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DIARRÉIA AGUDA E CRÔNICA . O que é uma evacuação normal? Uma evacuação de fezes consistentes 1 a 3 vezes/dia ou até a cada 2 a 3 dias é considerada normal. A diarreia consiste em uma alteração do hábito intestinal por diminuição da consistência das fezes e aumento da frequência e do volume das evacuações. Assim, têm-se as fezes amolecidas numa frequência maior que 3 vezes ao dia, ou um volume aumentado maior que 200 g/dia. Entretanto é importante observar a rotina do paciente, visto que às vezes essa classificação pode mudar de pessoa para pessoa, dependendo da sua normalidade de evacuação. Essa alteração intestinal pode ser definida pela presença de muco, pus, sangue, resíduos alimentares ou fezes brilhantes e/ou flutuantes (esteatorreia). Observação: diarreia é diferente de urgência fecal( eliminação involuntária das fezes) e de pseudodiarreia (eliminação frequente de pequenos volumes de fezes com urgência). Fisiologia e Fisiopatologia: . O intestino possui a função de secretar substâncias que auxiliam no processo digestivo e de absorver líquidos, eletrólitos e nutrientes (fisiologicamente a absorção é maior). O Intestino Delgado recebe aproximadamente 10L de líquidos por dia, absorve cerca de 6L no jejuno e 2,5L no íleo. O cólon recebe do delgado em torno de 1,5L e apenas 100ml são eliminados nas fezes, a capacidade absortiva total do cólon é de 4 a 5L/24h e, quando essa quantidade é ultrapassada, surge a diarreia. Classificações: . A diarreia pode ser classificada em tempo, etiologia, topografia e fisiopatologia. Quanto ao tempo há três tipos: aguda, subaguda e crônica. Aguda: menor de 2 semanas Subaguda (persistente): entre duas e 4 semanas Crônica: maior que 4 semanas Quanto à etiologia apresentam dois tipos: virais e toxinas Virais: geralmente apresentam vômitos e diarreia (vômito primeiro) Toxinas: decorrentes da ingestão alimentos contaminados ( não há a antecipação com o vômito) Quanto a topografia: alta e baixa Alta: Origem no intestino delgado, diarréia com grande volume, frequência menor e apresenta restos alimentares( por conta da desabsorção) Baixa: Colite( intestino grosso ou reto) apresenta volume menor, mas uma frequência maior , tenesmo (vontade intensa de evacuar). Quanto a fisiopatologia: osmótica, secretória, invasiva, esteatorreia e distúrbio funcional. Diarreia Orgânica - Osmótica: acúmulo de elementos osmóticamente ativos, ( gap > 125 mOsm/L) e geralmente dessa com o jejum. Secretória: distúrbio do transporte hidroeletrolítico na mucosa (gap < 50 mOsm/L) e não cessa com jejum. Invasiva: inflamatória, com possíveis eliminações de muco, pus e sangue.Relacionada com uma doença inflamatória intestinal. Aumento da calprotectina( mais acessível) ou lactoferrina fecal Esteatorreia(disabsortiva): ( insuficiência pancreática exócrina), fezes amareladas, fétidas (mais que o normal), oleosas (brilhantes) e aderentes. A principal causa está relacionada a desabsorção de gorduras. Diarréia Distúrbio Funcional - Distúrbio Funcional: não apresenta uma doença orgânica que a justifique. Geralmente apresenta critérios específicos. Epidemiologia: . Infelizmente no brasil não há dados consistentes, mas nos Estados Unidos no último ano foi de quase 50 milhões ( 1,6 episódios por pessoa/ano). Hospitalização: 0,6% Mortalidade: <0,05% Etiologia: . Principalmente viral, o norovirus ( 50% dos surtos) As bacterianas têm salmonella, campylobacter, E.coli Principais etiologias da diarreia aguda ( gastroenterite aguda): - Vírus Principalmente em adultos (norovírus mais comum) , depois rotavírus , adenovírus e astrovírus. Associada a crianças em creche (rotavirose) Associada a viajantes ( vírus) - Bactérias Depende do fator de risco, mas no geral, a Salmonella e Shiguella Associada a viajantes ( Salmonella, Shiguella, E.coli, campylobacter) Associada a água e alimentos contaminados ( E.coli, shigella, salmonella) Associada a alimentos: ovos, maionese e cremes ( S.aureus-toxina; mesmo depois de quente a toxina ainda fica presente) Associado ao uso recente de antibióticos e asilos (Colite pseudomembranosa) Associada a crianças em creche (shiguella) - Parasitoses Protozoários (Giardia e entamoeba histolytica ) e Helmintos (ascaris e estrongiloides) relacionada com pessoas que moram em regiões precárias sem saneamento. Associada a imunodeficiência ( isospora belli) Associada a crianças em creche e piscina (giardíase e Cryptosporidium sp) Associada à Promiscuidade sexual;fecal-oral Associada a alguns patógenos específicos IMPORTANTE: - Escherichia coli ENTEROTOXIGÊNICA: associada a diarreia do viajante ENTEROHEMORRÁGICA: associada a colite hemorrágica (síndrome hemolítico-urêmica) ENTEROPATOGÊNICA: associada a diarreia em crianças e neonatos ENTEROINVASIVA: associada a diarreia invasiva (disenteria) ENTEROAGREGATIVA: associada a imunossuprimidos e crianças Quadro Clínico: . Além da diarreia, o quadro clínico do paciente apresenta: Náuseas e vômitos, dor abdominal e cólicas, flatulência e distensão(bloating -por conta de desabsorção), febre, evacuações sanguinolentas, tenesmo e urgência (acometimento principalmente no reto). Diagnóstico: . EXAMES: “ quando você pode pedir exames ?” Por ser uma doença comum, não se pede exames para todos os casos. Paciente apresenta disenteria, episódio moderado/grave, duração de > 7 dias, pacientes com alto risco de complicações Quais os exames que você pode pedir ? - laboratorial; depende da clínica do paciente ( hemograma, bioquímica geral, função renal) - Fezes; pesquisa nas fezes, parasitoses ( antígenos, PCR, cultura, PPF) - Colonoscopia; evitar( muito errado) - Tomografia; apenas para diagnóstico diferencial Tratamento: . Multifatorial - Hidratação e correção de distúrbios hidroeletrolíticos - Controle dos sintomas (evitar o uso de anti-inflamatórios não esferoidal, pode piorar) , alguns pacientes também desenvolvem temporariamente intolerância à lactose e a alguns alimentos. - Antibioticoterapia empírica - Probióticos - Antidiarreicos - Profilaxia ANTIBIOTICOTERAPIA: Doença grave; pacientes com febre, > 6 evacuações/dia , desidratação com necessidade de internação. Disenteria; diarreia invasiva pois apresenta sangue, pus e muco nas fezes, pacientes com febre e sinais de toxemia ( pico dos sintomas) Alto risco de complicações; idosos, imunossuprimidos, multi comorbidades obs: a Rifaximina não possui no brasil * se o paciente não melhorar depois de 24 horas do uso do medicamento é necessário a dosagem por 3 dias. *Rifaximina não pode ser utilizada se há uma suspeita de shigella, salmonella (comuns no brasil) e campylobacter PROBIÓTICOS: Diarreia aguda há uma baixa eficiência de que funcione, mas quando há diarreia pós antibioticoterapia sim. Diarreia associada a antibioticoterapia ANTIDIARREICOS: Pacientes que ainda estejam persistindo com os sintomas, você já está fazendo o usos de antibióticos, pode usar os antidiarreicos : Loperamida (associada a constipação pós diarreia) ou Racecadotrila ( não tem esse problema) PROFILAXIA: Aconselhamento antes de viajar, tentar identificar da melhor forma como e para onde ele vai. Associar a diarreia aguda a saneamento, higiene e lavagem das mãos(cuidado: o álcool gel não mata os esporos Colite Pseudomembranosa) DIARRÉIA CRÔNICA . - Diarreia Aguda duração de menos que 14 dias. - Diarreia Persistente 14 e 30 dias Na diarréia crônica, o período ultrapassa a duração de 30 dias. Epidemiologia: . Diminuição da qualidade de vida,muito gasto público. 5% da população tem diarreia crônica Classificações: . Topografia - alta ou baixa ALTA: intestino delgado Apresenta grande volume, frequência menor mas apresenta restos alimentares em grande quantidade BAIXA: cólon Apresenta baixo volume,com frequência maior e Tenesmo (cólica do lado esquerdo, na fossa ilíaca esquerda) Fisiopatologia - osmótica, secretória, invasiva, esteatorreia e distúrbio funcional. IMPORTANTE: É muito importante saber diferenciar a diarreia crônica e incontinência fecal. O paciente se queixa de diarreia. Necessárioperguntar se ele está perdendo espontaneamente as fezes ou não está nem sentindo que está perdendo. Paciente idosa principalmente ( quando você não consegue fechar o diagnóstico) “ sai fezes sem perceber ?” PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: Brasil 1- Infecções Crônicas: bacterianas, parasitoses, micobacterioses) 2- Doenças Funcionais 3- Doenças Inflamatórias Intestinais 4- Síndromes Disabsortivas 5- Neoplasias( menos importante) Abordagem: . Necessário separar em dois grupos: orgânica x não orgânica - apresenta ou não sinais de alarme - História é muito importante Interpretação da queixa (diarreia?incontinência?) caracterização das fezes (volume,frequência e liquidez), duração dos sintomas,(repentina,gradual?), medicamentos( incluindo os não prescritos, comprimido , produto natural, suplementos), histórico de viagens, diário alimentar, associação com status psicológico, infecções bacterianas recorrentes . - Investigação de desabsorção As fezes podem ser macroscópicamente normais na esteatorreia. Diarreia aquosa, flatulência e distensão abdominal ocorrem dentro de 90 min após a ingestão de carboidratos. A dor abdominal é muito incomum ( exceto em caso de pancreatite crônica, doença de crohn e pseudo-obstrução intestinal). Pensar também em doenças celíacas e parasitoses (aqui no Brasil , sempre investigar) e histórico de cirurgias, complicações , úlceras pépticas recorrentes. Quantificar objetivamente o consumo de álcool ( quantos copos, de que tipo , destilada ou não ?) - Exame Físico Precisa ser bem detalhado,bem geral. Vai desde a Ectoscopia (procurando linfadenopatia, desnutrição e exoftalmia). Observar a pele, procurando flushing, rash e dermografismo. Palpar a tireoide , ausculta pulmonar e cardíaca ( tumor carcinoide , pode dar manifestações cardiológicas outras pulmonares como broncoespasmo), examinar o abdome do paciente; timpanismo, ascite, fígado e baço , se tem massa, se é palpável, se dói, avaliação perianal, toque retal. Extremidades: unhas, edema, se o paciente está nas arcadas, se tem sinal de desnutrição. - Exames: Os exames complementares não são para todos os pacientes, apenas aqueles em que a suspeita de uma doença orgânica e se houve uma falha da terapia empírica. Laboratoriais; realizados no sangue ( individualizado), testes respiratórios H2 ( suspeita de disabsorção relacionados ou não com bactéria), análise fecal (já houve uma pesquisa de parasitoses, não sendo avaliar o ph, gap osmolar fecal, alteração da calprotectina e da elastase Endoscópicos; colonoscopia (reservado a pacientes com doença inflamatória, diarréia secretória, biópsia seriada mesmo se à colonoscopia vier normal - para avaliar microscópicamente, histologicamente). A endo/enteroscopia ( alta e a avaliação do delgado para pesquisar pacientes que tem disabsorção). Imagem; não utiliza em todos os pacientes, principalmente com esteatorréia, diarréia secretória, diarreia inflamatória . Procurar por anormalidades anatômicas, extensão (e presença) de inflamação, pancreatite crônica e neoplasias (tumores produtores de hormônios que podem ser causa da diarreia crônica desse paciente). Quais os exames? O trânsito intestinal (pouco utilizado); USG abdome (limitações técnicas, pouco utilizado); Tomografia (boa opção, porém emite radiação) e a Ressonância (boa opção, sem radiação porém custo e tempo elevado, 40/50 min)
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