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Thaís Morghana - UFPE-CAA Diabetes mellitus INTRODUÇÃO Metabolismo intermediário: relacionado a carboidratos, proteínas e gorduras. Ou seja, é o metabolismo alimentar. Período pós prandial: ↑ glicose ↑ insulina. ● A insulina vai ter o papel de garantir a entrada da glicose nas células, além de atuar de forma anabolizante. Ou seja, armazena a glicose que sobra em forma de glicogênio, gordura e proteínas. Período de jejum: ↓ glicose ↓ insulina. ● Há o aumento dos hormônios contra insulínicos: glucagon, adrenalina, cortisol e GH. ● Esses hormônios têm papel catabolizante. Ou seja, quebram glicogênio em glicose, e ativam a gliconeogênese que transforma proteínas e gorduras em glicose. ● Quando há quebra de gordura de forma exagerada, há muita liberação de ácidos graxos e formação de corpos cetônicos (substâncias ácidas). ● Jejum exagerado = acidose. DIABETES ● Caracteriza-se pela deficiência ou ausência de insulina. ● É um estado de jejum. DIABETES MELLITUS TIPO 1 ● Insulina ausente. ● Hipoinsulinismo absoluto. ● Peptídeo C indetectável ou < 0,1. ● Paciente típico: < 30 anos, magro. DM1 TIPO A ● Doença autoimune (anti-ICA, anti-GAD, anti-IA2). ● Corresponde a 70-90% dos casos. DM1 TIPO B ● Idiopática. ● Corresponde a 10-30% dos casos. QUADRO CLÍNICO ➔ Polifagia ➔ Emagrecimento ➔ Polidipsia ➔ Poliúria ➔ Cetoacidose ● A ausência de insulina faz com que o paciente entre em um estado de jejum. Por isso, o paciente tem muita fome (polifagia). ● Os hormônios contra insulínicos quebram proteína, gordura, glicogênio, com consequente aumento da glicose na circulação. Isso causa um ciclo vicioso. ● A ação desses hormônios causa emagrecimento. E a quebra exagerada de gordura gera a cetoacidose. ● O aumento da glicemia causa o aumento da osmolaridade plasmática, com consequente polidipsia e poliúria. DIABETES MELLITUS TIPO 2 ● Insulina insuficiente. ● Há o aumento da resistência periférica à insulina por causa do aumento do peso. Devido a isso, o pâncreas começa a trabalhar mais e liberar mais insulina (Fator ambiental). ● Fadiga pancreática secretória: o pâncreas não consegue mais acompanhar a demanda de insulina (Fator genético). ● Em alguns casos, o pâncreas libera mais insulina que o normal, mas ainda assim não é suficiente. ● Paciente típico: > 45 anos, obeso. QUADRO CLÍNICO ● Assintomático durante anos. ● Geralmente é um paciente com mais de 45 anos, obeso, com sinais de resistência insulínica, hipertenso, sedentário. ● O quadro clínico se manifesta com as complicações: - Macrovasculares (IAM, DAP, AVE). - Microvasculares (retinopatia, neuropatia, nefropatia). DIAGNÓSTICO São necessários 2 testes positivos (pode ser o mesmo teste positivo 2x ou 2 testes diferentes Thaís Morghana - UFPE-CAA positivos): ● Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL. ● Glicemia 2h pós 75g de glicose (TOTG) ≥ 200 mg/dL. ● Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 6,5%. ● Se houver discrepância entre 2 testes diferentes, deve-se repetir o teste alterado. Se o paciente apresentar glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL + sintomas hiperglicêmicos, já podemos fechar o diagnóstico de DM. ESTADO “PRÉ-DIABÉTICO” É necessário 1 teste: ● Glicemia de jejum entre 100-125 mg/dL. ● Glicemia 2h pós 75g de glicose (TOTG) entre 140-199 mg/dL. ● Hemoglobina glicada (HbA1c) entre 5,7 e 6,4%. ● O paciente deve ser acompanhado anualmente. ● O TOTG é o teste mais sensível. Dessa forma, sempre que paciente tiver alteração na glicemia de jejum ou na HbA1c, deve-se fazer o TOTG para confirmar se é pré-diabetes. RASTREAMENTO DA DM2 ● Deve ser realizado a cada 3 anos, exceto em casos de pré-diabetes. ● População que deve ser rastreada: Idade ≥ 45 anos OU IMC > 25 + 1 fator de risco (SOP, acantose, HAS, sedentarismo, dislipidemia, histórico familiar de DM). TRATAMENTO DM1 ● Alvos do tratamento: HbA1c < 7% OU glicemia capilar pré-prandial entre 80-130 mg/dL e glicemia capilar pós-prandial < 180 mg/dL. INSULINOTERAPIA ● Iniciar com 0,5 a 1 U/kg/dia. ● A insulinoterapia tem o objetivo de mimetizar a ação fisiológica da insulina. - Ação basal: atua durante os intervalos entre as refeições. - Ação pós-prandial: pico de insulina após a refeição. ● Insulinas ultrarrápidas: lispro, asparte, glulisina. - Início de ação: 5 min. - Administrar na hora da refeição. ● Insulina rápida: regular (SUS). - Início de ação: 30 min. - Administração 30 min antes da refeição. ● Insulina intermediária: NPH (SUS). - Duração de 12h. - 2 a 3x ao dia. ● Insulinas lentas: detemir, glargina e degludeca. - Duração entre 18-42h. - 1x ao dia. ESQUEMA DE MÚLTIPLAS APLICAÇÕES ● Regular 30 min antes ou lispro imediatamente antes das refeições: fazer 3x ao dia (café da manhã, almoço e jantar). ● Glargina/detemir 1x ao dia OU NPH 2-3x ao dia. ● 50% da dose - insulina rápida, e 50% da dose - insulina lenta. ● A dose da insulina rápida, em cada horário, vai ser calculada de acordo com a contagem de carboidratos e a correção da glicemia. ESQUEMA DE 2 APLICAÇÕES ● Antes do café da manhã: ⅔ da dose total, sendo 70% de NPH e 30% de regular. ● Antes do jantar: ⅓ da dose total, sendo 50% de NPH e 50% de regular. ● Não é um esquema fisiológico, pois o corpo sempre está com pico de insulina. Fenômeno do alvorecer: manhã desprotegida. - Ocorre devido ao pico dos hormônios contra insulínicos matinal. Efeito Somogyi: hipoglicemia da madrugada. - Rebote de hormônios contra insulínicos. Pra diferenciar: medir a glicemia de madrugada. ESQUEMA DE INFUSÃO CONTÍNUA ● Padrão-ouro de insulinoterapia. Thaís Morghana - UFPE-CAA ● Consegue monitorar a glicemia do paciente o dia todo, sem precisar de vários furos. TRATAMENTO DM2 ↠ Drogas que reduzem a resistência insulínica ↞ BIGUANIDA (METFORMINA) ★ ● Risco de acidose láctica e redução de vitamina B12. ● Maior benefício cardiovascular. ● Não usar em casos de insuficiência renal (clearance < 30 ml/min) ou hepática. ● Há controvérsias na literatura acerca do aumento ou redução de peso. ● Nomes comerciais: glifage, glifage XR, glucoformin. ● Posologia: 500 a 2.000 mg/dia (dose inicial: 500 mg) - 1 a 3x/dia. ● A apresentação XR apresenta menos efeitos gastrointestinais (diarreia, náusea, anorexia, gosto metálico). GLITAZONA (PIOGLITAZONA) ● Causa aumento do peso, maior retenção de sal e maior risco de fraturas. ● Não usar em IC grave. ● Posologia: 15, 30 ou 45 mg - 1x/dia. ↠ Drogas que aumentam a liberação de insulina ↞ ● Aumentam o peso e apresentam risco de hipoglicemia. SULFONILUREIAS ● Gliclazida, glipizida, glimepirida, glibenclamida. ● Aumentam a secreção basal de insulina, pois apresentam meia-vida longa. ● Tem eliminação renal - pacientes com lesão renal apresentam maior risco de hipoglicemia. ● Posologia: - Gliclazida: 30 a 120 mg/dia - 1 a 2x/dia. - Glimepirida: 1 a 4 mg/dia - 1x/dia. - Glibenclamida: 2,5 a 20 mg/dia - 1 a 2x/dia. GLINIDAS ● Repaglinida, nateglinida. ● Fazem pico pós-prandial de insulina, devendo ser administrada para controlar os picos pós-refeições. ● Posologia: - Repaglinida: 0,5-16 mg/dia - 3x/dia. - Nateglinida: 120-360 mg/dia - 3x/dia. ↠ Drogas que reduzem a absorção de glicose ↞ ACARBOSE ● Causa uma menor absorção da glicose, com consequente redução da glicemia pós-prandial. ● Efeitos adversos: flatulência e diarreia. ● Posologia: 50-300 mg - nas refeições. ↠ Drogas incretinomiméticas ↞ ● Drogas que mimetizam a incretina (proteína que causa aumento da insulina dependente da glicemia). ● Baixo risco de hipoglicemia. INIBIDORES DA DPP-4 (GLIPTINAS) ● Evitam a degradação da incretina. ● Nomes comerciais: sitagliptina (januvia), vildagliptina (galvus), limagliptina (trayenta), alogliptina (nesina), sexagliptina (onglyza). ● Posologia: - Sitagliptina: 50-100 mg - 1-2x/dia. - Vildagliptina: 50 mg - 2x/dia. - Limagliptina: 5 mg - 1x/dia. - Alogliptina: 6,25 ou 12,5 ou 25 mg - 1x/dia. - Sexagliptina: 2,5 ou 5 mg - 1x/dia. ANÁLOGO DE GLP-1 ★ ● Dulaglutida, liraglutida, semaglutida. ● Estimulam o receptor de incretina. ● Causam redução do peso, devido a perdade apetite. ● Maior benefício cardiovascular. ● Administração subcutânea. ● Posologia: - Liraglutida: 0,6-1,2-1,8 mg (dose preconizada para DM) - 1x/dia. - Dulaglutida: 0,75-1,5 mg - 1x/dia. - Semaglutida: 0,25-1 mg - 1x/semana. ↠ Drogas inibidoras do SGLT2 ↞ ● Diminuem a reabsorção tubular de glicose. Thaís Morghana - UFPE-CAA GLIFOZINAS ★ ● Dapaglifozina, canaglifozina, empaglifozina. ● Causa redução de peso e da HAS. ● Efeitos adversos: infecção de repetição do trato urinário. ● Maior benefício cardiovascular e na doença renal. ● Posologia: - Dapagliflozina: 5-10 mg - 1x/dia. - Empagliflozina: 10-25 mg - 1x/dia. - Canagliflozina: 100-300 mg - 1x/dia. ↠ Passos do tratamento ↞ 1. Metformina (500 a 2.550 mg/dia) + mudança no estilo de vida. 2. Metformina + 2º/3º agente: ➔ Paciente com presença de doença aterosclerótica, IC ou IR: Análogo de GLP-1 (aterosclerótico) ou inibidor da SGLT2 (IC e IR). ➔ Paciente sem doença aterosclerótica, IC, IR, com HbA1c acima da meta após 3 meses de iniciado o passo 1 do tto: Preocupação com ganho de peso Análogo de GLP-1/Inibidor da SGLT2 Preocupação com hipoglicemia Análogo de GLP-1/Inibidor da SGLT2/Inibidor da DPP-4/Glitazona Preocupação com custo Sulfonilureia/Glitazona 3. Insulina basal: NPH noturna (bedtime). ➔ Progredir dose de insulina: NPH 2x ao dia + regular 3x ao dia. 4. Insulina desde o início se: glicemia ≥ 300 (HbA1c ≥ 10%), gravidez, estresse (cirurgia/infecção), doença hepática ou renal avançada. COMPLICAÇÕES AGUDAS CETOACIDOSE DIABÉTICA ● Mais comum na DM1, mas também pode ocorrer na DM2. ● Lipólise causa a liberação de corpos cetônicos: ácido beta-hidroxibutírico, ácido acetoacético e acetona. ● Os corpos cetônicos causam acidose metabólica e aumento no ânion gap (>12). Diagnóstico: precisa ter os 3 seguintes. ● Glicose > 250. ● Cetonemia/cetonúria: 3+/4+. ● pH < 7,3 e HC03 < 15. Quadro clínico ● Dor abdominal, náuseas, vômitos. ● Hiperventilação (Kussmaul): tentativa de expulsar o ácido pelo pulmão. ● O paciente pode estar muito desidratado. ● Leucocitose. ● Aumento de creatinina (IRA) e amilase (sofrimento orgânico). ● Hiponatremia dilucional: hiperosmolar. Tratamento (VIP) ● Volume: SF 0,9% 1L na 1ª hora (criança - 15-20 ml/kg). - Após 1 hora: avaliar o sódio. Se estiver baixo, manter SF 0,9% . Se o sódio estiver normal ou alto, passa-se a fazer SF 0,45%. ● Insulina: dose de ataque de 0,1 U/kg + 0,1 U/kg/h OU 0,14 U/kg/h (insulina regular venosa). - Reduzir a glicemia 50-75 mg/dL/h. - Se fizer muita insulina, entra muito potássio na célula e o paciente pode ter hipopotassemia. Além de entrar muita glicose e muita água na célula, com consequente edema cerebral. Thaís Morghana - UFPE-CAA - Quando a glicemia chegar em 250, iniciar SG 5%. Faz metade de SF e metade de SG, para evitar hipoglicemia. ● Potássio: - Se K+ estiver > 5,2: não precisa repor K+ e faz a insulina. - Se K+ estiver entre 3,3 e 5,2: precisa repor K+ e faz a insulina. - Se K+ estiver < 3,3: repor K+ e adiar a insulina. ● HCO3: faz 100 mEq se pH estiver < 6,9. Critérios para avaliar se o paciente está compensado ● Glicemia < 200 e pH > 7,3, HCO3 > 15, AG ≤ 12 (pelo menos 2). ● Quando o paciente estiver compensado: não tira a insulina venosa, libera a dieta e inicia regular e NPH subcutâneas. ● Após isso, continua avaliando. Se não houver piora, pode tirar a regular venosa. Complicações ● Trombose. ● Edema cerebral. ● Hipocalemia grave. ● Mucormicose (Rhizopus sp., Mucor sp.): micose destrutiva rinocerebral. ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR NÃO CETÓTICO ● Ocorre em pacientes com DM2. ● O diabético tem um ciclo vicioso de aumento da glicose, aumento da osmolaridade, poliúria e polidipsia. ● O EHH ocorre quando o paciente não bebe água, com consequente aumento da osmolaridade. ● O aumento da osmolaridade faz a água do neurônio ser “roubada” e o paciente tem uma queda do nível de consciência. Diagnóstico ● Glicemia > 600. ● Osmolaridade > 320. ● pH > 7,3 e HCO3 > 18. Tratamento ● Semelhante à cetoacidose: tratamento VIP. REFERÊNCIAS SBD. Sociedade Brasileira de Diabetes. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020). Clannad: Editora Científica, 2019. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
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