários; • registros; • vigilância; • tombamento; • desapropriação, e • de outras formas de acautelamento e preservação. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, autarquia fe- deral, é o órgão responsável pela preservação, defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro. Em dezembro de 2009, a Justiça Federal condenou o IPHAN por ter deixado de aplicar multas por danos ao patrimônio histórico e artístico nacional, previstas no Decreto-lei 25/1937, visto que o instituto tem poder de polícia para agir em defesa dos bens públicos tombados. Segundo o art. 1.º do decreto referido, constitui o patrimônio histórico e artís- tico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja con- servação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Em nível mundial de preservação do patrimônio histórico, cultural e natural, o principal órgão internacional é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO. Mas qualquer cidadão, desde que prove a sua cidadania com título eleitoral ou com documento que a ele corresponda, é parte legítima para propor ação po- pular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (art. 5.°, LXXIII, da CF). A ação popular está regulamentada pela Lei 4.717/1965 e considera patrimônio público para este fim os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico (art. 1.°, § 1.°). Por sua vez, não podemos esquecer que o Ministério Público tem a função de promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio pú- 10 blico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (ciência do inciso III do art. 129 da CF). O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que: “MEIO AMBIENTE. Patrimônio cultural. Destruição de dunas em sítios arqueológicos. Responsabilidade civil. Indenização. O autor da destruição de dunas que encobriam sítios arqueológicos deve indenizar pelos prejuízos causados ao meio ambiente, especificamente ao meio ambiente natural (dunas) e ao meio ambiente cultural (jazidas arqueológicas com cerâmica indígena da Fase Vieira). Recurso conhecido em parte e provido”. Atente-se ainda que compete aos municípios, segundo o inciso IX do art. 30 da CF, promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. O inciso III do art. 23 também da Carta Magna distribui competência entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios para proteger os documentos, as obras e outros bens de valor históri- co, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. Por fim, a Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) prevê a proteção do meio am- biente natural e artificial e também do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico (art. 2.º, XII). MEIO AMBIENTE LABORAL OU DO TRABALHO O meio ambiente laboral é aquele que envolve as condições do local onde é prestado o serviço pelo trabalhador, observada a sua saúde. Nas palavras de Wellington Pacheco Barros, “é o conjunto de condições, fatores físicos, climáticos ou qualquer outro que, interligados, ou não, estão presentes e envolvem o local de trabalho da pessoa humana”. Ou seja, no meio ambiente laboral, é observada a salubridade no processo de produção e que envolvem fatores químicos, biológicos e físicos. Por exemplo, o STJ já decidiu, observando o meio ambiente do trabalho, que é aplicável sanção administrativa ao empregador que, embora coloque EPI (Equipamento de Prote- ção Individual) à disposição do empregado, deixa de fiscalizar e fazer cumprir as 11 normas de segurança, pois seu fornecimento e uso são obrigatórios. Outro exemplo, o STJ decidiu que é cabível ação civil pública com o objetivo de afastar danos físicos a empregados de empresa em que muitos deles já ostenta- vam lesões decorrentes de esforços repetitivos (LER), tendo o Ministério Público Estadual legitimidade para propô-la, pois se refere à “defesa de interesse di- fusos, coletivos ou individuais homogêneos, em que se configura interesse social relevante, relacionados com o meio ambiente do trabalho”. E por se tratar das condições de trabalho, o STF determinou que: “COMPETÊNCIA – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – CONDIÇÕES DE TRABALHO. Tendo a ação civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à pre- servação do meio ambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho”. Portanto, o meio ambiente do trabalho está diretamente relacionado com a segurança do empregado em seu local de trabalho, conforme conclui Luís Paulo Sirvinskas, tendo em vista que o “direito ambiental não se preocupa somente com a poluição emitida pelas indústrias, mas também deve preocupar-se com a exposição direta dos trabalhadores aos agentes agressivos”. Elida Séguin apontacomo riscos ambientais presentes nos ambientes de tra- balho: • Riscos físicos, como ruído, vibração, temperaturas extremas, pressões anormais, • Radiações ionizantes e não ionizantes; • Riscos químicos, como poeiras, fumos, gases, vapores, névoas e nebli- nas, entre outros; • Riscos biológicos, como fungos, helmitos, protozoários, vírus, bactérias, entre outros. O inciso VIII do art. 200 da CF constitui o fundamento constitucional do meio ambiente do trabalho, senão vejamos: Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: … 12 VIII – Colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do tra- balho. O próprio capítulo Dos Direitos Sociais aponta para a preocupação do consti- tuinte naqueles direitos que buscam a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7.º, XXII). A Norma Regu- lamentadora 15 (NR 15) trata das atividades e operações insalubres. Isto está na rede O Brasil figura como o 5º país do mundo em número de usuários com acesso à Internet, com o total de 75 milhões de internautas. Neste ranking, conforme dados do Internet World Stats , ficamos atrás da China, EUA, Japão e Índia, respectivamente. Um país com quase 200 milhões de habitantes poderia ter maior representatividade nesse panorama. Contudo, são mui- tos os motivos que impedem os brasileiros de usarem mais a Internet e a tecnologia da informação. Entre os entraves, por exemplo, há a barreira do idioma, pois na rede predomina o inglês, o alto custo da banda larga que permite a conectividade, os valores expressivos dos produtos tecnológicos, como, computadores, notebooks, softwares e outros. E afinal, no âmbito digital, o cidadão é tratado com dignidade? Agora, estes e outros questiona- mentos ganham uma nova perspectiva dentro do direito ambiental, trata-se do meio ambiente digital. Para abordar este novo ramo, o Observatório Eco entrevista o jurista Celso Antonio Pacheco Fiorillo, que acaba de ser desig- nado pelo presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D’Urso, para presidir o Comitê de Defesa da Dignidade da Pessoa Humana, no âmbito do Meio Ambiente Digital/Sociedade da Informação. Fiorillo defende a necessidade de darmos “relevância” à defesa da dignidade da pessoa humana no deno- minado meio ambiente digital. Para o jurista, o Brasil precisa interpretar a “cultura digital” tendo como parâmetro a Constituição Federal, respeitando e aplicando, por exemplo, os importantes conceitos inseridos nos artigos 215 e 216, que tratam da educação e da responsabilidade do Estado de garantir a todos o acesso à cultura. Fonte: https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br/noticias/2574327/meio-ambiente-digital-a-nova-fronteira-do-direito-ambiental 13 Isto acontece na prática “BRIGA DE GALOS” (AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 1.856/ RIO DE JANEIRO) Caso de notável relevância para o meio ambiente, em seu sentido ampliado, abordou a constitucionalidade da denominada “briga de galos”, assunto submetido ao crivo do Plenário do Supremo Tribunal Federal a partir do ajuizamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1.856/RJ (Brasil, 2011), proposta pelo procurador-geral da Repú- blica, tendo como relator o ministro Celso de Mello, demanda julgada em 26.5.2011, quando se decidiu que a referida prática configura crime previsto no art. 32 da Lei nº 9.605/98, de 12.2.1998 (Brasil, 1998), sendo, ainda, atentatória à própria Constituição da República, não configuran- do simples manifestação cultural, mas inquestionável ato de crueldade contra os animais empregados na disputa, cuja proteção jurídica, com nítido escopo socioambiental, encontra amparo na Lei Fundamental. Re- sumidamente, no voto proferido pelo ministro relator, Celso de Mello (Brasil, 2011), reconheceu-se o impacto negativo que a legislação atacada representaria para a incolumidade do patrimônio ambiental dos seres humanos e para a preservação da fauna, razão pela qual se reconheceu a existência de conflito entre a Lei nº 2.895, de 20 de março de 1998 (Estado do Rio de Janeiro, 1998), a qual admitia e até mesmo regulava a chamada “briga de galos”), e a regra prevista no art. 225, caput, e § 1º, VII, da Cons- tituição Federal (Brasil, 1988), dispositivo que veda qualquer crueldade contra os animais. Celso de Mello (Brasil, 2011), citando balizada doutrina da área ambiental, relembrou que o Constituinte, ao proteger a fauna e vedar práticas que submetam os animais a atos crueldade, objetivou tornar efetivo o direito fundamental à preservação da integridade do meio ambiente 14 Anote isso MEIO AMBIENTE, se divide em Natural, Artificial, Cultural e Laboral. Não associe assim de agora em diante o Meio Ambiente apenas a grama, rios e animais. 15 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – RESPONSABILIDADE POR DESASTRES AMBIENTAIS AULA 02 16 1984 - Vila Socó - uma falha em dutos subterrâneos da Petrobras espalhou 700 mil litros de gasoli- na nos arredores dessa vila, localizada também em Cubatão (SP). Após o vazamento, um incêndio destruiu parte de uma comunidade local, deixando quase cem mortos. Vila Socó depois da tragédia | Foto: Reprodução | O popular Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil- -e-no-mundo Os desastres ambientais sempre chamam a atenção por sua extensão aos seres humanos, a exposição e a desapropriação forçada com que as pessoas são expostas pela destruição de seus bens, bens estes que muitos levaram a vida toda para conseguir reunir e assim propiciar conforto a seus entes queridos. No entanto o que poucas pessoas sabem é que o Estado em nosso caso o Brasil, é o responsável direto pelos desastres ambientais O fundamento constitucional da responsabilização civil do Estado vem do pará- grafo 6º, do artigo 37, o qual assegura que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviço público respondem pelos danos que seus agentes causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o agente causador, quando este atuar com dolo ou culpa. A ideia central da responsabilização civil do Estado é a de que quem obtém o bônus, arca com o ônus, ou seja, como os serviços estatais a todos aproveita, nada mais justo que estes - a sociedade - respondam pelos danos decorrentes daquela atividade. https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/12/01/principais-desastres-ambientais-no-brasil-e-no-mundo 17 A Constituição Federal se refere a responsabilidade objetiva do estado para com os lesados, excepcionando, todavia, ao servidor público, a responsabilidade subjetiva. A responsabilização objetiva do Estado existe desde a Constituição Federal de 1.946 (artigo 194), e foi repetida nas Constituições seguintes, de 1.967 (artigo 105) até chegar ao texto atual do artigo 37, § 6º.Oportuno o destacar que “tal respon- sabilidade não será elidida nem mesmo pela alegação de legalidade da atividade empreendida, tendo em vista caber ao Estado responder pelos danos decorrentes da consecução de suas políticas públicas” Enquanto que no antigo liberalismo cabia ao Estado abster-se da sociedade, no pós-modernismo é seu dever realizar prestações positivas no campo social, haja vista que: “…enquanto os ‘direitos individuais’ significam um não fazer do Estado e dos demais agentes públicos, os ‘direitos sociais’ devem ser vistos como aqueles que têm por objetivo ‘atividades positivas’ do Estado, do próximo e da sociedade, para subminis- trar aos homens certos bens e condições. “ Assim, “no Estado Democrático de Direito a base do Direito Administrativo só pode ser o Direito Constitucional”. O artigo 225 da Constituição Federal determina à sociedade e ao Poder Público o deverde proteção ambiental e, seu artigo 170, IV, dispõe que as atividades econômicas só se legitimam quando preservam o meio ambiente. Não restam dúvidas que o artigo 225, § 3º, da Constituição Federal recepcionou a norma insculpida no artigo 14 e seu parágrafo 1º, da Lei nº 6.938/81, que esta- belece a Política Nacional do Meio Ambiente, dispondo expressamente que quem deixar de tomar as medidas necessárias à preservação ou correção de danos ambientais deverá, independentemente de sua culpa, repará-los ou indenizá-los: Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, esta- dual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da quali- dade ambiental sujeitará os transgressores: … § 1º. - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor 18 obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. … É expresso o caput do citado artigo sobre a possibilidade de responsabilização por omissão. O artigo 225, caput, da Constituição Federal, determina uma ação estatal e da sociedade, tanto preventiva como repressiva à proteção ambiental e, seu parágrafo primeiro reforça o dever do Poder Público a tal incumbência, daí a concluir que há uma obrigação pré-existente de tutela ambiental do Estado, sur- gindo, consequentemente, a possibilidade de sua responsabilização por omissão. Outrossim, o dispositivo legal acima mencionado usa a expressão poluidor que, segundo definição da própria Lei 6.938/81é toda “… pessoa física ou jurídi- ca, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (Art. 3º, IV). Decorrência disto é a legitimidade passiva solidária de todo aquele que con- tribuir, direta ou indiretamente, para a degradação ambiental, ou seja, a pessoa física que emanou o ato também é responsável solidariamente à pessoa jurídica pela qual atuou. Nota-se que o aludido dispositivo não faz distinção entre poluidor público ou privado, logo, da mesma forma que o administrador de uma empresa privada responde pelos danos ambientais por ela provocados, o administrador público responderá pelos danos ambientais provocados pela pessoa jurídica de direito público a qual representa, porém pela teoria subjetiva, conforme reza o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Neste ponto discordamos de parte da doutrina que entende haver uma equipa- ração isonômica entre o poluidor público e o privado, uma vez que a Constituição Federal expressamente excepcionou ao servidor público, a responsabilização nos casos de dolo ou culpa, ao passo que, em relação ao representante de pessoa jurídica de direito privado, a responsabilização por danos ambientais será inde- pendentemente de culpa. Não obstante se trate de um macro bem - meio ambiente - não há como pre- valecer a legislação infraconstitucional em face de disposição expressa da Cons- tituição Federal, devendo-se fazer uma interpretação conforme a constituição do artigo 3º, IV, da Lei 6.938/81. Não há dúvidas, entretanto, ser cabível a responsabilização do agente público pelos danos ambientais, aos quais a pessoa jurídica de direito público que ele 19 representa for poluidora direta ou indireta. Isto porque, como ensina Paulo Affonso Leme Machado, os bens ambientais são valores constitucionais indisponíveis e, não raras vezes, a discricionariedade administrativa os interpreta em conformidade às suas expectativas - legítimas ou não - incorrendo em prejuízos aos seres humanos. Aliás, a ação administrativa deve-se pautar pelos princípios da legalidade, mo- ralidade, eficiência, impessoalidade e publicidade (Art. 37, caput, da Constituição Federal, e Art. 4º da Lei nº 8.429/92). O parágrafo 4º, do artigo 37, da Constituição Federal, cumulado com sua re- gulamentação infraconstitucional, a Lei nº 8.429/92, elenca atos considerados de improbidade administrativa e as respectivas sanções. O ato improbo pode decorrer do recebimento de numa vantagem indevida para deixar de praticar algo que deveria fazer, ou para fazer algo que não deveria (Art. 9º da Lei nº 8.429/92). Pode decorrer também de qualquer dano ambiental gerado por ação ou omissão, dolosa ou culposa, que lese o erário público (Art. 10, da Lei nº 8.429/92). Além destes, pode decorrer até mesmo da infringência de um dos princípios da administração pública (Art. 11, da Lei nº 8.429/92), sujeitando, em qualquer dos casos, o responsável às penalidades previstas nos artigos 37, § 4º da Constituição Federal, e 12º, da Lei nº 8.429/92. Frisa-se, outrossim, que não cabe ao Estado escusar-se ao cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos danos ambientais alegando a cláusula da reserva do possível. A Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente, da Organização das Nações Unidas, determina aos Estados em desenvolvimento obrigação de planejamento integrado para assegurar a compatibilidade entre desenvolvimento e preservação ambiental (princípio 13º) e, a questão já foi posta a apreciação do Supremo Tribunal Federal, que julgou incabível alegação da re- serva do possível diante da omissão estatal na implantação de políticas públicas previstas na Constituição Federal, sempre que a omissão vier a comprometer a eficácia e integridade de direitos sociais. Deve o Estado, portanto, priorizar políticas públicas definidas no texto consti- tucional, dentre as quais está a preservação e defesa do meio ambiente ecologi- camente equilibrado para as gerações presente e futuras (Art. 225). O que vemos, no entanto, é o descaso do Poder Executivo para com a preser- vação ambiental, haja vista o descompromisso com os órgãos ambientais respon- sáveis, que não têm equipamentos modernos, tampouco quantidade e qualidade 20 de pessoal necessários ao serviço de fiscalização e inspeção das obras e serviços potencialmente poluidores. Seus veículos estão sucateados e não há pessoal ha- bilitado suficiente à demanda do país, o que se reflete na falha dos serviços de fiscalização ambiental e o grande número de danos ao meio ambiente. Isto reforça a necessidade de responsabilização do Estado por omissão na preservação e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado que, ape- sar de ser direito fundamental do ser humano e dever constitucional expresso do Poder Público, é tratado com desaso pelo Poder Executivo que não a prioriza. Assim, “se o Estado lesar um bem juridicamente protegido para satisfazer um interesse público, mediante conduta comissiva legítima, responderá com fundamento no princípio da isonomia, pois, se todos se beneficiam com con- duta do Estado, também deverão arcar com seu ônus”, além de que, a repa- ração do dano aproveitará a toda a sociedade e, na impossibilidade da repará-lo, a indenização deve ser destinada a um fundo de reparação do meio ambiente, uma vez que, em qualquer dos casos, a sanção imposta ao Estado se reverterá em benefício social. O Estado, entretanto, não é um segurador universal, cabendo uma análise caso a caso sobre o seu dever fiscalizatório em relação ao dano causado, para ser legitimado passivo de uma ação reparatória, uma vez que: Para que haja responsabilização em matéria ambiental, pois, é necessário ape- nas verificar se, no caso concreto, o sujeito se caracteriza como poluidor direto ou indireto, o que passa pela ideia de nexo e, no caso de omissão do Estado, deverá considerar a natureza e os limites de seu dever fiscalizatório. Por isto é que, em casos tais, para que o Estado possa ser considerado poluidor indireto o intérpre- te deverá perscrutar a existência de culpa administrativa, isto é, se a fiscalização podia ou não ser exigida da Administração (17). Em suma, em se tratando de responsabilidade na reparação de dano ambien-tal por ação, basta a conduta, o resultado e o nexo causal, ainda que indireto, ao passo que, para a responsabilização por omissão, acresce-se aos elementos retro mencionados a culpa administrativa que, conforme narrado, significa o simples não funcionamento do serviço. Esta culpa administrativa é mais facilmente identificada, e até presumida, na- quelas atividades potencialmente poluidoras às quais a lei exige prévio licencia- mento ambiental, podendo, entretanto, o Estado elidir a presunção da culpabili- dade. 21 Isto está na rede Desastres ambientais e mudanças climáticas marcam 1º dia do Fórum Mundial da Água, que ocorreu em março de 1998. Os dois últimos gran- des desastres ambientais brasileiros, da barragem de Mariana, em 2015, e o de Barcarena, no início de março, foram lembrados em, pelo menos, cinco painéis realizados no primeiro dia de debates do Fórum Mundial da Água, em Brasília. Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/desastres-ambien- tais-e-mudancas-climaticas-marcam-1-dia-do-forum-mundial-da-agua. ghtml Isto acontece na prática 2015 - Rompimento da barragem de Mariana - em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), provocou a liberação de uma onda de lama de mais de dez metros de altura, contendo 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Em Minas Gerais, na última década, ocorreram desastres ambientais com minera- ção em Nova Lima (2001), em Miraí (2007), e em Itabirito (2014). Anote isso Dentre todos os desastre ambientais ocorridos no Brasil, quantas pessoas foram realmente condenadas até os dias de hoje? As pessoas jurídicas pagam as multas ambientais, mas na esfera penal, não são condenadas. https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/desastres-ambientais-e-mudancas-climaticas-marcam-1-dia-do-forum-mundial-da-agua.ghtml https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/desastres-ambientais-e-mudancas-climaticas-marcam-1-dia-do-forum-mundial-da-agua.ghtml https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/desastres-ambientais-e-mudancas-climaticas-marcam-1-dia-do-forum-mundial-da-agua.ghtml 22 EDUCAÇÃO AMBIENTAL – CRIMES AMBIENTAIS AULA 03 23 O ambiente é o que somos em nós mesmos. Nós e o ambiente somos dois proces- sos diferentes; nós somos o ambiente e o ambiente somos nós. Jiddu Krishnamurti No momento em que o Brasil novamente se transforma em um circo dos horrores em matéria ambiental, em razão da tragédia consumada ocorrida na barragem em Brumadinho, bem como a anunciada pelo Governo Federal para a Amazônia em favor das empresas mineradoras em 2017 A principal lei sobre o meio ambiente é a atual Lei 9.605/98, conhecida como Lei Ambiental. No país de Chico Mendes, onde nem as freiras escapam da fúria predatória voltada contra as nossas riquezas naturais, não é difícil imaginar o grau de complexidade inerente ao processo legislativo para a provação e sanção do referido diploma legal. Embora não haja dúvida quanto ao avanço jurídico alcan- çado pelo advento do novo ordenamento, estamos ainda bastante atrasados no tocante à necessária revisão, especialmente no que diz respeito à parte criminal. A Lei Ambiental é uma lei de natureza mista, ou seja, possui conteúdo variado, disciplinando temas como o Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito Admi- nistrativo. Entretanto, dos oitenta e dois artigos que a compõem, sessenta e nove deles são de natureza criminal, que, por sua vez, criam trinta e quatro tipos penais incriminadores: seis contra a fauna; catorze contra a flora; mais cinco referentes à poluição; quatro em prejuízo do ordenamento urbano e do patrimônio cultural; e por fim, outros cinco que atentam contra a administração ambiental. Vamos ver os crimes propriamente ditos. Contra a fauna Os atentados que se relacionam à fauna, então previstos na Lei 5.197/67 (Có- digo de Caça) e o Decreto-Lei 221/67 (Código de Pesca), foram consolidados então na Seção I do Capítulo V. Cumpre salientar que as penas cominadas guardam, de certo modo, uma ade- quação à gravidade dos fatos, distanciando-se do que foi outrora previsto que, por considerar como inafiançáveis os delitos cometidos contra a fauna silvestre e, por estabelecer sanções um tanto quanto rigorosas em demasia, tinha sua aplica- ção prática um tanto quanto discreta. Aplica-se, na grande maioria dos casos, os princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato (= delito de bagatela), 24 absolvendo então os acusados. Considerações acerca dos tipos penais em se tratando a fauna merecem des- taque. Inicialmente no art. 29 fez o legislador referência à “espécimes”, assim sendo, este deu sentido de que o tipo penal só se verificará com a ação em face de vários exemplares da fauna, ou seja, que o dano aplicado em relação a tão somente um exemplar não configuraria crime. Com relação ao art. 30, verificou-se a utilização da expressão: “exportar para o exterior”, se não verificando-se essa redundante, ao menos restringiu a possi- bilidade da prática de tal fato típico no comércio tão somente interno, fato muito comum em se tratando de Brasil. Questão também relevante é a que se refere ao art. 32, que trata da prática de abuso contra os animas, haja vista não se ter definido legalmente o que se configura como sendo a “pratica de abusos”. “Maus-tratos” é o nome jurídico da conduta que consta o art. 136 do Código Penal, no entanto, praticada contra ani- mais possui uma pena maior do que contra a pessoa. Contra a flora Dos crimes contra a flora, previstos na Seção II do Capítulo V, destaca-se a in- corporação como sendo conduta criminosa a maioria das contravenções penais outrora previstas na Lei 4.771/65 (Código Florestal). Em se tratando desta modalidade de crimes, sem dúvidas um dispositivo legal que merece destaque é o art. 42, que se refere ao fabrico, venda, transporte ou soltura de balão. O referido artigo é, sem dúvida, um comportamento adequado para figurar no rol das contravenções penais ou das infrações administrativas, haja vista, ter como escopo inibir conduta típica da cultura brasileira. Certamente a alegria propiciada pelas festas juninas, que em nada se dista das manifestações culturais fadará tal dispositivo ao desuso. 25 Da poluição Em se tratando dos crimes previstos na Seção III do Capítulo V da Lei dos Crimes Ambientais, o legislador destacou no art. 54 os crimes de poluição, revogando en- tão tipificação análoga prevista no art. 15 da Lei 6.938/81, em face de possui um conteúdo mais abrangente. Dispõe o referido artigo da seguinte redação: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que mo- mentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigên- cias estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível”. Destaca-se que o caput prevê a forma dolosa do crime. O tipo penal tutela en- tão a saúde humana, podendo o crime ser figurado como de perigo ou de dano. A segundaparte, tara o artigo da incolumidade animal e vegetal, sendo o referido crime tão somente de dano, vez que, explicitamente tipifica a conduta capaz de provocar a mortandade de animais ou a efetiva destruição significativa da flora. Tratou o § 1º da modalidade culposa do referido crime, em todas as suas modalidades. Já em seu § 2º cuida do crime qualificado pelo resultado, onde se permite a aplicação de uma pena mais severa. Por fim o § 3º, prevê a omissão na adoção de medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível, valorizando-se então os princípios de direito ambiental. 26 Da desconstituição da pessoa jurídica Visualizada em diversos países a teoria da “desconsideração da personalidade jurídica” ou da “despersonificação da pessoa jurídica” vem, sem dúvidas, ganhando espaço na doutrina brasileira e aos poucos sendo aplicada nos Tribunais, não só no que se relaciona ao direito ambiental, mas também a outros ramos do direito. A referida consiste em extinguir a personalidade jurídica sempre que a existên- cia desta, porventura, obstar ao ressarcimento dos prejuízos causados á qualidade do meio ambiente, de acordo dispõe o art 4º da 9.605: “Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”. A referida Lei dos Crimes Ambientais, no que se refere à desconsideração da personalidade jurídica (art. 4º), praticamente, reproduz o que aduz o artigo 28, § 5º do Código de Defesa do Consumidor. O principal parâmetro da questão é sem dúvidas a necessidade de reparação dos prejuízos causados. O que na realidade se depreende é que a “desconsideração” é enfim aplicada quando a pessoa jurídica em questão foge das finalidades a que foi criada ou, mesmo dentro dela, comete atos que, se analisados, demonstra fraude à lei ou ao contrato, em detrimento de terceiros. Como objeto da possível desconsideração ou despersonalização é, indubita- velmente, coibir a fraude, em todos os sentidos, bem como o abuso de direito, haja vista o cometimento de excessos. Há de se destacar, no entanto que a des- personalização só anula os atos em questão impugnados, preservando então os demais que se verificarem alheios aos atos outrora impugnados. Vislumbra-se que não é qualquer prática delituosa que motivará a desconsi- deração. Destaca Valdir Sznick, que a desconsideração se dará “quando há uma ocultação da pessoa por trás da pessoa jurídica e ocorrendo o levantamento do véu do véu (lifting the corporate veil) se descobre o uso abusivo ou excessivo da pessoa jurídica, mascarando a verdadeira finalidade da mesma. A má direção da empresa (com o abuso ou o uso excessivo) constitui-se em uma infração e, pois, um comportamento ilícito, justificando a desconsideração”. Em suma, grande parte da doutrina de direito ambiental entende que agiu bem o legislador ao inserir na Lei dos Crimes Ambientais a possibilidade da desconsi- deração da personalidade jurídica, combatendo a fraude e o abuso de direito, por meio de seus sócios, agredindo o meio ambiente e locupletando-o. 27 A aplicação das penas No que se relaciona à aplicação das penas, o referido diploma legal (lei. 9.605/98) não dista em nada do Código Penal Brasileiro (Decreto-Lei. 2.848, de 07 de dezembro de 1940), prevendo penas de multa, restritivas de liberdade e restritivas de direito. Entretanto destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as refe- ridas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e jurídicas; e, haja vista a enorme diferença entre os delinquentes ambientais e àqueles que tem ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação a segunda situa- ção notar-se-ia um contrassenso se o legislador optasse pela pena restritiva de liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas no que se relaciona a privação de liberdade do delinquente. Das penas aplicáveis às pessoas físicas Ambas as penas do referido diploma legal aplica-se às pessoas físicas, sendo elas, as restritivas de liberdade, de direito e multa. Penas restritivas de liberdade As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico nacional são as de detenção e as de reclusão, e prisão simples em se tratando de contravenção penal. Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a pena de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de de- tenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no regime de cumprimento de pena. Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez 28 o legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em deter- minados casos, ser substituída pelas restritivas de direito. Assim sendo, verifica-se que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso. Penas Restritivas de direito Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação: “as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de li- berdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime”, verifica-se como anteriormente referido, que o legislador brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito. O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambien- tais. Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil do delinquente que o comete em relação ao que comete um crime, como por exem- plo, de homicídio, assim sendo, não é concebível a lei preveja a estes, a mesma cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento. De acordo ainda a disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restritivas de liberdade. Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do referido diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição temporária de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação pecuniária; V – recolhimento domiciliar”. Das penas acima citadas, é mister enfatizar que não se verifica uma sobreposi- ção ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discrionáriedade na aplicação das mesmas, no entanto verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica nacional, a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e a pena de prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva da segunda, 29 ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam condições de solver com as pecuniárias. Penas da Pessoa Jurídica Após descrever as penas aplicáveis as pessoas físicas, a Lei dos Crimes Am- bientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas. Dispõe o art. 21: “as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas ju- rídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de direitos; III – prestação de serviços à comunidade”. No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente citado, três possibilidade. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sendo uma só pena a ser aplicada; alternativa, onde nota-se que há maisde uma pena, no entanto tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas, onde verifica-se mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em cumulo. Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal em questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica como sendo fator motivador de muitos contrários a punição penal da pessoa jurídica. Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua aplicação. Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa, apli- car-se-á a restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á tão so- mente a restritiva de direito. Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de multa, poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços à comunidade. A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas restriti- vas de direito da pessoa jurídica são: I – suspensão parcial ou total das atividades; II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III – proibição de 30 contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações”. Em se tratando da su8spensão das atividades, explicada no § 1º do artigo su- pra citado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui-se um ato punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão par- cial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a execução (continuação). Em se tratando da interdição, explica o § 2º: “a interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização ou em desacordo com a concedida, ou com a violação de disposição legal ou regulamentar”. Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplicação da interdição. São sujeitas a interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade – aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão somente de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais. Nota-se que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja contrariando a lei ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a necessidade da participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver atividades que não estão de acordo com as disposições legais. No que se relaciona à interdição, verificar-se-á esta quando: 1 – autorização: tal verifica-se pôr em relação ao funcionamento, bem como a construção de uma obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a atividade clan- destina; 2 – em desacordo: aqui, há a autorização para realização de determinada atividade, no entanto, poderá ser verificada em duas situações distintas – a) con- cedida: verifica-se quando a autorização é dada para a consecução de atividade diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação: quando apesar de ter autorização para realização daquela determinada atividade, não a executa de acordo com as disposições legais. Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação. Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que: 31 “A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder a dez anos”. No que se relaciona a pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa ju- rídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe-se que as penas que vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja vista sua natureza financeira. Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos. Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num de- senvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e projetos de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas degradas. Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá ser aplicada a contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser: ambientais, culturais e públicas. Isto está na rede Desde o dia 25 de janeiro, a população brasileira acompanha as repercus- sões de mais um crime ambiental de proporções incalculáveis. O rompi- mento da barragem de “Brumadinho 1”, na região do Córrego do Feijão (MG) já entrou para a história em função do número de vítimas identi- ficadas até o momento, sendo que as buscas ainda não se encerraram. “Um crime dessas proporções é sempre impactante, porque evidencia a permissividade do Estado brasileiro com o grande capital na exploração dos recursos naturais, negligenciando alertas emitidos por organismos internacionais, movimentos sociais e órgãos ambientais sobre os riscos de sua existência”, avalia a presidente do CFESS, Josiane Soares. Assim como o ocorrido em Mariana (MG) em 2015, também a mina de Brumadinho acumulava um histórico de problemas notificados por órgãos ambientais desde 1998, como multas por deslizamentos, despejo de efluentes nos rios e poluição do ar (conforme noticiado pelo Portal Terra – clique aqui para saber mais. “Em razão de tais fatos, o Conjunto CFESS-CRESS, 32 Isto está na rede alinhado com o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) e ou- tras organizações em defesa dos direitos humanos, reforça que não se pode naturalizar a retórica do ‘desastre’ ambiental, para qualificar o que ocorreu em Brumadinho, como também não foi ‘desastre’ a situação de Mariana, sobre a qual também nos manifestamos à época”, relembra a presidente do CFESS (clique para ler a nota sobre Mariana). Desastres são imprevistos e o rompimento dessa barragem já era uma tragédia anunciada, diante da qual não se registra nenhuma medida preventiva, nem voltada à população residente na região e, tampouco, voltada aos/ às trabalhadores/as da Vale, também atingidos/as. “Embora indeniza- ções e reparações de quaisquer naturezas não possam suprimir as con- sequências do ocorrido, responsabilizar esses empreendimentos tem o sentido político de mostrar que o valor econômico dessas atividades não pode se sobrepor ao valor das vidas que foram perdidas e prejudicadas pelo seu funcionamento. Tem também o sentido político de alertar para o movimento, fortemente presente na composição do atual Executivo Federal e do Congresso Nacional, que caminha de braços dados com as mais retrógradas frações da classe dominante brasileira interessada em flexibilizar os parcos dispositivos legais que regulam o avanço do capital sob o meio ambiente – o que inclui os direitos das populações que vivem e trabalham nessas localidades”, analisa a conselheira do CFESS Mariana Furtado. AÇÃO POLÍTICA E DEMANDAS AO TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS NA REGIÃO O Conselho Regional de Serviço Social de Minas Ge- rais (CRESS-MG) vem desempenhando importantes ações em defesa dos direitos da população afetada pelo crime socioambiental de Brumadinho. O conselheiro Leonardo Koury Martins, coordenador da Comissão de Éti- ca e Direitos Humanos, tem acompanhado diretamente as atividades do “gabinete de crise” em conjunto com o Conselho Regional de Psicologia (CRP), a Comissão de Direitos Humanos da OAB, o MAB e outras insti- tuições do estado. Leonardo destaca que um dos avanços pactuados na última reunião, realizada em 30 de janeiro, foi o compromisso do poder público municipal de convocar os/as profissionais da região para uma reunião interdisciplinar de “alinhamento” com suasentidades 33 Isto está na rede representativas. “O trabalho em andamento busca assegurar o atendi- mento emergencial, mas não deve se restringir a este. Precisamos acionar o conjunto mais amplo das políticas públicas, a exemplo das políticas de desenvolvimento territorial e habitação de interesse social, consideran- do-se os diversificados impactos presentes numa situação como esta”, enfatiza o conselheiro. Para demarcar esse propósito, o CRESS-MG pro- duziu uma nota de orientação à categoria profissional, disponibilizada em seu site. Outra questão importante é a organização administrativa do CRESS-MG, para atender à demanda emergencial de novos pedidos de inscrição em função de contratações temporárias que estão ocorrendo em decorrência da necessidade de recompor as equipes para atendimen- to na região. “Organizamos um fluxo específico e mais célere, para agilizar a aprovação dessas novas inscrições e eventuais reinscrições, consideran- do a necessidade de possibilitar o trabalho profissional com qualidade e prestado em condições legais por profissionais devidamente inscritos/ as no CRESS”, informa a conselheira vice-presidente, Ana Maria Bertelli. O CFESS reafirma que o compromisso de assistentes sociais em todo o Brasil é com a qualidade dos serviços prestados e o acesso da população aos direitos sociais e humanos. O Conselho Federal se solidariza com a população e com os/as trabalhadores/as da Vale afetados/as pelo que o CFESS considera um crime. “Conclamamos, juntamente com o CRESS-MG, as/os assistentes sociais da região a se empenharem na realização de suas atribuições, munidas/os de nossas bandeiras de luta, pois assegurar um trabalho competente e com direção política é essencial para combater as desumanidades e os impagáveis custos da exploração do trabalho no capitalismo”, completa a presidente do CFESS. Fonte:http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz- -desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz-desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial http://cress-sc.org.br/2019/02/11/crime-ambiental-de-brumadinho-traz-desdobramentos-para-a-rede-socioassistencial 34 Isto acontece na prática A pedido do Ministério Público Federal, um ex-cacique da etnia Guarani M’Bya foi sumariamente absolvido após ter sido acusado criminalmente por ter desmatado uma área para roçado e construção de ocas na região de Iguape (SP). A denúncia foi do Ministério Público do Estado de São Pau- lo (MP-SP), que viu na conduta do indígena uma violação à Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998). Porém, quando o processo foi transferido para a Justiça Federal, o MPF defendeu a absolvição do acusado, com base em direitos que o ordenamento jurídico brasileiro garante às populações tradicionais – tese que prevaleceu. O indígena, liderança da aldeia Jeiyty, inserida na terra indígena Ka’aguy Hovy, no Vale do Ribeira, teria parti- cipado, segundo a denúncia, de uma supressão de vegetação nativa em uma área de 0,753 ha, correspondente a um campo de futebol, voltada à instalação de pequenas moradias e ao plantio voltado à subsistência de sua comunidade. Inicialmente, a constatação desse fato deu origem a um inquérito policial e, em 2015, à denúncia do MP-SP. Entretanto, após o reconhecimento da competência da Justiça Federal para julgar o caso, o MPF passou a atuar, e, contrariando a interpretação dos promotores do MP-SP, destacou que a conduta apurada deveria ser analisada à luz não apenas da Lei de Crimes Ambientais, mas também da Constituição Federal e de outras normas que reconhecem direitos a comunidades tradicionais. Isso porque, embora, em tese, um desmatamento possa ser considerado um delito, a prática não resulta em significativo dano ao meio ambiente quando feita da forma tradicional dos povos indígenas, com baixo impacto e prevendo períodos de regeneração após o ciclo de desmate, plantio e colheita. O MPF lembrou que o direito das comuni- dades indígenas à exploração de suas terras é previsto no artigo 231 da Constituição Federal e no Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), que garantem a esses povos tradicionais a posse permanente das áreas ocupadas e o usufruto exclusivo do solo e dos rios que por elas passem. Pontuou, ainda, que a Fundação Nacional do Índio (Funai) reconheceu, no ano passado, os limites do território Ka’aguy Hovy e sua vinculação tradicional ao grupo Guarani. “Tanto a ordem constitucional quanto a legislação extrapenal asseguram aos povos indígenas seu modo de vida tradicional, e deixam 35 Isto acontece na prática explícito o reconhecimento às suas atividades produtivas concernentes à exploração dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e à reprodução física e cultural. Desta forma, todo manejo ambiental que se insira neste contexto de direito tradicional (e não esteja, por exemplo, vol- tado à monetização da terra) deve ser considerado inserido em um plexo de direitos fundamentais indígenas”, afirmou o procurador da República Yuri Corrêa da Luz, autor do pedido que resultou na absolvição do ex-ca- cique. O MPF argumentou que este vínculo entre o desmate e o modo de vida dos índios já seria suficiente para inocentá-lo. Mas, além disso, pontuou que, agindo de acordo com suas práticas tradicionais, o líder da aldeia não poderia ter clareza sobre a ilicitude de sua conduta, e por isso atuou, no mínimo, em “erro de proibição culturalmente condicionado”, capaz de eximi-lo de qualquer responsabilidade penal. A Justiça Federal, acolhendo os argumentos do MPF, absolveu sumariamente o indígena, reconhecendo sua inocência. Para o procurador da República atuante no caso, “trata-se de uma decisão relevante, que dá segurança aos indígenas da região do Vale do Ribeira, e reconhece seu direito constitucional de manejarem tradicionalmente seu território, buscando sua subsistência de forma ambientalmente sustentável e em harmonia com seus modos de ser, fazer e viver”. O número da ação é 0000058-94.2018.403.6129. Fonte: http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado- -de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf http://www.mpf.mp.br/sp/sala-de-imprensa/noticias-sp/guarani-acusado-de-crime-ambiental-em-iguape-sp-e-absolvido-a-pedido-do-mpf 36 Anote isso Desmatamento criminoso, grilagem de terras e agressões contra animais silvestres são considerados crimes ambientais Interessados em denunciar crimes ou agressões ao meio ambiente podem entrar em contato com o serviço Linha Verde do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pelo telefone 0800-61-8080 ou pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br. A ligação é gratuita de qualquer ponto do País e funciona de segunda a sexta-feira (exceto feriados), das 8h às 18h. No site do Ibama também é disponibilizado um serviço para registro de ocorrências on-line. Para fazer a denúncia via internet (e/ou manifesto, reclamação, sugestão, informação) é preciso acessar a página específica do Instituto e preencher os dados corretamente. Por telefone ou pela internet, cabe ao informante citar com clareza qual o tipo de crime que está ocorrendo, exemplo: cativeiro de animais, desma- tamento, poluição, caça, acidente com produtos químicos, degradação de área, maus tratos de animais, queimada, contra servidores, irregularidades administrativas, pesca predatória, entre outros. São indispensáveis dados precisos sobre a localização para o registro da denúncia. A insuficiência de informações, na maioria das vezes, impossibi- lita ou retarda o atendimento. Cabe ressaltar que dados cadastrais do informante (nome, telefone, ende- reço) são mantidos em sigilo, visando resguardar a sua integridade físicae conforme garante o direito individual dos cidadãos em relação à inviola- bilidade de sua intimidade. Fonte: http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-de- nunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-denunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente http://www.brasil.gov.br/noticias/meio-ambiente/2014/08/saiba-como-denunciar-crimes-e-agressoes-ao-meio-ambiente 37 HISTÓRIA E CULTURA AFRO- -BRASILEIRA E INDÍGENA AULA 04 38 “Nós temos que ter orgulho em ser quem somos. Almejar a excelência. Quando fizermos isso, a América estará pronta para nos ajudar.” Thabang – África do Sul Nos dias de hoje, o território brasileiro concentra a maior população africa- na fora da própria África. E é exatamente por conta desse motivo que a cultura oriunda desses povos exerce uma grande influência em nosso país, com destaque principalmente para o Nordeste do estado. Porém, foi só junto com o início do século XX que grande parte das manifes- tações, costumes, ritos e outros começaram a fazer parte também da cultura brasileira, sendo considerados expressões não essencialmente africanas, porém, artes genuinamente afro-brasileiras. Sendo assim, hoje a cultura negra é também fundamental para formar a iden- tidade de nossa nação, motivo pelo qual a cultura afro-brasileira se estabelece em todo nosso território. Vale destacar que ela é também o resultado das crenças dos indígenas e dos portugueses, que por muitos anos, nos influenciaram com suas músicas, culinária e religiões. Características da Cultura Afro-Brasileira Uma das principais características da cultura afro-brasileira é que não há ho- mogeneidade cultural em todo território nacional. A origem distinta dos africanos trazidos ao Brasil forçou-os a apropriações e adaptações para que suas práticas e representações culturais sobrevivessem. As- sim, é comum encontrarmos a herança cultural africana representada em novas práticas culturais. As manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos. Só deixaram de ser perseguidos pela lei na década de 1930, durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Assim, elas passaram a ser celebradas e valorizadas, até que, em 2003, é promulgada a lei nº 10.639 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Essa lei exigiu que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio tenham em seus cur- rículos o ensino da história e cultura afro-brasileira. Os dois grupos de maior destaque e influência no Brasil são: • os Bantos, trazidos de Angola, Congo e Moçambique; • os Sudaneses, oriundos da África ocidental, Sudão e da Costa da Guiné. 39 Devemos ressaltar que as regiões mais povoadas com a mão de obra africa- na foram: Bahia, Pernambuco, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul. Isso devido à grande quantidade de escravos recebidos (região Nordeste) ou pela migração dos escravos após o término do ciclo da cana-de-açúcar (região Sudeste). Aspectos da Cultura Afro-Brasileira De partida, temos de frisar que a cultura afro-brasileira é parte constituinte da memória e da história brasileira e que seus aspectos transbordam as margens desse texto. Ela compõe os costumes e as tradições: a mitologia, o folclore, a língua (falada e escrita), a culinária, a música, a dança, a religião, enfim, o imaginário cultural brasileiro. As Festividades Populares Principais Características da Cultura Afro-Brasileira • O Carnaval, a maior festa popular brasileira, celebrada no início do ano e mobilizando a nação. • A Festa de São Benedito, principal festa do Congado (expressão da cul- tura afro-brasileira), comemorada no final de semana após a Páscoa. • E, por fim, a Festa de Yemanjá, realizada no dia 2 de fevereiro. A influência afro-brasileira está patente em expressões como Samba, Jongo, Carimbó, Maxixe, Maculelê, Maracatu. Eles utilizam instrumentos variados, com destaque para Afoxé, Atabaque, Berimbau e Tambor. Não podemos perder de vista que estas expressões musicais são também corporais. Elas refletem nas formas de dançar, como no caso do Maculelê, uma dança folclórica brasileira, e do samba de roda, uma variação musical do samba. Temos outras expressões de música e dança como as danças rituais, o tam- bor de crioula, e os estilos mais contemporâneos, como o samba-reggae e o axé baiano. Finalmente, merece destaque especial a Capoeira. Ela é uma mistura de dan- ça, música e artes marciais proibida no Brasil durante muitos anos e declarada 40 Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade em 2014. A Culinária A culinária é outro elemento típico da cultura afro-brasileira. Ela introduziu as panelas de barro, o leite de coco, o feijão preto, o quiabo, dentre muitos outros. Entretanto, os alimentos mais conhecidos são aqueles da culinária baiana, pre- parados com azeite dendê e pimentas. Destacam-se Abará, Vatapá e o Acarajé, bem como o Quibebe nordestino, preparado com carne-de-sol ou charque; além dos doces de pamonha e cocada E, por fim, o prato brasileiro mais conhecido de todos: a feijoada. Ela foi criada pelos escravos como uma apropriação da feijoada portuguesa e produzida a partir dos restos de carne que os senhores de engenho não consumiam. A Religião A religião afro-brasileira se caracterizou pelo sincretismo com o catolicismo, donde unia aspectos do cristianismo às suas tradições religiosas. Isso ocorreu para que eles pudessem realizar as práticas religiosas africanas secretamente (associa- ção de santos com orixás), uma vez que a conversão era apenas aparente. Assim, nasceram do sincretismo Batuque, Xambá, Macumba e Umbanda, enquanto se preservaram algumas variações africanas da Quimbanda, Cabula e o Candomblé. Características da Cultura Indígena Os povos indígenas, pela diversidade étnica, contribuíram de formas diferentes em relação a muitos aspectos culturais. Calcula-se que existam mais de 230 povos indígenas no Brasil, com hábitos, línguas e crenças diversas. Eles estão espalhados em mais de 670 Terras Indígenas que já foram identificadas e homologadas ou encontram-se em processo de homologação. 41 Religião e Crenças As crenças religiosas e superstições tinham um importante papel dentro da cultura indígena. Fetichistas, os indígenas temiam ao mesmo tempo um bom Deus – Tupã – e um espírito maligno, tenebroso, vingativo – Anhangá, ao sul e Jurupari, ao norte. Algumas tribos pareciam evoluir para a astrolatria, embora não possuíssem templos, e adoravam o Sol (Guaraci – mãe dos viventes) e a Lua (Jaci – nossa mãe). Tupã - Deus indígena O culto dos mortos era rudimentar. Algumas tribos incineravam seus mortos, outras os devoravam, e a maioria, como não houvesse cemitérios, encerrava seus cadáveres na posição de fetos, em grandes potes de barro (igaçabas), encontrados suspensos tanto nos tetos de cabanas abandonadas como no interior de samba- quis. Os mortos eram pranteados obedecendo-se a uma hierarquia. O comum dos mortais era chorado apenas por sua família; o guerreiro, conforme sua fama, poderia ser chorado pela taba ou pela tribo. No caso de um guerreiro notável, seria pranteado por todo o grupo. Moradia Como sabemos os indígenas tem costumes bem diferentes dos costumes de nos urbanos, um deles é morar em ocas ou malocas, que medem mais ou menos 20 metros de comprimento por 10 metros de largura e 6 metros de altura, feitas de madeira e cobertas por folhas de palmeiras. Fazem uma espécie de parede dupla com um espaço entre ambas o que permite uma ventilação adequada, tornando o ambiente, no seu interior bastante agradável, seja no frio ou no calor. Uma aldeia é composta de várias malocas, onde habitam várias famílias. Cada maloca possui um chefe daquele grupo, que quando reunidos formam uma espécie de “colegia- do”. As casas eram construídas em volta de um pátio, local de festas e de reunião. O conjunto de casas formavauma aldeia. Os moradores de várias aldeias, unidos por laços familiares e interesses comuns, formavam um povo ou uma nação. 42 Modo de vida Um outro costume que os índios tem de diferente de nós, é o modo de viver deles: vivem da caça, da pesca e coleta de vegetais silvestres, obedecendo aos ciclos de atividades de subsistência da Floresta Tropical: chuvas, enchentes, es- tiagem e seca. Reúnem-se em grupos que podem ser: de casais, consanguíneos (parentesco), intercasamento e relações de servidão. Na maioria dos grupos o casamento pode ser dissolvido. Preservam a infância da mulher que só pode se tornar esposa após a primeira menstruação (acompanhada de ritual especial, de acordo com a tribo). Não exis- tem padrões morais de virgindade ou adultério, tudo se resolve com conversas entre parentes próximos e com acordos entre as famílias. Temos tribos matriar- cais, patriarcais, monogamia (um só esposo ou esposa – com uniões que podem ser dissolvidas) e poligamia (um esposo com várias esposas, ou uma esposa com vários maridos). A chefia Cada nação indígena tem um líder, que comanda a tribo nas caçadas e nas guerras ou na resolução de alguma disputa interna. Ele costuma conversar com as pessoas e ouvir suas opiniões e, sempre que precisa tomar uma decisão importan- te, pede conselhos aos mais velhos. Além dele, há o pajé, que é o líder espiritual e possuí grande prestígio e poder entre os nativos, pois ele conhecia e manipulava as ervas curativas, faz as oferendas aos deuses e se comunica com as divindades. O trabalho Os índios trabalham para conseguir alimento, fazer uma casa, uma rede, uma festa, ou seja, para satisfazer às necessidades básicas do grupo. O trabalho nas aldeias é coletivo, dividido entre todos os membros que moram na tribo. Essa divisão era feita de acordo com o gênero (homens e mulheres) e por idade. • Em geral, as tarefas masculinas são: caçar, pescar, preparar a terra para o plantio e defender a comunidade. • As atividades femininas são: plantar, coletar frutos e raízes, cozinhar, fazer utensílios de cerâmica e cestos, além de cuidar dos filhos. 43 Assim como outros povos, eles modificam o espaço geográfico para sobreviver e o fazem de acordo com a sua cultura, isto é, com o seu modo de viver, agir e pensar. Acessórios e armas Os índios costumam construir seus próprios acessórios, como suas armas, fabricam arcos perfeitos, instrumentos cortantes feitos com bicos de aves e en- feites plumários. A caça feita pelos índios é composta geralmente por venenos aplicados nas armas usadas. Dentre as armas, destaca-se a zarabatana, tubo comprido que funciona por compressão de ar. Suas setas são untadas com um veneno cha- mado curare, extraído da casca de cipós. Os índios também utilizam a prática de envenenar os peixes por sufocação com o uso do timbó, cipó que é jogado em uma determinada parte do rio e, força os peixes a vir à tona e, assim, eles são facilmente capturados. Artesanato Hábeis artesãos, os índios produzem diversos tipos de artefatos para atender suas necessidades cotidianas e rituais, que assumem, hoje, o importante papel de gerador de recursos financeiros, beneficiando as Comunidades com uma renda complementar. Assim surgem fantásticos trançados que tomam a forma de cestos, bolsas e esteiras, moldam a cerâmica que dá origem a panelas e esculturas, entalham a madeira da qual nascem armas, instrumentos musicais, máscaras e escultu- ras, além das plumárias e adornos de materiais diversos como cocos, sementes, unhas, ossos, conchas que, com habilidade e tecnologia, são transformados em verdadeiras obras de arte. A produção de variados objetos da cultura indígena, como material, ferramentas, instrumentos, utensílios e ornamentos, com os quais um grupo humano busca facilitar sua sobrevivência, está ligada à escolha e utiliza- ção das matérias-primas disponíveis; ao desenvolvimento da técnica adequada de manufatura; às atividades envolvidas na exploração do ambiente e na adaptação ecológica; à utilidade e finalidade prática dos objetos e instrumentos produzidos. 44 Pintura Os índios pintam seu corpo, sua cerâmica e seus tecidos com um estilo que podemos chamar “abstrato”. Observam a natureza mas não a desenham, mas ao contrário do que se pensa, não devemos chamá-la de primitiva. Partem do elemento natural para torná-lo geométrico. Usam diversos tipos de cocares, bra- celetes, cintos, brincos. Geralmente não matam as aves para comer, usam apenas suas penas coloridas, que guardam enroladas em esteiras para conservar melhor, ou em caixas bem fechadas com cera e algodão. A Arte Plumária é exuberante e praticamente restrita aos homens. Nas tribos, onde as mulheres usam penas, são discretas, colocadas nos tornozelos e pulsos, geralmente em cerimônias especiais. Tecidos Alguns índios, como os Vaurá, plantam algodão e fazem vários enfeites, como os usados em seus pentes. Usam uma tinta preta extraída do suco de jenipapo. As vestimentas usadas pelos índios estão relacionadas às necessidades climá- ticas, à observação da natureza e aos seus ritos e festas. Esta é a razão de usarem quase nada para se cobrirem, uma vez que vivemos em país tropical. A sua ves- timenta não está associada à aspectos morais. Algumas tribos como a dos índios tucuna (praticamente extintos) na região do Acre, recebiam correntes frias dos Andes e usavam o “cushmã” uma espécie de bata (as índias eram ótimas tecelãs). Em algumas tribos como a dos VAI-VAI (transamazônica) as mulheres tecem e usam uma tanga de miçangas. Canoas O indígena usa o leito dos rios ou o mar para transportar com rapidez, nave- gando em canoas ou em jangadas. As canoas maiores são construídas de troncos de árvores rijas e chamam-se igaras, igaratés ou igaraçus. As canoas ligeiras – ubás – eram feitas de grossas cascas vegetais, e movidas a remo de palheta redonda ou oval ou ainda a vela. As jangadas, pequenas e velozes, constituíam-se de vários paus amarrados uns aos outros por fibras vegetais. 45 Música São amantes da música, que praticam em festas de plantação e de colheita, nos ritos da puberdade e nas cerimônias de guerra e religiosas. Os instrumentos musicais são: toró (flauta de taquara), boré (flauta de osso), o mimbi (buzina) e o uaí (tambor de pele e de madeira). Alimentação A contribuição indígena para a dieta alimentar é enorme. Inúmeros alimentos consumidos pelos nativos são hoje levados às mesas de todo o mundo e, princi- palmente, às brasileiras. A seguir, citaremos alguns alimentos que foram contri- buições das populações nativas: • Mandioca (também chamada de macaxeira ou aipim) – no início da co- lonização foi chamada de “pão da terra” devido à sua importância e abundância. • Milho – foi cultivado na América e existem inúmeros tipos cultivados. Batata-doce – é um alimento fácil de cultivar e que se reproduz em abundância. Os índios conhecem vinte variedades. • Amendoim – originária do Brasil, seu consumo hoje se espalhou pelo mundo inteiro. Era cultivado e colhido pelas índias para grandes ceri- mônias. • Abacaxi – fruta totalmente desconhecida dos europeus, foi muito co- mentada por cronistas em razão de seu aroma. Os índios a usavam para curar feridas e também para fazer bebidas fermentadas. • Caju – foi muito cultivada e utilizada pelos índios para a fabricação do cauim, bebida fermentada. Foi muito apreciada pelos europeus. Além da fruta, a castanha do caju tem grande aceitação nos mercados mundiais. Os indígenas também desenvolveram conhecimentos sobre plantas medici- nais, as quais, atualmente estão presentes nas diversas áreas da América e algu- mas são amplamente difundidas pelo mundo, tais como a erva-mate, o guaraná, o tabaco e coca. 46 Isto está na rede Autores brasileiros resgatam a mitologia dos orixás, transformando-os em super-heróis e aproximando-os de jovens e crianças. Dentro de al- gum tempo, 2018 quiçá seja lembrado como