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DENGUE DEFINIÇÃO • Dengue é uma doença febril aguda causada por um arbovírus e transmitida por mosquitos do gênero Aedes, especialmente pelo Aedes aegypti, com predomínio nas regiões tropicais. • É a doença viral febril aguda mais comum transmitida por mosquito nas Américas. • O diagnóstico sorológico pode apresentar reação cruzada entre anticorpos da dengue e vírus Zika, complicando a confirmação laboratorial e comprometendo a vigilância epidemiológica. • São conhecidos quatro sorotipos virais de dengue: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. QUANDO PENSAR? • Deve-se pensar em Dengue em todo paciente com doença febril aguda com duração de até 7 dias, acompanhada de pelo menos dois dos seguintes sintomas: o cefaleia, dor retro orbital, mialgia, artralgia, cansaço, exantema, associados ou não à presença de hemorragia. • Além desses sintomas, a pessoa deve ter estado, nos últimos 15 dias, em área com epidemiologia positiva para dengue ou que tenha sido registrada a presença de Aedes aegypti. O QUE FAZER? ANAMNESE • O primeiro passo é descobrir a duração da febre, pois a possibilidade de agravamento é maior na sua defervescência • O segundo passo é investigar a presença de sinais de alerta EXAME FÍSICO • O exame físico deve ser completo, especialmente para detectar exantema, fenômenos hemorrágicos, sinais de alteração hemodinâmica e nível de consciência. • Fazer um exame minucioso, dando atenção a fenômenos hemorrágicos espontâneos em áreas não expostas, como conjuntivas, gengivas, narinas e petéquias em membros inferiores (MMII). • Caso não existam hemorragias espontâneas, há necessidade de se proceder à prova do laço. • Na avaliação hemodinâmica, devem ser avaliados: enchimento capilar, turgor, aferição de PA em duas posições, frequência cardíaca (FC) e de pulso; ausculta e frequência respiratória (FR). • Valorizar a presença de dor abdominal, principalmente em pediatria, e investigar ascite e hepatomegalia. PROVA DO LAÇO • Para verificação da “prova do laço”, aferir a pressão arterial (PA) e calcular o valor médio pela fórmula: pressão arterial sistólica (PAS) + pressão arterial diastólica (PAD)/2. • Insuflar o manguito até o valor médio e manter durante 5 minutos nos adultos e 3 minutos em crianças. • Desenhar um quadrado com 2,5 cm de lado no antebraço e contar o número de petéquias formadas dentro dele; a prova será positiva se houver 20 ou mais petéquias em adultos e 10 ou mais em crianças. • Se a prova do laço for positiva antes do tempo preconizado, ela pode e deve ser interrompida. EXAMES COMPLEMENTARES • O diagnóstico da dengue é feito a partir de dados clínicos e epidemiológicos com reforço de exames laboratoriais. • No acompanhamento de pacientes com dengue, os exames complementares são divididos em específicos e inespecíficos. • Específicos o No início dos sintomas até o 5° dia da doença, o vírus está presente. o Para detectar sua presença, podem-se utilizar: isolamento viral, pesquisa do genoma viral por reação em cadeia da polimerase (PCR) ou pesquisa do antígeno NS1. o A pesquisa de anticorpos imunoglobulina M (IgM) para Dengue é o exame preferencial para o diagnóstico, realizada em amostras coletadas do 7° ao 30° dia do início dos sintomas. o ELISA NS1 não reagente não descarta a doença dengue, sendo necessário coletar uma segunda amostra do 7° ao 30° dia para pesquisa de anticorpo IgM, a fim de descartar a doença. • Inespecíficos: o Hemograma, coagulograma, provas de função hepática, dosagem de albumina sérica e exames de imagem (sempre que houver indicação clínica). o Os exames complementares auxiliam no diagnóstico, no acompanhamento e na avaliação das possíveis complicações, daí a necessidade de exame clínico minucioso. o As alterações mais comuns encontradas no hemograma são: leucopenia com neutropenia, presença de linfócitos atípicos, plaquetopenia e hemoconcentração (aumento da porcentagem do hematócrito), mas podem ser encontrados exames normais ou leve leucocitose. o Geralmente, não há alterações importantes no hemograma antes das primeiras 48 horas de doença, portanto, quando solicitado precocemente, tal exame deve ser considerado a linha de base para o acompanhamento do paciente. o Outros exames inespecíficos podem ser requeridos, como a dosagem de eletrólitos, sendo a principal alteração a hiponatremia e dosagem de albumina sérica, pois a Hipoalbuminemia é encontrada na febre hemorrágica. CONDUTA PROPOSTA • A dengue é uma doença dinâmica e, portanto, necessita de seguimento adequado, independente do estadiamento no momento do diagnóstico. • O manejo clínico correto pode reduzir o agravamento. • O primeiro passo é notificar todo caso suspeito. → DOENÇA DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA • Durante a notificação, o paciente deve ser orientado quanto às possíveis complicações e quando retornar. • Um paciente bem orientado é garantia de melhor prognóstico. • Dicas → existe um processo simples em que quatro perguntas básicas são feitas: o Trata-se de um caso de dengue? o Tem algum fenômeno hemorrágico espontâneo ou provocado? o Apresenta sinais de alerta? o Tem hipotensão ou choque? QUANDO REFERENCIAR? • O conhecimento da evolução da doença, as possíveis complicações, o serviço que faz o melhor atendimento, a necessidade de exames complementares mais sofisticados e o estadiamento clínico indicam onde o paciente deve ser tratado. • Via de regra, os pacientes estadiados como A e B podem ser atendidos e acompanhados em UBS. • Os estadiados como C devem ter seu tratamento iniciado nas UBS e depois encaminhados para internação. • Os pacientes classificados como estadiamento D devem receber, primeiro, atendimento emergencial onde forem diagnosticados e, assim que possível, transferidos a hospitais com porte para atendimento intensivo. CHIKUNGUNYA DEFINIÇÃO • A chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), da família Togaviridae e do gênero Alphavirus. • A viremia persiste por até dez dias após o surgimento das manifestações clínicas. • A transmissão se dá através da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV. • Casos de transmissão vertical podem ocorrer quase que exclusivamente no intraparto de gestantes virêmicas e, muitas vezes, provoca infecção neonatal grave. • Pode ocorrer transmissão por via transfusional, todavia é rara se os protocolos fore m observados. • Os sinais e sintomas são clinicamente parecidos aos da dengue – febre de início a gudo, dores articulares e musculares, cefaleia, náusea, fadiga e exantema. • A principal manifestação clínica que a difere são as fortes dores nas articulações, que muitas vezes podem estar acompanhadas de edema → ARTRITE • Após a fase inicial a doença pode evoluir em duas etapas subsequentes: fase subaguda e crônica. • A chikungunya tem caráter epidêmico com elevada taxa de morbidade, associad a à artralgia persistente, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida. QUANDO PENSAR? • A maioria dos indivíduos infectados pelo CHIKV desenvolve sintomas, alguns estudos mostram que até 70% apresentam infecção sintomática. • Esses valores são altos e significativos quando comparados às demais arboviroses. • Dessa forma, o número de pacientes que necessitarão de atendimento será elevado, gerando sobrecarga nos serviços de saúde. • A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica. • Após o período de incubação inicia-se a fase aguda ou febril, que dura até o 14º dia. • Alguns pacientes evoluem com persistência das dores articulares após a fase aguda, caracterizando o início da fase subaguda, com duração de até três meses. FASE AGUDA (FEBRIL) • A fase aguda ou febril da doença é caracterizada principalmentepor febre de iní cio súbito e surgimento de intensa poliartralgia, geralmente acompanhada de dores nas costas, rash cutâneo (presente em mais de 50% dos casos) cefaleia e fadiga, com duração média de sete dias. • A febre pode ser contínua, intermitente ou bifásica, possui curta duração, porém a queda de temperatura não é associada à piora dos sintomas como na dengue. • Ocasionalmente, pode ser associada a uma bradicardia relativa. • A poliartralgia tem sido descrita em mais de 90% dos pacientes com chikungunya na fase aguda. Essa dor normalmente é poliarticular, bilateral e simétrica, mas pode haver assimetria. • Acomete grandes e pequenas articulações e abrange com maior frequência as regiões mais distais. • Pode haver edema, e este, quando presente, normalmente está associado à tenossinovite. • Na fase aguda também tem sido observado dor ligamentar. • A mialgia quando presente é, em geral, de intensidade leve a moderada. Sendo mais intensa na dengue. • O exantema normalmente é macular ou maculopapular, acomete cerca de metade dos doentes e surge, normalmente, do segundo ao quinto dia após o início da febre. o Atinge principalmente o tronco e as extremidades (incluindo palmas e plantas), podendo atingir a face. • O prurido está presente em 25% dos pacientes e pode ser generalizado ou apenas localizado na região palmo-plantar. • Outros sinais e sintomas descritos na fase aguda de chikungunya são dor retro- ocular, calafrios, conjuntivite sem secreção, faringite, náusea, vômitos, diarreia, dor abdominal e neurite. • As manifestações do trato gastrointestinal são mais presentes nas crianças. • Pode haver linfoadenomegalias cervical, retroauricular, inguinal associadas • Para os neonatos de mães infectadas há um risco de transmissão vertical de aproximadamente 50% no período intraparto. o O recém-nascido é assintomático nos primeiros dias, com surgimento de sintomas a partir do quarto dia (três a sete dias), que incluem a presença de febre, síndrome álgica, recusa da mamada, exantemas, descamação, hiperpigmentação cutânea e edema de extremidades o As formas graves são frequentes nesta faixa etária, como o surgimento de complicações neurológicas, hemorrágicas e acometimento miocárdico (miocardiopatia hipertrófica, disfunção ventricular, pericardite). o Os quadros neurológicos, também reconhecidos como sinal de gravidade nesta faixa etária, incluem meningoencefalites, edema cerebral, hemorragia intracraniana, convulsões e encefalopatias. FASE SUBAGUDA • Durante esta fase a febre normalmente desaparece, podendo haver persistência ou agravamento da artralgia, incluindo poliartrite distal, exacerbação da dor articular nas regiões previamente acometidas na primeira fase e tenossinovite hipertrófica subaguda em mãos, mais frequentemente nas falanges, punhos e tornozelos. • Síndrome do túnel do carpo pode ocorrer como consequência da tenossinovite hipertrófica (sendo muito frequente nas fases subaguda e crônica). • O comprometimento articular costuma ser acompanhado por edema de intensidade variável. • Há relatos de recorrência da febre. • Podem estar presentes também, nesta fase, astenia, recorrência do prurido generalizado e exantema maculopapular, além do surgimento de lesões purpúricas, vesiculares e bolhosas. • Alguns pacientes podem desenvolver doença vascular periférica, fadiga e sintomas depressivos. FASE CRÔNICA • A prevalência da fase crônica é muito variável entre os estudos, podendo atingir mais da metade dos pacientes. • Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade acima de 45 anos, significativamente maior no sexo feminino, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda. • O sintoma mais comum nesta fase crônica é o acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda, caracterizado por dor com ou sem edema, limitação de movimento, deformidade e ausência de eritema. • Normalmente, o acometimento é poliarticular e simétrico, mas pode ser assimétrico e monoarticular. • Também há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical. • Ocasionalmente, articulações incomuns como temporomandibulares (dor a movimentação mandibular) e esternoclaviculares estão acometidas. • Em frequência razoável são vistas manifestações decorrentes da síndrome do túnel do carpo, tais como dormência e formigamento das áreas inervadas pelo nervo mediano. • Alguns pacientes poderão evoluir com artropatia destrutiva semelhante à artrite psoriática ou reumatoide. • Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, exantema, bursite, tenossinovite, disestesias, parestesias, dor neuropática, fenômeno de Raynaud, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão. • Alguns trabalhos descrevem que esta fase pode durar até três anos, outros fazem menção a seis anos de duração. MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS GESTANTES • A infecção pelo CHIKV, no período gestacional, não está relacionada a efeitos teratogênicos, e há raros relatos de abortamento espontâneo. • Mães que adquirem chikungunya no período intraparto podem transmitir o vírus a recém-nascidos por via transplacentária. • A taxa de transmissão, neste período, pode chegar a aproximadamente 50%, destes, cerca de 90% podem evoluir para formas graves. • Não há evidências de que a cesariana altere o risco de transmissão. EXAMES COMPLEMENTARES • As alterações laboratoriais de chikungunya, durante a fase aguda, são inespecíficas. • Leucopenia com linfopenia menor que 1.000 cels/mm3 é a observação mais frequente. • A trombocitopenia inferior a 100.000 cels/mm3 é rara. • A velocidade de hemossedimentação e a Proteína C-Reativa encontram-se geralmente elevadas, podendo permanecer assim por algumas semanas. • Outras alterações podem ser detectadas como elevação discreta das enzimas hepáticas, da creatinina e da creatinofosfoquinase (CPK). • Considerando a necessidade de prescrição de corticoides e anti-inflamatórios não esteroides (AINE) na fase subaguda, os seguintes exames devem ser solicitados: o ureia, creatinina, aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT), glicemia de jejum e hemograma • O diagnóstico laboratorial da infecção pelo CHIKV pode ser realizado de forma direta, por meio do isolamento viral e da pesquisa do RNA viral em diferentes amostras clínicas, ou de forma indireta por intermédio da pesquisa de anticorpos específicos. MANEJO CLÍNICO • Sinais de gravidade devem ser pesquisados em todo paciente com chikungunya e podem surgir nas fases aguda e subaguda. o Acometimento neurológico: sinais ou sintomas que possam indicar acometimento neurológico, incluindo irritabilidade, sonolência, dor de cabeça intensa e persistente, crises convulsivas e déficit de força (déficit de força pode estar relacionado também a miosite). o Dor torácica, palpitações e arritmias (taquicardia, bradicardia ou outras arritmias). o Dispneia, que pode significar acometimento cardíaco ou pulmonar por pneumonite ou decorrente de embolia secundária a trombose venosa profunda em pacientes com artralgia, edema e imobilidade significativa. o Redução de diurese ou elevação abrupta de ureia e creatinina. o Sinais de choque, instabilidade hemodinâmica. o Vômitos persistentes. o Sangramento de mucosas. o Descompensação de doença de base. ORIENTAÇÕES PARA O DOMICÍLIO ZIKA DEFINIÇÃO • O vírus Zika (ZIKV) é um arbovírus (siglas em inglês de arthropod-borne-virus) emergente, pertencente ao sorocomplexo Spondweni, gênero Flavivirus, família Flaviviridae, que apresentarelação genética e sorológica com outros flavivírus de importância em saúde pública como o vírus da dengue, o da febre amarela e o do oeste do Nilo. • O vírus Zika é usualmente transmitido ao homem pela picada de mosquitos do gênero Aedes. Nas Américas, o principal vetor é o Ae. aegypti. • Trata-se de uma doença de notificação compulsória. QUADRO CLÍNICO • A zika é uma doença febril autolimitada (com manifestação de sintomas por 3-6 dias). • Os sintomas comuns da infecção pelo vírus incluem febre baixa (entre 37,8°C e 38,5°C), conjuntivite não purulenta, dor de cabeça, artralgia normalmente em mãos e pés, em alguns casos com inflamações das articulações, fadiga ou mialgia, astenia, rash maculopapular e, com menos frequência, dor retro-orbital, anorexia, vômitos, diarreia e dor abdominal, aftas. • Astenia pós infecção é frequente. • Os sintomas desaparecem em até 7 dias. • A dor articular pode estar presente até um mês do início da doença; a artralgia não é tão intensa como a que ocorre em chikungunya e não apresenta a cronicidade características de chikungunya. • Em alguns pacientes pode ocorrer hematoespermia. • A doença gerada pelo vírus Zika era considerada sem complicações severas. Porém, na epidemia ocorrida na Polinésia Francesa, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, foram relatados casos de pacientes infectados pelo vírus Zika que apresentaram a síndrome de Guillain-Barré (doença autoimune desmielinizante que causa paralisia flácida aguda ou subaguda). • Alguns deles desenvolveram outras complicações neurológicas (encefalite, meningoencefalite, parestesia, paralisia facial e mielite); pode ocorrer ainda: trombocitopenia púrpura, danos oftalmológicos e cardíacos EXAMES COMPLEMENTARES • Informações sobre alterações típicas associadas com a infecção por vírus Zika incluem, durante o curso da doença, leucopenia, trombocitopenia, elevação da desidrogenase láctica sérica, gama glutamil transferase e de marcadores de atividade inflamatória (proteína C reativa, fibrinogênio e ferritina). • Não há relatos de infecção secundária, pelo fato de o vírus apresentar um único sorotipo. • O diagnóstico laboratorial específico baseia-se principalmente na detecção de RNA viral a partir de espécimes clínicos. • O período virêmico não foi estabelecido, mas se acredita que seja curto, o que permitiria, em tese, a detecção direta do vírus até 4-7 dias após o início dos sintomas, sendo, entretanto, ideal que o material a ser examinado seja até o 5º dia. • Os ácidos nucléicos do vírus foram detectados em humanos entre 1 e 11 dias após início dos sintomas e o vírus foi isolado em primata não-humano até 9 dias após inoculação experimental. MANEJO CLÍNICO • O tratamento dos casos sintomáticos é baseado no uso de acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona para o controle da febre e manejo da dor. No caso de erupções pruriginosas, os anti-histamínicos podem ser considerados. • No entanto, é desaconselhável o uso ou indicação de ácido acetilsalicílico e outros drogas anti-inflamatórias devido ao risco aumentado de complicações hemorrágicas descritas nas infecções por síndrome hemorrágica como ocorre com outros flavivírus. • Não há vacina contra o vírus Zika. • Independentemente da confirmação das amostras para o vírus Zika, é importante que os profissionais de saúde se mantenham atentos frente aos casos suspeitos de dengue nas unidades de saúde e adotem as recomendações para manejo clínico conforme o preconizado no protocolo vigente, na medida em que esse agravo apresenta elevado potencial de complicações e demanda medidas clínicas específicas, incluindo-se a classificação de risco, hidratação e monitoramento. QUANDO REFERENCIAR • Casos suspeitos de microcefalia devem ser referenciados a um pediatra. • Suspeita de aborto por infecção com ZIKV. • Casos graves com sinais de instabilidade. • Persistência da artralgia é mais comum em infecções pela Chikungunya, mas se mantida por mais de 3 meses, requer avaliação conjunta com reumatologia ZIKA VÍRUS E GESTAÇÃO • A gestante com exantema deve ser acompanhada no pré-natal de baixo risco, a infecção pelo vírus Zika não é condição para encaminhamento para o serviço de pré-natal de alto risco, salvo se ocorrerem agravos que justifiquem tal ação. • No entanto, como é uma condição que irá gerar uma grande carga emocional, o seguimento desta gestante deve incluir o suporte multiprofissional. • É fundamental informar a mãe e sua família que a confirmação de infecção pelo vírus Zika nesse período não é sinônimo de presença de microcefalia no concepto. • A rotina de vacinas e avaliação odontológica deve ser mantida como preconizado. • O aleitamento precisa ser estimulado e, se necessário, as mamas preparadas para tal finalidade. • Os exames que devem ser solicitados são aqueles indicados no pré natal além dos exames específicos para confirmação de infecção pelo vírus Zika. • É importante ressaltar que outras infecções virais podem cursar com sintomas semelhantes e também ser causa de microcefalia, estas infecções podem ser confirmadas ou não nos exames de rotina do pré-natal. O PARTO E O NASCIMENTO • A confirmação da infecção pelo vírus Zika ou a presença de microcefalia no concepto não são indicações para parto cesariana, devendo-se indicar o parto normal e proporcionar condições para o parto humanizado de acordo com as diretrizes vigentes. • A indicação pelo parto cesariana somente quando tiver risco à gestante ou ao feto. SÍNDROME CONGÊNITA RELACIONADA À INFECÇÃO PELO VÍRUS ZIKA (SCZ) • A transmissão vertical de infecções maternas pode ocorrer intra útero, durante o parto ou após o nascimento (pelo leite materno). • A infecção pode ser ascendente, da vagina até o líquido amniótico, frequentemente infectando o cordão umbilical e causando corioamnionite, podendo levar a ruptura prematura de membranas e desencadear um parto prematuro. • A transmissão também pode ocorrer por via hematogênica, durante viremia, bacteremia ou parasitemia materna, afetando a placenta. • As infecções congênitas podem ser assintomáticas ao nascimento ou com manifes tações clínicas precoces ou tardias, com envolvimento multissistêmico e comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). • Algumas alterações podem tornar-se evidentes anos depois, comprometendo o cognitivo na idade escolar, ou com outros prejuízos mais tardios. • A avaliação desses RNs tem evidenciado outras alterações, sugerindo que o vírus Zika, além de ser neurotrópico, apresenta tropismo para outros órgãos, como fígado, coração e sistema osteoarticular. • Alterações visuais importantes e relacionadas à audição também têm sido observadas. COMO FAZER A ABORDAGEM INICIAL NA APS DE CASOS S USPEITOS DE ARBOVIROSES (DENGUE, ZIKA E CHIKUNGUNYA)? FEBRE AMARELA DEFINIÇÃO • A febre amarela é uma doença imunoprevenível, causada pelo arbovírus amarílico flavivírus da família flaviviridae, distribuídos em regiões da África e América do Sul. • Pode ser transmitida pela picada das fêmeas do mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus (febre amarela urbana). • O período de incubação é de 3 a 6 dias, e o de transmissibilidade vai de 1 a 2 dias antes das manifestações clínicas a 3 a 5 dias após. • A maioria dos indivíduos infectados (90%) cursa de forma assintomática ou com sintomas leves a moderados. QUADRO CLÍNICO • O quadro clínico pode evoluir de forma leve ou abortiva, apenas com febre e cefaleia, para a forma moderada (período de infecção), com febre alta associada a pulso lento (sinal de Faget), calafrios, cefaleia, mialgias generalizadas, lombalgia, prostração, náuseas e vômitos, que podem durar 3 dias. • Após esse período, pode ocorrer melhora ou evolução para a fase grave ou de intoxicação (períodotoxêmico), com febre, icterícia verdínica, diarreia, hematêmese, melena, hematúria, epistaxe, sangramento oral e vestibular, oligúria, anúria e torpor, com letalidade superior a 50%. O QUE FAZER? • Na investigação, deve-se eleger a principal queixa (até no máximo 3) para ser o sintoma ou sinal guia que direcionará o restante da anamnese (em geral, a queixa de febre e cefaleia são comuns). • A história da doença atual deve incluir a caracterização das principais alterações semiológicas e a evolução clínica do quadro. • Deve-se questionar, também, sobre sintomas em outros sistemas que podem estar associados ou ajudar a elucidar o diagnóstico. SINAIS DE ALERTA EXAME FÍSICO • Realizar exame físico geral, com especial atenção a: o psiquismo (para avaliar comprometimento neurológico); o respiração (taquipneia pode ser um sinal de hemorragia pulmonar); o marcha (caso tenha mialgia com dor na panturrilha, esta pode ser hesitante); o pele e mucosas (para avaliar anemia, icterícia – rubínica da leptospirose e verdínica da febre amarela e exantemas maculopapulares); o musculatura (para verificar mialgia); o gânglios (linfadenopatia pode ser um sinal); o estado de hidratação (inclui diurese com oligúria ou anúria) e nutrição; o sangramentos (hemorragias em quadros mais graves) e o sinais vitais (temperatura, frequência cardíaca [FC], frequência respiratória [FR] e pressão arterial [PA]). EXAMES COMPLEMENTARES • GERAIS: o Hemograma o Coagulograma o Aspartato aminotransferase (AST), alanina aminotransferase (ALT) o Ureia, creatinina (Cr) o Sódio, potássio o Fosfocreatinocinase (CPK) o Fosfatase alcalina (FA) o Gama-glutamiltransferase (GGT) o Bilirrubinas o Exame de urina I • ESPECÍFICOS: o Solicitados para o diagnóstico etiológico o Sorologias: ▪ ELISA-IgM (a partir do 5° a 7° dia de doença). ▪ Inibição da hemaglutinação em amostras pareadas. ▪ Pesquisa do vírus em sangue e culturas (mais na fase inicial). ▪ Imuno-histoquímica para detecção do antígeno viral em amostras de tecido hepático. ▪ Histopatologia do fígado. CONDUTA PROPOSTA • De acordo com a sintomatologia • Para a cura dessas doenças, é fundamental: hidratação, com água e sucos, alimentação regular, com fracionamento e balanceada entre carboidratos, proteínas, gorduras, frutas e vegetais, para manter o equilíbrio fisiológico e imunológico dos sistemas e do metabolismo. Devem-se evitar alimentos de difícil digestão e muito ácidos. • No caso de febre, orientar quanto à realização de compressas com água morna e/ou banho morno. É importante também dar orientações quanto à higiene do sono e à manutenção do repouso de acordo com a evolução do quadro. PREVENÇÃO PRIMÁRIA • A vacinação contra febre amarela (17DD) deve ser realizada dos 9 meses aos 59 anos de idade nas áreas recomendadas pelo Ministério da Saúde. • Indivíduos a partir dos 60 anos deverão ser vacinados somente se residirem ou se deslocarem para áreas com transmissão ativa da doença e que não se enquadrem nas contraindicações da vacina. • Gestantes e mulheres em amamentação só deverão ser vacinadas se residirem em local próximo de área com confirmação de circulação do vírus amarílico. o Quando em amamentação, deve-se suspender o aleitamento por 10 dias após a vacinação. • As contraindicações são: o Imunossupressão o Uso de medicamentos antimetabólicos ou modificadores de curso da doença (imunobiológico) o Transplantados o Paciente com doença oncológica em quimioterapia o Radioterapia em curso o Reação de hipersensibilidade grave ou doença neurológica após dose prévia da vacina o Paciente com história pregressa de doença do timo o Lúpus o Doença de Addison o Artrite reumatoide o HIV com imunodeficiência grave (CD4 < 200 células/mm)
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