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Fibromialgia - Clínica Médica É uma das doenças reumatológicas mais frequentes, cuja característica principal é a dor musculoesquelética difusa e crônica. Hoje se sabe que não se trata apenas de uma alteração de sensibilidade levando a dor crônica, mas que ela tem outros sintomas associados e que por isso, é encarada como uma síndrome. É uma síndrome primariamente pesquisada e tratada por reumatologistas, mas estes pacientes requerem um acompanhamento multidisciplinar com o objetivo de alcançar uma abordagem ampla e mais completa de seus sintomas e comorbidades. Deve ser reconhecida como um estado de saúde complexo e heterogêneo no qual há um distúrbio no processamento da dor, associado a outras características secundárias. OBS: Há algum tempo, era considerada uma doença de somatização, e embora os relatos dessa doença datem de muitos séculos, somente há 30 anos a fibromialgia é realmente estudada e comparada como uma doença. - EPIDEMIOLOGIA: Doença mais comum no consultório do reumatologista 15% dos diagnósticos; Varia de 0,7 a 5% de prevalência na população geral; Muito mais comum em mulheres proporção de 8M:1H – relação com hormônios femininos; Idade comum de 30 a 50 anos; Na clínica ambulatorial geral, representa de 5 a 10% dos pacientes; - FIBROMIALGIA/QUADRO CLÍNICO: DOR musculoesquelética DIFUSA; Acompanhada de FADIGA Distúrbios do SONO. OBS: Por muito tempo acreditava-se que a dor pudesse ocasionar os distúrbios do sono nesses pacientes. Hoje se sabe que são sintomas independentes. - COMORBIDADES: - Por que a fibromialgia foi por muito tempo considerada uma doença de somatização? R- Nas demais doenças reumáticas, no local da dor temos sinais inflamatórios que corresponde ou justificam a dor, o que não ocorre na fibromialgia. O paciente tem dor, forte, localizada, porém ele não tem processo inflamatório ou infeccioso naquela região. Além disso, não há sinais laboratoriais que indiquem ocorrência de processo inflamatório, seja ele autoimune ou não. Recapitulando... É uma dor diferente, não há lesão na periferia do corpo, e mesmo assim a pessoa sente dor; Toda dor é um alarme de incêndio no corpo indica situações que necessitam de intervenção, que devemos “apagar o fogo”. Contudo, na fibromialgia, não há fogo nenhum, e o alarme dispara sem necessidade, e precisa ser novamente “regulado”. - FISIOPATOLOGIA: Alteração de sensibilização central/Processamento anormal do estímulo: - Diminuição da tolerância à dor a estímulos periféricos; - Alterações endócrinas que promovem uma alteração no processamento da dor: Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal GH - Função cognitiva: Alteração da perfusão do núcleo caudado e tálamo. - Alteração do sono: Onda alfa intrusa no sono NREM são pacientes que não entram em sono profundo. No nosso corpo, temos substâncias que facilitam a dor, e outras que dificultam a dor. Essas substâncias devem estar em perfeito equilíbrio. Facilitadores da dor: Fator de crescimento neuronal (NGF) Substância P Aminoácidos excitatórios (EAA) Glutamato Colecistocinina (CKK) Essas substâncias quando não encontram barreira inibitória antinociceptiva, provocam aumento da sensibilidade/dor. Hoje sabe-se que pessoas com fibromialgia possuem um aumento de substância P. Bloqueadores da dor: Serotonina (5HT) Noradrenalina (NE) Dopamina (DA) Opioides endógenos (EO) Quando não encontram a barreira doa agentes facilitadores levam a um quadro de insensibilidade. Portadores de fibromialgia têm uma diminuição da serotonina. - ETIOLOGIA: 1. Componentes biológicos: Genético; Sexo feminino; Trauma físico/psicológico; Estresse/desregulação neuroendócrina; Sedentarismo. 2. Componente psicológico: Catastrofismo e somatização; Hipervigilância; Tendência a depressão e ansiedade concomitantemente. 3. Fatores ambientais: Experiencias psicológicas durante a infância; Insatisfação crônica; Geralmente se sentem desprovidas de apoio familiar. - DIAGNÓSTICO: EXCLUSIVAMENTE CLÍNICO. Eventuais exames secundários podem ser solicitados apenas para descartar diagnósticos diferenciais; O diagnóstico deve ser confirmado logo ao início do tratamento, para que possamos esclarecer ao paciente o que é verdadeiro e o que é falso acerca de sua doença. A orientação ao paciente é um fator crítico para o controle ideal da fibromialgia. - CLÍNICA: O mais comum é que o quadro comece com uma dor localizada crônica, que progride para envolvimento de todo o corpo. IMPORTANTE: Não mais se discute se essa dor do paciente é real. Esses pacientes são submetidos a testes de pesquisa com ressonância magnética que permitem ver o cérebro em funcionamento em tempo real ativas durante estímulo nos pontos dolorosos. Então essa dor existe. Por isso, devemos tratar o paciente como um todo, tratando sua dor, seu sono, seu estresse, tudo em conjunto. Outros estímulos também são amplificados e causam desconforto aos pacientes. Eles podem apresentar: - a bexiga mais sensível, intestino irritável; - Sensações de amortecimentos em mãos e pés “pernas inquietas”. - Dores de cabeça frequentes; - Maior sensibilidade a estímulos ambientais, como cheiros ou barulhos fortes; - DOR DA FIBROMIALGIA: A dor é crônica (por mais de 3 meses), difusa (atinge tanto a região acima como abaixo da cintura, e dos dois lados do corpo), que não vem acompanhada de quaisquer indícios de inflamação, edema ou inflamação articular. OBS: A dor da fibromialgia não é considerada “migratória”. Na verdade, elas são “cumulativas”, pois elas vão se somando, se difundindo. A migratória ocorre quando por exemplo a dor inicia numa articulação, um tempo depois ela deixa de existir nesse lugar e passa para outro. A dor é constantemente presente, e existem períodos de exacerbação. - SONO: Distúrbios do sono são muito comuns; O paciente não consegue dormir corretamente, quando dormem não conseguem ter um sono profundo; têm um sono interrompido e superficial. Pacientes com fibromialgia podem ter apneia do sono; Pessoa com fibromialgia dorme, mas não descansa. Ela despende energia para poder dormir. A fadiga vem da ausência do sono adequado e reparador, além do quadro de depressão. Um dos pontos importantes no tratamento da fibromialgia é o exercício físico. Logo, a fadiga atrapalha em muito o tratamento do paciente. - COMO FAZER O DIAGNÓSTICO: Os critérios do ACR foram baseados nas dores dos pacientes: Dor deve ser: difusa e crônica. Existem 18 pontos dolorosos mais comumente afetados pela fibromialgia. Note que eles sempre são bilaterais. Para ser considerada portadora de fibromialgia, o paciente devia apresentar 11 desses 18 pontos dolorosos. Uma grande crítica aos critérios de 1990, foi a exclusão das demais alterações presentes na fibromialgia, como as alterações do sono, de humor, cognitivas, depressão, labilidade emocional, etc. Então em 2010 a ACR elaborou novos critérios: De acordo com a pontuação final, temos uma ideia do quadro, do diagnóstico e do controle da doença do paciente. OBS: A fibromialgia tem controle, mas não tem cura. Critérios da Sociedade Brasileira de Reumatologia OBS: Não há exame subsidiário que dê diagnóstico de fibromialgia! Termografia é o exame que identifica os pontos dolorosos por emitirem ondas de calor. Instrumentos validados: testes em forma de questionários com os quais conseguimos mensurar melhor os sintomas qualitativos. Ex.: minimental. Lúpus em fase inicialtambém pode levar a dores semelhantes. Artrite psoriática também é outro diagnóstico diferencial possível. OBS: Cuidado com os pacientes que somatizam a doença, que por vezes podem aparecer. - TRATAMENTO: Para um bom manejo da fibromialgia é necessária uma boa análise do modelo biopsicossocial da doença. Para isso, é importante fazer as tarefas presentes no quadro a seguir: 1. Educação: Uma melhor educação está associada a um melhor prognóstico em muitas doenças crônicas, tais como a FM. - Criação de objetivos e reavaliação de prioridades. - Adoção de um papel ativo no automanejo. 2. Dor: Não existe patologia tecidual específica, pelo menos nos tecidos periféricos, que seja característica da FM. No entanto, uma vez que o sistema nervoso central esteja sensibilizado, não só os geradores de dor periféricos são percebidos como sendo mais dolorosos, mas eles também prolongam e amplificam as alterações centrais neuroplásicas. Assim, um componente primário fundamental no tratamento da dor da FM é identificar e tratar de forma efetiva todos os geradores de dor periféricos, que normalmente incluem artrite periférica, artrite axial, estenose espinal, pontos de gatilho miofasciais, dor neuropática, cefaleias vasculares, dor visceral (p. ex., síndrome do intestino irritável, bexiga neurogênica), dor pós-cirúrgica e síndromes de dor pélvica (p. ex., endometriose). A conduta da sensibilização central é normalmente iniciada com antidepressivos heterocíclicos (AHC), como a amitriptilina, trazodona, ciclobenzaprina ou nortriptilina. Existe evidência de que as medicações antidepressivas com inibição da recaptação de serotonina e norepinefrina (p. ex., venlafaxina, duloxetina e milnacipran) são mais efetivas no tratamento da dor da FM. Tanto a duloxetina como milnacipran têm a aprovação do U.S. Food and Drug Administration (FDA) para uso na FM. De forma importante, o mecanismo de ação desses fármacos é independente de qualquer efeito antidepressivo e resulta da estimulação do sistema da dor descendente que se origina no tronco cerebral e usa a serotonina e a norepinefrina como neurotransmissores nas sinapses do corno dorsal. Os fármacos anticonvulsivantes, como a gabapentina, pregabalina e o topiramato, estão sendo cada vez mais utilizados na FM e em outros estados de dor crônica; eles inibem a liberação pré-sináptica do glutamato e, assim, modulam a ativação dos receptores NMDA. A pregabalina foi benéfica em ensaios randomizadosA1 e tem a aprovação do FDA para uso na FM. Os hipnótico-sedativos, como o zolpidem e a zopiclona, frequentemente ajudam no sono não restaurador, mas não na dor. Por outro lado, o oxibato de sódio, um fármaco aprovado pelo FDA para a narcolepsia, mostrou melhorar não apenas o sono, mas também a dor, rigidez e fadiga; porém, não foi aprovado para uso na fibromialgia. Os opioides são frequentemente utilizados no tratamento da FM, mas faltam ensaios de longo prazo. Os opioides não devem ser a primeira escolha para a analgesia; no entanto, sua utilização não deve ser protelada se analgésicos menos potentes falharem. O tramadol (tanto o Ultram como o Ultracet) foi bem- - sucedido na redução da dor da FM em dois ensaios controlados. O tramadol é um agonista fraco dos opioides que também inibe a recaptação de serotonina e norepinefrina ao nível do corno dorsal. É metabolizado pelo CYP2D6, tal como várias medicações antidepressivas. Os pacientes com FM que tomam tramadol ou vários antidepressivos que são eliminados pelo CYP2D6 estão em risco de desenvolver síndrome de serotonina. 3. Fadiga: A procura por uma causa tratável de fadiga está sempre indicada. Causas frequentemente tratáveis de fadiga crônica em pacientes com FM são doses inadequadas de medicação, depressão, descondicionamento aeróbico, disfunção primária do sono (p. ex., apneia do sono), sono não restaurador, uma doença inflamatória coexistente e hipotensão neuralmente mediada. Tal como na SFC, a causa subjacente de fadiga primária na FM é desconhecida. Oxibato de sódio, metilfenidato e modafinil resultaram em melhoria da fadiga em alguns pacientes com FM. 4. Sono: AHCs em baixas doses, particularmente a trazodona e a ciclobenzaprina, são o centro da farmacoterapia do sono em pacientes com FM. Alguns pacientes não conseguem tolerar AHCs devido a níveis inaceitáveis de sonolência diurna ou ganho de peso. Nesses pacientes, medicações de ação curta tipo benzodiazepinas, como o zolpidem, zapelon e eszopiclona, podem ser benéficas. O oxibato de sódio parece ser uma medicação útil na melhoria do sono restaurador na FM. Cerca de 25% dos homens e 15% das mulheres com FM têm apneia do sono, o que normalmente requer tratamento com pressão aérea positiva contínua ou cirurgia. De longe, a patologia do sono mais comum nos pacientes com FM é a síndrome das pernas inquietas ou distúrbio do movimento periódico dos membros. O tratamento faz- se com agonistas da dopamina como a L- dopa/carbidopa, pramipexol ou ropinirol. 5. Disfunção psicológica: Os estressores relacionados com questões psicossociais/econômicas e de saúde frequentemente desenvolvem-se em pacientes com FM. Intervenção psicológica relacionada com melhoria da localização do controle interno e solução mais efetiva de problemas é importante nesses pacientes. O tratamento cognitivo comportamental é particularmente adequado para essas alterações, embora não afete a dor. Apesar de as medicações antidepressivas serem frequentemente usadas no tratamento da dor e do sono alterado em pacientes com FM, as doses são muitas vezes subótimas para tratar a doença depressiva. 6. Descondicionamento: A FM é invariavelmente agravada por exercício excessivo. No entanto, um programa cuidadosamente graduado de condicionamento e alongamento aeróbico é um componente fundamental do programa de tratamento efetivo da FM. O alongamento, a caminhada progressiva e o treino de força simples diário mostraram ser um componente importante no tratamento da FM. No geral, o exercício necessita ser incrementado de forma gradual no programa após algum controle da dor, sono e depressão ter sido atingido. 7. Disfunção endócrina: Não existe boa evidência de que a FM se deve primariamente a uma disfunção endócrina. No entanto, problemas comuns tais como o hipotireoidismo e sintomas de menopausa com frequência agravam a dor e a fadiga, e o tratamento de reposição apropriado é regularmente merecedor de uma tentativa. Um subgrupo de pacientes com fibromialgia tem déficit hormonal de crescimento do adulto e mostram resposta duradoura ao tratamento hormonal de crescimento. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788595150706/epub/OEBPS/Text/B9788535284904002742.xhtml?brand=vitalsource&create=true&favre=brett#bib0605 - RESUMINDO O TRATAMENTO: - PROGNÓSTICO: Os sintomas de FM normalmente persistem por muitos anos. Um estudo longitudinal de 5 anos de 1.550 pacientes com FM sob tratamento-padrão por reumatologias dos EUA reportou melhora substancial em 10%, melhora moderada em 15% e agravamento dos sintomas em 39%. A maioria dos pacientes continuou com níveis elevados de sintomas e disfunção autorrelatados, com cerca de 25% apresentando uma tendência no sentido da melhora. No geral, a expectativa de melhora com as medicações recomendadas está na ordem dos 30% em cerca de 30% dos pacientes. Dificuldade em aceitar o diagnóstico, hipervigilância, elevados níveis de disfunção psicológica e suporte social reduzido são fatores de mau prognóstico. As consequências da dor, fadiga e disfunção cognitiva influenciam negativamente o desempenho sustentado das tarefas físicas e mentais. As atividades diárias são realizadas mais paulatinamente pelos pacientes com FM, que necessitamde mais tempo para começar de manhã e muitas vezes requerem vários períodos de descanso durante o dia.
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